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Profa. Dra. Eliane M. Ingrid Amstalden
1. ANATOMIA NORMAL DA PELE
A pele é o manto de revestimento do organismo, com funções de proteção, termo-
regulação, percepção e secreção.
É composta por três camadas:
1ª: Camada superior - a epiderme.
2ª: Camada intermédia - a derme ou cório.
3ª: Camada profunda - a hipoderme ou tecido celular subcutâneo.
A epiderme é constituída por epitélio plano estratificado corneificado, cuja
espessura apresenta variações nas diferentes regiões cutâneas, chegando a 1 mm
nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. Na camada basal da epiderme também
encontramos os melanócitos que são responsáveis pela produção de pigmento
castanho: a melanina. A melanina representa uma barreira endógena importante
contra os raios UV, nocivos, presentes na luz solar.
As células de Langerhans são em pequeno número e se localizam de
permeio às células da camada espinhosa da epiderme. São células histiocitárias
dendríticas que captam e processam sinais antigênicos e comunicam essas
informações às células linfóides.
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A segunda camada, a derme, é constituída por estroma conjuntivo, composto
por fibras colágenas e elásticas, no qual se situam as estruturas vasculares,
nervosas e os anexos cutâneos: glândulas sudoríparas, sebáceas e folículos pilosos.
A presença e quantidade dos anexos cutâneos vai depender da topografia da pele
examinada. Exemplo: a pele na região palmar ou plantar é rica em glândulas
sudoríparas écrinas, porém não tem folículos pilo-sebáceos. Ao contrário, na pele do
couro cabeludo, temos grande número de folículos pilo-sebáceos.
A terceira camada, a hipoderme, é constituída por tecido adiposo, tem
espessura variável e funciona como reserva nutritiva, participa no isolamento térmico e
na proteção mecânica às pressões e traumatismos externos.
2. CONCEITOS BÁSICOS
- Ortoceratose: aumento da camada córnea (queratinização) de um modo normal.
Essa camada não é formada por células, só por queratina e não tem núcleos.
Estrutura filamentar.
- Paraceratose: queratinização anormal, com aumento da espessura da camada
córnea rapidamente. Apresenta-se com células queratinizadas, ainda com núcleos e
compacto.
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- Acantose: hipertrofia da camada espinhosa da pele (a que tem desmossomos
evidentes, acantos). Há 4 tipos de acantoses: psoriasiforme, irregular, papilomatosa,
pseudocarcinomatosa.
Psoriasiforme: há aumento dos cones epiteliais entremeados pela derme. Presença
de paraceratose.
Irregular: proliferação irregular dos cones epiteliais, alturas diferentes. Indica
cronicidade. Ex.: Fase crônica do eczema, dermatite de contato (fase crônica).
Papilomatosa Verrucosa: proliferação epitelial para dentro e para fora (exofítica).
Aspecto áspero com muito estrato córneo (verrucoso). Ex.: Verruga viral.
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Papilomatosa Vegetante: proliferação para dentro e para fora também, mas o que
muda é que não tem muito estrato córneo pois fica nas mucosas. Ex.: condiloma
acuminado.
Pseudocarcinomatosa: proliferação profunda bem irregular que lembra um
carcinoma invadindo a derme, mas não é. Ex.: Cromoblastomicose, paracoco
(doenças fúngicas).
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3. PRINCIPAIS LESÕES DA PELE
Lesões elementares primárias e secundárias.
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- Espongiose: edema entre os queratinócitos. Coleção de líquido tipo plasma no
interior, espaçando-os até formar as vesículas que coalescem e formam bolhas
(maiores). Ocorre nas dermatites de contato, atópica e eczemas.
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- Acantólise: Quebra dos espinhos. Ocorre nos pênfigos, pênfigo folíaceo. Fenômeno
autoimune que age contra a substancia cementante e ocorre ruptura entre os
queratinócitos, ficam soltos, arredondados (B).
Acantólise tão alta que não dá para ver muito bem a bolha, o queratinócito fica mais
navicular e nao tão redondinho. Tipo sujeirinha de borracha quando apaga alguma
coisa.
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Congestão: dermatite inflamatória. Causou vasodilatação e hiperemia.
Púrpura: vasculites, que lesam a parede do vaso e há extravasamento de hemácias.
Podemos diferenciar fazer a digitopressão, se for congestão a área fica anêmica
(branco), se for púrpura não vai mudar a cor porque o sangue já saiu do vaso.
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→Descrição da lesão: na foto
aparecem 2 tipos de lesões. Temos
lesões planas, menores que 1cm de
diâmetro e hiperpigmentadas com
coloração tipo “café com leite”.
Podemos chamá-las de máculas
hipercromáticas.
As outras lesões são sólidas, exofíticas
e esféricas. Apresenta coloração igual
a da pele adjacente e com variações
no tamanho (até uns 3cm), mas com a
maioria menor que 1cm. Chamamos
de pápulas.
→Descrição da lesão: lesão exofítica
assimétrica com camada córnea
espessada em tom amarelado.
Podemos chamá-la de lesão pápulo-
tumoral verrucosa.
→Descrição da lesão: lesão papular
serpentiforme no dorso da mão com
região ulcerada e região escamosa
próximo ao 5º dedo. Trata-se de uma
pápula migratória ulcerada, ou “bicho
geográfico”, lesão causada pela larva
migrans.
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BLOCO PELE - DERMATOPATOLOGIA
Prof Dr. Elemir Macedo de Souza
Será possível ler a pele? O normal se apóia na semelhança da pele da maioria dos
indivíduos. Alguns apresentam alterações ou variações do normal sem interferência na
sua vida; outros terão alterações do normal, constituindo elementos que podem ser
interpretados do ponto de vista macro e microscópico.
Estes elementos que fogem do normal receberam denominações dermatológicas que
permitem a leitura e interpretação daquela alteração cutânea. A sua apresentação num
determinado momento e numa determinada região caracterizará uma dermatose. Um
dermatologista consegue ler estes elementos. Assim as mesmas lesões podem expressar
dermatoses diferentes.
As leituras macroscópicas (exame dermatológico) das lesões elementares devem ter
consistência com as alterações histopatológicas que serão lidas com o microscópio,
configurando o substrato clínico-patológico. Uma área vermelha na pele (eritema) terá
uma correspondência microscópica representada por vaso-dilatação; uma púrpura será
representada por um extravasamento de hemácias.
As lesões elementares que constituem o alfabeto do dermatologista podem se
classificadas ou sistematizadas em: lesões elementares primárias e secundárias
(decorrentes das primárias).
1. LESÕES ELEMENTARES PRIMÁRIAS
São as manchas, pápulas, nódulos, tumores, vesículas, bolhas e pústulas (7).
• MANCHAS
As manchas são modificações na coloração normal da pele, sem alterações estruturais
apreciáveis à palpação, resultantes de perturbações nos elementos responsáveis pela cor
da pele: pigmento melânico e vascularização, assim como pigmentos estranhos à pele de
origem endógena (bilirrubina, ferro) ou exógena (prata,ouro, caroteno).
- Manchas Vasculares:
As manchas vasculares podem ser: eritematosas, purpúricas e anêmicas.
As manchas eritematosas ou simplesmente ERITEMAS resultam da dilatação
temporária ou permanente dos vasos capilares da derme, sendo vermelhas quando o
segmento arterial está acometido e arroxeadas ou azuladas (cianose) quando o segmento
acometido é o venoso. A combinação de ambas recebe o nome de eritrocianose. A
cianose nas extremidades recebe o nome acrocianose.
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Portanto, nas manchas eritematosas os vasos estão íntegros, mas com dilatação ou
congestão. Com a compressão digital - digitopressão - ou com uma lâmina de vidro –
vitropressão -, estas manchas sofrem um embranquecimento por esvaziamento (lividez)
temporário do vaso. Ex.: na rosácea há eritema centro-facial; queimaduras solares.
As manchas eritematosas podem ter aspecto bem delimitado (geográfico), como na tinha
crural; ou serem difusas.
Nas manchas purpúricas ou PÚRPURAS, os glóbulos vermelhos (hemácias) saem dos
vasos e jazem no tecido circunjacente, não desaparecendo a vitropressão; quando
puntiformes são chamadas petéquias e se em grandes áreas são hematomas. Aspecto
vermelho vinhoso, bem escuro. Ex.: distúrbio de coagulação no choque.
As hemácias fora do vaso serão degradadas e a hemoglobina do seu interior
catabolizada, passando por biliverdina e bilirrubina, restando o pigmento ferro. O ferro é
um pigmento endógeno não normal da pele e o seu acúmulo acarreta a hemocromatose.
As manchas ANÊMICAS são decorrentes da falta ou diminuição real ou virtual dos
elementos vasculares na pele: os vasos sangüíneos podem sofrer constrição (palidez) ou
ter o seu conteúdo (glóbulo vermelho) diminuído em número ou com baixo teor de
hemoglobina (anemia).
- Manchas Melânicas:
As manchas na pele podem ser devidas a alterações no
teor de melanina: quando há aumento poderemos
chamá-las manchas hipercrômicas, hiperpigmentadas
ou hipermelânicas. Ex.: lentigos.
Ocorrendo dimunição da melanina serão manchas
hipocrômicas, hipomelânicas ou hipopigmentadas.
Ex.: ptiríase alba é um exemplo de hipopigmentadas,
ocorre nas crianças atópicas. Mas quando ver uma
mancha hipopigmentada sempre pensar primeiro em
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hanseníase indeterminada (acompanhada de perda da sensibilidade local).
Quando há falta total de melanina, são chamadas manchas acrômicas. Ex.: vitiligo.
- Manchas por pigmentos estranhos:
A presença de pigmento estranho na pele acarreta as tatuagens, que podem ser devidas
a um mecanismo endógeno (ocronose na alcaptonúria, dermatite ocre na insuficiência
venosa, intoxicação crônica pela prata, ouro, clofazimina, amiodarona etc.) ou mecanismo
exógeno ou tatuagem propriamente dita por mercúrio, cádmio, tinta nanquim, carvão,
pólvora.
• PÁPULAS, NÓDULOS E TUMORES
São formações de conteúdo sólido e delimitáveis. Todos podem se
encontrar isolados ou agrupados.
- Pápulas:
As pápulas são elevações sólidas até 1cm circunscritas localizadas e
superficiais na pele, podendo ser foliculares e não-foliculares.
Estas podem ser epidérmicas, dérmicas e dermoepidérmicas.
As Pápulas Epidérmicas decorrem da hiperplasia da epiderme
(verruga plana) e a sua superfície pode ser recoberta por camada
córnea espessa, sendo denominada de verrucosa (exemplo verruga
vulgar); ou a superfície pode ser vegetante, com pouca camada
córnea lembrando a superfície da couve-flor, como no condiloma
acuminado.
As Pápulas Dérmicas podem surgir por edema na derme superficial
(urticada ou pápula edematosa) ou por infiltração celular desta
região, como na sífilis.
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As Pápulas Dermoepidérmicas ou mistas são constituídas por
hiperplasia epitelial e infiltrado na derme superficial, como no
líquen plano.
O deposito de material estranho na derme superficial pode
conferir à pele aspecto elevado e circunscrito que pode ser
interpretado como uma pápula tesaurismótica (exemplo
amilóide, mucina).
- Nódulos:
Os nódulos são lesões elementares sólidas que se localizam na derme ou hipoderme,
sendo mais palpáveis do que visíveis (elevados até 2cm). É mais profundo, só elevam a
epiderme. Os nódulos que chamam atenção geralmente tem crescimento rápido,
assimétrico, doloroso, aderidos ao plano profundo e de consistência endurecida.
Ex.: lipomas, cistos epidérmicos, metástases cutâneas.
- Tumores:
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Tumor em sentido lato é qualquer tumefação mórbida (exofíticos)
mais ou menos circunscrita (elevados mais que 3cm); em sentido
restrito é uma massa de tecido neoformado persistente com
tendência ao crescimento formado através da proliferação de
elementos da epiderme, derme ou hipoderme. Podem ser benignos
ou malignos.
Ex.: melanoma, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular,
micetomas.
• VESÍCULAS E BOLHAS
São formações cavitárias de conteúdo líquido (soro, sangue).
- Vesículas:
As vesículas são pequenas até 5 ou 10mm de diâmetro que se
formam por alterações estruturais nas células epidérmicas
(parenquimatosas) ou por edema entre as células (intersticiais ou
esponjóticas). Ex.: eczema agudo, dermatite herpetiforme (HZV).
- Bolhas:
As bolhas são tipo vesículas maiores que 10mm e decorrem de
alterações na epiderme ou separando esta da derme. Quando na
epiderme, as células de uma mesma região perdem a adesividade
intercelular separando camadas (subcórneas, suprabasais). As
bolhas subepidérmicas resultam da fragilidade dos elementos que
unem a derme à epiderme.
Há bastante lesão secundária também, como crostas e erosões. As
bolhas podem ainda ter conteúdo hemorrágico (vermelhas, sangue
dentro). Ex.: pênfigo folíaceo, penfigoide bolhoso.
A separação das células da camada espinhosa da epiderme decorre
da ruptura ou lise das pontes intercelulares (acantos ou
desmossomos), recebendo a denominação acantólise.
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Quando a bolha se rompe ela deixa uma lesão residual (secundária) que forma uma
exulceração ou uma descamação em formato de colarete (meia lua). Quando vermos
essa descamação temos que pensar que houve uma bolha ali.
• PÚSTULAS
Pústulas são formações cavitárias circunscritas que se desenvolvem na epiderme, desde
o início, devido o acúmulo de neutrófilos. Algumas lesões elementares de conteúdo
líquido podem, na sua evolução, sofrer uma pustulização. Nestes casos, os neutrófilos
constituem um evento secundário. As vezes nem são infecciosas, são estéreis, não tem
bactérias.
Exemplo é a pustulização da vesícula da varicela, constituindo uma vésico-pústula. As
pústulas podem ser de localização folicular, como ocorre nas foliculites e porites. Outro
exemplo é a psoríase pustulosa (inflamatória não infecciosa).
2. LESÕES ELEMENTARES SECUNDÁRIAS
São consequências das primárias (fundamentais), como perda tecidual. São elas: as
escamas, crostas, exulcerações (ou erosões, variante escoriações), úlceras e cicatrizes
(5).
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• ESCAMAS
Escamas são restos epidérmicos que se destacam na
superfície da epiderme, habitualmente residuais de processos
inflamatórios agudos ou crônicos.
Exemplos são as escamas resultantes de bolhas rotas, tineas
do pé.
• CROSTAS
Crostas são concreções resultantes da dessecação dos
líquidos das vesículas, bolhas, e pústulas misturados com
restos celulares. Crosta hemática é o sangue que ressecou, já crosta
melicérica é pus ou plasma ressecado.
• EXULCERAÇÕES
Exulcerações ou erosões são soluções de continuidade com perda de
substância afetandoapenas a epiderme e podem ser resultantes da
ruptura de vesículas ou bolhas ou por um traumatismo superficial na
pele (escoriação). Rasas, sem degrau.
• ÚLCERAS
Úlceras são soluções de continuidade com perda de substância invadindo a derme.
Vemos um degrau com bordas elevadas, tende a sangrar, formar crostas e deixar
cicatrizes.
- Úlceras infecciosas: leishmaniose, paracoccidioidomicose.
- Úlceras inflamatórias: pioderma gangrenoso.
- Úlceras neoplásicas: carcinoma basocelular ou espinocelular.
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• CICATRIZES
Cicatrizes são formações de tecido conjuntivo decorrentes da reparação de lesões
ulceradas. Associadas a discromia, queloide, atrofia, hipertrofia e fibrose.
→ Há um grande número de lesões elementares que não são passíveis de uma
sistematização: Alopecia, atrofia, ceratoses ou queratoses (calos, calosidades),
comedão, edema, elefantíase, esclerose cutânea, fissura (perda linear do epitélio; queilite
angular), fístula, galeria, gangrena, hipertricose, infiltração, maceração, papila, sulco,
telangiectasia.
3. ALTERAÇÕES DE ESPESSURA
São elas as hiperqueratose (córnea), liquenificação (epiderme), edemas, infiltrações e
esclerose (derme).
→ HIPERQUERATOSE
Ou verrusidade, ou ainda queratodermia. Esta última pode
ocorrer por atrito, apoio inadequado (calcâneo). Exemplos de
verrucosidades são a verruga vulgar. Todas ocorrem por
aumento da camada córnea da pele (queratina).
→ LIQUENIFICAÇÃO
Lesões papulosas da mesma cor da mucosa, com aspecto
vegetante por aumento da camada da epiderme. Ocorre mais em
mucosa e em regiões da pele onde tem pouca camada córnea. Ex.:
condiloma acuminado.
Pode ocorrer também por cossaduras crônicas, que faz a pele se
espessar. Ex.: liquenificação no eczema crônico.
→ EDEMAS, INFILTRAÇÕES E ESCLEROSE
Todos ocorrem por aumento da espessura da derme. O edema é o
extravasamento do plasma dos vasos para o espaço intersticial. Ex.:
urticária e dermatomiosite.
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Infiltrações são acúmulos de células, agentes infecciosos ou
outras substâncias na derme. Ex.: hanseníase (infiltrado de
células inflamatórias e bacilos de hansen, com bordas
elevadas).
Esclerose é a deposição de colégeno e fibras elásticas na
derme, aumentando sua espessura e endurecendo a pele. Ex.:
esclerodermia.
As dermatoses inflamatórias não infecciosas podem ser vesico-bolhosas (Pênfigo e
Eczema) ou eritemato-descamativas (Psoríase).
1. DERMATOSES VESICO-BOLHOSAS
1.1. ECZEMA
Do grego ekzema, significa efervescência. O termo descreve
de forma vívida o aspecto clínico dessas lesões, que se
caracterizam por eritema e edema com formação de
vesículas ou bolhas (mudam conforme a fase). Estas
progridem com exsudação, formação de crostas,
descamação e prurido. Pode ser agudo, subagudo ou
crônico.
Evolução das lesões: eritema → edema → vesículas → bolhas → exsudação → crostas
→ descamação → prurido → liquenificação.
A descamação do eczema é arredondada, dita em colarete. A liquenificação ocorre pela
cossagem crônica.
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Os eczemas tem causas endógenas (dermatite atópica) e causas exógenas (dermatite
de contato alérgica e por irritação primária).
• DERMATITE ATÓPICA
Manifestação eczematosa peculiar, de causa desconhecida (endógena), pode ser
hereditária, freqüentemente associada a outras atopias como asma e/ou rinite alérgica
e com outros casos de atopia na família. Pode ter períodos de latência ou acalmia.
Apresenta três períodos de manifestação principal: no lactente, na criança pré-escolar
e no adolescente/adulto. A forma das lesões variam conforme a idade. Predomina nas
dobras, como pescoço, fossa cubital, poplítea, face, dorso das mãos e pés.
