Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Indaial – 2019
SociolinguíStica
Prof.a Luana Ewald
Prof.a Danielle Vanessa Costa Sousa
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Luana Ewald
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
EW94s
Ewald, Luana
Sociolinguística. / Luana Ewald; Danielle Vanessa Costa Sousa. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2019.
180 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0403-1
1. Sociolinguística. - Brasil. I. Sousa, Danielle Vanessa Costa. II. 
Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 400
III
apreSentação
Caro acadêmico, este livro didático pretende oferecer uma porta de 
entrada para os estudos sociolinguísticos e sua contribuição para a educação 
básica brasileira. A sociolinguística é uma das áreas de conhecimento da 
linguística, cuja responsabilidade está ligada aos estudos da linguagem 
sob uma abordagem social. Ao pensarmos sobre o olhar que os estudos 
sociolinguísticos lançam para a língua, entramos em uma perspectiva que 
leva em conta aquilo que os falantes efetivamente usam em seu dia a dia e 
que, na maioria das vezes, está bastante distante da prescrição feita pelas 
gramáticas tradicionais. Esse distanciamento, no entanto, é natural.
Dada nossa tradição escolar, há uma tendência em se identificar 
o estudo da linguagem com o estudo tradicional da gramática, o que 
buscaremos desconstruir nesta disciplina a partir da explicação de fenômenos 
linguísticos, sejam eles decorrentes das línguas em contato, dos contextos de 
comunicação, da história das línguas e seus falantes etc.
Ao estudar linguística, você irá sempre se deparar com diferentes 
teorias que abordam o mesmo objeto de estudo central: a língua(gem). Essas 
teorias estão vinculadas às disciplinas da linguística, isto é, aos estudos 
sociolinguísticos, filológicos, estudos de gramaticalização, da linguística 
aplicada, dentre outros, que possuem métodos, concepções e formas distintas 
de tratar a linguagem. Na linguística, portanto, existe uma pluralidade 
teórica para trabalharmos com os vários fenômenos da língua. 
Na sociolinguística brasileira, procuramos desconstruir o mito de 
que as pessoas devem falar conforme prescreve a gramática normativa. 
Bagno, sociolinguista brasileiro, trata da variação em seus estudos da língua 
materna. Em vários de seus livros sobre variação linguística, o autor discute 
que falar conforme prescreve essa gramática é um feito impossível de se 
concretizar, pois a língua é dinâmica e está sempre se transformando a partir 
de questões sociais vivenciadas por seus falantes. E é justamente por isso que, 
ao tratarmos da fala, não podemos dizer que alguém fala certo ou errado, 
mas de forma adequada ou inadequada para determinada situação social. 
A partir desta apresentação, você já deve ter compreendido que a 
sociolinguística é uma área de estudos na nossa formação em Letras que 
se contrapõe às formas idealizadas e coercitivas de tratar os estudos da 
linguagem. Não pretendemos julgar uma forma linguística como melhor ou 
pior do que outra, como mais bonita ou feia, como mais correta ou errada; o 
que procuramos é compreender a língua em uso. 
Nossos estudos nesta disciplina devem contribuir com sua prática 
pedagógica a fim de que você se afaste de modelos de ensino que visem à 
mera aplicação de conhecimentos linguísticos em sala de aula legitimados 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
pelo ensino tradicional da língua. O que pretendemos, na verdade, é que a 
disciplina de língua portuguesa permita ao aluno da educação básica refletir 
sobre seus conhecimentos linguísticos, sobre a norma-padrão da língua, 
sobre os textos que circulam socialmente e passe a utilizar a linguagem 
adequadamente na sociedade, legitimando sua própria variedade e tendo 
acesso às variedades prestigiadas do país.
Resumidamente, podemos dizer que a disciplina de sociolinguística 
está em diálogo com a linguística aplicada, a filologia, com as disciplinas 
voltadas aos estudos gramaticais, como morfologia e sintaxe sob a abordagem 
de usos sociais. Por meio desse diálogo, buscaremos compreender juntos o 
português falado no Brasil e o ensino de língua portuguesa na escola.
