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Modelo de Gestão e Financiamento da Saúde no Brasil Gestão do Financiamento na Saúde Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria JULIANA APARECIDA PEREIRA MEDEIROS AUTORIA Juliana Aparecida Pereira Medeiros Olá! Sou graduada em Serviço Social (ULBRA) e especialista em Qualidade de Saúde e Segurança do Paciente (ENSP/FIOCRUZ). Possuo experiência técnico-profissional em serviço social hospitalar, hotelaria hospitalar e segurança do paciente. Estou aqui para contribuir no desenvolvimento da cultura, da qualidade, e da segurança em saúde, auxiliando profissionais e organizações a melhorarem continuamente. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens, a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Princípios da Gestão de Sistemas e de Serviços de Saúde ...... 10 Gerenciamento de Natureza Técnico-Assistencial ................................................. 11 Conceituando a Gestão em Saúde .................................................................................... 13 Indicadores........................................................................................................................................... 15 Políticas e Legislação da Saúde no Brasil ........................................ 17 Marcos Regulatórios do Direito à Saúde no Brasil ................................................ 18 A Criação do SUS .......................................................................................................................... 20 O Pacto pela Saúde de 2006: Consolidação do SUS ......................................... 21 Atenção Primária à Saúde: Fundamentos e Desafios ...........................................22 Conceituando a Atenção Primária à Saúde ................................................................23 Conjuntura da Gestão da Saúde no Brasil ........................................26 Realidade Nacional ........................................................................................................................27 A Judicialização e a Terceirização da Saúde Pública ...........................................29 Perspectivas Teórico-Metodológicas ...............................................................................32 O Sistema Único de Saúde – SUS.........................................................34 Histórico do Sistema Único de Saúde .............................................................................35 Direitos dos Usuários ..................................................................................................................37 Princípios do Sistema Único de Saúde .......................................................................... 39 Princípios Finalísticos do SUS ............................................................................................... 39 Princípios Organizativos ............................................................................................................ 41 Financiamento do SUS ................................................................................................................43 Diretrizes do Sistema Único de Saúde ............................................................................45 O SUS e o Estado .......................................................................................................................... 46 7 UNIDADE 01 Gestão do Financiamento na Saúde 8 INTRODUÇÃO Sabe-se que, historicamente, o sistema público de saúde do Brasil é marcado pela carência de recursos, tidos sempre como insuficientes para suprir a demanda crescente da população. A gestão pública brasileira, em todos os seus setores, carrega consigo a marca da precariedade administrativa e da corrupção, o que acaba por impedir que se cumpra a legislação e se concretize as políticas de saúde. Veremos como a aplicação dos princípios da gestão, buscando a profissionalização administrativa no setor público, será capaz de mudar o paradigma vigente de uma saúde deficitária e ineficiente. Analisaremos o atual cenário da gestão em saúde no Brasil e como a questão afeta a efetivação das políticas de saúde públicas levando o Estado ao descumprimento de seu próprio ordenamento jurídico com impactos negativos e severos na saúde e qualidade de vida de seu povo. Convidamos você a adentrar no universo da saúde brasileira, entendendo seus fundamentos, suas políticas, identificando desafios e contribuindo para a evolução de um sistema de saúde considerado padrão, altamente dinâmico, em contínua construção. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Gestão do Financiamento na Saúde 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Modelo de gestão e financiamento da saúde no Brasil. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar os aspectos legais da gestão em saúde no Brasil. 2. Identificar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). 3. Discernir sobre os desafios da gestão e do financiamento do SUS. 4. Realizar análise crítica do financiamento e gestão do SUS. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Gestão do Financiamento na Saúde 10 Princípios da Gestão de Sistemas e de Serviços de Saúde OBJETIVO: Ao finalizar este capítulo, você irá compreender os fundamentos da gestão do financiamento dos serviços públicos de saúde no Brasil, com base na história da constituição do SUS, bem como os princípios, as leis e as políticas de saúde que regem o seu funcionamento. Também será capaz de analisar criticamente os problemas históricos, e os desafios atuais que ainda dificultam a efetivação do direito à saúde no país, como preconizado no ordenamento jurídico causando disfunções e descontentamentos que acabaram por abrir o sistema a críticas e promoção de medidas e intervenções discutíveis. Animado para desenvolver esta competência? Então vamos em frente! O profissional da gestão em saúde deve compreender a complexidade da temática do financiamento dos serviços públicos, e buscar executar suas atribuições, baseando-se no conhecimento adquirido para promover a eficiência gerencial em prol da qualidade de vida e saúde da população. Em se tratando de serviços públicos de saúde, a adoção de uma gestão eficiente é de grande relevância, e deve ser vista como prioridade pelos governos devido à crise de credibilidade que se associa ao setor, principalmente pela carência de acesso à serviços de qualidade e uma política extremamenteirregular. Gestão do Financiamento na Saúde 11 REFLITA: O ex-Ministro da Saúde, José Serra, em discurso pela Conferência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, destacou que a saúde no Brasil não podia ser sinônimo de desperdício, precariedade administrativa, falta de metas e baixa qualidade dos serviços, demonstrando a preocupação com o gerenciamento profissionalizado e especializado do setor (SERRA, 2002). Dessa preocupação governamental (e necessidade coletiva), surge a gestão especializada como um instrumento técnico-assistencial, em torno do qual se pode reestruturar o setor para fazer face às reais necessidades de saúde do país. Essa gestão deve-se basear na utilização de ferramentas de natureza técnico-assistencial para transpor os desafios diários