- Dermatite Atópica do Lactente (infantil): eczema mais avançado e disseminado.
Acomete principalmente a face (fronte e bochechas, sem afetar o maciço centro-facial).
No tronco e nos membros, observavam-se lesões eritemato-papulo-vesiculosas
agrupadas, geralmente formando uma númula (em moeda).
- Dermatite Atópica do Pré-escolar/adolescência: eczema subagudo, principalmente
nas dobras. Apresenta escoriações, descamações e pele muito seca. Pode evoluir
para liquenificação.
A persistência do quadro eczematoso na vida adulta é caracterizada por
liquenificações generalizadas.
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A dermatite atópica é sempre acompanhada de prurido e eritema. Na fase crônica
temos a liquenificação com espessamento e acentuação dos sulcos da pele e da cor
(acizentada).
Geralmente começa com a barreira
cutânea comprometida (traumas, pele
seca, geneticamente) que expõe o
alérgeno do ambiente às células
apresentadoras de antígenos. Mutações
no gene que codifica a filagrina são
responsáveis por alteração na barreira
cutânea, acarretando perda de água e
facilitação na penetração de haptenos e
microorganismos.
As DC’s sensibilizam os linfócitos Th2
(padrão Th2). Há uma resposta
inflamatória com aumento de IgE e
degranulação de mastócitos e citocinas
inflamatórias.
Fato importante no paciente atópico é a
eosinofilia no sangue periférico e o
aumento do nível de anticorpos IgE
(resposta humoral).
Assim, para haver dermatite atópica o
paciente já é predisposto geneticamente
e entra em contato com fatores desencadeantes ambientais (alérgenos).
Os principais alérgenos são alimentos, inalantes, ingestantes ou injetantes, e
contactantes, principalmente a lã, tecidos sintéticos, seda, poeira e sabões podem
predispor ou desencadear um surto de eczema. A desrregulação da população de
Stafilococos aureus da pele também pode ativar a dermatite (mesmo sem infecção).
Estresse é sempre um fator de agravo.
• DERMATITE DE CONTATO
Ou eczema exógeno, pode ser decorrente de dois
mecanismos etiopatogenéticos:
1 - Irritação primária: pela ação direta de
substância irritante, não alérgeno. Qualquer pessoa
pode desenvolver. Sem resposta imunológica. Ex.
Lesões bolhosas em couro cabeludo pelo uso primário
de pasta alisadora de cabelo, ocupacional,
medicamentos, cosméticos.
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Lesão eritematosa vesiculosa, como vesículas que coalescem e formam bolhas. Pode
ter escoriações e fissuras, o limite é irregular (mal definido).
Essas substâncias causam dano físico ao queratinócito e promovem a liberação de
citocinas inflamatórias. O dano pode ser absoluto (queimadura, relou lesou), ou relativo
(por contato frequente com a substância, como lavagem frequente das mãos – dermatite
das mãos).
2 – Sensibilização (alérgica): Trata-se de uma hipersensibilidade tardia ou
celular, do tipo IV a um alérgeno. Depois de um contato prévio houve sensibilização e
num segundo contato houve resposta imune intensa com formação da lesão (perda da
tolerância aos alérgenos ambientais – haptenos).
Os haptenos são pequenos alérgenos que
se ligam a receptores da epiderme e são
reconhecidos pelas células de
Langerhans, formando um complexo. Ela
apresenta aos linfócitos T auxiliares ali
da derme que levam para o linfonodo
regional e amplificam (expansão clonal).
Isso pode levar 4 a 5 dias após a exposição
inicial.
Os linfócitos Th2 sensibilizados do
linfonodo voltam para a pele em quase 2
semanas. Ficam prontos para uma
segunda exposição. Quando isso
acontece, eles causam intensa reação
tecidual liberando citocinas inflamatórias
que em 1 ou 2 dias após o contato com o
alérgeno já aparece o eczema.
Além das citocinas há degranulação dos
mastócitos, causando vasodilatação local
e edema dos espaços intercelulares,gerando as bolhas (espongiose).
A lesão inicialmente é localizada, mas
dependendo da resposta imune pode se
disseminar e aparecer à distância do local
de contato. São lesões caracterizadas
macroscopicamente como eritematosas,
descamativas, com fissuras, bolhosas.
Nos atópicos ficam edemaciadas.
- Exemplos de dermatite de contato: dermatite após tatuagem com henna; lóbulo da
orelha após uso de bijouterias com níquel e cromo; abdome por contato com botão da
calça contendo níquel; punho por conta do relógio ou pulseira; pés pelo contato com a
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borracha do chinelo. Pode aparecer ainda nas comissuras labiais pelo contato com a
saliva (Pérleche).
➢ Alterações histopatológicas comuns aos eczemas:
Observa-se edema nos espaços
intercelulares na epiderme (espongiose),
promovendo o afastamento entre os
queratinócitos, onde o acúmulo progressivo
de líquido pode resultar em vesículas e
bolhas intraepidérmicas (fase aguda). Na
microscopia, os desmossomos ficam bem
visíveis, parecendo esponja.
Espongiose → espongiose + vesículas →
espongiose, vesículas, bolhas → exsudação,
crostas.
Com o passar do tempo (dias, semanas) a fase vesiculosa aguda regride, dando origem
às fases subaguda e crônica, com hiperplasia epidérmica progressiva (acantose
irregular), e hiperceratose e paraceratose ou orto? (crostas na macroscopia). Há
infiltrado inflamatório crônico inespecífico e fibrose na derme.
Na liquenificação há espessamento da epiderme e muita fibrose da derme. Na
macroscopia há quadriculado retiforme (poligonal).
O diagnóstico é clínico. Para verificar qual o alérgeno podemos realizar o patch test.
Devemos sempre ter em mente os diagnósticos diferenciais para dermatites: psoríase,
herpes, etc. O tratamento da dermatite de contato é retirar o alérgeno.
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→ DERMATITE DE CONTATO (Eczema)
Paciente feminina, 38 anos, branca. Apresenta lesões
eritêmato-descamativas, com formação de pequenas
bolhas nas mãos. Relaciona o quadro com o uso de
detergentes.
Imagem escaneada da lâmina, mostrando dois cortes de
pele grossa (notar a espessa camada córnea), com
bolhas na espessura da epiderme.
Observa-se epiderme acantótica, com espongiose (edema intercelular), e formação
de vesículas e bolhas. Estas contêm material amorfo ou filamentoso, queratinócitos
em degeneração, detritos celulares, alguns neutrófilos e hemácias.
Observar o rompimento da
bolha na superfície, com
extravasamento de seu
conteúdo para o estrato
córneo. Este achado é
comum na fase aguda do
eczema e explica o
significado do termo 'eczema'
(do grego efervescência ou
ebulição).
A superfície desta bolha está
recoberta por crosta
hiperceratótica (que
aparece fortemente basófila
nestes cortes), e exsudato
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fibrinoso com células inflamatórias.
A epiderme em torno da bolha mostra espongiose (ou seja, edema intercelular),
notado como fendas claras entre as células que destacam os espinhos, (ou seja, os
desmossomos) entre elas.
Nas camadas basal e suprabasal da epiderme nota-se infiltrado inflamatório crônico
inespecífico permeando-a. Este infiltrado é denominado exocitose, independente se
agudo ou crônico.
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Nota-se exocitose nas camadas profundas da epiderme na região da bolha, e, na
derme, infiltrado inflamatório crônico inespecífico, predominantemente perivascular.
1.2. PÊNFIGO
Do grego pemphix, significa bolha. Doença bolhosa autoimune, que resulta da perda
da integridade das ligações intercelulares (desmossomos) da epiderme, ou seja,
acantólise (quebra dos acantos). Geralmente são crônicas com fases de invasão e
remissão. Pode ter evolução grave para falência da epiderme (5% de mortalidade).
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• PÊNFIGO VULGAR
Incide em ambos os sexos e a maioria dos indivíduos está na faixa etária entre 40 a 60
anos. Atinge a pele e mucosas. Tem áreas ulceradas, com exposição da derme
avermelhada. Pode acometer todo o tegumento (bem disseminado).
É causado por autoanticorpos IgG contra
desmogleína 3 (desmossomos) da camada de
Malpighi (camada parabasal da epiderme).
Ocorre clivagem intraepidérmica por acantólise
com formação de bolha suprabasal com teto
espesso.
Tem evolução grave, quase sempre fatal, devido a distúrbios
metabólicos e complicações infecciosas. Compromete bastante
o estado geral, evoluindo para sepse.
Clinicamente, as bolhas são tensas, de tamanhos variados e
com conteú do límpido, turvo, hemorrágico ou seco. Essas
bolhas demoram para se romper e podem acometer a mucosa
oral (confundem com afta). O pênfigo vulgar pode ficar restrito a
mucosa ou não. Sempre procurar lesões nas mucosas do
paciente.
Na mucosa oral pode ter acometimento da língua. As lesões tem cobertura leucoplásica
(esbranquiçada) e podem ser dolorosas.
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Geralmente começa no tronco e expande para extremidades.Pode ter forma extensa,
acometendo palmas das mãos, pés, região peri e subungueal.
A forma grave pode formar bolhas e exulcerações extensas por todo o corpo, causando
falência total da epiderme. Nesse caso, a pele fica preta por necrose do epitélio,
parecendo queimado (carvão). Ocorrem complicações típicas, como infecções e
desidratação rápida.
Existem várias variantes de pênfigo vulgar, como paraneoplásico, por drogas, por igA,
herpetiforme, neonatal.
• PÊNFIGO FOLÍACEO
Anticorpos contra desmogleína 1. Doença endêmica na
América do Sul e no Brasil (centro-oeste e sudeste), onde é
conhecida como fogo selvagem, sendo o maior número de
casos observados em habitantes das zonas rurais e do sexo
feminino. Freqüentemente afeta jovens, sendo registrados
comumente casos familiares. Possui a forma não endêmica
também (restante do mundo).
Os sítios de distribuição das lesões cutâneas são o couro cabeludo, face (nasal e malar),
tórax e dorso. As mucosas não são afetadas. As bolhas são tão superficiais que, de
modo geral, só se encontram zonas eritêmato-crostosas, locais de ruptura prévia de
bolhas.
Pode ter fase de invasão bolhosa e de regressão. As lesões são ulcerações, pequenas
bolhas que se rompem facilmente. Podem ter crostas. Em casos graves pode evoluir
para eritrodermia esfoliativa.
Nas lesões antigas há hiperpigmentação e hiperplasia de aspecto verrucoso. Essas
lesões são diferentes das clássicas bolhosas, são crostosas. Ocorre quando a bolha
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intraepidérmica é tão alta que não tem espaço bolhoso (a bolha está no espaço córneo).
Na histologia vemos os queratinócitos naviculares, alongados.
Nas fases iniciais há contínua e intensa sensação de
ardor e calor, justificando o nome de fogo selvagem. A
evolução é grave, porém a mortalidade é menor que
no pênfigo vulgar.
Alterações histopatológicas: O denominador comum nos pênfigos é a acantólise
(acanthos, do grego = espinhos; lise = quebra). Esse termo implica dissolução, ou lise,
das junções intercelulares do epitélio escamoso. As células epiteliais, sem as junções
que as mantinham coesas umas às outras, são chamadas células acantolíticas.
Perdem sua forma poliédrica e tornam-se arredondadas. O espaço entre elas resulta na
formação de uma bolha intraepidérmica subcórnea.
O nível de formação da bolha no epitélio é distinto entre um pênfigo e outro. É
suprabasal no pênfigovulgar (daí as bolhas serem tensas, pois há espesso teto de
epitélio). No pênfigo foliáceo é superficial, a nível do estrato granuloso ou camada
malpighiana alta (daí as bolhas serem flácidas, facilmente se rompem e descamam).
As bolhas rapidamente se recobrem de escamo-crostas
úmidas, conferindo ao doente cheiro peculiar.
Podemos realizar o sinal de Nikolsky, que consiste na pressão
aplicada sobre a pele e que causa um desprendimento,
geralmente sem sangramento (bolha superficial).
➢ Fisiopatologia dos Pênfigos
Tem fatores genéticos (HLA) e ambientais. O soro de pacientes
com pênfigo foliáceo ou vulgar contém anticorpos (IgG) contra a substância cimentante
intercelular do epitélio escamoso. Os testes de imunofluorescência demonstram
depósitos intercelulares de IgG.
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Anticorpos do pênfigo reagem contra uma
glicoproteína da família das caderinas. É
uma glicoproteina de superfície ou
desmossomal, sintetizada pelos
queratinócitos e denominada desmogleina
(glicoproteína desmossomal). Indivíduos
normais são tolerantes ao antígeno
epidérmico, enquanto que nos doentes
existe a perda desta tolerância.
No pênfigo as desmogleínas I e III são alvos
dos autoanticorpos. Desmogleína I fica na
superfície da epiderme, apenas na pele
(pênfigo folíaceo). A Dsg III fica na região
basal e parabasal da epiderme da pele e
mucosas (pênfigo vulgar).
Os anticorpos anti-desmogleínas chegam
na epiderme e se ligam a ela, formando
complexos antígeno + anticorpo. Esses
complexos induzem a liberação de uma
enzima proteolítica (serina-protease)
pelos queratinócitos, que agiria como
ativadora do plasminogênio, levando à
produção de plasmina, enzima responsável
pela acantólise. O queratinócito
acantolítico fica arredondado e com núcleo
hipercromático.
Esse processo de acantólise pode ser
demonstrado por imunofluorescência
direta com marcadores para IgG e porção C3 do complemento.
Temos um aspecto em colmeia.
A acantólise causa desprendimento da epiderme e na
macroscopia vemos isso no Sinal de Nikolsky: ao fazer uma
leve pressão contra a pele ocorre descamação (parece que
estourou bolhas). A presença desse sinal é altamente sugestiva
de pênfigo.
Outro sinal é o de Sinal de Asboe Hansen: ao fazer pressão
sobre a bolha o líquido dentro percorre a epiderme e espalha a bolha, andando sobre
a epiderme. Isso é típico de acantólise. Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=z-
AKuKnzxrM.
Substâncias antigênicas que pudessem funcionar como gatilho inicial do processo
continuam sendo motivo de intensa investigação. Acredita-se também que deva existir
https://www.youtube.com/watch?v=z-AKuKnzxrM
https://www.youtube.com/watch?v=z-AKuKnzxrM
DERMATOPATOLOGIA
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algum fator ambiental relacionado ao pênfigo foliáceo, que é endêmico em vários pontos
da América do Sul.
Tem sido citado, a existência de um mosquito, o Simulium nigermanum. Esse inseto
poderia transmitir uma substância imunogênica entre as pessoas e passar para
indivíduos susceptíveis geneticamente.
Diagnósticos diferenciais com pênfigos seriam as outras doenças bolhosas autoimunes
(penfigoides), doenças metabólicas bolhosas (diabetes, porfiria), eritrodermias e
reações a drogas (síndrome de Steven-Johnson).
O tratamento para pênfigo é prolongado, para toda a vida, mesmo com remissão.
Utilizamos imunossupressores, como corticóides.
→ PÊNFIGO FOLÍACEO
Há formação de uma bolha abaixo da camada córnea
(subcórnea), devido à lesão dos desmossomos e
conseqüente perda da adesividade das células epidérmicas.
Estas ficam arredondadas, com superfície lisa e podem
soltar-se no interior da bolha (células acantolíticas).
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Entre elas notam-se também neutrófilos e hemácias íntegras. Na derme há leve a
moderado infiltrado inflamatório crônico inespecífico.
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2. DERMATOSES ERITEMATO-DESCAMATIVAS
2.1. PSORÍASE
Do grego psora, significa sarna. A psoríase é uma dermatose inflamatória crônica
comum, caracterizada por placas avermelhadas, recobertas por escamas prateadas,
localizadas principalmente nas superfícies extensoras dos membros. Tem períodos de
exacerbação e de remissão.
Geralmente se inicia com lesões pequenas em placas no couro cabeludo, joelhos,
cotovelos, palmas. Mas qualquer área da pele ou mucosa pode ser acometida. Pode
acometer as unhas e deixá-las tortas, espessas e descoladas.
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A psoríase pode acometer todo o corpo, determinando
uma forma eritrodérmica. Lesões pustulosas podem
ocorrer, localizadas nas regiões palmoplantares ou
acompanhando a eritrodermia. A pele do psoriático
quando traumatizada reproduz com lesão de psoríase
no local do trauma, sendo uma resposta isomórfica
denominada fenômeno de Köbner.
Tem picos de incidência entre jovens (16-22 anos) e
adultos > 50 anos. A maioria das lesões aparecem
antes dos 30 anos e podem ter remissão espontânea
ou só com tratamento. Há recorrência após 1 ano de
tratamento mais ou menos.
É uma disfunção da resposta imune inata e adquirida
com alteração da queratinização normal da pele. É
genética e associada com fatores ambientais e outras comorbidades. Tem vários genes
envolvidos (poligênica), como genes da função da barreira cutânea, genes da
imunidade inata, genes das vias de sinalização e das RI. O principal gene envolvido
parece ser o HLA-Cw-06. A psoríase não é só uma doença autoimune, mas
imunomediada, pois ocorre imunidade inata e adquirida.
Pode ser desencadeada por fatores
ambientais, como estresse, infecções por
Streptococcos, HIV ou Hepatites B e C;
obesidade, tabagismo, etilismo, distúrbios
metabólicos (hipocalcemia), medicações
(corticoide, lítio, cloroquina).
Histogênese: Há evidências de que
a psoríase possa ser um tipo de reação
mediada por complemento e limitada ao
estrato córneo. De acordo com essa
hipótese, uma lesão exógena ou endógena
ao estrato córneo de certos indivíduos
resulta no desmascaramento de antígenos
desta área.
Esses antígenos evocam a formação de
auto-anticorpos específicos, que se ligam
ao estrato córneo, fixam complemento e
ativam a cascata do complemento e o
acúmulo de neutrófilos. Esses últimos,
presentes no estrato córneo, liberam
enzimas que desmascaram mais
antígenos e perpetuam o processo.
DERMATOPATOLOGIA
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Fatores proliferativos para queratinócitos subjacentes são liberados e resultam em
aumento da renovação epidérmica e na hiperplasia e formação de escamas, tão
características da psoríase. Normalmente demora +/- 1 mês o processo de
queratinização, mas na psoríase leva 5 dias.
Inicialmente temos complexos imunogênicos formados pelas células dendríticas da
derme e os antígenos ambientais expostos pelo trauma na pele. Essas células sinalizam
para outras DC e levam até os linfonodos regionais.
Lá os linfócitos Th1 são sensibilizados e fazem expansão clonal. Os linfócitos Th1
ativados retornam até a epiderme e liberam citocinas inflamatórias (IL-22) que
estimulam a proliferação do epitélio e atraem mais células inflamatórias. Ocorre
hiperplasia da epiderme (placa psoriásica).
