Prévia do material em texto
Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 1 12 mar 2011 Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 2 12 mar 2011 Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 3 12 mar 2011 ÍNDICE LISTA DE PÁGINAS EM VIGOR 05 Capítulo 01 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL 06 Capítulo 02 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO 15 Capítulo 03 DIREITO AERONÁUTICO 22 Capítulo 04 FISIOLOGIA DE VOO 57 Capítulo 05 SEGURANÇA DE VOO 81 Capítulo 06 RECURSOS AUDIOVISUAIS 106 Capítulo 07 O INSTRUTOR E A COMUNICAÇÃO 114 Capítulo 08 A AVALIAÇÃO E CRÍTICA 124 Capítulo 09 RELAÇÕES INTERPESSOAIS 135 Capítulo 10 O PROCESSO ENSINO 148 EXERCICIOS 177 TABELA PARA RESPOSTAS 197 GABARITO 199 Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 4 12 mar 2011 Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 5 12 mar 2011 LISTA DE PÁGINAS EM VIGOR Páginas Capa - 206 Data 12 mar 2011 Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 6 12 mar 2011 Capítulo 01 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL I - INTRODUÇÃO O Transporte Aéreo Internacional é uma extraordinária mola que impulsiona o progresso e assegura o entendimento e a aproximação entre nações e povos, graças às características básicas de rapidez e segurança que proporciona. Pelo seu contexto internacional exigiu, particularmente com maior ênfase após a Segunda Guerra Mundial, a criação de normas que re- gulassem a sua atividade. Não é difícil imaginar o grau de dificuldade para uma aeronave comercial, cumprindo linha aérea internacional, com escalas em diversos países, na qual a tripulação tenha que estabelecer comunicação nos diversos idiomas, utilizar grande variedade de auxílios à navegação e de cartas aeronáuticas, sem nenhuma padronização. Ima gine- mos nos aeroportos o cumprimento de formalidades e exigências alfandegá- rias de imigração e saúde, regulamentadas diferentemente, de acordo com a decisão de cada país. A existência dessas hipóteses tornaria o transporte aéreo internacional economicamente impraticável e com um nível de segu- rança sofrível. II - HISTÓRICO No período 1906-1914, o progresso da aviação, apesar de notável para a época, atingiu um nível de desenvolvimento menos intenso do que no período 1914-1918. Após a I Guerra Mundial já se vislumbrava a importância do avião no relacionamento internacional em tempos de paz e o pensamento das nações se voltou para a regulamentação do seu emprego nesse campo, o qual viria a acentuar-se posteriormente. Diante da nova realidade, pensou-se em equacionar as dificuldades mencionadas anteriormente. Desta forma, após o conflito, os Estados ven- cedores reuniram-se, no âmbito do Tratado de Versailles, para estabelecer uma Convenção Internacional que regulasse o relacionamento aeronáutico no pós-guerra. Assim, em 1919, foi concluída a Convenção de Paris para a Regulamentação da Navegação Aérea. Iniciava-se, portanto, em 1919, o processo de internacionalização da Aviação Civil, cujo primeiro resultado foi o de alcançar uma solução para o problema da caracterização da natureza jurídica do espaço aéreo. III - A AVIAÇÃO CIVIL: CARACTERIZAÇÃO. ABRANGÊNCIA A Aviação civil é qualquer utilização não-militar da aviação seja ela comercial ou privada. Ela se divide basicamente em duas categorias: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 7 12 mar 2011 • Transporte aéreo, que abrange todas as operações de transporte co- mercial de passageiros e de cargas; e • Avição geral, que abrange todas as outras operações de vôo, comer- ciais ou privadas. Nesta categoria, estão incluídas a aviação agrícola, a experimental, a desportiva, a executiva, o táxi aéreo, aerofotogra- metria, transporte de cargas externas, entre muitos outros exemplos. Enquanto o transporte aéreo comercial é responsável por um gran- de número de passageiros transportados, a aviação geral se caracteriza pela grande quantidade de vôos (pousos e decolagens). 3.1 Breve histórico – A idéia de voar. Inventos precursores do avião. Surgimento das aeronaves. O avião como meio de transporte. Expan- são da Aviação Civil e necessidade de regulamentação dos procedi- mentos Voar pelos céus sempre foi um sonho do homem. Prova disso são as figuras míticas da Antiguidade como Dédalo e Ícaro na Antiga Grécia, Mer- cúrio na mitologia romana e Thor para os povos nórdicos. Voar representava poder, pois enquanto o homem já havia se mostrado capaz de conquistar as terras e as águas aos céus, somente os pássaros podiam alçar-se. Muitos foram os que tentaram alçar vôo ao longo dos tempos. Hou- ve aqueles que procuraram imitar os pássaros, prendendo um par de asas ao corpo e que encontraram a morte ao jogarem-se de torres e muros. Tais tentativas, feitas em base científica, pouco contribuíram para tornar realidade esse sonho. Na metade do século XV, o sábio Leonardo da Vinci procedeu ao estudo das asas dos pássaros, e projetou vários artefatos, como o “orni- tóptero” (com asas batentes movidas a energia humana), “helicópteros” (com hélices movidas por molas), e pára-quedas. Em suas mais de 5.000 páginas de anotações sobre o vôo, vários problemas foram estudados e resolvidos, incluindo o cálculo da área de sustentação, porém tal obra ficou perdida por quase três séculos. Outros continuaram com suas tentativas de voar. No ano de 1709, o Pe. Bartolomeu de Gusmão, brasileiro, nascido em 1685 na Vila de Santos mostrou a D. João VI, Rei de Portugal, que um engenho “mais leve do que o ar”, ou balão, poderia erguer-se ao ar. Assim, a 5 de agosto de 1709, um pequeno balão de papel, tendo o ar em seu interior sido aquecido por uma chama, elevou-se a 20 palmos de altura dentro de um palácio. Dias depois, nova experiência foi realizada, desta vez ao ar livre, novamente com suces- so. Em 1783, os irmãos Montgolfier construíram um balão usando o mesmo princípio do ar aquecido, o qual se elevou aos céus franceses a uma altura de 2.000m, no dia 4 de junho do mesmo ano. Com a descoberta do hidrogênio, foi possível utilizar tal gás ao invés do ar aquecido, conforme foi demonstrado por Jacques Charles em 23 de agosto de 1783. Apesar de mais perigoso, oferecia a vantagem de permitir viagens longas, porém tais enge- nhos satisfaziam apenas parcialmente o anseio de voar, pois não permitiam o vôo controlado. O homem estava à mercê da vontade dos ventos. Alguns Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA8 12 mar 2011 pioneiros da aviação procuraram adaptar motores a vapor (Giffard, 1855) e motores elétricos movidos a baterias (Renard e Krebs, 1884) para resolver o problema da dirigibilidade. Tais tentativas mostraram-se infrutíferas, pois o peso excessivo de tais motores tornava os engenhos impraticáveis. Somente o desenvolvimento dos motores à combustão interna ao final do século XIX permitiu resolver este problema a contento. Dentre esses pioneiros, encontramos ainda dois brasileiros: Júlio César Ribeiro de Souza, o qual em 1880 propôs um balão dirigível “fusifor- me dissimétrico” provido de elementos de sustentação que permitiam o vôo dirigido, tendo sido construído e testado com sucesso em 1881, em Paris; e Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, que em 1902 projetou o balão dirigível PAX, tendo infelizmente falecido quando aquele explodiu em vôo, em Paris. Voltamos agora nossa atenção ao brasileiro Alberto Santos-Dumont. Nascido em Cabangu, então distrito de João Aires, Minas Gerais, a 20 de julho de 1873, o jovem Santos-Dumont sempre demonstrou interesse pela mecânica. Tendo ido viver em Paris aos 18 anos, Santos-Dumont logo tomou interesse pelo vôo em balões. Após ter feito seu primeiro vôo em um balão livre, em 23 de maio de 1898, encomendou um pequeno balão de 113 metros cúbicos, o qual foi batizado com o nome “Brazil”. Logo passou a destacar-se dos demais aero- nautas em Paris; porém tal não foi sem sustos, tendo-se envolvido em vários acidentes. Santos-Dumont logo subvencionava suas atividades aeronáuticas com seu próprio dinheiro (em 1901, encher um balão de 620 metros cúbicos com hidrogênio custava-lhe aproximadamente US$ 500,00). Inúmeros balões dirigíveis foram construídos por Santos-Dumont; com ele se demonstrou que era possível utilizar motores a explosão em balões de hidrogênio, contrarian- do as opiniões da época. O seu balão n°. 2, de 25 metros de comprimento, era provido de um motor de 1,5 CV de potência, pesando 30 Kg, o qual girava um hélice a 1200 r.p.m. O n°. 2 deslocava-se de forma lenta, mas controlada na direção em que o brasileiro lhe apontava! Até o mês de julho de 1901, Santos-Dumont era conhecido apenas nos círculos aeronáuticos de Paris. Nos dias 12 e 13 daquele mês, ele circun- dou a torre Eiffel na presença de uma multidão, pilotando o seu dirigível n°5. A partir daí Santos-Dumont passou a ser reconhecido pela imprensa mundial. No dia 19 de outubro de 1901, o cobiçado prêmio Deutsch seria concedido àquele que entre 1° de maio de 1900 e 1° de outubro de 1903, circundasse a torre Eiffel em um tempo máximo de 30 minutos, partindo e retornando do campo de Saint-Cloud, por seus próprios meios e sem tocar o solo ao longo do percurso. Às 14h42min, Santos-Dumont partiu com seu dirigível n°6, com 33 metros de comprimento e 662 metros cúbicos. Santos-Dumont continuou desenvolvendo outros dirigíveis, mas o desafio de construir um engenho “mais pesado do que o ar” também foi vi- venciado pelo pioneiro. Já em 17 de dezembro de 1903, o irmão Wright, nos EUA, utilizou-se de uma catapulta rudimentar (com uso de um plano inclina- do) para lançarem em vôo o seu biplano Flyer, o qual deu um salto de 40 me- tros (vôos subseqüentes melhoraram esta distância até pouco mais de 200 metros). Santos-Dumont, no entanto, seria o primeiro a construir e levantar Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 9 12 mar 2011 vôo em uma aeronave “mais pesado do que o ar” por seus próprios meios. Em 1906, Santos-Dumont tomou a nacele de seu dirigível n°14 e adicionou-lhe uma fuselagem e asas biplanas, cujas estruturas celulares lem- bravam as pipas que ainda hoje são encontradas no Japão. O motor, um Antoinette V8 de 24CV de potência, era instalado à frente das asas, girando uma hélice propulsora. O avião, denominado 14-bis (devido ao número do dirigível do qual descendia), voava com a cauda à frente. A envergadura das asas era de 12 metros e a fuselagem tinha 10 metros, sendo equipado com um trem de pouso triciclo. Santos-Dumont empreendeu vários testes de 14- bis, através de um sistema de cabos e roldanas e um plano inclinado, no qual testava a dirigibilidade do avião. Aqui vemos mais um feito original do aero- nauta; construiu aquilo que se pode chamar de primeiro simulador de vôo da história. A 21 de agosto de 1906, Santos-Dumont realizou a primeira tentati- va de vôo; mal-sucedida, dada a pouca potência do motor do 14-bis. No dia 13 de setembro, tendo reequipado o 14-bis com um motor de 40CV ou 50 CV, obtido através do futuro construtor de aviões Louis Bréguet, Santos-Dumont realizou o primeiro vôo, de 7 ou 13 metros (segundo diferentes versões), o qual culminou com um pouso violento, no qual a hélice e o trem de pouso foram danificados. No dia 23 de outubro, Santos-Dumont alçou vôo do campo de Ba- gatelle, na presença de uma multidão e de representantes do Aeroclube da França. Por seus próprios meios motrizes, o 14-bis rolou por 100 metros e le- vantou vôo, tendo percorrido 60 metros em 7 segundos, em um vôo nivelado a poucos metros do solo. Com esse feito, Santos-Dumont arrebatou os 3.000 francos do prêmio Archdeacon, criado em julho de 1906 pelo americano Er- nest Archdeacon, para premiar o primeiro aeronauta que conseguisse voar por mais de 25 metros em um vôo nivelado. A 12 de novembro de 1906, Santos Dumont melhorou ainda mais a performance do 14-bis e a sua habilidade em pilotá-lo, ao realizar vários vôos sempre aumentando a distância percorrida, culminando com um vôo de 21,5 segundos, a uma distância de 5 ou 6 metros do solo, percorrendo 220 metros a uma velocidade média de 41Km/h. Sem dúvida, aquele primordial sonho do homem- voar livre como os pássaros – tornou-se realidade, naquele dia, pelos feitos do brasileiro Alberto Santos-Dumont. IV - CONVENÇÕES DE AVIAÇÃO CIVIL A caracterização da natureza jurídica do espaço aéreo, assim como a superação de outras dificuldades, levaram os Estados a concluir diversas Convenções, antes de terminar a Segunda Guerra Mundial. Dentre elas, des- tacamos as mais importantes: • CONVENÇÃO DE PARIS: realizada em 1919, teve como resultados mais importantes a consagração da teoria da soberania do Estado sobre o espaço aéreo, de corrente inglesa, cujos conceitos permane- cem até a atualidade. Consagrou o princípio da soberania exclusiva e absoluta dos Estados sobre o espaço aéreo sobrejacente ao seu território, assim como a criação da Comissão Internacional de Nave- gação Aérea (CINA) que é considerada o embrião da atual Organiza- ção de Aviação Civil Internacional (OACI). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 10 12 mar 2011 • CONVENÇÃO DE VARSÓVIA: realizada em 1929, procurou disci- plinar a responsabilidade do transportador por danos ocasionados, bem como a forma dos documentos de transporte, unificando regras, bilhetes e conhecimentos aéreos. • CONVENÇÃO DE CHICAGO: com a presença de 54 países, foi re- alizada em 1944 e deu grande passo no sentido da normatização da navegação aérea internacional, tendo substituído a Convenção de Paris. A Conferência Internacional de Aviação Civil, da qual resultou a Convenção de Chicago, foi convocada pelos EUA devido à grande potencialidade de transporte demonstrada pela aviação e ao acele- rado desenvolvimento da indústria aeronáutica, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. Os EUA e alguns países europeus, ativos e preparados, perceberam que o transporte aéreo deixava de ser um símbolo de prestígio e se armava em poderoso instrumento econômi- co de envolvimento do comércio exterior. Além desse motivo,ressur- gia a urgente necessidade de se desenvolver a padronização técnica e operacional, para permitir retomar as ligações internacionais por via aérea. IV - A ORGANIZAÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL - OACI A Conferência de Chicago estabeleceu a criação da Organização de Aviação Civil Internacional. Esta Organização veio substituir a Comissão Internacional de Navegação Aérea (CINA) que, criada pela Convenção de Paris em 1919, reunia-se anualmente para manter atualizadas as questões técnicas e deliberar sobre as obrigações dos Estados que dela faziam parte. Segundo a própria Convenção, em seu artigo 44, os objetivos da Organiza- ção são os seguintes: a) Assegurar o desenvolvimento seguro e ordenado da aviação civil internacional no mundo; b) Incentivar o desenvolvimento técnico da aeronáutica e de sua ope- ração para fins pacíficos; c) Estimular o desenvolvimento de aerovias, aeroportos e facilidades à navegação aérea na aviação civil internacional; d) Satisfazer às necessidades dos povos do mundo relativas ao trans- porte aéreo seguro, regular, eficiente e econômico; e) Evitar o desperdício de recursos econômicos causado por compe- tição ruinosa; f) Assegurar que os direitos dos Estados contratantes sejam plena- mente respeitados, e que todo Estado contratante tenha uma opor- tunidade eqüitativa de operar empresas aéreas internacionais; g) Evitar a discriminação entre os Estados contratantes; h) Contribuir para a segurança dos voos na navegação aérea interna- cional; i) Fomentar de modo geral o desenvolvimento de todos os aspectos Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 11 12 mar 2011 da aeronáutica civil internacional. A diferença fundamental entre a OACI e as instituições que a prece- deram é que ela foi criada para funcionar permanentemente, mantendo uma vigília diária sobre os problemas relacionados ao transporte aéreo internacio- nal. Ao término dos trabalhos em Chicago, e a despeito de todas as difi- culdades e controvérsias existentes, foi assinada, pelos países participantes, uma Ata Final, contendo doze Resoluções e os cinco seguintes apêndices: • Acordo Provisório de Aviação Civil Internacional; • Convenção de Aviação Civil Internacional; • Acordo de Trânsito dos Serviços Aéreos; • Acordo de Transporte Aéreo Internacional; • Anexos Técnicos à Convenção de Aviação Civil Internacional. Desses apêndices à Ata Final, a Convenção sobre a Aviação Civil Internacional é o mais importante. Suas disposições regem o funcionamento da aviação civil e sua expressão se comprova em função do número de rati- ficações obtidas que se eleva hoje a 185 Estados signatários. Outro apêndice relevante é o que trata dos Anexos Técnicos, no qual ficam definidas as normas técnicas que foram padronizadas para disci- plinar o exercício do transporte aéreo. Atualmente, o capítulo que focaliza as normas internacionais e mé- todos recomendados trata da elaboração, estudo, divulgação e implementa- ção de dezoito Anexos Técnicos à Convenção, que são os seguintes: Anexo 1 - Licenças de pessoal Anexo 2 - Regras do ar Anexo 3 - Serviço meteorológico para a navegação aérea internacional Anexo 4 - Cartas aeronáuticas Anexo 5 - Unidades de medida a serem usadas nas operações aéreas e terrestres. Anexo 6 - Operação de Aeronaves Anexo 7 - Marcas de nacionalidade e de matrícula de aeronaves Anexo 8 - Aeronavegabilidade Anexo 9 - Facilitação Anexo 10 - Telecomunicações aeronáuticas Anexo 11 - Serviços de tráfego aéreo Anexo 12 - Busca e salvamento Anexo 13 - Investigação de acidentes de aviação Anexo 14 - Aeroportos Anexo 15 - Serviços de informação aeronáutica Anexo 16 - Proteção ao meio ambiente Anexo 17 - Segurança; proteção da aviação civil internacional contra atos de interferência ilícita Anexo 18 -Transporte com segurança de materiais perigosos por via aérea Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 12 12 mar 2011 No Brasil, através do DECEA e do Comando da Aeronáutica, são adotados para fins de tráfego aéreo, as normas e métodos recomendados pela ICAO/OACI. Além dos Anexos, a ICAO edita também outras publicações, mas não tendo a mesma rigidez de adoção em relação às dos anexos. São elas: - RECOMENDAÇÕES Dirigidas aos estados contratantes PANS (Procedimentos para o Serviço de Navegação Aérea) - SUPLEMENTARES Elaboradas em conferências regionais SUPS (Procedimentos Suplementares Regionais) Toda a matéria recomendada pela Convenção de Aviação Civil In- ternacional e seus Anexos Técnicos devem ser cumpridos pelos Estados signatários. Não obstante, aqueles Estados que, por motivos de legislação Interna ou mesmo discordância do aspecto técnico, não possam cumprir as normas e recomendações contidas nos referidos Anexos devem apresen- tar à OACI suas diferenças, que são levadas ao conhecimento dos demais Estados por meio de uma listagem sempre atualizada e descrita no próprio texto final de cada Anexo ou matéria específica. ESTRUTURA DA OACI 1 – CONSELHO É um dos órgãos permanentes da OACI, composto de 33 membros, que são os Estados representados por seus delegados, que dirigem a Orga- nização em nível político. São eleitos a cada triênio, durante a realização da Assembléia da Organização, obedecendo a critérios como o de importância na Aviação Civil mundial e representatividade regional. 2 – ASSEMBLÉIA É constituída por todos os Estados contratantes, atualmente 185 Es- tados membros, que se reúnem a cada três anos e, extraordinariamente, em qualquer época, por convocação do Conselho ou a pedido de dez Estados contratantes. É o poder máximo da Organização que analisa o trabalho reali- zado no período anterior e planeja as atividades para os três anos seguintes. 3 - ÓRGÃOS TÉCNICOS a) Comissão de Navegação Aérea - trata de questões técnicas do inte- resse da Aviação Civil; b) Comitê de Transporte Aéreo - trata de questões que têm reflexos nos interesses comerciais das empresas aéreas; c) Comitê de Ajuda Coletiva para os Serviços de Navegação Aérea - visa apoiar os Estados mais carentes na melhoria de seus serviços Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 13 12 mar 2011 de apoio à Aviação Civil; d) Comitê de Finanças - trata do planejamento e controle dos gastos da Organização a qual, come vimos, depende da contribuição dos Estados; e) Comitê sobre Interferência Ilícita na Aviação Civil Internacional e suas Instalações e Serviços - trata do desenvolvimento de métodos para melhorar a segurança contra atos que ponham em risco a avia- ção civil; f) Comitê Jurídico - trata do estudo e desenvolvimento de novos Ins- trumentos jurídicos do interesse da coletividade dos Estados, bem como do aperfeiçoamento dos já existentes. Esses órgãos técnicos trabalham de modo intermitente e são com- postos por representantes dos Estados, que se mantêm em ligação com seus correspondentes que operam na estrutura do Secretariado. 4 – SECRETARIADO É o órgão executivo permanente da Organização e a ele está vin- culado o corpo de funcionários da OACI. O secretariado está estruturado de forma departamental nos assim chamados “bureaux”, que são os seguintes: Navegação Aérea, Transporte Aéreo, Jurídico, Assistência Técnica / Adminis- tração e Serviços. Fora da sede, a OACI dispõe de 07 (sete) escritórios regionais que cuidam dos interesses da Organização nas diferentes regiões e a represen- tam junto aospaíses acreditados: África Central/Ocidental em Dakar; África Oriental/Região Sul em Nairobi; Oriente Médio no Cairo; Europa em Paris; Ásia e Pacífico em Bangkok; América do Norte e Caribe na Cidade do Méxi- co. O Escritório da América do Sul, ao qual o Brasil está ligado regionalmente, fica em Lima, no Peru. A Organização tem o status de uma Agência Especializada das Na- ções Unidas e mantida tão somente pela contribuição de seus Estados mem- bros. O trabalho permanente da OACI tem sido altamente produtivo, es- pecialmente em matéria técnica. Os Anexos Técnicos representam grande acervo de trabalho e notável progresso do transporte aéreo. O Brasil, na OACI, é extremamente atuante e vem fazendo parte do Conselho desde a sua criação em 1944. A posição do Brasil, como já vimos, é de liderança e esta posição faz jus à importância do país no transporte aéreo internacional. É, sem dúvida, líder entre os países latino-americanos e há muito tempo já faz parte do primeiro e mais importante Grupo do Conselho, eleito pelos de- mais Estados signatários, ao lado das maiores potências mundiais no campo da Aviação Civil. A sede da OACI localiza-se em Montreal - Canadá VI - ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE TRANSPORTE AÉREO – IATA A história da IATA, que é uma associação de empresas de trans- porte aéreo, pode ser considerada em duas fases, em função da eclosão da Segunda Grande Guerra que se constituiu no marco divisório no tempo, tal Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 14 12 mar 2011 como ocorreu com a OACI e a CINA, sua antecessora. A IATA é uma organização mundial de empresas de transporte aéreo regular, sediada em Montreal, Canadá. Foi criada em Haia (1919) e revigo- rada em Havana (1945) pelas próprias empresas de transporte aéreo, tendo em vista o rápido desenvolvimento da aviação civil. A IATA tem atualmente mais de 240 membros que são empresas representando mais de 100 bandeiras. Para ser empresa membro da IATA, a mesma precisa ser da bandeira de um pais signatário da OACI e são dividi- das em dois grupos distintos. Membros ativos – empresas que possuem rotas internacionais. Membros associados – empresas que não possuem rotas internacionais. A IATA se qualifica a si própria como uma entidade privada interna- cional neutra. Não tem fins lucrativos e sua manutenção está baseada nas quotas que as empresas pagam. Enquanto a OACI é uma entidade pública, a IATA é uma entidade privada. O fim e objetivo da Associação é solucionar os problemas que resul- tam da rapidez do desenvolvimento do transporte aéreo, assegurando ser- viços rápidos, cômodos, seguros e eficientes, tanto para as empresas como para o público em geral. IX – LIBERDADES DO AR Liberdades do ar são acordos “bi-laterais” ou seja, um acordo fecha- do entre dois países, onde um passa a ter os mesmos direitos que o outro. Entre esses acordos podemos exemplificar o direito de sobrevôo, embarque e desembarque de passageiros, carga ou ainda malas postais. Por se tratar de um acordo entre dois países, esses acordos são inde- pendentes dos acordos fechados em convenções como Varsóvia ou Chicago. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 15 12 mar 2011 Capítulo 02 SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO I - INTRODUÇÃO A Aviação Civil é um dos componentes do Poder Aeroespacial, jun- tamente com a Força Aérea, a infra-estrutura aeronáutica, o complexo cienti- fico-tecnológico e a indústria aeroespacial. Em síntese, a essência da Aviação Civil é: • O homem; • A máquina; • A infra-estrutura. O Comando da Aeronáutica orienta, coordena e controla as ativida- des da Aviação Civil tanto comerciais, como privadas e desportivas. Em 1969, foi instituído o Sistema de Aviação Civil do então Ministé- rio da Aeronáutica, com a finalidade de organizar as atividades necessárias ao funcionamento e ao desenvolvimento da Aviação Civil, fonte e sede de sua reserva mobilizável. 1 - Ministério da Aeronáutica O Ministério da Aeronáutica foi criado a partir da necessidade impe- riosa de se unir em um único órgão governamental a infra-estrutura, os meios e a formação de recursos humanos para a aviação. Assim é que foram incor- porados ao recém criado Ministério da Aeronáutica, os seguintes órgãos: - A Diretoria de Aeronáutica do Ministério do Exército; - A Diretoria de Aviação do Ministério da Marinha; - O Departamento de Aeronáutica Civil do Ministério de Aviação e Obras Públicas, criado em 1931, e que veio dar origem ao anterior DAC (ANAC). Tem sido adotada a solução de aglutinar as atividades civis e mili- tares utilizando-se a mesma infra-estrutura e dispondo dos mesmos serviços e dos mesmos apoios. Ficou unificada a operação da aviação com maior eficiência, segurança e economia. O Ministério da Aeronáutica manteve-se atuante até 10 de junho de 1999, quando foi criado o Ministério da Defesa. A partir de então, passou a ser denominado Comando da Aeronáutica. 2 - O Comando da Aeronáutica e a Aviação Civil A atuação do Comando da Aeronáutica voltada para a aviação civil é pautada por um ciclo de atividades que compreendem o próprio Sistema de Aviação Civil. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 16 12 mar 2011 a) a política da aviação civil e os fundamentos legais emanados do Comando da Aeronáutica; b) os elos que compõe o sistema e seu funcionamento integrado; c) a coordenação e as atribuições do órgão central do sistema – Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); d) a supervisão dos órgãos regionais do sistema – Gerências Regio- nais (GER) e) as atividades relativas ao planejamento do transporte aéreo, da infra-estrutura aeroportuária e à instrução profissional a cargo do Instituto de Aviação Civil (IAC) A criação do Sistema de Aviação Civil teve como objetivo primordial proporcionar ao Comando da Aeronáutica uma ferramenta principal adequa- da para melhor coordenar grande e diversificada atividade que corresponde à aviação civil. II - SISTEMA DE AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRO O Sistema de Aviação Civil constituiu uma extensa e complexa gama de atividades e serviços que compreendem e interligam as organizações de controle e governamental, a indústria aeronáutica, as empresas aéreas, o aerodesporto, toda a infra-estrutura de apóio compartilhada pelas aviações civil e militar e a formação de recursos humanos altamente especializados. Decreto n°. 65.144 de 12 de setembro de 1969 Art. 1° - fica instituído o Sis- tema de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica com a finalidade de orga- nizar as atividades necessárias ao funcionamento e ao desenvolvimento da Aviação Civil, fonte e sede de sua reserva mobilizável. O Sistema de Aviação Civil também abrange os elementos bási- cos do sistema compreendendo o conjunto de órgãos, instalações e demais estruturas terrestres de apóio à navegação aérea; as organizações e seus respectivos órgãos executivos, identificando-se como: a aviação geral, enti- dades aerodesportivas, indústria aeronáutica, os departamentos aeroviários dos Estados, as empresas de transporte aéreo, empresas de serviços aéreos especializados e por último, as empresas de manutenção. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 17 12 mar 2011 1 -INSTITUTO DE AVIAÇÃO CIVIL - IAC Subordinado a ANAC, o Instituto de Aviação Civil (IAC) tem, entre suas principais atribuições, a coordenação das atividades referentes à instru- ção profissional e aos estudos e pesquisas relativas ao transporte aéreo e à infra-estrutura aeroportuária, junto á aviação civil. Seus cursos, voltados para o sistema de aviação civil, bem como o planejamento aeroportuário do pais e sua permanente atualização, são parte importante da missão deste órgão. 2 - CENTRO TÉCNICO AEROESPACIAL - CTA Desempenha um papel relevante no Sistema de Aviação Civil. Den- tre suas múltiplas atividades, encontram-se a homologação de equipamentos aeronáuticos, o controle e a homologação da fabricação de peças e equipa- mentos e a formação de técnicos e engenheiros com destino à Aviação Civil. 3 - DIRETORIA DE SAÚDE DA AERONÁUTICA - DIRSA Realiza, através do CEMAL - Centro de Medicina Aeroespacial, a seleção e o controle médico periódico de pessoal aeronavegante. 4 - EMPRESA BRASILEIRA DE INFRA ESTRUTURA AEROPORTUÁ- RIA - INFRAERO Empresa pública destinada a implantar, operar, administrar, comer- cializar e industrializar, infra-estrutura aeroportuária. 5 - COMISSÃO DE ESTUDOS RELATIVOS Á NAVEGAÇÃO AÉREA IN- TERNACIONAL - CERNAl A Comissão de Estudos Relativos à Navegação Aérea Internacional (CERNAl), tem por finalidade o estudo, o planejamento, a orientação e a co- ordenação dos assuntos relativos à aviação civil internacional. O Comando da Aeronáutica, através da CERNAl, tem orientado as suas relações aero- náuticas internacionais, visando aos interesses aero-comerciais brasileiros e também ao bom relacionamento com as nações amigas. 6 - DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO – DECEA Organização responsável pela instalação, operação e manutenção de órgãos e rede de equipamentos para controle de tráfego aéreo e comuni- cações, estabelecimentos de regras e procedimentos de tráfego aéreo, ins- trução e treinamento de pessoal especializado. A Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo - DEPV - é responsável pelo planejamento, implantação, operação e manutenção da infra-estrutura de proteção ao vôo no espaço aéreo brasileiro, por meio da qual presta os ser- viços de Controle de Tráfego Aéreo; de Meteorologia, de Coordenação das missões de Busca e Salvamento e de Informações Aeronáuticas, incluindo a produção e distribuição de todas as cartas e publicações de uso aeronáutico. A DEPV é ainda responsável pelo sistema de telecomunicações do Comando da Aeronáutica. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 18 12 mar 2011 A essa Diretoria estão subordinados os Centros Integrados de De- fesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA), os Serviços Regionais de Proteção ao Vôo (SRPV), o Primeiro Grupo de Comunicações e Controle (1º GCC), o Parque de Material de Eletrônica (PAME), o Grupo Especial de Inspeção em Vôo (GEIV), o Instituto de Proteção ao Vôo (IPV), órgão do MAer, e o Instituto de Cartografia Aeronáutica (ICA). Também o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), que sucedeu a Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo (DEPEV), e re- gionalmente representada pelos Serviços Regionais de Proteção ao Vôo (SRPV’s), em algumas localidades esse serviço foi executado pela antiga TASA (Telecomunicações Aeronáuticas S.A.), hoje, incorporada pela INFRA- ERO. Em 05 de outubro de 2001, a DEPV é desativada criando-se o De- partamento de Controle e Espaço Aéreo (DECEA), ao qual o SRPV-SP passa a ser subordinado. A partir da presente data, o SRPV-SP passa a ter como área de jurisdição as Terminais São Paulo e Rio de Janeiro e o “TUBULÃO” que interliga as duas Terminais. Sua missão é prover os Serviços de Controle do Espaço Aéreo e de Telecomunicações do Comando da Aeronáutica, bem como conduzir as aeronaves que têm por missão a manutenção da integri- dade e da soberania do espaço aéreo brasileiro nas áreas definidas como de sua responsabilidade. Para o cumprimento de sua missão, o SRPV-SP conta com os Des- tacamentos de Controle do Espaço Aéreo (DTCEA) de São Paulo, São José dos Campos, Santos, Campo de Marte, Guaratinguetá, Campo dos Afonsos, Galeão, Santa Cruz e Telemático do Rio de Janeiro. 7 – SISDACTA E CINDACTA. SISDACTA - O Sistema de defesa aérea e controle de tráfego. Nos anos setenta, a Aeronáutica optou por implantar um Sistema In- tegrado de Defesa Aérea e Controle do Espaço Aéreo, cuja sigla SIS- DACTA passou a ser sinônimo de modernidade e eficiência no con- trole do espaço aéreo. Posteriormente, Foi normatizado um sistema mais abrangente, o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), que hoje engloba, além das atividades específicas do controle de tráfego aéreo e da defesa aérea contidas no SISDACTA, todas as demais atividades intervenientes ao controle do espaço aé- reo. A atividade fim de controle do espaço aéreo antes afeta a uma organização de nível Diretoria, hoje é da competência do Departa- mento de Controle do Espaço Aéreo, cujo Diretor Geral é integrante do Alto-Comando da Aeronáutica. CINDACTA – Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Trá- fego Aéreo: funciona como um órgão regional do DECEA em sua área de jurisdição (I- Brasília, II - Curitiba, III - Recife, IV - Amazônia) e divide-se em dois centros: 1- Centro de Controle de Área (ACC) é o responsável pela prestação do serviço de controle de aeronaves voando dentro do espaço aéreo Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 19 12 mar 2011 de uma RECEA correspondente 2- Centro de Operação Militares (COpM) é o centro responsável pelas operações militares de defesa aérea dentro de uma Região de Defesa Aérea (RDA) em uma RCEA correspondente Em 1990 na exposição de motivos ao Presidente da República o Ministério da Justiça e o da Aeronáutica, explícita a necessidade de um maior controle nesta zona territorial brasileira e em 25 de julho de 2002, é final- mente entregue ao Governo Federal, com 75% dos seus ativos operando, o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). Presenteava a Aeronáutica com o controle total do espaço aéreo nacional. III – ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil É o órgão central do Sistema subordinado ao Comando da Ministé- rio da Defesa tem como missão estudar, orientar, planejar, controlar, incenti- var e apoiar as atividades da Aviação Civil pública e privada, além de manter o relacionamento com outros órgãos no trato dos assuntos de sua competên- cia. Tem por finalidade a consecução dos objetivos da Política Aeroespacial Nacional no setor da Aviação Civil. Dentro da estrutura da ANAC existem quatro Sub-departamentos: Planejamento e Controle(SEPCON), Serviços Aéreos (SSA) Técnico-Opera- cional (STE) e Infra-Estrutura (SIE). Também fazem parte do DAC o Instituto de Aviação Civil (IAC) e os Serviços Regionais de Aviação Civil (SERAC) Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 20 12 mar 2011 1 - SUBDEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE – SPCON O Subdepartamento de Planejamento e Controle trata da parte ad- ministrativa e pessoal do Departamento de Aviação Civil e está diretamente ligado à seção de pessoal, de finanças e de apoio ao profissional. O SPCON também é responsável pela reformulação administrativa e operacional do GER (Gerência Regional) durante a transição do DAC - ANAC (Agência Nacional de AviaçãoCivil). 2 - SUBDEPARTAMENTO DE SERVIÇOS AÉREOS - SSA O Subdepartamento de Serviços Aéreos da ANAC é responsável pelo planejamento, controle e pela coordenação dos serviços aéreos públi- cos. Dentre outros assuntos, o Subdepartamento. de Serviços Aéreos trata da normatização dos serviços aéreos públicos, autorização para funcio- namento jurídico de empresas de serviços aéreos (transporte aéreo e servi- ços especializados), concessão e autorização para exploração de serviços aéreos públicos, tarifas de transporte aéreo Internacional de passageiros e carga e análise econômico-financeira das empresas aéreas 3 - SUBDEPARTAMENTO TÉCNICO-OPERACIONAL - STE O Subdepartamento Técnico-Operacional da ANAC tem a respon- sabilidade sobre os assuntos ligados ao controle e fiscalização das áreas de instrução (aeroclubes, escolas etc), formação de pilotos, comissários e mecânicos de vôo, manutenção e registro de aeronaves, além de todas as atividades aerodesportivas. Para realizar seu trabalho, o Subdepartamento Técnico-Operacional também edita algumas publicações, como os Regulamentos Brasileiros de Homologação Aeronáutica, conhecidos como RBHA, que esclarecem regras, requisitos e todos os procedimentos necessários para o desempenho, das atividades de aeronautas, oficinas de manutenção, aeroclubes, entre outras. 4 - SUBDEPARTAMENTO DE INFRA – ESTRUTURA - SIE O Subdepartamento de Infra-Estrutura (SIE) foi criado para tratar dos assuntos relacionados com Tarifas da Infra-Estrutura Aeronáutica (Aero- portuária e de Uso das Comunicações e dos Auxílios a Navegação Aérea em Rota), infra-estrutura aeroportuária, programas e projetos. Entre suas ativida- des, também, está o gerenciamento do Programa Federal de Auxílio a Aero- portos (PROFAA). O Sistema de Aviação Civil é composto pela ANAC e por todos os órgãos ou elementos da estrutura do COMAER ou a ele estranhos que por força de convênios, contratos ou concessões, exploram os serviços públicos relacionados à Aviação Civil as empresas de transporte aéreo re- gular e regional, as empresas de táxi-aéreo e de serviços especializados, as entidades aerodespostivas e todas as aeronaves, públicas e privadas. 5 – GERENCIAS REGIONAIS - GER Têm por finalidade executar diretamente ou assegurar a execução das atividades, relacionadas com a Aviação Civil nas aéreas dos respectivos Comandos Aéreos Regionais (COMAR). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 21 12 mar 2011 Atuam em permanente coordenação dos Serviços Regionais de Proteção ao Vôo, de Engenharia e de Patrimônio (ver mapa na página se- guinte). 6 - SEÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL - SAC Subordinadas aos SERAC e pertencentes à estrutura dos aeroportos, as Se- ções de Aviação Civil tem a função de fiscalização e controle das aeronaves da Aviação Geral que operam no aeroporto e de seus tripulantes, de acordo com as normas e recomendações relativas ao transporte aéreo civil. Fiscalizam quando necessário, as aeronaves e seus tripulantes, em relação à documentação e as aeronaves internacionais não regulares. IV - SINCONFAC – SISTEMA INTEGRADO DE CONTROLE E FISCALIZA- ÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL Tem por objetivo o controle e a fiscalização das atividades dos aero- portos e a operação das aeronaves civis, gerando informações necessárias ao processamento e à arrecadação de tarifas aeroportuárias e de uso -das comunicações e dos auxílios à navegação em rota. Os órgãos que compõem o SINCONFAC são: ANAC, INFRAERO e DECEA V - SUCOTAP - SISTEMA UNIFICADO DE ARRECADAÇÃO E COBRANÇA DE AUXÍLIOS Á NAVEGAÇÃO EM ROTA Tem objetivo o processamento, a arrecadação e a cobrança das ta- rifas dos serviços prestados pela infra-estrutura aeronáutica. As atividades da Aviação Civil são regulamentadas pelos tratados internacionais dos quais o Brasil faz parte, por uma multiplicidade de acordos bilaterais de transporte aéreo, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica - CBA e pela legislação complementar, composta por uma profusão de leis, decreto- -lei, decretos, portarias e regulamentos. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 22 12 mar 2011 Capítulo 03 DIREITO AERONÁUTICO 1. INTRODUÇÃO O Direito Aeronáutico é o ramo da Ciência Jurídica que estuda e re- gulamenta as relações decorrentes das atividades aéreas (transporte aéreo doméstico e internacional, navegação aérea, controle dos espaços aéreos, aerodesporto e etc.). Devido aos constantes avanços tecnológicos inerentes à aviação, é um ramo dinâmico que experimenta frequentes modificações para manter-se atualizado. No Brasil, o Direito Aeronáutico é regulamentado, em seus princí- pios fundamentais, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei no. 7.565, de 19 de dezembro de 1986). O CBAer, como é conhecido, é, no Brasil, o princi- pal instrumento que estabelece as normas gerais sobre o assunto. Qualquer outra lei, norma, portaria, instrução normativa, como os RBAC, NSCA, IMA, entre outros, que venha a ser criado, precisa ser coerente com os princípios estabelecidos naquele Código. O Código Brasileiro de Aeronáutica, por sua vez, é baseado no con- junto de Tratados, Acordos e Convenções Internacionais que o Brasil tenha celebrado com outras nações. Art. 1° O Direito Aeronáutico é regulado pelos Tratados, Convenções e Atos Internacionais de que o Brasil seja parte, por este Código e pela legislação complementar. O Direito Aeronáutico aborda as relações jurídicas vinculadas com a navegação aérea, o transporte aéreo no âmbito doméstico, internacional e a aviação civil em geral, ou seja, o controle de aeronaves no espaço aéreo brasileiro.. É um Direito dinâmico para poder acompanhar as constantes al- terações e a modernidade que flui do progresso e da tecnologia aplicada à aviação civil. - Aviação Civil e Militar? 2. AERONAVE. DEFINIÇÃO A definição de aeronave, também em decorrência dos avanços tec- nológicos, tem sofrido modificações ao longo do tempo. Antigamente, costu- mavam-se considerar aeronave todas as máquinas voadoras. No entanto, esse conceito não pode ser considerado inteiramente válido, principalmente com o advento dos foguetes, satélites artificiais e outros engenhos. Como veremos a seguir, qualquer aparelho, para ser considerado aeronave, deve atender alguns requisitos específicos. Atualmente, o conceito trazido pelo CBAer é o mais moderno e está de acordo com o estabelecido pela OACI: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 23 12 mar 2011 Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em vôo, que pos- sa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas. Do exposto, podemos observar que, para ser considerada aeronave, uma máquina tem que atender aos seguintes requisitos: a) ser manobrável em voo; b) ter aptidão de se sustentar e circular no espaço; c) tal sustentação tem que ser resultante de reações aerodinâmicas; e d) ser capaz de transportar pessoas ou coisas. Na falta de qualquer uma das características não existirá aeronave para efeitos legais. Assim, é possível questionar: o balão de ar quente, não dirigível, pode ser considerado uma aeronave? Vejamos: embora não seja dirigível, existe o controle ascensional do equipamento. O piloto pode controlar quan- do e o quanto irá empregar de razão de subida ou descida. Portanto, é possí- vel manobrá-lo. Não restam dúvidas que ele se sustentae circula no espaço, mas essa sustentação é decorrente de reações aerodinâmicas? Certamente, pois a elevação que experimenta, causada pela diferença de densidade entre o ar quente contido no invólucro e o ar mais frio do ambiente, é uma reação aerodinâmica, assim como o efeito provocado pelo vento que o movimenta lateralmente. Outro fato inquestionável é a sua capacidade de transportar pessoas ou coisas. Deste modo, embora se acredite, inicialmente, que o ba- lão de ar quente não é uma aeronave, observa-se que ele atende a todos os requisitos legais para ser considerado como tal. Hoje, considera-se aeronave, inclusive, aqueles aparelhos não tri- pulados, os chamados VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados), bem como as naves espaciais. Vemos, portanto, que o conceito de aeronave deve, tanto quanto possível, ser adaptado às novas conquistas da indústria aeroespacial. O VOO O voo, para fins de direito e de responsabilidade do operador ou explorador da aeronave, é assim definido pelo CBAer: Art. 268. § 3° Considera-se a aeronave em vôo desde o momento em que a força motriz é aplicada para decolar até o momento em que termina a opera- ção de pouso. Do exposto, percebe-se que o voo iniciará quando o avião alinhar na cabeceira da pista e empregar potência para decolagem. Seu término ocor- rerá ao fim da operação de pouso, ou seja, quando a aeronave livrar a pista em uso. No caso dos helicópteros (aeronaves de asas rotativas), aplica-se o mesmo conceito. Já os planadores, balões e asas voadoras, serão considerados em voo do instante em que se desprenderem da superfície até o momento em que a ela retornem. Para fins de exemplificação, é importante estabelecer que a Lei no. 7.183/1984, que regulamenta a Profissão do Aeronauta, define o voo de modo distinto do CBAer, tratando-o da seguinte forma: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 24 12 mar 2011 Art. 28 - Denomina-se “hora de vôo”, ou “tempo de vôo” o período compre- endido entre o início do deslocamento, quando se tratar de aeronave de asa fixa, ou entre a “partida” dos motores, quando se tratar de aeronave de asa rotativa, em ambos os casos para fins de decolagem até o momento em que respectivamente, se imobiliza ou se efetua o “corte” dos motores, ao término do vôo (calço-a-calço). Portanto, a referida lei trata o voo como o período compreendido entre a reti- rada dos calços, com o início da movimentação do ponto de estacionamento para a pista de decolagem, até o instante da recolocação dos mesmos, no estacionamento após o pouso. CLASSIFICAÇÃO DAS AERONAVES A classificação das aeronaves é estabelecida pelo CBAer em seu art. 107. De modo sucinto, podemos apresentá-la da seguinte maneira: - Aeronaves militares: são aquelas integrantes das Forças Armadas, inclusive as que forem requisitadas na forma da lei para missões militares (ex.: caso o Brasil entre em estado de guerra, qualquer ae- ronave civil poderá ser requisitada para compor o efetivo da Força Aérea Brasileira. Enquanto durar tal convocação, ela será considera- da aeronave militar); - Aeronaves civis: são todas as aeronaves que não se classificam como militares. As aeronaves civis, por sua vez, compreendem as públicas e as privadas: - Aeronaves civis públicas: são todas aquelas destinadas ao serviço do poder público, de propriedade da Administração Direta Federal, Estadual ou Municipal (ex.: helicóptero da Polícia Militar do Estado de São Paulo, pertencente à Secretaria de Segurança Pública, ae- ronave do Ministério da Saúde), bem como todas as requisitadas na forma da lei para uso de entidade pública (ex.: aeronave é apreendi- da transportando drogas e requisitada, pela Polícia Federal, para ser utilizada pela corporação). - Aeronaves civis privadas: todas as outras aeronaves que não são classificadas como públicas. As aeronaves a serviço de entidades da administração pública indireta são consideradas, para efeito do CBAer, como aeronaves privadas (ex.: aeronave da Fundação Na- cional do Índio – FUNAI, empresas públicas, sociedades de econo- mia mista). NACIONALIDADE, MATRÍCULA, AERONAVEGABILIDADE E PROPRIEDADE A aeronave é um bem móvel registrável para efeito de nacionali- dade, matrícula, aeronavegabilidade e propriedade. Ela é considerada da nacionalidade do Estado (País) onde esteja matriculada (art. 108, CBAer). Por força deste dispositivo, por exemplo, a aeronave PR-GOE, um Boeing 737-700, operado pela Gol Linhas Aéreas, apesar de ser fabricada nos EUA, é considerada uma aeronave brasileira. