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TEMA 5- Quilombos e a cultura africana no Brasil

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Quilombos e a cultura africana no Brasil
Prof.ª Renata Figueiredo Moraes
Descrição
A presença dos africanos no Brasil e a contextualização das resistências empreendidas por homens e mulheres contra a escravidão.
Propósito
A história do Brasil precisa ser vista a partir da escravização de homens e mulheres originários de diferentes partes do continente africano. Só
assim é possível entender a construção do Brasil na colônia e na riqueza do Império, principalmente na agricultura e no cultivo do café, e o empenho
de transformar esse processo no pós-abolição, a partir dos descendentes dos povos que lutaram contra a escravização, e pela preservação de suas
raízes e cultura.
Objetivos
Módulo 1
A escravização de africanos no Brasil
Identificar o processo de escravização dos africanos no Brasil e as formas de atuação.
Módulo 2
Os africanos e a resistência à escravização
Identificar as diferentes formas de resistência à escravidão empreendida pelos africanos no Brasil.
Módulo 3
Os africanos livres no Império
Reconhecer como homens e mulheres africanos tiveram uma vida em liberdade durante a escravidão no Brasil.
Módulo 4
O pós-abolição e a resistência da cultura africana
Listar nos estudos do pós-abolição sobre a presença de africanos e afrodescendentes no Brasil.
Introdução
Os povos africanos foram escravizados pelos europeus durante o processo de colonização das Américas. Homens e mulheres, de diferentes idades,
tiveram suas vidas arrancadas do seu local de origem e na travessia do Atlântico viveram um tempo de morte. Os que sobreviveram à violência do
trajeto tiveram que recriar formas de vida e de convivência, ainda sob o jugo da escravidão.
Este conteúdo propõe uma abordagem sobre os diferentes povos que sofreram essa violência e que sobreviveram à escravidão no Brasil. Os seus
vestígios e as formas de resistência serão abordados neste texto, pensando em suas trajetórias de vida desde a escravidão até o contexto de
liberdade e o pós-abolição.
O conteúdo foi divido em quatro módulos: o primeiro trata do início da escravização dos africanos no Brasil, ressaltando que a chegada dos
portugueses no continente africano desestruturou sociedades e afetou a forma como a escravidão era ali praticada. Tratamos das identidades
destruídas e reconstruídas na escravização no Brasil e a atuação econômica desses africanos escravizados. O segundo módulo indica as formas de
resistência à escravização que homens e mulheres africanos realizaram no Brasil. Entre quilombos, revoltas e fugas, eram todas ações legítimas e
temidas por autoridades e escravistas. O terceiro módulo aborda a categoria de “africanos livres” e outras histórias de africanos que após a
liberdade reconstruíram sua vida ainda sob um ambiente de escravidão. O quarto e último módulo aborda o pós-abolição como um campo de
pesquisa para pensar os africanos e seus descendentes após o fim da escravidão, oferecendo novas chaves de leitura sobre a história do homem e
da mulher negro e negra no Brasil.
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1 - A escravização de africanos no Brasil 
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o processo de escravização dos africanos no Brasil e as formas de atuação.
Escravidão moderna
Escravismo
A escravidão não foi inventada por um único povo, ela é produto do homem e está presente na sociedade desde a Antiguidade. A existência milenar
da escravidão não a fez menos cruel, à medida da passagem dos séculos, pelo contrário.
Africanos escravizados sendo retirados de seu continente.
O marco da escravidão moderna é a chegada dos europeus no continente africano, desestruturando sociedades e formas de convivência, entre elas
a escravidão ali existente. A escravização dos povos africanos foi acentuada em um cenário de desenvolvimento das redes comerciais e de
conquistas, com a participação de grupos africanos que já tinham estabelecidos rotas comerciais e de exploração em outras regiões.
A emergência do mercantilismo e do colonialismo europeu causaram uma mudança estrutural em relação ao passado africano e ao conceito de
escravidão existente até então, explorando ao máximo o trabalho do ser escravo em proporções até então desconhecidas, atitude essencial para
garantir o sistema econômico e produzir enriquecimento de mercadores e todos os envolvidos nesse lucrativo comércio de pessoas.
Tais considerações são essenciais para entendermos o fenômeno da escravidão africana no Brasil nos primeiros anos da colonização. Vejamos:
Objeti�cação do humano
A primeira violência da escravização africana promovida pelos europeus foi a retirada de homens e mulheres, entre eles crianças, do seu local de
origem.
Homem escravizado sendo inspecionado para venda.
Essa primeira ação transforma o ser humano em “objeto” e o insere em uma lógica mercantil, a fim de satisfazer uma necessidade econômica
impulsionada pelo avanço da colonização.
Perda de identidade
Outro ponto dessa escravização moderna foi o apagamento das identidades desses homens e mulheres trazidos às Américas. A respeito dos que
chegaram ao Brasil, a identificação foi dada a partir dos esquemas econômicos escravistas.
Africanos escravizados sendo colocados à força em navio com destino às Américas e Europa.
Ou seja, dependendo do porto de origem de determinada embarcação, o grupo nele presente poderia ganhar uma identificação totalmente distante
da sua original.
Ainda sobre o apagamento das identidades, na maioria das vezes, nomes e terminologias dadas aos africanos ocorreram a partir do tráfico atlântico
ou na sua chegada ao ponto da escravização. Muitos historiadores se debruçaram sobre os registros paroquiais, a fim de entender as primeiras
gerações de africanos chegados ao Brasil e que foram batizados, sepultados ou construíram matrimônio, deixando nesses registros algum dado
que pudesse servir para a construção de uma trajetória de vida ou de um grupo específico.
Mas a tarefa é árdua visto que nem todos foram registrados por seus senhores e nem todos os registros paroquiais foram preservados. Assim,
temos uma grande lacuna sobre os primeiros anos da escravidão africana no período colonial, especialmente daqueles que foram destinados para
as plantações de cana-de-açúcar da região Norte, como Pernambuco e Bahia.
A presença dos africanos e a economia colonial
A economia escravista
Os africanos que chegaram ao Rio de janeiro foram destinados aos engenhos de açúcar, especialmente os localizados na região chamada de
“recôncavo da Guanabara”, e atuaram junto aos indígenas escravizados.
Durante algumas décadas do século XVII, foi próspera a área produtora de açúcar, produzindo considerável quantidade de açúcar destinada a
Portugal (GOMES, 2012). Os registros paroquiais indicam para essa região os africanos batizados e sua origem, a partir de uma classificação dada a
posteriori, ou seja, surgida com a escravização.
Curiosidade
De acordo com algumas pesquisas, a maioria dos africanos adultos batizados são de origem “mina” e um segundo grupo tido como “guiné”
(GOMES, 2012).
Os dados de óbitos e nascimentos de crianças também são ferramentas para entender as origens dos africanos escravizados nas lavouras de
açúcar no período colonial. Esse predomínio dos minas foi também objeto de estudo de inúmeros pesquisadores, a fim de entender suas
identidades ou traçar trajetórias que os fizessem pertencentes a um grupo, com características específicas relacionadas à:

Cultura
Religião

Modos de trabalho
As menções a “pretos minas” e “nação mina” indicam grupos de africanos, escravos ou libertos, de procedência da costa ocidental africana
conhecida como Costa da Mina, por causa do Castelo de São Jorge da Mina. No entanto, tal denominação não correspondia exatamente à origem
de muitos homens e mulheres que partiram dessa região para as Américas.
