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Fundamentos Históricos e Filosóficos

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Indaial – 2021
do direito
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
1a Edição
Fundamentos 
Históricos e 
FilosóFicos
Elaboração:
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Copyright © UNIASSELVI 2021
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
L788f
 Lixa, Ivone Fernandes Morcilo
 Fundamentos históricos e filosóficos do direito. / Ivone Fernandes 
Morcilo Lixa. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 236 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-556-9
 ISBN Digital 978-65-5663-555-2
1. Direito moderno. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 340
Vivemos um tempo alucinado e alucinante! Distâncias são cada vez menores. A co-
municação nos une em escala planetária em tempo real, mas paradoxalmente nunca esti-
vemos tão sem esperanças e com medo. O cotidiano é de uma pandemia global que causou 
a morte e coloca em risco a sobrevivência de milhares de seres humanos em todo planeta. 
 
E assim, nosso cotidiano vai sendo dominado por um crescente medo desenraizado 
que se alimenta pelo anúncio do fim das grandes utopias. Nesta segunda década do 
século XXI não há definição dos rumos dessa etapa da história vista, por alguns, como 
uma autêntica “encruzilhada” que nos obriga a pensar acerca de qual caminho seguir: 
civilização ou barbárie. Tempos difíceis e inéditos em que saberes são redefinidos, formas 
de poder são reinventadas e maneiras pouco éticas de controle e de geração de riqueza 
vão ampliando e aprofundando novas formas de exclusão e perversidades. 
É nesse cenário que convidamos você a refletir o Direito Moderno desde a 
história e a filosofia.
Talvez você esteja se perguntando: restaria ainda algo a ser repensado? Para quê? 
Por quê? Aceitando o desafio de responder algumas dessas perguntas e Inquietações de nos-
so tempo é que apresentamos este livro de Fundamentos Históricos e Filosóficos de Direito. 
“Viajando” pelo mundo da história e da filosofia iniciamos nossa conversa. 
Na primeira unidade, vamos ter a oportunidade de compreendermos melhor qual 
a função da Filosofia e da História e de que maneira desde tais reflexões pode nos ajudar 
a compreender melhor os fundamentos e elementos que constituem o Direito Moderno. 
Juntos vamos percorrer a história do pensamento ocidental buscando individualizar o 
legado de cada momento para as reflexões acerca do justo e do direito. 
Na segunda unidade, compreenderemos os fundamentos históricos e filosófi-
cos do direito moderno e finalmente, na terceira unidade, retornamos ao mundo con-
temporâneo e descortinando o véu de nossa ingenuidade desde a criticidade, refletire-
mos sobre os desafios do direito brasileiro contemporâneo. 
Sem dúvidas, o estudo proposto é desafiador e um convite para sairmos do lugar 
comum, do nosso conforto e aparente segurança. O caminho é difícil, mas necessário, 
afinal é preciso nos mantermos apaixonados pelo Direito e com esperança para que 
possamos acreditar na transformação. É isso que nos mantém vivos e nos humaniza. 
Bons estudos!
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - HISTÓRIA, FILOSOFIA E DIREITO NO PENSAMENTO JURÍDICO 
 OCIDENTAL ....................................................................................................... 1
TÓPICO 1 - O DIREITO DOS POVOS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO 
 (MESOPOTÂMIA, HEBREUS E EGITO) ................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 OBJETIVOS DO ESTUDO DA HISTÓRIA E DA FILOSOFIA DO DIREITO ............................5
3 OS PRIMEIROS NÚCLEOS HUMANOS .............................................................................. 12
4 O DIREITO DOS POVOS DA MESOPOTÂMIA, HEBREUS E EGITO .................................... 15
5 O CÓDIGO DE HAMURABI: UMA PRECIOSA HERANÇA DA MESOPOTÂMIA .................. 23
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 26
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................27
TÓPICO 2 - O MUNDO GRECO ROMANO E SEU LEGADO ................................................... 29
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29
2 A CONCEPÇÃO DE DIREITO E JUSTIÇA GREGA ............................................................ 36
3 A ORGANIZAÇÃOADMINISTRATIVA E JUDICIAL DE ATENAS ....................................... 41
4 O HELENISMO .................................................................................................................. 44
5 O LEGADO ROMANO ..........................................................................................................47
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 53
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 54
TÓPICO 3 - O DIREITO NO MUNDO MEDIEVAL................................................................... 55
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 55
2 A PATRÍSTICA E O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO ........................................... 56
3 A CULTURA JURÍDICA MEDIEVAL .................................................................................. 63
4 A HERANÇA CULTURAL PARA A MODERNIDADE ........................................................... 65
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 66
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 69
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................70
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 71
UNIDADE 2 — O DIREITO MODERNO E SEUS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS 
 E FILOSÓFICOS ............................................................................................. 77
TÓPICO 1 — O MEDIEVAL E O LEGADO PARA A MODERNIDADE ........................................79
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................79
2 A REFORMA GREGORIANA: MARCO DO DIREITO CANÔNICO ....................................... 82
3 OS CONCEITOS DE JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ....................................................... 84
4 O PROCESSO INQUISITORIAL ......................................................................................... 86
5 A CRENÇA NA VERDADE REAL ........................................................................................ 92
6 O DIREITO COMUM MEDIEVAL .........................................................................................95
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 101
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................102
TÓPICO 2 - A MODERNIDADE: UM CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES ............................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103
2 EXPLANAÇÃO .................................................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 115
TÓPICO 3 - O DIREITO MODERNO E O POSITIVISMO JURÍDICO ......................................117
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117
2 EXPLANAÇÃO ..................................................................................................................117
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................133
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................134
TÓPICO 4 - OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO 
 MODERNO ....................................................................................................... 137
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 137
2 HANS KELSEN E A PURIFICAÇÃO DO DIREITO .............................................................139
3 CRISE E CRÍTICA: OS LIMITES DA RACIONALIDADE JURÍDICA MODERNA ................146
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................154
RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................................156
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 157
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................159
UNIDADE 3 — A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO BRASILEIRO ...........................165
TÓPICO 1 — AS RAÍZES DA CULTURA JURÍDICA BRASILEIRA ........................................ 167
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 167
2 EXPLANAÇÃO ................................................................................................................. 167
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 174
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 175
TÓPICO 2 - A ORDEM JURÍDICA COLONIAL BRASILEIRA ............................................... 177
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 177
2 A ESTRUTURA JURÍDICA DO BRASIL COLÔNIA ........................................................... 179
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 191
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................192
TÓPICO 3 - O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DO DIREITO 
 NACIONAL .......................................................................................................193
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................193
2 A CULTURA JURÍDICA NACIONAL: O BACHARELISMO ...............................................196
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 202
TÓPICO 4 - OS DESAFIOS DO DIREITO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ........................ 203
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 203
2 A DIFÍCIL CONQUISTA DE DIREITOS ............................................................................. 206
RESUMO DO TÓPICO 4 ...................................................................................................... 208
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 209
TÓPICO 5 - DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS ................................. 211
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 211
2 A NOVA CONDIÇÃO NO COTIDIANO ...............................................................................2133 PALEOPOSITIVISMOS, JUSCONSTITUCIONALISMOS E RENOVAÇÃO CRÍTICA 
 NO BRASIL .......................................................................................................................213
4 PENSAMENTO CRÍTICO CONSTITUCIONAL: RENOVAÇÃO POLÍTICA, JURÍDICA 
 E FILOSÓFICA ..................................................................................................................219
5 NOVOS MARCOS FILOSÓFICOS DO DIREITO CONTEMPORÂNEO ................................221
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 226
RESUMO DO TÓPICO 5 ...................................................................................................... 228
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 229
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................231
1
UNIDADE 1 - 
HISTÓRIA, FILOSOFIA E 
DIREITO NO PENSAMENTO 
JURÍDICO OCIDENTAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a relação História, Filosofia e Direito;
• identificar os objetivos do estudo da História e da Filosofia do Direito;
• observar as características e as contribuições do mundo antigo para o pensamento 
jurídico moderno;
• discutir a particularidade do Direito no mundo greco-romano e o legado à 
modernidade;
• analisar as particularidades do pensamento jurídico medieval e o legado à 
modernidade.
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de 
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – O DIREITO DOS POVOS DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO (MESOPOTÂMIA, 
HEBREUS E EGITO)
TÓPICO 2 – O MUNDO GRECO ROMANO E SEU LEGADO
TÓPICO 3 – O DIREITO NO MUNDO MEDIEVAL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
O DIREITO DOS POVOS DO ANTIGO ORIENTE 
PRÓXIMO (MESOPOTÂMIA, HEBREUS E EGITO)
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história, nas distintas etapas e diversas sociedades encontramos 
formas de controle e proteção de valores que possibilitam a vida comum. Esses valores, 
ou bens jurídicos, são amparados e garantidos por um conjunto de normas jurídicas 
definidas conforme a ordem social, política e/ou econômica que se encontra em 
contínua mudança, e por esta razão as normas jurídicas vão reconhecendo as alterações 
de acordo com a época e as relações definidas no substrato social. 
