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DESENVOLVIMENTO HUMANO - AULA 06

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20/05/2023, 18:27 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/14
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA PSICOSSEXUAL DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
AULA 6
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Profª Raquel Berg
CONVERSA INICIAL
Olá! Seja bem-vindo a mais uma etapa da nossa jornada do conhecimento sobre teoria
psicossexual do desenvolvimento infantil. Nesta aula, falaremos a respeito de ego e id e como eles
foram fundamentais para compreendermos como se dá a constituição psíquica e sexual. Nesse
sentido, trataremos um pouco acerca das diferenças da primeira e da segunda tópicas dentro do
contexto do ego e do id, além dos conceitos de id, ego e superego.
Na sequência de nossa reflexão, faremos uma apresentação de como ocorre o desenvolvimento
humano do ponto de vista biológico, os três organizadores psíquicos de Spitz dentro desse contexto
do desenvolvimento no primeiro ano de vida. Por fim, abordaremos brevemente os conceitos
kleinianos e lacanianos sobre a formação psicossexual infantil, como se conectam com a teoria
freudiana e como estendem a visão a respeito do desenvolvimento das crianças e o papel da
psicanálise na análise do sintoma infantil.
TEMA 1 – O EGO
O texto do ego e id foi um dos grandes marcos da teoria freudiana. Até então, o conceito de
inconsciente vinha como um pilar da metapsicologia psicanalítica juntamente com os de
subconsciente e consciente, e essa tríade compunha a constituição do aparelho psíquico segundo a
primeira tópica freudiana. O inconsciente era descrito como a forma pela qual determinadas
informações eram apreendidas e ficavam “escondidas” na mente, só podendo ser resgatadas por
hipnose ou no relato dos sonhos. A necessidade de se escrever esse texto e, posteriormente, lançar a
segunda tópica, se deu pelo fato de que no ego também há um inconsciente, do mesmo modo como
no inconsciente residem uma parte do superego e do ego, assim como o id.
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Posto que essa segunda tríade compartilha de mais de um lugar, Freud decide criar o segundo
modelo e mantém, de alguma maneira, ainda a existência do primeiro. Vale retomar que o primeiro
foi constituído a partir do texto de Freud sobre o “Projeto para uma Psicologia Científica” de 1895;
nele, Freud (1977, v. XIX) “importa” o conhecimento que já possui em neuroanatomia, as descobertas
de Wundt, Golgi, Ramon e Cajal, e com isso cria sua hipótese de como os pensamentos e as emoções
se constituem para além da questão motora, do “arco reflexo”. Nesse texto de 1895, Freud (1977, v.
XIX) também projeta como poderia funcionar o recebimento de novas informações e o modo pelo
qual estas se inserem no conhecimento já adquirido, e como, a partir disso, se formam os sintomas “a
partir de uma força recalcada que se esforça em abrir caminho até a atividade, mas mantida sob
controle por uma força repressora e, estruturalmente, um ‘inconsciente’ a que se opõe um ‘ego’”
(Freud, 1977, v. XIX, p. 17).
No entanto, se analisarmos mais a fundo esse trecho do texto “Interpretação dos Sonhos” de
1900 (1977, v. XIX), observamos que o autor tenta seguir com o primeiro modelo, mas algumas
inconsistências começam a surgir, como a contraposição entre inconsciente e ego, que até então não
eram instâncias do mesmo conjunto.
Com isso, o termo inconsciente passa a ter dois sentidos: um mais descritivo, que confere uma
qualidade específica a um estado mental; e outro, dinâmico, que atribui uma função a esse estado
mental. Depois, essas qualidades atribuídas a conceitos que existiram desde o início da psicanálise e
permaneceram até os últimos textos terão pontos de vista tópicos e dinâmicos. Nesse sentido,
Strachey (Freud, 1977, v. XIX, p. 17) comenta, em seu texto introdutório do “Ego e o Id”:
Desde o início, porém, uma outra noção, mais obscura, já se achava envolvida (como era
claramente demonstrado pelos diagramas pictóricos): a noção de ‘sistemas’ da mente. Isto
implicava uma divisão topográfica ou estrutural da mente baseada em algo mais que função, uma
divisão em partes às quais era possível atribuir em certo número de características e métodos de
operação diferenciantes [sic].