O queratinócitos também produz citocinas inflamatórias (Leucotrieno B4 – LTB4) que
atraem neutrófilos para o epitélio, causando os microabcessos de Munro e depois as
pústulas.
Há secreção de VEGF que promove a proliferação endotelial próximo a epiderme. Além
da simples angiogênese tambémhá venulização dos capilares arteriais para veias,
facilitando a diapedese dos neutrófilos e causando congestão sanguínea
(extravasamento de plasma e hemácias para a lesão). Os vasos ficam amplos e
tortulosos, bem abaixo da epiderme, na derma alta.
Em resumo, os queratinócitos de pessoas afetadas pela psoríase e com fenótipo,
genéticamente determinado, apresentam uma alta capacidade de proliferação e
diferenciação.
Alterações Histopatológicas: - Observa-se acentuado espessamento epidérmico
(acantose psoriasiforme), com alongamento regular das cristas interpapilares (cones
epiteliais de mesma altura) e aumento de figuras de mitose. A base do cone epitelial é
alargado, tipo em clava. O estrato granuloso está ausente (agranulose).
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Observa-se extensa camada paraceratótica no estrato córneo (presença de núcleos
nas células corneificadas), que não raro contém acúmulos de neutrófilos
(microabscessos de Munro) ali na córnea. Não são infecciosos.
A epiderme suprapapilar (acima da papila dérmica) é delgada e o seu destacamento
superficial expõe os vasos sangüíneos dérmicos tortuosos e dilatados, muitas vezes sob
a forma de diminutos pontos hemorrágicos, fenômeno clínico característico, também
conhecido como sinal do orvalho sangrante ou de Auspitz. Podemos ver gotículas de
sangue na camada córnea.
Há placas com eritema, descamação e infiltração. Pode
ser espessa, com bastante queratinização formando
escamas e acinzentadas. São bem delimitadas e
simétricas (mesma região dos dois lados do corpo).
Acomete joelhos, face anterior das pernas e antebraços,
couro cabeludo, etc.
A maioria é bem delimitada, na forma leve e restritas a
uma área (80%). Contudo, pode ter a forma extensa,
recobrindo quase todo o dorso. Pode, ainda, acometer
apenas a região do couro cabeludo, com lesões muito
descamativas esbranquiçadas e que ultrapassam a
região de implante dos cabelos (o que não acontece na
dermatite seborreica).
- Psoríase Palmo-Plantar: acomete só palma das mãos e planta dos pés. Placas
descamativas, queratodermia e pustulose.
- Psoríase Gutata: pequenas lesões circulares bem eritematosas e descamativas
disseminadas pelo corpo todo. Ocorre semanas depois de uma infecção na orofaringe
por Streptococcos, geralmente em crianças e jovens. É tratável, mas 1/3 dos casos tem
recidivas.
- Psoríase Grave: aparece quadro de eritrodermia psoriásica (esfoliativa) ou
pustulosa em mais de 95% da superfície corpórea. Altamente letal, com febre, risco de
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infecções e sepse. Apenas 5% dos casos evoluem para a psoríase grave. A principal
causa é o uso de corticoides.
- Psoríase Pustulosa Palmo-Plantar: forma pustulosa localizada sem ser disseminada
grave. Área eritematosa e pústulas sobre o eritema. Geram colaretes descamativos
(circulares). Causam ardor.
- Psoríase Ungueal: ocorre descolamento das unhas (onicólise), hemorragias,
hiperqueratose, leuconíquia, distrofia e pittings (pontos brancos que representam
processo inflamatório da psoríase na matriz ungueal). A psoríase ungueal pode estar
relacionada com artrites.
A psoríase está relacionada com a Artrite Psoriásica, 30% dos psoriásicos tem artrite.
Não tem relação com lesão cutânea, pode ter uma lesão pequena mas evoluir para
artrite. Há dor inflamatória, dactilite, espondilite (sacroileíte), aumento do volume das
falanges distais e geralmente com alterações ungueais (psoríase ungueal).
O diagnóstico é clínico, podemos fazer a
curetagem das escamas e manobras
diagnósticas. Tem diagnóstico diferencial com
eczemas (descamação discreta e topografia
distinta) e linfoma cutâneo de células T (biópsia).
Podemos ver o sinal da Vela (retirada das
escamas), que é a paraceratose se destacando
macroscopicamente, parecendo parafina de vela.
Abaixo das escamas vendo uma membrana
brilhante, a membrana de Duncan-Bulckley
(resto da epiderme acima da papila dérmica com
vasos). Com a retirada da membrana há
exposição de vasos que sangram: sinal de
Auspitz.
Há presença do Fenômeno de Koebner, que é o
surgimento da lesão psoriásica após um trauma
DERMATOPATOLOGIA
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sobre a pele (escoriação, cossaduras, cicatriz cirúrgica). Em cima da lesão surge a
placa psoriásica.
Está muito relacionada com outras doenças inflamatórias sistêmicas como a artrite
psoriásica, doença de Chron, síndromes metabólicas (obesidade, hipertensão, diabetes,
dislipidemias), maior risco cardiovascular (infarto ou avc), esteatose hepática, uveíte e
alterações psicológicas e psiquiátricas.
O tratamento é feito com medicamentos tópicos, fototerapia, ou imunológicos (anti-
citocinas inflamatórias, anticorpos monoclonais). Não é recomendado o tratamento com
corticoides pois após o uso a psoríase pode retornar na forma mais grave (eritrodermia
– efeito rebote).
→ PSORÍASE
E.G., 59 a., fem., cor branca. Apresenta placas eritêmato-descamativas nos membros,
tronco, couro cabeludo e regiões palmo-plantares, com escamas prateadas, secas e
aderentes.
Na psoríase, há grande espessamento da epiderme por aumento das células da camada
espinhosa (acantose). Os cones epiteliais (projeções da epiderme entre as papilas
dérmicas) alongam-se, mas mantêm espessura regular, e os ápices dos cones epiteliais
ficam alargados, dando aspecto em clava ('clubbing'). Estas alterações se chamam
acantose com padrão psoriasiforme, por serem próprias da doença.
A epiderme suprapapilar, que recobre a extremidade das papilas dérmicas, está
adelgaçada. Se a pele é raspada, as porções suprapapilares com paraceratose são
DERMATOPATOLOGIA
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removidas e as pontas das papilas (onde há capilares) ficam expostas, levando ao
aparecimento de gotículas de sangue (sinal do orvalho sangrante, típico da psoríase).
A maturação das células epidérmicas está acelerada, notando-se paraceratose, ou
seja, persistência de núcleos na camada córnea e ausência da camada granulosa
(portanto, ausência dos grânulos de queratohialina). Isto ocorre porque não há tempo
para formação da camada granulosa.
Na epiderme normal são necessários entre 26 e 28 dias para uma célula basal atingir o
estágio final da corneificação. Na psoríase este tempo é de apenas 6 a 8 dias. A
raspagem da camada córnea com paraceratose dá origem a escamas que lembram
cera de vela (sinal da vela).
DERMATOPATOLOGIA
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Microabcessos de Munro: são acúmulos de neutrófilos na epiderme, mais
habitualmente nas porções suprapapilares afiladas.
A fase inicial da lesão é caracterizada por espongiose (edema intercelular) da camada
de Malpighi e exocitose de neutrófilos entre as células epiteliais (núcleos pequenos e
escuros). Diz-se exocitose porque os neutrófilos saem dos vasos da papila dérmica
adjacente, permeando entre as células epiteliais até o estrato córneo, e culminando na
formação do microabscesso.
A camada córnea acima de algumas papilas dérmicas contém neutrófilos degenerados.
DERMATOPATOLOGIA
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Há leve a moderado infiltrado inflamatório crônico inespecífico próximo a vasos e
anexos na derme.
As dermatoses inflamatórias infecciosas são as dermatoses eritêmato-descamativas e
verrucosas, causadas por fungos, protozoários e vírus.
1. DERMATOSES ERITÊMATO-DESCAMATIVAS
1.1. MICOSES SUPERFÍCIAIS
• DERMATOFITOSES - TINHAS
O termo vem do latin “Tínea” e refere-se à larva de inseto, que era considerada pelos
Romanos como agente causalda infecção. São micoses superficiais e compreendem
um grupo de afecções causadas por fungos, limitadas às camadas queratinizadas ou
semi-queratinizadas da pele e localizadas na superfície da epiderme, pêlos ou unhas.
São fungos que utilizam a queratina como fonte de subsistência.
Este grupo constitui as dermatofitoses, afecções
produzidas por vários gêneros de parasitas,
denominados em conjunto de dermatófitos (antropo,
zoo e geofílicos). Os gêneros principais que afetam a
espécie humana são: Microsporum; Tricophyton e
Epidermophyton. Nem todos são patogênicos.
Clinicamente podem manifestar-se em distintas
regiões da pele.
De acordo com a área de acometimento são
denominadas: Tinha do couro cabeludo, Tinha da
barba, Tinha corporal, Tinha do pé e da mão, Tinha crural (períneo; regiões gluteas e
parede abdominal) e Tinha das unhas (onicomicoses). Não são consideradas
dermatofitoses: a candidíase (Monília sp) e a pitiríase versicolor (Pityrosporum oovale).
→ Tinha do Couro Cabeludo: é comum em crianças e raras em adultos. As tinhas
com tonsura ou fratura da haste pilosa são causadas Microsporum spp. ou Trichophylon
spp. Apresentam os cotos pilosos e descamação do couro cabeludo. Podem ser únicas
ou múltiplas e têm evolução crônica.
Uma forma aguda, causada geralmente por fungos zoo ou geofílicos, é o quérion. Estes
agentes podem produzir grande reação inflamatória que se apresenta como placa
elevada, geralmente úmida, bem delimitada e dolorosa, com pústulas e microabcessos
que drenam pus à expressão.
A tinha favosa é causada pela T. schoenleinii e acontece como microendemias em
zonas rurais ou pequenas comunidades.
DERMATOPATOLOGIA
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Pode determinar alopecia cicatricial e, sendo causada por
fungo antropofílico, tem caráter muito crônico e não tende à
cura expontânea durante a adolescência, como observada
na tinha tonsurante. Há também uma forma onde o favo é
predominantemente descamativo e outra onde há pústulas
foliculares e escamo-crostas.
→ Tinha da barba: é mais rara, pode apresentar-se com
lesões inflamatórias que lembram o quérion ou lesões com
contornos cíclicos, eritemato-vesiculosas e descamativas.
Outra forma é semelhante à foliculite bacteriana.
→ Tinha Inguino-crural (Cruris): é comum no homem e rara na mulher. O
comprometimento em geral é bilateral e pode estender-se para os glúteos e a parede
abdominal, sobretudo nos imunodeficientes. Em geral, tem manifestação clínica como
a descrita para as lesões do corpo. Deve ser diferenciada da dermatite seborréica desta
região.
→ Tinha dos pés ou das mãos: A tinha dos pés, onde é mais comum (“pé de atleta”),
ou das mãos pode apresentar-se nos interdígitos com prurido, descamação e
maceração. Podem ocorrer fissuras ou vesículas. Em outras áreas dos pés/mãos, é,
por vezes, mais descamativa e crônica.
→ Tinha da unha: A tinha da unha é a onicomicose por dermatófitos,
inicia-se, geralmente, pela borda distal das unhas e é causada por
Trichophyton spp. e Epidermophyton spp. Pode haver evolução com
comprometimento de toda a lâmina ungueal de um ou mais dedos.
DERMATOPATOLOGIA
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Outros fungos, como leveduras do gênero Candida, podem também infectar as unhas.
Outro diagnóstico diferencial para as unhas distróficas deve ser feito com doenças
inflamatórias, como a psoríase. Portanto, é sempre necessário visualizar o dermatófito
no exame micológico direto para o diagnóstico de dermatofitose ungueal. Como a
sensibilidade do exame é baixa, poderá ser necessário repetir e/ou fazer a cultura do
raspado da lâmina. O tratamento de micose da unha é sempre caro e demorado e o
diagnóstico correto é imperativo.
→ Tinha do Corpo: A tinha do corpo (pele glabra) é um modelo para as outras tinhas.
São causadas pelo Tricophyton rubrum, Microscoporum canis e Tricophyton
mentagrophytes. As lesões são eritemato-descamativas com bordas circinadas
(papulosas circulares) com essas características, enquanto o centro é da cor normal da
pele pois tende a curar-se. O crescimento é centrífugo, do centro para as bordas. As
bordas são a área ativa da lesão! Essas lesões podem se confluir.
Caso haja descamação no centro temos
que nos atentar pois pode ser que o
paciente seja imunossuprimido (diabético,
HIV), pois o centro deve ficar limpo. Neles,
há lesões papulosas disseminadas pela
pele, com muitas hifas no estrato córneo e
em folículos pilosos da derme.
Alterações Histopatológicas: A biópsia é
feita da borda. Nela, a epiderme está
muito espessada (acantose
psoriasiforme) e o extrato córneo esta
espessado (hiperortoceratótico
compacto ou paraceratótico). Ausência
da camada granulosa (agranulose).
Os fungos podem ser vistos , por vêzes, como estrutras
na forma de hifas refractáveis, formando espaços claros
no estrato córneo (coloração pela H&E). Parece sujeira no
estrato córneo, cortadas longitudinal e transversalmente.
Para a demonstração adequada do fungo, pode-se utilizar
a reação pelo ácido periódico de Schiff (PAS), na qual o
fungo cora-se em vermelho profundo ou pelo de Grocott
ou Gomori (coloração pela Prata), onde o fungo é corado
em preto.
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Os fungos podem apresentar-se na forma de:
hifas filamentosas (semelhantes à linha),
artrosporos (esporos formados pela
fragmentação de hifas septadas) e
pseudohifas (leveduras que crescem
isoladamente pelo brotamento em cadeia).
➢ Diagnóstico Microbiológico dos
Dermatófitos
É feita a coleta do material por raspagem das
escamas/unhas ou por biópsia das bordas da
lesão. Na unha precisamos colher a
intersecção entre a parte saudável e a parte
lesionada. No caso de tinea capitis temos que
pegar o fio de cabelo com a raíz.
Fazemos o exame direto do material coletado ao microscópio óptico para verificar a
existência de fungos, mas para diferenciar a espécie temos que fazer cultura
(filamentosos).
A cultura é feita em ágar Sabouraud e Mycosel. Demora de 30 a 45 dias para crescer,
em temperatura ambiente. Com a cultura conseguimos identificar gênero e espécie.
Os principais fatores de erros em culturas são artefatos (algodão, talco etc) ou presença
de outros fungos não dermatófitos na amostra coletada. O ideal é fazer a cultura sem
que o paciente tenha feito uso de drogas antifúngicas.
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→ TINEA CORPORIS
Paciente masculino, 37 anos, branco, transplantado renal há 2 meses. Apresenta lesões
eritêmato-descamativas difusas na pele.
As tinhas são um grupo de micoses superficiais, limitadas às camadas queratinizadas
ou semiqueratinizadas da pele (epiderme, pelos e unhas).
A epiderme está recoberta por hiperortoceratose lamelar. De permeio ao estrato
córneo, e nos infundíbulos foliculares, notam-se estruturas fúngicas, na forma de hifas
e esporos.
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Com PAS, os fungos são visíveis em maior número e melhor detalhe.
• CANDIDÍASE
É causada por fungos também, leveduras do gênero Candida sp. O substrato deles é o
lipídio. Geram lesões muito eritematosas com um pouco de descamação em regiões
como inframamária, interdigital, onicomicose (unha) e paroníquia (pele periungueal).
• PITIRÍASE VERSICOLOR
Ou tínea versicolor, é causada por fungos do
gênero Malassezia spp. O substrato deles é o
lipídio, o sebo da pele. Formam lesões
eritematosas, hipocrômicas ou hipercrômicas.
Quando distendemos a pele afetada aparecem
escamas finas violáceas e de diferentes
tonalidades (por isso o nome versicolor).
É chamada de micose de praia ou piscina poisquando tomamos sol na água a nossa pele produz
mais sebo, aumentando os fungos já presentes na
pele.
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2. DERMATOSES VERRUCOSAS
As dermatoses verrucosas podem ser
infecciosas, inflamatórias apenas ou
neoplásicas. Causam verrugas.
a) Verruga infecciosa
b) Verruga inflamatória
c) Verruga neoplásica
As verrugas são pápulas (pequenas
lesões sólidas e elevadas)
hipeceratóticas. Têm superfície dura e
áspera determinada pelo aumento da
camada córnea e, por vezes, dos
ceratinócitos.
A maioria das dermatoses verrucosas infecciosas são causadas pelo PLECT (paracoco,
leishmaniose, esporotricose, cromomicose e tuberculose). Só leishmania e a TB não
são fungos. Esses fungos causas micoses profundas. O comum entre o PLECT é que
todos causam infiltrados granulomatosos.
2.1. MICOSES PROFUNDAS
• PARACOCOCCIDIOIDOMICOSE
Ou Blastomicose Sul-Ameriana. Infecção de evolução subaguda ou crônica, causada
pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis ou lutzii. É muito comum na américa latina,
sendo a micose profunda mais prevalente do Brasil, acometendo mais indivíduos da
área rural e, principalmente, homens (9:1).
A via de penetração é respiratória, são inalados esporos que formam um complexo
primário e se disseminam. O envolvimento cutâneo é geralmente secundário à
disseminação hematogênica nas formas clínicas generalizadas (exemplo comum, a
forma tegumento-pulmonar) ou por propagação das lesões mucosas e de gânglios
linfáticos através de fístulas.
Muito menos freqüentemente podem ocorrer formas cutâneo-mucosas isoladas,
secundárias à inoculação direta do fungo na pele ou mucosas (forma unifocal
tegumentar).
Há várias classificações da paracoco:
paracococcidioidomicose infecção (só
infectado mas sem doença); paracoco
doença (pode ser aguda/subaguda, crônica
unifocal, crônica multifocal, forma do
imunodeficiente); forma residual (sequelas).
- Paracoco Doença forma Aguda: tem
curso rápido, acometendo principalmente
crianças e jovens. Além das lesões
cutâneas há sintomas e sinais gerais como
DERMATOPATOLOGIA
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inapetência, febre e mal estar. O paracoco pode acometer gânglios, baço, fígado e
medula óssea.
As lesões cutâneas são muito variadas, constituídas por pápulas verrucosas, nódulos
e úlceras, vegetações e abscessos, mais comuns na face e no tronco. Tem grande
quantidade fungos pois a resposta imune celular é deficiente (usa resposta humoral).
Os granulomas são incompetentes.
- Paracoco Doença forma Crônica: tem curso mais lento e acomete principalmente
adultos. Tem sintomas associados ao órgão infectado, como falta de ar quando
acomete pulmões. Pode afetar órgãos únicos ou múltiplos.
Na pele, a forma crônica vai depois dos pulmões, por via hematogênica. Depois migra
para gânglios, articulações, ossos, TGI, suprarrenal e SNC.