na gestão de um sistema tão complexo como o Sistema Único de Saúde (SUS). Gerenciamento de Natureza Técnico-Assistencial Estudante, para entender os estudos sobre a gestão dos serviços públicos de saúde no Brasil, devemos compreender toda a base filosófica, doutrinária e operacional que regem o SUS, definidas na Lei no. 8.080/1990, que dispõe sobre as condições, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde, e a Lei nº 8.142/1990, que versa sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências de recursos financeiros na área da saúde. (BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990b) Gestão do Financiamento na Saúde 12 Figura 1 - A administração especializada pode resolver os problemas de gestão no setor público? Fonte: Freepik. De acordo com Ramos e Grigoletto (2012), as ações e estratégias para o gerenciamento técnico-assistencial devem ser operacionalizáveis, principalmente no âmbito da Atenção Primária baseando-se no respeito aos princípios do SUS, e os fundamentos da Estratégia Saúde da Família (ESF), reafirmando o papel do Estado de gerir e prover o sistema nas três esferas do governo. NOTA: Uma gestão eficiente desses recursos irá refletir na eficácia e eficiência do sistema, trazendo melhorias visíveis e mensuráveis na oferta de serviços, na qualidade de vida e saúde da população. Em saúde, é importante sempre lembrarmos que a gestão dos recursos relacionados à execução das atividades, deve sempre refletir na melhoria da oferta de serviços e da qualidade da assistência prestada aos usuários, foco primordial do sistema de saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 13 IMPORTANTE: A melhor maneira de se intervir no sistema é utilizando-se de ferramentas de gestão em saúde, sempre avaliando as ações por meio de indicadores mensuráveis de resultado. Conceituando a Gestão em Saúde De acordo com Chiavenato (1999), o gerenciamento consiste na execução sistemática de todas as atividades próprias de uma organização, objetivando o alcance da eficiência e da eficácia. Consideramos eficácia o alcance dos objetivos propostos, enquanto o conceito de eficiência relaciona-se à busca da otimização dos recursos disponíveis no alcance à essa meta. REFLITA: Nas organizações prestadoras dos serviços de saúde, busca- se a satisfação dos objetivos individuais e organizacionais que são, de acordo com os novos paradigmas da saúde: a integralidade do ser humano, a qualidade de vida e a promoção da saúde, utilizando-se da melhor maneira possível os recursos disponibilizados pelo sistema, quase sempre considerados insuficientes pela ótica de gestores, equipe de saúde e usuários. O gerenciamento em organizações prestadoras de serviços de saúde (OPSS), públicas ou privadas, relaciona-se sempre a uma unidade social idealizada para atingir objetivos e metas traçadas (RAMOS; GRIGOLETTO, 2012). Essa unidade constitui-se de uma combinação de recursos humanos, físicos, políticos, financeiros, econômicos, tecnológicos, dentre outros, com o intuito de oferecer assistência à saúde de seus usuários. (JUNQUEIRA, 1990) Gestão do Financiamento na Saúde 14 IMPORTANTE: Pela complexidade das atividades realizadas nas unidades de saúde, o seu gerenciamento envolve uma equipe multidisciplinar visando que a junção dos conhecimentos em interdisciplinaridade funcione de forma harmoniosa e efetiva na organização das ações de saúde nos âmbitos assistenciais, clínicos, educativos e gerenciais, atingindo as metas traçadas. (RAMOS; GRIGOLETTO, 2012) Figura 2 - Toda a equipe multidisciplinar deve estar comprometida com a eficácia e a eficiência da gestão nas organizações de saúde Fonte: Freepik. NOTA: A partir disso, os indicadores de resultado proporcionarão visão das ações executadas e permitirão sua avaliação pelo gestor tornando-se importantes parâmetros gerenciais para a tomada de decisão. Gestão do Financiamento na Saúde 15 Indicadores A avaliação dos resultados de uma ação proposta na cadeia de assistência à saúde é de grande importância, uma vez que se permite visualizar a sua efetividade e se transforma em parâmetro norteador para o gestor. Com essa finalidade, padroniza-se indicadores que proporcionarão medir, qualitativa e quantitativamente, as repercussões das atividades gerenciais nas organizações de saúde. DEFINIÇÃO: De acordo com Bittar (2001), o indicador é uma unidade de medida que tem como alvo os resultados, processos e estrutura em saúde e que pode ser usado como um guia para monitorar e avaliar a qualidade e a quantidade da assistência ofertada aos usuários, imprescindível para o planejamento, organização, coordenação, avaliação e controle das atividades desenvolvidas em um determinado processo ou no todo. A comparação entre meta e indicador cria importante dado no conhecimento das mudanças ocorridas em uma organização. Já Busato (2017), estabelece que as metas e os indicadores são fundamentais no monitoramento das atividades de gestão, e que, estes devem refletir não somente o ambiente interno das unidades de saúde, mas também a qualidade de vida e o acesso da população aos serviços de saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 16 Figura 3 - Os indicadores de resultado são importantes parâmetros gerenciais que balizam a tomada de decisão dos gestores de saúde Fonte: Freepik. Logo, toda a equipe de saúde está relacionada à busca do alcance às metas determinadas e que, após levantamento e análise, devem em termos gerenciais, culminar no desenvolvimento de indicadores, parametrizando a tomada de decisão. IMPORTANTE: Importantes metas e indicadores de saúde coletiva que se relacionam à qualidade de vida, ao bem-estar e ao acesso aos serviços do sistema, estão ligados à atenção primária. RESUMINDO: Devemos entender como se dá a gestão de sistemas e de serviços de saúde no Brasil. Gestão do Financiamento na Saúde 17 Políticas e Legislação da Saúde no Brasil OBJETIVO: Ao finalizar este capítulo, você irá compreender os princípios do Sistema Único de Saúde, com base na sua história. Ainda, você vai entender o Pacto pela Saúde de 2006, bem como os fundamentos e desafios para a atenção primária à saúde. . Desde que definida como direito universal sob a responsabilidade do Estado pela Constituição Cidadã de 1988, a saúde pública brasileira passou a ser uma grande fonte de preocupação dos órgãos governamentais de modo que políticas e leis foram promulgadas no intuito de se regulamentar a oferta dos serviços de saúde no país. IMPORTANTE: Diversas conquistas jurídicas garantiram o direito social à saúde do cidadão brasileiro, porém, ainda hoje, passadas três décadas da criação do SUS, ainda persistem graves problemas como o subfinanciamento, a insuficiência da gestão (principalmente a nível municipal), a baixa resolutividade da rede básica, a formação deficiente de profissionais de saúde e gestão, entre outros pontos que tornam a efetiva e íntegra implementação do SUS, um grande desafio na atualidade, ocupando estudiosos da gestão em saúde e preocupando constantemente os seus gestores. Gestão do Financiamento na Saúde 18 ACESSE: O documentárioHistória da saúde pública no Brasil - Um século de luta pelo direito à saúde enfatiza a luta popular na busca pela melhoria de suas condições de saúde