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SEGURANÇA PÚBLICA MUNICIPAL AULA 1 Claudio Frederico de Carvalho 2 CONVERSA INICIAL A força policial no país surgiu e foi se aperfeiçoando, seguindo o processo evolutivo da nação. Inicialmente composta por lavradores e professores voluntários, trazia em seu bojo a característica preponderante de aproximação da população. À medida que foi evoluindo e se adaptando, passou a ter diversas denominações e inclusive outras formas de atuação, vindo a se tornar militarizada e a compor a força de exército. Neste capítulo iremos tratar sobre sua concepção histórica e a criação efetiva da polícia no Brasil, agora não mais composta por voluntários, e sim, como uma instituição policial. Veremos a criação da polícia originariamente como uma força municipal. Teremos a oportunidade de estudar sobre a divisão do poder de polícia, criando, assim, os ramos da polícia administrativa e polícia judiciária. Por fim, como uma forma de se buscar sua essência de polícia de aproximação, iremos tratar sobre a forma de policiamento comunitário, restaurado com a Constituição Federal de 1988. TEMA 1 – CONCEPÇÃO HISTÓRICA O ser humano, via de regra, tem na sua essência o convívio em sociedade como um fator preponderante. Para que se possa manter esse convívio de modo harmonioso, justo e solidário, faz-se necessário estabelecer regras a fim de criar e preservar direitos individuais e coletivos. Assim, neste meio, de forma natural, surge o poder de gestão, o qual passa a ter como função principal a preservação desses direitos e garantias – individuais e coletivos. Desse modo, para que se possa cumprir tal atribuição – de suma importância para a existência e perpetuação da sociedade – faz-se necessária a criação de uma “força de policial”, a qual passa a ter como missão institucional o dever de policiar o cidadão. Em uma sociedade tribal, o próprio líder do grupo assume essa competência, contudo, à medida que esta comunidade começa a crescer e expandir, a função de policiar de forma natural passa a ser delegada para terceiros, surgindo, assim, o que chamamos de força policial. Desta feita, podemos concluir que a força policial propriamente dita é um organismo que 3 emerge do seio do próprio grupo, tendo como finalidade a garantia da coesão e o bem comum dos seus integrantes. Com a evolução desses grupos sociais, as atribuições de polícia passaram a ser mais fragmentadas e especializadas, sendo assim divididas, de forma didática, as ações de polícia administrativa, judiciária, alfandegária, aduaneira, fiscal etc. No Brasil, no ano de 1531, foram estabelecidas as primeiras diretrizes destinadas à ordem pública. Na cidade de São Vicente, no ano de 1542, foi instalada a primeira força policial, organizada por colonos a fim de expulsar uma força espanhola que ameaçava aquela capitania. Com o passar dos anos, a Colônia passou a ter três linhas de tropas, a primeira voltada à defesa externa, a segunda com a função de garantir a segurança interna e a última composta por voluntários, ficando as tropas de segunda e de terceira linha com a função de efetuar o policiamento na capitania de São Paulo. Após a descoberta de ouro e pedras preciosas no início do século XVIII, foi constituída uma tropa armada específica, a fim de proteger, em especial, as riquezas que pertenciam à Coroa Portuguesa. Essa unidade militar da coroa real portuguesa era composta por soldados portugueses, tendo a denominação de “Companhia de Dragões”. No dia 9 de junho de 1775, com a ineficiência dessa tropa de segurança, foi criado o primeiro corpo de policiais do Brasil, composto em sua maioria por brasileiros, remunerados pelos erários da Capitania. Tratava-se do Regimento Regular de Cavalaria de Minas. Com forte influência da França, em razão da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, no ano de 1801, com a vinda da realeza ao Brasil, passamos a ter uma força pública, composta por um corpo de profissionais específicos, sendo criada a Guarda Real de Polícia, passando a ser conhecida como a polícia da Corte na cidade do Rio de Janeiro. TEMA 2 – CRIAÇÃO DA POLÍCIA NO BRASIL Inicialmente a atividade policial no Brasil foi estabelecida conforme previsto nas Ordenações Filipinas. Os serviços de polícia, realizados gratuitamente, eram compostos por quadros ou quarteirões. O patrulhamento das cidades, seguindo o modelo de Portugal, no século XVII, passou a ser realizado pelos quadrilheiros. 4 Com a chegada da "nova população" de colonizadores que passaram a se instalar no país em busca de riquezas, este grupo de profissionais foi progressivamente substituído por pedestres, guardas municipais, corpos de milícias e serviços de ordenanças. Ao instalar a Corte Portuguesa no Brasil, foi criado o cargo de Intendente Geral de Polícia. Por conseguinte, o policiamento ostensivo preventivo passou a ser realizado no ano seguinte, pela recém criada Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da Corte, formada por 218 guardas, homologando, assim, a existência das forças policiais no Brasil. Com a abdicação de D. Pedro I, a Guarda Real de Polícia, composta na sua maioria por profissionais de naturalidade portuguesa, acabou se insurgindo contra o novo sistema de governo, vindo