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Página | 2 SUMÁRIO PSICOSSOMÁTICA: QUANDO O CORPO É A VOZ DA EMOÇÃO ....................... 3 EMOÇÕES: DEFINIÇÃO, TIPOS E IMPORTÂNCIA DE SE TER O CONTROLE 3 SIGNIFICADO ............................................................................................................. 4 CONCEITUANDO A PSICOSSOMÁTICA ............................................................... 4 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA PSICOSSOMÁTICA .................................................... 5 PERSPECTIVA EVOLUCIONISTA SOBRE A PSICOSSOMÁTICA .......................... 7 PRECURSORES CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE ............................................ 8 CARACTERÍSTICAS QUE OS AUTORES DA ESCOLA DE PARIS ATRIBUÍAM AO SUJEITO QUE TENDE A SOMATIZAR, ENUMERAR AS SEGUINTES: ....... 11 O QUE É A MENTALIZAÇÃO PARA MARTY EM PSICOSSOMÁTICA ................. 12 TIPIFICANDO AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS ................................................ 14 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS DE ADAPTAÇÃO ....................................... 14 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS DIGESTIVA ................................................. 16 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O CÂNCER ................... 17 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O CRESCIMENTO ....... 18 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O SONO ........................ 18 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O DESGASTE DA VIDA ...................................................................................................................................... 19 AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO DO HIPOTÁLAMO E ESTADO DE ESTRESSE ........................................................................................................... 20 A CLÍNICA PSICOTERÁPICA E SINTOMAS PSICOSSOMÁTICOS A ANALISAR E TRATAR ......................................................................................................................... 22 SINTOMAS PSICOLÓGICOS/PSÍQUICOS ........................................................... 23 SINTOMAS FÍSICOS/ORGÂNICOS: ..................................................................... 23 Página | 3 (...) As doenças são os resultados não só dos nossos atos, mas também dos nossos pensamentos. (Mahatma Gandhi) PSICOSSOMÁTICA: QUANDO O CORPO É A VOZ DA EMOÇÃO O termo psicossomática, surgiu a partir do século passado, depois de séculos de estruturação, quando o corpo é a voz da emoção e somato psíquica (1928), distinguindo os dois tipos de influências e as duas diferentes direções. Contudo, o movimento só se consolidou em meados deste século com Alexander e a Escola de Chicago. Porém as incertezas sobre a relação mente-corpo se expressam na própria denominação psico- somático (com hífen) ainda utilizada entre estudiosos destes fenômenos e por médicos em geral. EMOÇÕES: DEFINIÇÃO, TIPOS E IMPORTÂNCIA DE SE TER O CONTROLE Nós, seres humanos, somos dotados de emoções que estão presentes em todos os instantes da nossa vida. É assim na infância, na adolescência (onde elas se afloram e presenciamos um verdadeiro turbilhão), na fase adulta e até na velhice. Não importa a idade ou a situação, os sentimentos sempre vão nos acompanhar. Eles podem ser positivos e negativos, previsíveis ou chegar de surpresa. Alguns de nós podem ter mais facilidade em expressá-los, enquanto outros tentam escondê-los. Mas porque as pessoas tem dificuldades para controlar as suas emoções? Página | 4 Ter a gestão dos nossos sentimentos é muito importante para que possamos nos compreender melhor, ressignificar sensações ruins e respeitar os nossos próprios limites em diferentes situações. A palavra emoção, vem do latim ex movere, que quer dizer, em uma tradução livre, “mover para fora”. A derivação faz sentido, uma vez que demonstrar nossos sentimentos nada mais é do que colocar para fora o que se passa no nosso interior. SIGNIFICADO A emoção é uma sensação que pode causar até mesmo impactos físicos, provocados por estímulos de diferentes naturezas. Eles podem ser sentimentos ou episódios específicos. Vivenciar uma emoção, no entanto, é uma experiência bastante particular, assim como você pode sentir ela de uma forma, outra pessoa pode demonstrar de uma maneira diferente. A alegria, por exemplo, pode trazer reações físicas como o sorriso e o aumento dos batimentos cardíacos, assim como também alteração na respiração e até choro. CONCEITUANDO A PSICOSSOMÁTICA A