em diversos momentos históricos brasileiros culminando na sua efetivação como direito social pela Constituição de 1988 (BRASIL, 2006a). Assista aqui. Os marcos regulatórios do direito à universalidade, integralidade e equidade à saúde no Brasil, demonstram grande embasamento sociológico e jurídico. Todavia, ainda estão distantes de serem cumpridos conforme o preconizado. Marcos Regulatórios do Direito à Saúde no Brasil Em 1988, foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, a mais abrangente e extensa de todas as constituições anteriormente vigentes no País até então no que se refere aos direitos e garantias fundamentais. Conhecida como a “Constituição Cidadã”, trouxe o ideal de saúde como um direito de todos os cidadãos e dever do Estado, além de grande avanço no que concerne aos direitos sociais conquistados pelo povo brasileiro. A Seção II preconiza que as necessidades individuais e coletivas devem ser consideradas de interesse público e o seu provimento um dever do Estado. Em seu texto, apresenta assistência à saúde integral, de caráter universal e responsabiliza-se em assegurar a todos os cidadãos o acesso aos serviços, hierarquizados segundo parâmetros técnicos, com gestão descentralizada e regulada pelos Conselhos de Saúde, órgãos colegiados oficiais. (BRASIL, 1988) Gestão do Financiamento na Saúde http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/estudos-comunicacao-saude/politicas-de-saude-no-brasil-um-seculo-de-luta-pelo-direito-saude-videos 19 Figura 4 - A Constituição Federal Brasileira de 1988 apresenta a saúde como direito social do cidadão brasileiro Fonte: Freepik NOTA: Para se concretizar o acesso universal ao direito à saúde, no ano de 1990, a Lei nº 8080 e a Lei nº 8142, forneceram o subsídio legal para a criação, o funcionamento, a gestão do SUS. Gestão do Financiamento na Saúde 20 A Criação do SUS Em ato contínuo à Constituição de 1988, no ano de 1990, por meio da Lei nº 8.080/90, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). O documento legal conhecido como a Lei Orgânica da Saúde, dispõe sobre as condições necessárias à promoção, proteção e recuperação da saúde, além da organização e do funcionamento dos serviços de saúde no âmbito do SUS (BRASIL, 1990a). ACESSE: O médico e cientista Oswaldo Gonçalves Cruz é considerado um dos maiores nomes da construção da saúde pública no Brasil pela sua contribuição nos idos dos anos 1900. Saiba mais sobre esse ícone da saúde pública brasileira, acessando aqui. No mesmo ano, foi promulgada a Lei nº 8.142/90 discorrendo sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e abordando as transferências de recursos financeiros para o provimento das ações de saúde. Esta Lei trás importante contribuição à regulação do SUS ao instituir os Conselhos de Saúde (Federal, Estadual e Municipal), além de conferir legitimidade aos órgãos de representação da gestão estadual e municipal. (BRASIL, 1990b). Desse modo, estava constituído e fundamentado juridicamente o Sistema Único de Saúde do Brasil. No ano de 2006, importantes pactos foram firmados entre os entes governamentais para se consolidar o SUS e aprovar diretrizes operacionais. Gestão do Financiamento na Saúde https://portal.fiocruz.br/trajetoria-do-medico-dedicado-ciencia 21 O Pacto pela Saúde de 2006: Consolidação do SUS A partir das leis promulgadas em 1990, muitas das iniciativas posteriores relacionaram-se à descentralização e a municipalização das ações de saúde. Desse modo, buscava-se uma maior autonomia por parte dos gestores municipais no que diz respeito à construção de um sistema de saúde que respeite as diferenças e as características regionais em um país tão diversificado como o Brasil. No ano de 2006, foi instituído o tem por:Pacto pela Saúde, no qual se propôs sensível reforma nas relações entre os entes federados na busca do fortalecimento do SUS. Esse pacto era composto por três dimensões (Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão), englobando tanto compromissos de financiamento quanto de execução das ações de saúde entre os entes. (CECÍLIO et al., 2007) O Pacto pela Saúde foi divulgado através da Portaria nº 399/2006 e trazia os três compromissos firmados com dimensões distintas. (BRASIL, 2006b; BRASIL, 2008): a. Pacto pela Saúde: focava na melhoria da qualidade de saúde da população, traçando metas a serem alcançadas. Esse pacto foi atualizado em 2008 e tem como prioridades a saúde do idoso; o controle do câncer do colo do útero e da mama; a redução da mortalidade infantil e materna; o fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; a promoção da saúde; o fortalecimento da atenção básica; a saúde do trabalhador; a saúde mental; o fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência; a atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; e a saúde do homem. b. Pacto em Defesa do SUS: acordo para promover a aproximação da população ao SUS, tendo como diretriz uma tentativa de repolitizar o sistema de saúde fomentando a mobilização social em torno Gestão do Financiamento na Saúde 22 de discussões que busquem a solução de desafios atuais e a construção conjunta do SUS, além de garantir o financiamento a longo prazo das ações de acordo com as necessidades regionais. c. Pacto de Gestão: esse pacto teve como abordagem a regionalização, o planejamento, a programação e o financiamento do SUS. IMPORTANTE: Na adesão ao Pacto pela Saúde, os gestores assumiam conjuntamente o compromisso com os eixos prioritários e as metas a serem alcançadas, sendo acompanhados por dezenas de indicadores de saúde na busca da efetivação dos princípios de integralidade, equidade e qualidade estabelecidos pelo SUS. O Pacto promoveu importantes melhorias no SUS, porém, uma análise da conjuntura atual da gestão saúde pública brasileira, mostra importantes desafios a serem superados e mudanças fundamentais a serem implantadas. Atenção Primária à Saúde: Fundamentos e Desafios A atenção primária à saúde é tida como aquela de menor complexidade, não especializada, com uso de baixa tecnologia e que se baseia, principalmente, em medidas preventivas de cunho individual e coletivo no âmago das comunidades. Por ser a porta de entrada dos usuários no SUS e ser planejada dentro das necessidades da população a que se destina, a atenção primária utiliza-se de acompanhamento ambulatorial e da educação em saúde como ferramentas para a manutenção da saúde e da qualidade de vida dos usuários. Desse modo, suas atividades são menos onerosas ao sistema, mas produzem efeitos altamente impactantes no resultado fina,l acompanhado através dos indicadores epidemiológicos. Gestão do Financiamento na Saúde 23 VOCÊ SABIA? O Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) é inspirado no National Health Service Britânico (NHS), sistema de saúde público britânico, criado em 1948 após a Segunda Guerra Mundial (TANAKA; OLIVEIRA, 2007). Para se adentrar na gestão da atenção primária, faz-se necessário a conceituação e a caracterização desse nível de cuidado. Conceituando a Atenção Primária à Saúde A atenção primária à saúde compreende grande parcela dos esforços dos órgãos governamentais, uma vez que se espera que a maioria das demandas em saúde da população sejam abordadas e resolvidas neste nível, durante toda a sua vida, de forma longitudinal, uma vez que representa o primeiro nível de atenção e a principal porta de entrada dos usuários ao sistema público de saúde (OPAS, 2018). SAIBA MAIS: Um Ministro da Saúde, seus textos e discursos sobre a situação e a evolução das políticas de saúde no Brasil: ideologia,polêmica e sonhos. Se interessou? Leia o livro Ampliando o possível: a política de saúde do Brasil. (SERRA, José. Ampliando o possível: a política de saúde do Brasil. 1ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002.) Ribeiro (2017) lembra que o Pacto em Defesa do SUS (BRASIL, 2006b) estabelece que as ações voltadas à atenção primária (ou atenção básica), são de responsabilidade de todos os municípios brasileiros, e que esta deve integrar e coordenar todo o cuidado à saúde dos usuários, tendo a Estratégia de Saúde da Família (ESF) como seu principal instrumento de fortalecimento. Gestão do Financiamento na Saúde 24 IMPORTANTE: Características importantes e idealizadas da Atenção Primária, fazem desse nível de atenção uma ferramenta eficiente no cuidado à saúde da população justificando a sua clara priorização nas políticas de saúde brasileiras na atualidade. A atenção primária é vista como o instrumento fundamental de intervenção das políticas públicas de saúde no Brasil. Essa priorização, das ações de prevenção e de linhas de cuidado específicas da atenção básica, pode ser justificada pela rápida transição demográfica ocorrida no Brasil, o aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis e o advento de novas formas de adoecer e falecer (violência urbana, doenças transmissíveis emergentes e reemergentes), situações que influenciam diretamente na gestão do SUS (BRASIL, 2015). Para Fonseca, Figueiredo e Porto (2017), a gestão na atenção primária trata-se da coordenação dos recursos disponíveis e na tomada de decisões nas unidades de saúde fundamentados nas evidências e no conhecimento dos fenômenos do cotidiano das comunidades relacionados ao contexto político local, à organização dos serviços, seus aspectos gerenciais clínicos e sua estrutura física. IMPORTANTE: Quatro atributos diferenciam a atenção primária dos demais níveis de assistência e fazem com que ela seja tratada de maneira tão especial pelo SUS: atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação. A longitudinalidade se revela como característica importante por definir um vínculo do usuário com a unidade e com o profissional de saúde, fornecendo acompanhamento contínuo de seu estado de saúde, de maneira preventiva e curativa. (BRASIL, 2015) Gestão do Financiamento na Saúde 25 Tanaka (2011), propõe que os serviços que compõem a Atenção Básica devem passar por constante avaliação, um processo técnico- administrativo com a finalidade de ser, buscar parâmetros para a tomada de decisão racional. Essa avaliação deve envolver os componentes: medição; comparação; emissão de juízo de valor e tomada de decisão. Todavia, mesmo com eficiência da atenção básica haverá sempre a necessidade de investimento na atenção de média e alta complexidades, caracterizada principalmente pela atividade hospitalar e que representam especialização e incorporação de alta tecnologia, envolvendo altos custos aos sistemas de saúde e demandando de financiamento vultuoso. De forma geral tem-se a medição por meio de indicadores; a comparação desses com outros serviços ativos de Atenção Primária no município ou em outros na região; o juízo de valor que possibilitará visão da comunidade, sobre esse nível de serviço na porta de entrada da rede de atenção, e; a tomada de decisão de intervenção, com a finalidade de se modificar/influenciar a realidade da atenção à saúde e a mobilização de recursos. REFLITA: Para uma gestão eficiente desses recursos necessários ao pleno funcionamento do SUS, de modo que se contemple as metas idealizadas, o gestor precisa conhecer as políticas de saúde e a legislação específica vigentes no país. RESUMINDO: Devemos compreender as políticas e a legislação em saúde no Brasil, com base na história e consolidação do SUS.. Gestão do Financiamento na Saúde 26 Conjuntura da Gestão da Saúde no Brasil OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você vai saber os desafios da gestão e do financiamento do SUS, além de entender como se dá a judicialização e a terceirização da saúde pública. Também, você vai compreender a realidade no Brasil, bem como as reflexões e discussões sobre as bases teóricas e as metodologias utilizadas pelos gestores de saúde.. O Sistema Único de Saúde do Brasil, apesar de manter firme sua base filosófica e doutrinária, preconizada desde a sua constituição, vem sofrendo grande mudanças em termos operacionais com a evolução do ordenamento jurídico do país, tendo que conviver com os problemas clássicos do subfinanciamento e da insuficiência da gestão local e se adaptar aos novos desafios, por exemplo, a judicialização e a terceirização da saúde pública. Figura 5 - Necessidades crescentes e recursos escassos: o subfinanciamento ainda é um grande entrave para a efetivação do SUS Fonte: Pixabay. Gestão do Financiamento na Saúde 27 IMPORTANTE: Atualmente, é de extrema importância na transposição das grandes barreiras ao fortalecimento do SUS a construção social da realidade do nosso sistema de saúde, que somente pode ser concretizado por meio de mobilização da sociedade e formatação de uma consciência coletiva focada na efetiva garantia dos direitos constitucionais. Para isso, inicialmente, buscaremos analisar e discutir a realidade da saúde pública brasileira. Realidade Nacional Problemas históricos acompanham o Sistema Único de Saúde desde a sua constituição até os dias atuais. Tal situação leva à críticas ferrenhas ao sistema que muitas vezes tem sua redação considerada teórica, idealista e demagógica por não se concretizar na prática cotidiana do serviço público e saúde do Brasil. Os principais desafios a serem atualmente superados pelo SUS, de acordo com Reis, Araújo e Cecílio (2012), são: a. O subfinanciamento advindo da carência de recursos necessários à operacionalização das ações do SUS. b. A insuficiência da gestão local do SUS, considerada aqui a ausência das condições básicas ao funcionamento do sistema. c. A baixa resolutividade da rede básica de serviços, levando à dificuldade de acesso a certos procedimentos, a carência nas ofertas de serviços, a fragmentação do cuidado e a formação de filas de espera. d. A deficiência na formação dos profissionais de saúde, o que afeta diretamente o cuidado aos usuários devido ao modelo ainda muito centrado em práticas curativas. Gestão do Financiamento na Saúde 28 NOTA: Abraham Flexner criou o, atualmente criticado, modelo flexneriano de educação médica, que foca na figura do médico e na ultraespecialização, deixando de lado a observação do indivíduo como um ser humano biológico, psicológico e social. Porém, mesmo após mais de cem anos o modelo flexneriano ainda se encontra em vigência na maior parte das escolas médicas do mundo, representando um grande desafio à efetivação da atenção básica, da humanização e do trabalho multiprofissional em saúde. (PAGLIOSA; DA ROS, 2008). e. A deficiência na gestão do SUS que pode se caracterizar pela