Prévia do material em texto
Febre reumática 1 Febre reumática doença inflamatória sistêmica aguda, autoimune, não supurativa possui acometimento cardíaco, articular, do SNC, tecido celular subcutâneo e pele ocorre em indivíduos suscetíveis entre 1 e 5 semanas após infecção de orofaringe causada pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A de Lancefield (EβHGA) desencadeado por resposta imunológica inadequada, celular e humoral Quatro fases distintas caracterizam a doença: - faringoamigdalite estreptocócica - período de latência - fase aguda (FRA) - fase crônica (sequelas valvares persistem e resultam em cardiopatia reumática crônica - CRC) incidência 1º surto - mais elevada, 5-15a com pico entre 8-9, reduz gradualmente com avanço da idade geralmente indivíduos que moram em locais com baixos niveis de higiene, alta densidade demográfica e difícil acesso a saude CRC é crescente com a idade, com maior aumento entre a segunda e quarta décadas de vida, reflete efeito cumulativo das recidivas e sua prevalência diminui junto com a redução da sobrevida começam a declinar a partir dos 35a caracteristica FRA: recorrências do primeiro surto agudo na vigência de novos episódios de faringoamigdalite estreptocócica a frequência de recidivas é maior nos primeiros 5 anos após o surto inicial, principalmente nos dois primeiros. O risco é menor nos adultos entre 25 e 40 anos e muito baixo após essa idade. FRA e a CRC estão associadas com mortes prematuras, atribuídas às complicações como insuficiência cardíaca (IC), arritmias, endocardite e acidente vascular cerebral; sequelas valvares acompanham o indivíduo ao longo da vida, determinando importante repercussão clínica e morte prematura a doença tem distribuição universal, alta prevalência nos continentes africano e asiático e América Latina; e as populações indígenas de países de alta renda, como Austrália, Nova Zelândia e os da América do Norte doença declinou muito em países industrializados, mas continua sendo a principal causa de morbidade e mortalidade em países em desenvolvimento Febre reumática 2 fisiopatologia o mecanismo de patogênese não é completamente conhecido, mas ocorre mimetismo molecular, a semelhança das sequências antigênicas do ser humano e do estreptococo leva à produção de anticorpos induzida pela infecção, que agem contra os antígenos bacterianos mas também contra as estruturas do hospedeiro, levando a lesão tecidual dentro dos EβHGA há cepas com afinidade para moléculas de superfície de proteína M, que se aderem ao tecido faríngeo e possuem propriedades antifagocitárias que permitem a permanência das bactérias nos tecidos por até 2 semanas os epítopos (encontrados na superficie das bactérias) que simulam a miosina cardíaca e os antígenos (encontrados na valva, pele, articulação e tecido cerebral) são responsáveis pelo ataque de reação cruzada imunológica da FR por linfócitos T e B a resposta Th1 (celular) pelos linfócitos T provoca cardite grave e sequelas - pois células são ativadas contra a miosina e epítopos bacterianos reagem ao tecido valvar com fatores de hospedeiro que ainda não são claros, mas que aumentam a resposta inflamatória nas valvas cardíacas a resposta Th2 (humoral) por linfócitos B provoca coreia e poliartrite - a reação inflamatória desencadeada em reação ao streptococcus pyogenes induz inflamação no miocárdio e endotélio da valva que é facilitada pela infiltração das células T; a lesão articular surge pela semelhança do ácido hialurônico do estreptococo com o ácido dos tecidos humanos, formando anticorpos que vão agir contra a cartilagem das articulações do mesmo modo que os anticorpos reagem de forma cruzada com a membrana dos estreptococos, eles também atuam contra o citoplasma dos neurônios dos núcleos caudados e subtalâmico do cérebro, resultando na sd sydenham pacientes que morrem com cardite reumática - vegetações verrucosas nas cúspides valvares + inflamação e edema fase exsudativa: primeiras semanas FR - degeneração fibrinoide colágeno inflamação endocárdio ventricular esquerdo com linfócitos e macrófagos fase proliferativa: 1-6 meses depois - aparecem corpúsculos de Aschoff (lesões granulomatosas patognomônicas de CR, podem ser encontrados em tecido Febre reumática 3 valvar, miocárdio, pericárdio) - ocasionalmente