Ou seja, o termo “mina” ou a ideia de “nação mina” pode ser considerada uma construção criada a partir do
comércio negreiro e na experiência da escravização vivida pelos africanos (FARIAS, 2013).
Seem um primeiro momento esses homens e mulheres tinham poucas características comuns (étnicas, linguística e de origem), a experiência da
escravidão nas Américas permitiu que eles se reagrupassem e redefinissem regras e limites de pertencimento a determinados grupos.
Pessoas em condição escrava numa fazenda do Rio de Janeiro.
O local de convivência, principalmente as ruas e as senzalas, permitiram a construção de outra vida nas Américas e de novos padrões de
comportamento e convívio. Esse seria o momento de construção de grupos mais amplos e com uma autoconsciência coletiva (FARIAS, 2013).
O escravismo e o Rio de Janeiro
Voltando para o caso do Rio de Janeiro, apesar dos registros paroquiais de algumas regiões, os dados que os historiadores têm sobre a origem dos
africanos ainda é inconclusivo, mas é possível levantar questões:
Uma hipótese que não pode ser descartada seria a proeminência dos africanos centrais, a partir do trá�co de Luanda, e
dos africanos ocidentais, vindos da Alta Guiné. A possibilidade de africanos ocidentais embarcados para o Brasil a partir
da Senegâmbia e Cabo Verde e chegando – diretamente ou por intermediação – ao Rio de Janeiro deve ser mais
investigada, em função das redes de trá�co, existentes ainda na primeira metade do século XVII.
(GOMES, 2012, p. 66)
Ainda de acordo com Flavio Gomes (2012):
O que esses dados informam?
Após analisar diversos dados demográficos, haveria no Rio de Janeiro um grande número de africanos ocidentais e de grupos mais
dispersos da África Central.
A partir de 1740 haveria um predomínio dos africanos centrais e em grupos mais concentrados.
Duas décadas depois, permanecera na região uma quantidade considerável de crioulos, descendentes desses africanos centrais, com
os ocidentais chegando na segunda metade do século XVIII.
Demanda pela cana-de-açúcar
A região de produção de açúcar no Rio de Janeiro demandou mão de obra africana, sendo um destino certo os negros escravizados que chegassem
à essa área.
Mudança pós-descoberta do ouro
Após a descoberta do ouro pode ter tido uma mudança nas características da escravidão africana, principalmente com a diferença entre as
gerações de escravizados e com a constante entrada de africanos de outras regiões.
O comércio transatlântico de africanos para o Brasil, especialmente para área que demandavam mão de obra para as lavouras, proporcionou uma
constante alimentação de culturas e identidades africanas que no contexto da escravização se transformaram e se ressignificaram.
Essa afirmação e mais outros dados representam o avanço das pesquisas sobre demografia da escravidão africana no Brasil, sendo essenciais para
compreendermos a complexidade da formação cultural, política e religiosa do Brasil, a partir desse grupo.
As variações da economia colonial
Explorações humanas e as expansões do modelo
Os estudos sobre o volume de pessoas escravizadas do continente africano nas Américas ganharam uma grande contribuição nos últimos anos,
principalmente após a junção de inúmeras pesquisas feitas em diferentes países, que investigaram dados sobre as embarcações e os preços dos
africanos para a escravização.
Com essas pesquisas, é possível saber:

A trajetória de um navio negreiro, a sua origem, as paradas feitas por ele, o seu destino, no Brasil ou nas Américas.

Quantos homens e mulheres embarcaram e quantos chegaram vivos ao fim da travessia.
As pesquisas de David Eltis e David Richardson são apenas uma de tantas que contribuíram para a formação de um grande banco de dados.
Saiba mais
Tal banco de dados hoje está disponível no site Slavevoyages.com. Nele, os interessados nos dados estatísticos sobre o comércio transatlântico de
pessoas conseguem informações preciosas, mas apenas de um tempo em que esse comércio gozava de uma legalidade perante as autoridades do
Império do Brasil ou de outros países.
Citando alguns dados e estudos (GOMES, 2012):
Dados de Eltis
Identificaram que no período entre 1811 e 1830, cerca de 470 mil africanos chegaram ao Rio de Janeiro.
Estudos de Mary Karasch
Identificaram africanos de diferentes origens: congos, angolas, cabindas, benguelas, caçanjes, moçambiques.
A concentração de alguns africanos ou sua dispersão na cidade, assim como em qualquer outra região, dependia das políticas de migração e
comércio intrarregional, uma vez que nem todos que chegaram em cidades portuárias e tiveram essa entrada registrada pela alfândega
permaneceram nela.
Infelizmente, a frieza desses números não nos permite entender os pormenores dessas travessias e das chegadas, muito menos saber como teve
início o processo de escravização desses sujeitos em solo americano. Há ainda algumas lacunas sobre a história da escravidão no Brasil para as
quais a historiografia dificilmente conseguirá respostas, uma vez que o interesse no registro do cotidiano da escravidão era inexistente por parte
daqueles que escravizavam e das autoridades.
Escravizados na colheita de café.
Além da legalidade ou não da escravização dos africanos, os senhores tratavam os seus escravos como propriedade com os quais pudessem obter
grandes lucros, fosse na produção de mercadorias, como o café, na região do Vale do Paraíba, fosse no comércio de africanos para as regiões
necessitadas de mão de obra.
Logo, possuir escravos e usar essa propriedade era algo disseminado na sociedade do Império, que adaptava os ideias
liberais europeus à sua realidade escravista.
A expansão da produção do café ocorreu no Vale do Paraíba nas décadas seguintes à independência e quando o tráfico de escravos africanos era
ilegal no Brasil.
No entanto, com essa ilegalidade, como ter mãos para a lavoura do café?

A escravização de africanos também foi presente no contexto urbano, com exercício de inúmeras atividades, desde as domésticas, até as mais
especializadas ou no comércio e nas ruas.
A africanização do Brasil era evidente nas vésperas da segunda lei do tráfico, em 1850, e esse era um temor de muitos parlamentares que temiam
que esse processo fosse irreversível. O esforço para uma nova lei que terminasse definitivamente com a entrada ilegal de africanos para a
escravização fez parte desse temor, além do pensamento de que quanto mais africanos, maior o risco de revoltas e insurreições escravas.
Mercado de pessoas escravizadas no Rio de Janeiro.
A todo momento se esperava uma grande revolta conforme ocorrera no Haiti, porém, isso não ocorreu, mas os africanos e seus descendentes
resistiram à escravidão o tempo todo e de diferentes maneiras.
Sistema Econômico
A economia dependente da escravidão?
Antes de 1830
Nessa época houve um enorme volume de africanos desembarcados no Brasil, principalmente na região Centro-Sul, destinado às
primeiras fazendas de café do Vale.
Entre 1831 e 1835
No período entre 1831, data da primeira lei, e 1835, foi pequena a quantidade de entrada de africanos de forma ilegal, por causa de
uma vigília das autoridades, uma vez que a lei deveria ser cumprida.
Após 1835
O volume de entrada aumentou, chegando a cerca de 315 mil africanos até 1850. Grande parte desses homens e mulheres foram para
as grandes fazendas de café. Os africanos foram os responsáveis pela derrubada da mata, pelo plantio e pela colheita do café, além
de terem erguido grandes construções que abrigavam senhores de café e seus familiares.