Prof.ª Luana Ewald
Prof.ª Danielle Vanessa Costa Sousa
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VIII
IX
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS 
E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ....................................................1
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA ................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA DA LINGUAGEM HUMANA .......................................5
3 O SURGIMENTO DE UMA ABORDAGEM SOCIAL SOBRE A 
LINGUAGEM HUMANA .................................................................................................................7
4 SOCIOLINGUÍSTICA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA ESCOLA DE 
PENSAMENTO NA LINGUÍSTICA...............................................................................................11
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................14
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE...............................................................................................................................21
TÓPICO 2 – RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE .........................................................25
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................25
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VARIAÇÃO E COMUNIDADE .........................................26
3 AS GRAMÁTICAS E A NOÇÃO DE ERRO .................................................................................31
4 VARIEDADE, VARIAÇÃO, VARIÁVEL, VARIANTE ................................................................36
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................39
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................41
TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ....................45
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45
2 POR QUE TRATAR DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA PARA O CONTEXTO DE 
TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA? ......................................................................................45
3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO ............................................47
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................55
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................57
UNIDADE 2 – ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS.........61
TÓPICO 1 – SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ................................................................63
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63
2 PARA ENTENDER A VARIAÇÃO E A MUDANÇA LINGUÍSTICA ......................................64
2.1 ANALISANDO REGULARIDADES LINGUÍSTICAS: PRINCÍPIOS 
METODOLÓGICOS.......................................................................................................................68
2.2 AS DIMENSÕES SOCIAIS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: 
TRAÇOS DESCONTÍNUOS E GRADUAIS ...............................................................................74
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................83
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................86
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................88
Sumário
X
TÓPICO 2 – ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E 
ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS ................................................................................95
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................95
2 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS .......................................................................................................96
2.1 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS E BILINGUISMO ..................................................................101
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................103
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
TÓPICO 3 – O MITO DO MONOLINGUISMO .............................................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 O MITO DO MONOLINGUISMO NO BRASIL .........................................................................107
2.1 UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO SOBRE O MITO DO MONOLINGUISMO ..........109
2.2 IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS MONOLÍNGUES E LÍNGUA COMO 
PRÁTICA SOCIAL .........................................................................................................................113
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................117
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................118
UNIDADE 3 – CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO ..........119
TÓPICO 1 – O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE 
LÍNGUA PORTUGUESA ..............................................................................................121
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121
2 A GRAMÁTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA ...................................................121
3 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA ......125
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136
TÓPICO 2 – AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS 
E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES ....................139
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LÍNGUAS EM CONTATO ......................................................139
3 ESTUDANDO A VARIEDADE LINGUÍSTICA: SOCIOLETO, ETNOLETO, 
CRONOLETO E IDIOLETO .............................................................................................................144
4 COMPORTAMENTOS E ATITUDES SOBRE AS LÍNGUAS E SEUS FALANTES: 
PRECONCEITO LINGUÍSTICO .....................................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
TÓPICO 3 – POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA .......................................................159
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159
2 A GESTÃO DO PLURILINGUISMO .............................................................................................159
3 POLÍTICAS E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO .....................................................................163
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................167
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................172
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................175
1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS 
SOCIOLINGUÍSTICOS E À 
SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade,você deverá ser capaz de:
• compreender o lugar da sociolinguística nos estudos científicos da 
linguagem humana;
• conhecer o surgimento da abordagem social sobre a linguagem e o 
nascimento da sociolinguística como disciplina da linguística;
• reconhecer a existência de aspectos sociais na língua;
• identificar a metalinguagem própria da sociolinguística a partir dos conceitos 
de comunidades de fala, variedade, variação, variável e variante linguísticas;
• refletir sobre algumas variantes do português brasileiro.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
TÓPICO 2 – RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE 
TÓPICO 3 – ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
1 INTRODUÇÃO
A sociolinguística é tratada, de maneira geral, como o ramo da linguística 
que estuda a língua(gem) a partir de suas relações com a sociedade. Você verá, ao 
longo deste tópico, como ocorreu a constituição desse campo científico de estudos. 
Neste livro, muitas vezes, você se deparará com o termo língua como palavra 
equivalente à linguagem. Isto porque estamos entendendo a linguagem como uma forma de 
comunicação, seja de modo verbal ou não verbal. A língua, na presente disciplina, é estudada 
no seu contexto de comunicação verbal. Por isso, usamos língua(gem) como um recurso 
para identificar o estudo da língua socialmente situado.