podem ser encontrados na 2ª semana do inicio da FR, pode ser crônico, sem presença de cardite ataque dos anticorpos ao endotélio valvar com ativação dos linfócitos TCD4 - nódulos granulomatosos - nódulos de Aschoff (possui área de necrose central cercada por anel de histiócitos globosos - estruturas apresentadoras de antígeno para linfócito T) - aumento inflamação valvar artrite reumática - edema, infiltração linfócitos e polimorfonucleares, lesões fibrinoide auto-resolutivas coreia - alterações inflamatórias córtex, cerebelo e gânglios os episódios repetidos de infecção que levam à doença destruição valvar - exposição colágeno na circulação que leva à exposição de anticorpos linfócito t + TNF-alfa e IL-2 quadro clinico se inicia após duas a três semanas de um quadro de faringite estreptocócica FRA apresenta manifestações clínicas diversas, com amplo espectro de gravidade e com duração de 10 a 12 semanas manifestações mais comuns: cardite (50-70%), artrite (35-66%) e coreia (10-30%) (movimentos involuntários distais, rápidos, abruptos, não repetitivos, de distribuição variável) - em menor frequência, mas grande especificidade: nódulos subcutâneos (0-10%) e eritema marginado (< 6%) variabilidade nas manifestações clínicas, dependendo de circunstâncias específicas de cada população - exemplo: maior frequência de monoartrite ou de poliartralgia e febre mais baixa em populações de alto risco critérios jones para diagnóstico ja que não há manifestação clinica/laboratorial especifica para o primeiro surto FRA criterios jones diagnóstico do primeiro surto de FRA critérios diferenciados em dois conjuntos, de acordo com a estratificação de risco (BR esta no grupo de maior incidencia/prevalencia - risco de moderado a alto) Febre reumática 4 💡 - moderado a alto risco incidência de FRA > 2/100.000 escolares ou prevalência de CRC > 1/1.000 por ano objetivo aumentar a sensibilidade e evitar o subdiagnóstico 💡 - baixo risco incidência de FRA ≤ 2/100.000 escolares (5-14a) ou prevalência da CRC ≤ 1/1.000 por ano objetivo aumentar a especificidade e evitar o diagnóstico excessivo apresentação de duas manifestações maiores ou uma maior e duas menores dos critérios, somada a evidência de infecção estreptocócica recente, indica alto probabilidade de FRA na cardite insidiosa e/ou coreia de Sydenham, não há necessidade de comprovação de estreptococcia prévia nem de adesão estrita aos critérios para realização do diagnóstico presuntivo de FRA manifestações maiores cardite Febre reumática 5 manifestação mais importante e de maior risco, pois pode resultar em lesão valvar permanente pode se manifestar como pancardite (pericardio + miocardio + valvas), a camada mais afetada é o endocardio (valvite); extensão e a intensidade do acometimento são os principais determinantes do prognóstico, da morbidade e da mortalidade o quadro de IC ocorre por conta da gravidade das lesões valvares e não do processo inflamatório do miocárdio pericardite e a miocardite raramente ocorrem isoladamente, não atuam como fator de gravidade nem deixam sequelas é classificada de acordo com a intensidade das manifestações clínicas e o grau das alterações nos exames - subclinica ausculta normal ECG normal ou bloqueio atrioventricular (BAV) grau I raio x normal eco: regurgitação mitral (RM) + regurgitação aórtica (RAo) ou RAo isoladacom intensidade leve NF ou leve/moderada - leve ausculta com taquicardia desproporcional à febre, B1 abafada, sopro sist. regurgitativo (SSR) mitral leve ECG normal ou bloqueio atrioventricular (BAV) grau I raio x normal eco: regurgitação mitral (RM), RM + regurgitação aórtica (RAo) ou RAo isoladacom intensidade leve NF ou leve/moderada; câmaras cardíacas de tamanho normal - moderada ausculta com achados mais evidentes, taquicardia desproporcional à febre, B1 abafada, SSR mitral mais intenso c/ ausência frêmito, aparecimento sopro diastolico (SD) aórtico e/ou sopro Carey Coombs (SD, entre B1 E B2) ECG normal ou bloqueio atrioventricular (BAV) grau I e/ou QT prolongado, sobrecarga de AE e/ou VE, pode ter alterações repolarização ventricular raio x com leve aumento área cardíaca com aumento de AE/VE, pode ter sinais congestão pulmonar leve eco com RM, RM + RAo, RAo isolada com intensidade leve/moderada ou