com isso a ser extinta. TEMA 3 – POLICIAMENTO MUNICIPAL Em 14 de junho de 1831, com a nomeação da Regência Provisória, foi criado no Brasil o Corpo de Guardas Municipais, dividido em esquadras, em cada Distrito de Paz. A Guarda Real de Polícia, ao se insurgir contra a Regência trina provisória, foi extinta em 17 de julho de 1831. Com a nomeação da Regência Permanente, no dia 18 de agosto de 1831, foi instituída a Guarda Nacional e, no mesmo ato, foram extintas as guardas municipais, os corpos de milícias e serviços de ordenanças. Porém, em 10 de outubro do mesmo ano, foram novamente reorganizados os corpos de guardas municipais voluntários, no Rio de Janeiro e nas demais províncias. E, em 22 de outubro, entrou em vigor o 1º Regulamento das Guardas Municipais. Em 1832, foi criado o posto de Major na Guarda Municipal, sendo nomeado para exercer a função o Sr. Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), o qual, em 18 de outubro, assumiu o Comando do Corpo de Guardas Municipais Permanentes, vindo a exercer a atribuição até dezembro de 1839. Nas demais cidades do Império brasileiro, exceto as capitais das províncias, em lugar da instalação de um contingente próprio da Guarda Municipal, foi autorizada a implantação das guardas policiais, tendo função idêntica à das guardas municipais. Em 25 de junho de 1834, foi aprovada a organização da Guarda Policial em toda a província, assim, a denominação Guarda Policial passou ser um sinônimo de Guarda Municipal. 5 No período de instabilidade na Nação, o contingente das guardas municipais eram constantemente incorporados às fileiras da Guarda Nacional, para o emprego nos campos de batalha. Com isso, esses profissionais passaram a assumir uma postura mais militarizada, distanciando-se das origens do policiamento cidadão. Em 4 de fevereiro de 1836, com o intuito de reestabelecer esse vínculo de policiamento nas cidades, voltado para o cidadão, foi criada a Guarda Urbana. Seu contingente inicial foi composto por duzentos guardas municipais, que tinham a missão de fazer o serviço de polícia na cidade. Essa iniciativa tinha o condão de impulsionar a organização de uma polícia que pudesse oferecer maior garantia à propriedade e à segurança individual e tornar mais profícuo e menos oneroso o serviço que prestavam para a população local. TEMA 4 – POLÍCIA ADMINISTRATIVA E POLÍCIA JUDICIÁRIA Em 31 de janeiro de 1842, a atividade policial foi dividida em duas áreas de atuação, sendo elas: polícia administrativa e polícia judiciária. A missãoprincipal de ambas as áreas era de manter a segurança e a tranquilidade pública, além de fazer executar as leis. A polícia administrativa avaliava se a conduta era uma transgressão às posturas municipais e aplicava as sanções correspondentes. A polícia judiciária atuava na esfera penal, tinha a competência para proceder o corpo de delito, prender os culpados e conceder mandados de busca quando necessário. Com essa divisão de competências, as funções de chefe de polícia, delegado de polícia, subdelegado dos distritos, juiz municipal, juiz de paz, inspetor de quarteirão e fiscais municipais, assim como as atribuições das Câmaras Municipais, passaram a ter uma padronização em todo o Brasil Império. Em 1º de julho de 1842, entrou em vigor o Regulamento Geral das guardas municipais permanentes, vindo a padronizar a atuação, patentes e uniformes em todo o país. Com o término da Guerra do Paraguai e a natural militarização das guardas municipais, a força policial do país foi reorganizada, dividida em dois corpos: um militar e outro civil. O corpo militar correspondia ao corpo policial já existente, mantendo sua denominação de Guarda Municipal. O corpo paisano ou civil foi denominado 6 Guarda Urbana e ficou subordinado ao Chefe de Polícia local, resgatando a terminologia de 1836. A Guarda Municipal, após mais de 50 anos compondo a força auxiliar do exército, passou a ser conhecida também como Corpo Policial Militar, muito embora mantivesse sua denominação original. Em 9 de outubro de 1889, foi criada a Guarda Cívica, com a finalidade de auxiliar o patrulhamento da capital do Império. No ano de 1892, em razão de o contingente do corpo de guardas municipais ser equivalente a uma brigada, essa instituição passou a ser conhecida como Brigada Militar. Nesse novo momento político, após a Proclamação da República, vários municípios reorganizaram as suas guardas municipais, como: a cidade de Porto Alegre, em 3 de novembro de 1892, a cidade de Recife, em de 22 de fevereiro de 1893, e a cidade de Curitiba, em 22 de novembro de 1895. Assim, as guardas municipais mantiveram suas atribuições no policiamento das cidades, somando a estas a competência de fiscalizar as posturas municipais, atribuição que anteriormente havia sido transferida aos guardas urbanos. No ano de 1902, o sistema policial existente foi novamente dividido, sendo agora um ramo civil e outro militar. Com isso, a atividade de polícia civil passou ser subordinada ao chefe de polícia, sendo constituído, em seus quadros, um corpo de profissionais uniformizados denominado Guarda Civil, o qual tinha as atribuições semelhantes e suplementares às da polícia militar. Por sua vez, a função de polícia militar continuou sendo exercida pela