psicossomática é uma ciência interdisciplinar que gera diversas especialidades na medicina, na psicologia e na psicanálise, para estudar os efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre processos orgânicos do corpo e sobre o bem-estar das pessoas. O termo também pode ser compreendido, tal como descreve Mello Filho, como “uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de saúde, é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo uma prática, a prática de uma medicina integral”. Página | 5 A palavra psicossomática, na visão dos profissionais de saúde que compreendem o ser humano de forma integral, não pode ser compreendida como um adjetivo para alguns tipos de sintomas, pois tanto a medicina quanto a psicologia estão percebendo que não existe separação ideal entre mente e corpo que transitam nos contextos sociais, familiares, profissionais e relacionais. Então, psicossomática é uma palavra substantiva que pode ser empregada para qualquer tipo de sintoma, seja ele físico, emocional, psíquico, profissional, relacional, comportamental, social ou familiar. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA PSICOSSOMÁTICA Como vimos sobre o conceito de psicossomática, muitas pessoas ainda não sabem o que é “Psicossomática” e entendem que, a somatização é uma relação direta entre uma postura emocional e um problema físico. Isso acontece, devido a uma leitura errônea de alguns livros de autoajuda que têm a intenção de levar os leitores a uma tomada de consciência e uma responsabilização por suas vidas, suas experiências e realidades. De qualquer forma é inegável que, a autoestima, a autoaceitação, uma postura otimista em relação à vida, a alegria e o amor, entre outros fatores, têm uma influência muito grande sobre nossa saúde mental e física, mas não é só isso, seria temerário generalizar e afirmar, por exemplo, que a tensão e o medo de não dar certo o que fazemos irá provocar Câimbra ou que os portadores de Fibromialgia sofrem desse mal pelo arrependimento, pela omissão ou pela dedicação excessiva aos outros. Se assim fosse, seria muito fácil a evitação e cura de doenças físicas. O processo é muito mais complexo do que se imagina. Página | 6 A palavra psicossomática é formada pelas palavras gregas: psique (alma) + soma (corpo), tendo sido usada por Anaxágoras, filósofo grego pré-socrático que defendia a concepção dualista do ser humano (500- 428 AC). Na Grécia antiga escolas médicas, disputavam entre si, a primazia de atender melhor o paciente, como deveriam atuar? Tratar o doente ou a doença? Essa preocupação demonstrava claramente que já estabeleciam uma ligação íntima entre corpo e mente. A história da psicossomática, poderia ser dividida em duas grandes correntes: de um lado, as correntes inspiradas nas teorias psicanalíticas e com base no conceito de doença psicossomática, do outro lado a inspiração biológica, alicerçada no conceito de stress. Portanto podemos dizer que a evolução da psicossomática ocorreu em fases. A primeira, denominada de fase inicial ou psicanalítica, sob a influência das teorias psicanalíticas, teve seu interesse voltado para os estudos da origem inconsciente das doenças, das teorias da regressão e dos ganhos secundários da doença. A segunda, também chamada de fase intermediária, influenciada pelo modelo Behaviorista, valorizou as pesquisas tanto em homens como em animais, deixando assim grandelegado aos estudos do stress. A terceira fase, denominada de atual ou multidisciplinar, valorizou o social, a interação e interconexão entre os profissionais das várias áreas da saúde. Ver abaixo: I. Inicial, ou psicanalítica, com predomínio dos estudos sobre a gênese inconsciente das enfermidades, sobre as teorias da regressão e sobre os benefícios secundários do adoecer, entre outras; II. Intermediária, ou behaviorista, caracterizada pelo estímulo à pesquisa em homens e animais, tentando enquadrar os Página | 7 achados à luz das ciências exatas e dando um grande estímulo aos estudos sobre estresse; III. Atual ou multidisciplinar, em que vem emergindo a importância do social e da visão da Psicossomática como uma atividade essencialmente de interação, de interconexão entre vários profissionais de saúde. (...) São vários os fatores que podem caracterizar um transtorno. De forma geral, considera-se que a presença de uma psicopatologia ocorra quando houver uma variação quantitativa em determinados tipos específicos de afetos, comportamentos e pensamentos, afetando um ou mais aspectos do estado mental da pessoa. Neste sentido, a psicopatologia não é um estado qualitativamente diferente da vida normal, mas sim a presença de