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CIRROSE HEPÁTICA FISIOLOGIA DO FÍGADO → Fígado possui dupla vascularização. → VEIA PORTA: veia mesentérica superior + esplênica. o Grande volume de sangue (proveniente do baço, pâncreas e intestino) - rico em nutrientes (absorvidos do TGI). o 1000-1200 mL/min. o 50-70% do suprimento de O2 do fígado. → ARTÉRIA HEPÁTICA: 20-30%; sangue altamente oxigenado diretamente do tronco celíaco da aorta. o Fluxo converge nos sinusoides. ARQUITETURA DO FÍGADO → Os HEPATÓCITOS (unidade funcional do fígado) têm capilares/sinusoides extremamente fenestrados → transporte de substâncias do corpo todo, e não possuem membrana basal (facilita ainda mais a passagem de substâncias). o SINUSOIDES HEPÁTICOS: função de conduzir sangue da circulação porta e sistêmica para a veia centrolobular → durante o percurso, metabolizam as toxinas do corpo. o Metabolismo de substâncias hepáticas acontece nos hepatócitos. → ESPAÇO DE DISSE: é o interstício entre sinusoide e o hepatócito. o Contém as CÉLULAS ESTRELADAS ou CÉLULAS DE ITO: quiescentes (taxa metabólica diminuída); armazena vitamina A. Se ativadas (necrose ou inflamação), produzem matriz extracelular - induzida por citocinas liberadas pelas CÉLULAS DE KPUFFER (célula de defesa do fígado). CIRROSE → Processo patológico irreversível de deposição de fibrose no parênquima hepático com presença de nódulos de regeneração (formados pela aproximação de células lesadas do fígado) - diminuição da funcionalidade do órgão. ETIOLOGIAS → Hepatites autoimunes: o Hepatite autoimune tipo 1 e tipo 2 o Cirrose biliar primária o Colangite autoimune → Doenças metabólicas: o Hemocromatose o Doença de Wilson o Esteatohepatite não alcoólica o Deficiência de α-1-antitripsina: enzima produzida pelo fígado que inibe a ação de outras proteases. → Álcool: doença alcoólica do fígado. → Doenças da infância: fibrose cística, galactosemia e atresia biliar. → Vírus hepatotróficos: o Hepatite B: pode causar CHC sem causar cirrose. o Hepatite C o Hepatite B + D → Drogas: metildopa, amiodarona, metotrexato, isoniazida e fenitoína. FISIOPATOLOGIA → Se ativação das células estreladas, em resposta a uma necrose hepatocitária ou inflamação, há produção de colágeno e deposição de fibrose (remodelamento da citoarquitetura do parênquima hepático) no espaço de Disse. o Presença de traves de fibrose no espaço de Disse dificultam a passagem de substâncias → perda da capacidade de metabolização. o Perda de fenestras e do contato entre hepatócitos. o Ativação de células de Kupffer → liberação de citocinas → constricção dos sinusoides (redução do calibre) → aumento de pressão → HIPERTENSÃO PORTAL. EXAME FÍSICO → O normal é a consistência fibroelástica (“ponta de nariz”) do fígado, no entanto, pacientes com cirrose terão uma consistência endurecida com ponta/borda romba. → Hepatomegalia no início, mas no decorrer do processo, diminui de tamanho. DIAGNÓSTICO → Diagnóstico clínico, laboratorial e de imagem. o Cirrose: diagnóstico histopatológico. o Doença crônica parenquimatosa do fígado (DCPF): síndrome clínica. → Biópsia é padrão ouro, mas é muito invasiva. o Quando a clínica + laboratório + imagem sugestivos, é desnecessária. o Fornece pistas diagnósticas da etiologia. o Apresenta riscos (coagulopatias). QUADRO CLÍNICO → Desregulação dos hormônios sexuais: fígado tem papel importante no metabolismo do estrogênio em metabólitos inativos. o Sinais de hiperestrogenismo (acontece primeiro): aumento da conversão periférica de androgênio em estrogênio. • ERITEMA PALMAR: vasodilatação mediada pelo hormônio. • TELANGIECTASIAS: vasodilatação mediada pelo hormônio; desaparece a digitopressão. • GINECOMASTIA: desenvolvimento anormal de mamas em homens; manifestação mais tardia. o Sinais de hipoandrogenismo: ATROFIA TESTICULAR; PERDA DE LIBIDO, DISFUNÇÃO ERÉTIL; RAREFAÇÃO DE PELOS; SARCOPENIA (perda de massa muscular é bem maciça). → Sinais de hipertensão portal: o Ascite. o Varizes de esôfago e fundo gástrico → HDA. o Esplenomegalia congestiva → Hiperesplenismo. o Circulação porta visível (circulação colateral): “cabeça de medusa” o Síndrome de hipertensão portopulmonar. → Sinais de insuficiência hepatocelular: o Icterícia: fígado participa da conjugação da bilirrubina → aumento de bilirrubina indireta. o Encefalopatia hepática o Coagulopatias o Hipoalbuminemia → Anasarca. o Desnutrição; imunodepressão o Síndrome hepatorrenal e hepatopulmonar. ALTERAÇÕES LABORATORIAIS → Aminotransferases (TGO-AST e TGP-ALT): podem estar normais; não estima gravidade; AST > ALT. → FA e GGT: normal; se elevadas, sugerem etiologia canalicular. → Função hepática: o Hiperbilirrubinemia direta (mal prognóstico). o Hipoalbuminemia: fígado produz albumina. o Alargamento do tempo de protrombina e redução da atividade de protrombina (TP | RNI): fígado produz fatores de coagulação. → Outros: o Hipergamaglobulinemia: por infecção? etiologia autoimune da cirrose? o Hiponatremia: contexto dilucional - paciente “congesto”. o Pancitopenia: anemia, leucopenia e plaquetopenia/trombocitopenia. EXAMES DE IMAGEM → Nodularidade da superfície hepática, heterogeneidade do parênquima, alargamento do sistema porta, redução do lobo direito (atrofia se inicia nesse lobo), identificação de nódulos regenerativos, busca por CHC (principal fator de risco é a cirrose). → USG de abdome com ou sem doppler: o Se suspeita de hipertensão portal - USG com doppler. → TC de abdome; RM; AngioRM; Arteriografia. CLASSIFICAÇÃO → Classificação de Child-Pugh-Turcotte: 5 critérios - mnemônico BEATA (Bilirrubina, Encefalopatia hepática, Ascite, TP - RNI, Albumina). none: ausente COMPLICAÇÕES DA CIRROSE HIPERTENSÃO PORTAL (HP) → Nem sempre HP está associada a cirrose no início. → SISTEMA PORTA: alta complacência (abarca grande quantidade de sangue) e baixa resistência. o 30% do débito cardíaco. o Constituído por uma rede de veias que drenam sangue de grande parte do sistema digestivo para o fígado. → Tríade da HP: ascite + esplenomegalia + varizes esofágicas e gástricas (pode complicar com HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA - HDA). → Surge por aumento da resistência vascular (alterações estruturais - fibrose; vasoconstricção intra-hepática), aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação esplâncnica e periférica) e inflamação (translocação bacteriana; produtos do próprio fígado). AUMENTO DA RESISTÊNCIA VASCULAR → HP PRÉ-HEPÁTICA: interferência na vascularização da veia porta antes de entrar no fígado - trombose de veia esplênica ou veia porta. → HP HEPÁTICA: o PRÉ-SINUSOIDAL (espaço porta): Esquistossomose - deposição de ovos. o SINUSOIDAL: Cirrose - deposição de colágeno com evolução para fibrose nos espaços de Disse e no sinusoide consequentemente. o PÓS-SINUSOIDAL: Doença veno-oclusiva (obstrução no fim dos sinusoides) - uso de quimioterápicos e pacientes submetidos a transplantes de medula óssea → HP PÓS-HEPÁTICA: obstrução ao trato de saída venosa do fígado (veia hepática ou VCI) - Síndrome de Budd-Chiari (coágulos de sangue estenosam e obstruem o fluxo de sangue do fígado). AUMENTO DO FLUXO SANGUÍNEO → O aumento da resistência vascular por obstrução de vasos hepáticos causa repercussão no sistema porta → vasodilatação esplâncnica (baço possui crescimento em forma semilunar - em direção a cicatriz umbilical; represamento sanguíneo) → diminuição do débito cardíaco (DC) → aumento dos mecanismos contrarreguladores (SRAA, simpático e ADH) → retenção de sal e água → edema. o Esplenomegalia congestiva - hiperesplenismo. • Aumenta o poder de hemocaretese: degradação da molécula de hemoglobina. • Hemólise extravascular. • Pancitopenia flutuante: anemia (de doença crônica), leucopenia e plaquetopenia / trombocitopenia importante (aumento do sequestrode plaquetas; não está relacionado com menor coagulação, pois ainda há boa efetividade da plaqueta, só a diminuição na quantidade). INFLAMAÇÃO → Translocação bacteriana (do lúmen intestinal → cai na via linfática → cai na via hematogênica) → aumento de óxido nítrico (NO) → vasodilatação esplâncnica. ASCITE → Complicação mais comum da cirrose (50-60% dos casos). → 75-85% dos