As lesões cutâneas são polimórficas: podem ser pápulo-nodulares e/ou ulceradas;
gomosas (nódulos com necrose central e drenagem); vegetantes ou verrucosas; ou
ainda sarcoides (no peito, duras e aspecto róseo que lembra carne).
DERMATOPATOLOGIA
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Quando verrucosa pode ser confundida com psoríase ou outra lesão
verrucosa pois tem placa acizentada (queratina). As lesões crônicas
tem poucos fungos pois a resposta imune celular é eficiente (baixa
humoral) e os granulomas são competentes.
Pode gaver ainda lesões eritemato-infiltrativas exuberantes com
centros de ulceração, ocorrendo principalmente na face (nariz).
Essa forma acomete muito a mucosa também, principalmente a
mucosa oral.
Alterações histopatológicas: Observa-se processo inflamatório crônico granulomatoso
com células gigantes, e abscessos com hiperplasia epitelial (acantose), dando
aspecto pseudocarcinomatoso (isto é, simulando neoplasia pois vai invadindo a derme).
Na derme subjacente encontramos
granulomas com gigancócitos
multinucleados e infiltrado
inflamatório crônico ao redor. Os
fungos ficam dentro das células
gigantes. Em H&E vemos bolas
branquinhas com membrana dentro
das celulas gigantes, para confirmar
temos que fazer PAS ou Grocott.
O número de fungos é variável.
Estes são arredondados, de dupla
parede refringente (membrana de
duplo contorno), sem ou com
gemulação simples ou múltipla,
podendo atingir de 1 a 30 m no seu
maior diâmetro.
DERMATOPATOLOGIA
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A gemulação ou esporulação múltipla é patognomônica e se faz através de formação
de cromídios (massas de cromatina na periferia do citoplasma), que depois atravessam
pertuitos (poros) da parede celular, arrastando consigo porção de citoplasma e a
membrana envolvente. O aspecto resultante é a figura típica em roda de leme, em
mickey ou brotamento único.
➢ Diagnóstico Microbiológico da Paracoccidioidomicose
Colhemos a amostra por raspado da lesão, pus aspirado ou biópsia. Visualizamos os
paracocos já em exame micológico direto e fazemos cultura quando não dá para ver
o fungo ou quando precisamos da espécie. Há ainda o exame histopatológico e
sorologia.
Só com o exame direto não sabemos a espécie, falamos que é um fungo do complexo
paracococcidioides. Para confirmar a espécie devemos fazer a cultura e observar a
levedura a 37ºC.
Um teste de Elisa modificado, o EIA, tem alta sensibilidade pela gp43 (uma glicoproteína
de 43kDa, antígeno exocelular imunodominante e específico do P. brasiliensis). Esta
técnica é um instrumento valioso no acompanhamento do paciente sob tratamento.
→ PARACOCCIDIOIDOMICOSE
A.J.M., 50 a., masc., lavrador, apresenta lesões pápulo-nodulares e placas vegetantes
disseminadas a face e tronco. Mucosa oral de aspecto moriforme. Biópsia da pele da
face.
Imagem panorâmica, mostrando epiderme com forte acantose. Na metade direita da
foto, a acantose chega a constituir uma hiperplasia pseudocarcinomatosa (ou
pseudoepiteliomatosa), ou seja, imita carcinoma.
Na derme há intenso infiltrado inflamatório crônico misto, tanto inespecífico como
granulomatoso, com gigantócitos contendo fungos.
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A hiperplasia da epiderme é reacional ao processo inflamatório na derme, causado pelo
Paracoccidioides brasiliensis. Na região com hiperplasia pseudocarcinomatosa
observam-se microabscessos nas papilas dérmicas, envolvidos por epiderme
hiperplásica, vários dos quais contêm o agente etiológico.
DERMATOPATOLOGIA
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Na derme temos reação inflamatória crônica, tanto inespecífica (linfócitos e
plasmócitos) como granulomatosa (predominando gigantócitos), com numerosos fungos
fagocitados ou livres.
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O método de Grocott é simples, e cora a parede celular do fungo em marrom. Isto
permite visualizar mais detalhes que em HE, especialmente o processo de reprodução
do fungo, por brotamento múltiplo ou criptoesporulação, patognomônico da espécie.
No início do processo de criptoesporulação ou brotamento múltiplo, a cromatina
condensa-se em pequenas massas chamadas cromídios na periferia do citoplasma da
célula mãe. Na superfície externa notam-se pequenas projeções onde se formarão as
células filhas.
Os cromídios atravessam pertuitos (poros) na parede celular arrastando consigo parte
do citoplasma e da membrana da célula mãe. As células filhas (esporos) brotam como
pequenas saliências arredondadas a toda volta, dando o aspecto clássico em roda de
DERMATOPATOLOGIA
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leme. Dependendo dos planos de incidência ede foco, é possível observar os
minúsculos poros por onde os cromídios passam.
Após o destacamento das células filhas, resta a parede da célula mãe com os poros.
• BLASTOMICOSE QUELOIDIANA
Ou blastomicose de Jorge Lobo. Micose puramente cutânea, de distribuição geográfica
limitada à região amazônica.
Caracteriza-se por lesões nodulares queloideanas (isto é, com aspecto semelhante a
quelóide), distribuídas em áreas expostas da pele, preferencialmente no pavilhão
auricular.
Histologicamente, a reação inflamatória é de caráter produtivo, rica em histiócitos e
células gigantes distribuídas difusamente, sem separação em granulomas, com estroma
fibroso de permeio. Os fungos são semelhantes ao P. brasiliensis, numerosos, e se
reproduzem por gemulação ou brotamento simples.
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→ BLASTOMICOSE DE JORGE LOBO
A.S., 30 a., masc., cor branca, natural e
procedente do estado do Amazonas, em
bom estado geral, com queixa de lesão
irregularmente nodular, endurecida, não
ulcerada, localizada no pavilhão auricular
D., com evolução de 2 anos.
A característica desta micose da região
amazônica é a intensa reação
granulomatosa na derme, que afeta
quase toda a espessura do fragmento. É
importante salientar a fibrose do estroma,
que dá o aspecto clínico de quelóide
(cicatriz hipertrófica) à lesão.
Chama a atenção o grande número de
parasitas (Paracoccidioides loboi),
dispostos em cachos ou em rosário, grande parte dos quais estão fagocitados por
macrófagos ou por gigantócitos.
DERMATOPATOLOGIA
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Alguns gigantócitos apresentam no citoplasma
inclusões com prolongamentos radiados
conhecidas como corpos asteróides. Tratam-se
de aglomerados de proteínas filamentosas e são
inespecíficos, sendo observados em várias outras
doenças granulomatosas, como a
esquistossomose, a esporotricose e a sarcoidose.
• CROMOBLASTOMICOSE
Ou cromomicose, ela tem sido observada nas
zonas rurais em quase todos os estados do Brasil
e mais em homens pois o fungo fica no solo. O
gênero mais comum aqui no sudeste
principalmente é o Fonsecaea pedrosoi. Só causa lesões cutâneas.
Caracteriza-se por lesões vegetantes, papilomatosas e hiperceratóticas de caráter
verrucoso, que comprometem as regiões expostas, sobretudo os pés e pernas, através
de soluções de continuidade, limitando-se à pele e tecido subcutâneo.
São unilaterais, ou seja, só um pé por exemplo. Têm lenta evolução (crônica) e muito
resistente ao tratamento. Não afeta o estado geral do paciente, mas pode ter infecções
secundárias.
Histologicamente, observa-se hiperceratose e acantose
pronunciadas, às vezes com hiperplasia
pseudocarcinomatosa, ou seja, todo irregular e que adentra e
abraça a derme. Na derme formam-se granulomas, encontrando-
se o fungo nas células gigantes do tipo Langhans ou soltos em
meio a microabscessos.
Os fungos são arredondados, com membrana de duplo contorno,
cor pardacenta (cromo) ou castanho-escura mesmo em H&E,
com um septo dentro e se dividem por cissiparidade ou bipartição
simples. Os gêneros principais são Phialophora e
Cladosporium.
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➢ Diagnóstico Microbiológico da Cromoblastomicose
O principal tipo é a Fonsecaeae pedrosoi, não dimórfico (não são leveduras). Podemos
ver bem no exame micológico direto. Eles formam corpos escleróticos, fumagoídes
(amontoados).
Para identificar o tipo de cromomicose temos que fazer a cultura, mas não precisa pois
o tratamento pode ser o mesmo para qualquer espécie.
→ CROMOMICOSE
J.R.A., 53 a., masc., cor branca, lavrador, apresenta lesões
verrucosas extensas no dorso do pé E., com forte odor, há 5
meses.
Os fragmentos de pele obtidos por curetagem estão cortados em
vários planos. Há grande espessamento da epiderme por maior
quantidade de células na camada de Malpighi (ou camada
espinhosa), a que se chama acantose.
A camada granulosa, que vem logo acima da camada de
Malpighi e também está espessada, destaca-se pelos grânulos de queratohialina,
basófilos, no citoplasma dos queratinócitos.
A camada córnea é grossa e contém numerosos estratos de queratinócitos anucleados.
A isto se chama hiperqueratose ortoceratótica. Em certos casos estas alterações
hiperplásicas da epiderme tornam-se tão intensas que simulam um carcinoma
epidermóide. Por isso são, às vezes referidas como hiperplasia
pseudocarcinomatosa ou pseudoepiteliomatosa. Devem-se ao processo inflamatório
crônico desencadeado pela micose profunda, no caso, uma cromomicose.
Tanto na camada córnea como na derme, há vários microabscessos, em alguns dos
quais é possível observar o agente etiológico. Microabscessos na derme são comuns
na cromomicose e são engolfados ou abraçados pela epiderme hiperplásica. Os
microabscessos contêm gigantócitos, e podem ser considerados granulomas de centro
abscedido.
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DERMATOPATOLOGIA
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O agente etiológico da cromomicose é um fungo arredondado (portanto, uma
levedura), que tem a peculiaridade de ter cor pardacenta própria, dispensando
colorações especiais para sua observação. Tem diâmetro entre 8 e 12 mm e divide-se
por cissiparidade ou bipartição simples, notada em vários espécimes através de um
sulco equatorial que às vezes dá à célula o aspecto de um grão de café. É comum
encontrar o fungo aos pares ou em cachos, devido à cissiparidade. Os gêneros mais
comuns são Phialophora e Cladosporium.
DERMATOPATOLOGIA
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• ESPOROTRICOSE
É uma micose profunda muito comum, de evolução subaguda ou crônica, causada pelo
Sporotrichum schencki (principal é o braziliensis). O fungo vive saprofitamente na
natureza e introduz-se, no organismo humano, por inoculação direta da pele e
eventualmente nas mucosas, através de ferimento com material contaminado
(particularmente arranhadura de gatos ou espinhos). Por isso é chamada Doença do
Jardineiro.
Afeta, na maioria das vezes, apenas a pele dos membros superiores e a face. Nos
imunossuprimidos pode disseminar para outros órgãos.
A forma clínica linfangítica é a mais comum, com lesão pápulo-nodular, às vezes
ulcerada no local da inoculação (cancro esporotricótico) e cordão de linfangite a partir
deste ponto (acompanha o trajeto dos linfáticos), ao longo qual encontram-se nódulos
ou gomas, com aspecto comparável a um rosário.
As lesões podem ser também muito verrucosas, com placas esbranquiçadas que
acompanham o linfático.
Histopatologia: O mais característico é a formação de infiltrado inflamatório
granulomatoso em três zonas, que incluem:
1. Área central “supurativa” (abcessos) composta por neutrófilos. Esta é envolta por:
2. Zona “tuberculóide” granulomatosa, composta por células histiocíticas-
macrofágicas epitelióides e gigantes multinucleadas.
3. Zona periférica (mais externa), contituida por elementos inflamatórios
monucleados, principalmente linfócitos e plasmócitos (orla linfoplasmocitária).
Na maioria dos casos não é possível reconhecer o fungo S. schenckii nos cortes
histológicos, mesmo através de colorações especiais. Quando presentes (situação
rara), os espóros do S. schenckii aparecem como corpos arredondados, medindo: 4 a 6
m. Estes se coram mais fortemente na periferia do que no centro (mesmo na H&E).
Ocasionalmente esporo simples ou múltiplo pode estar presente, ou mesmo formas
mais alongadas em formas de cigarro (> 8m). Corpos asteróides podem ser vistos
envolvendo o fungo. Trata-se de uma reação de hipersensibilidade, que forma
DERMATOPATOLOGIABranda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp
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prolongamentos radiados, semelhante à “estrela” (asteróide) compostos por um
material homogêneo e fortemente acidófilo.
Esses corpos asteróides ficam bem no centro do abcesso e não são o fungo. Acredita-
se que este fenômeno dos corpos celulares represente a deposição de complexo
antígeno-anticorpo e “debris” celulares (fragmentação de elementos inflamatórios do
hospedeiro).
➢ Diagnóstico Microbiológico da Esporotricose
O fungo é melhor visualizado na forma filamentosa, através da cultura. Tem formato de
margaridas. Na pele fica na forma de levedura e não distinguimos (difícil visualização
no exame direto). É o único fungo dimórfico que não causa doença sistêmica típica.
Fazemos a cultura para diferenciar e demora de 10 a 15 dias para crescer.
2.2. DERMATOSES VERRUCOSAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS
• LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
Doença infecciosa crônica, não contagiosa, causada pelo protozoário Leishmania
brasiliensis, cuja transmissão é feita pela picada de mosquitos do gênero
Phlebotomus (mosquito palha, birigui). Ocorre muito na América latina e Brasil (úlcera
de Bauru).
DERMATOPATOLOGIA
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As lesões se localizam nas áreas descobertas do corpo (MMII e face), bem onde tem a
picada e caracterizam-se por erupções eritêmato-papulosas que evoluem para úlceras
de contornos circulares, bordas altas e infiltradas, conhecidas como "em moldura
de quadro".
O centro da úlcera pode estar verrucoso ou infiltrado, sangrante (mais típico). Essa lesão
inicial pode cicatrizar e desaparecer (“cura”) ou disseminar para mucosas e cartilagens.
As lesões mucosas e cartilagens são secundárias, aparecem em 70% dos casos dentro
dos primeiros 5 anos após a lesão cutânea inicial não tratada e com "cura" espontânea,
ou em conseqüência da ineficácia do esquema terapêutico utilizado.
A propagação ocorre através da via hematogênica, sendo acometida
preferencialmente a mucosa nasal. Leva à destruição da mucosa do intróito e o septo
nasal, conferindo-lhe o aspecto de nariz de anta ou tapir. Aqui vemos lesão eritematosa
infiltrada.
Histologicamente, caracteriza-se inicialmente por aglomerados difusos de células
mononucleadas linfoplasmocitárias por toda a derme e granulomas com macrófagos de
coloração mais clara (Clareira Macrofágica). Nos granulomas fica róseo claro pois tem
mais macrófagos, que tem citoplasma abundante comparados aos linfócitos.
Dentro desses macrófagos dos granulomas encontramos as leishmanias. Eles estão
vacuolados com muitas leishmanias dentro, bem pequenas (forma amastigota).
DERMATOPATOLOGIA
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As leishmanias são raras ou ausentes nas lesões ricas em granulomas e nos casos
mais antigos (somem depois de 1 ou 2 meses de lesão). Achá-las nos granulomas é o
diagnóstico padrão ouro, mas muitas vezes não conseguimos.
Quando não há o parasita verificamos a morfologia do granuloma (histológico
compatível), reação intradérmica de Montenegro e sorologias positivas para leishmania
(pode ter falsos negativos).
→ LEISHMANIOSE CUTÂNEA
L.A.A., 25 a., masc., cor branca, lavrador, com lesão ulcerada de 1,5 cm. de diâmetro
na face lateral do pescoço, de fundo granuloso e bordas infiltradas “em moldura de
quadro”.
Fragmento de pele mostrando na derme
intenso processo inflamatório crônico
granulomatoso. A epiderme está
preservada.
Os granulomas são constituídos por células
epitelióides e praticamente não há
gigantócitos. Em algumas áreas é possivel
observar-se macrófagos contendo
leishmânias em vacúolos citoplasmáticos.
Proliferam na derme no interior de
macrófagos com citoplasma claro. Os
conjuntos de macrófagos são muitas vezes
denominados clareiras macrofágicas.
Podem causar extensa ulceração da pele com bordas salientes "em moldura de quadro"
e destruição de tecidos próximos, como a cartilagem nasal, dando o aspecto conhecido
como nariz de anta.
DERMATOPATOLOGIA
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As leishmânias são minúsculas, da ordem de 2 A 4 mm de diâmetro e só bem
visualizadas com objetiva de imersão. Em algumas é possível identificar o núcleo
excêntrico, dando ao parasita o aspecto de um diminuto plasmócito.
2.3. DERMATOSES VERRUCOSAS VIRAIS
São muito mais frequentes que as verrugas de qualquer outra causa.
• VERRUGAS POR HPV
Lesões contagiosas da pele e regiões muco-cutâneas, produzidas por pelo
Papilomavirus humano ou HPV, um vírus DNA do grupo dos papovavirus. A
transmissão da doença envolve contato direto entre os indivíduos ou auto-inoculação.
Inclui algumas DSTs.
De modo geral, são lesões papilares ou tumorais com muita queratinização.
Geralmente são autolimitadas e regridem espontaneamente dentro de 6 meses a 2
anos.
São classificadas segundo a localização, aspecto histológico e pelos diferentes
genomas do HPV (mais de 70 subtipos até hoje identificados).
DERMATOPATOLOGIA
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- Verruga Vulgar: é a mais comum e ocorre
em qualquer local da pele (pele ou mucosas).
É causada pelos subtipos HPV 2, 4 e 7. Tem
aspeto mais papilomatoso. É comum
apresentar pontos pretos na superfície, que
são tromboses de vasos.
Elas ocorrem em qualquer idade, por contágio
direto com a verruga de outra pessoa ou
contato indireto (objetos, chão). É comum em
crianças que encostam em outras crianças
com a lesão. Podem sumir e ficar em latência,
reaparecendo depois de anos.
Histologicamente, possui papilomatose e acantose pronunciadas, com convergência
dos cones epiteliais acantóticos para a região central da lesão. Tem hiperqueratose
em cima, dando o aspecto áspero.
O HPV fica no DNA do queratinócito, comandando hiperplasia e acantose da epiderme.
Aparece um halo claro no citoplasma deles que está sem organelas (coilocitose). Há
grânulos de queratohialina grosseiros pois eles ficam na camada granulosa logo abaixo
da córnea.
- Verruga Filiforme: são finas projeções perpendiculares ou pedunculadas, com
papilas muito ceratóticas, ocorrem principalmente na face, ao redor da boca, vestíbulo
nasal e periorbital.