NOTA
É importante que procure compreender, desde o início de suas leituras, que 
o tratamento dado à língua portuguesa durante a sua formação em Letras será 
científico, e não meramente normativo. O tratamento normativo dado à língua 
portuguesa, muitas vezes, tem sido pautado em uma compreensão de estrutura 
pronta e pré-estabelecida, o que Faraco (2008) chama de “norma curta” ao 
contrapor com a expressão “norma culta”. Esse jogo de palavras ocorre para criticar 
o ensino de língua que prescreve, normatiza regras do “bom” uso do português 
sob um olhar purista utilizado muito mais para justificar preconceitos que causam 
constrangimentos às pessoas do que para explicar o funcionamento da língua em 
si. O tratamento científico dado ao estudo da língua, por sua vez, está associado à 
busca pela compreensão e reflexão do processo pelo qual uma língua varia, muda e 
se constitui. Para tratar com cientificidade a língua, precisamos, portanto:
[...] abandonar a ideia de que a língua é uma estrutura pronta, acabada, 
que não é suscetível a variar e a mudar. É necessário entender que a 
realidade das pessoas que usam a língua – os falantes – tem uma 
influência muito grande na maneira como elas falam e na maneira 
como avaliam a língua que usam e, especialmente, a língua usada pelos 
outros. [...] (COELHO; GÖRSKI; NUNES DE SOUZA, 2015, p. 12). 
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
4
Talvez seja difícil pensar no estudo da língua como ciência, dada a nossa 
tradição escolar pautada exclusivamente nas gramáticas normativas, que tendem 
a realizar apagamentos acerca da reflexão sobre fenômenos da fala e da própria 
escrita. Nesse sentido, tendemos a simplificar, em contexto escolar, o processo 
de compreender fenômenos da linguagem ao apenas prescrevermos de forma 
subjetiva regras da gramática tradicional.
Para tratar da cientificidade linguística, inclusive no campo dos estudos 
sintáticos, Mioto, Silva e Lopes (2018) problematizam o fato de termos facilidade 
em reconhecer a física ou a química como ciências, enquanto apresentamos certa 
resistência para atribuir o mesmo reconhecimento à sociologia ou à própria 
linguística. Os autores procuram, então, contextualizar a linguística como ciência, 
comparando-a com esses outros campos:
[...] o físico – ou qualquer outro pesquisador – precisa de um objeto de estudo, 
isto é, uma coisa para estudar. Uma teoria se justifica na relação que tem 
com o objeto de estudo que ela aborda. Mas observe que “alguma coisa” 
é muito vago como objeto e é necessário que se faça aí uma delimitação 
muito mais precisa (MIOTO; SILVA; LOPES, 2018, p. 9, grifo no original).
O objeto de estudo do físico corresponde a certos fenômenos naturais, tais 
como aqueles relacionados a condições climáticas (raios, trovões etc.) ou aqueles 
relacionados à conservação de energia, erosão, só para citar alguns exemplos. A 
linguística, de modo semelhante, também apresenta o seu objeto de estudos: a 
linguagem. 
Como é bastante vasta a “quantidade de termos que o fenômeno 
linguagem abarca [...]”, se torna “necessário restringir drasticamente o seu objeto 
de estudo” (MIOTO; SILVA; LOPES, 2018, p. 10), categorizando-o por escolas 
de pensamento ou disciplinas. A sociolinguística é uma dessas disciplinas que 
trata da variação e mudança linguísticas, da estratificação social das línguas, dos 
contatos linguísticos, enfim, da relação língua e sociedade, conforme mencionado 
anteriormente. Ao longo do seu curso de graduação, além da sociolinguística, 
você deve ter contato com outras disciplinas da linguística, como a morfologia, a 
sintaxe, a filologia, a linguística aplicada etc.
 
Vamos começar nossos estudos situando o campo de conhecimento 
denominado sociolinguística para compreendermos sua importância na 
formação do profissional de Letras, nos avanços científicos acerca da linguagem 
e na prática pedagógica brasileira. Para que possamos situar a sociolinguística, 
precisamos recapitular, ainda que brevemente, alguns aspectos da própria 
constituição da linguística enquanto ciência autônoma, especialmente a partir das 
contribuições de Saussure para a formação do que viemos a chamar de linguística 
moderna, perpassando pela contraposição elaborada por Meillet à linguística 
saussuriana e chegando aos principais nomes da formação do campo de estudos 
sociolinguísticos nos Estados Unidos, como é o caso de William Labov. Pronto 
para iniciar seu percurso científico da sociolinguística?
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
5
2 A LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA DA LINGUAGEM HUMANA
Como você já deve ter visto em outras disciplinas voltadas aos estudos 
linguísticos em seu curso de graduação, a linguística, constituída como ciência 
autônoma, foi pautada essencialmente a partir das contribuições de Ferdinand 
de Saussure ([1916] 2006) publicadas postumamente em 1916 em “Curso de 
Linguística Geral”. Charles Bally e Albert Sechehaye, com base em suas anotações 
e nas anotações de Albert Riedlinger, realizadas ao longo de cursos ministrados 
por Saussure na Universidade de Genebra, editaram e publicaram “Curso de 
Linguística Geral”, obra que se tornou um marco para a linguística moderna e 
para a abordagem estruturalista da linguagem.