Um complexo debate vem da forma e viabilidade do comércio de homens. Valendo-se dos pensamentos dos séculos XVIII e XIX, afirma-se ao
menos uma superioridade material e intelectual para defender o sucesso da empreitada escravista.
Outro grupo defende que o quadro de “barbárie” na África e o histórico do escravismo muçulmano explica tudo, uma vez que os europeus só se
inseriram no comércio e nem precisaram capturar homens.
Essas explicações preconceituosas usam meias verdades para legitimar suas maneiras de diminuir o peso da Diáspora
Africana.
O continente sente bastante o escravismo, mas não é isso que explica muito de sua história, que seguiu efoi cuidadosamente explorada ao longo
do século XIX e palco da Guerra Fria no século XX.
O escravismo, entre os séculos XVI e XVIII, fez parte de um processo de consolidação lenta e contínuo de um mundo comercial.
Pintura retratando o mercantilismo na Cidade de Goa, na Índia.
O mercantilismo transformava o mundo em mercadorias e tornava-se o mecanismo de fortalecimento financeiro dos governos europeus.
Enriquecendo pela exploração e se estabelecendo em entrepostos comerciais, inseria-se nas relações locais, aliava-se, disputava, buscava produtos
que podiam ser interessantes para sua inserção.
A consolidação de sistemas econômicos e a expansão e territórios – muito menores do que o nosso imaginário – inicia um lento e contínuo
processo que se tornará, ao longo dos séculos seguintes, um grande negócio. Pessoas, empresas e governos buscando esses sistemas comerciais
criaram verdadeiros sistemas de vendas de direitos, de traficar, de negociar.
Porto francês no momento fundamental do mercantilismo.
Junto, veio uma lógica de status vinculado ao escravismo e a diminuição do outro. Esse foi um fenômeno que nos ajuda a entender o eurocentrismo
e como o mecanismo marcou nossa Era Contemporânea sem, no entanto, representar uma força indelével e superior para sempre.
Vamos pensar um pouco mais sobre isso!
urocentrismo
Reflete a ideia de que a Europa é o centro cultural e a referência a todas as outras sociedades do mundo.
A escravidão foi um modelo econômico?

Professor Rodrigo Rainha e Renan Bayer fazem um videocast discutindo o olhar para os estudos de escravidão como um modelo econômico.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
As práticas relativas ao escravismo no Brasil foram importantes para a economia nacional. Esses grupos foram inseridos em que setor da
economia?
Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
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Questão 2
A prática econômica do escravismo é um dos grandes problemas históricos no que tange a seu papel. Se por um lado, é visto como imoral,
rompedor de práticas sociais e cultura, por outro, existem grupos que defendem sua validade. Sobre o papel econômico da escravidão podemos
afirmar que
A Principalmente nos serviços e nas práticas domésticas.
B Especificamente na lavoura de algodão e pecuária.
C Nas práticas de guerra e polícia.
D Nos comércios da cidade como escravos de ganho.
E Setores diversos, em que se destaca a agricultura.
A sustentava o sistema colonial.
B era exclusivo do governo português.
C era mais um modelo social de status.
D era parte de uma dinâmica.
Parabéns! A alternativa A está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20economia%20colonial%20e%20depois%20imperial%20estava%20vinculada%20ao%20ideal%20de%20status%2C%20dessa%20for
2 - Os africanos e a resistência à escravização
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as diferentes formas de resistência à escravidão empreendida pelos
africanos no Brasil.
Africanos? Resistência!
Quilombos
O processo de escravização dos africanos ocorreu simultaneamente à resistência que homens e mulheres empreenderam contra essa dominação.
De diferentes maneiras, foi possível resistir à escravidão e reivindicar a liberdade.
Neste módulo, trataremos dessa experiência da resistência, a partir de maneiras clássicas e já muito exploradas pela historiografia, como fugas,
aquilombamento e negociação. O cotidiano da escravidão foi de resistência e faltam registros de todas elas.
E só cresce efetivamente durante o período do café.
Parte sul da Capitania de Pernambuco, com representação do quilombo de Palmares.
O quilombo de Palmares foi o maior de todos, pelo tempo de existência e pela quantidade de pessoas abrigadas. Sua organização ocorreu na região
de Pernambuco e alguns escravizados aproveitaram a presença dos holandeses em Pernambuco para a fuga e organização em região afastada.
As autoridades pernambucanas e portuguesas fizeram inúmeras expedições, a fim de atacar a ocupação. Porém,
mesmo com algumas vitórias, os membros de Palmares se reerguiam e resistiam, durando até meados do século
XVIII.
As histórias sobre Palmares foram escritas por aqueles destinados a acabar com o quilombo e, por isso, descreveram as batalhas e os
enfrentamentos contra o “inimigo” da Coroa portuguesa, principal desafio a ser enfrentando após a expulsão dos holandeses da região. Entre os
escritos que relatam Palmares, há o texto do Padre Antônio da Silva, uma testemunha dessas batalhas e que registrou o final de Palmares. Vale a
pena ler o início do seu texto, a fim de identificarmos a grandiosidade desse quilombo:
Restituídas as capitanias de Pernambuco ao domínio de Sua Alteza, livres já dos inimigos que de fora as vieram
conquistar, sendo poderosas as nossas armas para sacudir o jugo que tantos anos nos oprimiu, nunca foram
eficazes para destruir o contrário que das portas adentro nos infestou, não sendo menores os danos deste do
que tinham sido as hostilidades daqueles. Não foi o descuido a causa de se não conseguir este negócio,
porque todos os governadores que nesta praça assistiram com cuidado se empregaram nesta empresa, a
impossibilidade das conduções fizeram invencível a quem o valor não fez poderoso. Os melhores cabos desta
praça, os mais experimentados soldados desta guerra se ocuparam nestas levas. E não sendo pouco o
trabalho que padeceram, foi muito pouco o fruto que alcançaram.
(LARA, 2021, p. 15-16)
No texto, o padre ressalta o desafio enfrentado por muitos governantes e como eram resistentes o inimigo, no caso, os aquilombados que, não
necessariamente eram todos africanos. Algumas gerações se formaram em Palmares e não conheceram a escravidão.
Ainda sobre o texto do padre, destacamos que o autor faz questão de informar que após “os inimigos de fora”, fazendo menção aos holandeses,
compara os de Palmares com os holandeses e como não foram suficientes todos os tipos de profissionais, armas e estratégias para derrotar esse
outro inimigo “das portas adentro”, que parecia mais forte e poderoso que as armas usadas por seus opositores.
O relato do Padre continua dando uma noção da geografia do lugar e da natureza até chegar a descrever como se reuniram em Palmares. Confira!
A este inculta e natural couto se recolheram alguns negros, a quem ou os seus delitos ou a intratabilidade de
seus senhores fez parecer menor castigo do que o que receavam, podendo neles tanto a imaginação que se
davam por seguros, onde podiam estar mais arriscados. Facilitou-lhes a comédia a estância e com presas que
começaram a fazer e com persuasões da liberdade que começaram a espalhar, se foram multiplicando. Há
opinião que do tempo que houve negros cativos nestas capitanias começaram a ter habitadores os Palmares.