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 25 12 mar 2011 No Brasil, para que a aeronave receba sua matrícula, ela deverá ser inscrita no Registro Aeronáutico Brasileiro – RAB. Após a devida vistoria técnica, será feito o ato de inscrição e o aparelho receberá os respectivos certificados de matrícula e aeronavegabilidade (art. 109, CBAer), que são documentos de porte obrigatório, sem os quais ele não receberá autorização para voo (art. 114, CBAer). A matrícula poderá ser definitiva ou provisória, dependendo do que estabelecer o documento de transferência ou de inscrição inicial. Um exem- plo de matrícula provisória ocorre quanto uma aeronave é objeto de contrato de leasing ou arrendamento temporário. O art. 18 da Convenção de Chicago veda o registro duplo, ou seja, uma aeronave matriculada em um determinado país, não pode ser objeto de registro em Estado estrangeiro. Qualquer alteração das características da aeronave, tais como mu- dança de cores, motorização, intalação de equipamentos para serviços es- pecializados, entre outros, deverá ser registrada, homologada e lançada no RAB. No Brasil, as marcas de nacionalidade são estabelecidas pelo se- guinte grupo de letras: PP, PT, PR, PS e PU (somente para aeronaves expe- rimentais categoria ultraleve), seguidas de mais três (ex.: PP-FAP, PT-DFE, PR-ESJ e PU-PSF). Algumas combinações são vedadas, conforme exem- plos abaixo: a) arranjos que resultem em um significado pejorativo, impróprio ou ofensivo; b) arranjos iniciados com a letra Q; c) arranjos que tenham W como segunda letra; d) arranjos: SOS, XXX, PAN, TTT, VFR, IFR, VMC e IMC; e e) arranjos com as sequências NN, ZC e CZ. Adquire-se a propriedade da aeronave pela construção própria ou pelos meios admitidos em direito civil (compra, doação, herança, legado, partilha em dissolução de casamento, sentença de extinção de condomínio, liquidação de sociedade, arrematação judicial ou extrajudicial, pagamento de obrigação, adjudicação compulsória, transferência legal e usucapião), confor- me art. 115 do CBAer. A aeronave adquirida por construção própria passa a existir para fins de direito com a respectiva inscrição no Registro Aeronáutico Brasileiro - RAB. A propriedade da aeronave adquirida por qualquer dos meios admi- tidos em direito civil supracitados somente tem valor para terceiros a partir da inscrição do respectivo documento de transferência no RAB. Nenhuma aeronave poderá ser autorizada para o vôo sem a pré- via expedição do correspondente certificado de aeronavegabilidade, emitido após realização de vistoria técnica, que só será válido durante o prazo esti- pulado e enquanto observadas as condições obrigatórias nele mencionadas. Perde-se a propriedade da aeronave por (art. 120, CBAer): a) alienação; b) renúncia; c) abandono; d) perecimento; e) desapro- priação. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA26 12 mar 2011 Considera-se perecida a aeronave quando verificada a impossibili- dade de sua recuperação ou após o transcurso de mais de 180 dias a contar da data em que dela se teve a última notícia oficial. A aeronave pode ser objeto de compra, promessa de venda, pro- messa de venda com reserva de domínio, alienação fiduciária, arrendamen- to, arrendamento mercantil (leasing), fretamento, hipoteca, penhor, sorteio e consórcio. A aeronave, mesmo em fase de construção, pode ser objeto de hipoteca desde que o contrato seja inscrito no RAB. O contrato que objetive a transferência da propriedade de aeronave ou a constituição sobre ela de direito real poderá ser elaborado por instru- mento particular, no entanto, só passa a ter validade quando lançado no RAB. CONTRATOS SOBRE AERONAVE Ocorre a exploração da aeronave quando uma pessoa física ou ju- rídica, proprietária ou não da mesma, a utiliza, legitimamente, por conta pró- pria, com ou sem fins lucrativos (art. 122, CBAer). PROPRIETÁRIO X EXPLORADOR Considera-se operador ou explorador de aeronave: I - a pessoa jurídica que tem a concessão dos serviços de transporte público regular ou autorização para serviços de transporte público não regular, de serviços especializados ou de taxi aéreo; II - o proprietário da aeronave ou quem a use diretamente ou através de seus prepostos, quando se tratar de serviços aéreos privados; III - o fretador que reservou a condução técnica da aeronave, a direção e a autoridade sobre a tripulação; IV - o arrendatário que adquiriu a condução técnica da aeronave arren- dada e a autoridade sobre a tripulação. Quando o nome do explorador estiver inscrito no RAB exclui-se o proprietário da responsabilidade inerente à exploração da aeronave. TIPOS DE CONTRATOS Arrendamento: Ocorre o arrendamento da aeronave quando uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado, o uso e gozo de aeronave ou de seus motores, mediante certa remuneração. Fretamento: Ocorre o fretamento quando uma das partes, chamada fretador, obriga-se para com a outra, chamada afretador, mediante o paga- mento por este, do frete, a realizar uma ou mais viagens preestabelecidas ou durante certo período de tempo, reservando-se ao fretador o controle sobre a tripulação e a condução técnica da aeronave. Arrendamento Mercantil: Ocorre o arrendamento mercantil (leasing) da aeronave quando a mesma é arrendada (alugada), com ou sem cláusula de opção de compra ou de renovação contratual, como faculdade do arren- datário (locatário). Hipoteca: Podem ser objeto de hipoteca as aeronaves, motores, partes e acessórios de aeronaves, inclusive aquelas em construção. No con- trato de hipoteca de aeronave deve constar o nome e domicílio das partes contratantes, a importância da dívida garantida, os juros e demais obrigações Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 27 12 mar 2011 legais, o prazo e o local de pagamento, a identificação da aeronave e das partes hipotecadas e os seguros que garantem o bem hipotecado. Hipoteca Legal: Será dada em favor da União a hipoteca legal das aeronaves, peças e equipamentos adquiridos no exterior com aval, fiança ou qualquer outra garantia do Tesouro Nacional ou de seus agentes financeiros. Alienação Fiduciária: A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da aeronave e/ou seus equipa- mentos, independentemente da respectiva tradição, tornando-se o devedor o possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal. 3. CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO. O contrato de transporte aéreo de passageiro ou de carga é um contrato bilateral (duas partes), consensual (mediante acordo previamente estipulado), oneroso (mediante pagamento) e real (existência de passageiros e cargas). A falsa declaração de carga transportada constitui crime. CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS. No transporte de pessoas o transportador é obrigado a entregar o respectivo bilhete individual ou coletivo de passagem, que deverá indicar o lugar e a data de emissão, os pontos de partida e destino, assim como os nomes dos transportadores. Os avanços da informática aplicáveis ao transporte aéreo já permi- tem a emissão eletrônica do bilhete de passagem (eletronic ticket). Ou seja, o bilhete não é emitido em um formulário mas designado um código (paperless) com o qual o passageiro poderá acionar um terminal eletrônico no aeroporto e obter o seu cartão ou autorização de embarque ou até mesmo efetuar o “check in”. Tal procedimento não afeta os direitos e obrigações contratuais do passageiro e do transportador derivados do bilhete de passagem emitido tradicionalmente em um formulário. A execução do contrato de transporte aéreo de passageiro compre- ende as operações de embarque e desembarque, além das efetuadas a bor- do da aeronave. O Código Brasileiro de Aeronáutica define como operação de embarque a que se realiza desde quando o passageiro, já despachado (“check-in”) no aeroporto, transpõe o limite da área destinada ao público em geral e adentra na respectiva aeronave, abrangendo o percurso feito a pé, por meios mecânicos ou com a utilização de viaturas (§1º do art. 233), porém hoje em dia o “check-in” pode ocorrer fora do aeroporto (hotel, terminal rodo- viário, ferroviário ou outro local) justificando uma interpretação mais flexível da conceituação de aeroporto para esse específico entendimento. Semelhan- te definição é dada para a operação de desembarque, a qual se inicia com a saída de bordo da aeronave e termina no ponto de interseção da área interna do aeroporto e da área aberta ao público em geral. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas legais e regulamentares, as quais devem constar do bilhete de passagem e/ou afixadas à vista dos usuários. O passageiro tem direito ao reembolso do valor já pago do bilhete se o transportador vier a cancelar a viagem, bem como no caso de atraso da partida por mais de quatro horas, o transportador providenciará o embarque Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 28 12 mar 2011 do passageiro, em vôo que ofereça serviço equivalente para o mesmo des- tino, se houver, ou restituirá de imediato, se o passageiro preferir, o valor do bilhete de passagem. Todas as despesas decorrentes da interrupção ou atraso da viagem, inclusive transporte de qualquer espécie, alimentação, hospedagem e comu- nicações (telefonemas e fax) correrão por conta do transportador contratual, sem prejuízo da responsabilidade civil. A NOTA DE BAGAGEM No contrato do transporte de passageiro combinado com o transpor- te de bagagem, o transportador é obrigado a entregar ao passageiro a nota individual ou coletiva de bagagem, em duas vias, com indicação do lugar e data de emissão, pontos de partida e destino, número do bilhete de passa- gem, quantidade, peso e valor declarado dos volumes. A execução desse transporte inicia-se com a entrega ao passageiro da respectiva nota de baga- gem e termina com o recebimento da bagagem. O recebimento da bagagem, sem protesto, faz presumir o seu bom estado. No caso de avaria ou atraso, o passageiro deverá protestar na forma estabelecida para o contrato de transporte de carga. O transporte aéreo de bagagem não acompanhada pelo passageiro tem tratamento semelhante ao dado à carga transportada por via aérea, ou seja, o transportador deve emitir o correspondente conhecimento (airwaybill). CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO DE CARGA.No contrato de transporte aéreo de carga será emitido o respectivo conhecimento (airway bill), com as seguintes indicações: I – lugar e data de emissão; II – os pontos de partida e destino; III – nome e endereço do expedidor; IV – nome e endereço do transportador; V - nome e endereço do destinatário; VI – a natureza da carga; VII – o número, acondicionamento, marcas e numeração dos volumes; VIII – o peso, quantidade e o volume ou dimensão; IX - o preço da mercadoria, quando a carga for expedida contra pagamen- to no ato de entrega, e, eventualmente, a importância das despesas; X – o valor declarado se houver; XI – o número das vias do conhecimento; XII – os documentos entregues ao transportador para acompanhar o conhecimento; XIII – o prazo de transporte, dentro do qual deverá o transportador entregar a carga no lugar de destino, e o destinatário ou expedidor retirá-la. Sem prejuízo da responsabilidade penal, o expedidor responde pela exatidão das indicações e declarações constantes do conhecimento aéreo e pelo dano que, em conseqüência de suas declarações ou indicações irregu- lares, inexatas ou incompletas, vier a sofre o transportador ou qualquer outra pessoa. Presume-se entregue em bom estado e de conformidade com o do- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 29 12 mar 2011 cumento de transporte a carga que o destinatário haja recebido sem protesto. O protesto deverá ser feito mediante ressalva lançada no documen- to de transporte ou outra comunicação escrita encaminhada ao transportador. O protesto por avaria será feito dentro de 07 (sete) dias a contar do recebi- mento da carga. A execução do contrato de transporte aéreo de carga inicia-se com o recebimento e persiste durante o período em que se encontra sob a respon- sabilidade do transportador, seja em aeródromo, a bordo de aeronave ou em qualquer lugar, no caso de aterrissagem forçada, até a entrega final da carga. É permitido ao agente de carga aérea efetuar a consolidação de vários conhecimentos destinados a um mesmo destino, mas envolvendo vá- rios embarcadores e vários consignatários, em um único conhecimento “mãe” ou “mestre” (“master airwaybill”), o qual será desconsolidado no destino. O registro e funcionamento das agências de carga aérea requer autorização da ANAC, do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviária (SNEA) e o arquiva- mento do contrato social na Junta Comercial com jurisdição no local da sede da agência. 4. A RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade do transportador por danos ocorridos durante a execução do contrato de transporte de passageiro ou de carga, tanto no âmbito do transporte doméstico como internacional, está sujeita respectiva- mente aos limites estabelecidos no Código Brasileiro de Aeronáutica (artigos 257, 260, 262, 269 e 277) e no chamado Sistema de Varsóvia (Convenção de Varsóvia, Protocolo de Haia, Convenção de Guatemala(1971) e os Protoco- los Adicionais, todos de Montreal). É nula qualquer cláusula que pretenda exonerar a responsabilidade do transportador ou estabelecer limite de responsabilidade inferior aos pre- visto na legislação interna e nos Atos Internacionais. Os limites de indeniza- ção não se aplicam se for provado que o dano resultou de dolo ou culpa grave do transportador ou seus prepostos; ocorre dolo ou culpa grave sempre que o transportador ou seus prepostos quiseram o resultado ou assumiram o risco de produzi-lo. A sentença do juízo criminal transitada em julgado faz prova sufi- ciente de dolo ou culpa grave – Hoje com a mudança da legislação penal (2006) e civil (2002/2003) não tem mais relação a esfera criminal e civil. A habilitação para o recebimento da respectiva indenização poderá ser feita extrajudicialmente/judicialmente, entretanto, decorrido o prazo legal sem que o responsável ou a seguradora tenha efetuado o pagamento, pode- rá o interessado promover a reparação do dano por meio de demanda judicial pela via sumaríssima. RESPONSABILIDADE POR DANO A PASSAGEIRO O transportador responde pelo dano decorrente: I – de morte ou lesão de passageiro, causada por acidente ocorrido durante a execução de transporte aéreo, a bordo de aeronave ou no curso das operações de embarque e desembarque; II – de atraso no transporte aéreo contratado. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 30 12 mar 2011 O transportador não será responsável nos seguintes casos: a) se a morte ou lesão resultar, exclusivamente, do estado de saúde do passageiro ou se o acidente decorrer de sua culpa exclusiva; b) no caso de atraso ocorrido por motivo de força maior ou comprova- da determinação da autoridade aeronáutica, que será responsabi- lizada. A responsabilidade do transportador estende-se a seus tripulantes, diretores e empregados que viajarem na aeronave acidentada, sem prejuízo de eventual indenização por acidente de trabalho, bem como aos passagei- ros gratuitos, que viajarem por cortesia. A responsabilidade do transportador em relação a cada passageiro e tripulante, no caso de morte ou lesão, é limitada a um valor fixado na lei, porém poderá ser fixado valor superior por meio de pacto acessório entre o transportador e o passageiro. Na hipótese de transportes sucessivos, o passageiro ou seu suces- sor somente terá ação contra o transportador que haja efetuado o transporte no curso do qual ocorrer o acidente ou o atraso. Essa regra não será aplicada se for expressamente estipulado que o primeiro transportador assume a res- ponsabilidade por todo o percurso do transporte contratado. Quando o transporte aéreo for contratado por com um transportador e executado por outro, o passageiro ou seu sucessor poderão demandar con- tra o transportador contratual ou o transportador de fato, respondendo ambos solidariamente. RESPONSABILIDADE POR DANO À BAGAGEM. A responsabilidade do transportador por dano, conseqüente de des- truição, perda ou avaria da bagagem despachada ou conservada em mãos do passageiro, ocorrida durante a execução do contrato de transporte aéreo é limitada a um valor fixado na lei, o qual não se aplica aos casos de dolo ou culpa grave; outrossim, aplica-se, no que couber, as disposições regulamen- tares relativas à responsabilidade por danos à carga aérea. RESPONSABILIDADE POR DANO À CARGA. No caso de atraso, perda, destruição ou avaria da carga, ocorrida durante a execução do contrato do transporte aéreo, a responsabilidade do transportador limita-se ao valor fixado em lei, salvo nos casos de declaração de valor feita pelo expedidor e mediante o pagamento de taxa suplementar, se for o caso. Essa limitação da responsabilidade do transportador não é aplicada nos casos de dolo ou culpa grave. O transportador não será responsável se comprovar: I - que o atraso na entrega da carga foi causado por determinação expressa de autoridade aeronáutica do vôo ou fato necessário, cujo resultado não era possível prever, evitar ou impedir; II - que a perda, destruição ou avaria resultou, exclusivamente, de um ou mais dos seguintes fatos: – natureza ou vício próprio da mercadoria; – embalagem defeituosa da carga; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 31 12 mar 2011 – ato de guerra ou conflito armado; – ato da autoridade pública referente à carga. Somente será considerado para efeito de indenização o peso dos volumes perdidos, destruídos, avariados ou entreguescom atraso. Poderá o expedidor propor ação contra o primeiro transportador e contra aquele que haja efetuado o transporte, durante o qual ocorreu o dano, e o destinatário contra este e contra o último transportador, pois ocorre so- lidariedade entre os transportadores responsáveis perante o expedidor e o destinatário. RESPONSABILIDADE POR DANOS EM SERVIÇOS AÉREOS GRATUITOS. Quando não houver contrato de transporte a responsabilidade civil por danos ocorridos durante a execução dos serviços aéreos obedecerá às seguintes regras: a) no serviço aéreo privado o proprietário da aeronave responde por danos ao pessoal técnico a bordo e às pessoas e bens na superfí- cie, nos limites estabelecidos na lei, devendo contratar seguro cor- respondente; - no transporte gratuito realizado por empresa de transporte aéreo pu- blico observa-se o determinado no Código Brasileiro de Aeronáutica (§2º do art. 256); - no transporte gratuito realizado pelo Correio Aéreo Nacional não ha- verá indenização por danos a pessoa ou bagagem a bordo, salvo se houver comprovação de culpa ou dolo dos operadores da aeronave; - em relação aos passageiros transportador com infração ao Código Brasileiro de Aeronáutica (§2º do art. 178 e art. 221) não prevalecem os limites estabelecidos na lei. RESPONSABILIDADE PARA COM TERCEIROS NA SUPERFÍCIE. O explorador responde pelos danos a terceiros nas superfícies cau- sadas diretamente por aeronave em vôo, ou manobra, assim como por pes- soas ou coisas dela caída ou projetada. Permanece a responsabilidade do explorador mesmo quando a aeronave é pilotada por seus prepostos, ainda que exorbitem de suas atribuições. Exime-se o explorador da responsabilidade se provar que: – não há relação direta de causa e efeito entre o dano e os fatos apon- tados; – resultou apenas da passagem da aeronave pelo espaço aéreo, ob- servadas as regras de tráfego aéreo; – a aeronave era operada por terceiro, não preposto nem dependente, que iludiu a razoável vigilância exercida sobre a aeronave; – houve culpa exclusiva do prejudicado. A responsabilidade do explorador estará limitada em relação ao peso máximo da aeronave, de conformidade com o disposto na lei (arts. 269 e seguintes do Código Brasileiro de Aeronáutica) Não se aplica o limite da responsabilidade do explorador quando: – o dano resultar de dolo ou culpa grave do explorador ou de sues Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 32 12 mar 2011 prepostos; – seja o dano causado pela aeronave no solo e com seus motores parados; – o dano seja causado a terceiros na superfície por quem esteja ope- rando ilegalmente a aeronave. 5. TRIPULAÇÃO DEFINIÇÃO E COMPOSIÇÃO São tripulantes de aeronave as pessoas devidamente habilitadas pela ANAC - que exercem função a bordo. A função remunerada a bordo de aeronaves nacionais é privativa de titulares de licenças específicas e reser- vada ao brasileiro nato ou naturalizado, entretanto, mediante acordo de reci- procidade, poderá haver intercâmbio de tripulantes de outras nacionalidades. A função não remunerada, a bordo de serviço aéreo privado, pode ser exercida por tripulantes habilitados, independentemente de sua naciona- lidade. No serviço aéreo internacional poderão ser empregados comissá- rios estrangeiros, contanto que o número não exceda um terço dos comissá- rios de cada tripulação. LICENÇAS E CERTIFICADOS A licença de tripulante e certificado de habilitação técnica e de capa- cidade física será concedida pela autoridade aeronáutica, na forma da regu- lamentação específica, vide também o RBHA 61. A licença tem caráter permanente e os certificados são temporários, podendo ser revalidados. COMANDANTE DE AERONAVE O comandante é o responsável pela operação e segurança da aero- nave e também responsável pela guarda de valores, mercadorias, bagagens despachadas, mala postal, desde que lhe sejam asseguradas pelo proprietá- rio ou explorador condições de verificar a quantidade e estado das mesmas. Todos os membros da tripulação são subordinados, técnica e disciplinarmen- te, ao comandante da aeronave. O comandante exerce a autoridade inerente à função desde o mo- mento em que se apresenta para o vôo até o momento em que entrega a aeronave, concluída a viagem. Durante esse período o comandante exerce autoridade sobre as pessoas e coisas que se encontrem a bordo da aeronave e poderá: - desembarcar qualquer delas, desde que comprometa a boa ordem, disciplina, ponha em risco a segurança da aeronave ou das pessoas e bens a bordo; - tomar as medidas necessárias à proteção da aeronave e das pessoas e bens transportados; e - alijar a carga ou parte dela, quando indispensável à segurança do vôo. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 33 12 mar 2011 O comandante e o explorador da aeronave não serão responsáveis por pre- juízos ou conseqüências decorrentes de adoção das medidas disciplinares adotadas, sem excesso de poder. O comandante poderá delegar a outro membro da tripulação as atri- buições que lhe competem, menos as que se relacionem com a segurança de vôo. O Diário de Bordo deverá ser assinado pelo comandante e além de mencionar a identificação da aeronave do vôo, conterá as etapas do vôo, nomes dos tripulantes e incidentes e observações que forem de interesse da segurança. NASCIMENTO DURANTE O VÔO Cabe ao comandante registrar no Diário de Bordo o nascimento, indicando a data, hora, local, sexo, e demais informações que possa obter, tais como, filiação, avós paternos e maternos e o nome do declarante. Desse registro deverá ser extraída cópia para ser efetuada a transcrição do nasci- mento no cartório competente da comarca do primeiro pouso efetuado após o nascimento (art. 173 do Código Brasileiro de Aeronáutica). Toda pessoa nascida a bordo de aeronave brasileira terá sempre a nacionalidade brasi- leira, devido o princípio do “jus soli” adotado pela lei brasileira, mas, também poderá ter a nacionalidade dos pais ou de cada um dos pais na hipótese de ser adotado o princípio “jus sanguinis” que faz firmar a nacionalidade pela descendência. MORTE DURANTE O VÔO Ocorrendo morte natural ou acidental de qualquer pessoa (passa- geiro ou tripulante) durante o vôo o comandante deverá proceder o registro do óbito no Diário de Bordo, indicando o nome do falecido, local, data e hora do óbito e demais dados que possa obter, tais como estado civil, idade, resi- dência e se deixou testamento. Desse registro deverá ser extraída cópia para fins de transcrição no cartório competente da comarca do primeiro pouso efetuado após o óbito e onde o cadáver deve ser removido da aeronave; o comandante deve providenciar o comparecimento da autoridade policial nes- sa escala, para que sejam tomadas as medidas cabíveis. CASAMENTO E TESTAMENTO DURANTE O VÔO Embora doutas opiniões se levantem contra à permissão da cele- bração de casamento e lavratura de testamento durante o vôo entendemos que, quando algum dos contraentes ou o testador estiver em iminente risco de vida ou quando houver motivo urgente que justifique a imediata celebra- ção do casamento ou a lavratura do testamento, com apoio da regra de di- reito segundo a qual “tudo que não é proibido é permitido”, o comandante substitui a autoridade competente e funcionará como oficial do registro civil “ad hoc” ou nomeará uma pessoa para exercer essa função cartorial (arts. 195 e 198 e parágrafos do Código Civil). A exemplo da viagem marítima (arts. 1.656 a 1.658 do Código Civil), esse testamento caducará se o testador não falecer durante o vôo nem nos 3 meses subseqüentesao seu desembarque em local onde possa fazer outro testamento, na forma ordinária. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 34 12 mar 2011 AUTORIDADE DO COMANDANTE DE AERONAVE Na década de 1960 foi cogitada pela OACI a elaboração de um texto para ser considerado como um “Estatuto Jurídico Internacional do Coman- dante de Aeronave”. Entretanto, a comunidade da aviação civil internacional à época concordou que as disposições existentes na Convenção de Tóquio - Convenção sobre infrações e outros atos cometidos a bordo das aeronaves - e em certos Anexos à Convenção da Aviação Civil Internacional eram sufi- cientes para caracterizar a autoridade do Comandante de Aeronave. Assim temos: - Convenção de Tóquio (14.09.63) - Capítulo III, artigos 5 a 10 tratam dos poderes do Comandante de Aeronave; - Convenção da Aviação Civil Internacional define o Comandante de Aeronave (“Pilot-in-command”), a qual é a seguinte: (“Pilot-in-com- mand. The pilot responsible for the operation and safety of the aircraft during flight time”). No âmbito doméstico a autoridade do Comandante de Aeronave e suas responsabilidades estão estabelecidas nos arts. 165 a 173 do Código Brasileiro de Aeronáutica. ALGUMAS INFRAÇÕES IMPUTADAS AO COMANDANTE. As seguintes infrações podem ser imputadas ao comandante de ae- ronave: a) preencher com dados inexatos documentos exigidos pela fiscaliza- ção: b) impedir ou dificultar a ação dos agentes públicos, devidamente cre- denciados, no exercício de missão oficial; c) pilotar aeronave sem portar os documentos de habilitação, os do- cumentos da aeronave ou os equipamentos de sobrevivência nas áreas exigidas; d) tripular aeronave com certificado de habilitação técnica ou de capa- cidade física vencidos, ou exercer a bordo função para a qual não esteja devidamente licenciado ou cuja licença esteja expirada; e) participar da composição de tripulação em desacordo com a lei; f) utilizar aeronave com tripulantes estrangeiros ou permitir a este o exercício de qualquer função a bordo em desacordo com a lei; g) desobedecer às determinações da autoridade do aeroporto ou pres- tar-lhe falsas informações; h) desobedecer aos regulamentos e normas de tráfego aéreo; i) inobservar os preceitos da regulamentação sobre o exercício da pro- fissão de aeronauta; j) inobservar as normas sobre assistência e salvamento; k) infringir as normas e regulamentos que afetem a disciplina a bordo de aeronave ou a segurança de vôo; l) exceder, fora dos casos previstos em lei, os limites de hora de tra- balho ou vôo; m) operar a aeronave em estado de embriaguez; n) taxiar aeronave para decolagem, ingressando na pista sem obser- var o tráfego; o) retirar-se de aeronave com o motor ligado sem tripulante a bordo; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 35 12 mar 2011 p) operar aeronave deixando de manter fraseologia padrão nas comu- nicações radiotelefônicas; q) ministrar instruções de vôo sem estar habilitado. 6. JURISDIÇÃO. COMPETÊNCIA. EXTRATERRITORIALIDADE. Consideram-se situadas no território de Estado de sua nacionalida- de: - as aeronaves militares, bem como as civis de propriedade ou a servi- ço do Estado por este diretamente utilizada. - as aeronaves de qualquer outra espécie, quando sobrevoando o alto mar ou região que não pertença a qualquer Estado. Salvo a hipótese de estar a serviço do Estado não prevalece a ex- traterritorialidade em relação à aeronave privada, que se considera sujeita à lei do Estado onde se encontre. A aeronave em vôo sobre o território pertencente ao seu Estado, aplica-se a lei do seu Estado. A aeronave em vôo sobre o alto mar ou terra de ninguém, aplica-se a lei do Estado a que pertence a aeronave. A aeronave em vôo sobre território estrangeiro, aplica-se a lei do Estado de nacionalidade da aeronave, salvo se o ato afetar de algum modo o Estado subjacente. A aeronave pousada no estrangeiro aplica-se a lei do Estado onde estiver pousada. A aeronave militar ou a serviço do Estado, aplica-se a lei do Estado a que ela pertence. 7. SERVIÇOS AÉREOS Os serviços aéreos podem ser públicos e/ou privados. Os serviços aéreos públicos abrangem os serviços especializados públicos e os serviços de transporte aéreo público de passageiros, carga ou mala postal, regular ou não regular, doméstico ou internacional. Os serviços aéreos privados são os realizados, sem remuneração, em benefício do próprio operador e compreen- dem as seguintes atividades: - recreio ou desportiva; - transporte reservado ao proprietário ou operador da aeronave; - serviços aéreos especializados em benefício exclusivo do proprietário ou operador da aeronave. A exploração de serviço aéreo público dependerá da prévia conces- são - ANAC, quando se tratar de transporte aéreo regular ou de autorização nos casos de transporte aéreo não regular ou de serviço especializado. A concessão para exploração de serviço aéreo público somente será dada a pessoa jurídica brasileira que tiver: - sede no Brasil; - pelo menos 4/5 do capital com direito a voto pertencente a brasilei- ros, prevalecendo essa limitação nos eventuais aumentos do capital social; e - direção confiada exclusivamente a brasileiro. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 36 12 mar 2011 8. INFRA-ESTRUTURA AERONÁUTICA Constituem a infra-estrutura aeronáutica brasileira os seguintes sis- temas: - sistema aeroportuário: constituído pelo conjunto de aeródromos bra- sileiros, com as respectivas pistas de pouso, pistas de taxi, pátio de estacionamento, terminal de carga e terminal de passageiros e demais facilidades; Aeródromo é toda área destinada a pouso, decolagem e movimen- tação de aeronave e são classificados em civis e militares, sendo os civis classificados em públicos e privados. - sistema de proteção ao vôo: visa a regularidade, segurança e eficiên- cia do fluxo de tráfego no espaço aéreo; - sistema de segurança, de vôo: tem por objetivo promover a seguran- ça de vôo, devendo a autoridade aeronáutica estabelecer os padrões mínimos de segurança a serem observados; - sistema de Registro Aeronáutico Brasileiro - RAB: trata-se de regis- tro público, único e centralizado, destinando-se a ter em relação à aeronave as funções de emitir certificados de matrícula, aeronavega- bilidade e nacionalidade de aeronaves sujeitas à legislação brasilei- ra, bem como, as inscrições de contratos, propriedade e ônus reais sobre aeronaves; - sistema de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos: compete planejar, orientar, coordenar, controlar e executar as ativi- dades de investigação e de prevenção de acidentes aeronáuticos. - sistema de facilitação, segurança e coordenação do transporte aéreo: tem por objetivo estudar as normas e recomendações pertinentes da Organização da Aviação Civil Internacional - O.A.C.I. - e propor aos órgãos interessados as medidas adequadas a implementá-las no País, avaliando os resultados e sugerindo as alterações necessárias ao aperfeiçoamento dos serviços aéreos; - sistema de formação e adestramento de pessoal destinado à navega- ção área e à infra-estrutura aeronáutica: fazem parte desse sistema os aeroclubes, escolas e cursos de aviação ou de atividades vincu- ladas à aviação civil; - sistema de indústria aeronáutica: constituído de empresas de fabrica- ção, revisão, reparo e manutenção de produto aeronáutico ou relati- vo à proteção do vôo;- sistema de serviços auxiliares: assim considerados as agências de carga aérea, os serviços de rampa ou de pista nos aeroportos e os relativos à hotelaria e restaurantes nos aeroportos; e - sistema de coordenação da infra-estrutura aeronáutica: para promo- ver o planejamento integrado da infra-estrutura aeronáutica e sua harmonização com as possibilidades econômico financeiras do País, bem como, coordenar os diversos sistemas por meio de órgão ou comissão. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 37 12 mar 2011 RECUPERAÇÃO DOS CUSTOS COM OS AUXÍLIOS À NAVEGAÇÃO AÉREA Até 1960 praticamente não havia cobrança de taxas aeronáuticas - assim definidas as cobradas pelos auxílios à navegação aérea em rota - nem de taxas aeroportuárias - correspondente ao uso das instalações aeroportu- árias, tais como, taxa de pouso e decolagem, estacionamento, permanência, iluminação, embarque e desembarque de passageiros e carga, de serviço de segurança e outras. A partir dos anos 60 vários Governos da Europa Ocidental, Estados Unidos da América, Canadá e outros decidem recuperar gradativamente os investimentos efetuados para proporcionar à aviação civil segurança e regularidade. Com a introdução das aeronaves movidas a turbinas tornou-se ne- cessário o uso de equipamento de apoio altamente sofisticado e de custo elevado; com o aumento da capacidade das aeronaves foi necessário am- pliar os terminais aeroportuários. A fim de possibilitar a operação das aerona- ves sob condições adversas de tempo ensejou a introdução de instrumentos eletrônicos sofisticados. Por tudo isso os Governos passam a cobrar taxas aeronáuticas e aeroportuárias objetivando recuperar os respectivos custos. Para evitar uma possível desorganização do sistema da aviação civil diante de cobranças indiscriminadas a Organização da Aviação Civil Interna- cional - O.A.C.I. - estabelece normas emanadas do seu Conselho sucessi- vamente atualizadas com as realizações das Conferências “CARFE” - “Con- ference on Airports and Route Facilities Economics” - objetivando assistir os Estados membros da OACI no estabelecimentos dessas taxas, sua metodo- logia de arrecadação e compatibilização com a economia do transporte aéreo internacional. 9. LEGISLAÇÃO AERONÁUTICA (RESUMIDA) No Brasil o Direito Aeronáutico é regulado pelos Tratados, Conven- ções e Atos Internacionais de que o Brasil seja parte, pelo Código Brasileiro de Aeronáutica - lei 7.565, de 19.12.86 - e pela legislação complementar. O Código Brasileiro de Aeronáutica se aplica a nacionais e estrangeiros em todo o território brasileiro, assim como, no exterior, até onde for admitida a sua extraterritorialidade. Não terão eficácia no Brasil, em matéria de transporte aéreo, quais- quer disposições de direito estrangeiro, cláusulas constantes de contrato, do bilhete de passagem aérea, conhecimento de carga aérea e outros documen- tos que: - excluam a competência de foro do lugar de destino; - tem por objetivo a exoneração de responsabilidade do transportador, nos casos não admitidos pelo Código Brasileiro de Aeronáutica; e - estabeleçam limites de responsabilidade inferiores aos estabelecidos no Código Brasileiro de Aeronáutica. 10. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Convenção para Unificação de Certas Regras para o Transporte Aé- reo Internacional (neste texto referida como Convenção de Montreal), elabo- rada na cidade de Montreal (Canada) e concluída em 28 de maio de 1.999, tem por objetivos principais modernizar, consolidar e substituir a Convenção para Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacio- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 38 12 mar 2011 nal, assinada na cidade de Varsóvia em 12 de outubro de 1.929 (conhecida como Convenção de Varsóvia), e suprimir os Protocolos de Haia (1.955), Convenção de Guatemala (1.971) e Protocolos Adicionais de Montreal, todos vinculados à essa referida Convenção de Varsóvia, a fim de assegurar me- lhor proteção aos interesses dos usuários do transporte aéreo internacional garantindo-lhes uma compensação justa baseada no princípio da indeniza- ção, bem como, modernizar os procedimentos burocráticos e de controle do transporte aéreo. Essa Convenção somente entrará em vigor 60 dias após ter sido ratificada por 30 Estados Membros: Convenção para unificação de certas regras relativas ao transporte aéreo internacional, conhecida como Convenção de Varsóvia por ter sido ela- borada nessa capital, teve à época dois importantes objetivos, quais sejam, padronizar a documentação emitida pelo transportador para o passageiro, bagagem despachada e a carga e estabelecer limites para a responsabi- lidade do transportador nos casos de sinistro ou dano. Entretanto, com a introdução de moderna tecnologia aplicada ao controle do transporte aéreo, a documentação estabelecida em 1929 tornou-se defasada para o controle do tráfego aéreo internacional e com adoção de competentes medidas de se- gurança o aumento do limite da responsabilidade do transportador passou a ser um imperativo para proteger legítimo direito do usuário; embora não mais atendendo de maneira plena o interesse do usuário, deve ser reconhecido que essa limitação inicial possibilitou a viabilização dos empreendimentos relacionados com o transporte aéreo, sem o qual não poderia progredir satis- fatoriamente. Assim, a Convenção de Varsóvia regulou, entre outros também relevantes, os seguintes detalhes: I - Tornou, no transporte aéreo internacional, a obrigatoriedade da emis- são pelo transportador, do bilhete de passagem, nota de bagagem e conhecimento de carga, bem como indicando o que deve constar em cada um desses documentos de transporte aéreo; cabe ser escla- recido que a nota de bagagem não é a etiqueta presa na bagagem, da qual o passageiro recebe uma das partes identificadoras, mas a parte do bilhete de passagem onde o transportador anota o número de bagagens e o peso total das bagagens despachadas. II - Estabeleceu limites da responsabilidade do transportador nos ca- sos de danos ocasionado por morte, ferimento ou qualquer outra le- são corpórea sofrida pelo passageiro durante a viagem, nos casos de danos ocasionados por destruição, perda ou avaria da bagagem despachada ou da carga, desde que o fato que causou o dano haja ocorrido durante o transporte aéreo. No transporte de pessoas, limitou a responsabilidade do transpor- tador à importância de 125.000 francos por passageiros e no transporte de bagagem despachada e carga à quantia de 250 francos por quilograma. Para os objetos que o passageiro conservar sob sua guarda a responsabilidade do transportador foi limitada à quantia de 5.000 francos por passageiro. As quantias acima referidas correspondem ao chamado “Franco Ouro Poincaré”, constituído de sessenta e cinco e meio miligramas de ouro ao título de novecentos milésimos de metal fino. Essas quantias podem ser convertidas na moeda nacional de cada país. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 39 12 mar 2011 Posteriormente, pelo Protocolo de Haia, o limite da responsabilidade pelo transporte de pessoa passou a 250.000 francos por passageiro, manti- das as demais limitações. Em decorrência do Protocolo da Guatemala, no transporte de pes- soas a responsabilidade do transportador é limitada à soma de 150.000 fran- cos pelo conjunto das reclamações, sob qualquer fundamento, referente ao dano sofridocomo conseqüência da morte ou lesão de cada passageiro; no caso de atraso no transporte de pessoas, a responsabilidade do transporta- dor limita-se a 62.500 francos por passageiro; no transporte de bagagem des- pachada a responsabilidade do transportador em caso de destruição, perda, dano ou atraso limita-se a 15.000 francos por passageiro e no transporte de carga essa responsabilidade continuou limitada à soma de 250 francos por quilograma. Posteriormente, pelo Protocolo Adicional de Montreal nº 1(promul- gado pelo Decreto 2.860 de 07.12.98, publicado no DOU de 08.12.98, esse limite passou à quantia de 8.300 Direitos Especiais de Saque por passageiro; no transporte de bagagem despachada ou de mercadorias (carga) o limite passou a ser de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma; para os ob- jetos que o passageiro conserva sob sua guarda limita-se a responsabilidade do transportador a 332 Direitos Especiais de Saque por passageiro. O valor do Direito Especial de Saque será calculado segundo o método de avaliação adotado pelo Fundo Monetário Internacional para suas operações e transa- ções na data do julgamento. Pelo Protocolo Adicional de Montreal nº 2(promulgado pelo Decreto 2.860 de 07.12.98, publicado no DOU de 08.12.98), no transporte de pessoas a responsabilidade do transportador passa a 16.600 Direitos Especiais de Saque. Pelo Protocolo Adicional de Montreal nº 3, no transporte de passa- geiros a responsabilidade do transportador passou a 100.000 Direitos Es- peciais de Saque; no caso de atraso 4.150 Direitos Especiais de Saque por passageiro; no transporte de bagagem 1.000 Direitos Especiais de Saque. O Protocolo Adicional de Montreal nº 4(promulgado pelo Decreto 2.861, de 07.12.98, publicado no DOU de 08.12.98) atualizou a Convenção de Varsóvia, emendada pelo Protocolo de Haia, no tocante ao transporte de carga e no que se refere ao Franco Ouro Poincaré e ao Direito Especial de Saque o Fundo Monetário Internacional. Há alguns anos o chamado Sistema Varsóvia(a Convenção de Var- sóvia e seus Protocolos acima referidos) passou a ser alvo de críticas por não atender satisfatoriamente os interesses dos usuários em decorrência dos baixos limites da responsabilidade frente os avanços tecnológicos incorpo- rados à segurança e ao controle do transporte aéreo internacional e devido certas decisões de alguns Tribunais contrariando suas limitações em maté- ria de limite de responsabilidade, notadamente a ausência da conceituação específica de dano moral e no tocante ao dano patrimonial, já reconhecido internacionalmente, fatos que levaram a comunidade da aviação civil inter- nacional entender que seria oportuno sua modernização e consolidação dos Protocolos em um Ato único, para não emperrar o desenvolvimento dessa modalidade de transporte e prestigiar a Jurisprudência em construção para beneficiar os usuários. Sob essas precondições a nova Convenção, aqui Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 40 12 mar 2011 referida como Convenção de Montreal, incorporou, entre outras igualmente importantes, as seguintes inovações as quais são a seguir listadas, com re- missão aos artigos e parágrafos. A Aplicabilidade da Convenção (artigo 1, parágrafos 1 e 2) – Essa Convenção definiu o transporte aéreo internacional como sendo aquele ini- ciado em um Estado e destinado a outro Estado, podendo o Estado de origem ser também o de destino desde que haja uma parada intermediária em outro Estado. O transporte entre dois pontos do mesmo Estado não é considerado transporte internacional para a aplicação dessa Convenção. Transporte executado por diversos transportadores (artigo 1, pará- grafo 3) – Para os fins dessa Convenção esse transporte é considerado como realizado por um único transportador, se as partes envolvidas entende- rem tratar-se de uma única operação, independentemente se estiver coberto por um ou mais contratos. Documentação referente ao transporte de passageiros e bagagens (artigo 3)– Deverá ser emitido pelo transportador um documento individual ou coletivo para ser entregue ao passageiro contendo: a) indicação dos locais de partida e destino; b) se os locais de partida e destino estiverem no território de um único Estado, deverá constar indicação de uma ou mais escalas em terri- tório de outro Estado. Substituição do documento (artigo 3, parágrafo 2) - O documento referido no item imediatamente anterior poderá ser substituído por outra mo- dalidade, inclusive eletrônica, desde que sejam preservadas as informações e nesse caso o transportador deverá oferecer ao passageiro uma declaração escrita na qual estejam preservadas as citadas informações. O transportador deverá entregar ao passageiro uma etiqueta recibo para cada volume de bagagem despachada (artigo 3, parágrafo 3). O passageiro deverá receber aviso escrito de que essa Convenção é aplicada, rege e pode limitar a responsabilidade do transportador com res- peito à morte ou invalidez e pela destruição ou perda ou danos à bagagem e pelo atraso (artigo 3, parágrafo 4). O não cumprimento das regras mencionadas nos parágrafos pre- cedentes não afetará a validade do contrato de transporte que continuará sujeito às regras desta Convenção, incluindo as relativas aos limites de responsabilidade(artigo 3, parágrafo 5). Documentação referente ao transporte de carga (artigo 4). – Um co- nhecimento aéreo (airwaybill) deverá ser entregue ao expedidor e pelo trans- portador, entretanto, poderá ser substituído por outra modalidade(inclusive eletrônica) desde que preserve em arquivo as informações pertinentes ao transporte; se o expedidor desejar, o transportador deverá fornecer ao mes- mo um recibo da carga que permita a identificação da expedição e acessar as informações mantidas no arquivo do transportador na hipótese do controle ter sido efetuado por outra modalidade. O conhecimento aéreo (airwaybill) ou o recibo da carga deverá con- ter indicação dos locais de partida e destino, no caso dos locais de partida e destino estejam no mesmo Estado, a indicação de pelo menos um escala Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 41 12 mar 2011 em outro Estado e a indicação do peso da carga. O expedidor poderá exigir para cumprir com formalidades oficiais que lhe seja fornecido pelo transpor- tador um documento constando a natureza da carga, embora esse procedi- mento não crie para o transportador nenhum imposto, obrigação ou respon- sabilidade decorrente do mesmo. O conhecimento aéreo (airwaybill) deverá ser emitido pelo transportador em 03 vias originais, sendo a primeira para o transportador e assinada pelo expedidor; a segunda para o consignatário de- vendo ser assinada pelo expedidor e pelo transportador; a terceira deverá ser assinada pelo transportador e entregue ao expedidor após a carga ter sido aceita. As assinaturas do transportador e a do expedidor podem ser apostas por impressão tipográfica ou carimbo. Se, a pedido do expedidor, o transpor- tador preencher o conhecimento aéreo (airwaybill), o transportador deverá ser considerado, até prova em contrário, esse preenchimento foi efetuado em nome do expedidor. O expedidor é responsável pela veracidade dos dados e declarações relativas à cargo inseridas pelo próprio ou em seu nome no conhecimento aéreo (airwaybill). O expedidor deverá indenizar o transportador contra todos os danos sofridos pelo mesmo ou por outra pessoa pela qual o transportador seja responsável, em decorrência de irregularidade, incorreções ou falta de dados e declarações fornecidas pelo expedidorou prestadas em seu nome. Subordinada às condições estabelecidas nos parágrafos 1 e 2 do artigo 10, o transportador deverá indenizar o expedidor contra danos sofridos pelo mes- mo ou qualquer pessoa pela qual o expedidor seja responsável, devido irre- gularidade, incorreções ou ausência de dados e declarações incluídas pelo transportador ou efetuadas em seu nome no recibo da carga ou no arquivo do transportador preservado por outras modalidades, inclusive eletrônicas. O conhecimento aéreo (airwaybill) ou o recibo de carga constitui prova a “prima facie” da conclusão do contrato de aceitação da carga e das condições de transporte no mesmo mencionadas; qualquer declaração mencionada no co- nhecimento aéreo (airwaybill) ou no recibo da carga com referência ao peso, dimensões e embalagem da carga, como também as relativas ao número de volumes, constitui prova a “prima facie” dessas declarações, entretanto, as referentes à quantidade, volume e condições da carga não constituem provas contra o transportador a não ser que estejam declaradas no conhecimento de carga (airwaybill) ou no recibo da carga que foram conferidas na presença do expedidor ou referida quanto à aparente condição da carga. Morte e ferimentos do passageiro e avaria (dano) na bagagem (ar- tigo 17). O transportador é responsável pelo dano que resulte em morte ou ferimento corporal causado ao passageiro somente quando o acidente que causou a morte ou ferimento ocorreu a bordo da aeronave ou durante as ope- rações de embarque ou desembarque. O transportador é responsável pelo dano que resulte na destruição, extravio ou dano na bagagem despachada somente quando o sinistro tenha ocorrido a bordo da aeronave ou durante o período que a bagagem despachada estiver sob a responsabilidade do transportador. Entretanto, o transportador não será responsável pelo sinistro resultou de defeito, qualidade ou vício da bagagem. Quanto às bagagens de mão, incluindo itens pessoais, o transportador é responsável se o dano foi re- sultado de sua falha ou de seus empregados ou agentes. Se o transportador admitir o extravio da bagagem despachada ou se a bagagem despachada Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 42 12 mar 2011 não chegou ao destino após ter expirado o prazo de 21 dias após a data que era prevista para ter chegado ao destino, o passageiro poderá exigir do trans- portador seus direitos derivados do contrato de transporte. A não ser que de outra maneira esteja disposto, nesta Convenção o termo bagagem significa bagagem despachada e bagagem não despachada (unchecked baggage). Avaria (dano) na carga (artigo 18). O transportador é responsável pela avaria (dano) que resulte na destruição ou extravio da carga somente quando o sinistro ocorrer durante o transporte aéreo. Entretanto, o transpor- tador não será responsável se poder provar que a destruição, extravio ou avaria (dano) na carga resultou de um dos seguintes eventos: a) defeito próprio, qualidade ou vício da carga; b) defeito da embalagem efetuada por outra pessoa que não seja o transportador, seus empregados ou agentes; c) atos de guerra ou conflitos armados; e d) ato da autoridade pública praticado com relação à entrada, saída ou transito da carga. A expressão transporte aéreo aqui usada compreende todo o perío- do durante o qual a carga esteja sob a responsabilidade do transportador. Atraso (artigo 19). O transportador é responsável pelo dano causa- do pelo atraso no transporte aéreo de passageiro, bagagem ou carga mas não será responsável se provar que ele próprio, seus empregados e agentes tomaram todas as medidas que razoavelmente poderiam ser exigidas para evitar o dano ou que foi impossível para os mesmo tomarem essas medidas. Exoneração (artigo 20). Se o transportador provar que o dano foi causado ou contribuído para que ocorresse por negligência, ação maldosa ou omissão de uma pessoa que venha reclamar compensação ou uma pessoa de quem decorre esse direito, o transportador deverá ser exonerado em todo ou em parte da sua responsabilidade para o reclamante cuja negligência, ação maldosa ou omissão causou ou contribuiu para ocorrência do dano. Recompensa no caso de morte ou ferimento no passageiro (artigo 21). Para os danos referidos no parágrafo 1 do artigo 17 que não excedam 100.000 Direitos Especiais de Saque para cada passageiro, o transportador não poderá excluir ou limitar sua responsabilidade. O transportador não de- verá ser responsável pelos danos referidos no parágrafo 1 do artigo 17 que exceda para cada passageiro 100.000 Direitos Especiais de Saque se provar que: a) tal dano não ocorreu devido negligência, ação maldosa ou omissão do transportador, seus empregados ou agentes; ou b) tal dano ocorreu unicamente devido negligência, ação maldosa ou omissão de uma terceira pessoa. Limites da responsabilidade em relação ao atraso, à bagagem e à carga (artigo 22). No caso de dano causado por atraso, conforme especifica- do no artigo 19, no transporte de pessoas, a responsabilidade do transporta- dor para cada passageiro é limitada a 4.150 Direitos Especiais de Saque. No transporte da bagagem, a responsabilidade do transportador nas hipóteses de destruição, extravio, avaria(dano) ou atraso é limitada a 1.000 Direitos Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 43 12 mar 2011 Especiais de Saque para cada passageiro, a não ser que no momento de en- tregar a bagagem ao transportador tenha feito uma declaração de interesse especial para entrega no destino e tenha pago uma importância suplementar no caso de ser exigida, nessa hipótese o transportador será responsável pelo pagamento de uma importância que não exceda o valor declarado, a não ser que prove ser essa importância superior ao interesse do passageiro pela en- trega no destino. No transporte da carga a responsabilidade do transportador para os casos de destruição, extravio, avaria(dano) ou atraso é limitada à importância de 17 Direitos Especiais de Saque por quilograma, a não ser que o expedidor tenha feito na ocasião da entrega da carga ao transportador o expedidor tenha feito uma declaração de interesse especial para entrega no destino e tenha pago uma importância suplementar, no caso de ser exigida, nessa hipótese o transportador será responsável pelo pagamento de uma importância que não exceda o valor declarado, a não ser que prove ser essa importância superior ao interesse do expedidor pela entrega no destino. Conversão das unidades monetárias (artigo 23). As importâncias mencionadas em termos de Direito Especial de Saque devem ser entendidas como referentes ao Direito Especial de Saque definido pelo Fundo Monetário Internacional. A conversão dessas importâncias para moeda nacional deve- rá ser, no caso de demanda judicial, feita observando o valor dessa moeda nacional em termos de Direito Especial de Saque na data do julgamento. O valor de uma moeda nacional em termos do Direito Especial de Saque de um Estado que seja membro do Fundo Monetário Internacional deve ser calcula- do de acordo com o método de avaliação aplicado pelo Fundo Monetário In- ternacional, na data do julgamento, para suas operações e transações. O va- lor da moeda nacional em termos de Direito Especial de Saque de um Estado que não seja membro do Fundo Monetário Internacional deve ser calculado na maneira determinada pelo Estado em causa. Não obstante, os Estados que não são membros do Fundo Monetário Internacional e cuja lei não permi- te a aplicação das disposições do artigo 23 podem à época da ratificação ou aceitação ou a qualquertempo declarar que o limite da responsabilidade do transportador estabelecido no artigo 21 é fixado na importância de 1.500.000 unidades monetárias por passageiro em demanda judicial nos seus territó- rios; 62.500 unidades monetárias por passageiro com respeito ao parágrafo e do artigo 22; e 15.000 unidades monetárias com respeito ao parágrafo 2 do artigo 22 . Essa unidade monetária corresponde a 65,5 miligramas de ouro ao título de 900 milésimos de metal fino. Essas importâncias podem ser con- vertidas na respectiva moeda nacional arredondada e a conversão deve ser feita de acordo com a lei do Estado em causa. Atualização dos limites de responsabilidade do transportador (arti- go 24). Sem prejuízo do estabelecido no artigo 25 e sujeito ao previsto no parágrafo 2 deste artigo 24, os limites de responsabilidade estabelecidos nos artigos 21, 22 e 23 devem ser atualizada a cada período de cinco anos, sendo que a primeira atualização deverá ocorrer no fim do quinto ano se- guinte a data de vigência desta Convenção, ou se não vigorar dentro de 5 anos da data em que foi aberta para a primeira assinatura de ratificação, dentro do primeiro ano de vigência, tendo como referência o fator de infla- ção correspondente ao índice de inflação acumulado desde a atualização prévia ou primeiramente desde a data de entrada em vigor. O transportador Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 44 12 mar 2011 poderá estipular que o contrato de transporte esteja sujeito a limites de res- ponsabilidade maiores do que os previstos nesta Convenção ou ainda não estabelecer limite algum(artigo 25). Qualquer cláusula tendente a relevar a responsabilidade do transportador ou fixar limite inferior ao estabelecido nes- ta Convenção deverá ser nula e inválida mas a nulidade de tal cláusula não torna nulo a totalidade do contrato, o qual continuará sujeito às cláusulas desta Convenção(artigo 26). Nada nesta Convenção impedirá que o trans- portador recuse participar de contrato de transporte renunciando as defesas disponíveis nesta Convenção ou estabelecer condições não conflitantes com as cláusulas desta Convenção (artigo 27). Pagamentos antecipados (artigo 28). No caso de acidente com a aeronave que resulte morte ou ferimento de passageiro, o transportador de- verá, se exigido pela legislação nacional, efetuar pagamentos antecipados e sem demora para a pessoa ou pessoas com direito a reclamar indenização, a fim de atender as necessidades econômica imediatas dessas pessoas. Esse pagamento antecipado não deve constituir um reconhecimento da responsa- bilidade e pode ser compensado contra qualquer importância paga subse- qüentemente pelo transportador como indenização. Jurisdição (artigo 33). A ação de indenização deve ser proposta, a escolha do demandante, no território de um dos Estados Contratantes, no domicílio do transportador ou no local da sede de seu negócio principal ou no local onde o contrato foi celebrado ou no local de destino. Arbitragem (artigo 34). No contrato de transporte de carga as partes podem estipular que qualquer disputa relativa à responsabilidade do trans- portador nos termos da presente Convenção pode ser resolvida por meio de arbitragem devendo o acordo nesse sentido ser por escrito. A arbitragem deverá ser realizada em uma das jurisdições referidas do art. 33 a escolha do reclamante. A arbitragem ou o Tribunal de Arbitragem deverá obrigatoriamen- te aplicar as regras desta Convenção e qualquer cláusula ou acordo que não observe essas regras será nulo ou cancelado. Prescrição (ou decadência) do direito (artigo 35). O direito de recla- mar indenização por danos decairá se não exercido dentro do período de 2 anos a contar da data de chegada da aeronave ao destino ou da data que a aeronave deveria chegar ou ainda da em que o transporte foi interrompido. O método de calcular esse período deverá ser determinado pela da lei da corte competente para apreciar o caso. Direito de recorrer contra terceiras pessoas (artigo 37). Nada nesta Convenção deve prejudicar uma pessoa com direito de indenização por da- nos, de acordo com esta Convenção de recorrer contra uma terceira pessoa. Definição dos dias (artigo 52). A expressão “dias” quando usada nesta Con- venção significa dias calendários e não dias úteis. CONVENÇÃO SOBRE A AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL (CHICAGO 07.12.44) Essa Convenção teve como principais objetivos harmonizar os in- teresses na exploração do transporte aéreo e criar meios para o seu desen- volvimento. Foi reconhecida a soberania do Estado no espaço aéreo sobre o seu território e águas territoriais e definidas e estabelecidas as liberdades do ar, as quais são demonstradas graficamente no anexo I. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 45 12 mar 2011 Com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento tecnológico da aviação civil sem afetar essa Convenção, a mesma foi elaborada com um texto básico permanente e diversos anexos que podem ser atualizados, por meio de um mecanismo convencional entre os Estados signatários mas sem afetar o referido texto básico da Convenção. Nesta data são os seguintes os Anexos à Convenção da Aviação Civil Internacional: (original em inglês) - Anexo 1 – Licenças de pessoal; - Anexo 2 – Regras do ar; - Anexo 3 – Serviço meteorológico para a navegação aérea internacional; - Anexo 4 – Cartas aeronáuticas; - Anexo 5 – Unidades de medida utilizadas nas operações aéreas e terrestres; - Anexo 6 – Operações com aeronaves; Parte I – Transporte aéreo comercial internacional – aviões; Parte II – Aviação geral internacional – aviões; Parte III – Operações internacionais – helicópteros; - Anexo 7 – Marcas de nacionalidade e de matrícula das aeronaves; - Anexo 8 – Aeronavegabilidade; - Anexo 9 – Facilitação; - Anexo 10 – Telecomunicações aeronáuticas: Volume I – Equipamento, sistemas e rádio-frequências; Volume II – Procedimentos de comunicações; - Anexo 11 – Serviços de tráfego aéreo; - Anexo 12 – Busca e salvamento; - Anexo 13 – Investigação de acidentes aéreos; - Anexo 14 – Aeródromos: Volume I – Aeródromos; Volume II – Heliportos; - Anexo 15 – Serviços de informação aeronáutica; - Anexo 16 – Protecção ambiental: Volume I – Ruído de aeronaves; Volume II – Emissão de gases dos motores das aeronaves; - Anexo 17 – Segurança aérea – Protecção da aviação civil internacional contra os actos ilícitos contra as aeronaves; - Anexo 18 – Transporte de mercadorias perigosas.. Convenção para unificação de certas regras relativas a danos cau- sados pelas aeronaves a terceiros na superfície (Roma, 1933) e o Protocolo Adicional (Bruxelas, 1931). Essa Convenção estabeleceu as responsabilidades do explorador da aeronave pelos danos causados a terceiros na superfície e a obrigatorie- dade da cobertura de seguro para esses sinistros. Convenção para a unificação de certas regras relativas ao seqüestro preven- tivo de aeronaves (Roma, 1933). Essa Convenção estabeleceu regras para o seqüestro preventivo de aeronave no interesse privado executado por agentes da justiça ou da admi- nistração pública em proveito de um credor, proprietário ou titular de direito real onerando a aeronave. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 46 12 mar 2011 Convenção relativa ao reconhecimento internacional dos direitos so- bre aeronave (Genebra, 1948). Essa Convenção assegurao reconhecimento do direito de proprie- dade sobre aeronaves, o direito de utilizar uma aeronave sob contrato de arrendamento com prazo mínimo de seis meses e o direito decorrente do crédito hipotecário sobre aeronave. Convenção sobre infrações e certos outros atos praticados a bordo de aeronave (Tóquio, 1963), Convenção para repressão ao apoderamento ilícito de aeronaves (Haya, 1970), Convenção para repressão aos atos ilícitos contra a segurança da aviação civil (Montreal, 1971) e o Protocolo Suple- mentar dessa mesma Convenção objetivando a repressão de atos ilegais de violência nos aeroportos que servem a aviação civil internacional (Montreal, 1988). Esse conjunto de Convenções internacionais foi elaborado no intuito de assegurar proteção à aviação civil contra diversas modalidades de ata- ques e interferências ilícitas em vôo e nas instalações no solo. Procedimentos para a entrada no Brasil e o sobrevôo do seu terri- tório por aeronave civil estrangeira, que não esteja em serviço aéreo inter- nacional regular - Decreto 97.464, de 20.01.89 - Diário Oficial da União de 23.01.89. Transporte aéreo não remunerado. O proprietário ou comandante deverá comunicar o local de pouso ou sobrevôo a ANAC com antecedência mínima de 24 horas, informando todos os detalhes pertinentes ao vôo em causa. Em casos excepcionais e a seu critério, a ANAC aceitará a comuni- cação do vôo em prazo inferior a 24 horas. Toda aeronave para sobrevoar ou pousar no Brasil deverá ter segu- ro cobrindo possíveis danos a terceiro no solo. - Será considerada aeronave engajada em transporte aéreo não remu- nerado a que estiver realizando: - vôo para prestação de socorro e para busca e salvamento de aerona- ve, embarcação e pessoas a bordo; - viagem de turismo ou negócio, quando o proprietário for pessoa física e nela viajar; - viagem de diretor ou representante de sociedade ou firma, quando a aeronave ou operador da aeronave; - outros vôos comprovadamente não remunerados. A Seção de Aviação Civil - SAC - do aeroporto de entrada aceitará a declaração escrita do comandante como prova suficiente de tratar-se de vôo não remunerado, salvo evidência em contrário. Transporte aéreo remunerado não regular: depende sempre de au- torização prévia do A.N.A.C a qual deve ser solicitada com 15 dias de antece- dência e atender às exigências regulamentares. Disposições gerais: toda aeronave procedente do exterior com des- tino ao Brasil ou em trânsito fará o primeiro pouso e a última decolagem de aeroporto internacional, a fim de atender as exigências de saúde pública, polícia e alfândega. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 47 12 mar 2011 11. ORGANIZAÇÃO DA AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL - OACI Atualmente em horas é possível a realização de uma viagem para qualquer parte do mundo. O herói dessa façanha é o avião com sua capa- cidade de voar com velocidade equiparada a do som e de sobrepujar todos os obstáculos terrestres, tais como montanhas, oceanos, rios e desertos. En- tretanto, para tornar isso possível é necessário o apoio em terra de milhares de técnicos como os controladores de vôo, meteorologistas, especialistas em comunicações, mecânicos, despachantes de vôo, etc. A padronização internacional, acordos entre países nos campos legais, técnicos e econômi- cos são absolutamente necessários; em todas as circunstâncias deve ser assegurada a segurança como objetivo principal. Deve ser afastada a possi- bilidade de erro por desconhecimento ou interpretação errônea das regras e regulamentos. Para esse fim as nações estabeleceram a Organização da Aviação Civil Internacional OACI - para servir de meio para se conseguir a compreen- são e os acordos internacionais. Essa organização foi criada em 1944 com a assinatura da Convenção da Aviação Civil Internacional - chamada de Con- venção de Chicago - e em 1947 tornou-se uma Agência da Organização das Nações Unidas - O.N.U. - com sede em Montreal e escritórios regionais em Bangkok, Cairo, Dakar, Lima, México e Paris. A principal atividade da OACI é promover a padronização interna- cional das práticas e recomendações a serem observadas pelos países nos procedimentos técnicos da aviação civil, na qualificação e habilitação do pes- soal navegante e de terra, nas regras de circulação no espaço aéreo, meteo- rologia, mapas aeronáuticos, unidades de medidas, operação de aeronaves, nacionalidade e registro de aeronaves, certificados de navegabilidade, comu- nicações aeronáuticas, tráfego aéreo, busca de salvamento, investigação e prevenção de acidentes, ruído e segurança. Tendo em vista certos aspectos e características, o mundo foi divi- dido em 09 regiões para fins de planos e facilidades de navegação. Dessa forma, levando em conta considerações de ordem técnica, econômica e ou- tras, para cada região existe um plano que possibilita a operação da aviação civil internacional dentro dos padrões de segurança, economia e eficiência desejados. A totalidade dos países membros da OACI compõe sua Assembléia Geral, que é o órgão máximo; a seguir funciona um Conselho composto de 33 países membros da Assembléia Geral e por ela eleitos, levando em consi- deração critérios da representação geográfica, grandes transportadores aé- reos, econômicos e outros. O Conselho tem um Presidente eleito pelo próprio Conselho. Subordinados ao Conselho funcionam a Comissão de Navegação Aérea, o Comitê de Transporte Aéreo, o Comitê Legal, o Comitê de Apoio e Serviços à Navegação Aérea, o Comitê de Finanças e o Comitê de Interferên- cia Ilegal na Aviação Civil. 12. INTERNATIONAL AIR TRANSPORT ASSOCIATION – IATA Trata-se de uma associação não governamental - ao contrário da OACI que é uma organização governamental - de direito privado “sui generis” da qual participam empresas de transporte aéreo internacional ou doméstico, Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 48 12 mar 2011 regular ou não regular, sendo que muitas delas são empresas cuja proprieda- de ou maioria do capital votante pertence ao Estado onde as mesmas estão sediadas, significando uma participação indireta mas efetiva de Governos em uma associação de direito privado. Entre os seus objetivos principais cons- tam os de prover transporte aéreo com segurança, eficiência e economia. ANEXO I CÓDIGO BRASILEIRO DE AERONÁUTICA CAPÍTULO III Das Infrações Art. 299. Será aplicada multa de (vetado) ate 1.000 (mil) valores de refe- rência, ou de suspensão ou cassação de quaisquer certificados de matrícula, habilitação, concessão, autorização, permissão ou homologação expedidos segundo as regras deste Código, nos seguintes casos: I - procedimento ou prática, no exercício das funções, que revelem falta de idoneidade profissional para o exercício das prerrogativas dos certificados de habilitação técnica; II - execução de serviços aéreos de forma a comprometer a ordem ou a se- gurança pública, ou com violação das normas de segurança dos transportes; III - cessão ou transferência da concessão, autorização ou permissão, sem licença da autoridade aeronáutica; IV - transferência, direta ou indireta, da direção ou da execução dos serviços aéreos concedidos ou autorizados; V - fornecimento de dados, informações ou estatísticas inexatas ou adulte- radas; VI - recusa de exibição de livros, documentos contábeis, informações ou es- tatísticas aos agentes da fiscalização; VII - prática reiterada de infrações graves; VIII - atraso no pagamento de tarifas aeroportuárias além do prazo estabele- cido pela autoridade aeronáutica; IX - atraso no pagamento de preços específicos pela utilizaçãode áreas ae- roportuárias, fora do prazo estabelecido no respectivo instrumento. Art. 300. A cassação dependerá de inquérito administrativo no curso do qual será assegurada defesa ao infrator. Art. 301. A suspensão poderá ser por prazo até 180 (cento e oitenta) dias, prorrogáveis por igual período. Art. 302. A multa será aplicada pela prática das seguintes infrações: I - infrações referentes ao uso das aeronaves: a) utilizar ou empregar aeronave sem matrícula; b) utilizar ou empregar aeronave com falsas marcas de nacionalidade ou de matrícula, ou sem que elas correspondam ao que consta do Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 49 12 mar 2011 Registro Aeronáutico Brasileiro - RAB; c) utilizar ou empregar aeronave em desacordo com as prescrições dos respectivos certificados ou com estes vencidos; d) utilizar ou empregar aeronave sem os documentos exigidos ou sem que estes estejam em vigor; e) utilizar ou empregar aeronave em serviço especializado, sem a ne- cessária homologação do órgão competente; f) utilizar ou empregar aeronave na execução de atividade diferente daquela para a qual se achar licenciado; g) utilizar ou empregar aeronave com inobservância das normas de tráfego aéreo, emanadas da autoridade aeronáutica; h) introduzir aeronave no País, ou utilizá-la sem autorização de sobre- vôo; i) manter aeronave estrangeira em Território Nacional sem autorização ou sem que esta haja sido revalidada; j) alienar ou transferir, sem autorização, aeronave estrangeira que se encontre no País em caráter transitório, ressalvados os casos de execução judicial ou de medida cautelar; k) transportar, ciente do conteúdo real, carga ou material perigoso ou proibido, ou em desacordo com as normas que regulam o trânsito de materiais sujeitos a restrições; l) lançar objetos ou substâncias sem licença da autoridade aeronáuti- ca, salvo caso de alijamento; m) trasladar aeronave sem licença; n) recuperar ou reconstruir aeronave acidentada, sem a liberação do órgão competente; o) realizar vôo com peso de decolagem ou número de passageiros acima dos máximos estabelecidos; p) realizar vôo com equipamento para levantamento aerofotogramétri- co, sem autorização do órgão competente; q) transportar passageiro em lugar inadequado da aeronave; r) realizar vôo sem o equipamento de sobrevivência exigido; s) realizar vôo por instrumentos com aeronave não homologada para esse tipo de operação; t) realizar vôo por instrumentos com tripulação inabilitada ou incom- pleta; u) realizar vôo solo para treinamento de navegação sendo aluno ainda não habilitado para tal; v) operar aeronave com plano de vôo visual, quando as condições meteorológicas estiverem abaixo dos mínimos previstos para esse tipo de operação; w) explorar sistematicamente serviços de táxi-aéreo fora das áreas autorizadas; x) operar radiofrequências não autorizadas, capazes de causar inter- ferência prejudicial ao serviço de telecomunicações aeronáuticas. II - infrações imputáveis a aeronautas e aeroviários ou operadores de aero- naves: a) preencher com dados inexatos documentos exigidos pela fiscaliza- ção; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 50 12 mar 2011 b) impedir ou dificultar a ação dos agentes públicos, devidamente cre- denciados, no exercício de missão oficial; c) pilotar aeronave sem portar os documentos de habilitação, os do- cumentos da aeronave ou os equipamentos de sobrevivência nas áreas exigidas; d) tripular aeronave com certificado de habilitação técnica ou de capa- cidade física vencidos, ou exercer a bordo função para a qual não esteja devidamente licenciado ou cuja licença esteja expirada; e) participar da composição de tripulação em desacordo com o que estabelece este Código e suas regulamentações; f) utilizar aeronave com tripulante estrangeiro ou permitir a este o exer- cício de qualquer função a bordo, em desacordo com este Código ou com suas regulamentações; g) desobedecer às determinações da autoridade do aeroporto ou pres- tar-lhe falsas informações; h) infringir as Condições Gerais de Transporte ou as instruções sobre tarifas; i) desobedecer aos regulamentos e normas de tráfego aéreo; j) inobservar os preceitos da regulamentação sobre o exercício da pro- fissão; k) inobservar as normas sobre assistência e salvamento; l) desobedecer às normas que regulam a entrada, a permanência e a saída de estrangeiro; m) infringir regras, normas ou cláusulas de Convenções ou atos inter- nacionais; n) infringir as normas e regulamentos que afetem a disciplina a bordo de aeronave ou a segurança de vôo; o) permitir, por ação ou omissão, o embarque de mercadorias sem despacho, de materiais sem licença, ou efetuar o despacho em de- sacordo com a licença, quando necessária; p) exceder, fora dos casos previstos em lei, os limites de horas de trabalho ou de vôo; q) operar a aeronave em estado de embriaguez; r) taxiar aeronave para decolagem, ingressando na pista sem observar o tráfego; s) retirar-se de aeronave com o motor ligado sem tripulante a bordo; t) operar aeronave deixando de manter fraseologia-padrão nas comu- nicações radiotelefônicas; u) ministrar instruções de vôo sem estar habilitado. III - infrações imputáveis à concessionária ou permissionária de serviços aé- reos: a) permitir a utilização de aeronave sem situação regular no Registro Aeronáutico Brasileiro - RAB, ou sem observância das restrições do certificado de navegabilidade; b) permitir a composição de tripulação por aeronauta sem habilitação ou que, habilitado, não esteja com a documentação regular; c) permitir o exercício, em aeronave ou em serviço de terra, de pessoal não devidamente licenciado ou com a licença vencida; d) firmar acordo com outra concessionária ou permissionária, ou com terceiros, para estabelecimento de conexão, consórcio pool ou con- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 51 12 mar 2011 solidação de serviços ou interesses, sem consentimento expresso da autoridade aeronáutica; e) não observar as normas e regulamentos relativos à manutenção e operação das aeronaves; f) explorar qualquer modalidade de serviço aéreo para a qual não este- ja devidamente autorizada; g) deixar de comprovar, quando exigida pela autoridade competente, a contratação dos seguros destinados a garantir sua responsabili- dade pelos eventuais danos a passageiros, tripulantes, bagagens e cargas, bem assim, no solo a terceiros; h) aceitar, para embarque, mercadorias sem licença das autoridades competentes ou em desacordo com a regulamentação que discipli- na o trânsito dessas mercadorias; i) ceder ou transferir ações ou partes de seu capital social, com direi- to a voto, sem consentimento expresso da autoridade aeronáutica, quando necessário (artigo 180); j) deixar de dar publicidade aos atos sociais de publicação obrigatória; k) deixar de recolher, na forma e nos prazos da regulamentação res- pectiva, as tarifas, taxas, preços públicos e contribuições a que es- tiver obrigada; l) recusar a exibição de livro, documento, ficha ou informação sobre seus serviços, quando solicitados pelos agentes da fiscalização ae- ronáutica; m) desrespeitar convenção ou ato internacional a que estiver obrigada; n) não observar, sem justa causa, os horários aprovados; o) infringir as normas que disciplinam o exercício da profissãode aero- nauta ou de aeroviário; p) deixar de transportar passageiro com bilhete marcado ou com re- serva confirmada ou, de qualquer forma, descumprir o contrato de transporte; q) infringir as tarifas aprovadas, prometer ou conceder, direta ou indi- retamente, desconto, abatimento, bonificação, utilidade ou qualquer vantagem aos usuários, em função da utilização de seus serviços de transporte; r) simular como feita, total ou parcialmente, no exterior, a compra de passagem vendida no País, a fim de burlar a aplicação da tarifa aprovada em moeda nacional; s) promover qualquer forma de publicidade que ofereça vantagem in- devida ao usuário ou que lhe forneça indicação falsa ou inexata acerca dos serviços, induzindo-o em erro quanto ao valor real da tarifa aprovada pela autoridade aeronáutica; t) efetuar troca de transporte por serviços ou utilidades, fora dos casos permitidos; u) infringir as Condições Gerais de Transporte, bem como as demais normas que dispõem sobre os serviços aéreos; v) deixar de informar à autoridade aeronáutica a ocorrência de aciden- te com aeronave de sua propriedade; w) deixar de apresentar nos prazos previstos o Resumo Geral dos re- sultados econômicos e estatísticos, o Balanço e a Demonstração de lucros e perdas; x) deixar de requerer dentro do prazo previsto a inscrição de atos exi- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 52 12 mar 2011 gidos pelo Registro Aeronáutico Brasileiro; y) deixar de apresentar, semestralmente, a relação de acionistas; z) deixar de apresentar, semestralmente, a relação de transferências. IV - infrações imputáveis a empresas de manutenção, reparação ou distribui- ção de aeronaves e seus componentes: a) inobservar instruções, normas ou requisitos estabelecidos pela au- toridade aeronáutica; b) inobservar termos e condições constantes dos certificados de ho- mologação e respectivos adendos; c) modificar aeronave ou componente, procedendo à alteração não prevista por órgão homologador; d) executar deficientemente serviço de manutenção ou de distribuição de componentes, de modo a comprometer a segurança do vôo; e) deixar de cumprir os contratos de manutenção ou inobservar os prazos assumidos para execução dos serviços de manutenção e distribuição de componentes; f) executar serviços de manutenção ou de reparação em desacordo com os manuais da aeronave, ou em aeronave acidentada, sem liberação do órgão competente; g) deixar de notificar ao órgão competente para homologação de pro- dutos aeronáuticos, dentro do prazo regulamentar, qualquer defeito ou mau funcionamento que tenha afetado a segurança de algum vôo em particular e que possa repetir-se em outras aeronaves. V - infrações imputáveis a fabricantes de aeronaves e de outros produtos aeronáuticos: a) inobservar prescrições e requisitos estabelecidos pela autoridade aeronáutica, destinados à homologação de produtos aeronáuticos; b) inobservar os termos e condições constantes dos respectivos certi- ficados de homologação; c) alterar projeto de tipo aprovado, da aeronave ou de outro produto aeronáutico, sem que a modificação tenha sido homologada pela autoridade aeronáutica; d) deixar de notificar ao órgão competente para homologação de pro- dutos aeronáuticos, dentro do prazo regulamentar, qualquer defeito ou mau funcionamento, acidente ou incidente de que, de qualquer modo, tenha ciência, desde que esse defeito ou mau funcionamento venha a afetar a segurança de vôo e possa repetir-se nas demais aeronaves ou produtos aeronáuticos cobertos pelo mesmo projeto de tipo aprovado; e) descumprir ou deixar de adotar, após a notificação a que se refere o número anterior e dentro do prazo estabelecido pelo órgão com- petente, as medidas de natureza corretiva ou sanadora de defeitos e mau funcionamento. VI - infrações imputáveis a pessoas naturais ou jurídicas não compreendidas nos grupos anteriores: a) executar ou utilizar serviços técnicos de manutenção, modificação ou reparos de aeronaves e de seus componentes, em oficina não homologada; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 53 12 mar 2011 b) executar serviços de recuperação ou reconstrução em aeronave acidentada, sem liberação do órgão competente; c) executar serviços de manutenção ou de reparação de aeronave e de seus componentes, sem autorização do órgão competente; d) utilizar-se de aeronave sem dispor de habilitação para sua pilota- gem; e) executar qualquer modalidade de serviço aéreo sem estar devida- mente autorizado; f) construir campo de pouso sem licença, utilizar campo de pouso sem condições regulamentares de uso, ou deixar de promover o registro de campo de pouso; g) implantar ou explorar edificação ou qualquer empreendimento em área sujeita a restrições especiais, com inobservância destas; h) prometer ou conceder, direta ou indiretamente, qualquer modalida- de de desconto, prêmio, bonificação, utilidade ou vantagem aos ad- quirentes de bilhete de passagem ou frete aéreo; i) promover publicidade de serviço aéreo em desacordo com os regu- lamentos aeronáuticos, ou com promessa ou artifício que induza o público em erro quanto às reais condições do transporte e de seu preço; j) explorar serviços aéreos sem concessão ou autorização; k) vender aeronave de sua propriedade, sem a devida comunicação ao Registro Aeronáutico Brasileiro - RAB, ou deixar de atualizar, no RAB, a propriedade de aeronave adquirida; l) instalar ou manter em funcionamento escola ou curso de aviação sem autorização da autoridade aeronáutica; m) deixar o proprietário ou operador de aeronave de recolher, na forma e nos prazos da respectiva regulamentação, as tarifas, taxas, pre- ços públicos ou contribuições a que estiver obrigado. ANEXO II RBHA 61 Subparte J – Habilitação de Instrutor de Vôo 61.181 - Aplicabilidade Esta subparte estabelece os requisitos a serem atendidos para a concessão da habilitação técnica de instrutor de vôo relativa às licenças de piloto, assim como as prerrogativas e condições para desempenho dessa função. 61.183 - Requisitos para concessão da habilitação técnica de instrutor de vôo. Geral (a) Pré-requisitos. São determinados em conformidade com os pré- requi- sitos estabelecidos para a licença na qual será averbada a habilitação. (b) Conhecimentos. O solicitante deve ter: (1) demonstrado que possui os conhecimentos requeridos para a con- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 54 12 mar 2011 cessão de uma licença de piloto comercial, conforme estabelecido no parágrafo 61.93 (b) deste regulamento. No caso de planadores e ba- lões livres, tais conhecimentos devem ser adaptados à categoria de aeronave envolvida, ou seja, por exemplo: (i) não se aplica o parágrafo 61.93 (b)(9) no que diz respeito às operações IFR; (ii) não se aplicam os parágrafos 61.93(b)(2)(i) e (ii), no que se refere a grupo moto propulsor, às categorias balão livre e planador não motorizado; (iii) para a categoria balão livre devem ser conhecidas as proprie- dades físicas e as aplicações práticas dos gases utilizados em ba- lões (inclusive ar quente); etc. (2) Realizado com aproveitamento um curso específico de instrutor de vôo, homologado pela ANAC, para a categoria de aeronave correspondente à li- cença na qual será averbada a habilitação, abrangendo no mínimo os seguin- tes aspectos: (i) técnicas para ministrarinstrução; (ii) avaliação do desempenho dos alunos; (iii) processo de aprendizado; (iv) elementos para o ensino eficaz; (v) filosofias de treinamento; (vi) desenvolvimento de programas de treinamento; (vii) planejamento de instrução; (viii) técnicas de instrução; (ix) utilização de ajudas de instrução; (x) análise e correção de erros dos alunos; (xi) desempenho humano e limitações relevantes da instrução de vôo; (xii) riscos envolvidos em simulação de falhas e mal funcionamento de sistemas em aeronaves. (3) os cursos específicos das empresas de transporte aéreo regular serão organizados pelas mesmas e submetidos à ANAC para homologação. (Port. 127/DGAC, 13/02/06; DOU 33, 15/02/06) 61.185 - Requisitos para concessão da habilitação técnica de instrutor de vôo. (a) Experiência para as categorias avião e helicóptero. O solicitante deve possuir a experiência requerida para a concessão de uma licença de pilo- to comercial apropriada à categoria de aeronaves correspondente à licen- ça na qual será averbada a habilitação de instrutor de vôo, exceto para a habilitação de instrutor de vôo por instrumentos, quando, estão, deve comprovar, adicionalmente, possuir experiência mínima de 50 horas de vôo IFR real em comando. (b) Experiência para a categoria planador. (1) O solicitante deve ter realizado, no mínimo: RBHA 61 (i) 50 horas de vôo em planador, das quais pelo menos 40 horas em vôo solo; (ii) 2 horas contínuas de vôo em um único vôo solo. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 55 12 mar 2011 (2) O solicitante pode, ainda, atender ao requisito de experiência nas seguintes condições: (i) se for detentor de uma licença de piloto comercial de avião, o número de horas para o primeiro requisito estabelecido no pará- grafo (e)(1) desta seção pode ser reduzida à metade; e (ii) se for detentor de uma licença de piloto privado de avião, po- dem ser consideras até 15 horas devôo em avião para a contagem do tempo de vôo previsto em (b)(1)(i) desta seção. (c) Cancelado (d) Experiência para a categoria balão livre. O solicitante deve ter realiza- do no mínimo 50 horas de vôo em pelo menos 40 ascensões. (Port 1424/DGAC, 14/10/02,; DOU 202, 18/10/02) 61.187 - Requisitos para concessão da habilitação técnica de instrutor de vôo. Instrução de vôo, perícia e aptidão psicofísica. (a) Instrução de Vôo. O solicitante deve, sob a supervisão de um instrutor de vôo habilitado, ter: (1) recebido instrução em vôo sobre técnicas de instrução, incluindo demonstração, instrução prática de vôo, reconhecimento e correção de erros normais dos alunos pilotos; (2) praticado técnicas de instrução em todas as manobras e procedi- mentos de vôo previstos para o nível de habilitação do solicitante e aplicáveis à categoria de aeronave para a qual é solicitada a habili- tação. (b) Perícia. O solicitante deve ter demonstrado, em aeronave da categoria para a qual é solicitada a habilitação, a habilidade para ministrar instrução nas áreas correspondentes ao grau de perícia exigido para as demais ha- bilitações técnicas que possuir e nas quais pretende ministrar instrução, abrangendo “briefing”, “debriefing” e instrução teórica apropriada. (c) Aptidão psicofísica. O solicitante deve ser detentor de um certificado de capacidade física, válido, da classe correspondente à licença na qual será averbada a habilitação de instrutor de vôo e sem restrições ao vôo solo. 61.189 - Prerrogativas do detentor da habilitação de instrutor de vôo (a) Observado o cumprimento dos preceitos estabelecidos neste regula- mento e as condições do parágrafo(b) desta seção, as prerrogativas do detentor de uma habilitação de instrutor de vôo são: (1)supervisionar vôos solo de alunos pilotos; e (2) ministrar instrução de vôo para a concessão das licenças de piloto privado, comercial, de linha aérea e das habilitações de classe, de vôo por instrumentos e de instrutor de vôo. (b) Para poder exercer as prerrogativas estabelecidas pelo parágrafo (a) desta seção, um instrutor de vôo deve: (1) ser detentor de licença de pilotagem de graduação igual ou supe- rior à licença para a qual a instrução estiver sendo ministrada; (2) ser detentor das habilitações para as quais a instrução estiver sen- do ministrada; e (3) ser habilitado para agir como piloto em comando da aeronave sen- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 56 12 mar 2011 do usada para a instrução. (c) As empresas de transporte aéreo público, conforme previsto em 61.5(i) (3), podem organizar seus quadros de instrutores, em conformidade com o preenchimento dos requisitos previstos para a qualificação, sendo prerrogati- va da ANAC a qualificação e a revalidação da habilitação técnica de instrutor de vôo. 61.191 - Revalidação da habilitação de instrutor de vôo O detentor de uma habilitação de instrutor de vôo pode solicitar a revalidação de sua habilitação, após decorrido o período de validade estabelecido na se- ção 61.23 deste regulamento, se atender aos seguintes requisitos: RBHA 61 (a) conhecimentos. O solicitante deve ter demonstrado que mantém seus conhecimentos atualizados em relação aos requisitos estabelecidos no parágrafo 61.183 (b) desta subparte; e (b) perícia. O solicitante deve ter demonstrado que mantém sua profi- ciência técnica em relação aos requisitos estabelecidos no parágrafo 61.187(b) desta subparte. (c) aptidão psicofísica. O solicitante deve conservar as condições físicas estabelecidas em 61.187(c). FONTES: 1) Comentários ao Código Brasileiro de Aeronáutica – José da Silva Pacheco – 4ª. Ed – Editora Forense. 