baixa especialização do gestor e leva à problemas na regulação, gestão do trabalho, planejamento, organização e alocação dos recursos;. VOCÊ SABIA? Pela Lei Complementar nº 141/2012, os municípios devem obrigatoriamente aplicar na saúde, no mínimo, 15% de sua arrecadação anual. A média da aplicação dos municípios brasileiros em saúde no ano de 2017 foi de 23% de suas receitas. Consulte a aplicação do seu município aqui. Salvador, Terra e Arêas (2015) entendem que o sucateamento e o investimento insuficiente na saúde pública tornam o acesso universal muito distante da realidade cotidiana do cidadão brasileiro. A cada dia, observa- se uma maior invasão da terceirização dos serviços acompanhados da insuficiência de funcionários públicos no quadro de recursos humanos do SUS. Gestão do Financiamento na Saúde http://portalms.saude.gov.br/repasses-financeiros/siops/demonstrativos-dados-informados 29 NOTA: Desse modo os usuáriosacabam por buscar alternativas discutíveis para ter o seu direito constitucional à saúde respeitado, e acabam gerando novos problemas ao sistema, como no caso da judicialização. Até agora tudo bem. Podemos continuar com nossos estudos? Vamos lá. A Judicialização e a Terceirização da Saúde Pública Dois fenômenos atuais com grande impacto no sistema de saúde vêm sendo muito discutidos por defensores e opositores de sua prática: a judicialização e a terceirização da saúde pública. De fato, todos os dois trazem vantagens e desvantagens à gestão dos serviços públicos de saúde, e devem ser analisados pelos dois pontos de vista principais da cadeia do cuidado: a gestão e os usuários. SAIBA MAIS: O livro Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS apresenta reflexões, conquistas e desafios sobre a busca por um SUS pleno, tido como um um processo civilizatório. Quer saber mais? Leia o livro Saúde e democracia: história e perspectivas do SUS. A política neoliberal afeta as políticas de saúde, por colocarem foco na terceirização, na privatização e no fomento ao desenvolvimento da saúde suplementar, através dos planos de saúde direcionando o cuidado básico e gratuito àquela parcela da população que realmente não pode arcar com seu custo. Gestão do Financiamento na Saúde 30 NOTA: Na visão dos autores Salvador, Terra e Arêas (2015), trata-se de uma concepção individualista e fragmentada da saúde que se contrapõe à idealização coletiva e universal do Projeto da Reforma Sanitária preconizado. É nítido que o governo brasileiro vem direcionando esforços que visam o fortalecimento do projeto privatista. Renúncia fiscal à planos e seguros privados, alocação crescente de recursos públicos no setor privado, aplicação da lógica de mercado na gestão dos serviços públicos e o crescimento da atividade das Organizações Sociais (OS), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP’s), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e Fundações de Direito Privado (FEDP’s), demonstrando clara tendência à terceirização dos serviços. (BRAVO; MENEZES, 2013) REFLITA: Se por um lado critica-se a terceirização por representar uma desresponsabilização por parte do Estado em cumprir com seus deveres constitucionais, por outro baseia-se no princípio da maior eficiência na gestão privada. A Emenda Constitucional nº 19 (BRASIL, 1998) que introduziu o termo “eficiência” ao texto da Constituição Cidadã, aproximou a gestão pública a da iniciativa privada no que concerne à prestação de seus serviços. Nesse contexto, justifica-se a contratação de empresas especializadas para a execução das ações de saúde no âmbito do SUS (AVILA, 2011). Gestão do Financiamento na Saúde 31 NOTA: Alguns estudiosos do tema entendem esse fenômeno como a substituição do interesse público, pelos particulares numa “privatização perversa” do Estado que evidencia a mercantilização da política de saúde brasileira (BRAVO; MENEZES, 2013). Quando se trata da judicialização, a polêmica é ainda maior. Como consequência de não ter o seu direito universal à saúde respeitado os usuários buscam o Poder Judiciário para se fazer cumprir o que reza a Constituição Federal: a saúde é direito de todos e dever do Estado (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990a). REFLITA: Desse modo, o usuário tem sucesso em sua demanda individual, mas gera um problema grave à gestão quanto ao financiamento e à programação orçamentária. De todo modo judicialização tem como consequência o desrespeito a outros valores constitucionais como a isonomia (uma vez que usuários que judicializam demanda de saúde acabam sendo beneficiados em detrimento aos que seguem a tramitação normal do SUS), o princípio da equidade (uma vez que torna desigual a distribuição dos serviços), além de um grave problema na programação (principalmente orçamentária) comprometendo todo o funcionamento do sistema de saúde. (VALLE; CAMARGO, 2010; PEREIRA et al., 2010) NOTA: Como os recursos são limitados, a utilização de um valor fora da programação orçamentária pode desestruturar uma política de saúde implantada e todo um planejamento a ser executado (BORGES; UGA, 2010). Gestão do Financiamento na Saúde 32 Também, discute-se se os magistrados possuem qualificação técnica para julgar questões dessa complexidade, uma vez que no País ainda são poucas as varas especializadas em saúde, criadas justamente por essa necessidade crescente que se tornou tendência. IMPORTANTE: Existem situações em que medidas judiciais adiantaram procedimentos de usuários, em contraposição à pacientes em estado mais grave ou até mesmo que solicitaram uso de tecnologia ou medicamentos, ainda sem a devida comprovação de efetividade e segurança. Assim, existe a real necessidade da criação de varas especializadas em saúde nos fóruns distribuídos pelo país e de que os mesmos se orientem pelas bases teórico- metodológicas da saúde pública. Perspectivas Teórico-Metodológicas Devido à complexidade do tema da gestão dos serviços públicos de saúde, principalmente no que se refere ao planejamento e à avaliação, observa-se, entre os teóricos do tema, reflexões e discussões sobre as bases teóricas e as metodologias utilizadas pelos gestores de saúde nesse sentido. EXPLICANDO MELHOR: Sabe-se que a saúde envolve questões muito mais abrangentes que a saúde biológica em si, o que leva a um conceito ampliado para o termo que carece da incorporação de distintas abordagens teórico-metodológicas originárias, principalmente das ciências sociais. Gestão do Financiamento na Saúde 33 Em Teixeira e Sá (1996), já se defendia que ciências como a Economia, a Sociologia, as Ciências Políticas, a História, e a Antropologia formam um eixo muito importante de intervenção e análise da efetividade da gestão dos serviços de saúde uma vez que, conjuntamente, compõem os determinantes sociais do processo de saúde-doença de uma população. Essa abordagem multifacetada pode representar um viés no planejamento e na avaliação dos serviços de saúde, até mesmo camuflando situações e influenciando a análise de indicadores. NOTA: Muito se discute sobre o subfinanciamento dos SUS, porém, exemplos de outros países demonstram que a qualidade de vida e saúde de uma população não é exclusivamente relacionada aos aportes de recursos financeiros destinados ao provimento