No tempo que Holanda ocupou estas praças engrossou aquele número, porque a mesma perturbação dos
senhores era a soltura dos escravos. O tempo os fez crescer na quantidade e a vizinhança dos moradores os
fez destros nas armas. Usam hoje de todas, umas que fazem, outras que roubam e muitas que compram são
as de fogo. Os nossos assaltos os têm feito prevenidos e o seu exercício os tem feito experimentados [...] São
grandemente trabalhadores, plantam todos os legumes da terra, de cujos frutos formam providamente celeiros
para os tempos da guerra e do inverno. O seu principal sustento é o milho grosso, dele fazem várias iguarias.
As caças os ajudam muito, porque são aqueles matos abundantes delas.
(LARA, 2021, p. 18-19)
O relato confirma a antiguidade do quilombo, desde quando existiram escravos havia um quilombo. O autor mostra o aprendizado dos
aquilombados adquirido com os anos, principalmente no manejo das armas, no apoio das vizinhanças e na agricultura.
A região de Palmares era forte e ricaem alimentos e talvez por isso tenha durado tanto tempo. O longo relato do padre caracteriza o cotidiano dos
moradores de Palmares, entre eles o que ele identifica como Rei, Ganga Zumba. Haveria também uma cidade principal, capela com batismos e
demais cidades.
O relato informa as inúmeras tentativas de acabar com Palmares e quem estava à frente da expedição. Em uma dessas batalhas, o autor informa
que um “negro de singular valor” de nome Zambi havia sido ferido e aleijado de uma perna (LARA, 2021, p. 27).
Zumbi dos Palmares.
As batalhas se seguiram com feridos em ambos os lados, mas com resistência singular dos habitantes de Palmares. A batalha vencida pelos
portugueses é relatada pelo Padre como um alívio. Veja!
Esta é a relação da ruína em que vieram cair os Palmares tão temidos nestas capitanias e tão poderosos na sua opinião.
Chegou-lhe o tempo da sua declinação para ter Sua Alteza a glória do seu vencimento, que como se julgava impossível
pelas di�culdades, deve recrescer na estimação pela fortuna. Já se correm livres aquelas montanhas que até agora
eram impenetráveis a toda a diligência. [...] agora é que se concluiu a restauração total destas capitanias de
Pernambuco, porque agora se acham dominantes do mesmo inimigo que das portas adentro as inquietava há tantos
anos.
(LARA, 2021, p. 47-48)
O padre admite o temor existente em relação a Palmares e o desafio enfrentado por algumas tropas para adentrar e tomar a região. A presença dos
holandeses e dos homens de Palmares parecem equivalentes, e com a vitória dos portugueses a capitania de Pernambuco estaria totalmente
restaurada. Nesse relato, o inimigo “das portas adentro”, os escravizados e “negros rebelados”, parecem ter desaparecido da história de
Pernambuco.
Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília.
Na historiografia, Palmares parece ser o único polo de resistência à escravidão em Pernambuco, não havendo grande atenção às outras
manifestações de africanos e seus descendentes contra a escravidão. Porém, não ter existido nada semelhante a Palmares não indica que outras
revoltas não existiram.
De acordo com Rafael Marquese, a atividade quilombola se ampliou no século XVIII diante do aumento do tráfico negreiro transatlântico. Além dela,
outra modalidade de resistência surgiu e amedrontou autoridades: as revoltas africanas, principalmente as coletivas, entre elas, as ocorridas na
Bahia já no Brasil Império.
Resistir além de Palmares
Formas de luta
De acordo com João José Reis, nem todas as revoltas eram destinadas a destruir o regime escravocrata. Algumas eram para reduzir excessos da
tirania de senhores ou reivindicar benefícios específicos (REIS, 2018).
O autor estudou uma peculiar revolta de africanos, a greve negra ocorrida em 1857, em Salvador (REIS, 2019). Durante essa paralisação, a maioria
dos carregadores de mercadorias da cidade eram africanos escravizados e paralisaram suas atividades por dias, a fim de reclamar do valor cobrado
para a licença necessária para exercer a atividade.
O alto valor dessa taxa prejudicava esses escravizados e foi um dos motivos para essa paralisação de grande porte ocorrida em uma região
portuária.
Antes disso, em 1835, também em Salvador, aconteceu uma grande revolta de escravos africanos conhecida como a Revolta dos Malês. O levante
envolveu cerca de 600 escravos e libertos e foram liderados por mestres muçulmanos. Na grande batalha nas ruas de Salvador, cerca de 70
rebelados morreram e poucas baixas do lado repressor foram sentidas.
Revolta dos Malês.
As fugas também foram modalidades importantes de resistência à escravidão e muitas informações sobre quem fugia e suas características
podem ser vistas nos anúncios de jornais, que indicavam o nome do escravo, suas vestimentas e características físicas.
Esses anúncios alimentava um ofício peculiar, o de capturar escravos fugidos por uma recompensa.
Por meio desses anúncios, foi possível perceber que os africanos (homens e mulheres) eram os que mais fugiam no Rio de Janeiro, nas primeiras
décadas do século XIX, e entender a origem desses africanos: minas, monjolos, benguelas, entre outros.
A resistência à escravidão foi vivida por todos escravizados, principalmente africanos que haviam sofrido a violência ainda na travessia. É
impossível conhecermos todo o cotidiano da escravidão, uma vez que faltam registros detalhados. Ainda assim, podemos afirmar que o medo e a
violência faziam parte dele, medo de revoltas e fugas e violência para reprimir qualquer tentativa de ação por parte dos escravizados. Enquanto isso,
autoridades brasileiras criavam medidas legislativas para evitar o aumento de africanos no Brasil. Entre essas medidas estão as leis de fim do
tráfico, que criaram outras categorias de africanos.
Anúncio de jornal de captura de 1854.
Anúncio de jornal de captura de 1854.
Por que eu nunca ouvi falar disso?
Resistir é recuperar
A discussão sobre os olhares que as escolas construíram para a escravidão é muito importante. Na ordem do discurso, devemos debater sobre
pessoas de culturas diferentes que por fatores econômicos foram escravizados. Lutaram contra sua condição e conseguiram por meio dessas lutas
sua liberdade.
Mas esse não é o discurso que dominamos da escola. Ali ele aparece da seguinte forma:
As coisas começaram a mudar muito com a ascensão de debates acadêmicos que passaram a buscar e discutir mais sobre os movimentos de
resistência. O problema é que muitas documentações foram perdidas ou estão em arquivos voltados à perseguição e ao controle.
Exemplo
Querelas sobre a compra de direitos de liberdade, alforrias não cumpridas e levadas à Justiça. Fugas são amplamente noticiadas nos jornais, com
prêmios e grupos especializados em capturas. Grupos de quilombos menores, urbanos, formação de comunidades, mudanças de estados são
documentadas de forma frágil, mas demonstram a existência. As ordem religiosas de homens pretos que escondia e financiavam fugas, também
não o fazem de maneira clara, mas é presente ao longo de toda a história.
Por fim, uma relação como ganho, ainda que não seja uma resistência direta, mas um processo de resistir dentro das brechas do sistema. Note que
não é só pela venda, mas também pelas trocas. Muitas religiões afro-brasileiras são frutos das memórias reconstruídas nas ruas dos grandes
centros. Tradições de povos diversos dialogavam, as potencialidades e os acordos entre os escravizados começavam a criar e organizar uma nova
identidade, coletiva, construída e que é matriz do próprio movimento.