2) Dr. Hélio de Castro Farias - trabalho sobre o tema; 3) Lei 7.565/86 CBAER – www.presidencia.gov.br; 4) www.wikipédia.com.; 5) Regulamentos de tráfego aéreo – Prof.Com. Ariovaldo Machado Cardoso - 7ª edição; 6) Responsabilidade Civil - Rosa Maria De Andrade Nery -Eeditora dos Tribunais; 7) Direito Penal Simplificado – Fernando Capez – Editora Saraiva; 8) Manual de Direito Internacional Privado - Emerson Penha Malheiro – Editora Atlas; 9) RBHA 61 – www.anac.gov.br Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 57 12 mar 2011 Capítulo 04 FISIOLOGIA DE VOO I - INTRODUÇÃO O ser humano, como se sabe, não foi criado para voar ou adentrar outros ambientes como o fundo do mar, mas a sua criatividade e raciocínio fizeram com que aparatos fossem criados para oferecer tal suporte. Se estes suportes falharem, com certeza, o homem ficará a mercê da própria sorte. Fisiologicamente o vôo provoca várias alterações no organismo, de- vido às mudanças, como por exemplo, da pressão atmosférica em relação à altitude, variação da umidade, da luminosidade, das acelerações e desacele- rações, entre outras. O objetivo deste capítulo é mostrar o quão importante é para os aeronautas o conhecimento dos sintomas e sinais das várias patologias que acometem o homem nesse meio e mostrar as formas de profilaxia para, as- sim, identificar e evitar os acidentes. Não esqueça: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o indivíduo é considerado saudável quando apresenta o bem estar físico, mental e social. Para que isto ocorra, existem órgãos competentes da área da saúde do aviador que terão como função identificar o desequilíbrio em um desses aspectos, ou não. O importante é entender que o indivíduo é a parte principal desse sistema e que a sua saúde física e psíquicadeverá sempre estar em equilíbrio para participar de atividades aéreas. Patologias que acometem o indivíduo por oscilação da pressão at- mosférica são chamadas de Aerobaropatias. Estas podem ser: I - Cavitárias II - Plasmáticas II - AEROBAROPATIAS CAVITÁRIAS Existem em nosso organismo algumas cavidades em cujo interior observa-se a presença de gases atmosféricos que, por variação de pressão, se expandem produzindo dores e, até mesmo, ruptura dos tecidos circunvizi- nhos. Este fenômeno é chamado de AERODÍLATAÇÃO. As cavidades naturais são: 1 – SEIOS DA FACE – AEROSINUSOBAROPATIA OU BAROTRAUMA SINUNASAL Os seios da face são pequenas cavidades ósseas que servem como caixa de ressonância para ventilar, arejar, ventilar, etc. Elas são quatro, a saber: • Frontais • Maxilares • Etmoidal • Esfenoidal Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 58 12 mar 2011 O comprometimento de um ou mais seios da face, devido à diferen- ça de pressão, impede que ocorra a equalização. Isto ocorre porque os pe- quenos buraquinhos, que se comunicam com a parte externa, e chamados de óstios, encontram-se obstruídos, impedindo desta forma, a atividade normal da área. Ocorre em maior proporção nos seios frontais (dor sobre os olhos) e depois nos maxilares (dor abaixo dos olhos simulando dor de dente). A barosinusite pode ser: • Obstrutiva - Presença de carne esponjosa ou desvio de septo nasal. Corrigir o problema com processo cirúrgico antes do vôo; caso ocorra em vôo, subir e depois descer lentamente, com uma aeronave de pequena performance. • Não obstrutiva – Advém de processos infecciosos das vias aéreas superiores (IVAS) como gripes, resfriados, nasofaringites, rinites, ha- vendo o acúmulo de secreções nas cavidades. Tratamento profilático: • Corrigir estados inflamatórios e alérgicos antes do vôo. • Não voar gripado e nem resinado. Tratamento no processo: • Analgésicos • Antialérgicos • Descongestionantes nasofaríngeos • Antigripais (Evitar medicação que apresente como efeito colateral so- nolência. Ex.: Descon, Naldecon, Dimetap etc.) 2 - OUVIDO MÉDIO - AEROOTOBAROPATIA, AEROTITE, BAROTRAUMA DE OUVIDO MÉDIO Dentro da cavidade do Ouvido Médio encontramos o ar, este por sua vez se comunica com o exterior através da Trompa de Eustáquio ou Tuba Acústica, cuja parte distal localiza-se na nasofaringe. Esta parte da Trompa de Eustáquio apresenta as paredes colaba- das ou justapostas, motivo pelo qual a equalização nesta cavidade é mais di- fícil; por este motivo verifica-se que a saída de ar se torna facilitada, enquanto que a entrada de ar o Ouvido Médio se torna dificultada (Incidência maior de trauma no procedimento de descida da aeronave). Sintomas: • Dor de ouvido (otalgia) • Diminuição de acuidade auditiva (hipoacusia) • Zumbido • Náuseas Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 59 12 mar 2011 • Vômitos • Tonturas • Ruptura do tímpano, com presença de um líquido sero-sangüino- lento (o indivíduo sente alívio dos sintomas) Profilaxia: • Não voar resfriado ou gripado • Mascar chicletes • Bocejar ou deglutir • Descongestionante nasal (Arturgyl) • Manobras de Valsalva, que consiste em fechar as narinas e a boca, forçando a saída do ar fortemente (não recomendado em caso de gripe ou resfriado; o muco estará obstruindo a Tuba, ao forçar, au- mentará a pressão dentro do Ouvido Médio (O.M.) podendo romper a parte mais frágil que é o Tímpano. Obs.: Manobra realizada pelos mergulhadores. • É importante no procedimento de subida e descida, manter o indiví- duo acordado. Tratamento: • Descongestionante nasal • Manobras j á citadas • Não voar gripado ou resfriado Obs.: Não adianta aplicar gotas no ouvido. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 60 12 mar 2011 O ouvido médio está localizado, um de cada lado, nos ossos temporiais, e limita-se pela membrana do tímpano com o ouvido externo e pelas janelas oval e redonda, com o ouvido interno. 3 - CAVIDADES DENTÁRIAS - AERODONTOBAROPATIA Não se espera que o indivíduo, aeronauta ou não, apresente esta patologia, só ocorrerá se não mantiver uma visita regular ao dentista Porque Ocorre • Degeneração da polpa dentária (formação de gases) • Obturações mal ocluídas (permitem a entrada de ar) • Próteses dentárias Sintomas: • Dor bastante intensa Tratamento: Muito pouco poderá ser feito, o alívio vem com a abertura do dente, permitindo a saída do ar interior, não passa com analgésicos de uso comum. 4 - CAVIDADES DIGESTIVAS - AEROGASTROENTEROBAROPATIA Outra cavidade, no organismo, que contém ar é o aparelho diges- tivo, mas por possuir uma comunicação ampla com o exterior (boca e ânus) favorece a equalização. Esse ar advém de processos como deglutição de alimentos, inala- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 61 12 mar 2011 ção de fumaça, fala, fermentação com liberação de gás carbônico no estô- mago, também poderá ocorrer nas alças do intestino delgado e nos cólons do intestino grosso por processo oriundo da ação da flora intestinal sobre os alimentos (fermentativo e putrefativo). Sintomas: • Aerocolia - cólicas intensas • Aerogastria - dor na área gástrica • opressão toracica devidos.presença de meteorismo (maior acúmulo de gases) • Falta de ar • Gera “flatus” • Gera eructações (arroto) Prevenção: • Evitar bebidas gasosas • Evitar fadiga, tensão emocional • Tratar a alteração da flora intestinal • Evitar alimentação copiosa antes e durante o vôo • Evitar alimentos que formem gases como: feijão, cebola, repolho, pe- pino, massas e doces, melão etc. Tratamento: • “O melhor remédio será sempre a prevenção” • Mover-se na cadeira e andar (para obter melhor distribuição dos ga- ses no intestino). • Caso haja presença de gases gastrointestinais ou aerofagia devido à alimentação (Luftal) Na verdade, os processos provenientes das aerdilatações cessam quando descemos para níveis de altitude onde a pressão é tolerável e com- patível com a vida orgânica. Naturalmente numa cabine pressurizada temos redução dos efeitos danosos. III – AEROEMBOLISMO - AEROBAROVATIA PLASMÁTICA - DOENÇA DA DESCOMPRESSÃO. Causadas pelas atuações das oscilações da pressão atmosférica sobre os valores da pressão de nitrogênio, que se encontra dissolvido no plasma sangüíneo, a partir dos 30.000 pés de altitude, com aparecimento de perturbações que, em seu conjunto, se constituem no Aeroembolismo, cujo estudo interessa mais à aviação militar e acrobática, por estarem mais expos- tos ou então em uma despressurização. No ambiente sub-aquático é conhecido como mau dos mergulhadores. Em cabines pressurizadas este processo não ocorrerá, somente estará pre- sente se houver uma despressurização. O aeroembolismo nada mais é do que a formação de bolhas ou êmbolos de nitrogênio que se destacam na corrente sangüínea e nos teci- dos onde há grande concentração deste gás, a tendência é procurar saídas Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 62 12 mar 2011como, por exemplo, nos pulmões pelo ar expirado, pela pele etc. Em ordem freqüente temos a) Aparelho locomotor Conhecido como Bends, presença bolhas nas articulações, caracte- rística dores fracas no início e lancinantes depois b) Região Torácica Conhecido como chokes (pulmões, coração e grandes vasos) tem como característica dor intensa na região retroesternal, tosse sem catarro (não produtiva), hiperpnéia (respiração rápida e profunda), dispnéia, perda da consciência devido à hipóxia e hipocapnia podendo chegar ao óbito. Obs.:No caso em que haja a associação de mergulho e vôo deve-se obede- cer à seguinte condição: • Mergulhos que não exigem parada de descompressão para voltar à superfície, o mergulhador deve permanecer 12 horas no nível do mar. • Mergulho com parada de descompressão, permanência de 24 horas - ao nível do mar. c) Pele Conhecido como Creeps ou Itch tem como caracteristica reação alérgica com presença de irritação das terminações nervosas, vasodilatação e liberação de histamina, aparece decorrente a isso, formigamento, prurido intenso, placas róseas (urticária), sensação de calor ou de frio. d) Sistema Nervoso Central Conhecido como Staggers, tem como característica cefaléia intensa, distúrbios visuais, tontura, sensações parestésicas (dormência-formigamenta sensação de frio ou calor), paresias (perda da sensibilidade e da motricidade de uma parte do corpo ou região), paralisias, perda da coordenação motora, coma e morte - muitos dos sinais de comprometimento do S.N.C. são irrever- síveis. IV – HIPÓXIA Patologia que acomete o indivíduo nesse meio, não só pela variação da pressão atmosférica, mas sim pela variação da pressão parcial do oxigê- nio, que leva deficiência do mesmo (acometimento dos tecidos orgânicos). Classificação da hipóxias (de acordo dom os fatores atuantes na oxigenação) 1- HIPÓXIA HIPÓXICA, ANÓXICA OU HIPOBÁRICA É produzida por uma deficiência na oxigenação do sangue dos pul- mões, isto è, pelo ar respirado ou por perturbações na função pulmonar. Como ocorre: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 63 12 mar 2011 • Pela queda da pressão parcial de oxigênio em altitudes elevadas (hi- pobáricas) . • Nas obstruções das vias aéreas superiores (anóxica) • Nas patologias pulmonares como pneumonia, enfisema, tuberculose etc. (hipóxica) Tratamento: • Melhorar as condições respiratórias do paciente, remover as secre- ções acumuladas na boca e garganta e remover os corpos estranhos se houver obstrução das vias aéreas superiores. • Administrar 02, se estiver a vítima consciente; se inconsciente so- mente se houver cianose, interrompendo-se o oxigênio, assim que este sinal desaparecer. • Manter a vítima sentada ou semi-sentada (consciente). 2- HIPÓXIA ANÊMICA OU HIPÊMICA: É produzida pela deficiência no transporte de oxigênio pelo sangue. Ocorre nas anemias, hemorragias ou na intoxicação da hemoglobina por compostos pouco dissolúveis, como monóxido de carbono. Tratamento: • Tem importância os casos produzidos por intoxicação pelo monóxido de carbono, a única conduta a ser adotada é a administração de oxi- gênio sob pressão, através de máscara. • Pode ocorrer também pôr anemia hemorrágica aguda sendo funda- mental cessar o sangramento. • Em todos os casos é necessário a transfusão de sangüínea. 3- HIPÓXIA ESTAGNANTE OU ISQUÊMICA Quando há uma deficiência na circulação sanguínea, acarretando em um desgaste da quantidade de oxigênio antes da sua chegada aos teci- dos. E o que acontece nas patologias cardíacas Tratamento: Fazer o combate à causa do distúrbio que é um problema cardiocir- culatório. Não há necessidade de administração de oxigênio. 4- HIPÓXIA HISTOTÓXICA Quando o oxigênio chega aos tecidos, porém, não pode ser apro- veitado pelos mesmos. Ocorre no envenenamento pelo cianeto, arsênico, estricnina, nicotina, fumo, cocaína e uso indiscriminado de álcool. Tratamento: Este tipo de paciente necessita de tratamento específico (antídoto). Deve ser encaminhado para hospitalização, urgente. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 64 12 mar 2011 5- FORMAS COMBINADAS Quando ocorrem dois ou mais fatores acima. É o que ocorre em uma cardiopatia associada a uma pneumonia ou anemia etc. Tratamento: Fazer o tratamento de cada um dos tipos de hipóxia que estiverem atuando. TOLERÂNCIA À HIPÓXIA Pode-se considerar que os sintomas associados à hipóxia variam com o indivíduo. Pessoas que ainda não tenham sido expostas a grandes alti- tudes, mostrarão sinais de fadiga, insônia, dor de cabeça, irritabilidade e uma gradual imprecisão, em um prolongado vôo em altitudes de 8.000 a 10.000 pés. Quando se voa em altitudes acima de 10.000 pés, torna-se difícil para o corpo se manter disposto e em condições e, não somente é de boa prática como também necessário, o uso de oxigênio acima dessa altitude. Existem outros fatores que podem destruir parcialmente a tolerância que o corpo tem à deficiência de oxigênio mesmo em se tratando de pilotos. Esse fatores tendem em quaisquer condições, impedir a distribuição do oxi- gênio pelo corpo. Camadas de fumaça em quantidade, mantêm altas concentrações de bióxido de carbono no sangue, tornando, mais difícil o devido fornecimen- to de oxigênio. A atividade física pode reduzir a tolerância até 50%, devido à demanda tornar-se maior. Outros fatores que reduzem a tolerância são a inadequada e exces- siva ingestão de alimentos, o uso de drogas ou qualquer tipo de desordem emocional. SINTOMAS DE HIPÓXIA ALTITUDE TUL SINTOMAS 35 a 40 mil pés 15 a 45 segundos Inconsciência imediata (com pequeno ou nenhum aviso) 20 a 25 mil pés 5 minutos Os mesmos sintomas da Zona 15 a 18, apenas mais pronunciado, com eventual inconsciência 15 a 18 mil pés 1/2 hora Perturbações no raciocínio e visão, eufo- ria, excesso de confiança, desprezo pelas percepções sensoriais, má coordenação, sonolência, tontura, mudança de persona- lidade como no etilismo, médio cianose. 10 a 14 mil pés Horas Cefaléia, apatia, fadiga, etc. Obs.: Faz-se necessário a utilização da máscara de oxigênio ou cabine pres- surizada a partir de 10.000 pés. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 65 12 mar 2011 • 10.000 pés - máscaras de fluxo contínuo (em aeronaves comerciais é do tipo oronasal, o ar ambiente se mistura com o oxigênio inalado). • Acima de 24.000 pés (cabine não pressurizada) – máscara – diluição – demanda. Ex.: 34.000 pés oxigênio – chega a 100% • 35.000 pés – oxigênio chega a 100% sob pressão. A máscara só é utilizada em cabines não pressurizada até 42.000 pés a partir dessa altitude deve-se usar trajes pressurizados. V- HIPERVENTILACÃO OU HIPERPNÉIA Definição Freqüência respiratória aumentada e profunda. Quando ocorre uma eliminação excessiva do dióxido de carbono (C02) do corpo, dá-se o nome de hipocapnia ou hipocarbia. A hiperventilação pode ocorrer devido a/ao: • Medo • Ansiedade • Excitacão etc Sintomas: Delírio, sono formigamento das extremidades, tontura, descoorde- nação, espasmos musculares, até crises convulsivas e a perda da consciên- cia. Condutas: • Respirar normalmente, com tranqüilidade. Não sendo possível, reali- ze uma apnéia (para momentânea da respiração). • Respirar dentro de um saco de papel ou de plástico (aumenta o gás carbônico no sangue rapidamente). Manual Teórico - Instrutorde Voo de Avião - INVA 66 12 mar 2011 VI – VISÃO É o mais importante de todos na prevenção de acidentes. Ele faz o contato entre o mundo externo e o cérebro. Quando um indivíduo ‘vê’ situa- ções anormais, procura corrigi-las. O olho parece uma câmera fotográfica. a) PUPILA O “preto do olho”. Uma espécie de diafragma que controla a abertura e com isso, a luminosidade que entra no olho. b) ÍRIS O “colorido do olho”. É ela que controla o tamanho da pupila. c) CRISTALINO A “lente do olho”. Responsável por focalizar e projetar a imagem na reti- na. d) RETINA O “filme do olho”. E responsável por captar a imagem. A retina forra todo o olho por dentro, desde porções laterais até o fundo. Nela existem dois tipos de células (cones e bastonetes) que transmitem ao cérebro, através do nervo óptico, as imagens recebidas. e) CONES Concentram-se na fóvea (que é central). Captam os finos detalhes e são sen- síveis às cores. Atuam com metade da luz da lua cheia em céu limpo e claro. Têm maior função de dia. f) BASTONETES São mais periféricos. Têm grande sensibilidade à luz, mas não captam cores ou detalhes. Atuam com a luz das estrelas. Têm maior função à noite. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 67 12 mar 2011 1- VISÃO NOTURNA Conforme o exposto, à noite há um prejuízo da visão central e fun- ção normal da visão periférica. 2 - FIXAÇÃO EXCÊNTRICA Uma pessoa tentando ver com iluminação mais fraca do que o luar, tem que depender inteiramente dos bastonetes. Para utilizar os bastonetes em tais situações, o indivíduo deve olhar ligeiramente para um lado, para cima ou para baixo do objeto que deseja ver (aproximadamente 10°), ou seja, deve empregar um olhar vago evitando fixar os olhos. Isto é chamado de fixação excêntrica (fixar a imagem fora do centro da retina). Figura 1: A mancha cega central presente em luz muito fraca torna impossível ver a aeronave olhando-se diretamente para ela Figura 2: A aeronave pode ser vista com a mesma quantidade de luz, olhando-a ligeiramente “fora de centro” pois assim ela não é escurecida pela área central cega. 3 - ADAPTAÇÃO AO ESCURO Os Bastonetes adaptam-se lentamente à baixa luminosidade. Levam 30 minutos para atingir sua sensibilidade máxima, porém, se subme- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 68 12 mar 2011 tidos a 1 ou 2 segundos de luz brilhante, eles perdem essa adaptação. Por isso, deve-se evitar olhar luzes brilhantes à noite. Logo, é importante: • conhecer o avião perfeitamente, para não necessitar luz nenhuma para localizar os controles . • memorizar a rota para evitar ter que olhar sempre para o mapa (mas na dúvida, olhe!) • ter o painel iluminado com o mínimo compatível com as normas de segurança. • se tiver que usar luz, esta deve ser a mais fraca possível e durante o menor período de tempo necessário. Observação: A adaptação ao escuro é um processo independente para cada olho. Por isso se tiver que usar luz forte, mantenha um olho fecha- do para ele permanecer adaptado. A luz azul é mais facilmente vista pelos bastonetes do que qualquer outra cor. Ela não é vista como azul (bastonete não percebe cores), mas sim- plesmente uma luz sem cor. Para se enxergar no escuro, depende-se de vitamina A que é en- contrada em ovos, manteiga, fígado, pêssego, cenoura (beta - caroteno), abóbora, espinafre, ervilhas e todas as espécies de verduras. Ela acelera a formação de uma substância química (a rodopsina) que atua nos bastonetes. O pico de formação dessa substância é após 30 minutos. Quem tem a quan- tidade certa de vitamina A no organismo, adapta-se mais rápido ao escuro (começa a enxergar no escuro mais cedo) apesar da sensibilidade máxima só ser após 30 minutos. Ex.: ao sair de local claro e entrar em um escuro, quem está bem de vitamina A adapta-se mais rápido que alguém com falta dessa vitamina. A falta de vitamina A causa a cegueira noturna. Não adianta mais vitamina A que o necessário, pois o excesso dela não ajuda a melhorar a visão noturna. Também não há necessidade de tomar cápsulas de vitamina A se a alimentação for normal, pois como já se viu ela existe, em quantidade suficiente, em muitos alimentos. 4 - LENTES VERMELHAS Como foi comentado, a luz azul é a que mais estimula os basto- netes, apesar de não se perceber sua cor. A luz azul está num extremo do espectro luminoso, cuja seqüência é: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 69 12 mar 2011 Se o azul é o mais ‘percebido’, a cor do outro extremo é a menos percebida pelos bastonetes deixando-os em repouso. Por isso, se antes de um vôo noturno for feita uma adaptação de 30 minutos ao escuro (num am- biente escuro ou tirando um cochilo ou usando óculos de lentes vermelhas para ir até o avião, manter-se-á os bastonetes adaptados, ou seja, com sua sensibilidade máxima. Ou mesmo se usar lentes vermelhas 30 minutos antes do vôo (elas vão deixar os bastonetes adaptados. Por esse motivo é que muitos aviões têm luz vermelha na cabine. A desvantagem é que essa luz torna as marcas vermelhas nos mapas, invisí- veis. A luz violeta é até mais percebida que a azul, mas ela provoca um fenômeno de fluorescência no cristalino, dando ao piloto a sensação de estar voando num ‘mar de névoa’. Pode-se evitar isso reduzindo a sua intensidade. Pelo exposto acima, as luzes mais percebidas pelos bastonetes são as de menor comprimento de onda e, as menos percebidas são as de maior comprimento de onda. 5 - EFEITOS DE OFUSCAMENTO Ao voar acima de nuvens pode ocorrer o ofuscamento, pois o con- torno da face não é formado de modo a proteger os olhos da luminosidade vinda de baixo para cima. Tem-se que considerar dois aspectos: • a quantidade de luz que incide sobre uma superfície • a quantidade de luz refletida por essa superfície ÍNDICE DE REFLEXÃO: • Neve: 85% a 90% • Areia Clara, Recifes e Nuvens: 75% a 80% • Campinas e Florestas: 10% Existem alguns filtros para atenuar o ofuscamento: • Coloridos - ex.: lente verde (absorve as outras cores e deixa passar o verde) • Neutros - absorvem igual quantidade de todas as cores, por isso são cinzas. Escurecem a cena sem alterar a sua cor. • Refletores - são quase neutros, pois refletem uma porcentagem qua- se igual de todas as cores. • Polarizantes - deixam passar a luz que vibra numa só direção e ab- sorve as que vibram noutras direções. Deixam passar cerca de 80% da luz, por isso são normalmente combinados com outros filtros. O ofuscamento é causado pela diferença de luminosidade entre as várias partes do campo visual. O olho fica ofuscado por um objeto mais lumi- noso porque está adaptado para uma parte mais escura do campo visual (ex.: painel). O contraste painel/claridade (ex.:nuvens) causa o ofuscamento. Os Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 70 12 mar 2011 filtros coloridos, neutros e refletores reduzem a luminosidade de todos os objetos na mesma proporção e não há modificação na relação entre as áreas mais luminosas e as maisescuras, ou seja, não evita o ofuscamento. O filtro polarizante consegue essa redução, pois provoca maior redução da área mais luminosa, ‘quebrando’ aquela relação que provoca o ofuscamento. Outra lente de ótima utilidade em aviação é a lente neutra, pois re- duz a luminosidade sem alterar a cor dos objetos, mapas, luzes, etc. Porem sua desvantagem é que não previnem o ofuscamento. 6 - ACUIDADE VISUAL Deve ser normal ou melhor que o normal, devido à crescente veloci- dade de novas aeronaves. A acuidade é medida pela seguinte relação: Obs: A acuidade visual é item muito importante ao piloto e este pode até desclassificá-lo para o vôo. Fórmula para calculo de Acuidade Visual: A acuidade visual normal é considerada como sendo 20/20. Fatores que podem Influenciar a Acuidade Visual A acuidade visual deve ser medida em cada olho separadamente, para longe e para perto, sendo que diversos fatores podem influenciar total ou temporariamente, tais como: • vícios de retração - miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbio- pia; • tamanho irregular da pupila - miose, midríase ou anisocoria; • perturbação dos meios de transparência - opacidade corneana cris- taliniana ou vítrea; • lesões ou afecções acometendo a retina ou corioretinites, atrofia óp- tica, hemorragia retiniana; • iluminação exagerada. A acuidade visual sofre alteração também com a altura. Até 2.000 m a acuidade visual aumen¬ta permitindo a apreciação detalhada do terreno, pelo menos de um terço, devido à congestão de todos os órgãos da cabeça e em particular, da coróide e da retina. Para alturas superiores a 4.500 m, a acuidade visual tende a se tomar cada vez mais deficiente, devido à carência de oxigênio. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 71 12 mar 2011 A acuidade visual é a função ocular mais importante testada no pes- soal aeronavegante. Estu¬dos efetuados na 2a Guerra Mundial, na Alemanha, demonstraram que pilotos com 20/15 de visão sobreviviam mais do que aqueles com 20/20. Da mesma forma, os métodos de vôo das forças aliadas relataram que pilotos com 20/15 tinham melhor performance que pilo- tos com 20/20. Quanto maior a acuidade visual, mais longe podem ser reconhecidos os objetos. Na velocida¬de das aeronaves a jato, um ou dois segundos podem significar a diferença entre a vida e a morte. VII – AUDIÇÃO 1- OUVIDO O ouvido humano é dividido em • Externo - capta e direciona o som. • Médio - transmite as vibrações causadas pelo som no tímpano ao ouvido interno. • Interno - tem duas funções: - Auditiva - Vestibular - relacionada ao equilíbrio 2 - SOM Quando uma pessoa se submete a sons altos constantemente, pode sofrer perda ou diminuição da audição, definitiva ou temporária, dependendo da: • Suscetibilidade individual • Tempo de exposição • Intensidade do som A intensidade é medida em decibéis (dB) • Teste de jato e limiar da dor auditiva: 140 dB • Decolagem de jato a 150m e desconforto auditivo: 120 dB • Desconforto para falar inicia-se a: 100 dB • Só é possível falar gritando: 80 dB Limite de Tolerância ao Ruído Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 72 12 mar 2011 Para evitar as lesões auditivas (que podem desclassificar o indiví- duo para o vôo), deve-se proteger os ouvidos com: • Abafadores - tipo de fone-de-ouvido usado por pilotos. Têm melhor função para sons agudos (ex.: motor à reação). • Protetores intra-articulares ou “Ear-Plugs” -colocados dentro do ouvi- do externo. Chegam a atenuar 39 dB. Trabalhos recentes demonstram que: • Abaixo de 75 dB - não há trauma acústico. • 75 a 80 dB - dependendo do indivíduo, pode haver trauma acústico. • Acima de 85 dB - certamente haverá trauma se ultrapassar o • Limite de horas permitido. OBS: O nível máximo de ruído permitido próximo a aeroportos no Brasil e no mundo é de 105 dB. VIII - APARELHO VESTIBULAR O aparelho vestibular, ou labirinto, é uma parte do ouvido interno, consta de três camadas semicirculares e dos órgãos otolíticos (o sáculo e o utrículo). Ambos os ouvidos estão igualmente dotados, tendo cada um deles um conjunto de canais e órgãos otolíticos. 1 - CANAIS SEMICIRCULARES Em cada labirinto há três canais semicirculares que contém, no seu interior, um líquido (endolinfa). Situado de cada lado em ângulo plano e reto entre si, de modo que as acelerações angulares em qualquer plano espacial, possam ser captados pelos sistemas vestibulares. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 73 12 mar 2011 Quando uma aceleração é aplicada à cabeça, o fluído dentro dos canais semicirculares, no plano de rotação, retarda-se por causa de sua inércia, estimulando os receptores sensoriais, situados na base dos canais (cúpula), os quais enviam impulsos nervosos ao cérebro, indicando que o movimento angular está ocorrendo. Os canais semicirculares podem criar erros de percepção durante o vôo por várias razões. A primeira é que o limiar de sensibilidade dos canais, freqüentemente, está demasiado alto para perceber a aceleração quando ela é muito pequena (menos de 17seg2) ou de duração muito curta. A segunda é que os padrões de aceleração que se experimentam em terra, por exemplo, uma aceleração angular durante o vôo pode não ser seguida de imediato por uma desaceleração, como normalmente ocorre em terra, e os canais reagem erroneamente a tais padrões inusitados de movimento. Em poucas palavras, as características de reação do sistema de canais semicirculares são específicos para a operação terrestre, não o sendo para a atividade aérea. 2 - ÓRGÃOS OTOLÍTÍCOS O utrículo e o século reagem às acelerações lineares e à gravidade. Dentro de cada uma destas estruturas existe uma membrana otolítica que contém granulações de carbonato de cálcio chamadas otolitos e que repousa sobre uma zona da membrana otolítica. A gravidade e as forças resultantes das acelerações lineares atuam sobre a membrana otolítica deslocando-a e encurvando-a em conseqüência disto os filamentos das células acústicas ciliadas. Assim, os sinais sensoriais que eles produzem, são o resultado da força gravitacional da terra e qualquer aceleração linear aplicada. Quando os filamentos, ou cílios, se curvam, os impulsos nervosos percorrem o nervo vestibular, chegando até o cérebro, onde transmitem a posição relativa da membrana otolítica. Em conseqüência, em um ambiente da cabeça em relação à direção vertical verdadeira (direção da força da gra- vidade). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 74 12 mar 2011 Ao alterar-se brevemente o efeito da força da gravidade, como ocor- re ao se saltar ou cair, as membranas transitórias nas posições das membra- nas otolíticas, servem para indicar ao cérebro as mudanças na posição do corpo. Entretanto, no ar, há outras forças (forças de inércia concomitantes com as acelerações lineares) que se combinam com a força da gravidade e a direção da força resultante que atua sobre as membranas otolíticas, quase nunca é a direção vertical verdadeira. Na realidade, se o cérebro recebe as posições das membranas otolíticas e, baseado nelas, deduz em que direção está o ‘lado de baixo”, geralmente se enganará, emgrande parte das vezes, durante o vôo. 3 – PROPRIOCEPÇÃO Os sensores proprioceptivos mais importantes no equilíbrio são os que reagem à pressão. Encontram-se em muitas estruturas corporais, incluin- do a pele e as articulações. As sensações que produzem, ao serem estimula- dos, são as de pressão que se experimentam nas nádegas ao sentar-se, nos pés ao estar de pé ou nas espáduas ao deitar-se. Isso é conhecido como “sensação vertical” ou “sentido da vertical”, termo que se aplica também em aviação. Chama-se assim porque alguns pilotos, dos primórdios da aviação, acreditavam poder determinar em que direção estava o “lado de baixo”, analisando as partes do corpo que estavam submetidas à maior pressão. É o que os anglo-saxões chamam de “seaf- -of-the-pants sense” ou “senso dos fundilhos”. Naturalmente que estavam equivocados. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 75 12 mar 2011 IX - DESORIENTAÇÃO ESPACIAL (Ilusões Visuais e Ilusões Vestibulares) Como já foi visto em temas anteriores, o homem foi criado para viver sobre a terra, portanto fica à mercê de várias forças em locais como o am- biente aéreo e subaquático. Se estas forças existem e não se compreende como as mesmas funcionam, sem dúvida, fica-se dependendo da própria sorte. Para se evitar tais situações deve-se orientar pelos aparelhos da aeronave e não pelos próprios sentidos, tarefa difícil, visto que, os sentidos são bastante convincentes e esses fenômenos ilusórios se aceitos como ver- dadeiros, poderão inclusive levar o indivíduo a morte O organismo humano tende a todo momento a um processo chama- do de homeostase (equilíbrio). Esse sistema adapta-se às mudanças exter- nas como o meio ambiente, frio, calor etc, e às internas como por exemplo as metabólicas. Nesse estudo dar-se-á maior importância aos seguintes sistemas: • Sistema óptico (visão): o mais importante na prevenção de acidentes • Sistema vestibular (equilíbrio) 1 - ILUSÃO VISUAL a) Autocinesis Uma luz fixa, vermelha, olhada detidamente durante vários segun- dos no escuro produzirá a impressão de estar se movendo (pequenos mo- vimentos). A isso, dá-se o nome de autocinesis (auto => próprio, cinesis => movimento). A autocinesis pode ser evitada aumentando: • O brilho da luz • O tamanho da luz • O número de luzes na formação Pode-se também evitá-la não fixando a luz de referência, desviando rápida e continuamente os olhos para os lados. b) Falsa impressão Existem situações em que uma luz olhada por muito tempo se ex- pande e se contrai, parecendo simular aproximação e afastamento de obje- tos. c) Confusão Entre Terra e Céu Às vezes o piloto confunde as luzes da terra com as estrelas. Quan- do isso acontece, ocorre o risco de acidentar-se, porque o horizonte percebi- do está mais baixo do que o horizonte real. Outras vezes, confunde as áreas escuras do solo com um céu nublado de noite. Então, pode imaginar que certas estruturas terrestres (tais como a costa) são o horizonte, voando, em conseqüência, para uma massa escura de água ou para o terreno sobre ela. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 76 12 mar 2011 d) Indicações Verticais e Horizontais Falsas Quando os pilotos voam sobre camadas inclinadas de nuvens ou sobre terrenos que se inclina, gradualmente para cima, até se converter em terreno montanhoso, freqüentemente, tendem a voar com as asas paralelas à indicação, ao invés de niveladas com o horizonte real. Um fenômeno rela- cionado é a desorientação causada pela aurora boreal. Nela as indicações horizontais e verticais falsas, originadas pela aurora, produzem acentuadas confusões de posição nos pilotos, que voam em formação ou que realizam reabastecimentos em vôo à noite nas regiões no norte. e) Movimento Relativo Como já temos visto, um automóvel ao nosso lado, que se adianta lentamente ao esperar o sinal de tráfego, pode nos causar a ilusão de que o nosso próprio veículo está retrocedendo lentamente. Em vôo em formação, tais Ilusões, como se pode imaginar, são muito comuns. f) Ilusão da Largura da Pista: • Pista mais estreita - ilusão de maior velocidade • Pista mais larga - ilusão de menor velocidade, além de ter pintura da faixa central mais larga. Por isso, acaba-se arredondando mais alto (quando se vê a faixa mais estreita) e o pouso sai mais placado. Ex.: aluno acostumado com Jundiaí ao fazer o primeiro pouso em Viraco- pos. g) Ilusão de Inclinação da Pista do Terreno: • Pista em aclive - ilusão de estar a maior altura • Pista em declive - ilusão de estar a menor altura h) Ilusão de Terreno sem Acidentes: Pousar em água, terrenos escuros ou cobertos de neve (superfícies homogêneas) - sensação de estar a maior altura. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 77 12 mar 2011 i) Ilusões Atmosféricas • Chuva - cria ilusão de maior altura e, a má visibilidade cria ilusão de maior distância. • Nevoeiro - cria ilusão de arremetida j) Ilusões de Iluminação do Solo Luzes ao longo de percurso reto (rodovia) podem ser confundidas com luzes de pista. Luzes de trem em movimento podem ser confundidas com ALS. Quando o terreno ao redor é pouco iluminado, as luzes de pista e de aproximação podem criar a ilusão de menor distância. 2 - ILUSÃO VESTIBULAR a) Parafuso Fatal Quando os canais semicirculares são estimulados por uma acelera- ção angular, concomitante com a entrada em um parafuso, a primeira impres- são do piloto é correta, isto é, percebe o parafuso. Depois de uns dez ou vinte segundos, entretanto, a endolinfa alcan- ça a velocidade das paredes dos canais e a cúpula retoma à posição de re- pouso, sem desvios. Daí em diante a sensação de parafuso é substituída por uma sensação de movimento não giratório, apesar do fato de que o parafuso continua. Se nesse momento o piloto tratar de deter o parafuso, conduzindo o manche no sentido oposto, se submeterá a uma desaceleração angular que atuará sobre direção oposta, embora não esteja mais girando após haver tomado a medida corretiva. Sofrendo a ilusão de parafuso na direção oposta, o piloto possivelmente tratará de corrigir sua falsa impressão, colocando a aeronave no parafuso original. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 78 12 mar 2011 b) Espiral Mortal O mecanismo da espiral mortal é muito semelhante ao do parafuso fatal. A diferença reside em que, durante a espiral, a aeronave continua voando sem entrar em perda. Se o piloto permanece em curva, de regime constante, durante determinado período, perderá a sensação de estar giran- do ao retomar a cúpula em posição de repouso. O piloto, ao notar a diminui- ção de altura (causada pela diminuição na sustentação produzida pela incli- nação lateral da aeronave) puxará a manche para trás, aumentando, talvez, a potência, numa tentativa de recobrar a altitude perdida. A menos que o piloto tenha a presença de espírito para corrigir a primeira posição inclinada da aeronave, tal manobra só serviria para acelerar uma espiral para baixo. Uma vez iniciada a espiral, parecerá ao piloto estar girando em direção oposta se tentar deter o movimento giratório da aeronave. Nessa circunstância, um pi- loto inexperiente poderá não tomar a medida corretiva adequadae continuará acelerando a espiral até conseguir, ou uma boa referência visual exterior, ou estabelecer contato com o pessoal de terra. c) Desnivelamento (“Leans”) O desnivelamento é a mais comum das ilusões vestibulares. A ex- plicação usual dos desnivelamentos implica na idéia de que dois ou mais “touneau” sucessivos podem estar alterando abaixo ou acima do limiar de estímulos dos canais semicirculares. Em outras palavras, se um piloto hou- vesse realizado um “touneau” para a esquerda abaixo do limiar e logo um ‘touneau” para a direita, acima do limiar, dos canais semicirculares, ficaria, com a impressão falsa de só haver realizado um “touneau” para a direita, ainda que o piloto continue voando sua aeronave na posição nivelada, pode- rá sem dúvida inclinar-se para a esquerda para tentar alinhar o corpo com a vertical percebida; daí o nome de desnivelamento dado à ilusão. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 79 12 mar 2011 Outra condição na qual podem produzir os desnivelamento é após uma prolongada curva quando o cérebro “esquece” que o corpo está real- mente inclinado lateralmente. Logo ao sair da curva, o piloto volta a uma posição nivelada, o que faz o cérebro imaginar que está ocorrendo uma incli- nação na direção oposta. Também neste caso o piloto pode voar adequada- mente sua aeronave apesar da ilusão, embora possa inclinar-se na tentativa de assumir o que julga ser a posição vertical. d) Ilusão de Coriolis Assim chamada, em homenagem ao matemático francês Gustave Gaspard Coriolis (1792-1843), autor de trabalho sobre a composição de força nos movimentos complementares. É denominada, também, de Vertigem Complementar de Coriolis. O corpo está numa curva prolongada, a endolinfa dos canais, que forem estimu- lados pelo inicio da curva, eventualmente adquirem a mesma velocidade que as paredes dos canais. Se a cabeça vira um pouco de lado, de modo que os canais semicirculares que estavam no piano de rotação saiam desse plano, a endolinfa destes canais continuará fluindo, durante um breve período de tem- po, no novo plano e haverá um deslocamento da cúpula. Simultaneamente, se a cabeça virar um pouco de lado, de modo que um conjunto de canais, que não estava no plano de rotação, passe a girar nele, a velocidade da en- dolinfa nesses canais será temporariamente menor do que as das paredes dos canais e haverá deslocamento de cúpula nesses canais também. O re- sultado final desses movimentos relativos entre a endolinfa e as paredes dos canais, é uma sensação de rotação em um plano no qual não está ocorrendo nenhuma rotação real. Por exemplo, se ao realizar uma guinada a velocidade Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 80 12 mar 2011 constante, inclinar-se a cabeça para baixo, o resultado será uma sensação de “tounneau”. Quando um piloto experimenta mover a cabeça durante uma curva prolongada em vôo, pode experimentar a ilusão de Coriolis e perceber que sua aeronave está realizando manobras que realmente não está execu- tando. Se o piloto procurar corrigir a ilusão, pode colocar a aeronave em uma posição perigosa da qual não poderá sair. A ilusão de Coriolis é prova- velmente a mais mortal de todas as ilusões, por ser tão convincente e porque, usualmente, ocorre durante a realização de manobras que, normalmente, são efetuadas próximo ao solo. e) Ilusão Oculogravitacional Este termo, originalmente, era análogo a uma ilusão oculomotora, quando empregado para descrever o fato de que um objeto, diante dos olhos, em algumas circunstâncias, parece mover-se, quando se estimulam os ór- gãos otolíticos. Atualmente, usa-se o termo ilusão oculogravitacional, para denomi- nar sensação de mudança de posição; e essa ocorre quando uma força de inércia, concomitante com uma aceleração angular, se combina com a força da gravidade, para formar um vetor de força resultante, que não está alinhado com a vertical verdadeira. Tal ilusão pode ocorrer quando uma aeronave, de alto rendimento, acelera para frente, enquanto se encontra em vôo relativa- mente nivelado, dando ao piloto a sensação de encontrar-se com o nariz para cima. E, se procurar corrigir essa ilusão, ocorrerá o risco de mergulhar em direção ao solo. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 81 12 mar 2011 Capítulo 05 SEGURANÇA DE VOO I - Aspectos Históricos Podemos dizer que a idéia da prevenção de acidentes tem sua ori- gem na mitologia grega. Conta a lenda que Dédalus é um dos homens mais criativos e ha- bilidosos de Atenas, conhecido por suas invenções e pela perfeição de seus trabalhos manuais, simbolizando a engenhosidade na busca de soluções criativas e funcionais . Um de seus maiores feitos foi o Labirinto de Knossos, construído a pedido do rei Minos, de Creta, para aprisionar o Minotauro, bes- ta que se alimentava de carne humana. Por ter ajudado a filha de Minos a fugir com um amante, Dédalus provocou a ira do rei que, como punição, ordenou que Dédalus e seu filho Ícaro fossem jogados no Labirinto. Demonstrando mais uma vez todo seu talento, Dédalus teve, então, a idéia de construir asas para que ele e seu filho pudessem fugir. Juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrou-as com fios de linho e colocou uma camada de cera sob elas, para que não se descolassem. Amarrou as asas em Ícaro e se prepararam para a grande fuga. Antes de partir, porém, advertiu seu filho de que deveriam voar a uma altura média, não muito próximo do sol, para que o calor não derretesse a cera que colava as penas; nem tão baixo, que pudessem cair no mar. Dé- dalus, então, levantou voo e foi seguido por seu filho. Durante o voo, Ícaro deslumbrou-se com a bela imagem do sol e, sentindo-se atraído, voou em sua direção, esquecendo-se das orientações de seu pai. A cera de suas asas começou rapidamente a derreter e logo Ícaro caiu no mar. No mundo real, a prevenção de acidentes aeronáuticos teve seu inicio nos campos de batalha da 1º Guerra mundial, onde o alto custo do trei- namento dos pilotos não admitia que o mesmo viesse a perder sua vida fora de combate. No Brasil, o primeiro acidente aeronáutico registrado, ocorreu em 20 de maio de 1908, quando o balão tripulado pelo Tenente Juventino “despen- cou” ao solo. Mais tarde uma investigação apontaria a falha de uma válvula como responsável pelo ocorrido. Com a criação da aeronáutica militar, na década de 20, as ativida- des de segurança de voo no Brasil foram organizadas, sendo inicialmente mais voltadas para uma investigação do que para a prevenção de acidentes. Nessa época os acidentes eram investigados com a única finalidade de apu- rar responsabilidades. A marinha realizava o Inquérito Policial Militar (IPM) e o Exercito realizava o Inquérito de Acidente Aeronáutico. Em ambos os casos não havia a preocupação de prevenir novas ocorrências. Após a criação do ministério da aeronáutica, em 1941, esses proce- dimentos foram reformulados e unificados sob a responsabilidade da então inspetoria geral da aeronáutica, sendo criado o inquérito técnico sumário para Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 82 12 mar 2011 a investigação dos acidentes aeronáuticos eliminando o uso do IPM para esse fim. Na aviaçãocivil, ainda em fase de surgimento, nenhum controle dessa natureza é registrado até a década de 30. Em 1951, com o novo regulamento da Inspetoria Geral de Aero- náutica, nasce a sigla SIPAER, identificando o Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, fazendo parte de sua estrutura orga- nizacional. É criado, então o primeiro Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (PPAA) da aviação brasileira. Em 11 de outubro de 1965, através do decreto nº57.055, a estrutura do SIPAER é alterada e a sigla passa a significar a atividade de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, agora com novo regulamento. Assim, a antiga filosofia é gradualmente substituída em função de novos conhecimentos adquiridos em outros países e o Inquérito Técnico Su- mário é substituído pelo Relatório de Acidentes Aeronáuticos onde já é ex- perimentada a pesquisa de fatores humanos, operacional e material. Nasce, também, o Relatório Final, em substituição ao Relatório Sumário. A essência das investigações passa a ser o ensinamento dela ex- traído, com a finalidade de prevenir novos acidentes, através da emissão das recomendações exeqüíveis, relacionadas aos fatores que contribuíram para aquela ocorrência. Assim, com a substituição definitiva da palavra inquérito, é adotada uma nova filosofia que até hoje tem na prevenção do acidente o seu fundamento. Em 1970 é criado o Centro de Investigação e Prevenção de Aci- dentes Aeronáuticos (CENIPA) com atribuições e responsabilidades de órgão central do SIPAER, ainda dentro da estrutura da Inspetoria Geral da Aeronáu- tica. São também considerados como elos do sistema os órgãos do Ministério da Aeronáutica que pelas suas funções podem ser envolvidos na atividade SIPAER. O primeiro instrumento da legislação de voo surge em 1972 com o Manual do SIPAER que definia as atribuições, responsabilidades e procedi- mentos dessa atividade que posteriormente, deu lugar às normas do Sistema do Ministério da Aeronáutica (NSMA 3-1 à 3-11) que constituem a legisla- ção básica de segurança de voo no Brasil. Com a desativação da Inspetoria Geral da Aeronáutica, em 1976, a chefia do SIPAER passou para o Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, a quem o CENIPA ficou subordinado. O crescimento da atividade aérea no país provocou a necessidade de dinamizar as atividades de segurança de voo. Conceitos foram atualiza- dos e, conforme o decreto 87.249/82, de 7 de junho de 1982, o CENIPA pas- sou a ser uma organização autônoma. Esse novo patamar administrativo permitiu ao CENIPA tornar-se mais funcional, objetivo e dinâmico no seu trabalho de prevenção de aci- dentes e incidentes aeronáuticos. Nessa mesma ocasião foi criado o Comitê Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos - CNPAA, em cujo fórum, sob a direção e coordenação do CENIPA reúnem-se os representantes de diversas entidades nacionais e estrangeiras, públicas e privadas, direta ou Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 83 12 mar 2011 indiretamente ligadas às atividades aeronáuticas. Participam, ainda, organi- zações civis representativas de classe (sindicatos). II – A ESTRUTURA SIPAER 1 - CENIPA - Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos Órgão Central do sistema, sediado em Brasília que tem como mis- são promover a Segurança de Voo no âmbito da aviação militar e civil do pais, normatizando, planejando, coordenando, controlando e supervisionando as atividades dos Elos SIPAER. 2 - CNPAA - Comitê Nacional de Prevenção e Investigação de Acidentes Ae- ronáuticos Reúne os representantes de diversas entidades nacionais e estran- geiras, públicas e privadas, direta ou indiretamente ligadas às atividades ae- ronáuticas. Participam, ainda, organizações civis representativas de classes (sindicatos). 3 - DIPAA - Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos Órgãos pertencentes a estruturas do Departamento de Aviação Civil (DAC) e do Comando Regional da Aeronáutica (COMAR). A DIPAA do DAC realiza a investigação dos acidentes aeronáuticos acorridos com aeronaves civis, nacionais ou estrangeiras, empregadas no transporte aéreo regular, in- ternacional, doméstico ou regional. Supervisiona também a investigação de todos os acidentes ocorridos na aviação civil. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 84 12 mar 2011 4 - SIPAA - Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos As SIPAA pertencentes aos SERAC são responsáveis pela investi- gação e prevenção de acidentes ou incidentes ocorridos com aeronaves da aviação geral e helicópteros, ambos não pertencentes ao transporte aéreo regular. Já as SIPAA pertencente as unidades aéreas (OM) são responsá- veis pela investigação e prevenção de acidentes ou incidentes aeronáuticos ocorridos com aeronaves militares ou a aeronaves orgânicas pertencentes a essas. 5 - CIAA - Comissão Investigação de Acidentes Aeronáuticos Grupo designado para realizar a investigação de um acidente aero- náutico, devendo ser adequado às características desse acidente. Normal- mente é formado de engenheiros, médicos, físicos, químicos, pilotos e outros profissionais. 6- CPAA – Comissão de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos Grupo de pessoas de uma organização destinadas a gerenciar a Segurança de Vôo naquele âmbito, atuando na supervisão das tarefas espe- cíficas e das medidas destinadas a eliminar as fontes de perigo em potencial. 7 - OSV - Oficial de Segurança de Vôo Militar credenciado pelo CENIPA que concluiu o curso de prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos 8- Agente de Segurança de Vôo (ASV) Pessoa, civil ou militar da reserva de força armada ou força auxiliar brasileira, que concluiu o Módulo de Investigação do Curso de Segurança de Vôo (CSV). 9 - EC-___ - Elemento Credenciado Pessoa, civil ou militar, que concluiu um dos Estágios de Segurança de Vôo ou o Módulo de Prevenção do Curso de Segurança de Vôo (CSV). É habilitado para uma área específica de atuação e tem as suas qualifica- ções, atribuições e responsabilidades previstas na NSMA 3-2 “Estrutura e Atribuições do SIPAER”, NSMA 3-6 “Investigação de Acidente e de Incidente Aeronáutico” e NSMA 3-10 “Formação e Atualização Técnico-Profissional do Pessoal do SIPAER”. Exemplos: EC-AA - Elemento Credenciado - Aeroportos EC-CTA - Elemento Credenciado - Controle de Tráfego Aéreo EC-FH - Elemento Credenciado - Fator Humano EC-FM - Elemento Credenciado - Fator Material EC-PREV - Elemento Credenciado - Prevenção EC-PV - Elemento Credenciado - Nível Técnico de Proteção ao Vôo Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 85 12 mar 2011 III - ALGUNS CONCEITOS SIPAER 1- ACIDENTE AERONÁUTICO Toda ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave, ocorrida entre o momento em que uma pessoa nela embarca com a intenção de realizar um voo, até o momento em que todas as pessoas tenham dela de- sembarcado e, durante o qual, pelo menos uma das situações abaixo ocorra: 1 - Uma pessoa sofra lesão grave ou morra como resultado de: a) Estar na aeronave; ou b) Contato direto com qualquer parte da aeronave, incluindo aquelas que dela tenham se desprendido; ou c) Submetida à exposição direta do sopro de hélice, rotor ou escapa- mento de jato, ou às suas conseqüências. NOTA - Exceção é feita quando as lesões resultem de causas naturais, forem auto-infligidas ou infligidas por terceiros, ou forem causadas a pessoasque embarcaram clandestinamente e se acomodaram em área que não as desti- nadas aos passageiros e tripulantes. 2- A aeronave sofra dano ou falha estrutural que: a) Afete adversamente a resistência estrutural, o seu desempenho ou as suas características de voo; e b) Normalmente exija a realização de grande reparo ou a substituição do componente afetado. NOTA - Exceção é feita para falha ou danos limitados ao motor, suas care- nagens ou acessórios; ou para danos limitados a hélices, pontas de asa, an- tenas, pneus, freios, carenagens do trem, amassamentos leves e pequenas perfurações no revestimento da aeronave. 3- A aeronave seja considerada desaparecida ou completamente inacessível. OBSERVAÇÔES: As lesões decorrentes de um Acidente Aeronáutico que resultem em fatalidade até 30 dias da data da ocorrência são consideradas lesões fatais. Uma aeronave será considerada desaparecida quando as buscas oficiais forem encerradas e os destroços não forem encontrados. Em voos de ensaio experimental com aeronave militar ou de em- presa homologada, não serão classificadas como acidente aeronáutico as ocorrências relacionadas diretamente ao objetivo do ensaio, ficando o esta- belecimento desta relação a cargo do Comando Investigador, após análise preliminar do evento frente à documentação técnica que suporta o referido ensaio. 2 - INCIDENTE AERONÁUTICO Toda ocorrência, inclusive de tráfego aéreo, associada à operação de uma aeronave, havendo intenção de voo, que não chegue a se caracteri- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 86 12 mar 2011 zar como um acidente, mas que afete ou possa afetar a segurança da opera- ção. 3 - INCIDENTE AERONÁUTICO GRAVE Incidente ocorrido sob circunstâncias em que um acidente quase ocorreu. A diferença entre o incidente grave e o acidente está apenas nas conseqüências. Dentre outras, as seguintes ocorrências caracterizam-se como incidente grave: • Fogo ou fumaça no compartimento de passageiros, de carga ou fogo no motor, ainda que tenha sido extinto com a utilização de extintores de incêndio; • Situações que exijam o uso emergencial de oxigênio por tripulante; • Falha estrutural da aeronave ou desintegração de motor em voo, que não configurem um acidente; • Quase colisão em voo que requereu a realização de uma manobra evasiva; • CFIT marginalmente evitado; • Decolagem interrompida em pista fechada ou ocupada por outra ae- ronave; • Decolagem de pista ocupada por outra aeronave, sem separação segura; • Pouso ou tentativa de pouso em pista fechada ou ocupada por outra aeronave; • Falha múltipla de um ou mais sistemas que afetem seriamente a ope- ração da aeronave; • Baixo nível de combustível, exigindo a declaração de emergência; • Utilização da aeronave fora do seu envelope de voo devido a con- dições meteorológicas adversas ou à falha de sistemas que tenham causado dificuldade de controle da mesma; • Falha de mais de um sistema de navegação, ainda que duplicado; • Diferenças significativas na performance prevista da aeronave du- rante a decolagem ou segmento inicial de subida; • Incapacitação de tripulante em voo; • Incidentes durante a decolagem ou pouso, tais como: ultrapassagem da cabeceira oposta, pouso antes da pista ou saída da pista pelas laterais. 4 - OCORRÊNCIA DE SOLO Toda ocorrência envolvendo aeronave onde não haja sua intenção de voo, da qual resulte dano ou lesão a passageiros, terceiros, estruturas aeroportuárias ou até mesmo a própria aeronave. Uma Ocorrência de Solo, embora não esteja relacionada diretamen- te com a realização de um voo, tem a mesma importância que um acidente ou incidente aeronáutico, pois as suas conseqüências interferem no objetivo da segurança de voo, que é a preservação dos recursos humanos e materiais Diferentemente do incidente aeronáutico, uma ocorrência de solo pode gerar conseqüências de mesma grandeza que as de um acidente aeronáutico. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 87 12 mar 2011 IV - PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DA PREVENÇÃO DE ACIDENTES Podemos afirmar que qualquer atividade desenvolvida pelo homem, não obstante o campo de conhecimento a que se relacione, tem uma base filosófica que estabelece sua própria essência. É sobre essa base que se estabelecem os fundamentos básicos sob os quais as técnicas serão desen- volvidas. As experiências testadas e aperfeiçoadas desde os primórdios da prevenção de acidentes formam um conjunto de fundamentos, princípios, conceitos e normas que definem os critérios e finalidades da prevenção, des- de sua criação até a sua aplicação, em acordo com sua evolução ditada pelas necessidades tecnológicas. Assim se constitui a Filosofia de Prevenção de Acidentes, ou Fi- losofia do SIPAER, como é mais comumente conhecida no Brasil e que é sustentada por oito princípios básicos que têm a experiência vivida como sua origem e, por isso, imutáveis em sua essência, apesar de sua aplicação estar em constante evolução. 1- TODO ACIDENTE PODE SER EVITADO Há quem pense que determinado acidente é inevitável, porém, ao estabelecer-se a relação entre os fatores contribuintes para a sua ocorrência e seus efeitos, verifica-se que não acontece por fatalidade, mas é decorrente da seqüência de acontecimentos que se relacionam aos aspectos humanos, operacional e material. Uma vez identificados e analisados os fatores contribuintes, verifica- -se que, para cada um, há a possibilidade da execução de medidas corretivas que podem eliminá-lo da seqüência de acontecimentos, neutralizando o seu efeito, mesmo para aqueles sobre os quais o homem não tem controle, por meio de ações de proteção. O objetivo da prevenção de acidentes é atingir o índice zero acidente. 2 – TODO ACIDENTE RESULTA DE UMA SEQÜENCIA DE EVENTOS E NUNCA DE UMA CAUSA ISOLADA O acidente não é o resultado da manifestação de uma única situ- ação perigosa, sendo o sempre o resultado da combinação, em seqüência, de vários riscos que se unem em um único processo, atuando como fatores contribuintes que, se considerados de forma isolada, podem parecer de pou- ca importância, mas, ao se unirem geram um momento em que as conse- qüências se tornam inevitáveis, ou seja, a ocorrência do acidente torna-se inevitável, ou seja, a ocorrência do acidente torna-se irreversível. Interromper essa seqüência de eventos pode-se “frear” o acidente, é esse um dos objetivos do SIPAER 3- TODO ACIDENTE TEM UM PRECEDENTE Nenhum acidente é original uma vez que, ao compararmos uma ocorrência recente com outra já ocorrida a vários anos sempre poderá ser estabelecida alguma relação através da semelhança de fatores contribuintes. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 88 12 mar 2011 A segurança de voo se vale dessa semelhança para concretizar ações preventivas, impelindo ou interrompendo a formação da seqüência dos eventos. 4- PREVENÇÃO DE ACIDENTES REQUER MOBILIZAÇÃO GERAL A prevenção de acidentes não produz os efeitos desejados se não sobre a forma de mobilização geral, pois para que sejam alcançados seus ob- jetivos, é necessário que todos em uma empresa, sem distinção, conheçam, tenham consciência da importância da necessidade e queriam participar de um esforço global. 5 – PREVENÇÃO DE ACIDENTES NÃO RETRINGE O VOO, AO CONTRA- RIO, ESTIMULA O SEU DESENVOLVIMENTO COM SEGURANÇA. Para aqueles que não conhecem ou não têm consciência paraos riscos envolvidos na atividade e no valor da prevenção de acidentes, o es- tabelecimentos de medidas preventivas pode parecer uma ação restritiva ao desenvolvimento do voo. Isso não é verdadeiro uma vez que a prevenção de acidentes pretende, pela obtenção de altos níveis de segurança, estimular o desenvolvimento da atividade aérea, põem, fazendo-se o que deve ser fei- to da maneira como foi definido que deveria ser feito, eliminando-se, assim ações sem base técnica ou operacional. A preservação dos recursos materiais e humanos, resultantes de uma eficaz ação de prevenção de acidentes proporciona, sem dúvida, a sua melhor utili- zação, que por sua vez, aumenta as condições da própria prevenção. 6- OS DIRETORES SÃO OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELAS MEDI- DAS DE SEGURANÇA Todos somos responsáveis pela prevenção de acidentes, porém, é inerente à alta administração a responsabilidade da preservação dos re- cursos técnicos e operacionais da empresa, uma vez que o poder decisório emana de quem tem a capacidade de prover os recursos necessários para o desenvolvimento da atividade. Dessa forma, presume-se que nenhuma ação ou programa de pre- venção de acidentes logrará êxito se não for suportado pela ação administra- tiva da tomada de decisão em prol da segurança. Por isso, as atividades de prevenção de acidentes proporcionam uma maior eficiência à ação de cada setor e à empresa de modo geral. 7- EM PREVENÇÃO DE ACIDENTES NÃO HÁ SEGREDOS NEM BANDEIRA As experiências e desenvolvimentos adquiridos por meio da preven- ção de acidentes em qualquer parte do mundo estão disponíveis para quem deles necessitar uma vez que qualquer risco gerado na aviação tem caracte- rísticas globais e suas consequências também podem se manifestar de forma global. Dessa forma, as experiências somadas podem ser aproveitadas de acordo com a realidade de cada operador, bastando para isso que a própria experiência seja considerada na sua aplicação. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 89 12 mar 2011 A troca de informações visa o bem comum e, por isso, não cria obs- táculos ao seu desenvolvimento. É preciso considerar que o erro de um, é sempre ensinamento para muitos. 8- ACUSAÇÕES E PUNIÇÕES AGEM DIRETAMENTO CONTRA OS INTE- RESSES DA PREVENÇÃO DE ACIDENTES A investigação técnica de segurança de voo é conduzida conforme a OACI define em seu Anexo 13, como uma ação cujo propósito deve ser, ex- clusivamente, a prevenção de acidentes, não havendo, portanto, o propósito do estabelecimento de culpa, que é inerente das ações policiais e jurídicas, exercida por aqueles que têm a responsabilidade de proteger a sociedade Entretanto, essa ação não deve ser confundida e, portanto, deve ser condu- zida de forma independente das ações especificas de segurança de voo. A punição disciplinar por causa de um erro pode ser injusta, portan- to, perigosa, por deixar de considerar o “porquê” desse erro que, na realida- de, vem definir a verdadeira responsabilidade envolvida. Também, o piloto é o elemento localizado no final da cadeia de acontecimentos que muitas vezes, recebe e deve suportar o peso do erro co- metido por outros em época e local anteriores a ele. Por isso, ações punitivas somente devem ser adotadas se houver indicação clara de culpa. V - ALGUNS RELATÓRIOS SIPAER 1- RELATÓRIO DE INCIDENTE (RELIN) É o documento formal resultante da coleta e da análise de fatos, dados e circunstâncias relacionadas a um Incidente Aeronáutico. O RELIN é composto, dentre outros, pelo histórico da ocorrência, laudos, pareceres técnicos e registros referentes às diversas áreas envol- vidas no processo da investigação, análise dos elementos de investigação estabelecidos, registro de entrevistas realizadas com pessoal envolvido e a conclusão a respeito da ocorrência. Podem ser anexadas ao RELIN fotografias, gravações de áudio ou vídeo e outro tipo de registro ou documento cujo valor seja significativo ao estabelecimento da conclusão da ocorrência. GRAU DE SIGILO : RESERVADO 2 - RELATÓRIO PRELIMINAR (RP) É o documento formal destinado ao registro e à divulgação de infor- mações preliminares a respeito das circunstâncias de um Acidente Aeronáu- tico Sendo um relatório que se destina exclusivamente à divulgação, em curto prazo, das informações preliminares a respeito de um Acidente Aero- náutico, é preenchido e remetido com as informações disponíveis até o prazo estabelecido para o seu trâmite. O RP é composto, dentre outros, pelo histórico da ocorrência, por Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 90 12 mar 2011 informações da aeronave, tripulantes, local de ocorrência, tipo de voo preten- dido e condições de voo conhecidas, medidas corretivas já adotadas e outros aspectos cuja divulgação seja considerada adequada e oportuna. GRAU DE SIGILO: RESERVADO 3 - RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE AERONÁUTICO (RELIAA) É o documento formal resultante da coleta e da análise de fatos, dados e circunstâncias, relacionados a um Acidente Aeronáutico. O RELIAA é composto, dentre outros, pelo histórico da ocorrência, laudos, pareceres técnicos e registros referentes às diversas áreas envolvidas no processo da investigação, análise dos elementos de investigação estabeleci- dos, registro de entrevistas realizadas com tripulantes, outras pessoas envol- vidas, testemunhas e a conclusão a respeito da ocorrência. As hipóteses devem ser fundamentadas com pareceres técnicos e, sempre que possível, suportadas por registro fotográfico ou diagramático, gravações de áudio ou vídeo e outro tipo de registro ou documento Não é necessário que os registros das entrevistas a que se refere este item sejam assinados pelos entrevistados, podendo ser destruídos após concluído o processo de investigação. Deve ser apresentado de forma clara, precisa e concisa, com idéias coeren- tes, as circunstâncias que envolveram o acidente, permitindo assim que se forme um consenso da sua origem, conseqüências e providências a serem adotadas no sentido de se prevenir a sua repetição. GRAU DE SIGILO: RESERVADO 4 - RELATÓRIO DE OCORRÊNCIA DE SOLO (RELOS) É o documento formal resultante da coleta e da análise de fatos, dados e circunstâncias relacionados a uma Ocorrência de Solo. O RELOS é composto, dentre outros, pelo histórico da ocorrência, laudos, pareceres técnicos e registros referentes às diversas áreas envolvi- das no processo da investigação, análise dos elementos de investigação e a conclusão a respeito da ocorrência, conforme a profundidade requerida. Po- dem ser anexadas ao RELOS fotografias, gravações de áudio, vídeo ou outro tipo de registro, cujo valor seja significativo ao estabelecimento da conclusão da ocorrência. GRAU DE SIGILO: RESERVADO 5 - RELATÓRIO FINAL (RF) É o documento emitido pelo CENIPA e destinado a divulgar a con- clusão oficial do Comando da Aeronáutica e as recomendações de seguran- ça de voo relativas a um acidente. Tem como objetivo divulgar a conclusão e as recomendações de se- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 91 12 mar 2011 gurança de vôo relativas a um acidente aeronáutico, visando exclusivamente a sua prevenção. O RF deve ser divulgado a todo órgão ou pessoa física que objetive utilizar os ensinamentos colhidos exclusivamente para a prevenção de aci- dentes e de acordo com a filosofia do SIPAER. A divulgação indevida de um RF contraria os princípios da atividadede investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, podendo compro- meter o seu objetivo que é o de evitar a ocorrência de novos acidentes. GRAU DE SIGILO: OSTENSIVO no caso de aeronaves civis e RE- SERVADO no caso de aeronaves militares 7 - RELATÓRIO DE PREVENÇÂO (RELPREV) Documento que contém o relato de fatos perigosos ou potencial- mente perigosos para a atividade aérea e que permite à autoridade com- petente o conhecimento dessas situações, com a finalidade da adoção de medidas corretivas adequadas. Os relatos das ocorrências ou das observações nele apresentadas têm como única finalidade aumentar a segurança de voo e devem ser base- ados em fatos ou experiências pessoais que possam contribuir para evitar a ocorrência de um acidente. Os dados nele contidos serão para uso exclusivo do SIPAER e assinado, o remetente será informado sobre as medidas adota- das. É regulado pela NSMA 3-3 “Prevenção de Acidentes e de Incidentes Aeronáuticos”. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 92 12 mar 2011 RELPREV (FRENTE) Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 93 12 mar 2011 RELPREV (VERSO) 8 - RELATÓRIO CONFIDENCIAL PARA SEGURANÇA OPERACIONAL (RCSO) Documento formal que contém o relato e outras informações refe- rentes a determinada circunstância que constitua, ou possa vir a constituir, risco à operação, como objetivo de aprimorar a Segurança de Vôo. O RCSO destina-se tão somente ao registro de circunstâncias que constituam, ou possam vir constituir, áreas de risco à segurança de voo com vistas à prevenção de acidentes aeronáuticos. Portanto, é vedado o seu uso para relato de fatos que constituíam crime ou contravenção penal de qual- quer natureza. O SIPAER assegura o anonimato do relator, somente nos casos em que os eventos reportados se refiram à prevenção de acidentes aeronáuticos. É regulado pela IMA 3-7 “Relatório Confidencial para Segurança Operacional”. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 94 12 mar 2011 RCSO (FRENTE) Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 95 12 mar 2011 RCSO (VERSO) VII - ACIDENTE AERONÁUTICO 1 - AÇÕES INICIAIS 1) Tomada geral da situação; 2) Socorro às vitimas, combatendo a incêndios e proteção as cargas perigosas; 3) Desativação dos localizadores de emergência e dos gravadores de cabine; 4) Definição de quem poderá transitar no local; 5) Estabelecimento da guarda dos destroços; 6) Confirmação de ausência de perigo na área; 7) Resgate dos corpos demarcando-se os locais em que foram encon- trados; 8) Proteção dos destroços quanto ao mau tempo; 9) Busca geral nos destroços a fim de se obter possíveis condições de sobrevivência, localização de partes soltas e marcas no solo e em obstáculos; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 96 12 mar 2011 10) Coleta de amostras de combustível; 11) Cálculo de peso e balanceamento; 12) Localização das testemunhas; 13) Levantamento dos danos causados a terceiros; 14) Atendimento a imprensa; se for o caso. 2 - CUSTO DA INVESTIGAÇÃO As despesas decorrentes do processo de investigação realizadas por órgão constitutivo do SIPAER são da responsabilidade do Comando da Aeronáutica e por ele são cobertas diretamente ou através de ressarcimento, devendo ser observado o disposto no Código Brasileiro de Aeronáutica quan- do envolver aeronaves civis. Exceção é feita para pagamento de diárias para pessoa não perten- cente ao Comando da Aeronáutica, e envolvida na investigação, pois esta ficará a cargo da entidade a que ela pertença. O mesmo ocorrerá quando a investigação for feita a critério do operador. 3 - INSPEÇÃO DE SAÚDE APÓS ACIDENTE AERONÁUTICO O ANAC coordenará a inspeção de saúde do aeronavegante que vier a sofrer acidente aeronáutico ou incidente grave no curso de sua ativi- dade. O aeronavegante terá seu CCF suspenso, devendo ser inspecionado logo após o ocorrido. 4 - RESPONSABILIDADES DO OPERADOR • Comunicação da Ocorrência • Fornecimento de Informações para a Investigação • Guarda dos Bens e Destroços • Comunicação aos Familiares e Público • Transporte de Sobreviventes • Destinação de Restos Mortais • Treinamento de Pessoal • Divulgação de Ensinamentos • Remoção da Aeronave ou de seus Destroços • Ressarcimento dos Danos • Afastamento do vôo dos tripulantes envolvidos na ocorrência VIII - FATORES CONTRIBUINTES PARA UM ACIDENTE / INCIDENTE Trinômio: “o Homem o Meio e a Máquina”, pilares da moderna filosofia SI- PAER. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 97 12 mar 2011 1 - FATOR CONTRIBUINTE (FC) Condição (ato, fato, ou combinação deles) que, aliada a outras, ou como conseqüência, conduz à ocorrência de um Acidente, Incidente de uma Ocorrência de Solo, ou que contribui para o agravamento de suas Os fatores contribuintes classificam-se de acordo com a área de Segurança de Vôo. 2 - FATOR HUMANO (FH) Área de abordagem da Segurança de Vôo que se refere ao comple- xo biológico do ser humano, nos seus aspectos fisiológico e psicológico. • Aspectos Fisiológicos É a participação de variáveis físicas ou desempenho da pessoa envolvida. • Aspectos Psicológicos É a participação de variáveis psicológicas psicossociais ou organizacionais no desempenho da pessoa envolvida. 3 - FATOR MATERIAL (FM) Área de abordagem da Segurança de Vôo que se refere à aeronave, incluindo seus componentes, nos seus aspectos de projeto, de fabricação e de manuseio do material. • Deficiência de Projeto Participação do projeto da aeronave ou componente, por inadequação do material estabelecido; dos controles, luzes ou instrumentos devido à interfe- rência induzida pela sua forma, tamanho, instalação ou posicionamento; ou do estabelecimento inadequado de parâmetros de operação ou de manuten- ção preventiva. • Deficiência de Fabricação Participação do processo de fabricação, por deficiência na montagem, no material empregado ou no seu manuseio durante esse processo. • Deficiente Manuseio do Material Participação do material em questão, devido à falha prematura decorrente de manuseio, estocagem ou utilização sob condições inadequadas até a sua entrada em operação, provocando alterações no seu comportamento previs- to em projeto. Nota - Não está incluído o manuseio durante o processo de fabricação. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 98 12 mar 2011 4 - FATOR OPERACIONAL (FO) Área de abordagem da Segurança de Vôo que se refere ao desem- penho do ser humano nas atividades relacionadas com o vôo. • Condições meteorológicas adversas Participação de fenômenos meteorológicos, interferindo na operação e con- duzindo-a acircunstâncias anormais. • Deficiente Infra-estrutura Participação de serviços de infra-estrutura aeronáutica, incluindo as condi- ções físicas e operacionais do aeródromo, quando homologado. • Deficiente Instrução Participação do processo de treinamento recebido, por deficiência quantita- tiva ou qualitativa, não atribuindo ao “aluno” a plenitude dos conhecimentos e demais condições técnicas necessárias para o desempenho da atividade. • Deficiente Manutenção Participação do pessoal de manutenção, por inadequação dos serviços reali- zados, preventivos ou corretivos, e do trato ou da interpretação de relatórios, boletins, ordens técnicas, e similares. • Deficiente Aplicação de Comandos Erro cometido pelo piloto, por uso inadequado dos comandos da aeronave. •Deficiente Controle de Tráfego Aéreo Participação do pessoal que realiza o controle de tráfego aéreo por inadequa- ção da prestação desse serviço. • Deficiente Coordenação de Cabine Erro decorrente da inadequada utilização dos recursos humanos para opera- ção da aeronave, em virtude de um ineficaz gerenciamento das tarefas afetas a cada tripulante, de falha ou confusão na comunicação ou no relacionamen- to interpessoal, ou da inobservância de normas operacionais. • Deficiente Julgamento Erro cometido pelo piloto, decorrente da inadequada avaliação de determina- dos aspectos, estando qualificado para aquela operação. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 99 12 mar 2011 • Deficiente Pessoal de Apoio Participação de pessoal que realiza os serviços de preparação e recebimento de aeronave, reabastecimento, tratoramento, apoio de rampa e outros envol- vidos na operação. • Deficiente Planejamento Erro cometido pelo piloto, decorrente de inadequada preparação para o vôo ou parte dele. • Deficiente Supervisão Participação de pessoas, que não sejam tripulantes, por falta de supervisão adequada no planejamento ou na execução da operação, a nível administra- tivo, técnico ou operacional. • Esquecimento Erro cometido pelo piloto, decorrente do esquecimento de algo conhecido, da realização de procedimento ou parte dele. • Indisciplina de Vôo Desobediência intencional pelo piloto das regras de tráfego aéreo, normas operacionais ou regulamentos, sem que haja justificado motivo para tal. • Influencia do Meio Ambiente Interferência do ambiente físico, da cabine ou externo, no desempenho indi- vidual. • Pouca Experiência de Vôo ou Equipamento Erro cometido pelo piloto, decorrente de pouca experiência na atividade aé- rea, na aeronave ou especificamente nas circunstâncias da operação. • Outros Aspectos Operacionais É a manifestação de outro fator ligado ao desempenho de tripulante, não classificado nos fatores contribuintes conhecidos na área do Fator Opera- cional. 5 - FATOR INDETERIMINADO (FI) Quando, mesmo sabendo-se da existência de algum fator contri- buinte, este não foi identificado. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 100 12 mar 2011 6 - OUTROS FATORES (OF) É a contribuição de algum aspecto não identificado com qualquer fator contribuinte conhecido. IX PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES AERONÁUTICOS (PPAA) O Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (PPAA) é, além de uma prescrição regu¬lamentar da ANAC, uma orientação básica para a atividade de SEGURANÇA DE VÔO em uma empresa, caracterizan- do-se num esforço conjunto entre os di¬retores ou chefes e todo pessoal envolvido, direta ou indiretamente, na atividade aérea, tendo como objetivo a REDUÇÃO DA OCORRÊNCIA DOS ACIDENTES, que estão tomando a ope¬ração desnecessariamente mais onerosa. Atualmente o PPAA é regulado pela NSMA 3-3 “Prevenção de Aci- dentes e de Incidentes Aeronáuticos”. 1 - POR QUE UM PROGRAMA DE PRE¬VENÇÃO DE ACIDENTES AERONÁUTI¬COS? O PPAA, baseando-se no senso comum e em experiências e conhe- cimentos, à semelhança de outros instrumentos da legislação, apresenta, de forma organizada, os problemas mais sérios que põe em risco a segurança de vôo na sua Organização. Igualmente, o PPAA procura sensibilizar cada funcionário para a im- portância e a necessidade de identificar e eliminar pontos de atrito à seguran- ça da operação, que certamente poderão contribuir, de alguma forma, para a ocorrência de um acidente. Se é verdade que nada é perfeito, também é verdade que tudo pode ser aperfeiçoado. Dentro dessa idéia é que deve ser equacionada a questão da compatibilidade da prevenção de aciden¬tes com a realização das ope- rações, a fim de que os vôos sejam realizados com o melhor ren¬dimento possível. Para isso, é preciso disseminar a idéia da segurança em todos os níveis da atividade aérea. A segurança por si mesma não atrai aqueles que não sentem o pro- blema tão de perto como os que voam ou que são os responsáveis diretos pela operação, conseqüentemente, pela preven¬ção de acidentes. O que interessa, afinal, é que os vôos tenham o melhor apoio pos- sível, afim de que seja alcan¬çada a maior eficiência. Isso acontecendo, eles serão intrinsecamente seguros. A partir daí, a segurança surgirá como um meio desejável, e não mais, como um fardo pesado e Incômodo. É dessa forma que o assunto deve ser exposto quando certas soluções, eviden¬temente não as melhores, forem estabelecidas para solucionar determinados problemas, inci¬dindo em riscos adicionais desnecessários. Os riscos devem ser mantidos nos níveis mais baixos - o risco mí- nimo - pois o aspecto econô¬mico sempre está em jogo, portanto, por que não considerá-lo? É simples: basta pensar na re¬percussão negativa que os Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 101 12 mar 2011 acidentes provocam com a perda de vidas e com a indisponibilidade total ou parcial dos aviões. Pode-se perceber que os resultados positivos de um bom trabalho de PREVENÇÃO levam à redução considerável da probabilidade de perdas de vidas e de material, ou seja, essas desagradáveis fontes de altos custos adicionais. Uma análise dos acidentes passados revela que muitos deles, por si só, não ocorreriam, e que parte deles ocorreram devido à participação de um ou mais fatores como os abaixo listados: • Falta de conhecimentos básicos ou proficiência de pilotos ou mecâ- nicos; • Complacência frente aos limites de segurança estabelecidos; • Excesso de autoconfiança dos pilotos, levando as aeronaves além de seus limites; • Perigos do vôo associados às circunstâncias específicas da opera- ção; e • Deficiente doutrina de segurança de vôo. Vale lembrar que acidentes aéreos custam vidas e material de alto valor, também provocando, em alguns casos, danos a terceiros. Tudo isso, como já está claro, toma a operação muito mais dispendiosa. E quanto custa a PREVENÇÃO? Certamente, muito menos do que se gasta ou do que se per¬de com um só acidente. 2 - OS MÉTODOS DO PPAA O Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos deve ser de- senvolvido por profissional com experiência na atividade de Segurança de Vôo e deve ser elaborado de forma objetiva e especifica para cada operador, pois considera as suas características próprias, tais como o equipamento, os aspectos de treinamento e experiência de pessoal, as condições de trabalho, a motivação e a supervisão em todos os níveis, locais de operação, normas e procedimentos adotados, publicações em uso, etc. Para sua consecução, é realizada, inicialmente, uma Vistoria de Se- gurança em todos setoresda atividade aérea a fim de levantar as reais condi- ções de operação e os pontos de atrito à segurança que serão, sem dúvida, objetos do programa em questão. O Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos traz, em seu conteúdo, os seguintes aspectos: • Orientação educativa e motivacional quanto à finalidade e importân- cia da prevenção de acidentes e do próprio programa; • Análise aos principais fatores contribuintes dos acidentes ocorridos com aeronaves da organização; • A situação atual da operação, apontando cada condição de risco ob- servada, uma análise quanto à sua probabilidade e gravidade de contribuir para um acidente, e a(s) medida(s) corretiva(s) para saná- -la(s); Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 102 12 mar 2011 • Calendário de ações para o período em questão, tais como vistorias de segurança, palestras, aulas, campanhas, etc.; • Levantamento e análise dos meios em pessoal e material, utilizados e necessários para o desenvolvimento da atividade; • Subprogramas específicos que possam ou devam ser desenvolvidos em benefício da operação, tais como de “Implantação do Relatório de Perigo”, “Prevenção do FOD”, “Conser¬vação da Audição”, “Trei- namentos Específicos”, “Segurança Ocupacional”, “Perigo Aviário”, “Manuseio de Cargas perigosas”, “Uso de Aparelhos Eletrônicos a Bordo”, “CFIT”, “Supervisão de Atividades Contratadas” e outros; e Documentos complementares tais como normas internas ou modelo de relatórios já existentes ou a serem criados. X – A MANUTENÇÃO O Objetivo primordial da manutenção é de impedir, sustar o pro- cesso de corrosão, deteriorização da peça de modo a estar em um limite aceitável que chamamos de limite para deterioração o quanto mais próximo do estão inicial. Estado Inicial – Um exemplo é quando a peça está nova. O correr do tempo – Qualquer peça a medida que o tempo passa fica exposta a corrosão, desgaste e fadiga devido as forças atuantes sobre o equipamento. Limite para deteriorização – Estabelecida pelo fabricante é um limite de deteriorização para operação da peça com um nível aceitável de segu- rança. Este limite pode ser estabelecido pela condição ou tamanho da peça da peça, por tempo de voo, por numero de pousos ou ainda por ciclos. O processo de deteriorização é continuo. - MANUTENÇÃO PREVENTIVA X CORRETIVA Uma manutenção preventiva eficaz reduz consideravelmente a ne- cessidade de uma manutenção corretiva. Preventiva – Estabelecida pelo fabricante, estrutura como devem ser realiza- das as inspeções e troca de peças da aeronave, em um processo continuo a medida que a aeronave completa horas de voo, ciclos ou determinado nume- ro de pousos. (Verificações e inspeções) Corretiva – Toda vez que algum componente ou equipamento que é essencial para operação da aeronave apresentar falha, será encaminhado à manuten- ção. O ideal e que não haja manutenção corretiva, pois as preventivas devem garantir um estado perfeito de operação não havendo panes. (Correção de limites inadmissíveis) Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 103 12 mar 2011 - SISTEMA DE MANUTENÇÃO Deve abranger os seguintes aspectos: Planejamento, Controle, Execução e Qualidade. Planejamento – Manuseio das informações básicas fornecida pelo fabricante e seu programa de manutenção aplicado na organização que opera a aero- nave. O programa não deve ser alterado para fins de simplificar o processo, poderá sim ser alterado para qualquer ação que aumenta o índice de segu- rança da aeronave por exemplo verificar e testar determinado componente com maior freqüência do que estabelecido pelo fabricante. Controle - É realizado um controle especificando todos os processos de ma- nutenção que a aeronave teve, cada vez que a mesma entrar na oficina será aberta uma de OS (Ordem de Serviço) que será posteriormente arquivada. Todo o controle de manutenção da aeronave toma como base o Diário de bordo, daí a importância de o tripulante preencher-lo corretamente, com as horas efetivamente voadas, sob pena de prejudicar o processo e colocar em risco a segurança da aeronave. Será preenchido adicionalmente pela oficina, mensalmente cadernetas de célula, hélice e motor que basicamente é o histórico da estrutura da aerona- ve, hélice e motor separadamente. Execução – O serviço é realizado por um mecânico que preenche a OS por cada serviço realizado, após cada item do processo executado o supervisor confere os itens realizados e assina por cada um deles. No pressuposto da segurança de voo quatro olhos vêem melhor do que dois e ninguém e bom juiz quando agindo em causa própria. Qualidade – Devera haver um inspetor de qualidade e o mesmo não devera fazer parte da equipe de execução cabendo a este somente se assegurar quanto à qualidade dos processos de manutenção. XI - CUIDADO COM COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES Já ocorreram acidentes no passado cujos principais fatores contri- buintes foram os combustíveis. Devemos ter cuidado para respeitar os procedimentos em proces- sos de estocagem, transporte, manuseio e reabastecimento. Para haver fogo é preciso: VAPOR DE COMBUSTÍVEL – FONTE DE IGNIÇÃO – OXIGÊNIO • Devemos ter cuidado para não facilitar a dissipação deste vapor e ini- bir a existência de fontes ignitoras nas proximidades do combustível. • Utilizar-se do Fio terra antes do abastecimento, a eletricidade está- tica acumulada na fuselagem em contato com o bico de reabasteci- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 104 12 mar 2011 mento pode gerar faísca. • Não misturar combustíveis de diferentes octanagens. • Cuidado na contaminação do produto ao colocar-lo em vasilhames que não estão limpos. • O tripulante deve estar presente no momento do reabastecimento • Verificar no caminhão de abastecimento o adesivo identificando tipo correto do combustível e adicionalmente verificar por cor e cheiro. • Não utilizar combustíveis estocados há muito tempo, pois após perí- odo prolongado as características físico-químicas do produto se alte- ram principalmente em recipientes de pouca movimentação. • Os combustíveis quando deteriorados tendem a modificar sua cor, perdem limpidez, podendo apresentar depósitos sólidos e modifica- ção de odor. • A presença de água nos taques é comum devido à condensação da umidade atmosférica aspirada pelos suspiros ou bujões do reabaste- cimento. • DRENAR ANTES DE TODO VOO. • Água decantada no fundo do tanque pode ocasionar a insuficiência na alimentação do motor, congelamento parcial no carburador e até proliferação de micro-organismos que podem contribuir com a corro- são das paredes dos tanques e órgãos de bombeamento. • Cuidados com poeira e chuva no reabastecimento que podem conta- minar o combustível. Ao utilizar lubrificantes deve-se tomar o cuidado de usar a espe- cificação correta, conforme viscosidade recomendada pelo fabricante, não utilizar aditivos ao óleo pois os mesmo já possuem na proporção correta. Verificar também a especificação de fluidos hidráulicos e graxas antes de utilizar. “Os mágicos já descobriram eu as pessoas vêem mas não observam...” CUIDADO ! - Observe o reabastecimento - Cheque a identificação do combustível no caminhão de reabasteci- mento - Sinta o odor para discernir AV-GAS de JET FUEL (Querosene) - Colha amostra visual o AV-GAS e Azul ou verde já o JET FUEL e incolor ou palha. Por fim recomenda-se ao piloto constanteestudo, reciclagem e pre- paração afim de tornar cada vez mais seguro o voo. No trabalho diário cuidados com a operação da aeronave, planejamento do voo, critérios técnicos e limitações do equipamento, meio ambiente e manu- tenção da aeronave. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 105 12 mar 2011 Estudo recomendado: • CRM • C.F.I.T. • BOGUS PART • VISTORIA DE SEGURANÇA • METEROLOGIA • PSICOLOGIA NA ATIVIDADE • ESTRESSE • FATIGA • ALCOLISMO • FOD • RUNWAY INCURSION • PPAA • GERENCIAMENTO DO RISCO • MANUTENÇÃO • WINDSHEAR • RUIDOS EM AVIAÇÃO • PERIGO AVIARIO • CARGAS PERIGOSAS “SEGURANÇA DE VOO NÃO E UM ATO EGOISTA” “SE É VERDADE QUE NADA E PERFEITO, TAMBEM E VERDADE QUE TUDO PODE SER MELHORADO” Voe Seguro para voar sempre. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 106 12 mar 2011 Capítulo 06 RECURSOS AUDIOVISUAIS I - INTRODUÇÃO Sem dúvida, a comunicação instrutor - aluno é importante e deve ser bem feita, para isso, o emprego de técnicas e de recursos adicionais não devem ser negligenciados. O estudo do emprego correto e oportuno de recursos audiovisuais facilitará ainda mais a instrução. Este capítulo apresentará a filosofia do emprego dos auxílios senso- riais, bem como os princípios básicos que deverão ser seguidos. Você conhe- cerá as maneiras de utilizar os diversos tipos de ajudas sensoriais para a sua instrução, fazendo com que os recursos audiovisuais se tornem de grande valia na instrução. II - CANAIS DE PERCEPÇÃO Para entendermos os porquês dos recursos audiovisuais, precisa- mos entender como os seres humanos percebem o mundo. O que não é inato, nós recebemos através dos sentidos, ou seja, o aluno aprende por meio dos seus cinco sentidos, conhecidos como canais de comunicação ou percepção. Pesquisas realizadas em indivíduos adultos, mental e psicologica- mente normais, indicam que os nossos sentidos são capazes de aprender uma determinada porcentagem da comunicação total em qualquer que seja o processo. • Visão - 75% • Audição - 13% • Tato - 6% • Paladar - 3% • Olfato - 3% Pesquisas também comprovam que, quando o volume de informa- ções é relativamente grande e o assunto é desconhecido do aluno, a mente funciona como um filtro, selecionando os detalhes que a seu ver sejam impor- tantes na comunicação. Sendo assim, somente uma pequena porcentagem é absorvida. Como a grande massa das informações é fornecida verbalmente (13% de apreensão pelo visto anteriormente) e há ainda o filtro da mente a diminuir essa porcentagem, conclui-se que há necessidade de ampliar a utilização dos outros sentidos. Pesquisas didáticas comprovam que o emprego adequado dos re- cursos sensoriais, com a combinação de dois ou mais estímulos específicos, principalmente a audição e a visão, pode fazer com que a assimilação da mensagem seja aumentada em até 35% e por um período de tempo maior. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 107 12 mar 2011 III - PRINCÍPIOS DE UTILIZAÇÃO Quando utilizamos apenas a voz para transmitir uma idéia, corremos o risco de nosso aluno perceber nossa intenção de modo diferente, isso em função da sua capacidade, discernimento e experiência anteriores. O uso de mais um sentido nesta comunicação permite uma aprendi- zagem mais efetiva e uniforme. Um recurso visual pode, por exemplo, simplificar idéias abstratas, tornando o processo de comunicação mais objetivo e concreto, ou ainda eco- nomizar tempo, visto que longas explicações verbais podem ser substituídas pela simples observação de um modelo, diagrama ou desenho. Já sabemos da importância do emprego de recursos sensoriais, em especial os audiovisuais, mas como e quando utilizá-los é o nosso principal enfoque. A resposta a estas perguntas inicia-se com a observação dos PRIN- CÍPIOS DE UTILIZAÇÃO. 1 - Validade: com objetivo determinado, contendo exclusivamente, o in- dispensável para a fixação da mensagem. Jamais usar um recurso audiovisual para “distrair” ou “agradar à vista”. 2 - Adequabilidade: relacionado com o tema do assunto, nível e tama- nho da audiência, e com o ambiente onde serão utilizados. 3 - Simplicidade: evite transformar em “obras-primas”, pois a audiência trocará o interesse do assunto pela “obra” em si. 4 - Oportunidade: recursos na hora oportuna. As ajudas de instrução, ou seja, os nossos recursos audiovisuais devem ser sempre utilizados no seu trabalho como instrutor, levando-se em conta, é claro, a disponibilidade para a sua confecção e o recurso adequado. Sua utilização, para maior eficiência, deve seguir as seguintes nor- mas: a) A ajuda deve ser confeccionada para dar suporte à instrução e não ao contrário, ou seja, o instrutor se servir das ajudas para dar a sua aula. b) Expor a ajuda somente o tempo necessário, para evitar seja a mes- ma usada quando se estiver falando de outro assunto (princípio da oportunidade). c) Principalmente quando a ajuda for visual, como transparência, “sli- de”, cartaz etc, não conversar com a “ajuda”, pois perderá o conta- to visual, além do que “dar as costas” demonstra desconsideração com a audiência. d) Manter sempre à mão as “ajudas” necessárias; evite perder tempo e credibilidade junto à audiência ao procurar “ajudas” de instrução ou até trocá-las. e) Usar uma ponteira para mostrar detalhes nas “ajudas” apresenta- das. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 108 12 mar 2011 De maneira complementar, é importante observar que as ajudas vi- suais devem ser, sempre que possível empregadas, porém adequadamente, pois se o canal da visão beneficia o instrutor em 75%, por um lado, por outro lado este mesmo sentido quando não bem utilizado tem efeito oposto. Ex.: O aluno passa a olhar aspectos do instrutor, como a sua aparência, a sua gesticulação etc. Até agora mostramos os princípios da utilização dos recursos para torná-los ajudas de instrução de uma maneira genérica. No próximo tópico veremos quais as vantagens e como utilizar cada recursos especificamente. IV - EMPREGO DOS RECURSOS AUDIOVISUAIS A seguir veremos os principais recursos audiovisuais utilizado na instrução aérea, tanto teórica como prática, assim como suas vantagens e desvantagens. 1 - QUADRO DE GIZ OU QUADRO BRANCO E um dos mais antigos recursos sensoriais e ainda hoje bastante utilizado. Apesar da sofisticação dos quadros atualmente utilizados é um re- curso bastante simples, de fácil confecção e manutenção, econômico e durá- vel. Contudo, tem como principais desvantagens o fato de ser sujo (no caso de quadro de giz) e de pouca dinamicidade, além de ao escrever, perder-se o contato visual com a audiência. Como utilizar: • Escrever com letras legíveis e tamanho adequado. No caso de es- quemas e desenhos, convém prepará-los antecipadamente; • Utilizá-lo apenas como recurso acessório, tendo-se o cuidado de manter uma correta ortografia, a ordem e a limpeza; • Não se colocar em frente ao quadro, atrapalhando a visão da audiên- cia; • Não falar voltado para o quadro, enquanto escreve. Exemplo de quadro de giz onde as idéias devem estar escritas de maneira correta, limpas e organizadas Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA109 12 mar 2011 2 – FLANELÓGRAFO Espécie de quadro de flanela que prende por aderência gravuras, letras, frases, figuras etc. (com fitas de lixa presas no verso). Os elementos que se quiser fixar no flanelógrafo podem ser recorta- dos em cartolina, isopor ou representados em madeira fina (contraplacado). Como utilizar: • Planejar e não improvisar a utilização do flanelógrafo; • Colocar o flanelógrafo ligeiramente inclinado para trás e em posição adequada à visualização de toda a audiência; • Dispor todos os elementos de apresentação próximos da ajuda e em ordem conveniente de modo que não sejam necessários muitos mo- vimentos; • Numerar cada peça do material, para facilitar a ordem de seqüência; • Colocar o material sobre o flanelógrafo pressionando para baixo, a fim de que o material aderente se fixe melhor à flanela; • Apresentar o material passo a passo, obedecendo ao plano e ao rit- mo necessário; • Falar antes ou depois de colocar a peça do material no flanelógrafo e ficar sempre ao lado quando estiver discorrendo sobre o assunto; • Usar o mínimo de peças juntas; • Focalizar a atenção em apenas um ou poucos itens de cada vez; • Usar cores contrastantes na confecção das peças, que devem ser atraentes, interessantes e estar sempre em bom estado de apresen- tação; • A confecção deverá ser tecnicamente correta e executada com previ- são; as figuras e letras devem ser em tamanho adequado ao local da exposição (princípio da adequabilidade); • As ilustrações devem transmitir a mensagem direta e claramente (princípio da validade). Exemplo de flanelógrafo sendo utilizado durante uma aula de biologia Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 110 12 mar 2011 3 – MURAL Apesar de ser um recurso estático, é de grande utilidade. Deve ser usado sempre que for necessário mostrar algo que deva ficar exposto duran- te toda a sessão. Vários quadros-murais superpostos podem ser utilizados, formando o que se chama de álbum seriado. Como utilizar: • A confecção deverá ser tecnicamente correta e executada com preci- são; as figuras e letras devem ser em tamanho adequado ao local da exposição; • As ilustrações devem transmitir a mensagem direta e claramente; • Deverá estar sempre em bom estado de apresentação; • Sublinhar sempre em cor diferente a idéia que necessite ser destaca- da; • Usar papel em cor adequada; • Afixar o mural ou murais com antecedência no local destinado à exposição, planejando sua apresentação; • Sempre que for utilizado mais de um mural, saber onde está cada um e em que seqüência deverão ser apresentados; • Manter os murais sempre cobertos, ou por painéis ou por folhas de papel, que serão retiradas no momento oportuno; • Uma vez utilizado, recolher o mural ou cobri-lo novamente; cuidado para não descobrir ou puxar o mural errado; • Fazer marcações indicativas da ordem de apresentação dos murais. Exemplo de mural representando as partes do corpo humano na língua in- glesa Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 111 12 mar 2011 4 – MODELO Um modelo é uma cópia real de uma peça de equipamento ou de instrumento. Poderá ser ou não do tamanho real do objeto que está sendo representado. Quanto mais se aproximar do objeto real, maior será o auxílio prestado pelo modelo. Como utilizar: • Empregar esse tipo de ajuda somente para grupos pequenos; • Os modelos são muitos utilizados durante os “briefings” para a instru- ção aérea. Exemplo de modelo de um Alfa Jet que pode ser utilizado em instruções pré- -vôo 5 - PROJETOR DE SLIDES Um dos mais sofisticados recursos audiovisuais, devendo ser ob- servados certos detalhes técnicos para sua utilização. Tem como principal vantagem o fato de poder mostrar as cenas com clareza e realismo. Vários projetores podem ser usados simultaneamente, acoplados a um equipamen- to denominado “dissolver”, dando grande movimento às cenas e tornando a apresentação bastante atraente. Como principais desvantagens do projetor de “slides”, temos: • Necessidade de escurecimento do ambiente, podendo levar a audi- ência à sonolência; o expositor perde o contato visual com a platéia; • Os “slides” são apresentados numa ordem rígida, tomando quase impossível a flexibilidade necessária às solicitações da audiência; • O manuseio do aparelho não é tão simples quanto se apresenta à primeira vista. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 112 12 mar 2011 Um dos muitos modelo de projetor de slides 6 – RETROPROJETOR É provavelmente o mais útil e versátil recurso audiovisual, sendo largamente utilizado. Suas vantagens de utilização são: • Manuseio simples; • Utilização sem necessidade de escurecimento do ambiente • Não há perda de tempo durante a exposição; • As transparências podem ser executadas pelo próprio instrutor; • Existem diversos tipos de transparências e diversas técnicas para a sua confecção. Exemplo de retroprojetor Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 113 12 mar 2011 Como utilizar uma transparência: 1) Esteja sempre apto a acrescentar alguma coisa ao que está escri- to na transparência. Se necessário, enfatize um dado importante. Esteja apto a recordar uma informação, ou alterar a seqüência de apresentação, quando precisar. 2) Faça uso do interruptor “liga-desliga”, que foi projetado para esse fim. Isso não prejudica a lâmpada. 3) Use a técnica da revelação, ou “strip-tease”, expondo cada item iso- ladamente ou em conjunto com as anteriores, se precisar. Para isto, recorte a cobertura em tiras. Desligue o retroprojetor para qualquer troca de informação. 4) Evite ler o que está escrito na transparência ou na tela. Isso desvia- rá sua atenção da classe e demonstra insegurança e falta de plane- jamento. Se tiver que ler, leia cópia existente no púlpito, de maneira clara e pausada. 5) Evite cortar palavras em uma transparência a não ser que seja es- tritamente necessário. A área utilizável e de 19x23 cm (menor que a moldura). 6) Use palavras “chaves” que transmitam a idéia principal a ser pas- sada (validade). Frases longas não são gravadas e o filtro do aluno pode “apagar” elementos importantes. V – CONCLUSÃO Além dos principais recursos aqui citados, muitos outros existem e outros a tecnologia encarregar-se-á de inventar. Mas o importante é que es- tas informações, aliadas a um treinamento consciente, permitirão uma melhor assimilação da sua mensagem. O emprego correto dos recursos audiovisuais não garante uma co- municação efetiva, pois as palavras são ainda, por excelência, o meio de comunicação humana. Mas, se os utilizarmos de maneira suplementar, serão poderosos reforços à motivação, ajudando a fixar exatamente a idéia a ser transmitida para seus alunos. BIBLIOGRAFIA DALE, Edgard. Audiovisual methods in teaching. The Dryden Pren, 1974. CARVALHO, Irene Melo. O processo didático: recursos audiovisuais para professores. s. n.t. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 114 12 mar 2011Capítulo 07 O INSTRUTOR E A COMUNICAÇÃO I – INTRODUÇÃO A comunicação é uma necessidade. À medida que as sociedades evoluem, aumentando o campo do conhecimento humano, mais necessária é a habilidade da comunicação. Pesquisas recentes evidenciam esta neces- sidade na atividade aérea, principalmente devido à complexidade dos proce- dimentos e à urgência de respostas. Na instrução aérea, ainda temos o fator da relação instrutor-aluno e a transmissão de conhecimentos em condições desfavoráveis. A junção destes dois argumentos mostra a importância do domínio das técnicas de comunicação para o desempenho profissional. II - ATRIBUTOS DO INSTRUTOR Atributo nada mais é do que um conjunto de posturas internas de um instrutor. O que faz um instrutor ser eficiente? Como se fazer compreender? A resposta a estas perguntas é simples, porém, exigirá uma cons- tante reflexão ao longo de suas atividades. O instrutor independente do pre- paro cuidadoso de sua tarefa deve ter credibilidade. A credibilidade pode ser composta em três aspectos distintos: o pri- meiro e o mais importante é a honestidade, é através dela que conquistamos a confiança dos alunos, quebrando barreiras e nos fazendo entender. Em suma, o expositor sincero está em paz consigo mesmo e pode desenvol- ver outro atributo, que é o conhecimento do assunto e do elemento humano (seus alunos). O último aspecto é uma boa organização e apresentação das idéias. Sinceridade e conhecimento são desenvolvidos ao longo da carrei- ra. O que resta aprimorar é a habilidade em organizar e apresentar os conhe- cimentos, o que será analisado a seguir. III - MÉTODO DE APRESENTAÇÃO Para organizar e apresentar idéias, é recomendável que o instrutor esteja munido de um sumário, deste modo ele terá uma espécie de guia das idéias principais, que servirá como linha mestra da exposição. Com o sumário, a preparação antecipada da tarefa e a própria práti- ca individual, teremos uma flexibilidade de adaptação às reações da audiên- cia (alunos), cujo resultado será mais eficiente. Ao planejar e preparar uma “exposição oral” (aula ou briefing), o instrutor não segue regras fixas que garantam o sucesso de sua comunica- ção, mas deve ater-se ao seguinte princípio: a preparação tem de ser a mais completa e detalhada possível, porém sem limitar a tão necessária flexibilida- de que lhe permita ajustar-se às reações dos alunos. A cada momento desta Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 115 12 mar 2011 fase, o instrutor deve ter em mente que o objetivo básico da preparação é tornar a mensagem, o conteúdo da apresentação, o mais claro, objetivo, ade- quado e compreensível para a sua audiência. Como sugestão, segue uma “lista de verificações”, que pode ser utilizada no planejamento e na preparação desta tarefa: 1 - SELEÇÃO E LIMITAÇÃO DO ASSUNTO Seleção do assunto Selecionar o assunto de acordo com a sua aplicação na instrução aérea ou na formação do piloto. Limitação do assunto Alguns assuntos são de tal maneira, extensos ou complexos que se toma impossível esgotá-los dentro de um tempo limitado. Neste caso, cabe ao instrutor adequar a amplitude do tema ao tempo disponível, sem esquecer, contudo, dos aspectos que realmente interessam aos alunos. Normalmente, pode-se limitar um tema da seguinte forma: • Pela divisão do tema em partes (assuntos), apresentando uma delas. Ex.: Tema: Aeronave EMB-712 Divisão - Sistema Hidráulico - Sistema Elétrico - Sistema de Combustível • Pela escolha de um dos aspectos do tema. Ex.: Tema: Aeronave EMB-712 Divisão - Procedimentos Normais - Procedimentos de Emergência 2 - ESBOÇO INICIAL Neste ponto, o instrutor pode iniciar a pesquisa e a ordenação de sua tarefa. Partindo do conhecimento que tem do assunto, inicia a elaboração do esboço, sem grandes preocupações de ordem estética ou de desenvolvi- mento do assunto, cuidando apenas de anotar tudo o que deve ser dito. Dois itens devem estar presentes nesta fase: as fontes de consulta e os apoios, que ajudarão os alunos a compreender com maior facilidade. 3 - MONTAGEM DO SUMÁRIO Após preparar e fundamentar seu trabalho, o expositor irá preparar a montagem final, apoiado no conteúdo do esboço inicial. Nesta transição é oportuno salientar que nunca devem ser perdidos de vista os princípios da clareza, objetividade, precisão e concisão. Deverá ser observada, para a montagem do sumário, a seguinte seqüência: Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 116 12 mar 2011 Assunto => Objetivo => Introdução => Desenvolvimento => Conclusão Não há necessidade de se escrever tudo, mas apenas os tópicos principais. Com um sumário bem montado o instrutor terá um excelente guia para orientá-lo. Temos, porém que definir o que será feito na introdução, no desenvolvimento e na conclusão, como veremos no item seguinte. Todas estas etapas devem ser listadas no sumário, que servirá base para a realização do trabalho escolar, assim, com o assunto elaborado, o passo seguinte será tornar efetiva a comunicação, ou seja, transmitir estes conhecimentos já organizados. IV- ORGANIZAÇÃO DE UMA AULA Modernamente, o processo ensino-aprendizagem implica em um “diálogo” entre instrutor e aluno, não devendo de modo algum ser interpreta- das como independentes as atividades de um e de outro. Por essa razão, é necessário um ajuste perfeito entre os procedi- mentos dos mestres e dos discípulos, exigindo naturalmente, uma organiza- ção bem elaborada das aulas a serem ministradas. Uma aula deve ter uma introdução, um desenvolvimento e uma con- clusão, como organização fundamental, podendo cada um desses itens pos- suir sistemas diferentes na sua evolução dependendo da aula, instrutor ou escola. Recomenda-se para um curso de instrutor de vôo, a seguinte padro- nização: INTRODUÇÃO - Atenção - Motivação - Objetivo - Revisão - Orientação DESENVOLVIMENTO - Informação - Demonstração - Aplicação Prática - Avaliação CONCLUSÃO - Sumário (Recapitulação) - Leitura Recomendada - Frase de Efeito Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 117 12 mar 2011 1 – INTRODUÇÃO Na introdução está o ponto mais importante da aula. Nessa parte, o instrutor tem que preparar o espírito do aluno para a recepção e elaboração mental das informações que pretende apresentar ao longo da matéria a de- senvolver. Essa “introdução” compreende as seguintes partes: • Atenção: no primeiro contato com os alunos, deve-se, inicialmente chamar a atenção deles para a pessoa do instrutor, pois geralmente quando este chega em sala de aula, os alunos se encontram com a atenção dispersa. O instrutor deverá atrair para si o interesse de todos os alunos e, através de um ato contínuo, transferi-lo para o assunto da aula. Pode utilizar uma pergunta geral à respeito da ma- téria, uma piada, ou ainda cumprimentar a audiência, enfim, utilizar um recurso para chamar a atenção de seus alunos. • Motivação: é a parte em que o instrutor procura criar, no aluno, a ne- cessidade de aprender o que lhe pretende apresentar do assunto da aula. É o momento de deixar clara a importância do conteúdo na vida do aluno. Ou seja, motivar os alunos para o trabalho a ser desenvol- vido. • Definição do objetivo: nessa fase iremos definir os passos que serão seguidos para atingir o objetivo proposto. Neste momento o método recomenda a apresentação de um roteiro que deverá ficar sempreà vista da audiência servindo de referencial para os alunos situarem-se ao longo da aula. • Revisão: nessa parte, quando for o caso, o instrutor faz o retrospecto dos assuntos já ministrados e que são importantes para o acompa- nhamento do trabalho escolar que deseja desenvolver. • Orientação: é a parte na qual o instrutor dirá, apresentado um roteiro aos alunos e em rápidas pinceladas, quais os assuntos que vão ser tratados naquela aula, bem como, explicará como vai desenvolvê- -los. Lembre-se que o “êxito dos trabalhos escolares está na razão direta de um bom planejamento das aulas e da segurança e clareza com que forem orientados”. 2 – DESENVOLVIMENTO A fase do desenvolvimento é a parte que abrange oitenta por cento da lição e se constitui na “aula propriamente dita”. Para o desenvolvimento, deve-se preparar o referido sumário com as idéias agrupadas seguindo o exposto no roteiro, não se esquecendo de suportá-las com apoios (citações, exemplos, gráficos, estatísticas etc.). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 118 12 mar 2011 Essa fase se apresenta constituída por quatro partes que, didaticamente, obedecem a uma seqüência pré-determinada, visando um melhor rendimen- to da instrução. Essas partes são: • Informação: é a parte em que o instrutor realiza a síntese inicial do assunto e apresenta-o aos alunos. • Demonstração: é a parte em que o instrutor procura comprovar a veracidade da informação prestada, quer por meio de documentos, quer por meio de citações, analogias ou qualquer outro meio, a fim de que o aluno possa aceitar com confiança a informação recebida, (atividade de argumentação feita pelo professor). • Aplicação prática: é a parte em que se procura mostrar a importância e aplicação da “informação” na vida real. (atividade realizada pelos alunos). • Avaliação: é a fase de verificação da apreensão, por parte dos alu- nos, dos conhecimentos informados. Uma vez vencida essa última parte, uma nova informação é presta- da e o ciclo se reinicia nos mesmos moldes. 3 - CONCLUSÃO A conclusão é uma síntese do trabalho, com a preocupação de não se apresentar dados novos, todo o assunto dever ser esgotado no desenvol- vimento. Para tal deve-se ter preparado no sumário uma revisão dos tópicos mais importantes (sempre se reportando ao roteiro). Após um resumo das partes principais deve-se mostrar a importância do assunto dado (remotivar) para encerrar o trabalho (fecho). A última fase da aula é a conclusão que, como as outras, se constitui em partes, para atingir seus objetivos. Esta fase abrange três partes, que são: • Sumário (Recapitulação): onde o instrutor deve realizar um retros- pecto dos tópicos principais do que foi explanado durante a aula, cuidando, entretanto, para que, nessa ocasião, “não seja introduzida nenhuma idéia nova” aos assuntos ministrados. E o momento em que se deve apresentar um esquema sucinto que possibilite ao aluno mais uma oportunidade de “fixação” do assunto estudado. • Leitura recomendada: é a parte final da aula, onde o instrutor deve apresentar a relação dos livros, manuais, revistas, que devem ser lidos, ou exercícios que devam ser realizados, a fim de permitir aos alunos, não só uma ampliação dos conhecimentos adquiridos, mas, também, melhor fixação da aprendizagem. • Frase de efeito: Consiste na exposição de um pequeno texto para reflexão dos alunos V - Apresentação de uma Exposição Oral Uma exposição oral pode ser comparada, sem grandes exageros, à exibição Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 119 12 mar 2011 de um bom espetáculo de teatro, não no sentido da peça em si, mas na pre- paração e no desempenho, no qual os ouvintes representam os alunos, e o expositor, o artista. Um indivíduo dotado de pouca experiência verificará que a arte de falar para um grupo se toma mais fácil na proporção em que aumentam a experiência e a confiança. O “medo da turma” ou o “medo de falar em público” constitui a causa mais freqüente do insucesso dos expositores: cerca de 80% são atacados por esse mal sempre que iniciam uma exposição. Normalmente, o medo é provocado pela pouca experiência do expo- sitor; mas isso é natural, não deve ser considerado como fator determinante de boa ou má apresentação. Este “medo” pode ser reduzido, desde que se tomem alguns cuida- dos. Para tanto, o instrutor deve: • Realizar um planejamento e uma preparação da exposição, de ma- neira que domine perfeitamente o assunto; • Praticar a exposição antes da apresentação. Se possível, solicitar a avaliação de algum colega; • Iniciar a exposição de maneira calma e deliberada; conscientizar-se por fim, que o objetivo da exposição é transmitir ensinamentos, lem- brando-se que os ouvintes (alunos) ali se encontram para aprender, e não para criticá-lo. VI – Técnicas de Comunicação A efetividade de uma exposição repousa, em ultima analise, no que e visto, ouvido e compreendido. Para tal, e necessário que, paralelamente a preparação do assunto o instrutor aplique uma serie de técnicas de comuni- cação entre o apresentador (instrutor) e os ouvintes (alunos). Vejamos O Expositor e visto A maneira pela qual o expositor se apresenta causa uma impressão duradoura na audiência, podendo ajudar bastante na aceitação do próprio assunto a ser tratado. Para tanto, ele deve atentar para alguns requisitos, como por exemplo, a atitude, que deve ser natural e espontânea. Uma postu- ra correta e uma atitude de autoconfiança colaboram para a credibilidade do instrutor. Devem ser evitados o excesso de rigidez, as atitudes tímidas e as displicências. A correção no trajar e a higiene pessoal também são fundamentais para a aceitação do apresentador. A gesticulação e a movimentação dão vi- vacidade à apresentação. Não os empregando, o expositor poderá parecer constrangido e deixara de utilizar excelentes meios de tornar-se mais eficien- te. Há apenas uma regra importante a ser observada. Fazer com que ambos, gesticulação e movimentação, estejam coordenados com o que se fala. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 120 12 mar 2011 Uma gesticulação e movimentação adequadas facilitam a comunica- ção. Movimentos cadenciados, maneirismos ou cacoetes desviam a atenção dos alunos e por isso, devem ser evitados. O treinamento que deve antece- der a exposição é uma boa oportunidade para a correção destas deficiências. Finalmente, o contato visual é um dos melhores recursos utilizados para prender a atenção dos alunos. Deve ser dirigida igualmente a toda a audiência, procurando despertar em cada ouvinte o interesse pelo tema, na medida em que faz com que cada um se sinta participante. De outra forma possibilita o instrutor avaliar de imediato se o assunto abordado foi compre- endido. O Expositor e ouvido A voz do expositor é o melhor recurso de que dispõe para tornar a apresen- tação dinâmica, agradável e eficiente. Os fatores abaixo relacionados influem neste aspecto das Técnicas de Comunicação. a) Volume O volume da sua voz deve ser adequado ao tamanho do ambiente, e sugere-se variar o mesmo, vez por outra, para não tornar monóto- na a apresentação. b) Velocidade da oração Via de regra, a velocidade ideal e aquela ligeiramente menor do que a mantida numa conversação informal. A variação também é impor- tante e devem-se evitar os excessos. Se muito rápido, o expositor corre orisco de não ser entendido e, por outro lado, se muito lento a monotonia e o desinteresse poderão tomar conta da platéia. c) Pausa É outro recurso para o expositor, serve tanto para quebrar o ritmo da apresentação como para dar algum tempo a audiência a assimilar uma passagem importante. d) Dicção Palavras resmungadas ou mal pronunciadas não serão ouvidas ou entendidas, resultando na perda da eficiência da comunicação. A clareza, aliada a correção da pronuncia, é fundamental para a trans- missão de idéias. e) Locução. É o estilo oral do expositor. Um dos erros mais comuns é uma expo- sição oral a ser conduzida como se fosse um discurso (laudatório, comemorativo ou mesmo político) que tivesse outras finalidades e características. O Expositor e compreendido Para que a comunicação oral atinja seus objetivos, faz-se necessário que Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 121 12 mar 2011 haja uma perfeita compreensão e assimilação da totalidade do assunto apre- sentado. Alem da adequação do tema apresentado e dos demais cuidados considerados durante o planejamento da apresentação, toda exposição deve progredir sem atritos ou interrupções não intencionais. Desperto o interesse dos alunos, a melhor maneira de conservá-lo é desenvolvendo o raciocínio numa seqüência lógica e continua. Cada ponto ou idéia deve ter relação de- finida com os tópicos anteriores e posteriores, daí a importância do uso das transições. O assunto deve ser esmiuçado e esgotado, mas nunca além do necessário, para não confundir a audiência com dados e idéias supérfluos. A clareza com que são apresentadas as idéias definirá boa parte do nível de compreensão obtido numa apresentação. Em conseqüência, a seleção das palavras que irá empregar deve ser uma preocupação do expositor. Finalmente, a capacidade de adaptação às reações da audiência é muito im- portante para que o instrutor saiba, a cada momento, se o assunto abordado está sendo assimilado por todos. Um eficiente contato visual constatará o nível de compreensão dos participantes. A partir desta permanente observação notar-se-á se a compre- ensão está sendo prejudicada ou não. O expositor não só pode como deve reformular idéias, relembrar conceitos ou mesmo esclarecer pontos. Even- tualmente pode acontecer que uma frase ou mesmo um dito qualquer, mal colocado, poderá mudar o estado de ânimo da audiência. Ferindo suscepti- bilidades, reformule-o de imediato. Se por outro lado este foi estimulante e motivador, não vacile, procure explorá-lo adequadamente. VII - A INSTRUÇÃO AÉREA A instrução de vôo continua a ser uma das atividades didáticas mais caras, e este fator, por si só, já nos leva a uma maximização da atividade. Para tal, faz-se necessário conhecer o elemento humano e saber como ele interage na sociedade. O Instrutor deve procurar criar, em todos os momentos, um clima que favoreça a tendência e auto-realização dos seus alunos, evitando a de- pendência e a rejeição. Assim, cabe a ele ter sempre um comportamento profissional e altruísta. A observação sistemática, procurando responder a propósito prees- tabelecidos, como, por exemplo, um plano de matérias, ou observando o que carece de importância em determinada situação, é uma maneira eficiente de se eliminarem os erros de percepção. Vários instrumentos podem ser utilizados para uma observação sis- temática: anotações, fichas, escalas e quadros de vôo, entre outros. A interação social desejada na relação instrutor-aluno será baseada no respeito e na aceitação das diferenças individuais de cada um, visando estabelecer uma situação tal que as gratificações do processo ensino-apren- dizado experimentadas por um, resultassem em benefícios para todos. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 122 12 mar 2011 VIII - O INSTRUTOR NOS CONTROLES Os registros de acidentes incluem muitos casos em que os instruto- res deixaram os alunos errar muito, antes de tomar os comandos da aerona- ve. Este problema, sem dúvida, aparece com muita freqüência nas dis- cussões, principalmente em unidades de instrução. Os médicos e psicólogos afirmam que o simples reconhecimento de um problema é o fator primordial para a sua solução definitiva. Seria difícil aqui abordar esse problema sob to- dos os seus aspectos, mas algumas discussões serão benéficas, pois trarão à luz alguns conceitos já estudados. A maioria dos instrutores de vôo julga que, quanto menos interfe- rir nos comandos, estando a aeronave sob controle do aluno, melhor. Esta idéia (técnica) é boa em seu conceito básico. Porém, para ser efetiva, deve ser aplicada somente em casos específicos, não podendo ser generalizada. Uma aplicação generalizada poderia levar o instrutor a se acostumar a ela, demorando a reagir numa situação crítica, com determinado aluno. A dúvida do instrutor em assumir os controles nesta ou naquela situação confunde o aluno. Também não é boa prática “pilotar” o tempo todo, simultaneamente com o aluno, enquanto vai falando para demonstrar as manobras. Os alunos “fogem” deste tipo de instrutor - mas é difícil algum aluno passar por todo o seu treinamento sem conhecê-lo. E muito provável que, quando chegar à posição de instrutor, o aluno que teve essa experiência, vá reagir de modo totalmente contrário, um extremo igualmente indesejável. Isto parece ser verdadeiro para muitos novos instrutores. A medi- da que adquirem experiência, eles aprendem a respeitar as limitações e a desenvolver uma técnica mais realista. Somos levados a concluir que este problema prevalece mais no âmbito dos novos instrutores. Não queremos dizer “novos” no sentido de idade! Muitos oficiais antigos, quando se colocam na posição de instrutores pela primeira vez, ou mesmo após um longo perío- do de ausência da instrução, estão sujeitos às mesmas reações dos “novos instrutores”. Como regra geral, podemos afirmar que, sempre que o instrutor estiver em dúvida quanto à segurança em uma fase de determinada mano- bra, o correio procedimento é assumir os controles da aeronave. Esta afirma- ção pode parecer ridícula para alguns, porque é por demais óbvia. Mas, os fatores evidenciam que nem todos os instrutores acreditam nela. Parece haver algum tipo de efeito hipnótico em alguns instrutores quando enfrentam uma situação de risco potencial. Faça um exame de cons- ciência, você instrutor, e veja se consegue se lembrar de algum “lampejo hipnótico”, na ânsia de deixar que o aluno errasse para aprender, e de ter sido surpreendido por um pouso excessivamente brusco; atitude que você não tornaria a repetir, tomaria os comandos muito antes. E o caso da famosa indecisão: deve-se consertar o pouso mal feito ou não deixar que ele seja ruim? Isto exige sempre uma habilidade para decisões rápidas e acertadas. A correta linha de ação é estar apto para antecipar-se às situações perigosas, um pouco antes de sua ocorrência. Não há desculpas para um instrutor que permite que os acontecimentos evoluam normalmente, quando existe uma leve suspeita de um possível insucesso. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 123 12 mar 2011 Em uma auto-rotação, por exemplo, se houverem árvores entre o ponto de redução do motor e o local de pouso ou arremetida, o instrutor deverá ser capaz de prever, tão logo o aluno começar a descida, se ele vai passar ou não próximo das árvores. Esta é a hora de se tomar uma medida corretiva: arremeterou mandar que o aluno o faça. Não se justifica permitir a continuação da manobra se houver qualquer dúvida quanto à proximidade das árvores - muito embora isto continue a ocorrer quase diariamente. Per- gunte a qualquer instrutor, se você duvida. Todavia, não se pode isentar o alu- no de sua responsabilidade, ele também pode e deve iniciar uma arremetida se estiver em dúvida, ou então, questionar o instrutor. Em muitas situações, quando o aluno não estiver fazendo correta- mente determinadas manobras, o instrutor pode deixá-lo errar para aprender por si só. O bom instrutor saberá distinguir essas situações de outras que impliquem em segurança de vôo ou prejuízo à aprendizagem. Não há melhor maneira para aprender do que conseguir superar seus próprios erros com uma boa dose de esforço pessoal. Contudo, quebrar a aeronave não se en- contra nessa categoria de auto-aprendizagem e, se o instrutor “vale quanto pesa”, não deixará que o aluno chegue a tanto. O aluno pode ter o seu orgu- lho próprio ferido quando o instrutor toma os comandos justamente naquela hora em que ele tinha “certeza que o pouso seria manteiga”, mas a responsa- bilidade do instrutor pela máquina caríssima é muito grande. Instrutor e aluno, da mesma forma, devem compreender isto, e àquele deve ser dado o direito de duvidar, sempre que esteja agindo corretamente. BIBLIOGRAFIA SAFADY, Naief. O Processo da comunicação. São Paulo: Ceumar, 1979. WHIGHT, Charles R. Comunicação de massa. Rio: Bloch, 1968. BOZZA, Elton Vieira. Redação de documentos didáticos. Rio de Janeiro, 1986. BUENO, S. A arte de falar em público. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 1986. HIGHET, G. A arte de ensinar. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 124 12 mar 2011 Capítulo 08 A AVALIAÇÃO E CRÍTICA I – INTRODUÇÃO A “Escola Tradicionalista” – com os mestres transmitindo os seus conhecimentos anos a fio, sem mudar uma palavra nas aulas e pouco se im- portando com o fato dos alunos terem aprendido ou não - caiu por terra com a adoção dos princípios da Didática Contemporânea. O aluno passou a ser a figura central do processo ensino-aprendiza- gem, sem absolutamente tirar a importância do instrutor. Em conseqüência, o nível de eficiência de uma escola passou a focalizar principalmente a apren- dizagem de seus alunos. A aprendizagem é uma modificação de comportamento que pode ser definida, observada e medida, devendo haver sempre a preocupação com o aumento do rendimento. Quando se fala em medir aprendizagem e aumentar rendimento, entra a “Avaliação”, parte integrante do processo educacional. O instrutor, em especial o instrutor de vôo, deve conhecer requisitos básicos para uma eficiente medida de aprendizagem, principalmente porque a atividade aérea exige avaliação após cada “vôo”. Outro assunto importante para o instrutor é o conhecimento dos principais erros do avaliador. Uma avaliação eficiente melhora o rendimento da instrução beneficiando a todos: instrutor, aluno e organização de ensino. II - NOÇÕES DE AVALIAÇÃO A avaliação é um processo contínuo, localizado entre o Ensino e a Aprendizagem, que não se inicia ou termina com os alunos, como pode parecer. A avaliação se baseia nos objetivos de um curso, evitando que os mesmos possam ser interpretados de modo diferente do previsto e represen- ta a culminância do processo ensino-aprendizagem. Como os objetivos de um curso são muitos e envolvem um conhe- cimento extenso que não pode ser medido em sua plenitude, a solução ade- quada é obter amostras do conhecimento ministrado, através de testes edu- cacionais (exames, demonstrações, experiências etc.). Tais amostras devem abranger o maior número possível de objetivos. As amostras são submetidas à análise, que é a tarefa mais impor- tante da avaliação, sua verdadeira razão de ser. Nela são constatados os resultados parciais e globais da aprendizagem obtida e localizadas as de- ficiências existentes no ensino, na própria aprendizagem, no currículo e na avaliação. Após a correção das deficiências pelos setores competentes da Es- cola, o ciclo da avaliação continua com a obtenção de novas amostras e localização de novas deficiências, para a aplicação de novas correções e, assim, sucessivamente, permitindo aperfeiçoar cada vez mais o ensino, favo- recendo o rendimento da aprendizagem. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 125 12 mar 2011 Para que um teste educacional seja eficiente instrumento de me- dida, proporcionando amostras adequadas e representativas dos objetivos previstos no curso, este precisa preencher cinco requisitos: Confiança, Vali- dade, Objetividade, Abrangência e Diferenciação. Estes requisitos estão inti- mamente ligados e se afetam mutuamente, sendo importante conhecer não apenas os seus significados, como também as suas inter-relações. É praticamente impossível atender, num mesmo teste, aos cinco re- quisitos em seu grau mais elevado. Por essa razão, um teste é considerado eficiente quando os preenche equilibradamente. Vejamos: 1 – CONFIANÇA Um instrumento de medida é digno de confiança quando proporcio- na resultados persistentes. Se resultados idênticos são obtidos nas diversas ocasiões em que um mesmo instrumento é aplicado à mesma dimensão, esse instrumento pode ser considerado digno de confiança. A confiança tem sempre o mesmo significado, seja ela aplicada a medidas educacionais ou a balanças, termômetros, altímetro, etc. O termo refere-se somente à persistência dos resultados obtidos. Para estimar o grau de confiança de uma medida educacional, o problema é muito mais complexo que o de medir a confiança de um instrumento mecânico. Se por exemplo, foram usados os mesmos calibradores, em ocasiões diferentes, para medir a cavidade de um determinado cilindro, os resultados devem ser aproxima- damente iguais, pois a medida do cilindro não se altera apreciavelmente no período de tempo entre as medições. Não é este o caso de uma medida educacional, pois os elementos medidos, o conhecimento, o entendimento, as habilidades e capacidade do aluno não se mantém constantes. É previsto o aluno modificar-se entre duas aplicações de testes, pois ele adquire novos conhecimentos, e, ao mesmo tempo, pode esquecer algo que aprendeu. Esperar que o aluno se mantenha o mesmo seria tão sem razão quanto um técnico de laboratório esperar que a temperatura de um fluido permanecesse a mesma, durante leituras sucessivas, enquanto estivesse sendo aquecido por uma chama. Uma medida educacional pode ser considerada digna de confiança quando, aplicada a várias turmas de mesmo nível médio de conhecimento, proporciona resultados idênticos. 2 – VALIDADE Um teste é totalmente válido quando mede tudo o que lhe cabe me- dir. Sua validade será tanto maior: a) quanto mais representativo for seu conteúdo em relação ao que é previsto medir, e b) quanto menor for o seu grau de fraude ou adulteração, entendendo- -se como adulteração, nesse caso, a inclusão de qualquer coisa estranha à medida a ser feita. Exemplificando: um teste de matemática deve medir tudo o que for essencial dessa matéria, segundo os objetivos previstos, mas não pode me- dir, por exemplo, conhecimentos de Português. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 126 12 mar 2011 O fato de um instrumento de medida ser altamente digno de confian- ça não significa que seus resultadossejam válidos. É importante notar que ele pode ter persistência máxima de resultados (alta confiança) e não medir o que é previsto. Em outras palavras, um instrumento pode ter alta confiança e baixa validade, ao mesmo tempo. Se um mecânico deseja medir o diâmetro de vários rolamentos, uti- lizando um micrômetro de alta confiança, ele precisa estar certo de que as superfícies de contato dos rolamentos e do micrômetro estejam livres de su- jeiras e graxas. Se essas superfícies não estiverem bem limpas, as medidas obtidas não terão validade, pois estarão indicando o diâmetro dos rolamentos e mais a espessura da sujeira e da graxa. Um teste educacional segue os mesmos princípios: é totalmente vá- lido quando mede tudo e somente o que é previsto medir, de acordo com os objetivos estabelecidos. 3 – OBJETIVIDADE Quando o resultado de um teste expressa o conhecimento real de- monstrado pelo aluno, sem sofrer a influência das pessoas que o corrigem, significa que o teste foi altamente objetivo. O contrário ocorre quando as tendências ou opiniões pessoais de quem o corrige afetam, indevidamente, o seu resultado. Suponhamos como exemplo, que a direção de um hospital esteja examinando seis médicos, a fim de selecionar três deles para cargos de Che- fia, fato que implicará promoção e aumento salarial. Para essa finalidade, os médicos são submetidos a um criterioso tra- balho de seleção, abrangendo todos os aspectos essenciais para o eficiente desempenho dos cargos a serem preenchidos. Concluído esse trabalho, a escolha final dos médicos cabe ao dire- tor do hospital que, no entanto, influenciado pela sua opinião pessoal sobre os mesmos, decide em desacordo com o trabalho de seleção executado. A decisão é, portanto, pouco objetiva, como, aliás, costuma acontecer nas ava- liações de méritos ou desempenhos pessoais. Ao contrário de objetivo é subjetivo. No exemplo citado houve sub- jetividade por parte do diretor, na escolha dos médicos. Em medidas educa- cionais, os itens de dissertação tendem a ser subjetivos, pois os graus são geralmente influenciados pela opinião de quem os corrige, em função, por exemplo, da caligrafia, do estilo da redação, da extensão da resposta, etc. O grau de um teste com esse tipo de item varia de acordo com as diferentes pessoas que o corrigem, sendo que uma mesma pessoa corrigindo o mesmo teste em ocasiões diferentes, dificilmente manterá o mesmo resul- tado. Convém experimentar e comprovar! No entanto, a subjetividade de tes- tes contendo itens de dissertação pode ser reduzida consideravelmente, por meio de uma montagem criteriosa e de um método adequado de correção. Testes educacionais com altos índices de objetividade são aqueles que mantêm seus resultados em qualquer situação, independentemente das pessoas que os corrigem e do tempo decorrido entre diferentes corre- ções. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 127 12 mar 2011 4 – ABRANGÊNCIA Um teste deve proporcionar amostras representativas do todo a ser medido. Para isso, os diferentes assuntos envolvidos no teste devem ser medidos segundo a extensão de cada um deles, para que o resultado final represente realmente o todo. Suponhamos que o dono de um armazém de cereais quisesse testar um carregamento de trigo. Se ele apenas tirasse uma saca da parte superior do carregamento e a analisasse completamente, o seu teste seria deficiente e o resultado não poderia ser aplicado, com segurança, a todo o carregamen- to, pois a análise estaria baseada numa única amostra. O trigo da parte mé- dia ou inferior poderia estar estragado e, portanto, o teste não teria suficiente abrangência para ser realmente representativo de todo o carregamento. Se, em vez disso, o proprietário tomar cinqüenta tubos de teste, com trigo de sacas em posições diferentes no carregamento, ele poderá analisar uma quantidade total menor que a quantidade utilizada no exemplo anterior mas realizará um teste de maior abrangência e, portanto, mais representativo de todo o conteúdo do carregamento. Em avaliação educacional, um teste deveria constituir uma medi- da completa dos conhecimentos, ministrados e adquiridos, estritamente de acordo com os objetivos. Na melhor hipótese, porém, um teste proporcionará apenas uma amostra de todo o curso, assim como os cinqüenta tubos de trigo forneceram a amostra do carregamento total. Do mesmo modo que o proprietário do armazém obteve amostras de posições diversas, abrangendo, de modo geral, todo o carregamento de trigo, também o instrutor precisa certificar-se de que seu teste fornecerá amostras abrangentes e representativas dos objetivos previstos. Não se pode admitir, por exemplo, que vinte assuntos previstos para um teste sejam medidos através de amostras fornecidas por apenas cinco ou seis delas. 