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- Verruga Plana: ocorre mais na face palmar e dorsal das mãos. Causada pelo subtipo
HPV 3. A pápula é mais achatada e com menos queratinização, ou seja, menos áspera
e verrucosa. Na histologia vemos coilocitose (típico de HPV) mas com pouca camada
córnea.
Podem ser normocrômicas, hipocrômicas ou eritematosas. São, em geral, numerosas
e ocorrem principalmente na face e dorso das mãos.
- Verruga Palmo-Plantar: profundas ou mirmécias, são causadas pelo HPV 1, 2 ou 4.
As verrugas plantares, chamadas de olhos-de-peixe, são pouco salientes. Em geral têm
borda mais ceratótica e o centro mais deprimido. Há tendência à proliferação epitelial
invaginando para a derme, o que pode torná-las muito dolorosas.
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- Verruga Genital (Condiloma Acuminado): podem ser causadas pelo HPV 6 e 11
(baixo risco de câncer, mais comuns) ou HPV 16, 18 (oncogênicos, alto risco). É a DST
mais prevalente, principalmente em universitários. As lesões podem evoluir
espontaneamente e reaparecer mesmo depois de tratadas.
A lesão é bem vegerante e sem muita queratinização (pouco verrucosa), pois acomete
mucosa ou semi-mucosa (pápulo-vegerantes).
Acomete bastante a região perianal (aspecto em couve-flor) e o prepúcio (crista de galo).
Histologicamente tem acantose exuberante convergente e a coilocitose nas porções
mais altas do epitélio.
- PapuloseBowenóide: causada pelos subtipos HPV 16 e 18, os mais malignos.
Também é DST. Formam lesões papulares normo ou hipercrômicas (amarronzadas
tipo manchas). Em geral são múltiplas, no corpo do pênis, região perianal e vulva.
São pouco queratóticas (pouco verrucosas), mas tem presença de maceração próximo
à glande (maceração é a camada córnea embebida em água). Mesmas características
histológicas, papilomatose, acantose, coilocitose e pouca córnea.
As lesões são menos perceptíveis que as outras verrugas virais, mas precisam ser bem
estudadas pois são malignas. A forma em mancha amarronzada pouco papulosa é
mais típica. Podem ter múltiplas lesões papulosas rosadas também.
DERMATOPATOLOGIA
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- Condiloma gigante de Buschke-Lowenstein: causada pelos
subtipos HIV 6 e 11. É um condiloma gigante mas pouco
oncogênico. Na foto temos papulose bowenóide também no corpo
do pênis, então o indivíduo está infectado com subtipos de HIV
oncogênicos e não oncogênicos.
Histologicamente, as características comuns às verrugas incluem:
papilomatose com proliferação epitelial (acantose e
hiperceratose) e vacuolização citoplasmática (coilocitose), que
compromete preferencialmente as camadas epidérmicas mais
superficiais.
A microscopia eletrônica destas áreas revela numerosas
partículas virais no interior dos núcleos. As células infectadas
podem também demonstrar grânulos de queratohialina
proeminentes e aparentemente condensados, formando
agregados grosseiros intracitoplasmáticos em conseqüência dos efeitos citopáticos
virais. Essas alterações celulares são especialmente proeminentes nas verrugas palmo-
plantares profundas.
A imunohistoquímica ajuda muito no diagnóstico do HPV e dos
subtipos. Os núcleos dos queratinócitos da camada granulosa
principalmente ficam marcados, bem da camada superficial da
epiderme. A subtipagem do vírus é feita pela hibridização in situ.
→ VERRUGA VULGAR
P.L., 12 a., fem., cor branca, com aparecimento de lesão
verrucosa de aproximadamente 0,6 cm. de diâmetro na pele da
região do joelho D, de crescimento progressivo há 30 dias.
A lesão, causada comumente pelo HPV tipo 2, caracteriza-se
por intensa papilomatose da derme. As papilas dérmicas são
DERMATOPATOLOGIA
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29
muito alongadas, formando eixos conjuntivo-vasculares recobertos por epiderme
acantótica e hiperceratótica. Nota-se convergência dos cones epiteliais para a base
da lesão, em forma de leque.
Nos aumentos maiores, nota-se espessamento da epiderme (acantose) e grande
proeminência da camada granulosa, onde os grânulos de queratohialina são
excepcionalmente irregulares e grosseiros (alteração esta causada pelo vírus HPV).
Os espaços claros perinucleares são chamados coilocitose (do grego koilos, buraco)
e também próprios da infecção por este virus. Estes 'buracos' correspondem, em
microscopia eletrônica, a uma zona pobre em organelas celulares.
DERMATOPATOLOGIA
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30
A atividade mitótica é mais intensa que na epiderme normal. Algumas mitoses são
suprabasais (normalmente as mitoses limitam-se à camada basal). Contudo, não se
observam mitoses atípicas.
Na derme abaixo da lesão há leve a moderado infiltrado inflamatório inespecífico
focal, próximo a vasos e anexos.
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hanseniase
Profa.Dra. Maria Letícia Cintra
1. ASPECTOS GERAIS
A hanseníase é doença crônica infectocontagiosa de difícil transmissão, que atinge
especialmente a pele, a mucosa nasal e o sistema nervoso periférico, mas, em algumas
formas, e nas fases avançadas da doença, também órgãos internos. Tem curso crônico,
observando-se surtos reacionais de frequência variável, antes, durante ou após o
tratamento.
Lepra é o nome dado à doença, em vários países e, antigamente, no Brasil. Nos tempos
bíblicos, era definida como uma doença terrível, que em hebreu se chamava zaraath, que
quer dizer açoite, cujos sinais e sintomas se descrevem no livro de Levítico 13:1-46 e que
poderia ser confundida com outras moléstias da pele. Ou ainda “mal de São Lázaro”.
O leproso deveria habitar fora do campo e clamar que estava imundo e sujo, para que as
pessoas não se aproximassem: .”ao chegar à porta de Jafa, em Jerusalém, um grupo de
mendigos cegos, sem o nariz e os cabelos, apareceram erguendo braços sem mãos e
emitindo sons inarticulados, saídos de gargantas carcomidas pelas úlceras” (in Davis JD,
Dictionary of the Bible, according Thomson). Esta variedade da doença assim descrita
deve, provavelmente, corresponder à forma Virchowiana da hanseníase (descrita abaixo),
não tratada, em seus estádios finais.
Alguns autores acreditam que vários doentes que eram rotulados como leprosos nos
livros bíblicos, sofriam, na verdade, de psoríase vulgar.
Conforme proposto por Rotberg, em 1967, no Brasil foi adotado o termo "hanseníase". A
denominação "lepra" deve ser escrupulosamente evitada por ser "estigmatizante,
antieducativa, degradante para o doente e seus familiares e até perigosa para a saúde
pública, por bloquear a cooperação das pessoas (doente e familiares) ao tratamento e os
esforços para se esclarecer o público" (Rotberg).
O agente etiológico da hanseníase é o bacilo de Hansen, nome dado em homenagem ao
pesquisador norueguês que o isolou em 1873. Esta micobactéria não é cultivável mas
pode ser inoculada em tatus, ratos e outros animais (são reservatórios naturais),
reproduzindo-se lesões anátomo-clínicas características.
Cada ser humano responde de uma forma a determinado estímulo e isto é
particularmente verdadeiro com relação ao Mycobacterium hansenii. Muitos indivíduos se
infectam e poucos adoecem. O homem, definitivamente, não lhe é um bom hospedeiro.
Em geral, o doente relata que mantinha contato íntimo e prolongado com um
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2
hanseniano (bacilífero, ou seja, expelindo
muitos bacilos pelo trato respiratório, nos
acessos de tosse ou espirros), nos seus
antecedentes pessoais. Os pacientes
apresentam uma ampla gama de
manifestações clínicas e morfológicas,
peculiares a cada indivíduo.
Há cerca de 11 milhões de doentes
registrados no mundo, mas a OMS não
conta com dados de todos os países e
estima-se que a cifra real seja bem maior,
distribuídos principalmente nas zonas
subtropicais e tropicais. A hanseníase é um
dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil, o qual é líder, em incidência,
no continente americano (em 2013, foi registrado 1,56 caso por 10 mil habitantes).
Está muito relacionada com a pobreza, exclusão social, rejeição, estigma. É uma das
doenças negligenciadas e tem notificação compulsória no Brasil.
Esta doença tem um alto potencial incapacitante e desfigurante, pela destruição dos
nervos. Apesar da melhora, o Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase,
atrás somente da Índia.
Na Noruega a doença desapareceu 40 anos antes do advento dos primeiros recursos
terapêuticos, unicamente com a melhoria das condições de vida do povo. A Secretaria da
Saúde está empenhada na erradicação da doença. A intenção original era reduzir a cifra a
quase zero até o ano 2000, mas esta meta não foi alcançada.
2. PATOGENIA
O Mycobacterium hansenii (ou leprae) é um bacilo intracelular obrigatório que induz
marcada resposta imune. Ele não é cultivável. Em timectomizados a doença é
generalizada. Em 1971, Kirchheimer & Storrs infectaram tatus, verificando
comprometimento de pele, nervos periféricos, medula óssea, fígado, baço, linfonodos,
pulmões, meninges e olhos.
O bacilo tem tropismo por áreas superficiais do corpo (menos quentes), pois a
temperatura inativa eles. Assim, se atrai pela pele,nervos periféricos, câmara anterior do
olho, trato respiratório superior e testículos. O tempo de incubação varia, mas geralmente
é longo: de 5 a 20 anos.
Os principais achados são cegueira, perda da sensibilidade das extremidades, nervos
espessados, lesões cutâneas e atrofia das musculaturas.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3
Apenas 5% dos indivíduos desenvolvem a doença quando em contato com o bacilo. E
esse contato precisa ser prolongado com alguém que não está em tratamento. Depende
muito da vulnerabilidade genética da pessoa ao bacilo, ela é herdada.
O antígeno glicolípíde fenólico 1 (PGL-1) é parte constituinte da membrana do bacilo. A
entrada do bacilo no macrófago é seletivamente mediada pelos receptores de
complemento CR1 e CR3, os quais se ligam a componentes do complemento ativados
sobre a superfície do bacilo, pelo seu antígeno específico PGL-1.
No interior do macrófago, o PGL-1 inibe a ação dos radicais hidroxilados e ânions
superóxido presentes nos lisossomos do macrófago (inibe enzimas lisossomais,
dificulta fagocitose), mas 80 a 95% dos indivíduos é capaz de lisar o bacilo. Estes irão
desenvolver uma resposta de tipo Th1, produzindo interleucinas como IL-2, IFN γ, IL-1,
IL-6, IL-7, IL-12, IL18 e TNF- α, que aumentam a imunidade mediada por células.
Os indivíduos que são incapazes de lisar o bacilo, desenvolverão resposta de tipo Th2,
em que as células T produzem IL-4, IL-5, IL-10 e IL13, que aumentam a resposta
humoral.
3. A REAÇÃO DE MITSUDA
Em 1919 Mitsuda estudou a reação que os indivíduos normais exibem ao
Mycobacterium hansenii, injetando na derme uma suspensão de bacilos mortos pelo
calor e obtidos de extrato de hansenomas (lesões nodulares da hanseníase na sua forma
virchowiana) humanos (lepromina “H” de humano).
A reação de Mitsuda é realizada e é importante para o prognóstico e tratamento
adequado dos doentes.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 4
O antígeno empregado neste teste, denominado lepromina ou Mitsuda, pode também ser
obtido de lesões do Armadillo (tatu), a chamada lepromina "A". Aproximadamente 80 a
95% das pessoas são resistentes ao bacilo.
O exame da pele no local onde foi injetada a solução apresenta, nestas pessoas, após 21
a 28 dias, uma pápula (saliência) que reflete, à histologia, uma reação inflamatória
crônica granulomatosa, onde os bacilos não são mais vistos, pois foram destruídos
(Mitsuda positivo).
O exame histológico da pele no local onde se injetaram os bacilos pode revelar uma
reação inflamatória crônica granulomatosa (portanto, resultado positivo à reação de
Mitsuda), mesmo quando não há pápula aparente à clínica.
Um indivíduo que reúne uma carga genética que o habilita a expressar uma reação
inflamatória crônica granulomatosa à lepromina, com destruição completa dos bacilos, se
um dia vier a contrair a doença, certamente apresentará o mesmo tipo de resposta ao
bacilo vivo e desenvolverá uma forma de hanseníase chamada polar Tuberculoide ou
dimorfa tuberculoide, passando ou não pela forma indeterminada (descrição destas
formas adiante).
Nos demais 5 a 20 % (faixa anérgica) os bacilos são fagocitados, mas não podem ser
destruídos e permanecem no local (os macrófagos são, geneticamente, maus lisadores).
Ao final de 3 a 4 semanas não há pápula ou reação inflamatória demonstrável e os
bacilos não foram eliminados, podendo ser vistos, à histologia, mediante colorações
especiais, no interior de macrófagos. O resultado é Mitsuda negativo e é comum na
forma Virchowiana.
Forma Tuberculóide: mitsuda 10
Forma Virchowiana: mitsuda 0
4. CLASSIFICAÇÃO DA HANSENÍASE
Baseados nas características de resposta dos vários indivíduos ao Mycobacterium
hansenii e, portanto, nas apresentações clínicas, histológicas, imunológicas e índice
bacilar (número de bacilos), hansenologistas brasileiros de destaque propuseram uma
classificação para a doença em 1938, que foi recomendada oficialmente em 1948.
É um espectro da Hanseníase que depende do perfil genético do indivíduo, ou seja, se ele
tem vulnerabilidade ao bacilo ou não.
Nela, a hanseníase foi subdividida numa forma inicial (forma Indeterminada, não
sabemos como é a resposta), a partir da qual, na dependência da capacidade de
resposta, desenvolvem-se as formas polares {Tuberculoide (resposta inflamatória
granulomatosa tuberculoide, com fagocitose e destruição completa do bacilo) e
Virchowiana (resposta inflamatória meramente fagocítica ou incompleta, onde os bacilos
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 5
se reproduzem livremente no interior dos
macrófagos)} e a forma interpolar, Dimorfa ou
"borderline" (mista e instável).
Posteriormente, os ingleses (Ridley e Jopling)
introduziram uma segmentação do grupo dimorfo
(interpolar), em 3 classes: dimorfa tuberculoide,
dimorfa-dimorfa e dimorfa virchowiana, na
dependência da maior ou menor capacidade de
resposta inflamatória celular (timo-dependente),
expressa, à histologia, pela presença ou ausência de
células epitelioides, gigantes, orla linfocitária e
número de bacilos na lesão.
Assim, temos basicamente duas formas da hanseníase: Tuberculóide (mal de Hansen
tuberculoide – MHT) onde se desenvolvem granulomas; e Virchowiana (mal de Hansen
virchowiana – MHV), onde só tem resposta humoral.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 6
HANSENÍASE INDETERMINADA
Caracteriza-se pela presença de manchas hipocrômicas na pele. Com
o tempo, a área afetada apresenta hipoestesia, hipotricose/alopecia e
hipoidrose (costuma-se caracterizar a lesão pelos 4 “As”: anestesia,
acromia, anidrose e alopecia, mas, em geral, as lesões não são
completamente desprovidas de pelos, ou de sudorese, sensibilidade e
cor). Não há alteração do relevo da pele.
Estes sinais e sintomas são decorrentes da reação inflamatória
linfocitária ao bacilo, que se aloja junto a nervos, folículos pilosos,
glândulas sudoríparas; a reação interfere com a produção e
transferência de melanossomos (produzidos pelos melanocitos) para os
ceratinocitos (células epiteliais da epiderme) e interfere com a produção
de suor, afeta os folículos pilosos e nervos. Esta forma pode evoluir,
sem tratamento, para cura ou para uma das formas descritas abaixo.
Histologicamente, temos uma dermatose invisível. Não encontramos alterações muito
significativas. A epiderme nunca é acometida em qualquer Hanseníase. Encontra-se
íntegra e a queratinização adequada. A derme está pouco alterada.
Na imagem ao lado vemos espessamento neural (neurite e perineurite). Os nervos estão
entremeados por células inflamatórias. A presença de espessamento neural na
histologia + hipocromia da lesão na clínica é patognomônico de Hanseníase
Indeterminada!
→ HANSENÍASE INDETERMINADA ou INCARACTERÍSTICA
20 anos, feminina negra. Apresentando mácula hipocrômica e hipoestésica no tórax
anterior. A hipoestesia é o principal elemento semiológico para suspeitar de hanseníase.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 7
Deve-se ao acometimento de ramúsculos
nervosos cutâneos pelo bacilo, que tem
tropismo por axônios e células de
Schuvann.
A epiderme está preservada. Na derme,
notam-se focos de infiltrado inflamatório
crônico inespecífico linfomonocitário
em torno de vasos, glândulas sudoríparas
e afetando filetes nervosos. Estes podem
ser de observação difícil devido ao
pequeno tamanho, e porque a estrutura
normal foi alterada pelo processo
inflamatório.
O quadro histolpatológico é, portanto, o de
uma dermatite crônica inespecífica. A
pesquisa de bacilos de Hansen (bacilos
álcool-ácido resistentes ou BAAR) pela técnica de Ziehl-Neelsen resultaria negativa.
Há muitas doenças cutâneas cujo substrato morfológico é um infiltrado inflamatório
mononuclearna derme. Porém, a localização do infiltrado junto a anexos (folículos
pilosos, glândulas sudoríparas) e a filetes nervosos auxilia o diagnóstico de hanseníase.
Clinicamente, essas alterações se manifestam respectivamente como alopécia, anidrose
e anestesia. Só a hanseníase combina hipocromia (manchas claras da pele), anestesia e
infiltrado inflamatório permeando nervos.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 8
HANSENÍASE TUBERCULOIDE
Há boa resistência natural ao agente e as lesões podem até se curar sem tratamento. As
lesões cutâneas são pouco numerosas (até 5 lesões), assimétricas e têm limites
precisos, porque, à histologia, formam-se granulomas tuberculoides bem definidos.
Quando está na transição entre a forma indeterminada para a forma
tuberculóide vemos mancha hipocrômica adquirindo bordas
papulosas. Na histologia há quadro discreto, a epiderme preservada
e poucas células inflamatórias em agregados superficiais na derme.
Possui nervos e anexos. Há transformação para quadro
granulomatoso.
Além da pele, o acometimento de troncos nervosos é mais
acentuado, usualmente junto às lesões cutâneas, mas, esta forma
(hanseníase tuberculoide), pode ser neural pura.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 9
É muito difícil se achar bacilo à biopsia e, assim, estes doentes não são contaminantes.
Na forma tuberculóide pura, à histologia vemos epiderme sem alterações e na derme
formam-se granulomas tuberculoides (nódulos bem definidos de células epitelioides,
alguns gigantocitos e coroa linfocitária) na derme alta que chega a tocar a camada basal
da epiderme. Há granulomas perivascular e perineural. Os granulomas na região dos
anexos estão dispostos obliquamente à epiderme.