alterações quantitativas. Aparecido Araújo - Psicanalista e Neuropsicanalista e Professor Universitário PERSPECTIVA EVOLUCIONISTA SOBRE A PSICOSSOMÁTICA De acordo com essas teorias, o aparelho psíquico não é um acessório de luxo do desenvolvimento humano, mas ele exerce uma função essencial de assimilação e elaboração dos estímulos provenientes da realidade externa e do meio interior. Se o curso normal do desenvolvimento humano aponta para a formação de estruturas, de dinâmicas e de funções cada vez mais complexas, é necessário considerar que o objetivo desse desenvolvimento é sobretudo assegurar o equilíbrio de um organismo permanentemente solicitado Página | 8 por estímulos externos e internos. Mas para atingir esse equilíbrio, algumas vezes o organismo responde a essas solicitações através de respostas anacrônicas, primitivas, menos elaboradas do que é ou já foi capaz. O ser vivo não é capaz apenas de organizações, hierarquizações e de associações, mas também objeto de movimentos regressivos e destruição e desorganização. A patologia também faz parte dos meios do indivíduo para regular sua homeostase ou suas relações com o meio. Portanto além dessas perspectivas, deve-se destacar um outro enfoque que, partindo da noção de vazio representacional e da dificuldade em utilizar recursos mentais para lidar com sobrecargas de estimulação, vai em outra direção. Christophe Dejours, por exemplo, trabalha com a importância das relações intersubjetivas e com a noção de intencionalidade do sintoma, conceito fenomenológico diferente de intenção. "Uma função do corpo que não pôde se beneficiar de uma subversão libidinal em benefício da economia erótica durante a infância, em razão dos impasses psiconeuróticos do país, é condenada a manter-se expulsa do jogo ou de todo o comércio erótico. De qualquer forma, essa função é a forclusão da troca intersubjetiva". Christophe Dejours - Psiquiatria e Psicanalista PRECURSORES CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE Página | 9 Na década de 1920 vão surgir, simultaneamente na Alemanha e nos Estados Unidos, pesquisadores interessados em aplicar a Psicanálise ao conhecimento dos determinantes das doenças. Em Nova York, a dra. Helen Dunbar e em Chicago, o grupo ligado a Franz Alexander fundam o que deve ser denominado como Medicina Psicossomática. Tal designação se aplica, pois a Psicanálise será empregada por esses autores e muitos outros que os seguiram como um meio terapêutico auxiliar do procedimento médico, suas hipóteses e modelos teóricos funcionarão para esclarecer possíveis determinantes inconscientes para as doenças. Para esses médicos psicanalistas da época, a Medicina Psicossomática seria: “o conflito não é específico, o que é específico, é a resposta fornecida por cada indivíduo em função de seu caráter, de suas tendências a agressividade que não encontra meios de se descarregar no sistema de relação, vai tomar emprestada a via neurovegetativa e provocar perturbações cardiovasculares. Noutros casos, a necessidade de dependência ou de proteção, se não satisfeitas, vão se traduzir em perturbações da esfera digestiva (úlcera, constipação, colite).” A Medicina Psicossomática adota os mesmos critérios diagnósticos da Medicina, seus métodos, suas técnicas, seu procedimento de pesquisa, seus critérios de cura. A Psicanálise fornece para ela mais uma ferramenta, um meio de investigação daqueles fatores etiológicos “invisíveis” as emoções, o fator “subjetivo”. Muito diferente é a orientação da outra psicossomática, a que propomos chamar de Psicossomática Psicanalítica. Para essa concepção, o “subjetivo” não é um fator de causalidade e o sintoma não é o que deve ser eliminado. Para a Psicanálise o principal sintoma é o próprio Ego e esse é visto como um “campo de batalha”, como Freud propunha em 1917. Página | 10 O criador dessa tendência, é Georg Groddeck, médico alemão que descobriu por via independente a existência e a eficácia do Inconsciente e publicou, a convite de Freud, duas obras capitais para o pensar psicanalítico sobre as formas do padecimento humano que se manifestam como sintoma psicossomático: O “Livro d” Isso”, de 1921(Croddeck1984), e “Condicionamento Psíquico e Tratamento de Moléstias Orgânicas pela Psicanálise”, de 1917 (Groddeck 7 992). Uma das tarefas fundamentais para a Psicanálise contemporânea é resgatar a contribuição desse original e perturbador autor, ainda desconhecido e relegado. Não há aqui espaço suficiente para um desdobramento mais amplo dessa diferenciação, mas ela é fundamental para podermos considerar o modelo a seguir. A ciência que lá [na Universidade] se ensina não conhece