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Discussõe� d� Anális� d� Comportament� Acerc� d� Transtorn� Psiquiátric�. Bibliografia Básica: BOAS, D. L. O. V. BANACO, R. A.; BORGES, N. B..B. Discussões da Análise do Comportamento Acerca dos Transtornos Psiquiátricos. Em: BORGES, N. B.; CASSAS, F. A. Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: ARTMED, 2012, CAPÍTULO 9 pg 95-101. Assuntos do capítulo ➔ Transtornos psiquiátricos. ➔ Os motivos que levam um cliente a procurar um psicólogo clínico. ➔ Problemas clínicos. ➔ Multideterminação do comportamento. ➔ Semelhanças e diferenças entre “transtornos psiquiátricos” e os demais comportamentos. ➔ Modelos metafísico, estatístico e normalidade. ➔ Transtornos psiquiátricos como déficits ou excessos comportamentais. ➔ Vantagens do modelo analítico ‑comportamental para ‘psicopatologias’. ➔ Sofrimento como critério para intervenção “Influenciado pelo modelo de seleção natural de Darwin, Skinner propôs o modelo de seleção por consequências como explicação para o aparecimento e manutenção dos comportamentos dos organismos.” - As diferenças de comportamento dos indivíduos e entre os indivíduos podem ser explicadas através de variação e seleção. Para a análise do comportamento esse fenômenos possuem causas e natureza iguais aos demais comportamentos. ➔ Existem os fenômenos comportamentais chamados de transtornos mentais? ➔ Por que esses padrões comportamentais são chamados e classificados como transtornos mentais? ➔ O que distingue a normalidade da anormalidade? Três discussões a saber: 1. problemas clínicos; 2. multideterminação do comportamento; 3. normalidade: um conceito definido por práticas culturais. 1. Problema� Clínic� “Os motivos que levam um indivíduo a procurar ajuda de um psicólogo clínico são a busca de autoconhecimento e/ou problemas que o cliente não está conseguindo enfrentar sozinho, entre eles os chamados transtornos psiquiátricos.” Um indivíduo diz que está com problemas quando seus comportamentos não produzem aquilo de que ele gostaria ou, quando produzem, trazem consigo sofrimento -> a dificuldades em emitir respostas que diminuam estimulações aversivas ou que deem acesso a reforçadores. possíveis motivos: - Falta de repertório: o indivíduo não sabe emitir a resposta que produz um comportamento de estímulo positivo, o indivíduo não controla seu ambiente da melhor maneira para poder reforçar sua resposta ou ele não tem noção do quanto aquela resposta é necessária e assim não produz a consequência. - Estar acometido por um transtorno psiquiátrico: Tanto o transtorno psiquiátrico como qualquer outro comportamento sofrem influência nos níveis: filogenético, ontogenético e cultural. 2. Multideterminaçã� d� comportament� Para a Análise do Comportamento, a psicologia é uma ciência natural que está alinhada com a biologia, especificamente com o modelo de seleção natural. Assim, o comportamento é entendido como algo que é natural, é variável e passa por um processo de seleção pelos efeitos que produz no ambiente, o que chamamos de seleção por consequências. ➔ filogenético, dado que o indivíduo nasce com uma predisposição a responder de determinada maneira, a qual foi herdada através de seleção de genes; ➔ ontogenético, dado que, a partir de sua concepção, o indivíduo naturalmente age (emite respostas) de forma variável (variabilidade comportamental), produzindo mudanças no ambiente, sendo essas (mudanças no ambiente) selecionadoras de repertório (tornarão mais prováveis uma parcela destas respostas); ➔ cultural, dado que o sujeito é sensível, também, ao ambiente social que integra, sendo este (ambiente social) selecionador de padrões comportamentais típicos daquele grupo. Resumidamente, os“transtornos psiquiátricos”, assim como qualquer outro comportamento, são comportamentos multideterminados em suas origens e em sua manutenção. Por um lado, iguala seus aspectos causais atribuindo a ambos a multideterminação histórica, por outro lado, permite uma distinção entre eles pelo comprometimento que podem exercer sobre o organismo, inclusive diferentes graus de comprometimento em diferentes níveis de variação e seleção. Compreendendo o fenômeno por esta perspectiva, ele poderá e deverá buscar identificar as contingências que influenciaram o desenvolvimento deste repertório e, mais ainda, as contingências que o mantêm. Diante delas o clínico estará mais perto de encontrar meios eficientes de intervir sobre tais padrões comportamentais, resultando em menor sofrimento para o cliente. 