Conforme apresentamos na introdução deste tópico, toda ciência precisa 
de um objeto de estudo, isto é, um tema central que versa sua preocupação e que 
servirá de ponto de partida para elaboração de pesquisas. Para a linguística não é 
diferente! Seu objeto de estudo é a linguagem humana. Contudo, para lidar com 
esse objeto de estudo (a linguagem), há diferentes escolas de pensamento, como a 
linguística estruturalista originada a partir de Saussure, e a própria sociolinguística, 
que se constitui como conteúdo desta disciplina que você está cursando agora.
Na área da sociolinguística, estudamos a linguagem a partir de uma 
abordagem social, o que é muito diferente do que se fazia no estruturalismo 
de Saussure, quando ocorreu a autonomia científica da linguística, o qual 
desconsiderava os falantes e sua história. A problemática que é aqui levantada 
pela sociolinguística se volta ao fato de que “as línguas não existem sem as 
pessoas que as falam, e a história de uma língua é a história de seus falantes”(CALVET, 2002, p. 12).
Você deve ter notado o uso dos verbos no pretérito acerca das ações da 
linguística estruturalista (como em “ocorreu a autonomia científica”; ou em “muito diferente 
do que se fazia na linguística estruturalista”). Isto se deve apenas ao fato de a autonomia da 
ciência em questão já ter se concretizado e ao fato de Saussure ter falecido (em 1913), o que 
implica o impedimento da continuidade de seus estudos de forma direta. Contudo, vale alertar 
que o estruturalismo ainda é uma abordagem importante na linguística e que continuou 
em aprimoramento científico mesmo com o surgimento de novas escolas de pensamento. 
Por entenderem que o estruturalismo não compreende a linguagem em sua completude, 
alguns linguistas passaram a adotar outras perspectivas de estudo, como a abordagem social 
da sociolinguística, a fim de responder a novas perguntas de pesquisa que surgiam sobre a 
linguagem com o passar dos anos. Para compreender melhor os estudos estruturais, que não 
se constituem como foco deste material didático, recomendamos a leitura do texto disponível 
on-line “Por que ainda ler Saussure?”, publicado no livro “Saussure: a invenção da linguística”: 
FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges (Orgs.). Saussure: a 
invenção da linguística. São Paulo: Contexto, 2013, 174 p. Disponível em:
<https://editoracontexto.com.br/downloads/dl/file/id/1523/saussure_a_invenc_o_da_
linguistica_apresentac_o.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.
NOTA
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
6
FIGURA 1 – SAUSSURE: A INVENÇÃO DA LINGUÍSTICA
FONTE: <http://twixar.me/QcV1>. Acesso em: 15 maio 2019.
Quando você iniciou as disciplinas específicas do curso de Letras, viu que, 
dentro da linguística, o objeto de estudo adotado por Saussure ([1916] 2006) era a 
langue (língua) como estrutura homogênea, separada dos aspectos da parole (fala). 
Embora Saussure reconhecesse a língua como um fato social, seu objeto de estudo 
desconsiderava as relações entre a linguagem e a sociedade e estava definido na 
estrutura da língua, a partir das relações internas entre os elementos linguísticos. 
Conforme introduz Calvet (2002), sociolinguista francês, Saussure via a língua como 
a parte social da linguagem, isto é, como uma instituição social, mas desconsiderava 
fatores externos a ela (classe social do falante, escolaridade, região onde vive...) e a 
estudava apenas de forma interna, como um sistema fechado em si mesmo.
O estruturalismo na linguística foi construído, portanto, sobre a 
recusa em levar em consideração o que existe de social na língua, 
e se as teorias e as descrições derivadas desses princípios são 
evidentemente uma contribuição importante ao estudo geral das 
línguas, a sociolinguística [...] teve de tomar o sentido inverso dessas 
posições (CALVET, 2002, p. 12, grifos nossos).
Foi especialmente pela concepção de língua como um sistema fechado em 
si mesmo que linguistas começaram a se opor ao estruturalismo, impulsionando 
o surgimento, anos mais tarde, da sociolinguística como uma nova escola de 
pensamento sobre a linguagem.