doentes, somente grupos de doenças. Não conhece o indivíduo, conhece apenas casos. Não sabe nada de diagnóstico pessoal, ensina o diagnóstico em palavras, nomes de doenças. Nada suspeita de tratamento individualizador do ser humano, mas ensina o remédio contra as doenças. Ela ensina erudição, mas nenhum saber-fazer. (Groddeck, 1994, p.98) Note-se que Groddeck está fazendo referência, nessa citação, à formação médica de sua época (final do século XIX), quando a medicina ainda não contava com todo o aparato tecnológico que hoje está disponível. Atualmente essa situação se intensificou na medida em que se pode contar com métodos mais eficazes de investigação de agentes patológicos e da própria expressão da doença no corpo. Página | 11 Para Groddeck, a única forma de dirimir os problemas oriundos da supervalorização da doença em detrimento do doente é a inversão dos polos. É preciso que o conhecimento da doença e o diagnóstico se tornem procedimentos meramente complementares à tarefa primordial do profissional de saúde, que seria a de ajudar. Trata-se, em última instância, de repensar a legitimidade de se considerar a medicina como uma ciência das doenças e não como uma arte de curar. CARACTERÍSTICAS QUE OS AUTORES DA ESCOLA DE PARIS ATRIBUÍAM AO SUJEITO QUE TENDE A SOMATIZAR, ENUMERAR AS SEGUINTES: • Trata-se de uma pessoa bem adaptada socialmente ou até mesmo sobre adaptada para seus padrões culturais; • Quando em contato com o investigador/analista, não deixa transparecer nenhuma manifestação afetiva; • Julga que tudo vai bem em sua vida, apesar de suas dificuldades ou dos dramas que sua história revela; • Apresenta uma vida onírica pobre, que traduz o bloqueio da atividade fantasmática; • Sua vida mental consciente, qualquer que seja seu nível intelectual ou cultural, parece separada das fontes vivasdo inconsciente, reduzida ao factual e ao atual, como um pensamento pragmático (pensamento operatório); revela uma pobreza da expressão verbal; • Tem a necessidade de ver no outro um duplo de si mesmo (mecanismo de reduplicação projetiva). Página | 12 Estas características, tomadas em seu conjunto, traduzem um bloqueio dos investimentos libidinais e agressivos que limita o valor funcional da atividade mental. Elas levaram os autores da escola de Paris a afirmar que o sintoma somático não tem nenhum sentido, ele é a marca de um fracasso do trabalho laborativo do ego em um sujeito que nega a sua própria originalidade. Este tratamento teórico, como se vê, privilegia os aspectos econômicos do funcionamento mental, seu centro explicativo está no bloqueio da capacidade egóica em representar as demandas instintivas que o corpo dirige à mente. Pierre Marty, um grande estudioso da psicossomática, detectou em numerosos doentes orgânicos de todos os tipos, um modo de funcionamento mental que lhe pareceu, de fato, estruturalmente diferente daquele dos neuróticos estudados por Freud e pela psicanálise até então. Estes pacientes tinham características muito mais próximas às das neuroses atuais do que às da histeria, valendo- nos do vocabulário da nosografia freudiana inicial. Tratar-se-ia, de acordo com a terminologia de Marty, de sujeitos mal mentalizados. O QUE É A MENTALIZAÇÃO PARA MARTY EM PSICOSSOMÁTICA Pierre Marty utilizou o conceito de mentalização como sendo um conjunto de operações de representação e simbolização através das quais o aparelho psíquico busca regular as energias instintivas, pulsionais, libidinais e agressivas. Desta forma, atuaria como um recurso psíquico regulador da economia psicossomática, gerenciando “à quantidade e à qualidade das representações psíquicas dos indivíduos”. Página | 13 Pode-se dizer de maneira ampla, que para ele, uma boa mentalização protege o corpo das descargas de excitação, à medida que esta encontra abrigo nas representações existentes no pré-consciente. Um grau insuficiente de mentalização, ao contrário, deixa o corpo biológico desprotegido, entregue a uma linguagem primitiva basicamente somática. A Psicanálise e a Medicina Psicossomática estão articuladas histórica e praticamente. Renovar a análise dessa articulação é sempre tarefa oportuna, permite revelar novos enlaces da Medicina com a Psicanálise e abrir perspectivas. Antes, é necessário, diante da profusão de conceitos, delimitar nosso campo epistemológico. A Psicanálise continua sendo uma psicologia em função do inconsciente, um método de investigação da mente e uma atividade terapêutica. A medicina Psicossomática, por sua vez, é um estudo das relações mente-corpo com ênfase na explicação psicológica da patologia somática, uma proposta de assistência integral e uma