3. Normalidad�: u� conceit� definid� por prática� culturai� É importante falar sobre “normalidade” e “anormalidade”, pois, frequentemente, ouvimos que pessoas que apresentam algum quadro psiquiátrico são “loucas” ou “anormais”. A classificação de padrões comportamentais como transtornos mentais é determinada por práticas culturais que estabelecem os padrões socialmente aceitos ou não. Desse modo, padrões comportamentais que violam expectativas sociais são tratados, frequentemente, como “anormais” ou “psicopatológicos”. - Na idade média buscava-se atribuir essas alterações a falhas mentais - geralmente faz com que se fique buscando causa ou cura na mente quando na verdade a causa está na história de vida e a cura na maneira como esse indivíduo interage com seu ambiente. - O modelo estatístico de normalidade - distorção do modelo de seleção natural de Darwin - seguindo critérios estatísticos de determinação. Na tentativa de encontrar uma forma diferente de lidar com esses fenômenos comportamentais, a análise do comportamento dá ênfase à análise de contingências (avaliação funcional), entendendo que alguns comportamentos merecem maior atenção do clínico ou do profissional de saúde não porque sejam "patológicos" ou “anormais”, mas porque violam expectativas sociais e, consequentemente, trazem maior sofrimento àqueles que os apresentam ou àqueles que com eles convivem. A análise do comportamento propõe que esses padrões comportamentais sejam analisados como déficits ou excessos comportamentais. Desta forma, a análise do comportamento utiliza o critério do sofrimento para definir se um comportamento merece ou não uma atenção “especial”: é o sofrimento que a pessoa que se comporta/manifesta, ou os que estão ao seu redor estão submetidos, que justificaria o seu estudo e a busca do seu controle. Para a análise do comportamento, “transtornos psiquiátricos” são da mesma natureza que “problemas clínicos”, ou seja, são comportamentos resultantes da interação entre o indivíduo e seu meio. Tais padrões comportamentais se desenvolvem a partir do entrelaçamento de três níveis de variação e seleção: filogenético, ontogenético e cultural. Assim, os transtornos mentais podem ser considerados como respostas normais para situações extremas ou “transtornadas” Desse ponto de vista, de acordo com a concepção da análise do comportamento, o fenômeno comportamental tratado como “transtorno mental” seria um padrão comportamental selecionado ao longo da história de interação entre as respostas emitidas pelo indivíduo e os efeitos ambientais delas decorrentes (que as selecionaram), Os objetivos terapêuticos seriam buscar novas formas de interação entre o indivíduo e seu meio, minimizando estimulações aversivas presentes nessas relações e aumentando estimulações apetitivas – diminuindo, assim, o sofrimento do indivíduo de forma direta ou indireta. Bibliografia complementar: BUENO, G. N.; NÓBREGA, L. G.; MAGRI, M. R.; BUENO, L. N. (2014). Psicopatologias de acordo com as abordagens tradicional e funcional. Comportamento em foco, v. 4, 2014, p. 27-37. Disponível em: https://abpmc.org.br/wpcontent/uploads/2021/08/141622281567a933aae65 d.pdf ● Forma de atuação e práticas clínicas desenvolvidas pelas abordagens tradicional (biológica) e funcional (comportamental) no estudo das chamadas psicopatologias. ● A psicopatologia é uma área do conhecimento que objetiva estudar os estados psíquicos relacionados ao sofrimento mental. O tratamento feito por médicos psiquiatras é estabelecido por meiodos diagnósticos por eles realizados e da utilização da farmacoterapia. ● Skinner, influenciado por Darwin e seu modelo de seleção natural, coloca que os comportamentos, inclusive os ditos patológicos, podem ser explicados pelo modelo de seleção por consequências, ou seja, pelos efeitos que produzem no ambiente. ● Para a Análise do Comportamento é incorreto rotular o comportamento como “doença” ou “psicopatológico”, dado que ele é uma ação emitida pelo organismo na interação com o ambiente. ● Enquanto a abordagem tradicional trata as psicopatologias como doenças, a Análise do Comportamento busca a função daquilo que nomeia como comportamento-problema e aplica um programa de intervenção que busca o seu controle O significado literal de psicopatologia é o estudo das doenças da alma ou patológico do psiquismo A classificação de doenças mentais é uma prática presente desde o século 5 a.C. na Grécia antiga. Naquela época, Hipócrates utilizava palavras como histeria, mania e melancolia para caracterizar algumas doenças mentais. A partir desse momento