Assim, em 1900 já começava a se esboçar algo que depois viria a se tornar a segunda tópica,
mas somente mais tarde Freud efetivamente pôde dar estrutura a essa segunda proposta de
aparelho psíquico. O texto “Além do princípio do prazer”, de 1920, foi o marco da transição entre as
tópicas, quando a noção do inconsciente pareceu ser insuficiente para tratar dos conceitos de ego,
superego e id. Com a transição, Freud foi capaz de apresentar novos avanços em sua teoria. O id
passa a ter dois empregos principais: um, com o mesmo significado de inconsciente, pois se trata de
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uma parte da mente; e outro, como uma instância diferenciada dos demais e que representa o
indivíduo em sua totalidade.
Já o ego aparece com duas construções: uma antes (evocando as pulsões do ego de recalque
sexual e de autoconservação) e outra depois do conceito de narcisismo (pulsões de vida e de morte).
O ego passa a corresponder a algo que está entre as instâncias inconscientes e pré-conscientes (Ics-
Pcs) e inclui atividades, como censura, teste de realidade (se o que estamos vendo é real e
compartilhado com outros) etc., e autocrítica. Assim:
Pode haver uma ‘instância psíquica especial’ cuja tarefa é vigiar o ego real e medi-lo pelo ego ideal
ou ideal de ego – ele parecia utilizar indiscriminadamente os termos [...] Atribuiu um certo número
de funções a essa instância, inclusive a consciência normal, a censura do sonho e certos delírios
paranoicos. (Freud, 1977, v. XIX, p. 21)
Essa “instância psíquica especial”, que Freud depois a chama de superego, posteriormente passa
a ser responsável por alguns estados patológicos de luto. O autor a assemelha ao ideal do ego,
sendo que o superego é o que vai prevalecer e permanecer depois. Esse superego (Freud, 1923, p.
22) age como “o veículo do ideal do ego pelo qual o ego se mede”. Ele é derivado das catexias
objetais infantis e é o que toma o lugar do Complexo de Édipo (pois nesse mecanismo há “a
substituição de uma catexia objetal por uma identificação e introjeção do amor anterior” (Freud,
1977, v. XIX, p. 22), o que para o autor explica a existência da bissexualidade, na medida em que
depende de com quem ocorre a identificação por substituição do amor).
Segundo o autor, o ego é uma instância ligada à consciência que regula as descargas de
excitações para o mundo externo, a linguagem e as necessidades do indivíduo. Sobre isso, Laplanche
e Pontalis (2001, p. 124, grifo do original) afirmam:
[O ego] instância que Freud, na sua segunda teoria do aparelho psíquico, distingue o id do
superego. Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as
reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da realidade. Embora
se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é
apenas relativa.
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito neurótico, o polo
defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes motivados
pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).
Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos psíquicos;
mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são contaminadas
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pelas características que especificam o processo primário; assumem um aspecto compulsivo,
repetitivo, desreal.
TEMA 2 – O ID E O SUPEREGO
Embora uma parte do ego seja consciente, outra está ligada ao inconsciente, e é essa que
tentamos acessar e trazer à consciência na análise para compreendera origem dos sintomas. As
percepções recebidas pelo ambiente e as sensações e sentimentos oriundos de dentro são
cuidadosamente avaliados pelo ego antes de se tornar conscientes. Para entender um pouco melhor
esse funcionamento do ego, precisamos também compreender o id e o superego.
O inconsciente é um princípio originário que, quando não consegue expressão ou satisfação de
suas pulsões, forma o sintoma, que se situa na “zona” compartilhada entre o id e o ego inconsciente.