transcrição para a linguagem psicológica dos sintomas corporais. Creio desnecessário lembrar as raízes históricas desse último conceito, mas vale sublinhar o tema das organoneuroses, pautado no modelo de histeria de conversão, como propôs o Fenichel. Tem aumentado minha convicção de que a Medicina Psicossomática deve mais ao psicanalista que à Psicanálise, e talvez devesse restringir minha exposição a esse aspecto, embora o tema me obrigue a buscar, principalmente, os pontos de interseção das duas disciplinas, mas há que resgatar a pessoa do psicanalista como o grande arquiteto do movimento psicossomático do século XX, e, portanto, da medicina integral e humanística, enfim, do discurso médico assistencial neo- hipocrático. Página | 14 TIPIFICANDO AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS As doenças psicossomáticas surgem como consequência de processos psicológicos e mentais do indivíduo desajustados das funções somáticas, viscerais e vice-versa. As possibilidades de distúrbios de função e de lesão nos órgãos do corpo, caracterizam-se devido ao mau uso, o efeito degenerativo e o descontrole dos processos mentais, que se diferenciam neste ponto das doenças mentais, em que o mau desempenho não é opcional. Os transtornos emocionais desempenham um papel importante, pois precipitam o início, recorrência ou agravamento de sintomas das doenças puramente orgânicas, podendo se transformar em doenças crônicas, tendem a associar-se com outros transtornos psicossomáticos, podendo ocorrer numa família em diferentes períodos da vida de um paciente, ou em certos ambientes de trabalho e até de lazer. As doenças psicossomáticas mostram grande diferenças de incidência nos dois sexos, assim, asma é duas vezes mais frequente nos meninos do que nas meninas, antes da puberdade, depois, é menos comum nos homens do que nas mulheres, a úlcera do duodeno manifesta-se mais em homens, e a doença de Basedow, mais em mulheres. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS DE ADAPTAÇÃO A todo instante estamos fazendo atividades de adaptação, ou seja, tentativas de nos ajustarmos às mais variadas exigências, seja do ambiente externo ou do mundo interno, atingindo este vasto universo de ideias, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos, imagens, que cada um tem dentro de si. Selye demonstrou, em trabalhos publicados a partir de 1936, que o organismo quando exposto a um esforço Página | 15 desencadeado por um estímulo percebido como ameaçador à homeostase, seja ele físico, químico, biológico ou mesmo psicossocial, apresenta a tendência de responder de forma uniforme, inespecífica, anatômica e fisiologicamente a esse conjunto de reações inespecíficas na qual o organismo participa como um todo, ele a chamou de Síndrome Geral de Adaptação. Esta síndrome consiste em três fases: Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão. Não é necessário que a fase se desenvolva até o final para que haja o estresse e é evidentemente só nas situações mais graves que se atinge a última fase, a de exaustão. A Reação de Alarme subdivide-se em dois tempos: choque e contrachoque. Parte dessa reação assemelha-se à Reação de Emergência de Cannon. Ele percebeu que quando um animal era submetido a estímulos agudos ameaçadores da homeostase, inclusive medo, raiva, fome e dor, o animal apresentava uma reação em que se preparava para a luta ou fuga. Esta reação caracteriza-se por: • Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, para permitir que o sangue circule mais rapidamente e, portanto, para chegar aos músculos esqueléticos e ao cérebro mais oxigênio e nutrientes e facilite a mobilidade e o movimento; • Contração do baço, levando mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea, acarretando mais oxigênio para o organismo particularmente nas áreas estrategicamente favorecidas; • O fígado libera glicose armazenado na corrente sanguínea para que seja utilizado como alimento e, consequentemente, mais energia para os músculos e cérebro • Redistribuição sanguínea, diminuindo o fluxo para a pele e vísceras, aumentando para músculos e cérebro; Página | 16 • Aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios, para que o organismo possa captar e receber mais oxigênio; • Dilatação pupilar e exoftalmia, isto é, a protuberância do olho para fora do globo ocular, para aumentar a eficiência visual; • Aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea, para reparar possíveis danos aos tecidos por agentes externos agressores. Os pequenos acontecimentos estressantes, chamados de problemas do cotidiano, constituem a segunda categoria e acontecem com maior frequência na vida das pessoas. Na terceira categoria encontram-se os conflitos contínuos da vida: problemas de casais, desemprego prolongado, dificuldade de educar os filhos, etc. Entretanto, as pessoas diferem quanto à sua forma de reagir aos desafios impostos pela vida, enquanto algumas são capazes de superar uma perda altamente significativa,outros podem dar início a um transtorno psiquiátrico diante de um acontecimento estressante de menor gravidade. Assim, as variáveis individuais desempenham um papel decisivo na formação de um problema psicopatológico. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS DIGESTIVA O sistema gastrointestinal é especialmente sensível ao estresse geral. A perda de apetite é um dos seus primeiros sintomas devido à paralisação do trato-gastrointestinal sob ação simpática, e pode ser seguido por vômitos, constipação e diarreia no caso de bloqueios emocionais. Sinais de irritação e perturbação dos órgãos digestivos podem ocorrer em qualquer tipo de estresse emocional. É geralmente sabido que as úlceras gástricas são registradas com maior frequência em pessoas que são desajustadas em seu trabalho e que sofrem de tensão e frustração constantes. As pesquisas informam Página | 17 que pacientes sob estresse secretam uma quantidade considerável de hormônios digestivos pépticos na sua urina, isso indica que os hormônios do estresse aumentam a produção de enzimas pépticas, ou seja, a úlcera parece ser produzida com o aumento do fluxo dos sucos ácidos causado pelas tensões emocionais, pois o estômago se encontra desprotegido do muco protetor secretado em estado de homeostase, sob ação do sistema nervoso autônomo parassimpático. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O CÂNCER Cada pessoa tem sua própria participação na saúde ou na doença, a todo o momento, assim como todos os doentes participam de sua própria recuperação. Essa forma de pensar não pretende desfazer, de forma alguma, dos médicos, ela apenas ensina o que pode ser feito em conjunto, entre médico e paciente para a recuperação da saúde. Os Simonton, dirigem o Cancer Counseling and Research Center de Dallas, Texas. Carl é um médico radioterapeuta, especializado no tratamento do Câncer e Stephanie é formada em Psicologia, eles defendem a ideia de que as doenças somático-viscerais sofrem grande influência psicológica. Ao tratarem de vários casos de doentes com Câncer, eles puderam observar que a vontade de viver influencia na expectativa de vida de seus pacientes. Pacientes que, por algum motivo particular, achavam que teriam que viver mais tempo do que o previsto pelos médicos, realmente o viviam, provando que tinham certa influência sobre o curso de sua própria doença. O casal Simonton parte da premissa de que uma doença não é só um fato físico, e sim, um problema que diz respeito à pessoa como um todo: corpo, emoções e mente. As emoções e a mente têm uma certa função na suscetibilidade ao Câncer e na sua recuperação. Página | 18 Um fato muito importante nas pesquisas do casal Simonton foi identificar em seus pacientes que o Câncer, por exemplo, surge como uma indicação de problemas em outras áreas da vida da pessoa, agravados ou compostos de uma série de conflitos psíquicos e estresses que surgem de 6 a 18 meses antes de aparecer o Câncer. Foi observado que as pessoas reagravam a esses estresses com um sentimento de falta de esperança, desespero, desistindo de lutar por uma vida melhor. Acredita-se que essa reação emocional dispara um conjunto de reações fisiológicas que suprimem as defesas naturais do corpo, tornando-o suscetível à produção de células anormais, devido a um desequilíbrio profundo mental, hormonal, orgânico e psicológico. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O CRESCIMENTO Os denominados hormônios de adaptação ou hormônios do estresse, são também importantes reguladores do crescimento em geral. ACTH e COL são poderosos inibidores de crescimento e o STH ativador que é realmente denominado hormônio do crescimento. Estes hormônios tem efeitos opostos poderosos. Portanto, se uma criança é exposta a estresse excessivo, seu crescimento é prejudicado, sendo tal inibição, pelo menos em parte, consequência do excesso de secreção de ACTH e COL. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O SONO O fato de dormir bem ou não, dependerá muito do que fazemos durante o dia. Não devemos nos deixar levar por impulsos nem pela tensão, além do ponto necessário para aplicar-nos da melhor forma possível ao exercício que desejamos fazer. Deixando-se dominar pela tensão, especialmente nas últimas horas do dia, a reação de estresse Página | 19 por via hormonal poderá processar-se durante toda a noite. Devemos tentar não sobrecarregar desproporcionalmente o corpo ou a mente pela repetição das mesmas ações exaustivas e evitar a repetição inútil da mesma tarefa, quando já se está exausto. Então, para dormir bem precisamos nos resguardar melhor ainda contra o estresse à noite. Não somente reduzindo o excesso de luz, barulho, frio ou calor, mas especialmente, não nos entregando, durante o dia, ao tipo de estresse que nos manterá acordados à noite. Esse estresse, que tende a se perpetuar, pode ser resultado de refeições pesadas, bebidas, perturbações emocionais e muitas outras coisas. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO COM O DESGASTE DA VIDA Podemos considerar o estresse como um grau de desgaste do corpo, como um todo. Assim, a estreita relação entre o envelhecimento e o estresse torna-se evidente. O estresse é a soma de todo o desgaste causado por qualquer tipo de reação vital através do corpo, a qualquer momento. Por isso ele é uma espécie de velocímetro da vida. Portanto, a verdadeira idade (não a cronológica, mas a fisiológica) depende muito do grau de desgaste, do ritmo do autodesgaste. A vitalidade é como um tipo especial de depósito bancário que você pode usar para fazer retravadas, mas não para fazer depósitos. O único controle sobre essa fortuna é o ritmo com que você faz 10 suas retravadas. A solução evidentemente, não é suspender as retravadas, pois isso resultaria na morte. Nem é retravar apenas o suficiente para a sobrevivência, pois isso permitiria somente uma vida vegetativa. O processo inteligente é gastar convenientemente a vitalidade, mas nunca malbaratar. Muitas pessoas pensam que, depois de se terem exposto a atividades que resultam em grande estresse, um repouso pode fazer com que se Página | 20 restabeleçam completamente suas condições. Isto, porém é falso, uma vez que cada experiência deixa uma cicatriz indelével, pois ela exige tanta adaptabilidade forçando o organismo como um todo até o nível de exaustão, que não podem ser restabelecidas. É verdade que após certas experiências exaustivas, o repouso pode fazer com que voltemos quase às condições anteriores, pela eliminação da fadiga mais grave. Mas a ênfase fica no termo quase. Desde que passamos constantemente por períodos de estresse e repouso, através de toda a vida, um pequeno déficit de energia de adaptação vai sendo acumulado dia a dia e resulta no que denominamos envelhecimento. AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS RELAÇÃO DO HIPOTÁLAMO E ESTADO DE ESTRESSE Nosso organismo é dotado de mecanismos adaptativos, nos quais todos os órgãos e tecidos exercem funções que ajudam a manter as condições do organismo, como um todo, estável. Nosso organismo possui uma capacidade de equilíbrio que mantém suas condições estáticas ou constantes, no meio interno. O hipotálamo é a área do sistema nervoso central que tem sob sua responsabilidade várias funções que são básicas para a manutenção e sobrevivência do organismo. Através do sistema nervoso autônomo e do sistema endócrino, o hipotálamo promove uma série de mudanças orgânicas necessárias para a conservação do equilíbrio durante estados de grande atividade física e/ou mental e através de mecanismos próprios, como o mecanismo da fome, da sede e da regulação térmica corporal, produz subsídios que possibilitam o funcionamento integrado, mantendo a harmonia orgânica durante todo o período em que o indivíduo estiver sob a influência do estressor. Página | 21 O funcionamento global dohipotálamo é o grande responsável pela gênese das condições orgânicas para que o sujeito “estressado” possa, dentro de certos limites, se adaptar e superar as mudanças responsáveis pelo estresse. Todo tipo de questionamento relacionado com a situação que se apresenta (estressora) está acontecendo no cérebro e todas estruturas ligadas a ele estão sofrendo a influência da ansiedade, do desconforto, da insegurança, geradas no seu interior. A isso se deve a grande responsabilidade do hipotálamo nos estados de estresse em suprir o cérebro com todos os elementos necessários para a sua importante atividade, não deixando de lado as necessidades globais do organismo, principalmente nos casos de estresse físico, onde a restauração tecidual é o marco das necessidades. São consideradas três fases evolutivas do estresse, elencadas a seguir: • Fase de alarme: é a primeira fase, na qual o indivíduo entra em contato com o agente estressor e entra em estado de alerta. A pessoa apresenta sintomas como: aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca, suor, dor de estômago, tensão