histórico, esses e outros termos passaram a fazer parte do jargão médico (e. g., loucura circular, catatonia, hebefrenia, paranoia, dentre outros). E a loucura, segundo Hipócrates, era uma consequência de uma desorganização orgânica no homem. Logo, foi retirada qualquer influência divina da explicação da loucura. o diagnóstico de doenças mentais tem sido feito por meio de entrevistas clínicas que buscam informações sobre ➔ a identificação do paciente (e. g., nome, idade, gênero, ocupação, dentre outros), ➔ suas queixas (e.g., qual a queixa e sua duração), ➔ a história da moléstia atual (e. g., descrição cronológica dos sintomas apresentados), ➔ os antecedentes psiquiátricos (e. g., diagnósticos, tratamentos, hospitalizações, medicamentação psiquiátrica), ➔ antecedentes pessoais (e. g., doenças médicas, cirurgias), ➔ história social (e. g., história ocupacional, relacionamentos, escolar, religiosa), ➔ hábitos e dependência de substâncias (e. g., tabagismo, uso de álcool e outras substâncias), ➔ antecedentes familiares (e. g., transtornos mentais e doenças clínicas dos familiares), ➔ medicamentos (medicações com ou sem prescrição que o paciente faz ou fez uso) ➔ alergias (e. g., agentes de reação alérgica) A entrevista clínica depende da percepção do médico acerca do caso e do relato verbal dos pacientes e de familiares destes. Assim, por ser baseado em relatos verbais e não em resultados laboratoriais, tampouco em exames físicos, como em outros tipos de patologias, nota-se que o diagnóstico pode sofrer influência da interpretação de quem o faz. Tendo em vista a necessidade de ferramentas que auxiliem profissionais na tarefa de classificar patologias, manuais diagnósticos foram criados e são, de tempos em tempos, atualizados, por exemplo, a Classificação Internacional das Doenças (CID) e o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM) (Guarneiro et al., 2008). DSM ➔ um manual específico de doenças mentais ➔ Há frequente utilização tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil A primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-I, com 132 páginas e 106 categorias de transtornos mentais foi publicada em 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Desde então, novas edições foram publicadas: O DSM-II, em 1968, com 134 páginas e 182 categorias O DSM-III, em 1980, com 494 páginas e 265 categorias O DSM-III-R, em 1987, com 597 páginas e 292 categorias O DSM-IV, em 1994, com 886 páginas e 292 categorias O DSM-IV-TR, em 2002, com 880 páginas que constituiu-se apenas em uma revisão da edição anterior, na qual tanto as categorias diagnósticas quanto a maioria dos critérios específicos para os diagnósticos foram conservados. Em 2013, o DSM-V, com 947 páginas, foi lançado sob a égide de inúmeras críticas, dentre as quais ser um manual que criou doenças para estabelecer um consumo maior de medicações, dado que o tratamento médico-psiquiátrico assim se pauta. Ao reparar na frequência da palavra reação, no DSM-I , conclui-se que é enganosa a suspeita na década de 50 que considerava a doença mental como algo que surgia na vida do paciente e que poderia ser transitória. Ou seja, não possuía causa biológica, mas estava ligada a problemas e a dificuldades da vida da pessoa. Outra forte influência observada nessa edição foi a da psicanálise. Observa-se um grande número de termos tipicamente psicanalíticos, como mecanismo de defesa, neurose, dentre outros (Burkle & Martins, 2009). Já no DSM-II verificou-se um aumento das categorias, avançando para 76. A categoria deficiência mental, por exemplo, que era dividida em apenas dois tipos no DSM-I (deficiência mental - familiar ou hereditária - e deficiência mental - idiopática), passou a ser descrita como retardo mental, compreendida por seis subtipos (retardo mental borderline, retardo mental leve, retardo mental moderado, retardo mental grave, retardo mental profundo, e retardo mental não especificado). Já o termo reação, muito utilizado na edição anterior, foi praticamente extinto. Com isso, supõe-se que a ideia de que os transtornos poderiam ser passageiros e decorrentes de situações sofridas pelo paciente perdeu força, dando lugar à ideia de que os transtornos são tipicamente biológicos e, desse modo, sem cura. Ademais, observou-se também um aumento no uso de termos psicanalíticos. As duas primeiras edições do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais não descreveram detalhadamente os sintomas, o que gerou dificuldades para se classificar o que era patológico e o que não era. O DSM-III dedicou-se a