Nessa forma da hanseníase há destruição dos anexos (folículos pilo-sebáceos,
glomérulos sudoríparos) e nervos por infiltração inflamatória dos granulomas. Vemos
maior concentração celular na derme alta, sem anexos.
- Hanseníase Tuberculóide Reacional (reação Tipo I): é um quadro agudo (surto)
dentro de um quadro crônico de hanseniase tuberculoide. São os responsáveis pelos
agravos com perdas funcionais e incapacitações.
Há alta reação inflamatória mediada por
linfócitos "T" que determinam áreas de
necrose cutânea e ulceração, mas,
principalmente necrose de nervos, com
substituição posterior do tecido por fibrose
onde tinham granulomas. Pode haver
necrose caseoca ou fibrinóide no centro
dos granulomas.
→ HANSENÍASE TUBERCULÓIDE
Neste fragmento de pele, chamam a atenção granulomas situados na derme, sendo os
maiores na profundidade. São constituidos de células epitelióides, de forma semelhante
aos granulomas da tuberculose. Esta é a razão do termo hanseníase tuberculóide.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 10
Embora aqui não estejam demonstrados
gigantócitos, eles poderiam estar presentes em
outros cortes, ou em outros casos. Há uma pequena
área de necrose caseosa em um granuloma, mas
ela não é necessária para o diagnóstico.
Trata-se, portanto, de uma dermatite crônica
granulomatosa, o que em si não é específico de
nenhuma doença. Outras que poderiam apresentar
aspecto histopatológico semelhante são a sífilis
terciária e a sarcoidose. O diagnóstico de
hanseníase tuberculóide baseia-se em dados
clínicos de que a lesão apresentava alopécia e
anestesia (como já visto na hanseníase
incaracterística).
A pesquisa de bacilos de Hansen (bacilos álcool-
ácido resistentes ou BAAR) pela técnica de Ziehl-
Neelsen provavelmente resultaria negativa, pois a
reação granulomatosa é eficiente para destruir os
bacilos.
Notar que há um pequeno cisto epidérmico na parte alta da derme. É um achado fortuito
sem relação com a hanseníase. Esses pequenos cistos revestidos por epitélio plano
semelhante ao da epiderme são comuns na pele e crescem por descamação das células
para o interior da cavidade. Clinicamente produzem pequenas elevações, conhecidas
popularmente como cistos sebáceos. Se o cisto se rompe na derme, o material
queratinizado pode provocar uma reação inflamatória de corpo estranho.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 11
HANSENÍASE VIRCHOWIANA
Ou Hanseníase de Lúcio/ Lepromatosa, nesta forma, o homem convive
em harmonia com o bacilo, que prolifera livremente no interior dos
macrófagos. Estes são geneticamente incapazes de lisar o bacilo e,
assim, não podem processar este antígeno, para expô-lo na sua
superfície, junto com o HLA II de que o macrófago dispõe;
consequentemente, o linfócito T CD4 não é ativado e, portanto, não se
formam granulomas.
As lesões cutâneas são numerosas, de limites imprecisos e
simétricas. Ocorre proliferação contínua de macrófagos que vão sendo
obliterados por grande número de bacilos e, desta forma, os pacientes
são contaminantes.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 12
Podemos ter lesões eritemato-infiltradas “em casca de laranja” ou pápulas, bem
disseminadas.
Com o passar do tempo, vai ocorrendo atrofia (por compressão) das estruturas
acometidas porque há uma luta por espaço entre os componentes do tecido e os
macrófagos que hospedam os bacilos. Essas formas multibacilares destroem por
compressão. Só nas formas mais tardias desse tipo de hanseníase que há alteração com
infiltrado inflamatório nos nervos.
A lesão dos nervos determina sequelas (como a reabsorção de extremidades), a
destruição da úvea, causa amaurose, do testículo, causa infertilidade e ginecomastia e,
do fígado, insuficiência hepática.
Nas fases mais tardias, o material amiloide depositado nas vísceras abdominais,
contribui para a atrofia e desaparecimento das células parenquimatosas, podendo levar à
insuficiência renal. É amiloidose secundária.
À histologia, observam-se massas de macrófagos na derme, nas mesmas localizações
descritas. Os macrófagos são claros, ao HE,
porque o envoltório lipídico do bacilo, que é
removido durante o emblocamento do
tecido, não se cora (por isto são
denominados macrófagos espumosos ou
xantomatosos ou células de Virchow, em
homenagem ao pesquisador alemão que os
descreveu). Os núcleos ficam longe um do
outro devido ao citoplasma abundante.
A epiderme está sempre preservada
(poucas modificações), e os anexos
também estão (fases iniciais). Há
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 13
dissociação da epiderme e a derme, estão separadas por uma faixa rosea clara (Faixa de
Unna ou zona limite) que se forma pela compressão da derme contra a epiderme quando
o número de macrófagos aumenta muito.
Na derme há muita proliferação celular inflamatória (macrófagos, linfócitos CD4 Th2 e B)
bem difusa.
Às colorações especiais pelo Ziehl Neelsen, os bacilos se coram em
vermelho/arroxeados (pela fucsina, empregada neste método) e, ao mergulharmos os
cortes numa solução ácida de álcool, eles não perdem a cor vermelha (são álcool-ácido
resistentes - BAAR). Encontramos alguns macrófagos vacuolizados e sem bacilos, são
células de fadiga (processo antigo).
Estes bacilos se apresentam unidos uns aos outros por uma substância chamada gleia,
formando massas dentro dos macrófagos denominadas de globias.
A hanseníase Virchowiana tem uma forma
incomum: a Histoide. Ela apresenta nódulos
bem delimitados bem disseminados por todo o
tegumento. Histologicamente são massas
compactas de macrófagos que se comprimem e
substituem toda a derme, mantendo a epiderme.
Nesse caso, não vemos nenhum anexo na
derme, tudo comprimido.
O nome históide significa tecido parecido com
conjuntivo ou muscular, pois os macrófagos são
fusiformes (e não vacuolizados) e compactos.
Nesse caso, precisa ter muita atenção para não
deixar passar o diagnóstico de hanseníase e
confundir com dermatofribroma.
Branda de Oliveira de Lima,Turma LVI - MedUnicamp 14
A hanseníase virchowiana pode, ainda, ter a forma Mal Perfurante: é uma úlcera plantar
associada a alterações nervosas (perda da sensibilidade). Muitas vezes essa é a
primeira manifestação da doença.
Como toda úlcera, há substituição da epiderme por crosta fibrinosa, na derme superficial
há tecido de granulação, fibrose e edema. Na úlcera da hanseníase há também células
espumosas na derme profunda e comprometimento nervoso.
- Hanseníase Virchowiana Reacional (reação Tipo II): Os surtos reacionais podem
sobrevir de forma dramática, neste polo, ligados às reações humorais tipos II e III de Gell
e Coombs. Caracterizam-se por febre, calafrios, dores articulares, toxemia, e até choque
e óbito, por extensas áreas de necrose decorrentes de vasculite.
Há necrose de toda a derme e epiderme (necrose extensa) devido a vasculites
(fênômeno vásculo-necrótico). Formam-se pústulas subepidérmicas e até as células
inflamatórias da derme morrem.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 15
Estes surtos manifestam-se secundariamente a fatores emocionais, gravidez, vacinação
ou ocorrem durante o tratamento (provavelmente pela morte súbita e excessiva de
bacilos, liberando-se antígeno e formando-se complexos com excesso de antígenos).
Outra forma reacional é a Hanseníase de Lúcio Reacional (tipo II também). Ocorre
após 4 anos de infiltração da pele. Aparecem lesões necróticas pretas pequenas.
Histologicamente vemos edema da derme alta que pode ulcerar e vários focos de necrose
restritos a pele alta. Também é causada por fenômeno vásculo-nervoso.
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→ HANSENÍASE VIRCHOWIANA
Chamam a atenção acúmulos de macrófagos em todos os níveis do derma, mais
notadamente na porção superficial. Estas células têm citoplasma claro, finamente
vacuolado e limites imprecisos, sendo difícil individualizá-las.
Nesta coloração (HE) não é possível ver, mas estes macrófagos têm o citoplasma
abarrotado de bacilos de Hansen formando acúmulos conhecidos como globias.
Raramente estas podem ser visualizadas como massas basófilas (ver as duas figuras
embaixo). O meio correto de ver os bacilos é com a coloração de Ziehl-Neelsen, como na
lâmina seguinte.
Os macrófagos fagocitam os bacilos e não conseguem destruí-los. Pelo contrário, os
bacilos proliferam no seu citoplasma, já que são parasitas intracelulares. Os macrófagos
ricos em bacilos de Hansen são chamados células de Virchow e caracterizam a forma
virchowiana da hanseníase (antigamente chamada de lepra lepromatosa).
Não ocorrem só na pele, mas também em nervos periféricos (local preferencialmente
acometido tanto na hanseníase virchowiana como na tuberculóide) e órgãos internos
como o baço (estes, só na forma virchowiana).
O termo 'leproma', hoje em desuso, foi substituido por hansenoma. Os hansenomas são
o nome dado clinicamente aos nódulos subcutâneos salientes, resultantes do acúmulo
de células de Virchow. Ocorrem na face (dando um aspecto conhecido como fácies
leonina), tronco e membros. Há também alopécia (queda de pelos e cabelos) e madarose
(perda dos supercílios).
Além das alterações na derme, notar que a epiderme está retificada (ou seja, o limite
dermo-epidérmico, que normalmente é ondulado, perde estas ondulações ficando plano;
isto geralmente é evidência de atrofia da epiderme, no caso através de compressão pelos
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 17
hansenomas na derme). É freqüente a observação da chamada faixa de Unna: uma fina
camada de colágeno subepidérmica onde não há células de Virchow.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 18
Este outro corte de pele, de um caso
semelhante ao da lâmina acima, foi
corado pela fucsina ácida a quente e
diferenciado com álcool acidulado
(técnica de Ziehl-Neelsen).
Os bacilos, que se coraram com a fucsina,
não são descorados pelo álcool acidulado
e aparecem claramente em vermelho (daí
o termo bacilos álcool-ácido resistentes ou
BAAR). O restante do tecido fica corado
em azul pálido por azul de metileno.
Os bacilos de Hansen são vistos
isoladamente ou em aglomerados
chamados globias no citoplasma dos
macrófagos (células de Virchow). Nas globias, os bacilos estão unidos entre si por uma
substância chamada gléia. A formação de globias é exclusiva da hanseníase virchowiana,
não sendo observada, por exemplo, na tuberculose ou em micobacterioses atípicas.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 19
HANSENÍASE DIMORFA
Indivíduos que apresentam uma resposta imune celular
ainda que parcial ou até muito precária ao bacilo, a qual se
expressa com a presença de granulomas mal
constituídos, com poucos ou muitos gigantócitos,
escassa coroa linfocitária, onde poucos (ou nenhum
bacilo) são demonstrados, de mistura a áreas de padrão
eminentemente fagocítico, com mais bacilos, pertencem
a uma categoria cognominada interpolar ou dimorfa
(“border-line”).
Se a resistência ao bacilo existe, embora mínima, vemos na lesão muitos bacilos nos
tecidos (apenas que em menor quantidade que na forma polar virchowiana), o número de
lesões é maior que na tuberculoide e são assimétricas e o Mitsuda negativo (forma
dimorfa virchowiana e muitos dos doentes dimorfo-dimorfos). Macrófagos mais
vacuolizados e pálidos.
Se a resistência é maior, com atuação da imunidade timo-dependente, o número de
bacilos é pequeno ou até desprezível, os doentes não são contaminantes e as lesões
pouco numerosas (neste caso, o Mitsuda pode ser positivo). Essa é a forma dimórfica-
tuberculoide. Granulomas mais definidos.
Na hanseníase dimorfa há acentuado comprometimento nervoso mas que demora mais
tempo para ser destruídos do que na tuberculoide. Os nervos estão espessados e com
muitas células inflamatórias dentro e ao redor. Os granulomas são difusos e com limites
imprecisos.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 20
Temos também infiltração difusa da pele com linfócitos misturados às células
epitelioides dos granulomas. Isso ocorre por reação inflamatória Th1 incompleta.
Qual o valor do exame histológico na hanseníase?
1- colabora para uma classificação precisa das formas da doença, com boa correlação
evolutiva.
2- necessária à uniformidade diagnóstica .
3- estabelece critérios de acompanhamento do doente durante o tratamento
(complicações e progressos).
4- oferece diagnóstico precoce de quadros reacionais.
5 -permite a segmentação dos doentes em grupos para a avaliação de teste
terapêuticos.
O encaminhamento do doente para tratamento, necessariamente implica a análise de dois
pontos: 1- trata-se realmente de hanseníase ou de uma doença semelhante a ela?; 2- em
se estabelecendo este diagnóstico nosológico (definindo a doença), o número de lesões,
de troncos nervosos acometidos e de bacilos na lesão é pequeno ou grande? (doente
pauci- ou multibacilar?).
O exame para hanseníase é a baciloscopia e a biópsia
(histopatológico). Na biópsia temos que retirar parte da
borda da lesão (mais ativa), nos atentando para retirar
também parte da tela subcutânea, pois ali que estão os
nervos (pode ser só neural e temos que afastar
diagnósticos diferenciais). A biópsia é importante para o
diagnóstico, e a baciloscopia para a classificação em
número de bacilos.
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 21
A baciloscopia é a visualização dos bacilos no
microscópio óptico. Para a coleta fazemos uma isquemia
na borda da lesão, ou no lóbulo da orelha ou no cotovelo e
depois um pequeno corte. Espememos até coletar linfa na
lâmina e depois raspamos com o bisturi para pegar parte
da derme (passamos na lâmina). Esse material irá ser
analisado e os bacilos classificamosem uniformes,
irregulares, granulosos e na quantidade por campo.
- Características das hanseníases:
- Achados da Baciloscopia:
- Tratamento: No momento, os esquemas empregados para o tratamento da hanseníase
obedecem a um programa de 6 meses para os pacientes paucibacilares (poucas lesões,
poucos troncos nervosos acometidos e raros bacilos nas lesões) e outro de 12 meses
para os multibacilares (várias lesões ou troncos nervosos acometidos e vários ou muitos
bacilos nas lesões). Baseiam-se na associação de vários medicamentos (PQT=
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 22
poliquimioterapia), que inclui a clofazimina, a qual determina hiperpigmentação cutânea
nas áreas acometidas que são expostas ao sol.
5. CONSEQUÊNCIAS DA HANSENÍASE
Uma vez detectada a doença, se não for instituído tratamento adequado e precoce, as
lesões que se desenvolveram nas estruturas cutâneas, neurais ou até viscerais serão
reparadas por tecido fibroso cicatricial e a função será danificada.
Importante lembrar que as lesões nervosas resultam em sequelas.
Traumas repetitivos em áreas anestésicas, com infecção secundária e consequente
reabsorção de extremidades (por exemplo, o mal perfurante plantar com osteomielite),
podem se perpetuar, em caráter progressivo, a despeito da cura clínica e baciloscópica da
doença de base (ou seja, da hanseníase).
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp
TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS DA PELE
O exame dermatológico, deverá incluir, inicialmente, as condições gerais do tegumento
do indivíduo, como turgor, grau de envelhecimento cronológico e solar e nutrição. A
seguir, destaca-se a localização da lesão que corresponde a queixa principal do doente,
e às lesões elementares, que correspondem a expressão de como estas alterações
ocorrem na pele, por exemplo se há uma mancha, um pequeno relevo denominado
pápula ou um nódulo. Estes dados semióticos fornecem informações importantes sobre
a doença que está sendo avaliada e, sobretudo, poderá conduzir às hipóteses
diagnósticas.
O exame dermatológico apurado bem como a identificação das lesões elementares são
facilmente realizáveis, raramente necessitam métodos diagnósticos complementares e,
permitem, num exame clínico, a elaboração de hipóteses diagnósticas seguras somente
pela visualização da pele.
Neste contexto, este capítulo do curso pretende apresentar o exame dermatológico e
as principais lesões elementares que apresentam os tumores cutâneos malignos.
Os fatores iniciadores e promotores da carcinogênese para o câncer de pele são a
exposição solar ocupacional e recreativa, UV artificial; hábito de fumar; carcinógenos
ambientais (arsênico); vírus (HPV); genes (p53); falhas no sistema de reparo do DNA;
imunossuprimidos (HIV, Tx).
A radiação UVA e UVB são importantes na exposição solar. A UVB penetra nas porções
superiores da epiderme, enquanto a UVA pode chegar até a derme (elastose solar,
quebra de colágeno). O UVB pode causar a queimadura solar.
1. TUMORES DA EPIDERME
• CERATOSE ACTÍNICA
Também chamada de Ceratose Solar ou Ceratose
Senil, pois ocorre em pessoas idosas com longa
exposição solar durante a vida. É uma lesão pré-
neoplásica, caracterizada por alterações
displásicas da epiderme, à semelhança das atipias
que precedem o carcinoma epidermóide do colo
uterino. Quando ocorre no lábio é denominada
queilite actínica.
É em geral resultante da exposição crônica à luz
solar, radiação ionizante, hidrocarbonetos e arsenicais. Lesão preferencialmente de
pessoas idosas e de pele branca. Aparece com predomínio na face, dorso das mãos
e antebraços.2
DERMATOPATOLOGIA
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2
A transformação para carcinoma epidermóide ocorre em torno de 20-
25%. Em geral as lesões têm diâmetro inferior a 1 cm, coloração
castanho-bronzeada, vermelha ou igual à pele normal (mas
geralmente eritematosas).
São ásperas, semelhantes a uma lixa. Algumas podem produzir tanta
queratina que resultam no aparecimento clínico de um "corno
cutâneo". O corno cutâneo é uma elevação papulosa em forma de
cone meio acastanhado e muito áspero e duro devido a grande
camada córnea.
Lesões em áreas expostas (face, couro cabeludo) que não cicatrizam,
“casquinhas” que vão e voltam. Pode ter protusão central que forma
o corno cutâneo. Toda queratose tem que palpar a base, se
tiver muito infiltrada pode ser um tumor invasor.
Histologicamente, primeiro vemos uma epiderme
acantótica (espessada) e com muito estrato córneo em
coluna e de padrão paraceratótico (hiperceratose
paraceratótica).
Na base da lesão vemos arranjo desordenado e atipias
celulares principalmente nas camadas inferiores da
epiderme, típico de ceratose actínica. Está tudo desordenado, não tem camada
basal, suprabasal, espinhosa certo. Não tem invasão da membrana basal,
epiderme íntegra.
Os queratinócitos são atípicos, com hipercromasia, volumes e núcleo
variados, vacuolização celular, disceratose e aumento de mitoses.