moderada; camaras esquerdas aumentadas; pode haver derrame pericardico leve Febre reumática 6 - grave ausculta com achados evidentes, sinais de IC, B1 abafada, SSR mitral moderado/grave com frêmito; SD Ao mais intenso e/ou presença Carey Coombs ECG pode ter BAV grau I e/ou QT prolongado, sobrecarga AE e/ou VE; pode ter arritmias e alterações da repolarização vent. raio x com aumento moderado/importante da area cardiaca a custo de AE/VE e às vezes AD/VD; sinais congestão pulmonar importante eco: RM, RM + RAo, RAo isolada com intensidade moderada/grave; camaras esquerdas aumentadas grau moderado/importante; pode ter derrame pericardico leve em fase aguda, seu diagnóstico é baseado na ausculta de sopros típicos de insuficiência mitral ou aórtica, ou de ambas, também já foram identificados pacientes com apresentação de poli ou monoartrite, poliartralgia e/ou coreia de Sydenham, sem sinais clínicos de envolvimento cardíaco e com exames ECG e raio x tórax normais, mas que no ecocardiograma registrava-se regurgitação valvar mitral e/ou aórtica com características patológicas é importante a estrita observação dos critérios ecocardiográficos de regurgitação patológica para o diagnóstico diferencial com a regurgitação fisiológica Febre reumática 7 manifestações clínicas decorrem da pancardite, mas principalmente do envolvimento valvar e incluem: taquicardia desproporcional ao quadro febril, IC, abafamento de primeira bulha, atrito pericárdico e/ou dor precordial, aparecimento ou modificação de sopro por disfunção valvar mitral/mitralaórtica valvites: regurgitação na fase aguda e com evolução e cicatrização das lesões temos estenose valvar na fase crônica - valva mitral é a mais frequentemente acometida, seguida pela aórtica associada a mitral (tricuspide é menos acometida e pulmonar é exceção) três sopros característicos da fase aguda que podem não significar lesão valvar definitiva: os relacionados com a regurgitação das valvas mitral e aórtica e o sopro de Carey Coombs Carey Coombs - transitório, desaparece com tratamento; relacionado com edema valva mitral, orificio diminui causa estenose mitral funcional - ocorre quando há regurgitação mitral significativa, é atribuído ao fluxo diastólico aumentado e de alta velocidade através da valva mitral envolvimento articular artrite - edema articulação, com ou sem sinais inflamatórios ou associação de dor Febre reumática 8 articular com limitação movimentos poliartrite acomete grandes articulações, padrão migratorio e assimetrico, relacionado a dor intensa à movimentação ativa e/ou passiva com dificuldade de deambulação ótima resposta ao uso de anti-inflamatórios, que ocorre entre 24-48 horas processo é autolimitado, em casos sem tratamento cada articulação é afetada pelo período de 1-5 dias com resolução do quadro em 2-4 semanas em 20% do casos ocorre apresentações atipicas como monoartrite, artrite aditiva e duração do processo inflamatório por mais de 6 semanas poliartralgia migratória e a monoartrite estão entre as manifestações maiores nos paísesde média/alta prevalência de FRA; em paises de baixa prevalencia, a poliartralgia na ausência de artrite é dada como manifestação menor coreia de sydenham início insidioso e tardio, entre 1-7 meses após a infecção estreptocócica pode ser a única manifestação da FRA, mas geralmente ocorre associada à cardite clínica ou subclínica ou à artrite surto dura em média 12-15 semanas, recorrências ocorrem em até 1/3 dos pacientes pode haver associação com disturbios psiquiatricos (hiperatividade, déficit de atenção, distúrbios obsessivo-compulsivos e tiques) ocorre com mais frequencia no sexo feminino, e se apresenta com início insidioso e progressivo de instabilidade emocional, desatenção, distúrbios de conduta, da fala ou da escrita, depois surgem os movimentos coreicos, involuntários, mas conscientes, bizarros, desordenados e sem finalidade, associados à hipotonia muscular os abalos podem ser discretos, localizados e ocasionais, ou acentuados, mais amplos e contínuos impedem movimentos voluntarios, melhoram com repouso em ambiente tranquilo e durante o periodo de sono nódulos subcutâneos são pequenos, chegam a 2 cm de diâmetro, indolores, consistentes, móveis sob a pele, pouco aderentes a planos profundos, sem sinais