Nesse inconsciente está a fonte originária das pulsões, conceito de natureza quantitativa em que o
somático (a libido) e o psíquico (as representações) se encontram. Segundo Laplanche e Pontalis
(2001, p. 219), “os seus conteúdos [do id], expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um
lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos”.
O id é uma força interna desconhecida e indomável; poderíamos compará-lo à “Raposa de Nove
Caudas”, entidade que vive dentro de Naruto (série de mangá). Essa raposa é uma Bijū, uma das
bestas com caudas ou bestas de chacras, que possui grande poder, mas obriga Naruto a ficar
constantemente acordado (ou seja, com a censura ativa) ou pode tomar conta do corpo do jovem
ninja e destruir tudo o que está em sua volta. Ao mesmo tempo, quem acompanha a série percebe
que a raposa também representa, em alguma medida, a personalidade do garoto, da mesma forma
que o id constitui o polo pulsional da personalidade e que precisa ser controlado pelo ego e pelo
superego. Apesar de em um primeiro momento a teoria freudiana classificar o id como sendo uma
organização caótica, depois conclui que, na verdade, há alguma organização, especialmente quando
observamos que as próprias pulsões são divididas em pulsões de vida e de morte.
Já o superego é uma instância de julgamento, de censura. Ele provoca o sentimento de culpa, a
moralidade e o que é o ideal – sendo o sucessor do narcisismo e herdeiro do Complexo de Édipo
(estabelecido, portanto, durante e após a fase anal). Autores como Klein e Spitz consideram a
existência de um superego precoce ou primário, precursor de um superego final, e que já estaria
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presente desde a fase oral, quando a criança esboça comportamentos sádicos com o seio materno e
introjeta objetos “bons” e “maus”.
O ego é corporal, é a projeção do corpo em sua totalidade e o que constitui nosso caráter. Sem
ele, seríamos como os animais, que respondem a seus desejos e necessidades, reagem no modo de
ataque ou figa e contêm seus impulsos quando há a censura de outro animal do bando como um
líder ou uma fêmea. O ego nos coloca em um patamar diferenciado em relação aos animais, pois
medeia nossos julgamentos e cria formas alternativas de lidar com o sofrimento e com aquilo que é
recalcado. Segundo Freud (1977, v. XIX), o ego existe desde a fase oral. Nessa fase, o ego é um ego
fraco que, diante das exigências pulsionais, sujeita-se a elas ou tenta recalcá-las. Já no narcisismo,
esse ego assume as características do objeto e tenta forçar o id a reconhecer o ego como também
um objeto de amor – há aqui a transformação da libido do objeto em libido narcísica, o que leva a
um abandono dos objetos sexuais e uma espécie de sublimação, já que o indivíduo se basta consigo
mesmo.
Quando o complexo de castração e o Complexo de Édipo ocorrem, o superego, como um
herdeiro desse Édipo, interrompe o ego e o força a redirecionar o investimento para objetos externos
– “você não pode ser autossuficiente; busque outro para satisfazê-lo”, diz esse superego, “mas com
algumas regras e restrições – você deveria ter essas características, como seu pai ou sua mãe, e não
deveria ter essas outras características, pois essas pertencem somente a seus pais ou figuras parentais
relevantes”.
Esse superego, portanto, é o contraponto direto do id. À medida que o indivíduo cresce, esses
representantes do que o superego permite ou não permite vão sendo substituídos por outras figuras,
como professores, amigos ou outras figuras colocadas em posição de autoridade (padres, médicos,
policiais etc.).