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
A vida social é regida por diversas normas, preceitos, que definem condutas 
(morais, religiosas, culturais etc.), dentre as quais as normas jurídicas. 
Normas jurídicas são distintas das demais por dois fatores principais: 
emanam de uma autoridade política competente e possuem poder 
coercitivo. Em outras palavras, em primeiro lugar, as normas jurídicas 
são estabelecidas por órgãos ou instituições legítimas politicamente, 
portanto, distintas de normas morais. Como segundo fator, as normas 
jurídicas são impostas, com uso da força se necessário for, de forma a 
persuadir as pessoas a agirem de modo a atender às finalidades ou 
objetivos estabelecidos pelos órgãos políticos definidos. Assim, as normas 
jurídicas devem ser acatadas e colocadas à disposição dos indivíduos e 
da coletividade para fazer valer interesses e necessidades, bem como 
proteger seus bens de distintas naturezas e características.
NOTA
Desde tal perspectiva, surgem algumas perguntas que devemos responder 
inicialmente: é possível estudar esse conjunto de normas que vão definindo o direito? 
Como estudar esse fenômeno social que chamamos de direito? Para que estudar 
direito? As distintas respostas que podem ser dadas recaem em alguns pontos comuns: 
a necessidade de conhecer o direito, de determiná-lo, estabelecer a relação com as 
ideias e/ou valores e/ou interesses do grupo social em que se insere. Exatamente essa 
é a função dos pesquisadores do direito, e desde as investigações vão sendo redefinidos 
conceitos operacionais que são utilizados para definir e fundamentar a norma jurídica 
adequada do caso concreto.
4
Dessa maneira, vai sendo definida a cultura jurídica de um determinado grupo 
em um determinado tempo. Segundo Wolkmer (2007, p. 5), cultura jurídica pode 
ser definida como “representações padronizadas da (i)legalidade na produção das 
ideias, no comportamento prático e nas instituições de decisão judicial, transmitidas 
e internalizadas no âmbito de determinada formação social”. Portanto, o conjunto 
de normas e procedimentos, considerados justificáveis e apoiados ou não pela força 
instituída, vão padronizando condutas e construindo a concepção de direito. Pode-se 
compreender direito como fenômeno sociocultural produzido e reproduzido desde um 
contexto histórico.
Pode-se conceituar a História do Direito como parte da História geral 
que examina o Direito como fenômeno sociocultural, inserido num 
contexto fático, produzido dialeticamente pela interação humana 
através dos tempos, e materializado evolutivamente por fontes 
históricas, documentos jurídicos, agentes operantes e instituições 
legais reguladoras (WOLKMER, 2007, p. 5).
Vamos, então, percebendo que o campo do estudo da história do direito não 
é o da dogmática jurídica, que delimita conceitos desde concepções indiscutíveis e 
estáveis, mas um campo partilhado por outras disciplinas (teoria do direito, sociologia 
jurídica, antropologia jurídica, ciência política etc.) que permite compreender o contexto 
e as forças históricas, sociais, políticas, intelectuais, culturais etc., que definem as 
normas jurídicas vigentes.
Há autores que diferenciam dogmática de zetética jurídica. Dogmática jurí-
dica pode ser definida como campo de estudo acerca dos conceitos ope-
racionais do direito (“verdades” preestabelecidas) usados para solucionar 
na prática controvérsias jurídicas, portanto, é um estudo limitado, a grosso 
modo, à norma positivada. A zetética jurídica problematiza os dogmas e 
verdades jurídicas, questionando as premissas que definem a dogmática. 
Nessa perspectiva, a história do direito estaria no campo da zetética, uma 
vez que não apenas problematiza a dogmática jurídica contemporânea, 
como busca reconstruir as ideias e práticas jurídicas em determinado con-
texto histórico.
NOTA
Em síntese, o objetivo da história do direito é compreender a construção do 
direito atual, desde a articulação de fatores ao longo do tempo, reexaminando suas 
fontes de produção, as concepções, técnicas e instituições que o foram elaborando 
e legitimando. Assim, trata-se de um estudo essencialmente crítico que possibilita 
interpretar o direito desde a identificação dos valores consolidados e reproduzidos 
historicamente.
5
Considerando História não como narrativa de acontecimentos, mas expressão 
de experiências humanas que definem mudanças estruturais coletivas que não 
tratam simplesmente de investigação sobre personagens individuais, como os “heróis” 
ou “personagens”, mas de como a trama da vida move os indivíduos comuns desde 
desejos, necessidades, valores e interesses a criarem aspirações coletivas e romperem 
com estruturas e modelos dominantes. Trata-se, assim, de romper com o conceito de 
que História é uma mera narrativa de atos individuais, mas estudar História desde a 
possibilidade de mudanças do presente. É um ato de recusa de verdades absolutas 
e destinos imutáveis preestabelecidos, uma forma de adquirirmos a consciência das 
forças que nos levam coletivamente a agir desde as experiências vivenciadas. 
Mas por que e para quê filosofar sobre o direito e sua história?
Você deve estar se perguntando por que e para que estudar Filosofia, se seu 
interesse é Direito? Filosofia não é perda de tempo ou coisa de gente que “viaja” e vive 
nas nuvens?É natural que você pense assim, aliás, muitos perguntam para que serve a 
Filosofia. Estamos habituados a nos preocuparmos com o que nos traga recompensas 
materiais ou financeiras, afinal, temos apelos todos os dias pela mídia, por exemplo, 
a sermos utilitaristas e colocarmos nossa felicidade, bem como o sentido de nossa 
existência, na quantidade de coisas e bens que podemos comprar e acumular. Através 
da Filosofia aprendemos a conquistar uma felicidade muito particular: descobrir o sentido 
das coisas e de nossa própria existência para sermos donos de nosso próprio destino.
A Filosofia está presente em nosso cotidiano mais do que pensamos e tem 
influenciado ideias, discursos, ações políticas, conceitos de justiça, por exemplo, sem 
percebermos que é a Filosofia que nos permite ter a capacidade de escolhermos e 
valorarmos nosso agir, não apenas individualmente, mas com os demais com quem 
convivemos. E é isso, afinal, que nos torna civilizados. 
Iniciamos um estudo particular que nos vai ajudar a compreender que não existe 
nada “natural” no mundo jurídico. Vamos aprender que, embora sendo difícil, devemos 
conhecer a origem e a finalidade dos valores que regem o mundo do Direito desde sua 
historicidade, para nos tornar menos ingênuos e com mais certezas. 
2 OBJETIVOS DO ESTUDO DA HISTÓRIA E DA FILOSOFIA 
DO DIREITO 
O estudo da história do direito é a possibilidade de descobrir um fascinante 
universo, descobrir caminhos que foram percorridos por distintas civilizações ao longo 
do tempo e foram encontrando no direito o instrumento necessário para continuarem 
a vida em comum. Sem dúvida, nossa formação acadêmica exige compreender o 
6
presente desvelando os valores e as práticas jurídicas consolidadas ao longo do 
tempo, ampliando, assim, nossa cultura jurídica, sendo o estudo histórico do direito 
um importante elemento para o saber formativo e distinto do conjunto de disciplinas 
dogmáticas que constituem o ensino jurídico. 
O importante historiador do Direito, António Manuel Hespanha, destaca que 
enquanto as disciplinas dogmáticas visam “criar as certezas acerca do direito vigente, 
a missão da história do direito é problematizar o pressuposto implícito e acrítico das 
disciplinas dogmáticas, ou seja, o de que o direito dos nossos dias é o racional, o 
necessário, o definitivo” (HESPANHA, 2005, p. 21). A história do direito realiza sua função 
ao contribuir para a elaboração de uma perspectiva que compreenda o fenômeno do 
direito enquanto produto das relações e contextos sociais – econômicos, políticos etc. 
– localizados temporalmente, e assim é assegurada a formação crítica dos juristas.
Em que pese a disciplina de História do Direito estar presente nos cursos 
de Direito brasileiros em geral, talvez seja necessário ampliar sua função, sobretudo 
quando se tem em conta a necessidade de servir de instrumento de revisão das fontes 
legislativas e práticas das instituições jurídicas com vistas a alinhar o direito com as 
necessidades e condições sociais.
Em suma, a finalidade essencial da História do Direito é a interpretação 
crítico-dialética da formação e da evolução das fontes, ideias 
norteadoras, formas técnicas e instituições jurídicas, primando pela 
transformação presente do conteúdo legal instituído e buscando 
nova compreensão historicista do Direito num sentido social e 
humanizador (WOLKMER, 2007, p. 6). 
Estudar História do Direito desde uma perspectiva não linear – a que não 
concebe a história como acumulação progressiva de saber, mas como rupturas, avanços 
e retrocessos –, além da importância para a formação acadêmica, permite identificar 
forças e valores que vão conferindo legitimidade ao direito, e para tal tarefa é necessário 
estabelecer estratégias e caminhos metodológicos adequados. 