Resistências dos descendentes de africanos no Brasil
Por favor, se habitue, não falamos de escravos, mas de grupos que passaram pelo processo de escravidão, lutaram, se organizaram e mesmo
negados pela suas características físicas constituíram uma cultura singular e importante. Professor Renan Bayer e Rodrigo Rainha te apresentam
um pouco mais da resistência dos descendentes de africanos no Brasil.
Os europeus escravizaram
os africanos, que eram
atrasados e ainda viviam
em condição tribal, por isso
foram vencidos.
Como escravos, foram
vendidos em mercados,
foram para as fazendas,
onde se tornaram os pés e
as mão do Brasil.
Converteram-se e contaram
com a assistência e a
proximidade dos donos de
fazenda.
Sempre existiram grupos
que defenderam o �m da
escravidão e graças à
Princesa Isabel, em 1888,
essa triste história acabou.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Dentro da perspectiva de resistência, o quilombo pode ser entendido como
A uma ruptura social.
B uma ruptura política.
C uma ruptura economia.
Parabéns! A alternativa D está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20escravid%C3%A3o%20impacta%20o%20social%2C%20o%20pol%C3%ADtico%20e%20a%20economia%2C%20fazendo%20com%2
Questão 2
A história tradicional apresenta formas de resistência urbanas como algo pouco visto. Um estudo apurado pode, muitas vezes, surpreender. Por
exemplo, umaforma de resistência urbana que protegeu fugidos e comprou alforrias foi?
Parabéns! A alternativa C está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20irmandades%20atuavam%20na%20associa%C3%A7%C3%A3o%20de%20escravos%20e%20libertos%2C%20criando%20um%20e
D uma ruptura do status quo.
E uma ruptura do tecido do trabalho.
A Os governadores para mudar a economia.
B Os fazendeiros de café em fábricas urbanas.
C As irmandades religiosas de homens negros.
D Os terreiros das cidades e casas cômodos.
E As milicias de capoeiras.
3 - Os africanos livres no Império
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer como homens e mulheres africanos tiveram uma vida em liberdade
durante a escravidão no Brasil.
Africanos Livres
Vozes
A escravidão e a forma como eram trazidos homens e mulheres do continente africano criou uma categoria singular: “africanos livres”, aqueles que
foram resgatados da escravização ilegal após o fim do tráfico em 1831.
No período entre as duas leis contra o tráfico (1831 e 1850) houve um aprofundamento da entrada de africanos via tráfico e com pouco combate
das autoridades do Império.
Africanos escravizados trabalhando.
Antes disso, no período da independência, 1/3 da população do Império era de escravos e esse número poderia variar de acordo com a região,
podendo chegar a 2/3 da população, em áreas como Vassouras, que contava com 2/3 de escravos e com uma grande quantidade de africanos livres
e libertos.
A fim de reduzir a entrada de africanos para a escravização, algumas medidas foram tomadas, ainda com o Brasil sob domínio de Portugal.
1810
F i i d t t d t P t l I l t “li it é i t ê d à ó i lô i
A lei de 1831 no seu primeiro artigo determinava: “todos os escravos que entrarem no território ou nos portos do Brasil, vindos de fora, ficam livres”,
criando a categoria de “africanos livres”. De acordo com Jaime Rodrigues, a lei também previra a reexportação para a África daqueles trazidos para
o Brasil após 1831, mas enquanto o trâmite para essa ação era feito, o governo deveria encontrar meios para a sobrevivência desses homens e
mulheres, os obrigando à prestação de serviços (RODRIGUES, 1997).
Africanos trabalhando no Rio de Janeiro.
De acordo com Beatriz Mamigonian, especialista nesse campo de estudo, eram africanos livres os que fossem emancipados em obediência à
repressão ao tráfico. Os considerados assim ficariam sob a responsabilidade do Estado imperial e deveriam “cumprir catorze anos de trabalho
compulsório para alcançar a ‘plena liberdade’”. De acordo com a autora, estiveram sob esse regime, entre 1821 e 1864, cerca de 11 mil pessoas. No
entanto, estudos já mostraram que entraram no Brasil, entre 1830 e 1856, cerca de 800 mil africanos para a escravização ilegal (MAMIGONIAN,
2017).
Diante do não cumprimento do dispositivo que previa a reexportação dos africanos apreendidos no Brasil, em 1834 houve uma determinação do
Ministério da Justiça, atendendo a um pedido do presidente de província da Bahia, para que esses “ilegais” fossem empregados nas obras públicas,
estando proibida a arrematação dos africanos livres a particulares.
Porém, no mesmo ano, foi concedida a permissão de arremate daqueles que estavam na Casa de correção da Corte, sendo necessário o
pagamento, em juízo, de um salário ao curador dos africanos, cujo valor serviria para a reexportação dos africanos.
Foi assinado um tratado entre Portugal e Inglaterra que “limitava o comércio português de escravos às suas próprias colônias e
territórios”.
1815
O tratado “reiterava a proibição desse comércio fora das possessões coloniais portuguesas e vetava expressamente aquele
conduzido ao norte do equador”.
1826
No contexto pós independência, Brasil e Inglaterra assinaram um tratado que proibiria todo o comércio de escravos para o Brasil, a
partir da vigência em março de 1830. A lei de 7 de novembro de 1831 confirmava essa proibição e declarava livres todos os que
entrassem no país a partir dessa data.
1850
Uma nova lei reforçava a proibição, diferenciando-se da lei anterior a partir das penas impostas aos que burlassem a lei.
Após a lei de 1850, que novamente proibiu o tráfico, aqueles que fossem apreendidos estariam por conta do governo, sob sua tutela e atuando em
serviços do Estado sem poder estar sob a tutela de particulares. As fraudes com o “uso” dessa mão de obra eram constantes, o que impedia que os
direitos desses africanos fossem respeitados, principalmente o de reexportação.
Em 1853, voltou a permissão para a tutela de particulares, mas após prestarem serviços por 14 anos, os africanos deveriam ser emancipados,
devendo permanecer no local determinado pelo governo e com ocupação reconhecida (RODRIGUES, 1997).
Ou seja, colocariam esses homens e essas mulheres sob a condição de trabalhadores com salários, mas com o estigma da escravidão diante da
não possibilidade de uma vida autônoma e livre, de acordo com seus próprios parâmetros.
Africanos trabalhando na produção de cana-de-açúcar.
Funcionários públicos?
Formas de relação de liberdade
Os africanos livres tutelados pelo Estado foram usados como mão de obra em muitas regiões, como em Manaus, onde atuaram em olarias e
serviram como pedreiros e carpinteiros, entre outras funções necessárias para uma cidade em construção e desenvolvimento. Os africanos livres
que atuavam em obras públicas tinham a companhia de outros tipos de trabalhadores, como indígenas e homens livres nacionais.
O historiador Jaime Rodrigues pesquisou o uso de africanos livres na fábrica de ferro Ipanema, em Sorocaba. Essa fábrica foi criada em 1811 e
desde 1834 recebera africanos livres para o trabalho. As listas de trabalhadores indicam homens e mulheres sob a condição de “africanos livres”
atuando em diversas atividades na fábrica.
Acompanhe a seguir:
A convivência entre africanos livres e as formas de trabalho estabelecidas na fábrica fez com que houvesse constantes problemas disciplinares.