Brigada Militar. No ano de 1905, toda a força policial estadual existente no país foi reorganizada mantendo essa divisão, bem como preservando a existência da guarda municipal nos municípios. Na cidade de Curitiba, no ano de 1932, a guarda municipal deixou de exercer o patrulhamento ostensivo na cidade, vindo o seu contingente a transitar para o cargo de guarda fiscal e assumindo a nova função de fiscalizar somente parques, praças, bosques e o trânsito da capital paranaense. A partir de 1935, com a retração da autonomia dos municípios, algumas Constituições Estaduais começaram a tratar da manutenção da ordem pública como competência exclusiva dos estados, transferindo para os municípios a competência da fiscalização do trânsito. Assim, no de 1935, os integrantes da 7 Guarda Civil do Paraná, conhecida como Guarda Cívica, que atuavam na fiscalização de trânsito, foram incorporados ao município de Curitiba, vindo a agregar ao contingente dos guardas fiscais. No chamado Estado Novo, os estados e os municípios perderam suas respectivas autonomias, com a implantação do sistema totalitário no país. Após Constituição da República de 1946, as polícias dos estados, dos territórios e do Distrito Federal passaram a ser oficialmente denominadas polícias militares, instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem nos Estados, sendo consideradas força auxiliar e reserva do exército. Com o início do regime militar, foram reorganizadas as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito Federal. Esta reorganização teve como consequência a extinção das demais polícias fardadas, tais como: guardas municipais, guardas civis, Corpo de Fiscais do DET, guardas rodoviários do DER e vigilantes municipais. TEMA 5 – POLÍCIA CIDADÃ Com o revigoramento da concepção de polícia cidadã por conta da promulgação da Constituição de 1988, estabeleceu-se uma nova era no direito brasileiro, trazendo aos municípios maiores competências, inclusive e principalmente na segurança pública municipal. Os municípios foram elevados à condição de entes federados, equiparando-os aos estados e ao Distrito Federal. No aspecto da segurança pública, outorgou-se aos municípios a faculdade de criar e manter suas guardas municipais. Assim, demais legislações federais, seguindo esses mandamentos constitucionais, inseriram os municípios como protagonistas da segurança pública das cidades. NA PRÁTICA A instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no estado do Rio de Janeiro e a Unidade Paraná Seguro (UPS) no estado do Paraná são exemplos clássicos do distanciamento das unidades policiais com a comunidade. Assim, em uma tentativa de resgatar essa aproximação com a população, ambos os programas foram implantados. 8 Vemos na sua essência a característica de polícia de proximidade ou polícia comunitária, sempre procurando trabalhar de forma integrada com os órgãos governamentais, em especial com os pertencentes ao município, bem como em parceria com a comunidade local e diferentes atores da sociedade civil organizada. FINALIZANDO Ao estudarmos os aspectos históricos da segurança pública, podemos constatar que, à medida que as instituições policiais passam a exercer uma função mais voltada à repressão e/ou seu corpo profissional passa a ser utilizado para a manutenção da soberania nacional ou para o emprego como força de dissuasão contra a população dissidente, consequentemente, teremos uma instituição policial mais distante da população, bem como uma comunidade local mais insegura e carente da presença do Estado, enquanto gestor. Por sua vez, o aumento da criminalidade, a ineficiência policial, o surgimento de milícias e o crime organizado passam a ser destaques diários nos meios de comunicação. Manter a filosofia e praticar na sua essência os princípios do policiamento comunitário ou de aproximação é a forma mais eficaz para que juntos possamos ter uma diminuição significativa no índice de criminalidade, maior respeito e confiança nas instituições de segurança pública e, em especial, uma população mais segura e amparada pelo poder estatal. 9 REFERÊNCIAS AMARAL, L. O. de O. Direito e segurança pública: a juridicidade operacional da polícia. Brasília: Consulex, 2003. BOAS, A. V. Segurança urbana: gestão municipal. Edição do autor. São Paulo: [s.n.], 2009. CARVALHO, C. F. de C. O que você precisa saber sobre guarda municipal e nunca teve a quem perguntar. 3. ed. Curitiba: Clube do Autor, 2011. CARVALHO, C. F. Guarda Municipal – Instituição bicentenária mantendo a segurança pública no Brasil. DireitoNet, 4 jun. 2011. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6331/Guarda-Municipal-Instituicao- bicentenaria-mantendo-a-seguranca-publica-no-Brasil>. Acesso em: 26 jun. 2017. COTTA, F. A. Breve história da polícia militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fino Traço, 2014. MORAES, B. A. A. de. A guarda municipal e a segurança pública. Piracicaba: Degaspari, 1995. PINTO JÚNIOR, D. V.; MONTEIRO, J. P. História da políciado exército – PE. São Paulo: Gonçalves, 1988. ROMÉRO, A. Instruções policiais: para guardas rondantes. Polícia Municipal. Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas do Jornal do Brasil, 1935.
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