A concepção linear da história do direito compreende o presente como uma 
espécie de “celebração” do passado. O presente como única possibilidade 
inevitável do passado, de uma espécie de “padrão” universal de evolução. 
A “naturalização” e “sacralização” do presente é uma deformação histórica, 
pois o presente não é uma imposição do passado, mas o resultado de 
dinâmicas escolhas humanas. 
A “neutralização” da história constrói para os juristas uma lógica de direito 
abstrata e erudita sem preocupação com a finalidade maior do direito: a 
concretização de necessidades e proteção de bens humanos concretos.
NOTA
7
Em que pese a longa tradição da historiografia formalista nas faculdades de 
Direito em fins da década de 60 e ao longo dos anos 70, foi sendo definido um novo 
marco metodológico desde a criticidade e revisão dos modelos teóricos consolidados. 
Trata-se da emergência de uma corrente mais questionadora dos historiadores, 
problematizando a ingenuidade intelectual e a forma através da qual compreendem a 
realidade desde modelos deformados meramente teóricos. 
Este movimento, denominado Nova história, teve como “força” propulsora 
alguns eventos, tais como a renovação do pensamento crítico – “nova teoria crítica” 
da Escola de Frankfurt –, que problematizou a neutralidade ideológica, demonstrando 
que toda atividade humana é sempre política; a metodologia inovadora da Escola 
Francesa dos “Annales” – que contribuiu no campo do estudo do direito para uma visão 
interdisciplinar e relacional da história, concebendo a história do direito como parte da 
história social. A emergência do pensamento crítico latino-americano com pensadores 
como Paulo Freire, Franz Hinkelammert, Enrique Dussel, Antonio Carlos Wolkmer, entre 
outros, que são considerados matrizes de internalização da criticidade na cultura jurídica, 
representando uma espécie de “via alternativa” mais próxima de nossa realidade. Muitos 
outros se somam para uma mutação radical da historiografia em geral e jurídica, em 
particular, definindo, assim, uma opção metodológica desmistificadora que inclui a 
complexidade e diversidade da vida social no processo de edificação histórica do direito. 
“Escola de Frankfurt” é uma corrente de pensamento que emerge no 
contexto político e histórico muito problemático. Em meio à ascensão do 
nazismo na Alemanha e ao stalinismo na Rússia, um grupo de intelectuais 
vinculados ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, 
alinhados ao que foi se denominando Teoria Crítica, passa a produzir 
obras, pesquisas e análises sociais entre os anos 1920 a 1970 desde um 
marxismo heterodoxo. Para conhecer melhor sobre a Escola de Frankfurt 
e A Teoria Crítica, você pode consultar http://brasilescola.uol.com.br/
filosofia/a-escola-frankfurt-introducao-historica.htm.
DICAS
8
O nome Escola dos Annales se refere a um grupo de historiadores 
liderados por Lucien Febvre e Marc Bloch, que se organizaram 
em torno do periódico francês  Annales d'histoire économique 
et sociale  (Anais de história econômica e social), no qual eram 
publicados seus principais trabalhos. O principal objetivo desses 
historiadores era a problematização do positivismo histórico 
dominante e o desenvolvimento de um tipo de História que levasse 
em consideração novas fontes para a pesquisa histórica, como a 
sociologia, a economia, a semiologia etc., considerando a história 
como a ciência do presente e não do passado, investigando as 
transformações e rupturas sociais ao longo do tempo.
NOTA
A nova concepção das fontes, funções e concepções de Direito 
conduz à revisão crítica da análise e estudo do passado das 
instituições jurídicas e das práticas de controle, problematizando o 
modelo contemporâneo. Desde aí, o Direito Moderno é compreendido 
desde uma nova perspectiva que permite identificar os fatores e 
elementos políticos, sociais, econômicos e culturais subjacentes ao 
processo histórico desenvolvido entre os séculos XVI a XIX na Europa 
que acabou por definir a cultura jurídica dominante nos dias de hoje. 
Em síntese, o que atualmente se compreende por Direito é resultado do 
contexto histórico europeu moderno organizado desde a consolidação 
do capitalismo liberal quefoi definindo uma estrutura política e 
jurídica estatal centralizada, modelo este que, por conta da expansão 
colonizadora, foi colocado em marcha a partir do século XIV. 
O fundamento nuclear do Direito Moderno é o individualismo liberal, 
expressão maior do valor moral da sociedade burguesa emergente, que 
coloca o homem como ser individual autônomo e formalmente livre. 
Nessa dinâmica histórica, a ordem jurídica é instrumentalizada como 
estatuto de uma sociedade que proclama a vontade individual, 
priorizando formalmente a liberdade e a igualdade de seus atores 
sociais (WOLKMER, 2007, p. 30). 
Como adiante será melhor estudado, “Modernidade” é definida como 
um modelo civilizatório construído desde a Europa entre os séculos 
XIV a XIX, que veio a substituir o modo de vida medieval. Tem, como 
características, o predomínio de concepções políticas e jurídicas liberais 
individualistas.
ESTUDOS FUTUROS
9
Considerando a história do direito como campo de estudo que tem como 
objetivo a compreensão do presente a partir da revisão crítica do passado, evidencia-se a 
finalidade maior de nossos estudos: rever historicamente as experiências do direito com 
vistas a adquirir uma consciência do Direito Moderno mais humanizadora e libertária.
 
Mas e a filosofia? Quais as suas importâncias no estudo do direito? 
Vivemos um cotidiano marcado por discursos e práticas que costumamos 
rotular de “justas/injustas” ou “certas/erradas”; e não raras vezes nos vemos exigindo 
“o que nos é de Direito”. O que exatamente estamos colocando em questão? O que é 
o justo e injusto em um mundo marcado por tão profundas contradições e aparente 
desesperança?
Os últimos anos do século XX testemunharam grandes mudanças 
em toda a face da Terra. O mundo torna-se unificado – em virtude 
das novas condições técnicas, bases sólidas para uma ação 
humana mundializada. Esta, entretanto, impõe-se à maior parte da 
humanidade como uma globalização perversa.
Consideramos, em primeiro lugar, a emergência de uma dupla tirania, 
a do dinheiro e a da informação, intimamente relacionadas. Ambas, 
juntas, fornecem as bases do sistema ideológico que legitima as 
ações mais características da época e, ao mesmo tempo, buscam 
conformar segundo um novo ethos as relações sociais e interpessoais, 
influenciando o caráter das pessoas. A competitividade, sugerida pela 
produção e pelo consumo, é a fonte de novos totalitarismos, mais 
facilmente aceitos graças à confusão dos espíritos que se instalam. 
Tem as mesmas origens a produção, na base mesma da vida social, 
de uma violência estrutural, facilmente visível nas formas de agir dos 
Estados, das empresas e dos indivíduos. A perversidade sistêmica é 
um dos seus corolários (SANTOS, 2011, p. 18). 
Frases como “isso é uma verdade” já não são ditas com tanta facilidade. As 
verdades parecem provisórias. É um tempo em que tudo parece se transformar com 
rapidez alucinante. Mal temos tempo de compreender conceitos, valores, ideias ou 
comportamentos que repentinamente já são ultrapassados. Como nós, que pensamos 
o Direito, podemos lidar com esse aparente “pós tudo” sem cairmos na cilada do senso 
comum, dos dogmas ou das verdades midiáticas criadas todos os dias?
Dogma é uma “verdade a priori” aceita sem questionamentos. O 
dogmatismo ao longo da história resultou em intolerância e opressão. 
Em sentido contrário, o pensar crítico é uma postura que visa rever os 
dogmas e os contextos teóricos, fáticos, ideológicos e culturais que os 
sustentam e os legitimam.
NOTA
10
Há uma realidade na qual estamos inseridos que exige uma explicação! 
Diariamente fazemos escolhas e julgamentos de valores, pois somos movidos por 
crenças, valores, preconceitos, enfim, um conjunto de idealizações e representações 
tanto individuais como coletivas que nos permite viver em sociedade. 
Como diz a filósofa Marilena Chauí (2000, p. 8):
Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças 
silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca 
questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no 
espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na 
verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre 
verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença 
entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do 
bem e do mal, da moral, da sociedade. 
No esforço de ir além das “verdades postas” é preciso uma atitude reflexiva 
metódica, ou seja, é necessário um “distanciamento” da realidade e dos fatos para que 
possamos interrogar a nós mesmos e aos conceitos que parecem inquestionáveis. 
Neste momento podemos sentir que nossas certezas são questionadas e tudo parece 
possível de ser redefinido ou repensado. 