Você verá, a partir do Tópico 2 desta unidade, que a sociolinguística é um campo 
científico responsável pelo estudo da língua levando em consideração tanto fatores externos 
a ela quanto internos. Isto quer dizer que, diferentemente do que Saussure fazia ao estudar o 
sistema da língua fechado em si mesmo, a sociolinguística procura compreender esse sistema 
a partir de fatores externos a ele, como a influência da vida social dos falantes na língua.
NOTA
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
7
A partir da década de 1960, iniciou de forma mais significativa a complexa 
tarefa de problematizar as lacunas acerca da compreensão estruturalista da 
linguagem, dando margem à discussão sobre a diversidade linguística sob um 
viés social. Na corrente estruturalista, “insistia-se na organização dos fonemas 
de uma língua, em sua sintaxe”, enquanto que a sociolinguística passa a olhar 
para a língua em sua heterogeneidade, preocupando-se com a estratificação 
social das línguas e com a variação linguística, estudada, especialmente, a partir 
das classes sociais (CALVET, 2002, p. 12).
Você entende o que significa a estratificação social das línguas? Ao longo de 
suas aulas de sociologia, na educação básica, você já deve ter se deparado com a expressão 
“estratificação social”. Seu conceito implica considerar que podemos classificar as pessoas 
em grupos tomando como base suas condições socioeconômicas. Nesse contexto, Labov 
([1972] 2008), linguista estadunidense considerado um dos fundadores da sociolinguística, 
advoga que a língua só pode ser realizada e, por conseguinte, estudada, nesses grupos sociais 
de pessoas. A língua, pois, não existe fora da sociedade. Logo, através da língua, podemos 
observar o desenho da sociedade, de forma sempre fluida, nunca fixa.
IMPORTANT
E
Além da crítica levantada ao estruturalismo de Saussure, a sociolinguística, 
na mesma década (1960), passa também a criticar fortemente o gerativismo 
de Chomsky, cuja principal contribuição teórica reside nos estudos sobre 
gramaticalidade e agramaticalidade, sobre a linguagem como uma universalidade 
das regras de natureza inata humana (CALVET, 2002). Os sociolinguistas se 
opõem a determinadas perspectivas desses dois modelos teóricos (estruturalismo 
e gerativismo), especialmente por conta da separação que tais modelos fazem 
entre o estudo linguístico e as questões sociais dos falantes. No entanto, o que nos 
interessa, mais do que debater sobre as controvérsias das diferentes escolas de 
pensamento da linguística, é compreender o que significa estudar sociolinguística 
e qual a sua contribuição para a atuação do profissional de Letras em contexto 
escolar (o que veremos a partir dos próximos tópicos). 
3 O SURGIMENTO DE UMA ABORDAGEM SOCIAL SOBRE A 
LINGUAGEM HUMANA
Conforme apresenta Calvet (2002) em sua obra “Sociolinguística: uma 
introdução crítica”, as primeiras contribuições para o surgimento de um pensamento 
social sobre a linguagem datam logo após a publicação de o “Curso de Linguística 
Geral”, o que contribuiu para o desenvolvimento das duas correntes de modo 
independente: o estruturalismo e a sociolinguística.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
8
O linguista francês Antoine Meillet (1866 – 1936), tido como um dos mais 
brilhantes alunos de Saussure (MARRA; MILANI, 2012), é considerado precursor 
nesse pensamento social sobre a linguagem. “Entre os anos de 1905 e 1906, 
pouco tempo antes de Saussure iniciar o Curso em Genebra, Meillet, enquanto 
contribuía com o jornal de Durkheim, definiu linguagem como um fato social 
[...]” (MARRA; MILANI, 2012, p. 69).
 
Embora Meillet e Saussure utilizem a definição de língua como um fato 
social, distanciam-se na forma como explicam esse fato. Na resenha que faz do 
livro “Curso de Linguística Geral”, Meillet já levantava uma importante crítica, 
afirmando que: “[...] ao separar a variação linguística das condições externas 
de que ela depende, Ferdinand de Saussure a priva de realidade; ele a reduz a 
uma abstração que é necessariamente inexplicável” (MEILLET, 1906 [1921] apud 
CALVET, 2002, p. 14, grifos nossos).
O que seriam as condições externas mencionadas por Meillet? Essas 
condições são aquelas vinculadas a fatores sociais, que dependem de seus falantes 
para serem realizadas na língua. São exemplos de condições externas à língua: a 
classe social do falante, o grupo social ao qual pertence, a situação comunicativa, 
dentre outros aspectos. O que Saussure fazia era exclusivamente analisar fatores 
internos da língua, como sua sintaxe e fonologia, excluindo as influências sociais 
que levam a mudanças nos fatores internos. 