flogísticos aparecem agrupados, sobre superfícies ósseas e em zonas de inserção de tendões regridem espontaneamente, mas podem recorrer estão presentes nos casos de cardite grave, com envolvimento valvar importante Febre reumática 9 eritema marginado exantema róseo de bordas nítidas e elevadas, não pruriginoso, com forma circular, oval ou irregular, podendo ser confluente ou não lesões crescem centrifugamente, deixando o centro mais claro, são de aspecto rendilhado ou serpiginoso predominam no tronco e nas partes proximais dos membros tem duração fugaz, surgindo até mesmo durante o banho quente podem apresentar caráter recidivante, não ocorrem como manifestação isolada e podem associar-se à cardite manifestações menores artralgia poliartralgia continua como critério menor para população de baixo risco monoartralgia está incluída nessa categoria para população de moderado a alto risco se houver artrite entre as manifestações maiores, artralgia não deve ser considerada como manifestação menor nos criterios de jones febre temperatura maior que 38ºC em populações de alto risco valor de corte maior que 37,5ºC foi encontrado em 90% dos casos de FRA proteína C-reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VHS) VHS >30 ou >60 na 1º hora e PCR >3 são considerados manifestação menor de FRA se eles estiverem em valores normais, o diagnóstico de FRA é questionável intervalos PR ou QT prolongados podem estar presentes em pacientes com FRA, mesmo na ausência de cardite evolução fase aguda para fase crônica sequela valvar (CRC) requer 1-2 anos para se estabelecer, já que a cardite leve regride ou não progride nesse periodo se não houver recidivas as manifestações da FRA são autolimitadas - exceção das lesões valvares que persistem e se agravam maior probabilidade de serem observadas após uma recorrência do que no primeiro surto Febre reumática 10 a magnitude das lesões são associadas ao grau de comprometimento cardíaco na FRA, às recidivas e ao nível educacional complicações valvares são mais precoces e graves se houver episódios recorrentes de FRA, mas a progressão da deformidade valvar pode ocorrer mesmo na ausência de recidivas pacientes com manifestação articular isolada ou associada a coreia sem evidência de cardite ou com cardite leve quando submetidos a profilaxia secundária regular apresentam bom prognóstico dois terços dos pacientes com cardite moderada ou grave evoluem para CRC. regurgitação mitral lesão mais comum em jovens com CRC estenose da valva mitral é de origem reumática em quase todas as pessoas menores de 50a, exceto em casos de origem congênita deve ser realizado diagnóstico diferencial com estenose mitral degenerativa nos pacientes maiores que 50 anos valvopatia mitral isolada ou associada à lesão aórtica é a sequela mais comum da FRA envolvimento isolado da valva aórtica também é uma manifestação reconhecida da CRC, mas no caso da regurgitação isolada da v. aórtica outras etiologias devem ser excluidas (valva aórtica bivalvularou bicúspide, dilatação da raiz da aorta, endocardite, cardites inflamatórias, hipertensão sistêmica e alterações morfológicas degenerativas) em paises de alta prevalencia de FRA, 50-60% dos que procuram atendimento já possuiam valvopatia em estágio avançado, sem história prévia de FRA nesses pacientes, a CRC pode ter como primeira manifestação a IC decorrente da disfunção valvar, AVC embólico, endocardite infecciosa, arritmias (principalmente FA) e morte súbita para diagnóstico usamos os critérios de jones, independente da fase da doença primeiro surto ou recidiva em paciente com diagnóstico anterior de FRA sem sequela cardíaca Febre reumática 11 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores + evidência infecção estreptocócica recente recidiva paciente com diagnóstico de CRC 2 ou 3 critérios menores (c/ exclusão de outras causas prováveis) evidência infecção estreptocócica recente coreia de sydenham ou cardite de inicio insidioso não precisa da presença de outra manifestação maior ou evidência de infecção estreptocócica recente para o diagnóstico de primeiro surto ou recidiva estenose mitral / dupla lesão mitral e/ou valvopatia aórtica com ecocardiograma de origem reumática não precisa de critérios adicionais para diagnóstico de CRC Febre reumática 