É desde aí, desta “atitude reflexiva”, que falamos em “Filosofia”. Desde uma 
atitude que permite discutir o que parece óbvio e natural. Claro que refletir sobre as 
verdades e a realidade que nos cerca é uma dura escolha. Pode ser que sejamos mais 
felizes ou mais otimistas com o superficial, afinal, ser inquieto é não se deixar levar 
tão facilmente. É não aceitar passivamente o que nos é oferecido como “alternativa 
possível”. Desde a atitude reflexiva descobrimos que não podemos ser felizes a vida 
toda e todo o tempo. E essa é talvez a tarefa mais urgente de nosso tempo. Enfrentar o 
medo das incertezas é o grande desafio que se coloca diante de nós quando decidimos 
assumir uma atitude reflexiva. Devemos ter a coragem de sair do nosso “agradável e 
confortável” senso comum. “Acontece que tendemos a descobrir algo agradavelmente 
reconfortante quando ouvimos melodias que sabemos de cor” (BAUMAN, 2008, p. 29). 
Esse distanciamento das “melodias que sabemos de cor”, das verdades 
cotidianas, a fim de assumirmos uma atitude questionadora de si mesmo e desejar 
conhecer por que e para que são nossas crenças e sentimentos é que podemos chamar 
de atitude filosófica.
A atitude filosófica é o ato de reflexão questionadora própria do filósofo, daquele 
que, tendo a consciência de que o saber é sempre provisório e também infinito, renova 
e reinventa sempre as perguntas que formula. É assumir o risco de viver sem verdades.
11
Para o jusfilósofo brasileiro Miguel Reale (2002, p. 5-6):
Filósofo autêntico, e não o mero expositor de sistemas, é, como o 
verdadeiro cientista, um pesquisador incansável, que procura sempre 
renovar as perguntas que formula, no sentido de alcançar respostas 
que sejam ‘condições’ das demais. A filosofia começa com um estado 
de inquietação e de perplexidade, para culminar numa atitude crítica 
diante do real e da vida.
 E é aí que nasce a Filosofia. Um saber metódico e rigoroso que possibilita 
chegar à raiz das coisas na interminável e incessante busca do sentido do “ser” e 
universo existencial.
• Atitude reflexiva: é o ato de pensar as crenças, verdades e sentimentos 
de nosso cotidiano de forma profunda e com desejo de conhecer a 
essência das coisas.
• Atitude filosófica: é a reflexão própria dos que não se cansam de admirar 
as coisas, e são capazes de se distanciar do cotidiano e de si mesmos.
• Por que e para que a reflexão filosófica? Para um agir pessoal e social 
intencional e consciente, sabendo o porquê, para que e como são as 
coisas, crenças e sentimentos em sua essência.
• A finalidade da reflexão filosófica é permitir um pensar e crer de 
forma crítica e livre de preconceitos.
• O filósofo é inimigo de fanatismos e dogmatismos.
NOTA
É sobre os seguintes campos que se estende o saber filosófico: 
• Ética: do grego “ethos” – bons costumes –, diz respeito a escolhas inevitáveis e 
inadiáveis quando nos deparamos com condutas e hierarquia de valores que definem 
os caminhos a serem seguidos e os que devem ser evitados, levando em conta os 
fins a que se destina a justificativa do próprio agir. A Filosofia Ética tem como objeto 
de problematização a atitude humana em relação ao coletivo e suas consequências 
históricas, sociais e políticas. Em outras palavras, é um campo filosóficopreocupado 
com o valor do bem e do agir humano que o tem como finalidade última.
• Lógica: tem, como preocupação, as estruturas do pensamento e seus 
encadeamentos racionais que permitem conhecer o ser humano e seu mundo 
circundante. Através da lógica se discute se as inferências – deduções, as 
conclusões obtidas pela relação entre uma coisa e outra – são verdadeiras ou falsas.
• Estética: do termo grego aisthetiké, significa “aquele que percebe”. É o campo da 
filosofia que se dedica ao estudo do belo nas manifestações artísticas e naturais; ao 
sentimento que desperta no indivíduo quando da sua contemplação.
12
• Epistemologia: termo de origem grega, “episteme”, relacionado com a natureza 
e limites do conhecimento humano. Normalmente definida como “Teoria do 
Conhecimento” ou “gnosiologia”, que no sentido mais restrito refere-se às condições 
– metodológicas e técnicas – sob as quais se produz o conhecimento. Como campo 
filosófico relaciona-se às possibilidades de alcançar a verdade no conhecimento.
• Metafísica: do grego “metà” – além de – e “physis” – natureza, física – é um 
campo filosófico que discute questões para além do agir e conhecer, envolvendo 
discussão acerca da natureza do que se conhece, sobre o que permite indagar 
acerca da coisa em si. Metafísica indica o permanente esforço para atingir uma 
causa válida e racional para o sentido da existencialidade humana, que tem como 
ramo principal a ontologia – que investiga sobre as categorias ou essências do ser.
Agora que já conhecemos os conceitos básicos e essenciais iniciaremos nossa 
viagem pela construção do direito ocidental. 
3 OS PRIMEIROS NÚCLEOS HUMANOS
Desde estudos arqueológicos é possível afirmar que a última espécie humana 
sobrevivente desde o Paleolítico Superior – em torno de 9 mil anos – encontrou 
nas grandes planícies fluviais e nos sítios litorâneos o ambiente propício para o 
desenvolvimento da agricultura e domesticação de animais. Pouco a pouco, as relações, 
unidas por complexas redes de parentesco, tornam-se hierarquizadas e a realização 
de tarefas cotidianas, como irrigação, cultivo e colheita, vai dando lugar a formas de 
organização social com poderosos mecanismos unificadores de comportamentos, que 
se transformam em normas de controle. 
A partir do quarto milênio a.C. surgem no Oriente Próximo as primeiras 
civilizações: Mesopotâmia, Egito, Palestina, Fenícia e Persa. Estas ocuparam uma região 
que ficou conhecida como Crescente Fértil, limitada entre os rios Tigre, Eufrates e Nilo.
13
FIGURA 1 – CRESCENTE FÉRTIL - BERÇO DA CIVILIZAÇÃO
FONTE: <http://www.infoescola.com/geografia/crescente-fertil/>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Além da estratégica passagem entre a África, Europa e Ásia, a região possuía 
uma rica biodiversidade e a presença de rios que forneciam abundância de água para 
irrigação, além de servir de meio de comunicação. 
Os estados que, atualmente, possuem terras localizadas no Crescente 
Fértil, são: Iraque, Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Israel e Palestina, além da 
parte sul da Turquia e da área mais ocidental do território do Irã.
NOTA
A sofisticação técnica, como a astronomia para estabelecer um calendário 
preciso para controle da agricultura, matemática e hidráulica para as obras de irrigação 
e construção torna-se patrimônio intelectual importante para a sobrevivência do grupo, 
e concentra-se nas mãos de grupos ou castas privilegiadas (sacerdotais, guerreiras, 
reais...), que terão grupos subalternos, em não raras vezes conquistados pela força 
militar, encarregados da sobrevivência própria e dos “eminentes”. 
O avanço da agricultura permite a produção de excedentes econômicos 
permanentes, uma massa de trabalhadores subalternos produzindo e a dominação 
militar assistindo, no interior e entre os grupos, conflitos que deveriam ser neutralizados. 
14
A fim de conter ou mesmo neutralizar as forças desagregadoras que colocam em risco 
o modo de organização e dominação social, são definidas forças neutralizadoras, 
dentre as quais consta o direito. Entretanto, as formas de controle impostas não se 
originam somente pela violência física, mas pela aceitação da dominação por conta 
da supremacia cultural, pelo estágio organizativo e tecnológico materialmente mais 
avançado dos grupos dominantes. Assim, vão se institucionalizando os modos de poder, 
dando origem às distintas formas de ordem política e jurídica das antigas sociedades. O 
poder político e jurídico nas primeiras civilizações vai assumindo as seguintes funções:
• Garantir a submissão e trabalho compulsório dos grupos subalternos.
• Difundir a ideologia da aceitação obtendo consenso e interiorização das relações 
de poder.
• A manutenção do status quo dos grupos privilegiados. 
A ideologia de aceitação é fundamental para reduzir, ou mesmo invisibilizar, a 
violência coercitiva. Nesta etapa, as cosmogonias religiosas, os arquétipos, foram os 
meios mais eficientes para os grupos religiosos desempenharem a função neutralizadora. 
Seguramente, por esta razão o poder político e jurídico assume uma natureza sagrada, 
mediadora entre as divindades e os humanos. Na clássica obra “A Cidade Antiga”, Fustel 
de Coulanges demonstra que a origem do direito antigo está relacionada a rituais, 
crenças religiosas e tradições que se impunham acima da vontade dos homens, e os 
deuses estavam presentes na vida diária comandando a cidade. Diz Fustel:
A religião, que exercia tão grande império sobre a vida interior da ci-
dade, intervinha com igual autoridade em todas as relações que as 
cidades tinham entre si. É o que se pode ver observando como os 
homens daqueles tempos declaravam guerra, faziam as pazes e ce-
lebravam alianças. Duas cidades eram duas associações religiosas 
que não tinham os mesmos deuses. Quando estavam em guerra, não 
eram apenas os homens que combatiam; os deuses também toma-
vam parte na luta. E não se julgue que isso seja mera ficção poética. 