Vamos a um exemplo para compreender o que são as condições externas 
e internas da língua no contexto brasileiro? Quando observamos a palavra 
“Pernambuco” falada emdiferentes regiões do país, podemos perceber que será 
dita de formas diversas, a depender do falante. Ela pode ser pronunciada como 
PÉrnambucU, PÊrnambucU, PÊrnambucO, dentre outras possibilidades. Para 
estudar essas diferentes realizações da palavra Pernambuco, precisamos levar em 
consideração os fatores internos da língua, como a posição das vogais na sílaba e 
na palavra, sua tonicidade, bem como os fatores sociais, como a região do falante, 
o que se caracteriza como um condicionador externo à língua.
 
Em outros exemplos, como “Você estuda na UNIASSELVI” e “Vós sois o 
Caminho, a Verdade e a Vida”, temos a variação dos usos dos pronomes “você” e 
“vós”, cujo significado coincide na língua portuguesa, mas pertencem a contextos 
sociais distintos (rua/trabalho/família versus religioso). Além do contexto, 
também podemos considerar a própria história do pronome “você” como um 
condicionador externo a essa realização, hoje utilizado como pronome pessoal 
por falantes do português brasileiro, mas ainda classificado como pronome de 
tratamento na gramática normativa. 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
9
A sentença “Vós sois o caminho” é uma construção frequentemente utilizada no 
meio religioso. Esse fragmento faz parte da música com o mesmo título da composição do Padre 
Vigne. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/catolicas/1933500/>. Acesso em: 17 jan. 2019.
NOTA
Ficou mais fácil de compreender por que existe uma defesa para estudar 
a linguagem levando em consideração os seus fatores internos e externos? Mais 
adiante, ao longo da Unidade 2, retomaremos esses fatores para que possamos 
iniciar nossas próprias análises sociolinguísticas.
Neste ponto de seus estudos sociolinguísticos, você já está se deparando com o 
termo variação linguística, que será aprofundado mais adiante no nosso material. Mas o que 
seria a variação linguística? Marcos Bagno (2007), autor de diversos livros de sociolinguística 
brasileira, explica a variação linguística a partir do conceito de heterogeneidade da língua. Em 
outras palavras, dizer que a língua varia implica admitir que existe um conjunto de realizações 
possíveis de uma língua, como a portuguesa. Anteriormente, vimos exemplos de variação 
linguística na palavra Pernambuco (que pode apresentar diferentes pronúncias, a depender da 
região do falante), bem como a escolha entre os pronomes vós e você (que depende de que 
século está situado o falante, ou de que contexto está falando, como o religioso ou familiar). 
Há vários outros exemplos de variação linguística que poderiam ser aqui explicitados, mas 
preferimos apresentá-los ao longo do nosso Livro de Estudos para explorá-los aos poucos.
IMPORTANT
E
Além de defender a necessidade de abordagem interna e externa da língua, 
Meillet também procurou estudar a linguagem tanto pelo tratamento sincrônico 
quanto diacrônico, distanciando-se mais uma vez de Saussure, que estudou a língua 
exclusivamente pela sincronia. Lembra-se da diferença entre sincronia e diacronia? 
Trata-se do estudo das características da língua durante um o recorte de período do 
tempo (sincronia) e o estudo da língua através do tempo (diacronia).
A linguística diacrônica, que é também chamada linguística histórica, 
analisa a linguagem e suas mutações durante um determinado 
período. Neste caso, explicita-se o período a ser considerado e o 
material linguístico a ser adotado na análise. A linguística sincrônica 
investiga as propriedades linguísticas de uma determinada língua em 
seu estágio evolutivo atual (SILVA, 2001, p. 16, grifos nossos).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
10
DICAS
A sincronia e a diacronia são conceitos introduzidos à linguística especialmente 
a partir de Saussure. Para entender melhor estes e outros conceitos saussurianos, 
recomendamos que assista aos vídeos que compõem o Kit Pedagógico de Linguística 
Aplicada à Língua Portuguesa.
Além disso, há o vídeo “Bate-papo sobre: Saussure, cem anos de herança e recepções”, que 
apresenta uma entrevista realizada com Carlos Alberto Faraco e Marcio Alexandre Cruz. 
Vídeo disponível no canal de Youtube da Editora Parábola: https://www.youtube.com/
watch?v=Tj9gFyrLy-g.