TEMA 3 – O DESENVOLVIMENTO INFANTIL GLOBAL E OS
ORGANIZADORES PSÍQUICOS DE SPITZ
De forma didática, podemos falar sobre desenvolvimento infantil sob três diferentes
perspectivas: cognitiva, motora e afetiva. O amadurecimento de cada uma dessas funções ocorre em
paralelo e foi analisado por diversos autores. Piaget (1932), com relação ao desenvolvimento
cognitivo, estabeleceu a existência de quatro fases principais: sensório-motor (de 0 a 2 anos), pré-
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operatório (de 2 a 7 anos), operatório-concreto (até 12 anos) e operatório-formal (a partir de 12
anos). Já o desenvolvimento motor tem, de modo geral, as características conforme indica o Quadro
1:
Quadro 1 − Características do desenvolvimento infantil
Marcos do desenvolvimento (alguns exemplos) Idade
Aprende a olhar para uma pessoa, demonstra prazer e desconforto, adquire a capacidade de erguer a cabeça,
aprende a diferenciar dia e noite, emite sons, reconhece quando falam com ela, faz gestos com as mãos e a
cabeça, usa ao menos uma palavra com sentido, diferencia familiares de estranhos, imita gestos e brincadeiras,
arrasta ou engatinha
Até 1
ano
Anda sozinho e cai raramente, combina duas ou três palavras, distancia-se da mãe, leva alimentos à boca com as
próprias mãos, corre e sobe ou desce degraus
De 1 a
2 anos
Diz o próprio nome e nomeia objetos como sendo seus, veste-se com auxílio, usa frases e começa a ter controle
dos esfíncteres
De 2 a
3 anos
Reconhece mais de duas cores, brinca com outras crianças e imita pessoas de seu cotidiano
De 3 a
4 anos
Veste-se sozinha, alterna momentos cooperativos com agressivos, é capaz de expressar preferências e ideias
próprias
De 4 a
6 anos
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2002.
Com base nas constatações sobre os marcos do desenvolvimento infantil, Spitz (1979)
desenvolveu sua teoria sobre a existência de três organizadores psíquicos, que ocorrem basicamente
no primeiro ano de vida da criança:
O primeiro organizador é chamado de estágio pré-objetal e ocorre até três meses. Durante esse
período, o sorriso e o choro surgem como as primeiras formas de se relacionar com outras
pessoas, em especial a mãe ou o cuidador. Dessa relação, vêm os primeiros processos de
pensamento associados às experiências de prazer e desprazer. Nessa fase, a boca serve tanto
para a alimentação quanto para conectar o bebê a seu objeto de prazer, a mãe. A oralidade
antecede todas as funções que se desenvolvem, como olfato, visão, audição, paladar e tato. A
partir do rosto da mãe, a criança também desenvolve a memória, que no início se dá quando o
objeto reaparece exatamente como estava antes (ou seja, se a mãe colocar óculos, por
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exemplo, é comum o bebê se assustar e pensar que a mãe foi embora; somente depois a
criança compreende que a pessoa com óculos à sua frente ainda é sua mãe).
O segundo organizador é chamado de estágio precursor do objeto e ocorre entre três e oito
meses: nesse estágio, o tônus muscular permite à criança segurar a cabeça e permanecer
sentada, além de pegar e soltar objetos por vontade própria. Surgem o medo de estranhos e a
compreensão de ordens e proibições, e a criança passa a ser capaz de imitar alguns
comportamentos dos pais.
O terceiro organizador psíquico é o estágio do objeto real. Nessa etapa, a criança explicita sua
preferência pela mãe, surge a compreensão de palavras como “não”, “tchau” e “passear”, e os
primórdios da comunicação e da fala, ainda que somente a mãe compreenda o que ela lhe diz.
O não é o primeiro conceito abstrato adquirido.
TEMA 4 – A TESE DE MELANIE KLEIN
Esse estudo de Spitz foi inspirado, em grande medida, pelos trabalhos de Winnicott, seguidor da
teoria kleiniana. MelanieKlein foi uma autora pós-freudiana cuja principal proposta de mudança foi a
de que as estruturas infantis passariam por duas posições principais: a esquizoparanoide e a
depressiva. A primeira ocorre durante os quatro primeiros meses de vida e se constitui como uma
modalidade na qual as pulsões agressivas coexistem com as de prazer, sendo ambas igualmente
forte e fundidas. Além disso, o objeto é parcial (o principal objeto parcial é o seio) e clivado entre
bom e mau, estando aqui presente um sentimento constante e persecutório de angústia pelo medo
do objeto mau.