apresentação de uma classificação mais detalhada e com mais critérios a serem observados no ato do diagnóstico o DSM-III foi um marco na psiquiatria moderna, uma vez que nele novas categorias diagnósticas foram descritas (e. g., neurose de angústia foi subdividida em transtorno de pânico com e sem agorafobia e em transtorno de ansiedade generalizada). E ainda, alguns termos antes utilizados foram substituídos (e. g., doença mental por transtorno mental) para não suscitar questões etiológicas relacionadas com as causas. A partir da terceira edição o DSM passou, também, a fazer uso da abordagem multi-axial para a elaboração do diagnóstico. Desse momento em diante os diagnósticos passaram a ser submetidos às classificações apresentadas nos cinco eixos propostos: Eixo 1 – síndromes clínicas Eixo 2 – transtornos da personalidade e do desenvolvimento Eixo 3 – condições e transtornos físicos Eixo 4 – gravidade dos estressores psicossociais Eixo 5 – avaliação global do desenvolvimento Outra característica da terceira edição foi a hierarquização dos diagnósticos, isto é, o paciente que recebia um diagnóstico não poderia receber outro diagnóstico simultâneo. Por essa perspectiva, a patologia mais grave era considerada hierarquicamente superior ao outro quadro. Logo, a pessoa recebia apenas o diagnóstico da patologia mais grave, ou seja, uma única patologia era utilizada para explicar todos os sintomas que compunham o seu quadro clínico No DSM-III-R essa hierarquia foi extinta e o diagnóstico de mais de uma patologia passou a ser possível. Foi nesse momento que surgiu o termo comorbidade. O termo manteve-se no DSM-IV, e tem se perpetuado desde então. No DSM-III-R foram apresentadas mais 27 novas categorias de patologias. Notou-se também que o diagnóstico de neurose, herdado da tradição psicanalítica, deixou de ser usado definitivamente. Nessa edição também foi criado o apêndice Categorias Diagnósticas Propostas Necessitando Estudos Adicionais. Tal seção demonstra que o DSM é um instrumento em contínua construção e que, por isso, necessita sempre de investigações complementares que sirvam ao propósito de torna-lo mais completo e preciso (Burkle & Martins, 2009). O DSM-IV, apesar de apresentar 82 novas categorias, assemelha-se muito com as duas últimas edições (Burkle & Martins, 2009). Uma das críticas direcionadas ao DSM-IV diz respeito à excessivafragmentação dos quadros clínicos. Pondera-se que a partir do referido fracionamento pacientes passaram a receber vários diagnósticos, uma vez que os sintomas ultrapassam os limites rígidos propostos pelo próprio manual. Deriva de tal constatação que a comorbidade passou a ser, quase sempre, uma regra, quando, em verdade, deveria figurar como exceção Em 2002 foi publicado o texto revisado do DSM-IV – o DSM-IV-TR. Esse novo texto trouxe poucas modificações em relação à sua edição anterior, não houve, portanto, novidades relacionadas aos critérios diagnósticos e novas categorias - edição com o propósito exclusivo de corrigir a defasagem de mais de 12 anos sem uma nova edição NO DSM-V a APA promoveu mudanças significativas, por exemplo, o englobamento dos diagnósticos de transtorno autista (autismo), transtorno de asperger, transtorno desintegrativo da infância, transtorno de rett e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação foram todos englobados no DSM-5 em um único transtorno: transtorno do espectro do autismo (APA, 2013). Dentre as inúmeras alterações, destacam-se as estabelecidas nos critérios diagnósticos para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Foram acrescentados itens com o intuito de facilitar o diagnóstico, por exemplo, a idade de início para sua descrição foi alterada. Em edições anteriores do manual, os sintomas de hiperatividade e desatenção deveriam causar prejuízos antes dos 7 anos, já no DSM-V esses sintomas devem estar presentes antes dos 12 anos. No DSM-V passa a ser permitida a comorbidade desse diagnóstico com o transtorno do espectro do autismo (APA, 2013). A proposta básica do diagnóstico médico psiquiátrico é ocorrer pela exclusão. Todavia, para o alcance dessa proposta, esse diagnóstico só se daria depois de concluída a exclusão de toda e qualquer possibilidade de causa orgânica. Na ausência de achados laboratoriais independente acerca dessas alterações, o diagnóstico oferecido é baseado unicamente nos relatos verbais do indivíduo, que satisfazem os critérios estipulados pelo DSM-IV-TR (APA, 2000/2002) para os diferentes transtornos. O diagnóstico oferecido não é submetido à verificação