pacientes com ascite tem cirrose. → Marcador de mau prognóstico: o 1 ano: 15% (AASLD) - 40% (EASL) o 2 anos: 50% (EASL) o 5 anos: 44% (AASLD) → Fisiopatologia: como na cirrose não há nutrição dos hepatócitos (estão em sofrimento), a produção de proteínas pelo fígado está comprometida. o ALBUMINA: permite que o líquido permaneça dentro dos vasos - PRESSÃO ONCÓTICA → como o paciente cirrótico tem diminuição da síntese proteica, a ascite ocorre por transudação. → Manejo: restrição de sódio, paracentese, diuréticos, TIPS. → Complicações: o PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE): infecção do líquido ascítico preexistente sem evidência de uma fonte secundária intra-abdominal. • Paciente pode ser assintomático ou cursar com febre, dor e sensibilidade abdominal, e estado mental alterado. • Diagnóstico: paracentese diagnóstica (contagem absoluta de leucócitos - PMN ≥ 250 células). • Tratamento: suporte clínico e hemodinâmico; antibioticoterapia precoce - CEFTRIAXONE. Sem tratamento, mortalidade 100%. o Ascite refratária. o Síndrome hepatorrenal. VARIZES ESOFAGOGÁSTRICAS (VEG) → Diagnóstico: o EDA: presença de varizes de esôfago. o USG: diâmetro da veia porta. o Elastografia e angiografia: mais acuradas e menos disponíveis. → Tratamento o Endoscópico: profilático | terapêutico. o Farmacológico: • Betabloqueadores não seletivos ou seletivo (CARVEDILOL). • Diuréticos. • Paracenteses de alívio. • Vasoconstrictores esplâncnicos: TERLIPRESSINA, OCTREOTIDA e SOMATOSTATINA - 3 a 5 dias o BALÃO DE SENGSTAKEN-BLAKEMORE: uso de no máximo 24 horas (uso prolongado pode provocar lesão isquêmica esofágica); controle de sangramento agudo refratário. o TIPS (TRANSJUGULAR INTRAHEPATIC PORTOSYSTEMIC SHUNT): tratamento definitivo; desvio da circulação porta - diminuir pressão. Utilizado em casos de HDA varicosa refratária. • Stent da veia porta a VCI. INSUFICIÊNCIA HEPATOCELULAR COAGULOPATIA → Comprometimento de fatores de coagulação: tendência a sangramento. → Diminuição de fibrinólise endógena: tendência a trombose. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA → Síndrome neuropsiquiátrica potencialmente reversível que pode surgir em hepatopatas crônicos descompensados ou em insuficiência hepática aguda. → Alteração associada a não metabolização eficiente da amônia. o Alta concentração de amônia (tóxica) → passagem dessa substância para o cérebro pela barreira hematoencefálica (BHE) → edema cerebral. → 1º sinal: inversão do ciclo sono vigília. → Fatores precipitantes: infecções, HDA, hipocalemia, diuréticos, desidratação / hipovolemia, dieta hiperproteica, uso de sedativos, CHC, constipação. → Tratamento: o Restrição proteica/corrigir volemia o LACTULOSE: evita constipação; melhora a flora; acidifica o pH intestinal, transformando NH3 em NH4+ (substância menos tóxica). o Antibióticos: reduzir flora bacteriana produtora de amônia • NEOMICINA, METRONIDAZOL, RIFAXIMINA o L-ornitina-L-Aspartato (LOLA): aumenta depuração hepática. SÍNDROME HEPATORRENAL (SHR) → Insuficiência renal funcional: comporta-se como lesão renal aguda; sem alteração de parênquima (histopatológica) o Secundária a vasoconstricção renal por conta da vasodilatação esplâncnica. → Tratamento: repouso; manutenção da euvolemia; retirar agentes nefrotóxicos; paracentese de alívio o Vasoconstricção esplâncnica + ALBUMINA (aumento do volume intravascular efetivo). • TERLIPRESSINA; NORADRENALINA. CARCINOMA HEPATOCELULAR (CHC) → 5º tumor maligno mais comum. → 3ª causa de mortalidade entre as neoplasias. → Causas: cirrose (principal) e hepatite B (pode evoluir para CHC sem causar cirrose anteriormente). → Rastreio: USG de abdome - deve ser realizada a cada 6 meses, assim como dosagem de α- fetoproteína em pacientes com cirrose, para triagem de CHC. → Manejo: cirúrgico e paliativo. → Prognóstico: o Score de MELD: bilirrubina, INR e creatinina; preditor de sobrevida em pacientes em estágio avançado final de doença hepática; desenhado para estadiar e determinar prioridade na lista de transplante cardíaco.
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