Em suma, as principais oposições que Meillet levanta aos postulados 
estruturalistas de Saussure se colocam no foco exclusivo dado à abordagem 
interna, sincrônica e abstrata da língua. No quadro a seguir, você poderá conferir 
as principais contraposições que Meillet levantou à linguística saussuriana:
QUADRO 1 – OPOSIÇÕES SOBRE A ABORDAGEM DA LÍNGUA DE MEILLET A SAUSSURE
SAUSSURE MEILLET
ABORDAGEM 
INTERNA E 
EXTERNA
Opõe linguística interna e linguística 
externa (focando na interna); desenvolve 
uma linguística terminológica para 
embasar teoricamente essa ciência.
Associa l inguística interna e 
linguística externa; desenvolve uma 
linguística programática ao levar em 
conta o caráter social da língua. 
ABORDAGEM 
DA SINCRONIA 
E DIACRONIA
Distingue abordagem sincrônica de 
abordagem diacrônica (focando na 
sincrônica); distancia estrutura de 
história.
Une a abordagem sincrônica à 
diacrônica; busca explicar a estrutura 
da língua pela história.
LÍNGUA: 
ABSTRATA OU 
SOCIAL
Busca elaborar um modelo abstrato 
da língua, separando-a da fala e 
estudando exclusivamente sua forma.
Ao procurar explicar a estrutura 
da língua pela história, se vê em 
conflito entre o fato social e o sistema 
linguístico.
LÍNGUA COMO 
INSTITUIÇÃO 
SOCIAL
É somente em dada comunidade que 
a língua é social, pois não analisa as 
marcas sociais que o falante produz 
na língua. A instituição social é um 
princípio apenas geral, pois restringe-
se a uma linguística formal, à língua 
“em si mesma e por si mesma” 
(CALVET, 2002, p. 16).
O princípio de língua como um fato 
social é central. A “linguística é uma 
ciência social, e o único elemento 
variável ao qual se pode recorrer 
para dar conta da variação linguística 
é a mudança social” (MEILLET, 1965, 
p. 17 apud CALVET, 2002, p. 16).
FONTE: Adaptado de Calvet (2002)
A partir dos itens listados no Quadro 1, podemos entender que 
a apresentação da língua como fato social por Meillet é profundamente 
antisaussuriana. É neste tema central a Meillet que nasce uma oposição ao 
estruturalismo ao mesmo tempo que nasce a linguística moderna (CALVET, 2002). 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
11
Essa oposição permitiu a constituição, anos mais tarde, de uma nova disciplina 
na linguística (a sociolinguística), que, ao insistir nas funções sociais da língua, 
funda-se contraditória ao enfoque exclusivo dado à sua forma.
Vale considerarmos, contudo, que a sociolinguística moderna 
essencialmente se materializará nas pesquisas publicadas em língua inglesa. 
Dentre esses pesquisadores, podemos destacar Basil Bernstein (foi o primeiro 
a levar em consideração as produções linguísticas reais e a situação sociológica 
dos falantes de forma concomitante); William Bright (destacou-se pelo estudo 
dos fatores que condicionam a diversidade linguística, pelo estudo dos usos 
linguísticos e das crenças a respeito desses usos, das diferenças multidialetal, 
multilingual ou multissocietal); William Labov (constitui a sociolinguística 
variacionista ao pesquisar a fala dos negros americanos) (CALVET, 2002).
4 SOCIOLINGUÍSTICA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA 
ESCOLA DE PENSAMENTO NA LINGUÍSTICA
A constituição da sociolinguística como uma nova escola de pensamento 
na linguística se dá diante do contexto apresentado desde a oposição de Meillet 
a Saussure até as publicações em língua inglesa, dentre as quais Labov, que se 
inspirou em Meillet, tem recebido grande destaque no campo variacionista. 
Embora Meillet represente um avanço para a linguística com relação 
à sua percepção de língua, estava longe de responder a exigências teóricas 
sociolinguísticas. A crítica aos estudos linguísticos no período de Meillet e Saussure 
se constitui, segundo Calvet (2002, p. 142), “na defesa, de um lado,de uma linguística 
que estude inicialmente “a língua em si mesma” e, de outro, de uma linguística que 
vá até o fim das implicações da definição da língua como fato social”.