5 – DIFERENCIAÇÃO Um teste deve ser elaborado de modo que revele, também, peque- nas diferenças de aprendizagem, conhecimento ou habilidade entre os alu- nos. Se um mecânico desejasse medir o diâmetro de seis rolamentos, ligeiramente diferentes em tamanho e utilizasse uma régua para isso, pratica- mente não notaria diferença entre o menor rolamento e o seguinte, ou entre este e o terceiro, etc. Se, no entanto, usasse um micrômetro, poderia facilmente determi- nar a diferença entre o primeiro e o segundo rolamento, entre o segundo e o terceiro e assim por diante, até o último da escala. Isso porque o micrômetro, sendo de maior precisão, pode medir graduações muito menores do que a régua e, assim, indicar as pequenas diferenças requeridas para a precisão de medida. Em avaliações educacionais, um teste deve indicar as diferenças in- dividuais de retenção dos conhecimentos ministrados, segundo os objetivos. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 128 12 mar 2011 Quando um teste realmente diferencia os resultados individuais da aprendizagem obtida, ele possui as três propriedades seguintes: a) Apresenta uma área ampla de resultados; b) Os itens abrangem diferentes níveis de facilidades; c) Cada item diferencia os alunos que estão abaixo dos que estão aci- ma de determinado rendimento. Uma aplicação eficiente resulta de medidas e julgamento compara- dos com padrões previamente estabelecidos, permitindo verificar a eficiência do ensino e da aprendizagem e informar se os objetivos previstos estão ou não sendo atingidos, para possibilitar as correções necessárias. As medidas efetuadas devem fornecer resultados válidos e signi- ficativos. Para isso, devem ser empregados exames ou testes, em épocas diferentes durante um curso, como um exame prévio, exames periódicos e exame de fim de curso. III - AVALIAÇÃO POR APRECIAÇÃO Este sistema de avaliação consiste na apreciação direta, pelo ava- liador, do grau de proficiência do avaliado na execução de tarefas como: pi- lotar um avião, saltar de pára-quedas etc. Estes desempenhos só podem ser avaliados diretamente e não através de graus de conhecimentos obtidos em testes específicos de lápis e papel. A Avaliação por Apreciação ou Avaliação Subjetiva é, então, imprescindível na atividade de Instrutor de Vôo; seu es- tudo pode minimizar os muitos erros a que este sistema de avaliação está sujeito, decorrentes das diferenças individuais dos avaliadores. Como foi visto anteriormente, existem cinco requisitos inerentes a qualquer medida de aprendizagem, e estes devem ser considerados priorita- riamente num processo de avaliação por apreciação. 1 - CONFIANÇA E VALIDADE: As apreciações são válidas quando medem o que realmente devem medir na tarefa considerada, e são dignas de confiança quando osresultados de suas medidas são persistentes. É Simples determinar a confiança de uma apreciação. Por exemplo, a habilidade de um piloto em realizar aterragens pode ser apreciada pelas opiniões de diversos aviadores habilitados na prática desse desempenho. O grau de confiança dessa apreciação dependerá da maior ou menor coin- cidência entre as opiniões dos avaliadores. Se estas forem perfeitamente coincidentes, a apreciação, em seu todo, será totalmente digna de confiança. Para que a validade de uma apreciação seja determinada devida- mente, torna-se necessário verificar se os avaliadores apreciaram tudo e somente o que era previsto, o que é muito difícil de se constatar na prática, especialmente quando a apreciação é feita a critério de cada avaliador, sem obedecer a uma padronização. No entanto, se os avaliadores forem compe- tentes e se concordarem perfeitamente em suas opiniões, como no exemplo acima, pode-se dizer que, nessas condições, a apreciação também será to- talmente válida, salvo outra evidência em contrário. Desse modo, A VALIDA- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 129 12 mar 2011 DE DE UMA APRECIAÇÃO SERÁ PELA MEDIDA DE SUA CONFIANÇA, quando não se puder determiná-la diretamente. No entanto, é muito difícil haver total coincidência entre as opiniões dos avaliadores na apreciação de um mesmo desempenho, especialmente quando um adjetivo deva ser usado para classificá-lo. Mesmo que os avalia- dores concordem totalmente com a qualidade de um desempenho, um deles pode classificá-lo como “bom”, e os outros, como “regular”, “ótimo”, etc., to- dos querendo dizer à mesma coisa. Concluímos, pois, que a confiança e conseqüentemente, a validade das apreciações podem ser prejudicadas, por dificuldade de semântica. Os erros de semântica nas apreciações podem ser evitados pelo uso de números em lugar de adjetivos e, mais ainda pelo uso de escalas de apreciação adequadas a cada tipo de atividade. Essas escalas substituem com vantagens tantos os números quanto os adjetivos, sendo que estes últimos, além dos problemas de semântica, difi- cilmente podem ser escalonados devidamente para propiciar uma graduação correta em variadas apreciações. 2 - OBJETIVIDADE : Constituindo-se na não-interferência da opinião do avaliador no re- sultado, é a característica mais difícil obtida na avaliação por apreciação. Já que implica exatamente a formação de um juízo sobre a pessoa avaliada. A objetividade pode ser obtida quando o julgamento dos avaliadores é simplificado pelo uso de escalas de apreciações adequadas. 3 - ABRANGÊNCIA E DIFERENCIAÇÃO: Um processo de avaliação por apreciação deve conter todas as par- tes importantes da tarefa prevista, de modo a proporcionar uma abrangência apropriada e, por outro lado, deve ser capaz de evidenciar as diferenças de capacidade existentes entre as pessoas avaliadas, no tocante à execução da tarefa. O grau de diferenciação deve variar segundo os objetivos e as finali- dades de apreciação. Sempre que utilizam escalas para julgar desempenho, habilidades ou qualidades pessoais, os observadores diferem em seus julgamentos. Es- sas diferenças são chamadas de erros de apreciação. Apesar de “erro” não ser o termo mais preciso para indicar essas diferenças, tem sido largamente usado e é, aqui, aplicado com este sentido. Muitas tentativas foram feitas para identificar e definir os erros que ocorrem quando são usadas as escalas de apreciação. Alguns erros podem ser causados pela montagem da escala. Outros ocorrem, somente, com cer- tos grupos de observadores, e outros, ainda, com determinados observado- res. Para finalidade deste estudo, os erros de apreciação serão classifi- cados em quatro grupos gerais: A - Erros de Tendência Central Muitos observadores hesitam em dar apreciações extremas -boas Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 130 12 mar 2011 ou más - tendendo a grupar suas apreciações próximas ao centro da escala. Este erro ocorre mais comumente com observadores em experiên- cia, mas pode ocorrer com observadores experimentados, especialmente em apreciações de qualidade pessoais ou de habilidades difíceis de identificar, tais como a perseverança ou a habilidade para ensinar. A análise das aprecia- ções feitas por um único observador pode revelar o erro de tendência central. B - Erro de Padrão Alguns observadores tendem a superestimar ou a subestimar o desempenho de qualquer pessoa, como conseqüência da diferença de pa- drões. Os que têm padrões elevados tendem a atribuir graus baixos, e, inver- samente, os que têm padrões baixos tendem a atribuir graus elevados. Padrões de medidas físicas, tais como centímetros, litros e gramas, são unidades fixas que permitem comparações definidas e persistentes. Em apreciações há, apenas, padrões mentais, variáveis, para comparação. Como cada observador pode usar, unicamente, seu próprio padrão mental, haverá tantos padrões quantos forem observadores. Apesar disto, as apreciações feitas por observadores bem treinados e experientes são geralmente distribuídos de modo similar, o que indica que seus padrões são semelhantes. Observadores mal treinados e inexperientes têm menos probabilidade de fazer, entre si, apreciações análogas, podendo, ainda, ter concepções diferentes quanto ao significado das características apreciadas. Quando experimentados observadores têm padrões coerentes, va- riados entre si, o treinamento deve reduzir essa diferença. Se essa diferença em padrões é constante e significativamente estável para permitir correção, o erro é chamado sistemático, e pode ser corrigido parcialmente, acrescentan- do-se ou subtraindo-se um certo valor às apreciações feitas, para equilibrá- -las. Todavia, o procedimento mais acertado, após a comprovação do erro sistemático, é informar aos observadores sobre seus erros e incentivá-los a fazerem a correção por si mesmos. C - Erro de Halo Alguns observadores não conseguem evitar que a impressão geral que têm sobre determinados indivíduos influa na apreciação do seu desem- penho. Essa impressão geral, formada por observação ou por conhecimentos alheios à apreciação, não deve influenciar naquilo que se pretende observar sobre o indivíduo. Quando este desvio ocorre, é chamado de erro de halo. Se a impressão geral do observador sobre o indivíduo é boa, ele tende a apreciá-lo com benevolência; ao contrário, se essa impressão é má, ele tende a apreciá-lo com rigor. Deste modo, o erro de halo pode ser tanto favorável como desfavorável ao indivíduo apreciado e afeta somente certos indivíduos de um grupo. O erro de halo tem sua origem nas simpatias, antipatias, opiniões, preconceitos, e sentimentos populares. Quando apreciam amigos ou conhecidos próximos, os observado- res tendem a ser benevolentes. O contrário ocorre em relação a inimigos ou Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 131 12 mar 2011 adversários. Nestes casos, o halo é chamado de “erro de flexibilidade”. Por outro lado, algumas pessoas acreditam que olhos juntos deno- tam desonestidade. Outras têm preconceitos em relação a certos povos ou grupos raciais, podendo acreditar que os ingleses são organizados, os esco- ceses econômicos e os japoneses trabalhadores. Outras, ainda, têm aver- são ou simpatia por judeus, católicos, ou protestantes. Todas estas noções influenciam nas apreciações, e quando o halo provém destas fontes, eleé chamado de “erro de estereotipia”. Os erros de halo não são fáceis de detectar. Geralmente apenas os casos gritantes são descobertos, mesmo em condições especiais de contro- le, quando são utilizados diversos observadores simultaneamente. Mesmo quando um erro de halo é identificado, seu novo aparecimento não pode, geralmente, ser previsto. D - Erro Lógico Pode ocorrer quando duas ou mais características estão sendo apreciadas e acontece quando um observador tende a dar apreciações se- melhantes a características que, nem sempre, se relacionam. Guiando-se pela subjetividade, o observador pode achar que o indi- víduo é eficiente se tem grande capacidade de trabalho, incorrendo, assim, num erro lógico, pois, por isso nem sempre é verdadeiro. Neste caso, julgado eficiência e capacidade de trabalho, esse observador atribuirá um mesmo grau ou graus semelhantes a essas duas características diferentes. O erro lógico tem sua origem no fato de que as características estão relacionadas na mente da pessoa que comete o erro. A relação pode não parecer lógica a qualquer outra pessoa, mas quem comete o erro, provavel- mente, não se apercebe de que o está cometendo. Esse erro pode ser conseqüência de: concepção errada quanto às características observadas; incapacidade de distinguir uma característica de outra; e falta de oportunidade para observar uma das características, sendo o grau atribuído por analogia. Em vista das injustiças que podem resultar dos quatro tipos de erros apresentados, eles devem ser eliminados ou pelo menos reduzidos a um mínimo. Isto pode ser conseguido tanto pelo aperfeiçoamento das escalas de apreciação como pelo treinamento dos observadores que as usarão. É fácil compreender que os observadores, mesmo sendo competentes na atividade apreciada, podem não ser experientes em avaliação e, assim, desconhecer o uso correto das escalas. Para tanto, é necessário que os observadores sejam sempre alertados quando aos erros que estiverem cometendo. IV - A FICHA DE VOO Na instrução aérea, o instrumento de avaliação mais comum é a Fi- cha de Vôo. As escolas de pilotagem e os aeroclubes têm modelos diferentes de fichas, mas a maneira de preenchê-las deve ser padronizadas. A avaliação do desempenho do aluno não se esgota no preenchi- mento da ficha de vôo; os registros em cada uma servem de base para a instrução seguinte; desse modo o conjunto das fichas constituirá o histórico Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 132 12 mar 2011 do seu desempenho. Dentro deste quadro, todo vôo de instrução deve ser complementado com a respectiva Ficha de Vôo, devendo o Instrutor só iniciar o briefing após con- sultar esse histórico. Apesar de ser um processo de avaliação subjetiva, a ficha deve contribuir para que a avaliação seja a menos subjetiva possível, evitando-se posições intermediárias na escala da avaliação (erro de tendência cen- tral). As manobras previstas no vôo devem ser bem detalhadas para evitar o erro lógico e o de padrão. Além disso, ao se estabelecer uma Ficha de Vôo, deve-se ter em mente os requisitos básicos de avaliação, principalmen- te a validade e a abrangência. Para o preenchimento, o Instrutor deve seguir os seguintes passos: 1º - Escrever o máximo possível quando o aluno não executa a ma- nobra prevista e/ou registrar se ele executou com perfeição ou an- tes do previsto. 2º - Observar se esta é a última missão prevista para a manobra ou se o aluno terá oportunidade de repeti-la nas missões seguintes. Neste último caso, é importante comentar os erros cometidos. Quando o aluno atingir o nível previsto na missão, ou seja, o último vôo para uma determinada aprendizagem, o instrutor terá que reprová-lo, va- lendo-se da ficha. Esta situação indicará deficiência (o vôo será deficiente). É importante lembrar que o aluno será deficiente na última missão prevista para uma determinada manobra, condição em que ele repetirá o vôo até aprender ou por decisão superior. Finalmente, a padronização das manobras de vôo é fundamental para que o Instrutor possa enquadrar o seu aluno e assim constatar se o exercício foi satisfatório ou deficiente. V – CONCLUSÃO As atividades de avaliação são importantes para melhorar o ren- dimento da instrução, em especial da instrução aérea. Desta forma é ne- cessário conhecer os requisitos básicos de avaliação para serem utilizados corretamente os instrumentos de medida. A avaliação subjetiva ou por apreciação é, sem dúvida o carro-chefe deste processo, e a melhor maneira de os avaliadores melhorarem consi- deravelmente suas apreciações é através do conhecimento dos erros mais comuns: de halo, de tendência central, de padrão e lógica. O instrutor dedicado terá as suas tarefas facilitadas na medida em que esteja sempre atento aos seus possíveis erros de avaliação e desmisti- fique o processo, proporcionando, com isto, tranqüilidade para um bom de- sempenho por parte do aluno. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 133 12 mar 2011 A CRÍTICA I – INTRODUÇÃO Entre as muitas qualidades que o instrutor possui, nenhuma é mais importante que a de analisar, avaliar e julgar o desempenho dos seus alunos. Principalmente após a atividade aérea, através do debriefing, o instrutor é obrigado a expressar urna opinião a respeito de seu desempenho. Os alunos vêem no instrutor um crítico e buscam nele orientação, análise, sugestões para o aperfeiçoamento e encorajamento. O instrutor é observador de uma área da qual ele pode falar com autoridade, e não deve se furtar desta ativi- dade. De início, dois erros comuns de interpretação surgem acerca da crí- tica e devem ser logo retificados. Primeiro: a crítica é um passo no processo de avaliação e deve ser considerada separada da avaliação, embora haja uma relação. As duas - crítica e avaliação - são empreendimentos distin- tos e não devem ser confundidos. A crítica é um passo no processo ensino- -aprendizagem, antes que a medição formal ocorra. Segundo: a crítica não é necessariamente negativa em conteúdo. A própria etimologia da palavra, de origem grega (Kritibos), quer dizer habilidade para discernir ou julgar, e não põe limites na natureza e no caráter do julgamento. Esta linha de raciocínio implica a obrigação de o instrutor considerar tanto as boas como as más qualidades; Os êxitos e as virtudes têm lugar do mesmo modo que as falhas, quando estes caracterizam o desempenho. Decididamente podemos definir a crítica como a arte de apreciar méritos e deméritos de um desempenho com o objetivo de aprimorar desem- penhos futuros. Enfim, a crítica tem uma finalidade educacional legítima e deve ser tratada como uma técnica de ensino. II – A ORGANIZAÇÃO DA CRITÍCA Assim como acontece com outros trabalhos (aulas, exercícios, brie- fings), a crítica deve ser organizada. Será apresentada abaixo uma sugestão que o ajudará a tornar mais eficiente o planejamento da crítica. 1 - Introdução Nessa fase, diz-se o que será comentado, qual o objetivo e, se possível ou necessário, procura-se motivar o aluno para receber a crítica, realçando a importância dessa tarefa para a sua formação profissional. 2 - Desenvolvimento É a parte mais importante da crítica, onde será apreciada a tarefa realizada. E aconselhável comentar os méritos em primeiro lugar e sem exageros; em seguida apontar os deméritos com sinceridade e tato. Sempre que possível, ao serem apontados os deméritos, devem-se sugerir as correções para os mesmos. 3 – Conclusão Nesta, deve-se recapitular os pontos principais, dar ênfase ao obje- tivo da crítica, tirardúvidas existentes e, se necessário, fazer uma remotivação. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 134 12 mar 2011 Considerando a personalidade dos homens, de um modo geral, re- conhecemos, antecipadamente, que é difícil criticar, de modo a fazer com que os conselhos e as sugestões sejam aceitos. Vamos considerar alguns pontos visando facilitar a aceitação de uma crítica a) Não usemos expressão de caráter pessoal: O uso de expressões pessoais (“Eu faria assim”, “Faça como eu faço” etc.) provoca algumas vezes antagonismo e prejudica a aceitação de uma crítica. Quem recebe a crítica, muitas vezes é de opinião que quem critica tem pontos deficientes, preferindo, por esta razão, não seguir os conselhos pessoais de quem ele julga não capacitado para tal. b) Não ridicularizemos quem criticamos nem sejamos sarcásticos: Quem é criticado, ao se sentir ridicularizado, adotará uma posição defensiva, impermeável à crítica. c) Não critiquemos visando aumentar nosso “cartaz”: O desejo de mantermos uma atitude agradável e simpática, ou mes- mo de fazermos com que a crítica seja aceita, poderá nos levar a crítica so- mente os méritos de um desempenho, e assim nos arriscamos a obter efeitos opostos. Enfim, a crítica deve ter validade e ser encarada do ponto de vista didático facilitando sobremaneira a tarefa do educador. III – Conclusão Finalmente, o estudo da crítica, com o objetivo de desenvolver a habilidade de apreciar um desempenho completa assuntos necessários para o instrutor desempenhar bem a sua tarefa: tornar efetiva a aprendizagem e propiciar integrações ou estruturações do conteúdo aprendido. BIBLIOGRAFIA BERGAMINI, C. W. Avaliação de desempenho humano na empresa. São Paulo: Atlas, 1981. FESTINGER, L&KATZ, D. Los metodos de investigacion en las ciencias so- cials. Buenos Aires: Paidos, 1972. HESSEM, Johannes. Teoria do Conhecimento. Coimbra: Armênio Amado. Ed. 1970. TURRA, G. M. C. et al. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre: EMMA, 1975. KOONTZ, Harold. Avaliação de executivos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1974. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA. Manual de Avaliação. s. n. t. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 135 12 mar 2011 Capítulo 09 RELAÇÕES INTERPESSOAIS I - INTRODUÇÃO A instrução aérea, pelas suas peculiaridades, depende em alto grau da interação instrutor-aluno e da percepção correta dos comportamentos es- perados. Com o objetivo de tornar a instrução mais eficaz, veremos neste capítulo a necessidade da adequada relação instrutor-aluno, bem como a melhor maneira para eliminação dos fatores que influenciam de maneira ne- gativa a percepção das atividades relativas à instrução aérea. II - INTERAÇÃO SOCIAL O homem é um ser social que, em sua busca do significado da vida e de orientação, inevitavelmente encontra os problemas de auto-realização. Esta auto-realização como um indivíduo, não depende como pode sugerir o termo, de uma autocontemplação solitária, mas basicamente de uma intera- ção com os outros indivíduos. Para nos conhecermos e podermos ser nós mesmos, precisamos viver e trabalhar com outras pessoas. Assim sendo, o Instrutor de Vôo deve estar identificado com os pro- blemas de auto-realização dos seus alunos, especialmente pelos desafios que a atividade aérea impõe. O estudo das interações sociais constitui um passo para a auto- -realização e o conhecimento do ser humano, com suas particularidades e mudanças/ variações, os fatores primordiais. Para que sejam estudadas as relações interpessoais devemos lem- brar dois fatores de total relevância, que estão sempre presentes: a atitude humana e a interação social. Praticar uma relação interpessoal é mais que um contato entre pes- soas; é uma atitude, um estado de espírito que deve prevalecer no estabele- cimento e/ou na manutenção dos contatos entre seres humanos. O Instrutor deve estar condicionado a manter atitudes que ajudem a compreender as outras pessoas, respeitando a sua personalidade e nunca se esquecendo das diferenças individuais. Quais seriam, então, estas atitudes? As atitudes como boas preditoras de comportamentos – se sabemos que o nosso aluno gosta também de surf, por exemplo, será fácil prever que este lerá a seção de esportes dos jornais e que não estará tão motivado para o vôo numa tarde de “boas ondas”. As atitudes como base de uma série de situações sociais importan- tes - as relações de amizade e de conflito. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 136 12 mar 2011 O Instrutor, preocupado com a auto-realização deve procurar sem- pre a sua motivação. Algumas pessoas parecem estar sempre dispostas ao trabalho, enfrentam os desafios com entusiasmo e, mesmo quando os resul- tados não são os esperados, buscam novas soluções. Outras se limitam a executar as tarefas sem empenho. A capacidade do Instrutor em manter o próprio entusiasmo e trans- miti-lo ao seu aluno pode ser o grande diferencial do sucesso de uma instru- ção para outra. Quando o Instrutor está motivado e envolvido com aquilo que faz, leva a instrução como um prazer e não um fardo, uma obrigação. Lembrando-se que motivação é um estímulo interno que dirige o comporta- mento MOTIVO + AÇÃO = MOTIVAÇÃO Lidar com personalidades, habilidades e expectativas diferentes é uma tarefa complexa. Nem sempre a motivação de uma pessoa está neces- sariamente ligada somente ao aspecto financeiro. Este pode ser importante, mas não é o único. Há pessoas que precisam de estímulos constantes, ou- tras excessivamente acomodadas não querem aprender, nem ambicionam qualquer tipo de mudança. Além das características individuais, a motivação está também relacionada à adequação profissional, à responsabilidade, à qualidade do relacionamento no ambiente de trabalho. Quem gosta do que faz tende a ser mais motivado. Vistas as atitudes do Instrutor para o relacionamento humano, deve- -se analisar, agora, a interação social, que é onde os fatores comportamen- tais deverão ser notados, procedendo-se, perfeitamente, ao necessário ajus- te para que seja atingido o objetivo a busca da auto realização do (a) aluno (a). III - DEPENDÊNCIA E INTERDEPENDÊNCIA Numa relação interpessoal, destaca-se uma situação comportamen- tal chamada dependência e interdependência. Entende-se por dependência a influência sobre outra ou outras pessoas, sem que estas últimas exerçam influências sobre ela. A dependência poderá ter um caráter negativo, dependência negati- va, quando por uma atitude paternalista por parte do Instrutor com seu aluno, ou por uma característica do próprio aluno gera neste um comportamento tal, que ele não confia em seu potencial, como por exemplo: a dependência do aluno em relação ao seu instrutor pode prejudicar o seu “voo solo”. Em outra situação, entretanto, a dependência, poderá ter caráter positivo, dependência positiva; é necessária quando o aluno demonstra ex- cesso de autoconfiança. No caso, por exemplo, quando o aluno com bas- tante aptidão apresenta poucas dificuldades na assimilação e até mesmo uma certa presunção. O instrutor deve exigir, constantemente mais perfeição nas suas manobras. É um processo que exige tato, mas é eficiente porque nenhum aluno consegue fazer uma manobra absolutamente perfeita. Se o aluno desenvolver esta tendência, basta no final do treinamento simular pou- sos de emergência quando o aluno menosespera, para que diminua a sua convicção. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 137 12 mar 2011 Já a situação de interdependência envolve um comportamento recí- proco. Nesta situação, dois comportamentos se manifestam naturalmente: os de colaboração e competição. Por exemplo, se numa situação de instrução com vários aviões no tráfego mantivermos a ordem e os acertos preestabe- lecidos, estaremos concorrendo para uma instrução segura e ordeira, que resultará no benefício de todos (colaboração) Porém, se houver quem queira tirar vantagens sobre os outros para realizar um maior número de pousos resultando em prejuízo para os demais, haverá o que chamamos de competição. Outro exemplo de competição é quando o instrutor e o aluno ficam disputando (até inconscientemente) quem melhor executa uma determinada manobra. IV - ATRAÇÃO INTERPESSOAL Esse tópico tem recebido especial atenção pelos psicólogos sociais, uma vez que se sentir benquisto ou rejeitado produz considerável influên- cia no comportamento humano. O sentimento de aceitação (atração) ou de rejeição (repulsão) existente entre duas pessoas, influenciará uma série de comportamentos sociais, tais como a imitação e a agressão, o exercício de poder, a formação de grupos, percepção social, etc. Dificilmente nos mantemos neutros em relação ao sentimento com as pessoas com que entramos em contato (gostamos ou não gostamos) Da mesma forma não é comum que os outros expressem sentimentos de neutra- lidade afetiva com relação a nós. Gostamos muito ou pouco, mas odiamos, muito ou pouco também. V - TENDÊNCIA À ASSOCIAÇÃO COM OUTROS (ASSOCIATISMO) Todos nós, no decorrer de nossas vidas, nos associamos com ou- tras pessoas para satisfazermos nossas necessidades básicas, procurando divertimento, por instinto ou por aprendizagem, para que tais pessoas pos- sibilitem avaliação de nossas habilidades e opiniões quando em estado de ansiedade, tensão, etc. A auto-realização depende, em grande parte, de uma referência externa, do reconhecimento de um sistema do qual faça parte. Outros comportamentos poderão ser gerados devido à atração ou repulsão afetiva existente entre duas pessoas, tais como a imitação e a agressão. Dificilmente nos mantemos efetivamente neutros em relação às pes- soas com quem entramos em contato. Da mesma forma não é comum que os outros expressem sentimentos de neutralidade afetiva com relação a nós. Gostamos muito ou pouco, amamos, odiamos, desgostamos tam- bém. VI - IDENTIFICAÇÃO Quando um indivíduo se sente atraído, aceito pelo outro, a aceita- ção predispõe à identificação, e a identificação leva à imitação; VII - AGRESSÃO E VIOLÊNCIA Quando um indivíduo não se sente atraído, aceito em relação ao seu meio ambiente, ou pelo outro com o qual está interagindo, a repulsão Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 138 12 mar 2011 desperta a agressividade. Infelizmente agressão e violência constituem, também, fenômenos comportamentais de singular relevância e sua ocorrência não parece sofre- rem a menor atenuação com o passar dos anos. Alguns psicólogos e filósofos defendem a posição de que o com- portamento agressivo tem origem no instinto agressivo, ou seja, existe nos homens uma agressividade inata que constantemente os intriga a comporta- mentos agressivos. Outros defendem a posição segundo a qual o comportamento agres- sivo é o fruto de aprendizagem funcionando como responsável pela formação de uma personalidade agressiva. VIII – ALTRUÍSMO QUALQUER COMPORTAMENTO CUJA FINALIDADE É CAUSAR BEM A OUTREM SEM EXPECTATIVA DE RETRIBUIÇÃO É o comportamento abnegado levado pelo idealismo em detrimento de interesses, remuneração ou retribuição. O comportamento altruísta recebe menos atenção e sensacionalis- mo que os de agressão e violência; os atos altruístas são igualmente contem- porâneos do homem. O instrutor competente não permite que a personalidade do aluno afete a sua atitude. O seu senso de responsabilidade deve ser tão desenvol- vido a ponto de, naturalmente, torna-se dedicado para com qualquer aluno, mesmo com um que não simpatize. IX - PERCEPÇÃO SOCIAL O ser humano, inconscientemente, percebe no próximo aquilo que lhe interessa; por exemplo, percebemos características negativas de pesso- as de que não gostamos e aspectos favoráveis naquelas de quem gostamos. O estudo da percepção é fundamental para o desenvolvimento da instrução aérea. Assim sendo, este tópico merecerá um estudo mais detalhado. X- A PERCEPÇÃO Cada ser humano vive em seu próprio mundo. Esse mundo repre- senta tudo aquilo de que tem experiência anterior: o que percebe, sente, pensa e imagina. E o que percebe, sente e imagina está subordinado ao ambiente físico e social em que vive e a própria natureza biológica, especialmente ao funcionamento do seu cérebro e seu sistema nervoso. Seu mundo é pessoal e é diferente do mundo dos outros homens, porque seu cérebro, sistema nervoso, ambiente físico e social não são exatamente iguais aos de nenhuma outra pessoa. É interessante conhecer um pouco o que vem a ser percepção e como ela pode influenciar o processo de interação social, pois o estudo da mesma é fundamental para o desenvolvimento da instrução aérea. Perceber é conhecer, através dos sentidos, objetos e situações. É uma forma restrita de captação de conhecimento; é a interpretação de nos- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 139 12 mar 2011 sas sensações, que ocorre segundo referências individuais. É influenciada por: 1 - SELETIVIDADE PERCEPTIVA Quando existem vários estímulos ao mesmo tempo, só se percebe um determinado conjunto de estímulos. 2 - EXPERIÊNCIA PRÉVIA E CONSEQÜENTE DISPOSIÇÃO PARA RES- PONDER: Estímulos familiares (a familiaridade gera predisposição para res- ponder mais rapidamente). Pode ser um facilitador da instrução. 3 - CONDICIONAMENTO: Comportamento reforçado (responder o que é esperado). Ex: estol/ potência máxima. 4 - FATORES CONTEMPORÂNEOS AO FENÔMENO PERCEPTIVO: Fatos que estão ocorrendo no momento em que leva à identificação mais rápida. Dependendo da situação pode dificultar ou facilitar a assimila- ção. Ex: fome / comida. 5 - DEFESA PERCEPTIVA: Bloqueio na conscientização de estímulos emocionalmente pertur- badores. Um fato anterior pode prejudicar a instrução, conscientemente quer realizar, mas o fator inconsciente pode inibir a ação. O homem age de acordo com o que percebe, o que pode acarretar, a partir de uma percepção errônea, prejuízo nas suas ações. Isso se faz sentir mais em trabalho de grupo, onde se deve tomar cuidado especial, prin- cipalmente quando se é líder de um. A mesma informação pode ser interpretada de várias maneiras; as mesmas situações de estímulo podem ser recebidas de diferentes modos. A percepção é um elo importante entre o indivíduo e seus semelhan- tes. É, portanto, uma via de informação, mas apenas parcialmente confiável: Percepção “correta” - comportamento adequado. Percepção “incorreta” - comportamento inadequado. É importante selecionar estímulos realistas que ajudem à tomada de decisão. 6 - FATO: Algo que é percebido ou conhecido. Aspectos de acontecimentos fí- sicos. Alguma parte de um processo. Entidade que existe na realidade física. 7 - JULGAMENTO: São sentenças que salientam o sentido conotativo. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA140 12 mar 2011 Não diz muito sobre a realidade física, dizem-nos muito sobre a rea- lidade social. Não são declarações objetivas sobre a realidade, são subjetivas. 8 - SUPOSIÇÃO: Antecipação de um acontecimento que poderá ser, ou não, poste- riormente confirmado. 9 - BOATO: Maior importância do assunto - muitos comentários -ambigüidade do assunto; forma de deformar e realidade. O que fazer para minimizar o efeito da subjetividade sobre a percepção? • Antes da emissão de um julgamento, um laudo ou uma opinião, analisar todas as possibilidades de maneira imparcial. • Não se pautar em impressões, instituições etc., pois nem sempre a percepção do estímulo estará isenta de influência. • Conhecer seu próprio padrão de julgamento. • Ouvir outras pessoas, para comparar a sua com outras opiniões. • Ter flexibilidade de pensamento, para poder alterar sua opinião fren- te a outros fatos que a contradizem. • Ouvir e expressar pensamentos sem reações emocionais intensas. • Treinar a capacidade de observar objetiva e sistematicamente. XI - COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL Para realizarmos uma comunicação eficaz, necessitamos de cinco componentes. Estes cinco componentes de comunicação teoricamente aju- dam a distinguir claramente entre bons e maus comunicadores. São eles: 1) Abertura pessoal 2) Ouvir 3) Lidar com as emoções 4) Clareza de expressão 5) Auto conceito 1 – ABERTURA “As experiências podem obrigar-nos a trocar nossa maneira de focali- zar a vida.” O processo de abertura pessoal diz respeito ao desenvolvimento da capacidade de ser legítimo na fala e acolher o que nos é transmitido. As relações se iniciam com um grau reduzido de abertura, pois o outro é desco- nhecido. O que acontece também em qualquer situação ameaçadora. Mas, uma vez desencadeado o processo, tende a crescer e ser mútuo. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 141 12 mar 2011 “A habilidade de engajar-se no processo de abertura pessoal é sinto- ma de personalidade saudável.” A abertura é geralmente bloqueada pelo medo: o medo de ser usa- do ou não ser aceito. Geralmente o medo de se revelar vem da noção de que algumas características que temos sejam inaceitáveis; só nós podemos conviver com o que conhecemos de nós mesmos. A barreira que este tipo de atitude coloca entre uma pessoa e o mundo que o cerca, paralisa seu crescimento no que diz respeito a estas características. A necessidade de se expor vem da necessidade de vivenciar aquilo que somos concretamente. E só através desta experiência podemos ver nos outros o impacto que o nosso comportamento causa, e nos transformar. O processo de abertura pessoal realiza a troca da dinâmica do medo pela dinâmica da confiança. 2 – OUVIR “Dejame que me calle com el silencio luyo.” Ouvir só tem significado real como busca de compreensão do outro. Não se trata, portanto, de atitude passiva, mas de um processo que deve levar a adquirir uma imagem - mais próxima possível - daquilo que meu inter- locutor pensa e sente; dos temas de sua fala que são importantes para ele e da percepção desta importância. O que dá qualidade ao ouvir é o desenvolvi- mento de significados. Só um esforço sincero, no sentido de encontrar os conteúdos do que diz o outro, pode nos conduzir a respostas que levam à integração. Este processo requer que as pessoas percam a ansiedade - a pressão constante que fazemos em nós mesmos por medo de nossas próprias limitações. As ansiedades que impedem de ouvir são, em geral, de perder o rumo do próprio pensamento, perder tempo, ou não se posicionar imediata- mente frente a uma discordância. Finalmente, há pessoas que se envolvem patologicamente com sua realidade pessoal, a ponto de nunca conseguirem perceber a perspectiva alheia. Todas estas ansiedades são fruto de hábitos gerados por falta de confiança em si ou conhecer-se e às outras pessoas. A interação se faz quando as pessoas se expõem e recebem ver- dadeiramente, porque a aproximação depende da troca. Nós nos tornamos receptivos quando descobrimos a satisfação de compartilhar, de criar elos reais. 3 - LIDAR COM AS EMOÇÕES “Quando a gente tenta, de toda maneira, dele se guardar, sentimento ilhado, morto e amordaçado, volta a incomodar.” O bom desenvolvimento de qualquer relação depende da compre- ensão e aceitação das emoções pessoais e alheias. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 142 12 mar 2011 As emoções reprimidas nunca desaparecem, apenas se transfor- mam em relações físicas (úlcera, dor de cabeça, reações alérgicas etc.), num acúmulo de sentimentos de hostilidade que rompem a barreira da repressão e se manifestam numa explosão de raiva, ou em transferência para situações alheias ao problema original. Qualquer destas alternativas se traduz em destruição de um am- biente, de uma relação ou de aspectos do próprio indivíduo. Os sentimentos são termômetros do significado pessoal das situa- ções. Aquilo que sentimos nos diz da aceitação, insegurança, engajamento, recusa ou entusiasmo com que nos envolvemos com as pessoas ou com os acontecimentos da vida. E é a partir deste reconhecimento que pode estimu- lar a comunicação, as idéias e alternativas, e nos responsabilizar por elas. A aceitação das próprias emoções facilita inclusive que se compre- enda a dimensão de nosso papel num grupo, pois cria a capacidade de se trocar significados. Os sentimentos expressos de forma pertinente são mobi- lizadores, são fatores de transformação da realidade. 4 - CLAREZA DE EXPRESSÃO “E que agora sinto necessidade de palavras; e é novo para mim o que escrevo, porque minha verdadeira palavra foi até agora intocada. A palavra é minha quarta dimensão. “ Para que uma mensagem seja enviada com clareza, é necessário compreensão do que nos leva a enviar a mensagem, o que pretendo, quem é o outro. Não existem certezas sobre uma intenção antes que ela aconteça; o momento da comunicação é único e imprevisível. O que pode ser trabalhado são os meus propósitos, as minhas idéias e a minha postura frente ao outro. Destes aspectos serão decorrentes a expressão clara - de um pensamento estruturado - e a maior probabilidade do interlocutor me compreender. O que não se pode perder de vista é que, embora as pessoas te- nham uma estrutura psicológica comum, as personalidades são profunda- mente diferentes. A expressão clara, inteligível, depende de que eu perceba que transmito a minha idéia a alguém que vê o mundo de modo diferente do meu. A entrada da minha idéia no mundo dele depende dela ser traduzida, por mim, para a forma adequada ao outro. E eu só sei como estou sendo recebido se permitir e aceitar que se expressem à meu respeito. A partir das informações que recolho sobre mim, de pessoas que se expressam livre- mente sobre meus pensamentos, atitudes, idéias, posso me transformar e transformar minhas manifestações no mundo. 5 - AUTO CONCEITO “Cada um tem seu próprio conceito para integrar o novo conhecimento em sua estrutura de experiências, no qual se apoia na busca e constru- ção de seu mundo. “ Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 143 12 mar 2011 O homem tem uma grande capacidade de se confundir sobre si mesmo, porque sabe imaginar e acreditar no que imagina. E porque dificil- mente aprende a se respeitar naquilo que mais intimamente é. O auto con- ceito é a imagem de si que a pessoa constrói e transforma ao longoda vida. Forma-se inicialmente através dos primeiros contatos familiares, quando a criança percebe quais os comportamentos que conquistam afeto, interesse e respeito das pessoas com quem convive, e se ela é capaz de se comportar assim espontaneamente ou se não faz parte da sua natureza. À medida que crescemos procuramos outros grupos sociais que nos aceitam ou não, e vamos formando uma imagem de nós mesmos a partir desses contatos. Formamos também imagens das pessoas a partir do que sentimos, de como reagimos ao que elas são ou representam. O auto concei- to forma também uma lente através da qual vemos, sentimos e avaliamos o mundo. As pessoas não têm (exceto em caso patológico) um único conceito sobre si, porque vivem situações diversas e se comportam diferentemente, conforme se sentem a cada momento, e com as pessoas que a cercam. As si- tuações e pessoas com as quais sabemos lidar reforçam e provocam em nós, formas espontâneas de ser. As que não sabemos lidar ou desconhecemos podem nos inibir e nos bloquear, e nosso comportamento vai depender de como encaramos nossos limites. Potencialmente, os limites são oportunida- des de crescimento pessoal, mas o desenvolvimento depende da capacidade de aceitar e compreender as frustrações para nos transformar. O auto conceito dirige nosso comportamento para relações de en- contro ou destruição (de mim ou do outro). A flexibilidade do auto conceito determina, portanto, a possibilidade de comunicação e percepção flexível do nosso contexto. E a rigidez causa distorções na percepção que temos daquilo que nos cerca. A comunicação limpa depende do quanto a visão que temos de nós mesmos está próxima do que somos realmente, da compreensão de nossa personalidade e de uma visão objetiva de nossas atuações. Existem duas posições extremas que geram distorções. O excesso de insegurança traz difi- culdades em emitir opiniões, ser diferente dos demais ou assumir posições. A prepotência traz dificuldades em aceitar críticas, admitir erros, compreender o outro. Em ambos os casos, a realidade é enxergada por uma vista que se embaçou. 6 - INTENÇÕES E EFEITOS A diferença de pontos de vista é um dos problemas mais importan- tes das relações humanas. Numa noite de verão, duas irmãs idosas estavam sentadas em suas cadeiras de balanço, na varanda da frente da casinha situada na entrada da aldeia. Enquanto se balançavam tranquilamente, uma delas prestava aten- ção às canções do coral que treinava na pequena igreja.. Estavam cantando uma de suas músicas prediletas. Olhou para o outro lado da rua, onde viu o Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 144 12 mar 2011 brilho fosco das luzes que filtravam através das janelas coloridas da igrejinha e disse à irmã: “ Você não acha que é a música mais linda do mundo? “A irmã, que estava sentada à sua direita, lançou os olhos para os campos que ladea- vam a casa e ouviu o canto dos grilos no crepúsculo. Continuou a balançar-se e, com um sorriso feliz nos lábios, disse: “Sim, a música é linda; e dizem que para fazê-la, esfregam as patas traseiras.” Esta estória, demonstra os mal-entendidos que podem surgir quan- do os pontos de vista de duas pessoas são diferentes. Os nossos atos e intenções, muitas vezes são mal compreendidos ou interpretados de forma diferente por diversas pessoas. Um dos problemas mais importantes das relações inter-humanas é a ligação entre minhas inten- ções e os efeitos que meus atos produzem em outras pessoas. Sabemos que o mesmo ato pode produzir efeitos diferentes em pessoas diferentes. Todo ser humano elabora modelos de comportamento relativamente estáveis, que determinam suas relações diante de situações idênticas ou semelhantes. Certa pessoa reagirá a uma agressão, mostrando- -se zangada, outra pessoa se retirará em silêncio e uma terceira pessoa se porá a chorar para transmitir a seguinte mensagem: ‘’Sou uma criança frágil. Por favor, não me faça mal !” Mas o fato das relações dos nossos atos poderem ser diferentes não resulta exclusivamente das eventuais diferenças existentes nos modelos de comportamento. Muitas vezes, nossos atos simplesmente não são com- preendidos corretamente, e isso não é simplesmente devido à forma de nos exprimirmos. Atrás de todo ato existe uma intenção. Praticamos o ato para conse- guir alguma coisa. Acontece que só o ato é público, só ele está ao alcance da observação de qualquer pessoa. As intenções que se encontram atrás dele, são de natureza privada; de início, só são conhecidas da pessoa que as traz em mente. Minha intenção privada pode consistir, por exemplo, em mostrar a certa pessoa que gosto dela. O ato público destinado a alcançar este objetivo pode consistir em: • dar um presente a essa pessoa; • formular um convite para jantar; • colocar o braço sobre seus ombros. Vê-se que disponho de várias possibilidades de codificar minha intenção em determinado ato. Suponhamos que resolvo comprar um presente para expri- mir minha simpatia. É possível que a pessoa presenteada perceba a intenção que inspirou meu ato, mas também é possível que pense que: • quero impressioná-la; • quero fazer com que se sinta obrigada para comigo; • quero manifestar minha gratidão pela ajuda que me prestou. São várias maneiras diferentes de codificar o mesmo ato. Os roman- ces de espionagem mostram que a posse da verdadeira chave de decodifica- ção pode representar um problema muito importante. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 145 12 mar 2011 Se o transmissor e o receptor da mensagem não possuem o mesmo código, a comunicação concreta torna-se impossível. As chaves pessoais de decodificação que costumamos empregar são moldadas principalmente na infância. Se em nossa família não era costume exprimir franca e espontane- amente o amor e a ternura, um abraço pode ser mal interpretado. É possível que o sentido do mesmo seja: “Você é um sujeito legal! Simpatizo com você.” Mas o mesmo gesto poderá ser decodificado da seguinte maneira: “Você é uma pessoa extraordinária! Gosto muito de você.” Quanto maior a distância entre os meios culturais de que provêm os indivíduos, maiores serão as dife- renças entre os códigos usados. Enquanto na Alemanha, o gesto de segurar a mão de uma moça, geralmente só constitui uma manifestação de simpatia, na Espanha, o mesmo quase significa um noivado. Concluímos que não se deve partir do pressuposto de que nossas intenções sempre produzam o efei- to desejado. O quadro encontrado a seguir elucida o fato. Em geral, as pesso- as utilizam códigos diferentes, e por isso nossos atos não têm um significado único e constante: são ambíguos. Muitas vezes, torna-se necessário informar nosso parceiro, de maneira clara e inequívoca, sobre nossas intenções e o sentido de nossas relações, e pedir-lhe que explique suas próprias intenções. INTENÇÕES DE “A” (conhecidas somente por A) SÃO CODIFICADAS POR “A” ATOS DE “A”(conhecidos de todos) SÃO DECODIFICADOS POR EFEITOS PRODUZIDOS EM “B” (conhecidos somente por “B”) BIBLIOGRAFIA GAHAGAN, Judy. Comportamento interpessoal e de grupo. Trad. De Eduardo Di Almeida. Rio de Janeiro, 1976. MOSCOVICI, Felá. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 146 12 mar 2011 Atividades 1 - A comunicação é uma necessidade, onde à medidaque a sociedade evolui, ela se faz ainda mais necessária, principalmente no conteúdo da ati- vidade aérea. Para isto é importante que a seleção de dados seja objetiva na comunicação. Assinale então afirmação incorreta: a) “Fato” é algo percebido e conhecido que transmitido, dentro de um processo, tem-se como verdadeiro e objetivo. b) Sentenças que não dizem sobre declarações objetivas e sim sub- jetivas, salientando o sentido conotativo, são chamadas de “julga- mento”. c) De forma clara e objetiva, o “boato” se faz presente em situações de muitos comentários, mas que não dão sentido ambíguo a elas. d) “Suposição” nada mais é, que uma antecipação de acontecimentos que poderão ou não ser confirmados, posteriormente. 2 – A principal ligação entre o indivíduo e seus semelhantes, assim como o instrutor e seu aluno é: a) Integração b) Identificação c) Associação d) Percepção 3 – A atração interpessoal pode gerar fenômenos como: a) Agressividade ou violência b) Atração ou repulsão c) Colaboração e bloqueio perceptivo d) Defesa perceptiva 4 – Na instrução aérea, o tipo de comportamento ideal do instrutor é: a) Interdependência por competição b) Dependência c) Liberdade d) Altruísmo 5 – O bloqueio na conscientização de estímulos emocionantes perturbadores – que causa a paralização do pensamento e de atitudes – denomina-se: a) Seletividade perceptiva b) Fatores contemporâneos c) Defesa perceptiva d) Condicionamento 6 – Um assunto que gera ambiguidade, de forma a deformar a realidade, é conhecido como: a) Boato b) Suposição c) Julgamento d) Flexibilidade Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 147 12 mar 2011 7 – O comportamento cuja a finalidade é causar o bem a outro sem expecta- tivas de retribuição é: a) Comportamento social b) Comportamento perceptivo c) Comportamento altruísta d) Comportamento de interdependência 8 – A antecipação de um acontecimento, que pode ou não ser confirmado é o(a): a) Boato b) Suposição c) Fato d) Julgamento 9 – Na prática das relações interpessoais, o instrutor de voo deverá estar con- dicionado a manter atitudes que ajudem a compreender as outras pessoas, respeitando a sua __________ e nunca se esquecendo das ___________. Os espaços em branco são, respectivamente: a) Objetividade / diferenças individuais b) Individualidade / carências emocionais c) Personalidade / diferenças individuais d) Personalidade / dependências emocionais 10 – Para uma mensagem ser entendida é preciso ter: a) Clareza de expressão b) Auto conceito c) Saber ouvir d) N.d.a. 11 – Para realizarmos uma comunicação eficaz, necessitamos de cinco com- ponentes. São eles: a) Auto conceito, clareza de expressão, não abertura pessoal e não ouvir b) Abertura pessoal, ouvir, lidar com as emoções, clareza de expres- são e auto conceito c) Supor situações, ouvir, lidar com as emoções, clareza de expressão e auto conceito d) N.d.a. 12 – Por sermos seres únicos, nossa comunicação pode ser entendida de forma diferente. Quando isso acontece, dizemos que houve uma falha de: a) Percepção social b) Relação interpessoal c) Intenções e efeitos d) Percepção Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 148 12 mar 2011 Capítulo 10 O PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM (PARTE I) I - INTRODUÇÃO O conhecimento do processo ensino-aprendizagem é, sem dúvida, um dos principais passos para a preparação do futuro instrutor de voo. A instrução aérea, por suas peculiaridades, exige uma constante associação de conhecimentos progressivos, técnicas próprias e uma análise de voo por voo. Antes de se iniciar o processo propriamente dito é importante, po- rém, que se defina claramente a terminologia a ser utilizada. II - CONCEITUAÇÃO Quando se aborda o processo ensino-aprendizagem, surge de ime- diato a necessidade de distinguir os termos “ensino” e “aprendizagem”, even- tualmente usados como sinônimos. • Aprendizagem: é conceituada como uma mudança de comporta- mento, ou seja, algo de novo que passa a fazer parte da personali- dade do aluno. Se o aluno não conhecia, passa a conhecer; se não sentia, passa a sentir; se não escutava, passa a escutar. • Ensino: é a transmissão de conhecimentos, informações ou escla- recimentos úteis ou indispensáveis à educação. O ensino ou a ins- trução é a tarefa do instrutor. Juntando-se ensino e aprendizagem, tem-se a educação e o “como” educar. Por que meios realizar con- cretamente a educação? É o processo Ensino-Aprendizagem que será abordado a seguir. III - PENSAMENTO DIDÁTICO CONTEMPORÂNEO Quando se planeja “como” educar, há necessidade de se situar a didática em uso e a sua evolução. A concepção inicial de educação, chamada pedagogia ordinária, considerava o professor e o aluno fechados numa circunstância, onde o pro- fessor era o agente principal do processo, enquanto o aluno era o receptor passivo. Com isso, o objetivo estava desviado da realidade do aluno. Os métodos utilizados apelavam à memorização e o aluno “aprendia” repetindo. Porém esta concepção pedagógica não vinha satisfazendo as necessidades do homem. Estudos demonstraram que o contexto onde se insere o professor é diferente do que se insere o aluno, embora isto não signifique que eles devam ser tratados como pólos individuais, fechados em si, mas sim em relação interpessoal constante. Também havia a necessidade de adequação da edu- cação à realidade do aluno, ou seja, o respeito às diferenças individuais. Na didática contemporânea o professor passa a ser um facilitador e Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 149 12 mar 2011 orientador da aprendizagem, enquanto que o aluno é o autor dessa apren- dizagem. Os objetivos são realizados de maneira a desenvolver harmonica- mente o aluno, tendo em vista o ajustamento e a auto-realização do aluno ao meio em que vive. Os métodos na didática contemporânea exigem, sem dúvida, muito preparo e conhecimento, antecipando procedimentos ou condições exterio- res úteis à aprendizagem. A tarefa do professor ficou mais abrangente. O processo ensino-aprendizagem passou a aceitar a influência de uma apren- dizagem sobre outra. IV - TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM A vida do ser humano é uma sucessão de aprendizagem: as primei- ras letras, o andar de bicicleta, o aprender a dirigir, o pilotar, enfim, inúmeras aprendizagens que fazem parte da bagagem comportamental do homem. E justamente o conhecimento da influência de uma aprendizagem sobre ou- tra facilitará a nossa tarefa como instrutores. A transferência ocorre quando um aluno se pergunta sobre o que fazer com aquilo que acabou de receber. Como aplicar? E o que a nova aprendizagem vai trazer de bom ou de ruim para a sua vida? Por isso, quando falamos em influência, temos que verificar dois pontos distintos, a influência positiva ou influência negativa. Quando é positiva, chamamos de facilitação. Por exemplo, engati- nhar facilita andar; “simulador” facilita “voar”. Porém, às vezes, a influência é negativa. Por exemplo, guiar no Brasil dificultará o aprendizado de guiar na Inglaterra, assim como pilotar avião e depois pilotar helicóptero, ou mesmo passar de um carro comum para um carro hidráulico. Outro aspecto a ser analisado é a influência da aprendizagem fu- tura sobre a anterior. Por exemplo, um instrutor de vôo aprende técnicas de ensino elementares e depois aprende técnicas mais complexas. Ao ser tes- tado no seu primeiro aprendizado, ele recebeuma transferência retroativa do aprendizado posterior, o qual facilitará o seu desempenho nas técnicas de ensino elementar. Da mesma forma, na contramão, aprender a jogar tênis e depois frescobol, por exemplo, dificultará o desempenho de primeiro aprendi- zado. O instrutor, então, precisa ter cuidado para que uma próxima matéria não interfira nos conhecimentos já adquiridos, mas, ao contrário, sirva para reforçá-los. A transferência de aprendizagem também é influenciada pela identi- ficação do aluno com o processo de ensino, com o ambiente, com a pessoa do próprio instrutor, enfim, pelos fatores subjacentes às técnicas de ensino empregadas. A tarefa da educação é delicada porque supõe, em princípio, amor, desprendimento, doçura, firmeza, paciência e decisão. O objeto da educação não está só no sentido literal do Verbo “edu- car”, mas, sim, no modo como o fazemos, a forma como prosseguimos pen- sando, o tipo de distinções que apresentamos, a ética e a moral dos critérios que nos baseamos. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 150 12 mar 2011 Educar é como ensinar alguém a falar ou andar, é nos responsabi- lizarmos pelo que estamos “passando”, incentivando, motivando, mostrando o mundo para quem estamos orientando, sempre nos perguntando: “que tipo de profissional quero formar?” Por isso educar é questionar, é duvidar, é ensinar a duvidar, é ser modesto, ser humilde na maneira como trato meus companheiros de apren- dizado, porque ensinar também é aprender. Aprender a pensar antes de falar, aprender a comunicar de maneira clara e objetiva fazendo com que sejam entendidos todos os pensamentos a serem transmitidos e o mais importante: aprender que todos somos Seres Humanos. Para seja formado um bom Instrutor de Voo, é necessário que ele entenda alguns conceitos como: Psicologia – ciência que estuda comportamento humano Comportamento – uma ação observável, mensurável, registrada e executada por um organismo. Ensinar – dar instrução, instruir, educar, impulsionar e dirigir o desenvolvi- mento de uma pessoa; doutrinar; dar aulas, demonstrar. Educar – processo que visa desenvolver o homem em suas capacidades físicas e psicológicas, que ocorre durante toda a vida. Aprender – aprender é modificar o comportamento, por meio do treino ou da experiência, visando alcançar uma resposta mais adequada à situação apresentada. Aprender envolve processos de maturidade, pensamento, com- portamento e mudança. Didática - A palavra didática vem da expressão grega (techné didaktiké), que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino destinados a co- locar em prática as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os pro- cessos de ensino e aprendizagem. O educador Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da didática moderna e um dos maiores educadores do século XVII. Psicologia educacional ou psicologia escolar - é o ramo da psico- logia que estuda o processo de ensino/aprendizagem em diversas verten- tes: os mecanismos de aprendizagem das crianças e adultos (o que está estreitamente relacionado com a psicologia do desenvolvimento); a eficiên- cia e eficácia das táticas e estratégias educacionais, bem como o estudo do funcionamento da própria instituição escolar enquanto organização (onde se cruza com a psicologia social). Os psicólogos educacionais desenvolvem o seu trabalho em conjunto com os educadores de forma a tornar o processo de aprendizagem mais efetivo e significativo para o educando, principalmente no que diz respeito à motivação e às dificuldades de aprendizagem. Focam Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 151 12 mar 2011 a sua ação não apenas nas necessidades dos estudantes na escola como, também, em outras áreas onde as experiências escolares têm impacto. Al- guns psicólogos escolares centram o seu trabalho no desenvolvimento das capacidades e necessidades dos alunos com dificuldades de aprendizagem, como no caso da desordem por déficit de atenção, hiperatividade, problemas emocionais ou problemas comportamentais. V - OS ELEMENTOS DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: De acordo com MOREIRA (1986), o processo de ensino-aprendiza- gem é composto de quatro elementos – o professor, o aluno, o conteúdo e as variáveis ambientais (características da escola) – cada um exercendo maior ou menor influência no processo, dependendo da forma pela qual se relacio- nam num determinado contexto. Aluno: capacidade (inteligência, velocidade de aprendizagem); experiência anterior (conhecimentos prévios); disposição e boa vontade; interesse; estru- tura socioeconômica e saúde. Conteúdo: adequação às dimensões do aluno; aos objetivos, significado/va- lor; aplicabilidade prática. Escola: sistema de crenças dos dirigentes; entendimento da essência do pro- cesso educacional; liderança. Professor: dimensão do relacionamento (relação professor/aluno); dimensão cognitiva (aspectos intelectuais e técnicos didáticos); atitude do educador; capacidade inovadora; comprometimento com o processo ensino aprendi- zagem. 1- TEORIAS DA APRENDIZAGEM: a) Abordagem Tradicional Entende-se por abordagem tradicional a prática educativa caracte- rizada pela transmissão dos conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo dos tempos. Essa tarefa cabe ao professor em situações de sala de aula, agindo independentemente dos interesses dos alunos em relação aos conteúdos das disciplinas. É um ensino que se preocupa mais com a variedade e a quantidade de noções, conceitos e informações do que com a formação do pensamento reflexivo. b) Abordagem Comportamentalista/Behaviorismo: O principal representante da “análise funcional” é Skinner (1972). Essa abordagem também se caracteriza pela ênfase no objeto, no conhecimento, utilizando, porém, “engenharia” comportamental e social so- fisticada para moldar os comportamentos sociais. O homem é considerado como produto do meio; consequentemente pode-se manipulá-lo e controlá-lo Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 152 12 mar 2011 por meio da transmissão dos conhecimentos decididos pela sociedade ou por seus dirigentes. Ensinar consiste num arranjo e planejamento de condições externas que levam os estudantes a aprender. É de responsabilidade do professor assegurar a aquisição da aprendizagem. A aprendizagem é uma aquisição de comportamentos através de relações mais ou menos mecânicas entre Estímulo e Resposta E R COMPORTAMENTO c) Abordagem Humanista: Nesta abordagem o ensino está centrado na pessoa, o que implica orientá-la para sua própria experiência para que, dessa forma, possa estrutu- rar-se e agir. A atitude básica a ser desenvolvida é a de confiança e de respeito ao aluno. A aprendizagem tem a qualidade de um envolvimento pessoal. A pessoa considerada em sua sensibilidade e sob o aspecto cognitivo é incluí- da de fato na aprendizagem. Esta é auto-iniciada. Mesmo quando o primeiro impulso ou estímulo vem de fora, o sentido da descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de dentro. O referencial teórico dessa corrente tem origem no trabalho de Ro- gers (1972). Não foi elaborado especificamente para educação, e sim para tratamento terapêutico. d) Abordagem Cognitivista: O importante é como ocorrem a organização do conhecimento, o processamentodas informações e os comportamentos relativos à tomada de decisões. As pessoas lidam com os estímulos do meio, sentem e resolvem problemas, adquirem conceitos e empregam símbolos verbais. A ênfase, pois, está na capacidade do aluno de integrar informações e processá-las. O que é priorizado são as atividades do sujeito, considerando-o in- serido numa situação social. O ensino é baseado no ensaio e erro, na pesquisa, na investigação, na solução de problemas por parte do aluno e não na aprendizagem de fór- mulas, nomenclaturas, definições, etc. Assim, a primeira tarefa da educação consiste em desenvolver o raciocínio. O ponto fundamental do ensino, portanto, consiste em processos e não em produtos de aprendizagem. A aprendizagem só se realiza realmente quando o aluno elabora seu conhecimento. Isso porque conhecer um objeto é agir sobre ele e transformá- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 153 12 mar 2011 -lo. O mundo deve ser reinventado. O ensino dos fatos deve ser substituído pelo ensino das relações, pela proposição de problemas. Os principais pesquisadores nessa área são Jean Piaget, biólogo e filósofo suíço e o americano Jerome Bruner. e) Abordagem Sociocultural: Essa abordagem tem origem no trabalho de Paulo Freire e no mo- vimento de cultura popular, com ênfase principalmente na alfabetização de adultos. Podemos caracterizá-la como abordagem interacionista entre o su- jeito e o objeto de conhecimento, embora com enfoque no sujeito como ela- borador e criador do conhecimento. Nessa abordagem o fenômeno educativo não se restringe à educa- ção formal, por intermédio da escola, mas a um processo amplo de ensino e aprendizagem, inserido na sociedade. A educação é vista como um ato político, que deve provocar e criar condições para que o sujeito desenvolva uma atitude de reflexão crítica, com- prometida com a sociedade e a sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo a uma consciência crítica de sua realidade, transformando-a e melhorando-a. dessa forma o aspecto formal da educação faz parte de um processo sócio- -cultural, que não pode ser visto isoladamente, nem tampouco priorizado. A capacidade de aprender está presente em todos os indivíduos sendo que para alguns ocorre uma relativa dificuldade de assimilação e ma- nutenção de seu conhecimento, ligando o processo de absorção daquilo que se quer aprender a fatores muito mais relevantes do que o simples fato de necessitar fixar aquilo que é ensinado. “O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nos- sos desejos e necessidades, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volutiva Desta forma não seria válido estudar as dificuldades de aprendizagem sem considerar os aspectos afetivos” (VYGOTSKY, 1991). 2 - MOTIVAÇÃO: O que é motivação? É um estímulo interno que dirige o comporta- mento. MOTIVO + AÇÃO = MOTIVAÇÃO É uma necessidade que atua no intelecto para fazer a pessoa moti- var-se ou agir. Motivação para aprender é uma disposição, vontade de ir atrás de uma meta para realizar uma tarefa, estar envolvido, interessado, inteiro no que faz, assim como sentir-se desafiado. A pessoa motivada é aquela que, seja qual for a situação olha os obstáculos de frente, como barreiras a serem transpostas e não como proble- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 154 12 mar 2011 mas a serem carregados como fardos. Há vários motivos: 1) Internos: mais conhecidos como as necessidades, aptidões, inte- resses e habilidades do indivíduo, para realizar tarefas, que façam ir atrás de um objetivo. 2) Externos: são os estímulos recebidos do ambiente, objetivos que a pessoa vai à busca para satisfazer uma necessidade. Motivação na Instrução: Como em qualquer outro processo de aprendizagem, o instrutor de- verá estar sob adequada condição motivacional para: • Fornecer modelos de vida real e simbólicos; • Propiciar discussões de valores sociais; • Reforçar e assegurar a manutenção de comportamentos desejados; • Evitar procedimentos que elevam o estresse. Como se aprende? Como se dá a mudança de comportamento? O que ocorre com quem está aprendendo? 3 - O Processo de Aprendizagem É um processo complexo, pois envolve: • Diferenças individuais; • Processo de motivação; • Concentração; • Reação; • Realimentação (feedback); • Memorização; Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 155 12 mar 2011 • Retenção; • Transferência, generalização. 4- Teorias do Processo de Aprendizagem a) Condicionamento Clássico – Ivan P. Pavlov (1849 – 1936) Pavlov, por meio de uma experiência com um cão, chegou à con- clusão de que não só os animais mas também os humanos tinham reflexos inatos e que podiam desenvolver reflexos aprendidos. No decorrer desta ex- periência sobre os reflexos digestivos, verificou que o cão salivava não só quando via o alimento - reflexo inato -, mas também perante outros sinais com eles associados como, por exemplo, os passos do tratador e o som da campainha. Designou este comportamento por reflexo condicionado. Todo comportamento consiste em algumas reações geneticamente estabelecidas (incondicionadas) e uma cadeia de muitas reações condiciona- das (aprendidas) estabelecidas com base em associações. Elas ocorrem no dia-a-dia, independente de nossa vontade, fazendo-nos gostar ou desgostar de uma série de coisas. b) Edward Lee Thonrdike (1874 – 1949) – A lei dos efeitos: • Sempre que uma ação produzir satisfação, haverá uma probabili- dade maior de ser repetida, uma vez que essa nova ação estará associada à satisfação recebida. • A punição e o desprazer não se comparam, em absoluto, ao efeito positivo da recompensa de uma determinada resposta; • O efeito de prazer é, portanto, o que fixa o acerto (resposta); • Em termos pedagógicos, o agradável é o sucesso do ensino re- alizado pelo sujeito e o desagradável é o fracasso decorrente de obstáculos; A teoria de Thonrdike busca a experimentação do efeito das recom- pensas e punições sobre a resposta dada a um determinado estímulo. c)- Burrhus Frederick Skinner (1904 – 1990) - Condicionamento Operante: Skinner explica o comportamento e a aprendizagem como conse- qüência dos estímulos ambientais. Sua teoria se fundamenta no poderoso papel da “recompensa” ou “reforço” e parte da premissa fundamental de que toda ação que produza satisfação tenderá a ser repetida e aprendida. Ele provou que se podem condicionar também respostas não refle- xas, que ele chamou de “respostas operantes”. Além disso, mostrou que se pode conseguir que um animal ou pessoa aprenda qualquer resposta operan- te se esta resposta é adequadamente “reforçada” ou recompensada. A proposta psico-pedagógica de Skinner: • Apresentações das informações em pequenas etapas (para que possa haver controle de cada avanço da aprendizagem) Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 156 12 mar 2011 • Exigência de participação ativa do aluno (resposta) através de um sistema de avaliação ancorado na reprodução da resposta. • Reforço imediatoà resposta, no sentido um feedback indicando acerto ou erro . • Autocontrole por parte do aluno (isto é, o aluno que responde corre- tamente às questões pode passar a módulos posteriores). d)- Albert Bandura (1925) – Apredizagem por Imitação: A maior parte do comportamento humano é aprendido pela observa- ção através da modelagem. Pela observação dos outros, uma pessoa forma uma idéia de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores, esta informação codificada serve como um guia para a ação. Este tipo de aprendizagem pode ser seguido de: • Reforço direto: a criança, ao usar corretamente o talher, é elogiada, isto é, reforçada por ter imitado um comportamento desejado. • Reforço vicariante: se a criança observar que o comportamento exe- cutado por um adulto foi elogiado, a criança prevê que se agir desse modo, obterá aprovação semelhante. Exemplos: • Uma criança que desde pequena está habituada que lhe leiam his- tórias, que lhe ofereçam livros, cujos pais têm o hábito da leitura, tenderá a ler e a apreciar esta atividade. • Muitos comportamentos, como fumar iniciam-se por imitação. Efeitos de aprendizagem por imitação: • Efeito da modelação ou modelagem: o observador observa e imita o modelo, adquirindo novas formas de resposta. Exemplo: Bandura desenvolveu experiências em que crianças dos 3 aos 6 anos observavam adultos que gritavam e chutavam um boneco inflável. Mais tarde, quando as crianças brincavam com o boneco, apresentavam 2 vezes mais respostas agressivas do que as outras crianças. • Efeito desinibitório e inibitório Exemplo: Uma criança geralmente inibe a agressividade porque este tipo de comportamento são criticados pelos pais, professores e outros adultos. Com tudo, se essas exibirem comportamentos agressivos, a criança apresentará também reações agressivas, atenuando-se assim a inibição anterior (efeito desinibidor). Pode ocorrer um efeito inibidor se o modelo sofrer conseqüências negativas pelo seu comportamento. Um aluno que viu o colega ser punido pode ler revistas durante a aula tenderá a inibir este comportamento (efeito inibidor). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 157 12 mar 2011 Fatores que influenciam a aprendizagem por imitação: • Proximidade com o modelo; • A influência afetiva; • É mais freqüente a imitação de modelos entre pessoas do mesmo sexo e com idades mais próximas. • A atenção. e) Gestalt – Aprendizagem por Insight. Max Wertheimer (1880 —1943) Kurt Koffka (1886 -1941) Wolfgang Köhler (1887 - 1967) Esta teoria tem como base a representação global de uma situação, suas teorias são centradas sobre a atividade do indivíduo. A Gestalt é representada pelos alemães Wertheimer, Koffka e Köh- ler. Para os representantes da corrente Gestáltica (psicologia da forma) a atividade e o comportamento do sujeito são determinados de acordo com o modo pelo qual vê e compreende a estrutura dos elementos da situação problema. Para Koffka a percepção e pensamento não podem ser reduzidos a um acúmulo de sensações ou associações individuais mas, são determina- das pela estrutura global. Para Pozo (1988), o paradigma da aprendizagem consiste na so- lução de problemas que tem como princípio o todo (a globalidade) para as partes (o todo não pode ser compreendido pela separação das partes) e na organização dos padrões de percepção. A insistência na estrutura global dos fatos e dos conhecimentos con- cede maior importância à compreensão do que a simples acumulação de conhecimentos. Isso fez com que Wertheimer em 1945 distinguisse o pen- samento reprodutivo do pensamento produtivo. O pensamento reprodutivo se constitui de conhecimentos previamente adquiridos à situações novas e o pensamento produtivo por sua vez, implica no descobrimento de uma or- ganização perceptiva ou conceitual, com relação ao problema a ser tratado, isto é, a compreensão real do problema, como compreender o problema que é vantajoso em relação a simples aprendizagem mnemônica ou reprodutiva. Isso porque essa compreensão resulta mais fácil de ser generalizada a ou- tros problemas estruturalmente semelhante. Para este autor, obter a solução produtiva de um problema é algo fundamental para a compreensão do mesmo. Para que ocorra uma solução produtiva de um problema, é necessário captar aspectos estruturais da situa- ção além de elementos que a compõem (Pozo, 1998). Gestalt x Aprendizagem O psicólogo Wertheimer (1945) utiliza-se da história da ciência como área de estudo da psicologia do pensamento e da aprendizagem. Este au- tor considera que cada um dos mecanismos de aprendizagem associativa corresponde a um mecanismo alternativo nas concepções gestálticas (Pozo 1998). Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 158 12 mar 2011 Wertheimer considera ainda que a associação é como a compreen- são da relação estrutural entre uma série de elementos que necessitam uns dos outros, auxiliando dessa forma a captar as relações entre os elementos dentro da estrutura. O “ensaio e erro” deixaria de ser aleatório (incerto), para se converter em uma comprovação estrutural de hipóteses significativas. O aluno aprende reinterpretando seus erros e acertos, compreendendo as ra- zões estruturais que o tornaram possível. A compreensão de um problema para Wertheimer está vinculada a uma tomada de consciência de seus aspectos estruturais ou “insight”, que significa “achar subtamente a solução para uma situação difícil”, “perceber relações entre os elementos de uma situação”. O “insight” só é possível quan- do uma situação de aprendizagem é arranjada de maneira que se possam observar todos os seus aspectos. Se houver a omissão de qualquer um dos aspectos, não ocorrerá o “insight”, portanto, não haverá solução. Se um problema tiver várias estruturas e alguma delas resultar mais imediata ou mais fácil para que o sujeito perceba a reestruturação dessas estruturas vai se apresentar mais facilmente, mais imediata. Papel do professor e papel do aluno • Papel do professor Na Gestalt, o ensino é centrado no aluno e o professor tem como função dar assistência ao aluno de forma a não transmitir o conhecimento. Ele deve ser um facilitador da aprendizagem, que consiste na compreensão, aceitação e confiança em relação ao aluno. Deve aceitar o aluno como ele é. O professor deve possuir um estilo próprio para “facilitar” a apren- dizagem. Sua intervenção deverá ser a mínima possível, devendo criar um clima favorável de aprendizagem. O conteúdo não deve ser repassado, uma vez que ele é adquirido da experiência vivida do aluno. Para o professor, qualquer ação que o aluno decide fazer deve ser considerada como boa e instrutiva. Cabe ao professor auxiliar a aprendiza- gem do aluno de maneira a despertar o seu próprio conhecimento (Becker, 1992). • Papel do Aluno O aluno deve ser responsabilizar pelos objetivos referentes à apren- dizagem que lhes são significativos. Ele é compreendido como um ser que se autodesenvolve e o processo de aprendizagem deve facilitar este desenvol- vimento. O aluno aprende por si mesmo, encontrando o seu próprio caminho. Cabe aos alunos pesquisar os conteúdos, criticar, aperfeiçoar ou até mesmo modificá-los (Becker, 1992). Tarefa Prescrita do Professor e do Aluno no desenvolvimento Ensino – aprendizagem Tarefa prescrita do professor • organizar o conteúdo do todo para as partes, isto é, do geral para o Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA159 12 mar 2011 particular; • dividir o problema principal em problemas menores para facilitar a compreensão do aluno; • definir claramente os objetivos; • apresentar o mesmo problema sob diferentes formas; • intervir o mínimo possível. Tarefa prescrita do aluno • analisar seus erros, encontrando assim a solução; • avaliar seu processo de aprendizagem (auto-avaliação); Avaliação no Processo Ensino-aprendizagem A avaliação só tem sentido como uma auto-avaliação e deve estar de acordo com os padrões prefixados pelos alunos. Os alunos aprendem o que desejam aprender. Não existe qualquer padronização. Ele deverá assu- mir a responsabilidade pelas formas de controle de sua aprendizagem, defi- nindo e aplicando critérios para avaliar se os objetivos foram atingidos. Após esta auto-avaliação o professor faz a sua avaliação de maneira a perceber se os objetivos foram atingidos atribuindo ao aluno um conceito. 5- PRODUTOS DA APRENDIZAGEM: a) Cognitivo: • Conhecimento – informações, idéias e fenômenos armazenadas ou não – memorizadas pelo aluno. Pode-se dizer que o objetivo expres- so em termos de conhecimento é atingido quando o aluno se mostra capaz de lembrar o que lhe foi ensinado. • Compreensão – designa um tipo de entendimento ou percepção de tal natureza que o indivíduo, ao receber uma comunicação, sabe o que está sendo comunicado e pode fazer uso da matéria ou idéias transmitidas, sem necessariamente relacioná-las com outras maté- rias ou ver todas as suas implicações. • Aplicação – uso de abstrações em situações específicas e concretas. As abstrações podem apresentar-se sob a forma de idéias gerais, normas de procedimento ou métodos gerais. Podem ainda ser princí- pios, leis, teorias que devem ser recordadas e aplicadas. • Análise – a análise pretende esclarecer a comunicação, indicar como foi organizada, determinar seus fundamentos e ordenação e fixar o modo pelo qual consegue alcaçar seus fins. • Síntese – reunião de elementos e partes de um todo. A síntese envol- ve a ordenação e combinação de segmentos, partes, elementos, em um padrão ou estrutura anteriormente não especificados. Geralmen- te a síntese exige uma combinação de partes da experiência prévia com novo material. • Avaliação – julgamento para determinada finalidade, do valor de idéias, trabalhos, soluções, etc. Envolve uso de critérios e padrões para determinar em que medida um objeto é preciso, exato, efetivo, satisfatório. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 160 12 mar 2011 b) Afetivo: internalização de valor. • Recepção – disposição a receber certos estímulos e prestar atenção neles. • Resposta – participação ativa, disposição para responder e satisfa- ção em responder. • Valorização – perceber e responder a certo estímulo, adquirindo uma crença e um valor sobre o mesmo (aceitar um valor, preferência por um valor, compromisso). • Organização – conceituação de um valor, organização de um siste- ma de valores. c) Psicomotor: complexidade do movimento. • Percepção – é a categoria que designa a observação , pelo aluno, do movimento a ser executado. Essa é a fase passiva do aprendizado, pois o aluno limita-se a prestar atenção à ação realizada pelo instru- tor. • Posicionamento – o aluno assume posturas e dispõe corretamente os aparatos necessários à execução do movimento. • Execução acompanhada – instrutor acompanha ou monitora o aluno na execução do movimento. • Mecanização – o aluno realiza sozinho, está marcada por erros e interrupções • Completo domínio do movimento – erros se reduzem praticamente a zero e o executante asapta a ação a circunstâncias inesperadas. Após receber orientações práticas, além do uso do manual, o aluno conduzirá sua aeronava com segurança. Pode-se visualizar o aluno realizando esse procedimento com com- petência e tranquilidade , o que constitui a essência da categoria completo domínio de movimentos. 6- Estilos de Aprendizagem Um Estilo de Aprendizagem é um método que uma pessoa usa para adquirir conhecimento. Cada indivíduo aprende do seu modo pessoal e úni- co. Um Estilo de Aprendizagem não é o que a pessoa aprende e sim o modo como ela se comporta durante o aprendizado. 7- Fatores de aprendizagem: a) Idade Facilmente se consta que a idade é um fator que interfere na apren- dizagem. Por exemplo: a maturação fisiologia em geral e o sistema nervoso em particular impedem uma criança de dois anos de idade de aprender, por exemplo, a fazer recortes com uma tesoura. São necessárias determinadas estruturas intelectuais para que se Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 161 12 mar 2011 possam concretizar certas aprendizagens. A cada estágio correspondem ca- pacidades específicas. Daí decorre que quer os conteúdos quer as metodo- logias educativas tende estar em consonância com a faixa etária e nível de desenvolvimento dos indivíduos. b) Inteligência: Existe uma relação direta entre a inteligência e aprendizagem, sen- do muitas vezes difícil separar uma atividade intelectual de uma atividade de aprendizagem. Os sujeitos com capacidades intelectuais “significativas”, nor- malmente, conseguem manipular símbolos, elaborar raciocínios mais ade- quados, resolvem os problemas no ritmo mais rápido e com menos erros e fazem melhores transferências dos conhecimentos. Durante muito tempo foi atribuída à inteligência a principal razão para justificar a facilidade ou dificuldade em aprender. Contudo, e à medida que se desenvolveram estudos sobre os processos de ensinos – aprendiza- gem, foi se tomando consciência da inoperância dessa relação direta inteli- gência – resultados escolares. c) Aprendizagem e experiência anterior: A maioria dos assuntos que se aprendem não são novos; a experi- ência passada influencia profundamente as aprendizagens – uma experiên- cia agradável nos da confiança para outras aprendizagens nesse domínio. A transferência de uma situação para outra pode facilitar ou dificultar a nova aprendizagem (transferência positiva ou negativa – como já estuda- mos anteriormente). d) Fatores sociais: Tem sido investigado o modo como a sociedade – com seus valo- res, aspirações, interesses, atitudes, religiões, organização política – marca educação, influenciando as grandes linhas educativas, os currículos e a for- mação de professores. A escola, a forma como aprendizagem é encarada, é influenciada pelas classes sociais. Vários estudos sobre sucesso escolar salientam a rela- ção entre a taxa de reprovação e os meios social-econômicos e culturais de seus alunos. e) Memória: Segundo a abordagem cognitiva da instrução, o processo de memo- rização é fundamental à aprendizagem, a memória é um fator importante mas não é o fim do processo educativo. O cérebro exerce papel fundamental na fixação, retenção e evoca- ção das experiências vividas. Por definição, memória é um conjunto de mecanismos funcionais psíquicos para armazenagem de informações captadas pelo sistema senso- rial do indivíduo. • Memória sensorial - envolve a apreensão de sinais através dos ór- gãos dos sentidos (tato, paladar, audição, etc.), retendo as informa- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 162 12 mar 2011 ções adquiridas por um espaço curto de tempo, sem elaborar essas informações; • Memória de longo prazo - envolve a capacidade de armazenagem permanente de conhecimento, resgatadoe aplicado de acordo com uma necessidade específica; • Memória de trabalho - comparável como exemplificação ao espaço de trabalho ou tela de um computador. Seu conteúdo é informação ativada, ou seja, é aquilo sobre o que se está pensando no momento. O bom funcionamento de cada um desses níveis de memória, de forma inter-relacionada, permite aplicar aquilo que é memorizado aos proble- mas diários. É aí que fica, exatamente, o papel da memorização no processo de aprendizagem. À medida que a memória vai acumulando saberes e à me- dida que esses conhecimentos armazenados sirvam como meios de superar ou solucionar situações-problema está se fazendo uso do que se aprende. Ou seja, aprende-se porque se memoriza e, diante de determinada circuns- tância, sabe-se como agir por dispor-se na mente de algo que é útil naquele momento. 8 - Como ser um facilitador da Aprendizagem: • Autenticidade - O professor deve ser uma pessoa real, autêntica, que se apresente sem uma máscara ou fachada; • Apreço ao estudante - O professor deve apreciar o estudante, os seus sentimentos, as suas opiniões, a sua pessoa. • Compreensão empática - o professor deve ter a capacidade de co- locar-se na posição do estudante, de encarar o mundo através dos olhos deste. 9 - Aspectos que dificultam a aprendizagem • Estresse – reação emocional e física do organismo, frente às situa- ções que o desequilibram. • Ansiedade – é uma sensação derivada de momentos de preocupa- ção, tensão e apreensão, sentida como antecipação a problemas. • Baixa concentração - A concentração é a capacidade de manter o foco de atenção sobre os estímulos relevantes ao meio ambiente. Quando o ambiente muda rapidamente, conseqüentemente o foco de atenção precisa ser alterado também. Pensamentos sobre aspec- tos irrelevantes podem aumentar a freqüência de erros. • Baixa atenção - Atenção é entendida, de modo geral, como um esta- do seletivo, intensivo e dirigido da percepção. Trata-se de um concei- to que compreende o processo de recepção de informações de forma passiva, mas orientado ao processamento dinâmico dos dados. • Timidez - pode ser definida como o desconforto e a inibição em si- tuações de interação pessoal que interferem na realização dos obje- tivos pessoais e profissionais de quem a sofre. Caracteriza-se pela obsessiva preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros. A timidez aflora geralmente, mas não exclusivamente, Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 163 12 mar 2011 em situações de confronto com a autoridade, interação com algumas pessoas: contato com estranhos e ao falar diante de grupos - e até mesmo em ambiente familiar. 10- Aspectos que dificultam o ensino • Fadiga - A palavra fadiga é usada cotidianamente para descrever uma série de males, que vão desde um estado genérico de letargia até uma sensação específica de calor nos músculos provocada pelo trabalho intenso. Fisiologicamente, “fadiga” descreve a incapacidade de continuar funcionando ao nível normal da capacidade pessoal de- vido a uma percepção ampliada do esforço. Fadiga é onipresente na vida cotidiana, mas geralmente torna-se particularmente perceptível durante exercícios pesados. A fadiga possui duas formas; uma se manifesta como uma incapa- cidade muscular local para desenvolver um trabalho e a outra se manifesta como uma sensação abrangente de falta de energia, corporal ou sistêmica. • Impulsividade - É quando alguém faz algo de uma forma instintiva, ou seja, dá-lhe o impulso de fazer algo. Desejo. • Competitividade – professor querer competir conhecimento com seu aluno, os resultados destas relações pessoais são a hostilidade e o ressentimento, que promovem sentimentos destrutivos da coletivida- de. • Exibicionismo – Ostentar-se, querer aparecer mais que seus alunos (contar vantagens sobre suas experiências). • Autoritarismo – O professor detém o conhecimento, controla o aluno pela disciplina e faz da avaliação um instrumento de poder, com pou- co espaço para questionamentos. • Insegurança – não sentir-se suficientemente preparado para minis- trar seus conhecimentos. Pergunta demais aos outros profissionais na busca da confirmação de seus conteúdos. O PROCESSO ENSINO – APRENDIZAGEM (PARTE II) I - TÉCNICAS DE ENSINO Quando se deseja transmitir algum ensinamento, uma pergunta é sempre formulada: “Que objetivo se pretende levar o educando a alcançar após realizada a aprendizagem?” Todo instrutor, ao iniciar qualquer instrução, tem um objetivo em mente, tem a resposta a esta pergunta perfeitamente esquematizada. Nem todos, entretanto, conseguem orientar seus alunos de forma a que atinjam este objetivo. Quando isso acontece, ou há ineficiência do instrutor em trans- Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 164 12 mar 2011 mitir aquilo que se propõe, ou há desinteresse do aluno em receber qualquer mensagem a ele destinada. O primeiro caso - ineficiência do instrutor - pode ser resolvido com um melhor processo ensino-aprendizagem. O Segundo caso - desinteresse do aluno - é bem mais complexo, envolve uma predisposição que, para ser superada, demandará grandes es- forços por parte do instrutor. Entre as demais causas desse insucesso aponta-se, com freqüên- cia, a inadequação das técnicas de ensino empregadas. Imagina-se, por exemplo, uma aula cujo objetivo é tomar os alunos capazes de utilizar efi- cientemente os diversos tipos de auxílios audiovisuais durante uma instru- ção. Como seria esta aula se o instrutor fizesse uso apenas da palavra para a consecução do seu objetivo, sem a necessária demonstração? Temos aqui uma inadequação da técnica. Como vimos todos os caminhos utilizáveis para que sejam reduzi- dos os problemas de ensino-aprendizagem levam à necessidade do uso da técnica adequada. Pode ser dito, sem leviandade, que é mais importante à técnica usada pelo instrutor do que a cultura que ele tem. De nada adiantará ser um “expert” no assunto se ele não conseguir transmiti-lo. Existem diversas técnicas, embora nenhuma possa ser apontada como melhor do que a outra e devem ser aplicadas visando à maior eficácia em alcançar os objetivos propostos. 1 - Técnica Expositiva Consiste na apresentação oral de um assunto pelo professor. Bas- tante tradicional, é a mais utilizada, sem sombras de dúvida, em quaisquer cursos. Críticas são constantemente feitas a esta técnica. Entretanto, caso bem utilizada, isolada, ou em conjunto com outras, atinge plenamente os objetivos que se deseja alcançar através dela. Uma aula expositiva, uma conferência ou outras formas de apresen- tação de idéias poderá ter grande receptividade caso não se transformem apenas em monólogos por parte do expositor. A aula, por exemplo, deve ser fundamentada em certos parâmetros teóricos que a tornam, pode ser dito, “arrumada”, visando principalmente a um perfeito acompanhamento pelo aluno. Juntadas a técnica expositiva outras técnicas, fazendo-se o uso cor- reto de recursos sensoriais, difícil será uma crítica à apresentação de qual- quer assunto que tenha como suporte o recurso da voz. 2- Técnica do Ditado Apesar de bastante utilizada, pouco proveito traz a quem é dirigida. Consiste em o instrutor falar pausadamente enquanto os alunos tomam nota de suas palavras. Manual Teórico - Instrutor de Voo de Avião - INVA 165 12 mar 2011 Facilmente se percebe que,