independente por meio de instrumentos laboratoriais. A partir do diagnóstico médico-psiquiátrico estabelece-se o tratamento: realizado por meio da prescrição de psicofármacos. Psicofármacos são substâncias capazes de alterar a atividade psíquica, gerando alívio de sintomas e alterações tanto na percepção quanto no pensamento. O que difere os psicofármacos dos demais fármacos é a necessidade de atravessar a ‘barreira’ hematoencefálica para atingir os seus objetivos. Alguns fatores que podem interferir no efeito de um psicofármaco: ● características individuais (e. g., idade, sexo, peso, composição corpórea, alimentação, fatores genéticos), ● doenças (e. g., hepática, renal, cardíaca, infecções) ● padrão de uso (via de administração, dose, ambiente em que o fármaco é usado, a hora do dia em que o medicamento é administrado, a interação medicamentosa, o uso de álcool ou tabaco). Algumas críticas à abordagem tradicional: ➔ A ausência de critérios claros que definam o que seja o transtorno mental é dado mais que evidente. É possível observar influências reducionistas do dualismo mente e corpo na visão tradicional, pois, para além de todas essas limitações no diagnóstico dos transtornos mentais, logo, no tratamento das pessoas que recebem tal diagnóstico, o que se impõe é que os “(...) transtornos mentais podem ser conceituados em termos biológicos, haja vista que não existe nenhuma anormalidade laboratorial específica associada a essa causalidade (...).” (Brito, 2012, p. 58). Britto (2012) adverte ainda que “(...) a visão do comportamento como indício ou sintoma de transtorno mental predomina no contexto cultural e no contexto científico.” (p. 58). Conclui-se, portanto, ser crítica essa visão, dado que o que aceita como comprovação das alterações das respostas fisiológicas são conceitos bibliográficos e não evidências apontadas por instrumentos laboratoriais. Logo, a abordagem funcional está em oposição à visão tradicional. A abordagem funcional, como salientam Bueno e Britto, se prima por investigar, sistematicamente, as relações entre comportamentos-problema e eventos ambientais. Dessa forma, a proposta básica da metodologia de análise funcional é identificar as variáveis controladoras e mantenedoras do comportamento de interesse (...).” Abordagem funcional Se por várias décadas a psicopatologia vem sendo classificada como um conjunto de comportamentos ou de classes comportamentais disfuncionais, prejudiciais e bizarros, tornou se necessário que o conceito de normalidade e a própria psicopatologia fossem repensados e modificados, a fim de se adequar a produção científica proposta pelos analistas do comportamento Segundo a abordagem funcional, a psicopatologia configura-se por problemas de comportamentos apresentados pelos indivíduos, seja quanto ao seu excesso, seja quanto ao seu déficit. Dessa forma, o que para abordagem tradicional é descrito como transtorno mental, para a abordagem funcional nada mais é do que complexos comportamentos excessivos e/ou deficitários, geradores de consequências aversivas tanto à pessoa que os emite, quanto ao ambiente com o qual interage Ou seja, os comportamentos que são descritos nos transtornos, sejam eles deficitários ou excessivos, são respostas que estão ocorrendo com uma frequência e/ou intensidade que causam prejuízo, desconforto etc. tanto àquele que se comporta quanto ao seu ambiente. Logo, está em desalinho com a contingência ambiental com a qual interage. Para os analistas do comportamento qualquer resposta é produto de uma seleção por consequência. Desse modo, o comportamento que funciona para alguém é bem mais provável de ocorrer do que aquele que não funciona. Considera-se apropriado entender os eventos antecedentes e consequentes que controlam suas ocorrências. Como se observa, “(...) a abordagem analítico-comportamental deixa de lado as descrições da visão tradicional, ao substituir a noção de causa por uma mudança na variável independente, e a de efeito por uma mudança na variável dependente.” (Britto, 2012, p. 62). Nesse sentido, e baseando-se na proposta behaviorista de J. B. Watson, que defendia que o comportamento deveria ser objeto de estudo da psicologia como uma ciência natural, B. F. Skinner desenvolve, a partir dos resultados de suas pesquisas, um novo campo do conhecimento científico sobre o comportamento. Esse campo estabelece a construção de um modelo explicativo para o comportamento: a Análise do Comportamento. A partir da investigação da variabilidade de respostas reflexas e de relações operantes, Skinner