Os processos psíquicos predominantes nessa posição são a introjeção e a projeção, com a recusa
no reconhecimento da realidade que envolva o objeto mau e o controle absoluto sobre ele. A inveja
dessa fase é uma expressão oral-sádica dos impulsos destrutivos que operam desde o nascimento;
têm uma base constitucional e se apresentam pelo impulso invejoso de tomar e estragar o objeto.
Alguns dos principais mecanismos de defesa aqui são: idealização, o que deixa o objeto certo tempo
fora do alcance do ataque invejoso; confusão, na qual há falha da clivagem primária entre o bom e o
mau objeto; fuga da mãe para outras pessoas; dispersão dos sentimentos de amor e gratidão para
outra pessoa que não é a mãe; depreciação do objeto e ingratidão; autodepreciação; introjeção
voraz do peito, de tal modo que ele fica totalmente possuído na mente do bebê e o sujeito se
confunde com ele; o provocar inveja nos outros; o abafar do amor e intensificar o ódio,
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mostrados na forma de indiferença ao que causaria inveja; retração, com o afastamento material ou
afetivo para não ter a oportunidade de sentir inveja; reforço de independência, com o sujeito
exagerando sua autossuficiência; e acting out, no qual o desejo se realiza mediante uma ação cujo
sentido permanece inconsciente.
Já a posição depressiva, que no desenvolvimento normal se dá no segundo trimestre do
primeiro ano de vida, instaura-se após a posição esquizoparanoide e tem como principal
característica a percepção da mãe como figura total, e não apenas como um objeto parcial (o seio
materno), levando assim a uma aproximação entre o objeto fantasioso interno e o objeto externo,
pois o ego tem maior capacidade de integrar e sintetizar os objetos.
As pulsões de prazer e ódio se combinam, e o objeto é amado e odiado simultaneamente,
criando um sentimento de ambivalência com relação ao objeto. Nesse momento, a angústia infantil
também sofre uma mudança, pois se antes o medo de perda do objeto provocava o sadismo infantil,
na posição depressiva esse sadismo é alterado para uma inibição da agressividade e uma reparação
do objeto pelos danos causados das fantasias onipotentes. Com isso, a relação com a mãe deixa de
ser exclusiva, e a criança começa a se aproximar e a se identificar com outras pessoas, o que Melanie
Klein chama de Complexo de Édipo precoce.
Para que o ego da criança possa se estabelecer de forma saudável, é fundamental que ela ame e
seja amada, pois a integração de seu ego depende das relações com o objeto materno. A falta de
segurança quanto ao amor do outro gera desintegração e fragmentação, que estão intimamente
ligadas ao medo da morte. Embora o brincar tenha sido mais profundamente explorado por
Winnicott, Klein já observara em seus estudos que o brincar infantil representa suas experiências,
traduz os sentimentos da criança e a auxilia, como uma espécie de projeção, a elaborar e dar conta
desse mundo, principalmente daquilo que não é dito.
Nas consultas com crianças, Klein muitas vezes verbalizava a seus pequenos pacientes situações
e medos que, de alguma forma, não eram possíveis de ser verbalizados em palavras, mas que
apareciam nas brincadeiras mesmo que as crianças não fossem capazes de compreender por que
estavam brincando daquilo. Para aqueles que já trabalharam com crianças adotadas, por exemplo, é
comum vermos nos desenhos e brincadeiras elas expressarem que, de alguma forma, sabem de sua
condição, e pela falta de informação sentem medo e insegurança. O brincar e os desenhos aqui
surgem como uma tentativa de elaboração da informação omitida, e o papel do terapeuta é ajudar a
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criança e a família a traduzirem tal informação de maneira a dar mais segurança à criança e, com isso,
reintegrar seu ego.