Houve entre os antigos uma crença muito arraigada e viva, em vir-
tude da qual cada exército carregava consigo seus deuses. Estavam 
convencidos de que eles combatiam com os soldados, que os de-
fendiam, e eram por eles protegidos (COULANGES, 2004, p. 181-182).
Cosmogonia é especulação, idealização, sobre a origem do mundo 
constituída por narrativas mitológicas que se aproximam de religião. Os 
mitos, em geral, atribuem a divindades virtudes e poderes indiscutíveis. 
Mitos – da palavra grega mytus – são narrativas de múltiplas versões 
opostas ao real, mas mantidos vivos e perpetuados pelo grupo social.
NOTA
15
Confia a obra A Cidade Antiga, de Fustel de Coulanges, em http://
bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/services/e-books/Fustel%20
de%20Coulanges-1.pdf.
DICA
Portanto, não é difícil compreender porque nos primórdios da humanidade a na-
tureza religiosa das formas de controle acaba por definir como intérpretes das leis os sa-
cerdotes. As manifestações do direito e as formas de sanção são marcadas por fortes 
ritualismos e atos simbólicos que acabam confundindo justiça com magia, e desde aí as 
práticas vão avançando de forma dinâmica até a identificação de direito com lei. 
Em síntese, dos costumes, do poder doméstico e da religião daqueles “primeiros 
tempos” foi se institucionalizando a sucessão hereditária das autoridades reais e 
fortalecendo o poder das cidades sobre as aldeias. 
Gilissen (2001) indica que as principais características do direito dos povos sem 
escrita podem ser:
• A marca do direito dos povos antigos é a diversidade, uma vez que cada comunidade 
possuía seus costumes próprios e o isolamento.
• A transmissão das regras de convivência pela tradição oral.
• A forte relação de justiça com religiosidade. 
• Por não ser escrito, o direito antigo é bastante limitado quanto à abstração e 
generalidade, sendo, em geral, reproduções de casos concretos.
• Identificação de direito com moral e religião.
• As fontes do direito relacionadas a costumes, práticas ancestrais, preceitos verbais etc.
4 O DIREITO DOS POVOSDA MESOPOTÂMIA, HEBREUS 
E EGITO
A passagem das formas arcaicas de sociedade para as primeiras grandes 
civilizações está relacionada como o surgimento das cidades, a invenção e domínio da 
escrita, o advento do comércio e uso de moeda. 
Os documentos escritos mais antigos começam a aparecer em torno de 
3000 a.C. no Oriente Próximo, na Mesopotâmia e no Egito. Portanto, pouco a pouco a 
transmissão oral, que acabou por preservar a memória cultural e identidade dos povos 
antigos, adquire forma através da escrita. 
16
A seguir consta um dos documentos jurídicos mais antigos escritos da 
humanidade. Trata-se do Código de Ur-Nammu, criado por um rei sumério de mesmo 
nome, escrito em torno de 2050 a.C., “ano em que Ur-Nammu fez justiça na terra”, que 
incluía regras sobre impostos, procedimentos de tribunais e leis cerimoniais. Leis que 
se aplicavam somente a mulheres escravas e castigos cruéis, como ter o insolente a 
boca lavada com sal, aplicação de multas pecuniárias, embora limitadas e atualmente 
absurdas, foram importantes avanços para o estabelecimento de limites ao poder real. 
FIGURA 2 – FRAGMENTO DO CÓDIGO DE UR-NAMMU
FONTE: <https://hypescience.com/10-documentos-mais-antigos-do-seu-tipo/>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Observe bem o tipo de escrita. Trata-se do que se chama escrita cuneiforme, 
em forma de cunha, criada pelos sumérios por volta do ano 3500 a.C. Juntamente com 
a escrita egípcia, os hieróglifos formam as mais antigas inscrições escritas em tabuletas 
de argila. 
17
Escrita cuneiforme é o nome dado a certos tipos de escritas feitas com auxílio de cunhas. 
Inicialmente, eram marcas bastante simples, posteriormente se tornando mais abstratas e 
mais sofisticadas, graças ao trabalho dos antigos escribas. Ajustando a posição relativa da 
tabuleta ao estilete, o escriba poderia usar uma única ferramenta para fazer uma grande 
variedade de signos.
NOTA
ESCRITA CUNEIFORME
FONTE: <http://universodahistoria.blogspot.com.br/2010/07/escrita-cuneiforme.
html>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Dos povos do Oriente Próximo, destacam-se: 
• Egito: embora não tenham transmitido propriamente códigos, os egípcios legaram 
fontes indiretas nos textos sagrados e narrativas literárias e, ainda, foi a primeira 
civilização a transmitir um sistema de normas individualistas.
• Mesopotâmia: a região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates foi ocupada 
sucessivamente por distintos povos, como os sumérios, acadianos, hititas e assírios, 
que redigiram “códigos” com regras de direito bastante sofisticadas e com algum 
nível de abstração.
• Hebreus: povo antigo que legou nos Livros Sagrados preceitos jurídicos, 
posteriormente perpetuados pela Bíblia cristã. 
Brevemente, vamos a seguir destacar alguns aspectos dessas extraordinárias 
culturas antigas.
18
A civilização egípcia foi uma das mais influentes na antiguidade. Ao longo 
do Vale do Rio Nilo, considerado por Heródoto (484 a.C.- 425 a.C.), o “pai da história”, 
como “dádiva dos deuses”, o Egito se edificou como extraordinário reino organizado 
em pequenas províncias – nomos – e governado pelo faraó, um deus vivo. Além de 
desenvolverem técnicas agrícolas eficazes, eram excelentes matemáticos, experientes 
na área da medicina, na astronomia e, sobretudo, legaram para a posteridade preciosas 
obras arquitetônicas e de engenharia.
Entretanto, o fato é que, apesar de toda essa grandiosidade e extraordinário 
legado no campo do direito, os egípcios foram mais tímidos quando consideramos seus 
“vizinhos” do Oriente Próximo, uma vez que o que se espera é que a condição de domínio 
cultural e político fosse acompanhada de sofisticação jurídica. 
Os poucos documentos propriamente jurídicos que restam, além da péssima 
conservação ao longo do tempo, dificultam a reconstrução e sistematização do direito 
egípcio antigo. Entretanto, resumidamente pode-se afirmar que a fonte principal do 
direito era a vontade do faraó, que contava com um grupo de “conselheiros” presidido 
pelo vizir, espécie de chanceler, que administravam um vasto e próspero império. Da 
“boca” do faraó era pronunciada o Maat (direito), símbolo da justiça. Ao que parece, 
os egípcios acreditavam em uma espécie de lei ou ordem universal eterna basilar 
do próprio poder, de natureza divina a qual o faraó tinha o dever de velar. Segundo o 
historiador de direito Jonh Gilissen (1995, p. 53): 
Maat é o objetivo a prosseguir pelos reis, ao sabor das circunstâncias. 
Tem por essência ser o equilíbrio, o ideal, a esse respeito, é por 
exemplo fazer que as duas partes saiam do tribunal satisfeitas. 
Como é neste preceito que reside a verdadeira justiça, Maat pode 
ser traduzido por Verdade e Ordem, como Justiça propriamente dita. 
FIGURA 3 – DEUSA MAAT 
FONTE: <http://arturjotaef-numancia.blogspot.com.br/2013/08/maat-deusa-metis-dos-egipcios-por-artur.
html>. Acesso em: 11 abr. 2017.
19
A figura anterior é uma representação da deusa Maat. Observe que está com as 
asas abertas, pronta para voar, como a alma dos mortos e acompanhar a barca solar de 
seu irmão Rá. Esposa de Tot, possui na cabeça a pena da verdade, que pesava sobre 
todos no momento do julgamento do morto quando ela colocava sua pluma sobre um 
dos pratos da balança e no outro oposto o coração do falecido. Se os pratos ficassem 
em equilíbrio, a alma seguia sua viagem. Se o coração fosse mais pesado, era devolvido 
para Ammut (deusa do inferno, criatura parte hipopótamo, parte leão e parte crocodilo) 
para ser devorado. 
Maat: termo de origem copta, que é um sistema de escrita originado no 
século IV a.C. no Egito, que expressa uma espécie de idealização filosófica 
de justiça relacionada com verdade e ordem, que deveria orientar as 
decisões dos governantes.
NOTA
FIGURA 4 – A PENA DE MAAT É O CONTRAPESO PARA O CORAÇÃO DO MORTO
FONTE: <http://arturjotaef-numancia.blogspot.com.br/2013/08/maat-deusa-metis-dos-egipcios-por-artur.
htm>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Há uma bela estória preservada por antigos papiros que serve como fonte 
de compreensão para a prática da justiça egípcia. Trata-se do “Conto do Camponês 
Eloquente”, datada de 2070 a.C., que mostra como as palavras sábias e justas convencem 
e encantam e que a indignação com a injustiça e com a maldade humana é própria da 
condição do homem ao longo da história. 
20
“Conto do Camponês Eloquente” se trata de um antigo conto que pode ser 
sintetizado da seguinte maneira:
Um camponês andava pelo Egito com seu burrico vivendo de pequenos 
serviços que prestava.