12 exames complementares agrupados em três categorias: comprovação da estreptococcia prévia detecção de alterações laboratoriais decorrentes do processo inflamatório caracterização e quantificação das repercussões morfológicas, funcionais e hemodinâmicas do acometimento cardíaco evidências infecção estreptocócica prévia diagnóstico clínico da faringoamigdalite estreptocócica tem acurácia de apenas 50% em relação às infecções virais Febre reumática 13 investigação laboratorial deve ser realizada para confirmar a etiologia estreptocócica - cultura é padrão ouro (sensibilidade 90-95%, especificidade 100%) testes rápidos (látex) para detecção do antígeno estreptocócico de swab de material de garganta, tem alta especificidade, mas alto custo e baixa sensibilidade e não são capazes de distinguir uma infecção estreptocócica de um estado de colonização assintomática a confirmação da infecção estreptocócica prévia também pode ser realizada por detecção dos anticorpos antiestreptocócicos: antiestreptolisina-O (ASO), anti- hialuronidase e antidesoxirribonuclease B (anti-DNAse B) 75 a 85% dos pacientes apresentam elevação da ASO a partir do sétimo dia após o quadro da infecção estreptocócica, com pico entre 3-4 semanas e redução progressiva até o sexto mês dosagem das outras antienzimas é útil quando a ASO é normal a impossibilidade de confirmar a infecção estreptocócica prévia não exclui o diagnóstico de FRA pela alta prevalência da doença e dificuldade de titulação de outras antienzimas além da ASO (podem ter titulos normais em até 20% pacientes após infecção recente) provas inflamatórias ou reagentes da fase aguda são inespecíficas, mas são úteis para diagnóstico da atividade da doença e registro da involução da FRA a PCR e VHS são sensiveis na fase inicial da doença, mas se normalizam precocemente (3º semana) mucoproteínas também são inespecíficas, mas estão aumentadas em 95% dos pacientes - marcadores inflamatórios mais tardios, apresentam niveis anormais persistentes no processo agudo que não se modificam com uso de anti- inflamatórios na eletroforese de proteínas, temos diminuição da albumina sérica, aumento das frações alfa-2 e gamaglobulina elevação da alfa-2 globulina tem maior estabilidade, com comportamento similar ao das mucoproteínas, é um indicador sensível da atividade da doença ao se manter elevada durante todo o processo inflamatório leucocitose não é acentuada anemia, quando presente é de grau leve a moderado avaliação envolvimento cardíaco ECG e raio X tórax são muito úteis para diagnóstico e resultados normais não Febre reumática 14 excluem diagnóstico de cardite, já que esses exames possuem baixa sensibilidade e baixa especificidade ECG achados predominantes da fase aguda são taquicardia sinusal, alterações da repolarização ventricular, extrassistolia e prolongamento dos intervalos PR e QTc BAV I raramente evolui para graus mais avançados essas alterações transitórias podem estar superpostas às que resultam das lesões valvares, como a sobrecarga de câmaras esquerdas RAIO X TÓRAX avalia a presença e o grau de congestão venosa pulmonar e de cardiomegalia os dois exames mostram alterações proporcionais à gravidade do acometimento e auxiliam na classificação da cardite e evolução da doença Doppler ecocardiograma considerado a mais importante ferramenta para o diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com FRA e CRC, apresentando maior acurácia que o exame clínico acrescenta importantes informações na identificação e quantificação das alterações morfológicas, funcionais e hemodinâmicas, sendo um exame útil para acompanhamento das alterações tanto na fase aguda como na crônica no contexto da morfologia valvar na FRA, o prolapso exclusivo das extremidades dos folhetos da valva mitral deve ser diferenciado do prolapso do corpo do folheto pacientes com recidivas também apresentam eco com morfologia de FRA, mas na verdade estão sobrepostos a morfologia da CRC além da investigação dos aspectos morfológicos, também tem grande utilidade para avaliar alterações funcionais e hemodinâmicas (dilatação e hipertrofia das câmaras esquerdas, disfunção ventricular, estimativa de HAS pulmonar, tipo e gravidade das disfunções valvares) também podemos utilizar para fazer análise do fluxo