fundou o behaviorismo radical, cuja proposta filosófica se deu pelo monismo como visão de homem. Esse mesmo autor também recomendou o estudo e o aprofundamento da abordagem em relação aos sentimentos e aos pensamentos por meio de uma ciência do comportamento (Darwich & Tourinho, 2005). Fora dessa metodologia, como adverte Skinner (1953/2007), o máximo que se consegue é estabelecer um conceito, um nome, ou seja, usar palavras para se falar daquilo que é observado quando o outro se comporta, momento em que se infere características ligadas a isso É relevante a evidência de que os comportamentos podem ser de dois tipos: respondentes ou comportamentos reflexos, e operantes ou comportamentos controlados pelas consequências que produzem. Os primeiros são eliciados em função de um estímulo, por exemplo, a visão de um alimento como a carne (estímulo) frente a uma pessoa privada dela, pode provocar a salivação nesse indivíduo (resposta). Esse repertório reflexo é de extrema importância na vida e na sobrevivência da pessoa, e faz parte das capacidades inatas dela Skinner (1953/2007) salienta que uma parte importante dos comportamentos de um indivíduo não é eliciada. São os comportamentos operantes que alteram o meio ambiente em que a pessoa está, e a sua probabilidade de ocorrênciaé função de sua consequência, reforçadora ou não. os problemas de comportamento são mais frequentes quando há grande número de fatores de risco (ambiente familiar coercitivo, disponibilização da atenção social para comportamentos indesejáveis ao contexto, ausência de reforço aos comportamentos que o ambiente deseje sua frequência de ocorrência aumentada) para a pessoa em questão, e quando esses fatores encontram-se combinados e/ou acumulados. Os reflexos, assim como outros padrões inatos de respostas, só evoluem por aumentarem a chance de sobrevivência da espécie. Assim, os operantes apenas aumentam em sua frequência, se forem seguidos por consequências que são favorecedoras à vida do indivíduo. Os estudos de Skinner para a compreensão do comportamento em seu processo de interação com o ambiente o encaminharam à construção da Análise do Comportamento, como uma ciência natural, cujo objetivo é a descrição da função do comportamento humano, logo, o seu controle para, posterior planejamento de sua modificação. Assim, o analista do comportamento deve voltar sua atenção à condição em que determinada resposta ocorre, bem como as consequências que esse responder produz (Skinner, 1974/2006). A essência da análise funcional é identificar as interações entre os comportamentos-alvo e as variáveis que os determinam, por meio de três perguntas básicas: O que acontece?, Em quais circunstâncias? e Com quais consequências? Assim, para a condução de um programa de intervenção, isto é, modificação comportamental, as estratégias necessariamente requererão a manipulação das chamadas variáveis independentes (ambientais), as VI’s, seja para aumentar ou para reduzir a frequência de um determinado comportamento (variável dependente, a VD). identificar as variáveis controladoras e mantenedoras do comportamento de interesse e, então, obter recursos apropriados para levantar hipóteses sobre a função desse tipo de comportamento, quando será possível selecionar um tratamento adequado a essa função. Portanto, não é a topografia comportamental o agente definidor do tratamento a ser selecionado e aplicado durante a intervenção. Isso porque o comportamento-problema não deve ser conceitualizado como um sintoma de uma característica patológica subjacente ou uma anomalia de fase do desenvolvimento, mas como uma resposta relacionada às condições ambientais. propõe a identificação das circunstâncias em que um comportamento pode ser observado, para que sejam verificadas as consequências que o mantém. Portanto, a identificação das funções que esse comportamento em questão apresenta, favorecerá o delineamento de um programa de intervenção que alcance a sua modificação. A Análise do Comportamento Aplicada, busca a função do que nomeia como comportamento-problema e aplica um programa de intervenção que busca o seu controle, por exemplo, através da instalação de classes de respostas alternativas a este. A abordagem funcional explica o comportamento-problema a partir de sua funcionalidade, ou seja, admite-se que a “psicopatologia” não passa de uma resposta que sofreu variação e foi selecionada, (teve sua probabilidade de ocorrência futura alterada) em função das consequências que seguiram a ela.
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