O camponês andava pelo Egito, com seu jegue, vivendo de pequenos serviços 
que prestava nas fazendas, mas ao passar por uma certa propriedade, foi 
surpreendido pelo administrador local que, por maldade, queria tomar o 
animal do pobre homem. Para lograr êxito, o perverso homem jogou um 
longo tecido no chão, forçando o camponês a desviar o caminho e 
passar pela plantação, destruindo parte do que pertencia ao 
dono da fazenda. O administrador puniu o camponês, retendo 
seu animal e os poucos bens que o pobre possuía e o agrediu, certo de 
que sairia impune da injustiça que cometera. Inconformado, o camponês 
foi até a vila, onde vivia o proprietário da área; foi recebido e fez sua queixa. 
O proprietário encantou-se com os argumentos do camponês. Pelo prazer 
de ouvir tão bom orador, adiava a solução do caso para poder ouvir os belos 
e bons argumentos. Até que, por fim, o camponês recorreu ao faraó, que 
também encantado, ordenou que um escriba copiasse os argumentos do 
camponês bem-falante.
O caso permanecia aberto. Irritado, o camponês deixou a cidade, 
desesperado com a injustiça que sofria, e o dono das terras ordenou que se 
capturasse o pobre homem. Para espanto do pobre homem, o proprietário-
juiz atendeu sua súplica, ordenando a devolução do seu animal e dos bens 
sequestrados pelo injusto administrador. Determinou também que este 
último entregasse ao camponês tudo o que possuía. O administrador 
ficou pobre, como o camponês que um dia humilhou. Em recompensa, 
o camponês passoua administrar a propriedade.
NOTA
Em geral, os historiadores costumam considerar que o povo egípcio era adepto 
de punições curiosas e cruéis, chegando a serem sádicas. A flagelação era adotada 
em muitos casos, assim como o uso de varas para arrancar confissões. Abandono à 
voracidade dos crocodilos, estrangulamento, decapitação, embalsamamento vivo e 
empalhamento eram formas de execuções. 
Muitos autores ressaltam importantes institutos jurídicos, como Família, conside-
rada a célula social por excelência, era restrita ao pai, mãe e filhos menores que ganhavam 
emancipação após certa idade; o Testamento, que permitia total liberdade de deixar a sal-
vo a reserva hereditária dos filhos. Os bens móveis e imóveis eram passíveis de alienação, 
havendo comum prática de comércio, evidenciando atividade contratual frequente. 
Em síntese, a sociedade egípcia dominada pelas castas sacerdotais foi marcada 
por toda uma cultura desenvolvida a partir da profunda religiosidade dominada por um 
poder teocrático cuja obrigação era preservar o princípio de Maat. Suas crenças e cultos 
serviam de base para toda organização política e jurídica, bem como na literatura, arte, 
medicina e astronomia. 
21
FIGURA 5 – GRAVURA NA PAREDE DO TEMPLO - OFERENDA À MAAT
FONTE: <https://www.projuris.com.br/como-era-o-direito-no-egito-antigo>. Acesso em: 11 abr. 2017.
Nas paredes dos templos se poderia ver o faraó fazendo suas oferendas a Maat 
e aceitando suas dádivas.
Chama-se direito hebraico (Mischpat Ibri) ao conjunto de regras dos antigos 
israelitas, povo de origem semita, marcado por sua natureza e origem divina. Desde 
o monoteísmo é uma lógica de direito que tem como núcleo a Torah (Pentateuco), 
composta por cinco livros sagrados: Gênesis (BereshitI), Êxodo (Shemot), Levítico 
(Va-yikra), Números (Ba-midbar) e Deuteronômio (Debarin). São no total 613 leis que 
compõem a Torah, sendo 365 preceitos negativos e 248 positivos. 
Segundo a tradição, Moisés é a figura-símbolo da nação israelita, escolhido 
por Deus para receber a revelação do Decálogo – dez mandamentos –, que acabou se 
tornando o grande princípio ético, jurídico e religioso desse povo e assumido pelo 
cristianismo. 
22
FIGURA 6 – MOISÉS COM AS LEIS - QUADRO DE REMBRANT (MUSEU DE BERLIM)
FONTE: <https://institutopoimenica.com/2012/09/17/moiss-e-as-tbuas-da-lei-rembrandt/>. Acesso em: 
11 maio 2017.
Segundo as escrituras sagradas, todo fundamento de justiça é divino e somente 
em Deus ela é perfeita e absoluta. Tendo como referência principal o amor ao próximo 
e a caridade, o justo é aquele que dá o melhor de si para agir segundo as leis de Deus, 
ajudando no progresso da humanidade sem medir esforços para ajudar ao próximo. 
As leis hebraicas, assim como outros povos da antiguidade, de caráter civilista, 
diziam respeito a negócios entre particulares, ao uso do penhor como garantia de 
débito, não permitindo a exploração de seu próximo, razão pela qual alguns bens 
imprescindíveis para a sobrevivência eram impenhoráveis, não podendo ser cobrada 
dívida no ambiente doméstico para não humilhar a família.
“Se emprestares alguma coisa a teu próximo, não invadirás a casa para te 
garantires com algum penhor. Ficarás do lado de fora, e o homem a quem emprestaste, 
te trará fora o penhor” (Dt. 24:10-11). Na Torah, estão os principais institutos jurídicos do 
povo hebreu, como:
• Família: de estrutura patriarcal, o pátrio poder era vitalício. As 
filhas poderiam ser vendidas como escravas e havia a previsão 
de servidão por dívida. A esposa poderia ser comprada e paga 
com moedas ou serviços, podendo ser a mulher repudiada, o 
que não ocorria com os homens, cuja punição apenas existia em 
caso de adultério praticado com mulher casada.
• Sucessão: as mulheres não tinham direito sucessório e apenas o 
primogênito tinha direito à herança.
23
FIGURA 7 – A ESTELA DE UR-NAMMU
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/446137906816601475/>. Acesso em: 11 abr. 2017.
• Penal: o conceito de crime e castigo era de natureza religiosa, 
tendo como pena comum a morte por apedrejamento. São 
considerados crimes graves os delitos contra a divindade – 
como idolatria e blasfêmia –, contra seu semelhante – lesões 
corporais, homicídio etc. –, delitos contra a propriedade – roubo, 
falsificações, furto; os contra a honestidade – adultério, sedução 
etc. –, e contra a honra – falso testemunho e calúnia. 
• Penas: desde penas corporais, como pena de morte e flagelação, 
até a excomunhão, além do uso da famosa pena de talião:
• Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, 
dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queima-
dura, ferimento por ferimento, golpe por golpe (Êx. 21.23-25).
 
Destaca-se que o direito talmúdico – doutrina, estudo e interpretação dos 
livros sagrados – ainda é pouco estudado em nosso meio acadêmico, o que, por sua 
complexidade, sem dúvida, constitui um imenso legado à modernidade, sobretudo pela 
sua inserção no cristianismo ocidental, como adiante será estudado. 
5 O CÓDIGO DE HAMURABI: UMA PRECIOSA HERANÇA 
DA MESOPOTÂMIA
 
A região da Mesopotâmia é a região do Oriente Próximo que legou importantes 
escritos com relatos dos povos que lá habitaram desde o IV milênio antes de nossa era. 
Os sumérios foram os primeiros habitantes a terem a preocupação de desenvolverem 
um sistema de escrita, e por esta razão é possível que eles tenham sido os criadores 
dos primeiros códigos. O Código de Ur-Nammu, datado de aproximadamente 2040, é 
importante documento histórico constituído de leis registradas em um maciço de pedra 
– estela, palavra de origem grega (stela), que significa “pedra erguida” –, em monolitos 
com esculturas e/ou textos em relevo. 
24
Outros códigos foram encontrados na região, tais como as Leis de Eshnunna, 
datado de cerca de 1939 a.C., encontrado no sítio arqueológico de Tell Harmal. Bem 
como o Código de Lipit-Ishtar em língua suméria, com traços de escrita acádia, escrito 
por volta do ano 1860 a.C. Contudo, estudiosos chamam a atenção para o fato de que 
esses códigos, chamados de pré-hamurábicos, não formam propriamente um código 
no sentido moderno do termo, uma vez que as leis das cidades não eram tratadas em 
tais documentos. Além de que, a preocupação em sistematizar e organizar as leis em 
códigos é um fenômeno próprio da modernidade, como adiante veremos. 
De todos os antigos códigos da Mesopotâmia, sem dúvida, o mais destacado 
é o Código de Hamurabi, encontrado em 1902 pelo arqueólogo francês Jacques 
de Morgan no atual Irã e, atualmente, encontra-se no Museu do Louvre. Escrito em 
letras cuneiformes em um monólito de pedra, é certo que se trata de um conjunto de 
leis promulgadas pelo rei Hamurabi (1726 a.C. – 1686 a.C.), que governou a Babilônia 
transformando-a em um grandioso império. No preâmbulo do Código, com 282 artigos, 
se lê o seguinte texto: 
Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra e dos céus, 
determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda 
a humanidade a Marduc; quando foi pronunciado o alto nome da 
Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu 
um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da 
terra, por esse tempo Anu e Bel me chamaram, a mim Hamurabi, o 
excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar justiça na 
terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco 
pelo forte, para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. 
Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu; eu o que trouxe a 
abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Dirilu; o 
que deu vida à cidade de Uruk; supriu água com abundância aos 
seus habitantes; o que tornou bela a nossa cidade de Brasíppa; o 
que encelerou grãos para a poderosa Urash; o que ajudou o povo em 
tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; 
o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anuit.
A breve leitura nos permite compreender quem foi Hamurabi e suasvirtudes 
como “executor da justiça”, “escolhido pelos deuses”, de “sabedoria incomparável” e 
tantos outros atributos que tornavam seu Código uma autêntica obra-prima para toda 
posteridade.
25
FIGURA 8 – CÓDIGO DE HAMURABI
FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/42/a1/25/42a125cc95523e92bb0c0dbcd278dbb6.jpg>. Acesso em: 
11 abr. 2017.
Na parte superior, está o preâmbulo e a figura de Hamurabi diante do deus sumé-
rio Shamash recebendo o Código, representado por uma régua. A seguir estão dispostos 
os artigos que evidenciam institutos jurídicos, como contratos, vendas, arrendamentos, 
empréstimos a juros, adoção etc., sendo bastante conhecidas as penas punitivas aplica-
das, que variavam de mutilações à morte na fogueira, por enforcamento e empalamento. 
De todos os artigos, o mais conhecido é o 196, que diz: “Se alguém vazou o olho de um 
homem livre, ser-lhe-á vazado o seu também”. Repete a famosa lei de Talião, que, como já 
vimos, era referência comum nos povos antigos para aplicação das penas. 
Sugerimos, a você, conhecer melhor todos artigos do Código de Hamurabi, 
no site http://www.ebanataw.com.br/roberto/pericias/codigohamurabi.
htm. Você se surpreenderá com a riqueza jurídica desse documento.
DICAS
Em síntese, estudando brevemente os povos antigos, não é difícil perceber que, 
em diferentes momentos da história e sob distintas formas, vamos sempre encontrar um 
conjunto de normas que espelham os valores, a cultura, as relações de poder e o modo 
de vida da sociedade, e a esse instrumento magnificamente construído vamos chamar 
de Direito e Justiça, e em seu nome continuamos a marcha da história e edificamos 
nossas civilizações. 
26
Neste tópico, você aprendeu:
• O direito é um fenômeno cultural que surge na medida em que as relações humanas 
se tornam mais complexas.
• Nos primórdios da civilização, não há separação entre direito, religião e moral, uma 
vez que há uma mesma fonte de produção das normas de regulação social: o 
sobrenatural.
• Com diversidade, é possível identificar elementos comuns entre as distintas formas 
de direito nos povos antigos. 
• Os povos da Mesopotâmia elaboraram os primeiros códigos da humanidade de que 
se tem notícia.
• Os hebreus criaram seu direito com base em sua profunda fé e religiosidade 
e legaram, através do cristianismo, princípios jurídicos relevantes à sociedade 
contemporânea.
• Os egípcios, embora sem a mesma concepção de direito que os demais povos 
antigos, possuíam regras de conduta relacionadas com a crença na vida pós-morte.
RESUMO DO TÓPICO 1
27
AUTOATIVIDADE
1 Os documentos escritos mais antigos começam a aparecer em torno de 3000 a.C. no 
Oriente Próximo, na Mesopotâmia e no Egito. Portanto, pouco a pouco a transmissão 
oral, que acabou por preservar a memória cultural e a identidade dos povos antigos, 
adquire forma através da escrita. Assinale a alternativa CORRETA, que apresenta 
alguns acontecimentos que, estão relacionados com a passagem das formas arcaicas 
de sociedade das primeiras grandes civilizações:
a) ( ) Surgimento das cidades, a invenção e o domínio da escrita, o advento do comércio 
e uso da moeda.
b) ( ) Por não ser escrito, o direito antigo é bastante limitado quanto à abstração e 
generalidade, sendo em geral, reproduções de casos concretos.
c) ( ) Apenas a transmissão das regras de convivência pela tradição oral.
d) ( ) Apenas os costumes do poder doméstico e da religião.
2 Segundo o historiador do direito John Gilissen (2001), os povos sem escrita da anti-
guidade possuem algumas características comuns, como regras jurídicas abstratas, 
poucas e limitadas, direito e religião umbilicalmente entrelaçados, dentre outras. So-
bre os povos antigos sem escrita, qual foi a região ocupada pelos que se destacaram?
FONTE: GILISSEN, J. Introdução histórica ao direito. 3. ed. 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
a) ( ) O vale do chamado Crescente Fértil.
b) ( ) Os vales e montanhas do Rio Mekong.
c) ( ) O deserto do Saara.
d) ( ) As montanhas dos Andes.
3 A civilização egípcia herdou para a história notável conhecimento no campo da arte, 
medicina, engenharia, matemática etc. Foi uma das mais avançadas e complexas 
sociedades do mundo antigo. Entretanto, no campo jurídico, propriamente dito, o 
legado egípcio foi tímido quando comparado aos povos da Mesopotâmia. Considerando 
o aprendizado acerca da cultura egípcia, descreva o conceito de justiça daquela 
civilização.
4 O monólito de pedra no qual foi esculpido o Código de Hamurabi foi encontrado no 
ano de 1901, em uma expedição arqueológica comandada por Jacques de Morgan, 
na atual região do Irã. O Código, entre outras significações que possui, representa 
uma importante mudança para os povos da região. Sobre essa mudança, assinale a 
alternativa CORRETA:
28
a) ( ) A mudança da tradição oral para a escrita.
b) ( ) A introdução da pena de prisão em substituição da pena de morte.
c) ( ) O fim da crença na origem divina das leis.
d) ( ) A criação do direito a partir do poder político.
29
O MUNDO GRECO ROMANO E SEU LEGADO
1 INTRODUÇÃO
No mundo grego antigo, encontramos a semente das primeiras reflexões 
e indagações de natureza filosófica, política e jurídica a partir da qual floresceu o 
pensamento ocidental. Por exemplo, no campo da política, a cidade de Atenas legou 
ao mundo a ideia de democracia. Grandes pensadores tornaram-se permanente fonte 
intelectual a todas as gerações que os seguiram. O modo de vida, a cultura helênica 
corporificada nas majestosas obras literárias e os princípios e valores éticos fazem do 
antigo mundo grego seguramente um dos berços da humanidade. O mundo grego antigo, 
universo helênico, não era uma unidade, mas sim um conjunto de pólis independentes. 
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
FIGURA 9 – GRÉCIA NO SÉCULO V a.C.
FONTE: <http://www-storia.blogspot.com.br/2014/05/as-grandes-guerras-no-mundo-grego.html>. Acesso 
em: 11 abr. 2017.
30
A concepção de vida cosmopolita grega, a vida na pólis, desenvolveu-se 
lentamente a partir de um processo de sedentarização com a desagregação dos 
primitivos clãs. A origem no Período Micênico (1500-1100 a.C.) confunde-se com lendas 
e mitos que coincidem com a Idade do Bronze. Ao que se sabe, os antigos habitantes da 
região foram os aqueus, cários, jônios e dórios, provavelmente originários da Anatólia, 
com vínculos de parentesco que se espalharam após guerras locais. A geografia da 
região, caracterizada por montanhas e terras de pouca fertilidade e proximidade com o 
mar, fez com que esse povo se expandisse. 
A península da Anatólia, “terra do hitita”, também conhecida como Ásia 
Menor, é banhada pelo mar Negro ao norte, o Mediterrâneo a oeste, o 
mar de Mármara a noroeste.
NOTA
Pode-se sintetizar a evolução histórica grega da seguinte forma:
Período pré-homérico
(1900-1100 a.C.)
Período inicial de desenvolvimento cretense e minoico.
A sociedade grega como conhecemos ainda não havia surgido.
Período homérico
(1100-700 a.C.)
Este período é descrito pelo poeta Homero, que narra em 
suas histórias “Ilíada” e “Odisseia” a etapa fundacional do povo 
grego, em que mito, deuses e semideuses conviviam entre os 
homens.
Período de 
obscuridade 
(1150-800 a.C.)
Etapa sem a utilização da escrita, o que dificulta sua descrição 
histórica.
Período arcaico 
(800-500 a.C.)
Consolida-se o conceito político de pólis, ao mesmo tempo 
em que é criado o alfabeto fonético e há o desenvolvimento 
urbano e econômico.
Período clássico 
(500-338 a.C.)
Auge do Império Grego, destacando as cidades-estados de 
Esparta e Atenas. Etapa marcada por dezenas de guerras 
internas (Guerra do Peloponeso) e externas (guerras médicas).
Período helenístico
(338-146 a.C.)