muscular; • Fase de resistência: nessa fase há um acúmulo de tensão e a pessoa tem mais facilidade para entrar na fase de alarme. A pessoa continua em contato com os agentes estressores e pode desenvolver: insônia, queda de cabelo, mudança de humor, gastrite, diminuição do desejo sexual; • Fase de exaustão: nessa última fase, os mecanismos de adaptação e defesa da pessoa começam a falhar, e os problemas psicossomáticos se agravam. Página | 22 Para Pierri Marty o adulto possui três domínios essenciais, mobilizáveis de acordo com os sujeitos, para uma adaptação as suas condições de vida. O do aparelho somático, de essência arcaica, o do aparelho mental, sujeito a regressões e reorganizações, o mais longo a ser individualmente determinado e o mais recente estabelecido e o do comportamento, presente no decorrer do desenvolvimento e mais ou menos relacionado e submetido à ordem mental. Situações traumatizantes gera um afluxo de excitações ou uma queda brusca destas, podem causar uma desorganização dos aparelhos funcionais, que se propaga por todo aparelho psíquico, até encontrar um sistema que possa contê-la. Como consequência, quando a disponibilidade conjugada do aparelho mental e do sistema de comportamento é ultrapassada ou prejudicada por uma nova situação, o aparelho somático responde. O fim das somatizações corresponde ao fim dos movimentos desorganizadores, isto é, ao fim da depressão essencial, a qual desencadeou em parte, manteve, agravou ou complicou uma determinada doença, independentemente das sistemáticas próprias a esta e das recuperações regressivas que poderiam ter surgido. Para que essa condição ocorra, é necessária uma mudança radical do estado psicoafetivo das pessoas diante do valor traumático dos acontecimentos ou de situações anteriores, ou o cessar tanto do peso traumático inicial como o de outros incidentes traumáticos ocorridos nesse espaço de tempo. A CLÍNICA PSICOTERÁPICA E SINTOMAS PSICOSSOMÁTICOS A ANALISAR E TRATAR Os principais sintomas psicológicos/psíquicos e físicos/orgânicos são: Página | 23 SINTOMAS PSICOLÓGICOS/PSÍQUICOS • Estresse; • Ansiedade; • Impaciência; • Problemas de concentração. SINTOMAS FÍSICOS/ORGÂNICOS: • Taquicardia; • Dores de cabeça frequente; • Redução das defesas imunológicas; • Queda de cabelo; • Insônia; • Tensão muscular. Há diversos tipos de doenças psicossomáticas, suas manifestações e distúrbios físicos variam de pessoa para pessoa. O mais importante é entender que essas doenças podem afetar a qualquer pessoa, tudo depende do momento psicológico que ela esteja passando. Abaixo, você poderá reconhecer doenças físicas que surgem a partir de um problema psicológico ou que já existem e se agravam por conta disso: • Sistema nervoso: como enxaqueca, dores na vista, dormência, formigamentos e simulação de doenças neurológicas; • Pele: irritações, coceira e problemas dermatológicos provocados pelo sistema nervoso; • Músculo e articulação: dores, tensão, espasmos e contraturas; Página | 24 • Dor de garganta: inflamação nas amígdalas e sensação de nó, como se a garganta ficasse fechada; • Sistema Circulatório: dor no peito, palpitações, pressão arterial alta e sintomas parecidos com os do infarto; • Sistema Respiratório: falta de ar e sufocamento; • Estômago: dor, queimação, náuseas, refluxo, gastrites e úlceras gástricas; • Intestino: constipação ou diarreias; • Sistema urinário: dor e dificuldade para urinar e doenças urológicas; • Dificuldades sexuais: diminuição do desejo sexual, alterações no ciclo menstrual, impotência e dificuldade para engravidar. Na somatização, a pessoa apresenta sintomas físicos, mas após vasta investigação não há uma doença orgânica, apontando como causa desse sintoma o emocional. Um bom exemplo seria a síndrome do pânico, na qual a pessoa relata um grande mal-estar físico, como taquicardia, dores no peito, náuseas, desconforto abdominal, tontura, falta de ar, entre outros, e o médico não encontra nenhuma patologia. Ao ser diagnosticado com tal doença, o indivíduo não pode somente cuidar dos problemas físicos, mas principalmente, dos fatores psíquicos que favoreceram o surgimento da doença e das causas que a mantém, sendo necessário um trabalho em conjunto do médico especialista na doença que foi se manifestou fisicamente e do psicólogo que dará conta do lado emocional, com o intuito de uma abordagem psicossomática privilegiar o doente, e não a doença, e tenta compreender seu significado, relacionando um sintoma físico a um problema emocional que requer cuidado, paciência e que raramente se consegue numa primeira consulta. 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