do sistema. Cabe então, aos gestores dos serviços públicos de saúde, a análise criteriosa de sua realidade social local para a alocação racional e eficiente dos recursos públicos. Assim, vimos que a gestão dos serviços públicos de saúde é uma atribuição de grande complexidade e responsabilidade. Os gestores precisam estar qualificados, preparados para respeitar a legislação vigente no país, seguir as políticas públicas de saúde adequando à sua realidade regional se adaptando a todo momento em um contexto tão dinâmico e instável. RESUMINDO: Devemos entender a conjuntura da gestão em saúde no Brasil levando em consideração a legislação vigente e a realidade regional em um contexto dinâmico e instável. Gestão do Financiamento na Saúde 34 O Sistema Único de Saúde – SUS OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de entender como funciona o Sistema Único de Saúde, a partir de seu histórico. Ainda, você vai compreender os princípios do SUS e o direito da população em relação ao sistema.. Gerir e financiar o sistema de saúde brasileiro (Sistema Único de Saúde ou somente SUS) é um grande desafio. Seus princípios e o modo como foi idealizado, claramente visível através da leitura de sua legislação de constituição e posteriores, faz com que a sua redação seja considerada como um exemplo para o mundo. Porém, será que esses fundamentos estão sendo respeitados ou o SUS não passa de um sistema teórico e impraticável? O direito à saúde universal e gratuita no Brasil representa uma das maiores conquistas do cidadãodentro da seara dos direitos sociais e foi resultado de muita mobilização por parte da população durante toda a história do País. Podemos permitir que nossos direitos constitucionais sejam cerceados pela ingerência e a precariedade administrativa? Governantes e gestores têm a diária luta de buscarem alternativas para a operacionalização do SUS o que o torna dinâmico, em constante mutação nessa busca de excelência. Mas talvez não seja o próprio modelo de atenção vigente (arraigado há tempos na nossa cultura), um dos fatores dificultadores desse processo de garantia dos direitos no SUS? Analisando todo o histórico, o arcabouço legal e os princípios do SUS e fazendo um comparativo com sistemas de saúde de outros países ao redor do globo, realmente nos deparamos com um belíssimo sistema de saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 35 REFLITA: Seria utopia esperar um sistema tão perfeito ou podemos construir, conjuntamente, um SUS melhor? Histórico do Sistema Único de Saúde O Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS) foi idealizado para ser universal e gratuito desenvolvido e regulado com a participação social e financiado pelas três esferas do governo por meio de pactos de gestão. Porém, após trinta anos de constituição do SUS podemos identificar que ele ainda está distante do sistema proposto para resolver os problemas de saúde dos brasileiros e diversos pontos podem ser elencados para melhoria. Dentro do exposto, o financiamento é insuficiente para sanar todas as necessidades de saúde, o controle social é ineficiente e o modelo assistencial implantado no cerne da cultura brasileira (na postura da população e na formação dos profissionais de saúde) não contribui em nada para a resolução da problemática da assistência à saúde no País, visto que ainda privilegiam a assistência médica curativa em detrimento da promoção à saúde. IMPORTANTE: Em seu processo histórico de construção observamos que o SUS é, acima de tudo, uma vitória dos cidadãos brasileiros conquistado com muita mobilização popular e idealizado de forma a ser um sistema de saúde satisfatório, pautado na dignidade humana, na qualidade de vida e na promoção da saúde. Gestão do Financiamento na Saúde 36 IMPORTANTE: A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) pode ser considerada o marco fundamental do Sistema Único de Saúde ao instituir que a “Saúde é direito de todos e dever do Estado”. O objetivo dos constituintes de 1988 era a criação de um sistema de saúde público para ser exemplo, futuramente considerado um dos maiores e mais resolutivos do mundo. No período anterior à Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) o sistema público de saúde vigente no Brasil só oferecia assistência à trabalhadores vinculados à Previdência Social. A essa parcela da população, os serviços eram oferecidos de forma gratuita na rede pública, principalmente os serviços hospitalares que, aos demais cidadãos era realizado pelas entidades filantrópicas, principalmente ligados à Igreja Católica, como as Santas Casa de Misericórdia, Sociedade São Vicente de Paula, dentre outras que, ainda hoje compõem de maneira muito importante a rede hospitalar vinculada ao SUS (BRASIL, 2018). Nessa época, a assistência à saúde no país passava pela filantropia. Paralelamente a isso, o Estado se responsabilizava por ações diante de epidemias, como ações de vacinação e saneamento básico além de intervir também em doenças negligenciadas como a doença mental, a hanseníase e a tuberculose. Em 1923, com a Lei Elói Chaves, marco da previdência social no Brasil, atrelada à previdência, os trabalhadores contribuintes passaram a ter acesso a serviços de saúde. A evolução da saúde atrelada à previdência social trouxe ao advento do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em 1966, do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1977, até que finalmente, a saúde foi delegada ao Ministério da Saúde com a instituição do SUS e a posterior extinção do INAMPS em 1993. (BRASIL 1923; BRASIL, 1966; BRASIL, 1977; BRASIL, 1990; BRASIL, 1993) Gestão do Financiamento na Saúde 37 Figura 6 - Saúde direito de todos: uma construção popular no Brasil Fonte: Pixabay. Nesse ínterim, tivemos como importante marco a 3ª Conferência Nacional de Saúde no final de 1963, que discutia pontos para a criação de um sistema de saúde introduzindo os conceitos de universalidade e descentralização, porém sepultada em 1964 pela ditadura militar. (CARVALHO, 2013) NOTA: Instituído o direito à saúde, atualmente, o que se busca é o respeito à Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde na oferta dos serviços de saúde, sejam públicas ou privadas. Direitos dos Usuários A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) no ano de 2009 e visa orientar os cidadãos brasileiros sobre os seus direitos no que tange à oferta de serviços de saúde gratuitos com resolutividade e qualidade. (BRASIL, 2009) Gestão do Financiamento na Saúde 38 Baseando-se nos princípios norteadores do SUS, o documento define, como direitos básicos dos usuários de serviços de saúde, públicos ou privado, no Brasil (BRASIL, 2011 p. 3-4): 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde. 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. 4. Todo cidadão tem direito ao atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos. 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada. 