TEMA 5 – CONTRIBUIÇÕES LACANIANAS
Ao longo de nossa jornada do conhecimento nesta disciplina, vimos muitos conceitos novos.
Basicamente, o que precisamos compreender no desenvolvimento das crianças é que toda análise de
um sintoma infantil precisa considerar o contexto que elas se inserem, sua família, escola. É na
interação com a psicologia, a pediatria e a pedagogia que podemos ser capazes de compreender os
sintomas infantis. Segundo Manonni (1964, p. 196), “minha experiência ensinou-me que as diferentes
formas de reeducação, tão preciosas quando são empregadas com conhecimento de causa, de nada
servem quando a criança não está apta a beneficiar delas como indivíduo autônomo e responsável”.
Assim, a intervenção psicanalítica precisa encontrar o momento certo para ter efeito, ou o sintoma, a
“palavra amordaçada”, apenas seguirá seu curso e poderá até erguer defesas obsessivas contra as
tentativas de tratamento.
A terapia infantil é diferente da terapia com adultos, das técnicas rígidas que executamos ao
trabalhar com psiconeuroses. É diferente do trabalho pedagógico, do trabalho assistencial e de
reeducação, pois o sintoma, como cita a autora, tem “uma função biológica como medida defensiva e
razão de ser social” (Manonni, 1964, p. 204). É também diferente do atendimento médico, pois se o
pediatra toma muitas vezes o sintoma “ao pé da letra”, o analista considera o sintoma da criança
como estando inserido na “ideia fantasma” desse corpo – pois a imagem do corpo, como
representação especular de um eu-pele, tem papel fundamental na gênese da personalidade
(Andrade, 1984) – e na representação mitológica do sintoma familiar (ou seja, o não dito familiar se
transforma em mito no imaginário infantil).
As crianças, por serem em demasiado sensíveis ao ambiente no qual se encontram e atentas às
necessidades das pessoas que amam, muitas vezes introjetam as preocupações e os sintomas dos
adultos e projeta em seus próprios sintomas, e esses sintomas só podem ser reparados quando a
angústia que foi mobilizada tiver sido libertada, pôde encontrar um caminho de liberação saudável.
Ou seja, ao tratarmos uma criança,
tratar-se-á, em relação com a própria história dos pais, de fazer compreender a estes, a gênese das
dificuldades do filho, sem chamar a atenção para a culpabilidade, valorizando os pais no seu papel
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de pais, a criança na sua condição de indivíduo, deixando ao mesmo tempo aparecer os mal-
entendidos. (Manonni, 1964, 215-216)
A construção da imagem do corpo, na teoria lacaniana, tem relação direta com o estádio do
espelho. O estádio do espelho, assim, é um equivalente do momento precoce do Complexo de Édipo,
enquanto este ainda se encontra no narcisismo (ou seja, no momento intermediário entre o
autoerotismo e o amor objetal após o Édipo).
No estádio do espelho, a criança inicialmente vê sua imagem e pensa ser outra criança
(semelhante a alguns animais que pensam estarem vendo, no espelho, apenas um outro da mesma
espécie); depois, ela entra em um período transitório, no qual tem dificuldade de compreender o que
significa aquela imagem que vê no espelho, semelhante ao que observamos em alguns cachorros
com inteligência superior. Por fim, passa a compreender que a imagem projetada é a dela, sendo
como o principal sinal dessa mudança a sua capacidade de observar um detalhe em seu rosto
refletido no espelho e tocar não o espelho, mas o próprio rosto. Ao alcançar essa fase, ela atravessaa
ordem simbólica, que surge com a aquisição da linguagem, como estrutura, e a intervenção do pai
ou do Nome do Pai (do ponto de vista freudiano, o Complexo de Édipo e o complexo de castração),
como lei associada ao real e ao imaginário. O real, aqui, constitui o que subsiste fora da simbolização,
e o imaginário é da ordem do inconsciente, que se expressa por meio do simbólico a partir das
experiências vividas pelo indivíduo.