O depoimento do dirigente da fábrica indica a ideia que faziam deles: “[...] eles são relaxados, mostram sempre uma cara feia, e parece que são
seduzidos por algum mal-intencionado, pois há entre eles alguns de cinco a oito fugidas, e não servem correções” (RODRIGUES, 1997).
Apesar dessas reclamações, havia uma forte demanda por esse tipo de trabalhador para a fábrica.
No entanto, esse grupo de africanos passou a reivindicar sua liberdade por acreditar que o trabalho que exerciam era irregular. Para isso,
mandaram um documento por escrito para o juiz de órfãos local, tratando da sua condição.
De acordo com Rodrigues: “os africanos afirmavam terem sido contratados para trabalhar dez anos e já trabalhavam 16. ‘continuavam a servir
como escravos, quando são livres, e que não estavam dispostos a se conservarem assim’, disse o juiz, reproduzindo a conversa que manteve com
os africanos (RODRIGUES, 1997).
Esse caso demonstra a noção que muitos desses homens tinham sobre a condição em que viviam no Brasil, semelhante a de escravos, mesmo não
estando legalmente sob o regime da escravidão. A reivindicação da liberdade não era feita apenas por meio de fugas e revoltas, mas também
utilizando meios legais, como a solicitação feita ao juiz da região. Assim, é visível por esse estudo que a realidade da escravização africana no
Brasil, até na sua ilegalidade, produziu inúmeras formas de resistência e conceitos sobre trabalho e liberdade.
Exemplo
Entre essas funções, que apareciam como marginais, mas altamente reconhecidas, temos as benzedeiras e produtoras de unguento, óleos e
garrafadas.
Muito se discute a influência e a troca das populações africanas com as indígenas, que se manifesta também na religião – como a umbanda –, para
marcar o intercâmbio de conhecimentos sobre os produtos naturais, os serviços de cura e afins.
Para que tenhamos ideia sobre esse papel, eles garantiam influências e trocas. Recompensas e, muitas vezes, registros literários e jornais reforçam
que osmédicos eram vistos com mais ressalvas do que os donos desses conhecimentos.
Escravizados em prática de capoeira.
Outro papel utilizado pelos setores públicos era a força. Temos que pensar em capoeiras, em serviços de proteção, carregadores e armadores do
porto, libertos que atuavam no saneamento e na limpeza da cidade, além de funcionários que faziam papéis de cobranças e papéis públicos.
Muito além de o longínquo imaginário de pés e mãos do engenho, as cidades se relacionavam com esses grupos que iam ganhando espaço,
recuperando elementos de sua cultura e pressionando para que direitos fossem reconhecidos.
No século XIX? Sim!
Ainda que al�ados dos poderes políticos, iam ganhando espaço na economia e na mecânica social.
No entanto, o cientificismo do século XIX vai prestar um perigoso e complexo desserviço social, ao defender teorias de branqueamento, apontar
para a ideia de que o Brasil não pode ter duas raças, devendo fazer suas escolhas, uma escolha que fica clara na política de imigração empreendida
entre o século XIX e o XX.
Ofícios
Barbeiros e quitandeiras
Outro caso interessante de mencionar é a respeito dos africanos que viveram no Brasil, detentores de um ofício. Entre eles estão os barbeiros
sangradores.
A prática da sangria era regulamentada em Portugal, usada como uma técnica de tratamento em diversos ambientes, não apenas em áreas de
hospital, e seu aprendizado era passado de forma oral e empírica pelos mestres barbeiros (JEHA, 2017). Essa atividade era exercida no período
colonial e no Império majoritariamente por homens negros (africanos, escravos ou livres) e foi bastante retratada por Debret.
Mulheres em barbearia.
Quintandeira vendendo caju.
Um ofício ocupado por muitas mulheres africanas era o de quitandar. As vendas nas ruas eram feitas por mulheres, algumas forras ou escravizadas
africanas, e constituía em uma atividade lucrativa, sendo regularizada pela Câmara, com o crescimento das cidades. Inúmeras pesquisas já foram
feitas sobre essas mulheres, buscando características comuns e que identifiquem na arte da quitanda, ou seja, a prática do comércio, uma
ancestralidade africana.
De acordo com esses estudos, a prática da quitanda é uma invenção social dos povos bantos da África Central, sofrendo adaptações no Brasil,
sendo, na África, um ofício exclusivamente feminino. Confira!
O termo quitanda é de origem quimbundo, mas aparece em todos os povos de língua bantu de Angola. Em Luanda colônia,
as quitandeiras vendiam seus produtos e se distribuíam pela cidade de forma muito semelhante ao que ocorria no Rio de
Janeiro no mesmo período. Assim, as quitandeiras ocuparam com muita proximidade as duas margens do Atlântico Sul,
ajudando a conformar sociedades articuladas nos dois lados do oceano, como bem apontou Alencastro [Luiz Felipe
Alencastro]
(SOARES; GOMES, 2002)
No Brasil, essas mulheres africanas ocuparam as ruas, praças, os largos e foram retratadas por Debret e descritas por viajantes e cronistas de
jornais. Para exercerem o ofício era necessário tirar uma licença anual a fim de manter seu local de trabalho, pagando impostos e oferecendo
mercadorias em todas as partes da cidade. As atividades exercidas por essas mulheres eram ouvidas por aqueles que passavam pelas ruas e que
ouviam os anúncios dos produtos vendidos.
Uma dessas africanas quitandeiras teve sua história contada por historiadores que reconstruíram sua biografia a partir do processo de escravização
no Rio de Janeiro. A história de Henriqueta é semelhante à de muitas mulheres africanas que chegaram ao Rio de Janeiro.
Sua dona a colocou nas ruas para exercer a atividade de ganho, ou seja, tarefas para terceiros em troca de uma quantia que deveria ser paga a
sua dona.
Com tal atividade, Henriqueta ainda conseguiu acumular um dinheiro que a permitiu comprar sua alforria.
Após liberta, continuou nas ruas da Corte, mas carregando cestos com produtos e andando pelas ruas da região central exercendo a atividade de
quitandar.
Ela e tantas outras mulheres, africanas ou não, dominavam as ruas da cidade com o uso de códigos que permitiam a ocupação de determinadas
ruas por um grupo específico. Além disso, parte dessas mulheres e muitos outros homens tinham nas irmandades religiosas um ambiente de
encontro e sociabilidade. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário é um exemplo desse tipo de organização religiosa e agregou muitos africanos
entre seus membros.
Uma parte do conhecimento que temos sobre a vida dessas mulheres passa pelos processos com os quais se envolveram ou pelas reclamações
feitas por autoridades sobre a presença delas nas ruas.
Sobre Henriqueta um pouco da sua vida foi conhecido por causa de um processo movido por ela:
Henriqueta processou o seu então marido, um africano liberto com quem se casou logo quando foi liberta.
Por conta das violências sofridas, Henriqueta solicitou e conseguiu um divórcio eclesiástico. Ela não foi a única a fazer tal reivindicação e
inúmeros processos envolvendo casais de libertos e africanos existem em arquivos eclesiásticos, sem cuidado da historiografia.
A vida de Henriqueta mudou após conseguir a separação e ela pôde reunir uma quantia que a permitiu ter a licença de duas barracas no mercado
localizado no Largo do Rosário, bem perto da Igreja da Irmandade.