Hiperceratose + Desarranjo estrutural + atipias na base
DERMATOPATOLOGIA
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Ceratose Actínica Acantolítica: pode ter
bolhas entre os queratinócitos, mas sem
anticorpos nem neutrófilos. Ocorre porque a
membrana plasmática dessas células está
imatura devido a rápida proliferação, e não tem
desmossomos muito bem feitos (anomalia
estrutural). Com isso, eles se soltam e ficam
frouxos.
Na derme há reação inflamatória crônica
inespecífica em grau variado e degeneração
basofílica do colágeno, causadas pelo sol
(elastose solar).
Caso tenha invasão da membrana basal se transformou num
carcinoma espinhoso (escamoso).
Lesão exofítica exuberante em forma de chifre. No verso da
peça (fig. à D.), observa-se a superfície de corte da base da
lesão, mostrando tecido esbranquiçado e bem delimitado em
seu limite inferior. Este tecido corresponderia no exame
histológico provavelmente a uma ceratose actínica, que é a
lesão que mais comumente origina o corno cutâneo.
• CARCINOMA IN SITU
Ou Doença de Bowen, é uma neoplasia intraepitelial de células escamosas
(queratinócitos), sem invasão da derme. A membrana basal está íntegra. Acomete a
pele exposta e não exposta, ou seja, não depende da exposição solar.
Observada em adultos, sobretudo em homens, localizada na pele em qualquer região
do corpo, com predomínio do ombro e tronco. Na glande do pênis é referida como
eritroplasia de Queyrat.
Apresenta-se como placa vermelho-fosca, de contorno nítido e irregular, ligeiramente
saliente (plana, parece uma placa), verrucosa ou hiperceratótica (pode ter crosta leve).
Progride lentamente de modo centrífugo, podendo atingir grande extensão.
DERMATOPATOLOGIA
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Histologicamente, caracteriza-se por células atípicas em todos os níveis da epiderme,
desarranjo estrutural sem atravessar a membrana basal. A epiderme está muito
acantótica e imatura (muito espessa). Pouca camada córnea.
Os queratinócitos estão disceratóticos (queratinização prematura), às vezes
vacuolizados, com núcleo volumoso, hipercromático, podendo ser único ou múltiplo.
A membrana basal permanece íntegra. Numerosas mitoses são vistas em vários níveis
da epiderme.
Caso haja invasão da membrana basal para a derme torna-se um carcinoma
epidermóide.
→ DOENÇA DE BOWEN
Fragmento de pele da região dorsal do penis de um paciente de 53 anos. A lesão era
espessa, esbranquiçada, com diâmetro de 1,5 cm e contorno irregular.
Histologicamente, nota-se grande espessamento da epiderme (acantose), com perda
da arquitetura estratificada (comparar com a pele normal adjacente) e atipias celularesintensas em toda a espessura. Há hipercromatismo e pleomorfismo nucleares.
Várias células sofrem queratinização de
forma isolada, chamando-se este
fenômeno disceratose. Destacam-se
das vizinhas pelo citoplasma muito róseo
e o núcleo picnótico. É muito comum
haver queratinização de grupos de
células que se dispõem em
redemoínhos, chamados pérolas
córneas.
Na epiderme normal, todas as células
queratinizam-se de forma semelhante, à medida que progridem da camada basal à
córnea. É importante que, na doença de Bowen, o limite dermo-epidérmico não é
DERMATOPATOLOGIA
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ultrapassado e que o tumor permanece in situ. Isto ocorre porque as células atípicas
não são (ainda) capazes de digerir ou romper a membrana basal do epitélio.
EPIDERME NORMAL DOENÇA DE BOWEN (mesmo aumento)
Na região mais imatura, há menos queratinização, o citoplasma tende a basófilo e nota-
se intensa atividade mitótica, com cerca de 5 mitoses por campo de grande aumento.
Algumas mitoses são atípicas.
Carcinoma in situ é o termo para lesões epiteliais em que as células têm alterações
citológicas características de malignidade (hipercromatismo, pleomorfismo, mitoses) e
perda da arquitetura, mas sem evidência de invasão local ou de metástases à distância.
É considerada uma lesão pré-neoplásica devido a seu potencial para desenvolver-se
em carcinoma invasivo, ou câncer propriamente dito.
A doença de Bowen é um carcinoma in situ da pele de qualquer região do corpo. A
forma chamada de eritroplasia de Queyrat corresponde ao carcinoma in situ da pele
das regiões genitais de homens e mulheres, geralmente acima dos 35 anos. Tende a
envolver o corpo do penis e o escroto. Clinicamente manifesta-se como uma área
espessada, esbranquiçada, podendo haver ulceração superficial. Se não tratada, a
lesão evolui em alguns anos para carcinoma invasivo em cerca de 10% dos casos.
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Há forte associação da doença de Bowen com infecção pelo virus HPV (human
papilloma virus), principalmente do tipo 16.
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• CARCINOMA EPIDERMÓIDE
Ou Carcinoma Escamoso/Espinhoso ou Carcinoma Espinocelular (CEC), é uma
neoplasia epitelial maligna freqüente, representa em torno de 20-25% das neoplasias
cutâneas em nosso meio. Mais comum no sexo masculino, pode ocorrer em qualquer
parte da pele ou mucosa com epitélio escamoso, geralmente após os 50 anos.
Se origina das células da camada espinhosa da pele, que são queratinócitos bem
maduros e capazes de produzir queratina de maneira eficaz. Eles sofrem mutações e
desenvolvem atipias. Tem uma invasão local mais rápida, em meses já está ulcerado.
Há risco de metástases, principalmente para gânglios regionais.
Quando há carcinoma espinocelular in situ chamamos de carcinoma in situ ou Doença
de Bowen. Se invade é o carcinoma espinocelular propriamente dito.
Além da luz solar, que leva à lesão do DNA e mutagenicidade,
são implicados como fatores predisponentes: carcinógenos
industriais (alcatrões e óleos), dermatoses preexistentes, como
a ceratose actínica, úlceras crônicas, osteomielite com fístula
cutânea, cicatrizes antigas de queimaduras, ingestão de
arsenicais, radiação ionizante e, na cavidade oral, o hábito de
mascar tabaco. Indivíduos com xeroderma pigmentoso e
imunossuprimidos/idosos apresentam alta incidência dessa
neoplasia.
O HPV (16 e 18) é um importante fator de risco para o CEC.
São lesões crostosas que podem ulcerar. Aparecem mais na
face, orelhas, braços e mãos, lábios infeiores. Na pele são
pápulas queratóticas que podem infiltrar, podem ser nódulos,
podem ulcerar, podem ser exofíticas. Nas mucosas são placas
leucoplásicas que podem infiltrar, ulcerar ou formar vegetação.
DERMATOPATOLOGIA
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O CEC é um diagnóstico diferencial com as síndromes verrucosas do PLECT.
As principais complicações do CEC são infiltração local, ulceração, infecção e dor;
metástases locorregionais; metástases sistêmicas; tratamentos cirúrgicos
desfigurantes; incapacidades. As metástases são geralmente ganglionares e viscerais
e de freqüência variável.
Histologicamente, o carcinoma epidermóide é constituído por células escamosas,
semelhantes às da camada de Malpighi da epiderme, as quais infiltram a derme e os
tecidos profundos sob a forma de brotos ou blocos.
As células podem mostrar graus variados de atipia, corneificação (pérolas córneas) e
figuras de mitose típicas e atípicas. Tem sido utilizada uma classificação histológica
de graus de I a IV, baseada na proporção de células diferenciadas, isto é, com
capacidade de maturação (corneificação) e na freqüência das atipias celulares.
Classificação Histológica de Broders:
- Grau I (bem diferenciado). Freqüentes pérolas córneas, desmossomos
presentes, discretas atipias. Pode ter leve edema intercelular (espongiose).
DERMATOPATOLOGIA
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- Grau II (moderadamente diferenciado). Corneificação menos evidente, poucas
pérolas córneas, atipias celulares mais freqüentes e evidentes.
- Grau III (pouco diferenciado). Corneificação de células isoladas (disceratose),
células na maioria atípicas e freqüentes mitoses.
- Grau IV (indiferenciado). Ausência de queratinização, podendo as células se
apresentarem com caráter fusiforme, com núcleos de tamanhos diversos e
hipercromáticos, com nucléolos evidentes.
No grau 4, devido à indiferenciação celular, muitas vezes se tornam necessárias
técnicas especiais a fim de se estabelecer de forma definitiva a linhagem celular. Estas
são: a microscopia eletrônica, para a detecção dos pontos de ligação entre os
queratinócitos (desmossomos); e a imuno-histoquímica, ou seja, a reação do tecido
tumoral com anticorpos contra queratina ou contra antígenos associados à membrana
das células epiteliais.
Podemos ter vários graus de diferenciação em uma lesão só, algumas áreas com
pérolas córneas (grau I) e outras totalmente indiferenciado, uma massa anômala (grau
IV).
Pode ter também áreas acantolíticas, ou seja, espaços grandes entre os queratinócitos
por rompimento dos desmossomos. Fica parecendo glândulas, chamamos de
carcinoma epidermóide acantolítico-pseudoglandular. Não confundir com
adenocarcinoma.
→ CARCINOMA EPIDERMÓIDE
Material retirado da pele do dorso da mão de um homem de 65 anos, lavrador. Lesão
tumoral elevada e endurecida, com 1,8 cm no maior diâmetro, superfície
hiperceratótica e ulcerada.
O carcinoma epidermóide (isto é, semelhante à epiderme) é constituido por células que
imitam as da epiderme normal, mas têm arquitetura desorganizada, pleomorfismo,
atipias nucleares e mitoses típicas e atípicas. Em áreas melhor diferenciadas as células
tentam imitar a epiderme normal, com poucas atipias e presença de corneificação. Na
camada de Malpighi é possível observar desmossomos (organelas que mantêm as
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células unidas). Dão um aspecto estriado ou
espinhoso ao contorno celular, daí o termo
camada espinhosa.
É comum a formação de queratina
condensada no centro dos agrupamentos
celulares, constituindo as pérolas córneas,
indício de boa diferenciação do carcinoma
epidermóide.
Em áreas menos diferenciadas a
corneificação é observada somente em
células isoladas (disceratose), ou mesmo é
ausente. Há maior grau de atipias. O índice
mitótico é maior, notando-se mitoses atípicas. Na que está documentada aqui, a placa
metafásica é irregular, dispondo-se em mais de um plano.
O grau de diferenciação histológica podevariar de uma área para outra do mesmo
tumor. Habitualmente, o grau histológico de um carcinoma epidermóide é dado pelo
maior grau encontrado nas várias áreas examinadas (variando de I a IV, sendo o I para
o mais diferenciado e IV para o menos diferenciado), porque a área de maior grau
histológico provavelmente tem o maior potencial agressivo (maior malignidade),
independente de sua extensão.
O tumor infiltra a derme na forma de lingüetas rombudas. Porém, as margens laterais
e profunda do corte estão livres de neoplasia (notar que estão pintadas de preto com
tinta nanquim).
O carcinoma epidermóide, como o carcinoma basocelular, é um dos tumores mais
comuns da pele. Sua freqüência aumenta a partir da meia idade e predomina em
pessoas de pele clara e em áreas da pele expostas ao sol, mas pode ocorrer em
qualquer região cutânea.
DERMATOPATOLOGIA
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Ao contrário do carcinoma basocelular, que quase nunca dá metástases, o carcinoma
epidermóide tende a metastatizar por via linfática para linfonodos próximos. Tumores
mais agressivos podem também dar metástases hematogênicas a órgãos distantes
(fígado e pulmão, por exemplo).
DERMATOPATOLOGIA
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Em certas regiões do tumor, as células neoplásicas podem não apresentar aderências
intercelulares (desmossomos) e se mostrarem soltas, assumindo forma arredondada
e tonalidade fortemente eosinófila.
O fenômeno é análogo ao já observado nos pênfigos, mas a patogênese é diferente.
Enquanto nos pênfigos há destruição dos desmossomos por um fenômeno imune, no
carcinoma epidermóide os desmossomos deixam de formar-se por anomalias
intrínsecas das próprias células, decorrentes da transformação neoplásica. (acantólise)
DERMATOPATOLOGIA
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O carcinoma epidermóide da peça anatômica acima tem caráter úlcero-vegetante
(fazendo saliência na superfície) e é mais ou menos bem delimitado, apesar de os
limites serem irregulares.
Na prática, é muito difícil o diagnóstico diferencial dele na macroscopia, sendo
obrigatório o exame histopatológico. Para definir se as margens cirúrgicas estão livres
de tumor é necessário pintá-las com tinta nanquim.
Na outra peça (dedo do pé), o tumor destruiu a maior parte da epiderme. Chama a
atenção o caráter vegetante e elevado da lesão, com aspecto em couve-flor.
Substituição da pele do dedo por tecido saliente, espesso, de superfície rugosa e
irregular.
Na peça P-15, há ampla lesão neoplásica ulcerada com bordos em moldura. A
margem de pele envolvente mostra irregularidades na superfície compatíveis com
retração cicatricial pós-queimadura. Atividade regenerativa de um epitélio é um fator que
predispõe à transformação neoplásica.
• CARCINOMA BASOCELULAR
Neoplasia epitelial de baixo grau de malignidade. É a mais frequente, correspondendo
a 70-80% das neoplasias cutâneas em nosso meio. Originado das células da camada
DERMATOPATOLOGIA
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basal da epiderme, que não são queratinizadas e são
pluripotentes, por isso o nome. Crescimento lento, insidioso.
Pode estar presente em qualquer área do tegumento,
sobretudo na face. Ocorre mais nos dois terços superiores
da face, acima de uma linha passando pelos lóbulos das
orelhas e comissuras labiais. É excepcional nas regiões
palmo-plantares.
Surge nos dois sexos, sem predileção, quase só na idade adulta, sobretudo após os 40
anos, sendo fatores predisponentes a exposição à luz solar e pele clara.
O carcinoma basocelular pode ser sólido (imagem acima, maioria), pode ser
esclerosante (maior capacidade de infiltração local), superficial (crescimento mais
radial) e pode ser pigmentado (células basais com melanina). Pode confundir com
outras lesões cutâneas.
DERMATOPATOLOGIA
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A forma esclerosante, quando está próxido das fendas natuais da face,
associado a doença genética (nevo basocelular), de longa duração e
invasão de planos profundos há bastante chance de recidivas (H da
face). Em geral o prognóstico é bom e a cura é de 92%.
- Síndrome do Nevo Basocelular (de Gorling-Gorlitz): aparecimento
de tumores basocelulares em jovens, também na face. Pode aparecer
até em crianças.
As principais complicações do CBC são infiltração dos planos
profundos, ulceração, sangramento, infecção, dor, desfiguração e
incapacidades.
Metástases são excepcionais. Entretanto, possui malignidade local, podendo invadir e
destruir tecidos subjacentes, inclusive tecido ósseo.
Clinicamente apresenta-se como pápulas peroladas (meio rosadas) que muitas vezes
contêm vasos sangüíneos subepidérmicos proeminentes e dilatados (telangiectasias).
Pode ter pontos pigmentados em preto e ulceração.
Histologicamente, as células tumorais são semelhantes às da camada basal da
epiderme e de anexos. Apresentam-se sob a forma de cordões e ilhotas de células
basofílicas (escuras), em que o citoplasma é escasso e mal delimitado, com núcleo
oval ou alongado e hipercromático. Células mais maduras.
Na periferia dos blocos neoplásicos as células caracteristicamente apresentam arranjo
radial, núcleos lado a lado, dando aspecto "em paliçada". As figuras de mitose não são
numerosas.
Infiltra a derme! Pode estar preso à epiderme ou aos anexos mas infiltra a derme.
Podemos ver aumento do pigmento melânico, o que corresponde aos pontos
pigmentados na macroscopia.
O tecido conjuntivo ao redor prolifera e se retrai, criando fendas junto ao tumor, além de
mostrar infiltrado linfoplasmocitário em grau variado.
DERMATOPATOLOGIA
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O carcinoma basocelular pode, ainda, sofrer necrose e formar cavitações císticas, se
transformando num carcinoma sólido e cístico.
→ CARCINOMA BASOCELULAR
Fragmento de pele da face retirado da região malar esquerda de uma mulher de 67
anos, de pele clara, lavradora, com longa história de exposição ao sol. A lesão formava
uma placa elevada com cerca de 2 cm. de diâmetro, ulcerada e de bordos perláceos.
Evolução de cerca de 2 anos.
O carcinoma basocelular é uma das neoplasias mais comuns da pele. Tende a ocorrer
após a meia idade e tem grande predileção por áreas expostas, principalmente na face
(sobrancelhas, região malar, orelhas, nariz e lábios).
É um tumor de invasividade local, que se não tratado pode destruir extensas áreas
(chamado úlcera roedora ou ulcus rodens). Contudo, é difícil dar metástases, mesmo
para linfonodos próximos. Se o tumor é retirado totalmente, em geral há cura definitiva.
Para isso é necessário que as margens cirúrgicas estejam livres de tumor.
Localização preferencial dos
carcinomas na pele da face. Se
passarmos uma linha pela comissura
labial e lobo da orelha, os carcinomas
basocelulares são mais freqüentes
acima desta linha e os carcinomas
epidermóides abaixo.
DERMATOPATOLOGIA
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O tumor destruiu a epiderme e ocupa o derma como blocos celulares arredondados,
formados por células que lembram as da camada basal da epiderme (núcleo ovalado,
cromatina densa, citoplasma escasso e basófilo).
Em cada bloco o centro é sólido
(totalmente preenchido por células). Na
periferia, as células tendem a formar
uma camada mais nítida, em que os
núcleos estão arranjados
perpendicularmente à superfície do
agrupamento (disposição em
paliçada), um aspecto muito próprio do
carcinoma basocelular. O limite com a
derme na profundidade é nítido,
indicando que a capacidade infiltrativa
do tumor é pequena.
DERMATOPATOLOGIA
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O carcinoma basocelular tem um aspecto considerado característico, com bordas
elevadas e de aspecto perláceo. É clássica a denominação macroscópica de 'ulcus
rodens' ou úlcera roedora.
DERMATOPATOLOGIA
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Na prática, é muito difícil o diagnóstico diferencial de ambos na macroscopia, sendo
obrigatório o exame histopatológico. Para definir se as margens cirúrgicas estão livres
de tumor é necessário pintá-las com tinta nanquim.
2. TUMORES DOS MELANÓCITOS
• NEVO MELANOCÍTICO
Também chamado de Nevo Pigmentado ou Nevo Nevocelular. Essencialmente, o termo
nevo denota qualquer lesão congênita da pele. São pintas na pele, hamartomas.
Entretanto, o nevo nevocelular refere-se a um tumor de melanócitos, que são células
que ficam na camada basal da epiderme e tem origem diferente dos queratinócitos, são
derivadas da crista neural e capazes de produzir melanina. Os melanócitos tem
dendritos que transferem os grânulos para o citoplasma dos queratinócitos, mas no caso
dos nevos e melanoma eles perdem esses dendritos.