NA PRÁTICA
A prática que traremos aqui será sobre a morte. Quando falamos desse tema com as crianças, o
processo é totalmente diverso daquele encontrado com adultos. Em geral, elas têm dificuldade de
compreender esse conceito, por demais objetivo e subjetivo ao mesmo tempo; mais precisamente, a
dificuldade reside na ideia de que alguém pode partir e nunca mais voltar.
Em meio à pandemia e nos hospitais, muitos pais se veem diante do desafio de tratar do assunto
com seus filhos, especialmente quando as crianças vivem diretamente as experiências de perdas.
Uma criança de três anos, por exemplo, ainda está em processo de desenvolvimento, e sua
compreensão a respeito da morte precisa ser discutida várias e várias vezes para que ela apreenda
um conceito que só o seria muito mais tarde. Tal como na investigação sobre “de onde vêm os
bebês?”, a criança que vivencia o luto também se encontra impelida a descobrir “o que é a morte?”.
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Em um exemplo apresentado no hospital, uma criança associou a morte do irmão a um brinquedo
que quebrou, pois ambos não seriam restaurados, não podiam ser substituídos e, de alguma forma,
ela teria que aprender como lidar com aquela nova condição.
Um menino de 13 anos, à beira da morte por causa de um câncer, tentava compreender como
poderia aproveitar a vida que lhe restava e aprender algo novo se não lhe restava mais tempo. Além
disso, ele se preocupava sobre como poderia explicar à irmã mais nova por que não estaria com ela
no próximo aniversário, sem com isso criar uma dor que fosse insuportável na menina. E, estando
completamente fora do que se espera para uma criança de sua idade, decidiu chamar os pais e lhes
dizer que deveriam parar de brigar, que deveriam parar de se culpar e culpar os médicos pela
condição que ele se encontrava, pois isso não resolvia nada, eles sofreriam mais e o menino não
conseguiria partir em paz. Quando os pais se desculparam e lhe prometeram que aprenderiam a
conviver e que cuidariam bem da irmã, o menino se foi.
O amor que as crianças enfermas recebem nos leitos de hospital também é fundamental para a
continuidade do desenvolvimento psicossexual. Permitir a elas ter os mesmos hábitos de uma criança
saudável, usar roupas de sua idade, ser abraçadas e não viver em uma bolha (como literalmente
ocorreu com um menino americano que viveu 12 anos em uma bolha para não se contaminar) são
alguns dos exemplos. No passado, os bebês que nasciam eram levados para uma sala isolada a fim
de permitir à mãe um pouco de descanso. Depois, os pediatras observaram entre as crianças uma
expressiva diferença no sorriso e na capacidade de reagir ao outro quando eram levadas para os
berçários e quando podiam ficar ao lado das mães.
Outros experimentos que colocavam macacos de pelúcia perto de filhotes órfãos geravam um
desenvolvimento superior em comparação com filhotes privados de qualquer contato físico. Assim, o
desenvolvimento psicossexual infantil é diretamente influenciado por questões genéticas e pelo amor
que recebemos.
FINALIZANDO
Nesta aula, fizemos uma breve apresentação sobre o texto “O ego e o id”, apresentamos a teoria
dos organizadores psíquicos de Spitz, as contribuições kleinianas e lacanianas para os estudos a
respeito de crianças. Por fim, na atividade prática trouxemos o tema da morte como o correlato para
as investigações infantis acerca da origem dos bebês.
20/05/2023, 18:27 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/14
Esperamos que você tenha aproveitado as discussões propostas aqui para conhecer um pouco
mais das origens da psicanálise e convidamos a continuar explorando esse campo do saber tão
envolvente como é a psicanálise.
REFERÊNCIAS
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crítica. São Paulo: EPU, 1984. p. 55-60.
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GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
v. 1-3.
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LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MANONNI, M. A criança atrasada e a mãe. São Paulo: Martins Fontes, 1964.
MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980.
PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1932.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998.
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WINICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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