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. A Portaria nº 1.820/2009, base da Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, é um documento legal extremamente importante para a construção do SUS porque, além de dispor sobre os direitos dos usuários da saúde também discorre sobre os seus deveres. (BRASIL, 2009) IMPORTANTE: A redação da Constituição Federal, ao trazer a saúde como direito de todos os cidadãos e dever do Estado acaba por não deixar claro, e, assim, criar disfunções conceituais no que diz respeito aos deveres dos usuários do sistema de saúde. Hoje, busca-se engajar os usuários na construção da assistência médica e, principalmente, conscientizá- los a assumirem o protagonismo de seus tratamentos e saúde, fundamento primordial do modelo de promoção do bem-estar. Gestão do Financiamento na Saúde 39 Princípios do Sistema Único de Saúde O SUS é a consagração dos princípios constitucionais da Universalidade, Equidade e Integralidade na atenção à saúde. Desse modo, concretiza a proposta de um sistema de saúde capaz de garantir o acesso gratuito e universal à população a bens e serviços que atendem as suas necessidades (de básicas a complexas) de saúde e bem-estar, de forma equitativa e integral. (BRASIL, 1990) VOCÊ SABIA? Em estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde sobre a eficiência em sistemas de saúde no mundo, considerando-se 191 países, o Brasil ocupou a 125º posição (IPEA, 2012). Você concorda? Saiba mais aqui. Na legislação que constitui e regulamenta o SUS podemos encontrar, em seus fundamentos, os chamados “princípios finalísticos”, sobre a sua natureza filosófica e doutrinária e os “princípios estratégicos” ou “princípios organizativos” que orientam sobre as diretrizes políticas e operacionais do efetivo funcionamento do sistema. (TEIXEIRA, 2011) Princípios Finalísticos do SUS A Constituição Federal apresenta na Seção II (Da Saúde), nos artigos 196 a 198, as Diretrizes para a Construção do Sistema de Saúde Público do Brasil (BRASIL, 1988). Tais diretrizes representam os princípios básicos, posteriormente delineados de maneira específica na Lei Orgânica da Saúde. (BRASIL, 1990) Gestão doFinanciamento na Saúde http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/976/1/TD_1784.pdf 40 Figura 7 - Os princípios básicos do SUS refletem sua natureza inclusiva Fonte: Pixabay. Assim sendo, de acordo com a Constituição Federal e a Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990), os três princípios finalísticos do SUS são: a. Universalização - trata-se da universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência. A saúde, como um direito de cidadania sob a responsabilidade de provimento pelo Estado, deve ser garantida a todas as pessoas, independente de sexo, raça, ocupação, ou demais características sociais ou individuais; b. Equidade - relaciona-se à igualdade da assistência prestada à saúde dos usuários, excluindo-se qualquer forma de preconceitos ou privilégios. O fundamento desse princípio é minimizar as desigualdades existentes, uma vez que características individuais podem influenciar em suas necessidades de saúde. NOTA: De modo geral, a equidade significa investir mais onde as necessidades são maiores, respeitando-se as vulnerabilidades, apesar de todos terem direitos iguais. Gestão do Financiamento na Saúde 41 c. Integralidade - define a assistência à saúde como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos em todos os casos e níveis de complexidade do sistema. Por este princípio, enxerga- se os indivíduos atentando-se para todas as suas necessidades. Relaciona-se ao conceito ampliado apresentado pela OMS no qual, saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. (OMS, 1946) NOTA: Para que esse princípio seja efetivado, deve-se integrar às ações a promoção, prevenção, o tratamento e reabilitação, articulados com outras políticas públicas assegurando atuação intersetorial em diferentes áreas. De maneira conclusiva e não menos importante, a legislação apresenta também os princípios organizativos como forma de se nortear a operacionalização do sistema em termos de gestão, trabalho e regulação. Princípios Organizativos Teixeira (2011) defende que os chamados princípios estratégicos ou organizativos, relacionem-se às diretrizes políticas, organizativas e operacionais, que determinam “como” o SUS deve ser construído dentro do que se estabeleceu, pela legislação, e o que se pretende institucionalizar. Esses princípios são a Descentralização, a Regionalização, a Hierarquização e a Participação social, que, de acordo com os documentos regulamentadores representam (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990): a. Regionalização e hierarquização - esses dois princípios organizativos complementares determinam que os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de complexidade (primária, secundária e terciária), circunscritos em uma área geográfica definida, planejados estrategicamente e baseados em indicadores Gestão do Financiamento na Saúde 42 epidemiológicos para que assim as políticas de saúde sejam adaptadas à realidade da população atendida. b. Descentralização e comando único - o princípio da descentralização leva à operacionalização do comando único. A descentralização é a distribuição de poderes e responsabilidades entre os três níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal) com o objetivo de aumentar a qualidade das ações de saúde e garantir o controle e a fiscalização popular. NOTA: A responsabilidade pelas ações do SUS deve ser descentralizada até o nível municipal e devem ser garantidas ao município condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para a execução dessa atribuição. Desse modo, a descentralização tem como necessidade e consequência o comando único, que é a autonomia das esferas de governo em suas decisões e ações. c. Participação popular - um dos princípios organizativos visa a participação no controle e regulação do sistema de saúde, possível por meio de sua cooperação no cotidiano dos serviços de saúde. NOTA: Sua concretização se dá através da constituição dos Conselhos e Conferências de Saúde, para a discussão, a formulação de estratégias, a efetivação do controle e avaliação da execução das políticas de bem-estar. SAIBA MAIS: O controle social no SUS exercido pelos conselhos de saúde é pauta de um vasto conjunto de normas reguladoras. Entenda a ação dos conselhos de saúde lendo o manual “Para entender o Controle Social na Saúde” (BRASIL, 2013), disponibilizado aqui. Gestão do Financiamento na Saúde http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/Manual_Para_Entender_Controle_Social.pdf 43 Para que esses princípios sejam respeitados e reflitam na qualidade de vida da população, o sistema precisa de uma fonte de financiamento contínuo e suficiente para atender às demandas dos brasileiros em todos os níveis de atenção à saúde. Financiamento do SUS Por deliberação constante na Constituição Federal, o SUS é financiado de maneira tripartite, ou seja, a fonte dos recursos é de responsabilidade dos três níveis de governo – União, Estados e Municípios. Além das transferências do Fundo Nacional de Saúde (FNS), os fundos estaduais e municipais recebem aportes de recursos provenientes seus próprios orçamentos (BRASIL, 1988; SOUZA, 2002). Figura 8 - Pelo SUS, são ofertados serviços preventivos e curativos, ambulatorial e hospitalar, medicamentos, cirurgias e até transplantes Fonte: Freepik. Gestão do Financiamento na Saúde 44 IMPORTANTE: Os valores destinados à