Os nevos podem ser congênito ou adquirido (surgir na
infância, adolescência, vida adulta). São benignos, mas que
tem risco maior de se transformar num melanoma.
São lesões muito freqüentes, solitárias ou múltiplas,
caracterizadas por pápulas, geralmente acastanhadas,
lisas, ora verrucosas, contendo ou não pelos na superfície.
Eles podem se modificar com a idade sim, pois envelhecem
junto com a pele. Podem acometer mucosas (olho, boca,
vagina).
Histologicamente, são compostos por melanócitos que
perderam os prolongamentos dendríticos (células névicas).
Essas células têm forma redonda a oval, contêm núcleo
uniforme sem nucléolo proeminente, e formam ninhos bem
definidos.
DERMATOPATOLOGIA
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Os ninhos de melanócitos crescem ao longo da junção dermo-epidérmica, sendo então
denominados nevos nevocelulares juncionais (lentiginoso). São maculas
acastanhadas-escuras e aparecem bem cedo na vida. Os melanócitos se concentram
em prolongamentos da epiderme para a derme.
Com o passar do tempo, as células névicas começam a crescer para baixo, vão
penetrando na derme e se transformando em nevos nevocelulares compostos (ou
epidermo-dérmicos). Geralmente possuem pelos.
Finalmente, as lesões mais antigas podem perder seus componentes epidérmicos e se
transformam em nevos nevocelulares intradérmicos. Mais afinados, com menos
pigmentos, papulosos.
À medida que as células névicas ganham as porções mais profundas da derme, sofrem
uma modificação citológica e histoquímica que é denominada de maturação. As células
névicas na junção epidermo-dérmica ou na derme superficial tendem a se dispor em
ninhos, compostos por células maiores, poliédricas, com citoplasma amplo e
pigmentação melânica (células do tipo A).
Já as células névicas situadas na derme média tendem a ser menores, arredondadas,
não pigmentadas e a se disporem em cordões e fascículos (células do tipo B).
DERMATOPATOLOGIA
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Mais na profundidade na derme, as células
névicas tornam-se fusiformes e sem
pigmentos, assumindo um aspecto
semelhante a tecido neural (células do tipo
C). Lembram células de schwann, por ser
alongados. Assim, são chamados “nevos
neurais” os que tem elas.
Essa metamorfose parece estar relacionada
com o envelhecimento progressivo das
lesões e com alterações enzimáticas nessas
células.
A associação entre lesões névicas e o
melanoma tem sido descrita, principalmente
nas grandes lesões névicas congênitas (maiores que 2cm), em nevos de junção e
nevos displásicos.
Os Nevos Atípicos (displásicos) tem características de alerta: bordas irregulares,
tonalidades diferentes; mas ainda bem discreto. Os melanócitos estão agrupados
abaixo da epiderme com discreta variação de volume e pigmentação. Só na parte
juncional que tem essas atipias. Há fibrose da derme papilar ao redor deles. Pode ter
infiltrado inflamatório inespecífico na derme.
Os nevos que temos que ficar atentos são os que crescem rápido, se modificam rápido,
mudam de cor ou sangram. Ou nevos que ficaram muito diferentes dos outros (“patinho
feio”).
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→ NEVO NEVOCELULAR INTRADÉRMICO
Este fragmento de pele foi retirado de uma mulher de 18 anos com pintas de 0,3 a 0,8
cm de diâmetro, acastanhadas e verrucosas, localizadas no dorso e presentes desde a
infância.
Na derme há extenso agrupamento de células
névicas, que aparece como área com maior
densidade de núcleos logo abaixo da derme normal
(rósea clara a parte superficial da derme). Trata-
se de uma neoplasia benigna de melanócitos.
As células mais superficiais são maiores e com
mais citoplasma, tendo aspecto epitelióide e
arranjo em ninhos (células névicas do tipo A).
Geralmente contêm pigmento melânico, mas, no
presente exemplo, este é escasso e só visto em
certas áreas.
Progressivamente em direção à profundidade, as
células se mostram arredondadas e ficam
menores, com menos citoplasma (tipo B) e, na
porção mais profunda, tornam-se alongadas ou
fusiformes (tipo C), lembrando células de
Schwann (diferenciação schwannóide).
Esta progressão da superfície à profundidade
corresponde a um processo de maturação das
células névicas, que é didaticamente subdividido
em A, B e C. Lembrar que os melanócitos, dos
quais derivam as células névicas, são originados
da crista neural, como as células de Schwann. Nas
regiões intermediária e profunda não é encontrada
melanina.
DERMATOPATOLOGIA
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Os nevos são lesões extremamente comuns da pele, originam-se já na infância e em
geral perduram com pouca ou nenhuma modificação por toda a vida. Habitualmente não
sofrem transformação maligna, mas isto pode ocorrer numa pequena minoria,
originando um tumor de alta malignidade, o
melanoma maligno. Contudo, grande
parte dos melanomas não se origina em
nevos e sim nos melanócitos da epiderme
normal, fora de nevos.
PARTE INTERMEDIÁRIA DO NEVO
PARTE PROFUNDA DO NEVO
DERMATOPATOLOGIA
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DERMATOPATOLOGIA
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• MELANOMA
Também chamado de Melanoma Maligno, mas é
uma redundância, pois todo melanoma já é muito
maligno. É uma neoplasia maligna originária dos
melanócitos, podendo surgir em qualquer parte da
pele, sobretudo nos membros inferiores e dorso.
Podem acometer mucosas também.
Tem alta letalidade e malignidade, correspondendo
a 4-8% dos tumores malignos. Podem aparecer de
novo (sem lesão prévia) ou por malignização de
nevos, manchas solares. Os nevos de maior risco
são os displásicos e os melanocíticos gigantes.
Luz solar, pele clara, fatores hereditários (casos na família) ou exposição a certos
carcinógenos podem representar papel importante no desenvolvimento e na evolução
da lesão. Exposições agudas e intermitentes ao sol principalmente na infância e
adolescência, e exposição crônica ao sol durante toda a vida estão mais relacionados
com melanoma em adultos-idosos. Tem certa predileção para o sexo feminino e acima
dos 30 anos de idade (até 60).
Clinicamente é assintomático, embora prurido possa ser uma manifestação precoce. É
freqüente a alteração de cor, com pigmentação variegada do preto ao castanho, ou
mesmo áreas desprovidas de qualquer pigmento (amelanóticas), além da assimetria
e irregularidade nas bordas.
Com isso, utilizamos a regra mnemônica do ABCD (alguns incluem o E):
Assimetria (passar um eixo e compararos lados);
Bordas irregulares;
Cores variadas;
Diâmetro maior que 6mm;
Evolução (se mudou, cresceu).
Reconhecem-se quatro tipos de melanoma:
melanoma tipo lentigo maligno, melanoma
extensivo superficial ou pagetóide, melanoma
nodular, e melanoma acral lentiginoso. Os dois
primeiros iniciam-se como melanoma "in situ".
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- Melanoma Lentigo-Maligno: relacionado com exposição crônica ao sol.
Inicialmente crescimento horizontal em áreas expostas ao sol e principalmente em
idosos. São mais indolentes (lentigo maligno). Quando infiltram a derme são chamados
de Lentigo Maligno-Melanoma.
É uma mancha acastanhada clara com pontos enegrecidos e limites irregulares.
- Melanoma Extensivo Superficial: é o mais comum, geralmente de nevos prévios
(1/3). Se inicia com crescimento radial dos melanócitos ou para as partes superiores da
epiderme, mas com o tempo pode infiltrar a derme.
Lesões papulosas/maculares castanho-enegrecidas, com 3 ou 4 cores e bem
irregulares. São mais vistos no tronco dos homens e membros inferiores nas mulheres
(panturrilhas).
- Melanoma Nodular: surgem de novo, com crescimento vertical e exofítico. Logo
infiltra a derme e tem muito rico de metástases (bem agressivos). Lesão papulo-
tumoral enegrecidas que podem ulcerar.
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- Melanoma Acral Lentiginoso: acomete mais as palmas das mãos e planta dos pés,
principalmente em negros e asiáticos. Também podem aparecer na região sub e
periungueal.
Quando acral subungueal ele acomete a matriz ungueal, podendo fazer uma estria
enegrecida ao crescer junto com a lâmina (Melanoníquia estriada). Essa estria pode
continuar na pele ao redor da unha, chamamos de Sinal de Hutchinson. Pode destruir
completamente a unha e causar deformidades, ou ainda ser despigmentado (dificulta
muito o diagnóstico).
Nas palmas e plantas são manchas enegrecida bem preta que cresce devagar. O
crescimento inicial é radial mas por aparecer em lugares não muito comuns (pode ter
hematomas, sangramento) e formato diferente o diagnóstico é tardio.
- Melanoma Amelanótico: é bem raro. O tumor está tão indiferenciado que nem produz
mais melanina. Caráter muito agressivo e o diagnóstico é tardio por conta de não
parecer um melanoma típico e confundir com outros cânceres.
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Histologicamente, são reconhecidos dois tipos celulares principais: melanoma de
células epitelióides e melanoma de células fusiformes.
As células neoplásicas são consideravelmente maiores que nos nevos, contêm núcleos
grandes com contornos irregulares e nucléolos proeminentes (eosinófilos, vinhoso).
Pigmentação variada com grânulos de tamanho e concentrações diferentes. Tem áreas
do tumor com melanina e áreas sem.
Mitoses são vistas em número variável, sendo que sua presença em profundidade na
lesão é de grande ajuda para o diagnóstico. O tumor pode ter crescimento expansivo
radial (horizontal) e/ou vertical, com invasão da derme.
Podemos ver ulceração na microscopia e isso tem que estar descrito no laudo
histopatológico, pois a presença de ulceração está associada a maior gravidade e pior
prognóstico. Exigir no laudo informação se contém ou não ulceração.
Há melanocitose, que é a proliferação de melanócitos atípicos em direção às camadas
superficiais da epiderme.
O diagnóstico do melanoma é clínico, tem que avaliar a pele toda. Usamos a regra do
ABCD, dermatoscopia (instrumento tipo lupa com iluminação embutida) e biópsia
excisional. Evita-se fazer biopsia tipo agulhamento, sempre retirar a lesão inteira pois
isso auxilia no laudo histopatológico.
A profundidade alcançada pela invasão das células tumorais tem grande valor
prognóstico e deve constar em relato histopatológico. Utiliza-se da classificação em
níveis, proposta por Clark (Nível de Clark) onde:
Nível I - células tumorais estão limitadas a epiderme (in situ);
Nível II - invasão da derme papilar (superficial); melanócitos atípicos soltos
infiltrando a derme;
Nível III - invasão até os vasos sub-papilares (média);
Nível IV - invasão da derme reticular (profunda);
Nível V - invasão do hipoderma (subcutâneo).
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Breslow avaliou os melanomas pela espessura (Índice de Breslow), concluindo que
tumores menores que 0,75 mm não dão metástases, mas estas são freqüentes em
lesões com mais de 1,5 mm. Acima de 4mm é avançado, com muito risco de metástases
e baixa sobrevida. Esse índice é a informação mais importante sobre o tumor pois nos
ajuda a entender a gravidade.
Observa-se declínio dramático da sobrevida com o aumento do nível de Clark e da
espessura do tumor.
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Os melanomas de alto risco tem invasão precoce da derme, com metástases em
gânglios regionais e disseminação. As metástases em Satélites (Satelitose) são
implantes de melanócitos modificados a 2mm da lesão, vistas na microscopia. Os
Melanomas em Trânsito são implantes tumorais ao longo do trajeto linfático.
O comprometimento ganglionar metastático é freqüente (metástase linfática), podendo
ser precoce, seguido de metástases hematogênicas para qualquer órgão, inclusive a
própria pele (1º pele, 2º pulmões, 3º ossos). Quando o melanoma se origina de uma
metástase chamamos de Melanoma Metastático.
O tratamento é cirúrgico. Inicialmente há a remoção para biópsia, mas se dependendo
do microestadiamento tem que ampliar as bordas cirúrgicas ou retirar também
linfonodos sentinelas. No caso de metástases usamos também quimioterapia, mas a
resposta não é muito boa.
É indicado medidas de proteção (protetor solar fps mín 30, chápeus, óculos de sol etc),
autoexame sempre e, para grupos de risco, exame dermatológico anual.
→ MELANOMA
O melanoma é um tumor comum da pele. Outra localização habitual é a coróide
(camada pigmentada do olho, entre a retina e a esclera). Na pele, a luz solar é um fator
predisponente importante e as regiões mais comumente afetadas são o dorso e
membros inferiores. Indivíduos de pele clara têm maior risco. Alguns melanomas têm
origem em lesões melânicas prévias como o nevo nevocelular (mas mais comum
aparecer de novo).
O sinal clínico mais precoce do melanoma é o aparecimento de uma lesão pigmentada
nova na vida adulta, ou a mudança de tamanho e/ou de cor em uma lesão pigmentada
já existente. Ao contrário dos nevos, o melanoma costuma mostrar coexistência de
várias tonalidades de marrom, negro ou outras cores na mesma lesão, e o contorno
tende a ser irregular (não redondo como nos nevos). Pode haver prurido e
sangramento.
No melanoma, as células neoplásicas podem apresentar dois tipos de crescimento,
radial e vertical. Na fase inicial, o crescimento é radial ou horizontal. As células crescem
na junção dermo-epidérmica, como observado nas lesões chamadas lentigos (daí o
termo padrão lentiginoso). Clinicamente a lesão é plana, não elevada. Esta fase pode
durar muito tempo (até anos) sem que o tumor dê metástases.
Com o tempo porém inicia-se a fase de
crescimento vertical, em que as
células infiltram tanto a epiderme
acima, causando sua ulceração, como
a derme mais profunda, atingindo
vasos linfáticos e sanguíneos. A partir
daí a ocorrência de metástases é
praticamente certa. Clinicamente, esta
fase se caracteriza por aparecimento
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de um nódulo na lesão que era plana, e
corresponde à emergência de um clone de
células mais agressivas (através de mutações
gênicas, aberrações cromossômicas,etc.).
A profundidade atingida pelas células
neoplásicas quando do diagnóstico tem boa
correlação com o prognóstico, por isso é
medido pelos índices de Clark e de Breslow.
Tumor retirado da região lombar de uma mulher
com 36 anos de idade. A lesão era enegrecida,
elevada e ulcerada, medindo cerca de 2 cm. de
diâmetro, com contorno irregular.
Na área da periferia do corte, fora do tumor, os melanócitos estão normais. Eles são
células derivadas da crista neural. Caracterizam-se por citoplasma claro, e geralmente
contêm pouca melanina, pois injetam nos queratinócitos próximos a melanina que
sintetizam (processo dito de secreção citócrina).
ÁREA DE CRESCIMENTO VERTICAL (REGIÃO CENTRAL ULCERADA)
ÁREA DE EXTENSÃO RADIAL TRANSIÇÃO PARA PELE NORMAL
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Os melanócitos se localizam de forma espaçada entre os queratinócitos da camada
basal da epiderme. Em geral, para cada 10 queratinócitos há um melanócito, mas a
concentração é maior na porção apical dos cones epiteliais. O número de melanócitos
varia nas diferentes regiões da pele, mas independe da raça; a diferença está na
capacidade de produção de melanina.
O melanoma é um tumor altamente maligno que se origina de melanócitos na camada
basal da epiderme e infiltra a derme. A porção central do tumor é espessa e ulcerada,
já que a epiderme foi destruída pela neoplasia.
Esta região é chamada de área de crescimento vertical do tumor. Aí vemos uma
área pigmentada (melanótica), onde as células neoplásicas produzem abundante
melanina, e outra onde a melanina é escassa (área amelanótica). Pode haver casos
em que não há produção de melanina em nenhuma parte do tumor (melanomas
amelanóticos).
Notar que a produção ou não de melanina não está relacionada ao prognóstico do
melanoma. De cada lado da porção central, há uma região onde a epiderme ainda está
preservada, mas as células neoplásicas crescem na junção dermo-epidérmica. É
chamada área de extensão radial do tumor, e faz transição para a pele normal. Neste
caso, as margens cirúrgicas estão livres de neoplasia.
Área de crescimento vertical (parte melanótica)
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Área de crescimento vertical (amelanótica)
COMPARAÇÃO
Na porção central o tumor ulcerou a epiderme e infiltra a derme. O tumor é sólido,
com alta celularidade e é constituído por células atípicas, com núcleos
hipercromáticos e citoplasma basófilo.
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O nucléolo é geralmente evidente e não raro
eosinófilo. Há numerosas mitoses. Há uma região
melanótica e outra amelanótica. Nesta última, as
células neoplásicas produzem muito pouca ou
nenhuma melanina.
O aspecto das células no melanoma pode ser muito
variável. Pode lembrar células epiteliais, imitando um
carcinoma; podem ser células fusiformes, lembrando
um sarcoma; podem ser arredondadas e com pouco
citoplasma, sugerindo um linfoma, etc.
Em casos de melanoma amelanótico indiferenciado o diagnóstico pode ser muito difícil
na hematoxilina-eosina, particularmente se o tumor é metastático e não se sabe o local
do primário. Nestes casos são utilizadas técnicas imunohistoquímicas para tentar
demonstrar antígenos próprios do melanoma. Entre eles estão o HMB-45 e a proteína
S-100 (presente em células originadas na crista neural), entre outros.
Área de extensão radial
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Na chamada área de extensão radial, na
periferia do tumor, as células neoplásicas
avançam pelo limite dermo-epidérmico
(aspecto lentiginoso) e em torno dos anexos,
como glândulas e folículos pilosos (extensão
radial e anexial).
Formam massas celulares de aspecto frouxo
que comprimem e destróem os queratinócitos.
Além da propagação radial, as células
neoplásicas apresentam ainda progressão
vertical, isto é, migração para a superfície,
atingindo o estrato córneo na forma de células
isoladas ou ninhos (melanocitose). Com o
tempo, a epiderme é destruída, resultando ulceração.
Notar nas peças anatômicas a cor marrom escura, quase negra do tumor, devida à
produção de melanina pelas células neoplásicas. As áreas esbranquiçadas são
artefatos do processo de plastificação.
Na peça do pé há grande lesão tumoral vegetante e saliente, com áreas enegrecidas,
na região dorso-lateral do pé E. Embaixo, melanoma maligno amelanótico (desprovido
de pigmento melânico), provavelmente metastático na pele.
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• OUTROS TUMORES MENOS FREQUENTES
Não são carcinomas nem melanomas, mas podem ocorrer com certa frequência.
- Hidradenoma Maligno: neoplasia maligna das glândulas sebáceas, exofíticas.
- Dermatofibrossarcoma: neoplasia maligna de fibroblastos da derme, nódulos.