sanguíneo e determinar presença e o grau das lesões de regurgitação e estenose valvares (importante diferenciar regurgitação fisiológica da patológica - principalmente nas valvas aórtica e mitral) caracteristicas morfologicas valva mitral na FRA (valvite mitral) morfologia pode ser normal Febre reumática 15 espessamento irregular com nodularidade nos bordos dos folhetos alongamento ou ruptura de cordas, flail dos folhetos com regurgitação mitral grave (em menores de 20a são achados específicos de CRC) dilatação anular prolapso da ponta do folheto anterior movimento excessivo da ponta dos folhetos durante a sistole c/ defeito de coaptação/junção caracteristicas morfologicas valva aórtica na FRA (valvite aórtica) morfologia pode ser normal espessamento irregular ou focal dos folhetos restrição movimentos dos folhetos defeito de coaptação prolapso dos folhetos caracteristicas morfologicas valva mitral na CRC espessamento e fusão ou encurtamento das cordas tendíneas restrição da mobilidade dos folhetos, principalmente posterior espessamento folheto anterior da v. mitral < 20 anos: > 3mm 21 - 40 anos: > 4mm 40 anos: > 5mm ou espessamento dos dois folhetos e do aparelho subvalvar calcificação alongamento ou ruptura de cordas, flail dos folhetos com regurgitação mitral grave (em menores de 20a são achados específicos de CRC) dilatação anular prolapso ponta do folheto anterior movimento excessivo da ponta dos folhetos durante a sistole (defeito coaptação) caracteristicas morfologicas valva aórtica na CRC espessamento irregular ou focal dos folhetos Febre reumática 16 restrição movimentos dos folhetos defeito coaptação prolapso folhetos ressonância magnética apresenta maior acurácia na determinação dos volumes ventriculares e dos jatos regurgitantes caracterização das propriedades tissulares do miocárdio - útil para monitorar terapia anti-inflamatória e auxiliar a decisão de cirurgia tratamento visa à erradicação do EβHGA e uso de medicação sintomática nas manifestações e complicações o objetivo do tratamento da FRA é suprimir o processo inflamatório, minimizar as repercussões clínicas sobre o coração, articulações e sistema nervoso central e promover o alívio dos principais sintomas erradicação do EβHGA é a primeira medida terapêutica a ser tomada e visa reduzir a exposição do paciente aos antígenosestreptocócicos e impedir a propagação dos mesmos deve ser utilizado antibiótico bactericida, em dose e tempo adequados para a manutenção de níveis séricos durante 10 dias a medicação de escolha é a penicilina, de preferência a penicilina G benzatina (PGB) peso >20 kg - 1.200.000 UI (IM - dose única) peso <20 kg - 50.000/kg (IM - dose única) tetraciclinas, as sulfas e o cloranfenicol não são indicado repouso, absoluto ou relativo nos casos de cardite moderada e grave, que deve durar pelo menos 4 semanas, com retorno lento e progressivo às atividades físicas na cardite leve e em outras manifestações a duração do repouso varia de acordo com a intensidade dos sintomas Febre reumática 17 tratamento principais manifestações FRA cardite baseia-se no controle do processo inflamatório associado ao tratamento da IC e das arritmias na cardite leve, o uso de anti-inflamatórios é questionável cardites moderada e grave, após a dose plena de prednisona [1-2 mg/kg (dose máxima de 60 mg/dia) por 14-21 dias, se faz redução progressiva de 20% da dose, semanal ou quinzenalmente] casos graves, tem sido utilizada a metilprednisolona IV em aplicação diária [30 mg/kg/dose (dose máxima de 1 g), diluída em 200 mL de solução glicosada a 5%, em infusão contínua por duas horas] por 3 dias consecutivos na primeira e segunda semanas, 2 dias consecutivos na terceira semana e uma aplicação na quarta semana cardite grave com IC refratária de difícil controle, intervenção cirúrgica deve ser evitada pelo risco aumentado e por estar associada a maus resultados - decisão deve ser baseada na gravidade da disfunção valvar e na contribuição do efeito mecânico da lesão valvar Febre reumática 18 afastar possível associação com fatores agravantes como endocardite e, mais raramente, a disfunção miocárdica artrite anti-inflamatórios não hormonais (Aine) - ácido acetilsalicílico (AAS) são indicados para os pacientes com artrite sem cardite, regressão dos