A história de Henriqueta foi objeto de estudos que associam a presença de mulheres africanas nos espaços urbanos, permitindo contar duas
histórias: a da escravidão e a das cidades escravistas.
O site desenvolvido pela Universidade Rice (EUA) sobre o cotidiano de Henriqueta nas ruas do Rio de Janeiro em 1850 é uma valiosa fonte de
informação sobre o tempo de uma cidade africana, a corte do Brasil.
Africanos livres, homens e mulheres, estavam em toda a parte das grandes cidades e no campo, e, mesmo sendo “livres” viviam sob o jugo de outra
forma de escravização, aparentemente ilegal. No entanto, assim como no tempo da escravidão, esses “livres” tiveram que recorrer a juízes ou outras
autoridades para terem reconhecida sua liberdade. Durante a vigência da escravidão, a liberdade ainda era um conceito em construção.

Debret e os africanos no Brasil
Conheça Jean Baptiste Debret e a forma como foram retratados os africanos no Brasil.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre os modelos de ordenamento e cultura dos africanos no Brasil, é importante pensarmos as formas como homens e mulheres
descendentes ressignificaram a cultura e o valor. É uma manifestação que permite uma reflexão sobre essa questão
Parabéns! A alternativa D está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EOs%20escravos%20de%20ganho%20deixam%20como%20herdeiros%20as%20formas%20de%20ganho%20financeiro%20e%20estrutura
Questão 2
As vozes sobre os libertos não são restritas ao império, mas ali ganhamos mais força e notoriedade. Sobre a questão dos libertos podemos
afirmar que
A a presença política de nomes como André Rebouças.
B o processo social de transformação das benzedeiras em médicos.
C o uso de capoeiras como policiais militares nas grandes cidades.
D a presença das quituteiras e suas formas de ganho nas cidades.
E a adoção de funcionários remunerados na fábrica.
A não existiam libertos verdadeiros, só escravos de ganho.
B libertos eram alforriados presenteados pelos senhores.
C libertos só entravam em relações políticas complexas.
Parabéns! A alternativa E está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20liberdade%20dos%20grupos%20de%20descendentes%20africanos%20foi%20pouco%20estudada%20durante%20muito%20tempo
se%20que%20as%20formas%20de%20presen%C3%A7a%20na%20sociedade%20eram%20culturalmente%20muito%20mais%20complexas.%3C%2Fp%
4 - O pós-abolição e a resistência da cultura africana
Ao �nal deste módulo, você será capaz de listar nos estudos do pós-abolição sobre a presença de africanos e afrodescendentes
no Brasil.A cultura dos descendentes africanos
Um novo mundo
O fim da escravidão em 1888 representou o início de um novo tempo para homens e mulheres africanos escravizados e seus descendentes. Esse
fim somente ocorreu por causa das inúmeras lutas empreendidas por esses sujeitos e combinado com uma conjuntura desfavorável para a
escravidão.
E para onde foram esses novos homens e mulheres livres?
Essa é uma pergunta constante por parte daqueles que leram uma história republicana que apagou a presença de homens e mulheres negros da sua
história. Nas últimas décadas, novos pesquisadores se debruçaram sobre o período conhecido como pós-abolição, a fim de problematizar essa e
D os ex-escravos trabalhavam na Igreja, principalmente, agente de sua alforria.
E libertos participavam da relação complexa do império, tendo formas diversas.
outras questões.
Crianças negras em um rancho em Teresópolis.
Os estudos do pós-abolição recontextualiza os conceitos de cidadania e liberdade e os seus significados para diversos atores sociais em diferentes
tempos, como ex-escravizados que ainda durante a escravidão tiveram contestada a sua liberdade e para africanos que mesmo livres não tiveram
acesso à cidadania.
Esses estudos também tratam dos projetos dos libertos e as inúmeras possibilidades surgidas com a conquista da liberdade, antes ou depois da
abolição.
O pós-abolição foi vivido de forma diversa em diferentes partes do país:
Primeiros anos republicanos
O final do Império e os primeiros anos republicanos foram de reconstrução de vidas de ex-escravizados, alguns africanos, e seus
descendentes. As opções para viver a vida de liberdade passava pela cidade e pelo campo, alguns preservando ofícios anteriormente
exercidos.
Cultura e religiosidade
A cultura e a religiosidade, exercida de forma distinta pelos diferentes grupos de ex-escravizados ou de negros livres, foi uma via de
leitura de historiadores e outros profissionais que focaram apenas nesse aspecto a vida de homens e mulheres recém saídos da
escravidão.
Fora do “padrão”
P é it f i d d t ti id d líti t ti d lt ã t i d t d
As pesquisas recentes sobre o pós-abolição indicam uma autonomia desses homens e mulheres, ex-escravizados, para a decisão da vida em
liberdade, tirando o peso negativo que esse deslocamento tinha numa historiografia anterior.
Uma dessas novas pesquisas indicam a migração como um ato consciente e como desejado por aqueles que teriam as oportunidades que a vida
livre daria, apesar dos vestígios da escravidão e do seu passado violento. Tal prática não seria novidade em países como Cuba e Estados Unidos,
que ao terem eliminado a escravidão, também testemunharam casos de grandes migrações dos ex-escravizados.
Migrações de africanos no Brasil
Em busca de uma vida melhor
As migrações foram realizadas para os seguintes locais:

Corte ou cidades
Com um contingente populacional vindo do campo.

Áreas rurais
Buscando se distanciar do antigo local de escravização.
Porém, para a Corte, nos primeiros anos, o aumento demográfico no pós-abolição indica a região como sendo alvo desses ex-escravizados até os
primeiros anos iniciais da República e se intensificando ao longo da década de 1920.
Para a região do campo, principalmente o Vale do Paraíba cafeeiro, houve a permanência de um grupo de ex-escravizados nas fazendas como
resultado de uma estratégia usada pelos senhores para fixar esses trabalhadores na região, surgindo posteriormente as comunidades
remanescentes de quilombolas e que foram reconhecidas pela Fundação Palmares.
Porém, muitos africanos e seus descendentes exerceram atividades na política e em outro tipo de cultura que não estaria dentro do
espectro pensado para homens e mulheres negros.

Outro caso encontrado no pós-abolição por Ana Maria Rios foi daqueles que ficaram mudando de fazenda em fazenda, com trabalhos temporários e
instáveis, gerando ainda mais pobreza, violência e sem construir laços de parentescos extensos.
Curiosidade
Segundo a autora, os centros urbanos cresceram no pós-abolição, principalmente pelas gerações (filhos e netos) de ex-escravizados que não
conseguiram se manter no campo.
As causas para essa migração, segundo novos estudos, devem estar associadas à busca por uma educação que pudesse alterar a perspectiva de
futuro dessas famílias, que não deveriam mais ficar presas ao campo. Pesquisas que trataram de cidades mais afastadas da Corte e capital da
República indicam que os migrantes contemplaram cidades próximas à área rural a fim de, talvez, aproveitar seus ofícios ligados ao campo.
Diante das dificuldades que alguns historiadores tiveram em identificar a origem desses migrantes, é necessário recorrer a outras fontes que
possam indicar a origem de homens e mulheres afrodescendentes em algumas regiões, principalmente as cidades. O censo do Distrito Federal
realizado em 1906 é um valioso instrumento para vermos apenas uma cidade nas primeiras décadas do século XX. No entanto, por esse exemplo
conseguimos problematizar a presença dos afrodescendentes na capital federal.