saúde pelas três esferas de governo, estabelecidos como percentuais de investimento financeiro foram instituídos através da Lei Complementar nº 141/2012, resultante da sanção da Emenda Constitucional nº 29. (BRASIL, 2012) Os municípios são obrigados a aplicar anualmente um valor mínimo de 15% da arrecadação dos impostos em ações e serviços públicos de saúde. Aos estados esse valor mínimo é de 12% da arrecadação. No caso da União, esse valor deve corresponder ao montante definido pelo cálculo do valor empenhado no exercício anterior, somados ao percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano antecedente ao da lei orçamentária anual. (BRASIL, 2000; BRASIL, 2012a) REFLITA: Sabe-se que um dos problemas atuais do SUS é o subfinanciamento. Planejar este financiamento e executar as ações de saúde dentro do orçamento de forma a garantir o respeito aos princípios da universalidade e integralidade, mostra-se um dos maiores dilemas da saúde pública brasileira. De acordo com a Fiocruz (2018), as restrições orçamentárias para a saúde fazem com que as discussões sobre o financiamento ocupem continuamente a pauta dos movimentos sociais e políticos que trabalham em defesa da saúde pública brasileira. (FIOCRUZ, 2018) Gestão do Financiamento na Saúde 45 Diretrizes do Sistema Único de Saúde O SUS, apesar de promover o acesso a todos os níveis de atenção, traz como diretriz a operacionalização de seus princípios fundamentais na atenção primária, pautada em ações educativas, preventivas, de menor complexidade e à nível local. Esse foco na atenção primária à saúde pode ser uma forma de se promover a qualidade de vida pelo não adoecimento de uma população cada vez mais envelhecida. IMPORTANTE: Assim, em uma realidade de envelhecimento da população e o consequente aumento das doenças crônicas ligadas à idade, a busca por hábitos de vida saudáveis demonstram ser a ação mais efetiva na prevenção de doenças e no aumento e manutenção da qualidade de vida. SAIBA MAIS: O documentário Sicko: SOS Saúde, produzido nos EUA, reflete a realidade da saúde pública norte-americana na qual não há sistema de saúde universal e gratuito e o acesso aos serviços se dá através dos planos de saúde caros e, muitas vezes, inacessíveis à parcela carente da população. (MOORE, 2007) A Política Nacional de Atenção Básica estabelece a Estratégia Saúde da Família(ESF) como forma de reorganização da atenção básica no país. A estratégia vislumbra a expansão, qualificação e consolidação da atenção à saúde, por promover reorientação do processo de trabalho, pautado na equipe multiprofissional, ampliando a resolutividade e propiciando otimização dos recursos financeiros por se ter uma importante relação custo-efetividade, importantes fatores no atual cenário da saúde pública brasileira. (BRASIL, 2012) Gestão do Financiamento na Saúde 46 O SUS e o Estado O conceito ampliado que apresenta a saúde como um fenômeno complexo resultado um conjunto de determinantes responsabiliza o Estado, no provimento ao direito de constitucional de saúde, trabalhar as condicionantes ligadas aos aspectos demográficos, epidemiológicos, nutricionais e tecnológicos, dentre outros. (BRASIL, 1990) NOTA: A Fiocruz (2018) ressalta que o SUS desafia racionalidades ao se manter como uma proposta social, que busca avançar na construção de um sistema universal de saúde para um país continental, populoso, que vive na periferia do capitalismo, conhecido pelas enormes desigualdades sociais. O futuro do SUS encontra-se inexoravelmente atrelado ao êxito do Estado na formulação de suas políticas públicas voltadas ao enfrentamento dos problemas sociais do País. Por se tratar de um problema social construído historicamente, os esforços governamentais para a erradicação das desigualdades sociais representam o maior desafio para a efetivação da saúde universal no Brasil. VOCÊ SABIA? O SUS é o único sistema de saúde pública do mundo que atende mais de 190 milhões de pessoas, em um País que 80% dos usuários dependem exclusivamente dele para acesso aos serviços de saúde. Saiba mais aqui. Outro problema na gestão atual do bem-estar, é a capacidade dos governos e gestores em enxergar e trabalhar a economia da saúde. Entender que a saúde pública possui natureza altamente econômica e deve ser tratada com vistas à tomada de decisão baseadas em parâmetros Gestão do Financiamento na Saúde 47 econômicos, pode auxiliar na otimização dos recursos e na busca pela eficiência. RESUMINDO: Neste capítulo, foi apresentada a evolução da saúde pública no Brasil, passando pela previdência social e culminando no Sistema Único de Saúde como conhecemos hoje, fruto da luta e mobilização social em prol do direito à saúde gratuita, universal e integral. Vimos que a Constituição Federal e a legislação em saúde brasileira estabelecem princípios e diretrizes que devem ser utilizados com os fundamentos das políticas de saúde no país, respeitando- se as características próprias do país e as contingências locais. Também introduzimos a compreensão do financiamento das ações de saúde no país, a demanda por serviços e os desafios para a construção de uma assistência e gestão eficientes. Gestão do Financiamento na Saúde 48 REFERÊNCIAS AVILA, K. B. A terceirização dos serviços públicos de saúde por meio das cooperativas . In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 92, set., 2011. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_ link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10215. Acesso em: 03 out. 2019. BITTAR, O. J. N. V. Indicadores de qualidade e quantidade em saúde. RAS, v. 3, n. 12, jul./set., 2001. Disponível em: http://sistema4.saude.sp.gov. br/sahe/documento/indicadorQualidadeI.pdf. Acesso em: 03 out. 2019. BORGES, D. C. L.; UGA, M. A. D. Conflitos e impasses da judicialização na obtenção de medicamentos: as decisões de 1ª instância nas ações individuais contra o Estado do Rio de Janeiro, Brasil, em 2005. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 26, n. 1, p. 59-69, jan., 2010 . 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Emenda constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Modifica o regime e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.Diário Oficial da União, Brasília, DF, 04 jun. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm. Acesso em: 03 out. 2019. Gestão do Financiamento na Saúde 49 BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº 29 set. 2000. Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29, set. 2000. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ emendas/emc/emc29.htm. Acesso em: 03 out. 2019. BRASIL. Lei Complementar Nº 141, de 13 de janeiro de 2012. Regulamenta o § 3o do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo; revoga dispositivos das Leis nos 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jan. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp141. htm. Acesso em: 03 out. 2019. BRASIL. Lei Nº 6.439, de 01 de setembro de 1977. Institui o sistema Nacional de Previdência e Assistência Social e dá outras providências. . Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 set. 1977. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6439.htm. 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