sintomas em 24-48 horas dose plena durante 15 dias (80-100mg/kg/dia em 3-4 doses), depois dose é reduzida para 60 mg/kg/dia até completar 30 dias de tratamento se houver associação de artrite e cardite, usar prednisona 1-2mg/kg/dia dose única (max 60mg/dia) sydenham tratamento farmacológico em casos com repercussão nas atividades habituais e hospitalização somente para os quadros graves haloperidol 1mg/dia em dose única (aumentando progressivamente 0,5mg de 3 em 3 dias até melhora) maioria dos pacientes melhora após 2 semanas com dose média 2-3mg/dia ácido valproico pode ser a primeira opção nos casos de menor gravidade (10- 30mg/kg/dia 2-3 doses) em maiores de 12 anos, pode-se usar a risperidona (antipsicótico) com dose inicial 0,5mg/dia e aumentos semanais até 3mg/dia carbamazepina pode ser usada na dose de 7-20mg/kg/dia 2-3 doses em casos de coreia muito grave e com comprometimento funcional importante, pode se usar corticoide (pulsoterapia com metilprednisolona) que encurtam o tempo da doença Febre reumática 19 profilaxia principal medida para evitar o primeiro surto (profilaxia primária) e as recidivas (profilaxia secundária) comprovada a eficácia da profilaxia secundária para impedir o aparecimento de novas lesões e o agravamento das lesões valvares prévias ao controlar a ocorrência de surtos agudos primaria diagnóstico e tratamento adequados das faringoamigdalites estreptocócicas, e medidas para redução da propagação da bactéria o objetivo é prevenir suas complicações, entre as quais se inclui o surto inicial da FRA - pode ser evitada se o tratamento da faringoamigdalite for iniciado até o nono dia da infecção taxa de transmissão do EβHGA dos pacientes não tratados é de 35%, 24 horas após o início do tratamento da faringoamigdalite, o poder de transmissão torna- se mínimo más condições de habitação da maioria da população brasileira e aglomeração domiciliar facilitam a transmissão do EβHGA dificuldade de acesso aos cuidados básicos e ao tratamento adequado é fator limitante para prevenção primária eficaz, ou seja, a profilaxia primária fica basicamente restrita ao tratamento adequado das faringoamigdalites Febre reumática 20 PGB continua sendo o fármaco de escolha por seu baixo custo, ação bactericida, inexistência de cepas de EβHGA resistentes, baixo espectro bacteriano, dose única e baixo índice de efeitos colaterais a reação anafilática a PGB ocorre em 0,01% dos casos; a reação do tipo imediata ocorre até 20 minutos após a administração de penicilina injetável ou em até 1 hora por via oral; é caracterizada por vasodilatação, hipotensão, edema de laringe, broncoespasmo, prurido, angioedema, náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal após aplicação da PGB, recomenda-se observação do paciente por 30 minutos secundária prevenção de recidivas da FRA deve ser instituída em todos os pacientes após o diagnóstico da doença, independente do tipo de manifestação clínica na fase aguda ou da presença e tipo de sequela valvar na fase crônica administração contínua de antibiótico, para proteger o indivíduo de novas faringoamigdalites medida obrigatória para prevenir as recorrências da doença medicação de escolha é a PGB, via IM profunda penicilina V também pode ser utilizada, em 2 doses diárias, mas em casos selecionados (ex. contraindicação ao uso da via parenteral) medicação por via oral é menos efetiva na prevenção das recidivas e tem menor adesão do paciente em longo prazo pacientes com alergia à penicilina pode ser empregada a sulfadiazina (não pode em gestante) realização de hemogramas de controle a cada 15 dias nos primeiros 2 meses e, posteriormente, a cada 6 meses - interrupção da medicação se leucocitos inferiores a 4000 sobre a duração, varia de acordo com a presença de cardite no surto agudo, intervalo do último surto, presença e gravidade da CRC e a faixa etária as repercussões da CRC como principal causa de cardiopatia adquirida em jovens implantação de programas de profilaxia secundária é uma estratégia eficaz para prevenir a recorrência da FRA e a progressão da CRC (vigilância de adesão às medidas preventivas, com acompanhamento por equipe multiprofissional, tem reduzido, significativamente, os índices de recidiva e complicações da doença) Febre reumática 21
Compartilhar