Período marcado pela grande expansão macedônica, fazendo 
fundir-se a cultura grega com outras culturas orientais.
QUADRO 1 – PERÍODOS DA HISTÓRIA GREGA
FONTE: A autora
31
Nas distintas pólis, mesmo nas grandes Atenas e Esparta, havia especificidades 
quanto aos modelos políticos que vigoraramem inúmeras ocasiões, são eles: 
• Tirania: Diferente do que entendemos hoje, a tirania caracterizava-se pela tomada 
do poder por um indivíduo nobre que elaborava leis e projetos políticos, alguns para 
diminuir as desigualdades sociais, como divisão igualitária da terra e perdão de dívidas. 
• Democracia: Grande conceito político legado ao mundo ocidental que se exercia 
através da eleição de seus membros sorteados ou escolhidos entre os cidadãos.
• Aristocracia ou oligarquia: Nesse modelo, o cargo de magistrado era hereditário 
e predominava a decisão dos conselhos.
 
Ao longo da história grega floresceram como principais cidades:
• Atenas: Principal cidade com forte desenvolvimento econômico. Berço da 
democracia e da filosofia, foi fundada pelo Jônios, liderou a liga das cidades 
democráticas (liga de Delos).
• Esparta: Sua grande característica diz respeito à sua educação. Os meninos já eram 
treinados e educados com um único propósito: servir Esparta. Quando a criança 
completava sete anos de idade, a responsabilidade de orientá-lo não cabia mais aos 
seus pais e sim ao Estado espartano.
FIGURA 10 – MENINO TRANSFORMADO EM SOLDADO
FONTE: <http://kid-bentinho.blogspot.com.br/2013/12/9-razoes-que-mostram-o-quao-dificil-era.html>. 
Acesso em: 11 abr. 2017.
No site a seguir, você encontrará interessantes informações do modo de 
vida espartano e quão difícil era viver naquela cidade e naquela época: 
http://kid-bentinho.blogspot.com.br/2013/12/9-razoes-que-mostram-o-
quao-dificil-era.html.
DICAS
32
Em particular, os atenienses consideravam a vida pública, a vida na pólis, a 
forma mais perfeita de convivência humana que deveria ser aprimorada pelos homens. 
No período áureo da democracia (entre os anos 580 a 338 a.C.), os cidadãos, homens 
livres e iguais, deliberavam sobre seus destinos políticos. A concepção de cidadania 
grega é muito distinta da atual. Apenas eram cidadãos os nascidos em Atenas, homens 
e maiores de 20 anos, ficando excluídos os estrangeiros (metecos), as mulheres e a 
grande massa de escravos. 
Para os atenienses, o homem que não era político ou não se interessava pela 
política era um inútil. 
Reunidos na Ágora, espécie de praça pública, deliberavam com entusiasmo 
sobre as grandes questões da pólis, desempenhando o mesmo papel que hoje é 
reservado aos Parlamentos de Estado. Esse era o sentido de democracia: o cidadão 
decidindo diretamente sobre seu destino. Porém, se compararmos aos dias atuais, o 
procedimento não era democrático, uma vez que poucos participavam e decidiam. 
Segundo os historiadores, Atenas, por volta do ano 480 a.C., contava com 30.000 
cidadãos (homens livres e adultos), 90.000 mulheres e crianças, e mais a grande 
massa de escravos e estrangeiros, somando um total de 150.000 habitantes. No auge 
dessa civilização, em 430 a.C., Atenas chegou a ter 250.000 habitantes, sendo 40.000 
cidadãos, 120.000 mulheres e crianças, 20.000 estrangeiros e 60.000 escravos.
FONTE: <http://pra-pensar.org/wp/blog/2014/04/16/a-democracia-nao-existe-viva-a-democracia/>. Aces-
so em: 11 abr. 2017.
FIGURA 11 – ÁGORA - SÍMBOLO DA DEMOCRACIA
33
Em Atenas, pelas constantes guerras e condições de saúde da época o índice 
de mortalidade era muito alto e, consequentemente, a longevidade era baixa. A cada 100 
adultos com 20 anos, 70 viviam até 30, 25 até os 60 e somente 7 vivam até os 80 anos. 
A mortalidade era maior entre as mulheres porque a gestação e parto eram de alto risco.
Os homens casavam-se, em geral, após o serviço militar, após os 30/40 anos e 
as mulheres perto dos 20.
Os escravos trabalhavam ao lado de seus senhores na agricultura, no serviço 
doméstico e públicos, como burocratas, recebendo tratamento quase familiar, pouco 
se distinguindo dos homens livres, seja pela vestimenta, seja pela cultura ou modos. 
Os escravos eram prisioneiros de guerra e de pirataria, vendidos por mercadores 
estrangeiros, possivelmente capturados nas guerras. O que chama a atenção de muitos 
historiadores é que se tem poucas notícias de rebeliões de escravos, diferente de Roma, 
como veremos a seguir. 
Nas relações familiares se conhecia o divórcio recíproco, com iguais direitos para 
homens e mulheres. Praticavam de maneira legal o abandono de crianças. Diferenciavam-
se na maneira de se vestir, tornando visível a diferença entre pobres e ricos, uma vez que 
as roupas tendiam a ser semelhantes para as mesmas classes sociais. Talvez por essa 
razão se considerava crime o furto de roupas no ginásio de esporte. 
A religiosidade grega era constituída por festivais, rituais, divertimentos, 
sacrifícios, oráculos etc. Era um tipo de religiosidade pouco dogmática e pouco 
doutrinária. Nos diz Finley (1998, p. 10) que:
O que falta – exceto entre raros pensadores isolados, sem influência 
sobre o povo, como por exemplo, Platão e Epicuro – era um conjunto 
de doutrinas sistematicamente formulado, um dogma ou um 
credo. Assim, podia também ocorrer blasfêmia ou sacrilégio – mau 
procedimento para com os deuses, o que lhes provocaria a ira, se não 
fosse punido – porém nem ortodoxia nem heresia. 
Toda religiosidade grega era inerente ao politeísmo, que foi aumentando pelo 
acréscimo ao longo dos séculos de seres sobrenaturais – deuses, semideuses, espíritos, 
demônios, heróis etc. – com “personalidades” peculiares. Não era possível conhecer a to-
dos e muito menos descrevê-los. Somente na Teogonia de Hesíodo constam 350 nomes. 
34
“Teogonia” é um termo que vem do grego “teo” (deus) e “gonia” (nascimento). Poema 
épico escrito provavelmente no séc. XIII a.C., possui 1.022 versos, estabelece uma ordem 
cronológica e hierárquica entre os deuses e demais entes mitológicos que faziam parte 
do imaginário grego da época. Trata-se de uma obra grandiosa, comparada às grandes 
narrativas de Homero.
NOTA
TEOGONIA
FONTE: <https://www.resumoescolar.com.br/historia/teogonia-de-hesiodo/>. Acesso 
em: 11 abr. 2017.
Cada comunidade cultuava suas divindades ou deuses protetores, para os 
quais havia cultos cívicos e cada família reconhecia a deusa Héstia, protetora do lar. 
Obedeciam aos oráculos e participavam das festividades promovidas pelo Estado ao 
ar livre. Faziam altares e muitos sacrifícios e nada se prendia a uma autoridade central. 
Não havia “igrejas”. Portanto, não havia seres humanos com missão divina. Nos diz 
Finley (1998, p. 13) que “a palavra grega hiereus (sacerdote) normalmente se refere 
a um celebrante leigo encarregado da administração do culto público”. Em Atenas, o 
mais importante celebrante era um Arconte, que recebia o nome de baliseus. Regras e 
procedimentos lhe eram impostos e ocupava o cargo por um curto período de tempo.
35
“Arconte” eram os antigos magistrados, cargo reservado somente aos 
cidadãos e filhos da pólis.
NOTA
Politicamente, inexistia uma autoridade grega central. As pólis surgiram 
no período helênico, que foi a fase áurea. Antes disso, o mundo era constituído por 
pequenas comunidades autônomas que se autodenominavam poleis. Ocasionalmente, 
faziam alianças entre si para guerrearem entre si ou comercializarem, mas nunca a 
ponto de impor seus costumes ou cultura. Portanto, não havia uma uniformidade ou 
unidade entre os gregos antigos. 
Entendem muitos historiadores que esta autonomia e ausência de autoridade 
central contribuía para a preservação do modo de pensar e ser do povo grego, porque 
não havia contradição entre o “império” e o “súdito”, o que não despertaria sentimento 
ou necessidade de resistência. 
Porém, foi a política – vida na pólis – que permitiu florescer a civilização grega a 
partir do séc. VIII a.C. Após o longo período chamado de homérico, porque nos é permitido 
conhecer através das narrativas épicas de Ilíada e Odisseia, a realeza entra em crise, 
cedendo espaço à aristocracia, que se apropria progressivamente das prerrogativas 
de poder. Nesta fase, o poder é repartido entre as elites, que o desmembram em três 
funções: militar – exercida pelo Polemarco; administrativa – exercida pelo Arconte e

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