Nesse censo, o objetivo era contabilizar apenas os moradores da cidade do Rio de Janeiro, não sendo um censo nacional, nem inserido em uma
dinâmica específica.
As perguntas feitas eram simples e abrangiam nome, idade, nacionalidade, estado civil, grau de instrução (se sabia ler ou escrever) e profissão. A
cor não era uma questão importante e desde o censo de 1890 não era perguntada. Porém, mesmo sem essa pergunta específica, conseguimos
identificar homens e mulheres africanos e africanas na cidade.
Comentário
“Africano” era uma nacionalidade que não considerava a diversidade do território do continente africano, não sendo contabilizado como “europeu” os
italianos, portugueses e espanhóis, por exemplo.
Os africanos contabilizados no censo de 1906 no Rio de Janeiro, totalizara 274 homens e 428 mulheres, 702 no total, localizados em diferentes
distritos da cidade. Entre esses africanos existiam os “centenários”, homens e mulheres com mais de 100 anos. Muitos desses centenários estavam
localizados no Distrito da Gamboa, local chamado atualmente de “pequena África”.
Exemplo
Uma dessas centenárias é Maria das Dores, africana, com 105 anos e que chegou ao Brasil com 5 anos de idade. No censo não há detalhes sobre
sua chegada, nem a indicação de que veio para ser escravizada.
Em 1906, a escravidão é apagada pelos recenseadores, desejo também das autoridades do Brasil República.
Lugares de memória
Raízes ancestrais
O pós-abolição no Brasil também é marcado pelas novas pesquisas que identificaram os lugares de memória da escravidão africana, projeto
apoiado pela Unesco e que envolveu pesquisadores de diversas áreas do Brasil. Essa identificação quebrou o silêncio existente sobre a história do
tráfico, principalmente no período da sua ilegalidade. O grande volume de escravizados ilegais que entraram no Brasil e que produziram as fortunas
do Vale do Café foi exposto em pesquisas recentes e alguns desses locais podem ser identificados por pesquisadores que não pretendiam silenciar
a violência da escravidão. Observe uma importante justificativa para esse projeto.
A estratégia de dar visibilidade a estes temas através da visitação dos locais de memória não só consolidava novas
formas de rememoração, para públicos que desconheciam ou se recusavam a falar desse passado, mas também abria
caminhos de sustentabilidade para os grupos que sofriam o peso do estigma de serem descendentes dos antigos
escravizados.
(MATTOS; ABREU; GURAN, 2014)
Esse movimento faz parte do processo de reconhecimento de comunidades quilombolas do Sudeste e que envolveu historiadores e antropólogos.
Logo, a memória dos africanos escravizados não poderia ser apagada junto com a história que muitos pretendiam
apagar após a abolição da escravidão.
Para esses pesquisadores, a publicização da história da escravidão e do tráfico era uma forma de reparação moral e possibilidade de construção de
uma sustentabilidade econômicapara comunidades negras presentes nesses locais e herdeiras de um patrimônio (MATTOS; ABREU; GURAN, 2014).
Ex-escravizada da Reserva Extrativista do quilombo de Frechal.
O pós-abolição é um campo de estudo profícuo para a história da escravização de diferentes grupos africanos no Brasil iniciada por volta de 1530.
Não é mais possível pensar nesses sujeitos apenas como escravizados e com a sua história encerrando em 1888, com o fim da escravidão.
Antes e depois da abolição, muitos homens e mulheres lutaram pela liberdade com inúmeras estratégias. São
essas lutas que os estudos do pós-abolição mostram, tirando do silenciamento vozes importantes para a
compreensão total da história do Brasil.
Um debate recente e complexo dessas relações se manifesta nas religiões afro-brasileiras.
Note-se que herdeiros das práticas urbanas foram tratados de maneira a tornar presente a organização e ressignificação de processos religiosos.
Tambor de Mina, Umbanda, Candomblé são manifestações, entre muitas outras, que reorganizam e explicam as relações de poder das
comunidades.
Ao mesmo tempo, eram manifestações toleradas pelo status quo cristão, desde que mantidas em segundo plano. Mais recentemente, vivemos
ataques relativos a esses grupos e o reposicionamento de seus seguidores por aspectos políticos, modificando suas relações ancestrais.
Re�exão
Quando se discute os lugares de memória, fazendo uma relação direta com essas ressignificações devemos pensar sobre o efeito do pensamento
colonial, que constrói uma história em que as tradições vinculadas aos grupos africanos foram associadas às memórias da escravidão, e de alguma
forma como algo a ser vencido, segundo nomes como Rui Barbosa, até apagado.
O branqueamento populacional, de alguma forma, também foi ícone de um processo de esbranquiçar as manifestações vinculadas a essa memória.
Memórias esbranquiçadas
Assista ao vídeo e pense um pouco sobre essa questão.

Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Com a abolição, podemos afirmar que a situação das populações descendentes de africanos no Brasil caracteriza-se por
Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20estrutura%20pol%C3%ADtica%20demonstra%20que%20a%20ideia%20de%20comunidades%20dependentes%20%C3%A9%20cl%C
Questão 2
Uma das formas de agressão afrodescendente foi a negação e o apagamento da memória. Esse processo foi reforçado por dinâmicas diversas,
entre elas podemos sinalizar
A indigência e abandono.
B organização de comunidades.
C igualdade de direitos e possibilidades com os cidadãos.
D indiferença, pois a abolição não mudou nada.
E cultura dominante que marca o Brasil.
A política de perseguição.
Parabéns! A alternativa B está correta.
%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EAs%20pr%C3%A1ticas%20relativas%20ao%20branqueamento%20em%20uma%20l%C3%B3gica%20que%20se%20pretendia%20cient%C
Considerações �nais
O texto oferece caminhos para entender as diferentes formas como homens e mulheres africanos e africanas viveram a vida na escravidão e na
liberdade do Brasil do século XIX e primeiros anos do XX.
Os africanos que chegaram ao Brasil eram um grupo heterogêneo, mas perderam essa distinção na experiência da escravidão, que tendia a torná-los
um só, sem vida e sem identidade. Porém, uma forma de resistir era o de construir identidades e laços com outros grupos e assim promover formas
de viver a escravidão sempre em busca da liberdade.
A historiografia dedicada aos estudos dos africanos escravizados, seus descendentes e o pós-abolição inseriram esse grupo como sujeitos da
história, permitindo que a sociedade brasileira conheça com maior profundidade não só o processo da escravização mas, principalmente, as
diferentes formas de buscar a vida em liberdade.
As pesquisas que enfocam a memória da escravidão cobram das autoridades o reconhecimento dos direitos desses povos não só à terra mas
também a uma história que revele com maior cuidado e eficácia a trajetória de vida de tantos homens e mulheres escravizados. O pós-abolição é
um novo campo de estudo e abordagem e por meio dele devemos pensar nos africanos e afrodescendentes.
Podcast
Para encerrar, ouça sobre os principais aspectos dos quilombos e a cultura africana no Brasil.
B política de branqueamento.
C políticas afirmativas.
D políticas de controle religioso.
E políticas voltadas a uma história separada.
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Referências
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