De acordo com Calvet (2002), Meillet não soube perceber esse desafio 
nos estudos linguísticos, o qual sinalizava para a necessidade de “explicar todos 
os fatos das línguas (tanto sincrônicos como diacrônicos) em relação constante 
com a sociedade da qual essas línguas são o meio de expressão. Explicar e 
não meramente descrever” (CALVET, 2002, p. 144, grifo no original). Para que 
possamos compreender essa realidade linguística, o porquê da variação e 
mudança linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar 
uma perspectiva social na linguística.
Nesse contexto, a literatura específica tende a afirmar que o termo 
sociolinguística alavancou a partir de um seminário organizado em 1964 na América 
do Norte. Essa sociolinguística, denominada norte-americana, tem como ponto 
de partida a linguística antropológica e se alinha intelectual e metodologicamente 
ao lado social da pesquisa (FISHMAN, 1991).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
12
De 11 a 13 de maio de 1964, por iniciativa de William Bright, 25 
pesquisadores se reuniram em Los Angeles para uma conferência sobre 
a sociolinguística. 8 eram da UCLA, a universidade que organizava a 
conferência, 15 outros eram americanos e só 2 participantes vinham 
de outro país (a Iugoslávia), mas estavam temporariamente na UCLA. 
3 dentre eles apresentaram comunicações: Henry Hoenigswald, 
John Gumperz, Einer Haugen, Raven MacDavid Jr., William Labov, 
Dell Hymes, John Fisher, William Samarin, Paul Friederich, Andrée 
Sjoberg, José Pedro Rona, Gerald Kelley e Charles Ferguson. Os 
temas abordados eram variados: a etnologia da variação linguística 
(Gumperz), o planejamento linguístico (Haugen), a hipercorreção 
como fator de variação (Labov), as línguas veiculares (Samarin, Kelley), 
o desenvolvimento de sistemas de escrita (Sjoberg), a equação de 
situações sociolinguísticas dos Estados (Ferguson)... e os referenciais 
teóricos não eram menos variados (CALVET, 2002, p. 28-29).
Esses pesquisadores constituem um grupo de linguistas contemporâneos 
que rejeitam a abordagem associal dos estudos estruturalistas e também 
gerativistas. Dentre eles, como você pode notar, está o linguista William Labov, 
que foi impulsionador na sociolinguística variacionista, conforme já apontamos. 
Labov inovou os estudos sobre as línguas ao abordar fenômenos da variação 
e da mudança linguísticas. O livro Padrões Sociolinguísticos (LABOV, [1972] 2008) é bastante 
representativo quanto às metodologias de pesquisa na sociolinguística variacionista.
IMPORTANT
E
FIGURA 2 – PADRÕES SOCIOLINGUÍSTICOS
FONTE: <http://twixar.me/9MV1>. Acesso em: 15 maio 2019.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
13
O livro Padrões sociolinguísticos traz contribuições significativas para a 
teoria e metodologia na sociolinguística, especialmente ao entender que, nos 
estudos linguísticos, não devemos lidar com uma língua idealizada, mas com 
a língua representada na fala cotidiana. Isso permitiria à ciência explicar os 
fenômenos linguísticos por meio das teorias gramaticais, de modo que a teoria 
pudesse explicar os dados em análise (LABOV, [1972], 2008). O que acontecia 
na linguística estruturalista e gerativista, segundo Labov ([1972], 2008), era a 
produção de dados de análise e de teorias de forma conjunta, a fim de que esses 
dados se ajustassem à teoria gramatical.
Diante desse contexto, que parte de fatores sociais e linguísticos, estrutura-
se a proposta da teoria laboviana da variação e mudança linguísticas. Dentro dessa 
teoria, preocupamo-nos em estudar as variações linguísticas, suas estruturas e 
mudança/evolução no contexto social de dada comunidade de fala. Para isso, 
a sociolinguística dialoga com a linguística geral, a fim de explicar fenômenos 
morfológicos, sintáticos, semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
Você já deve ter notado, aqui, que para tratar da variação e mudança 
linguística, foi necessário romper com as dicotomias saussurianas para estudar 
a língua tanto pela sincronia quanto pela diacronia e unir os fatores externos 
aos internos da língua. No próximo tópico, veremos mais detalhadamente as 
relações entre língua e sociedade estudadas pela sociolinguística. Mas, antes de 
prosseguirmos, vejamos também, de forma sucinta, uma leitura complementar 
que poderá contribuir para sua compreensão sobre a sociolinguística, além de 
tópicos pontuais do que estudamos até o momento. Por fim, convidamos você a 
colocar em prática os conhecimentos construídos por meio de algumas atividades.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
14
Na leitura complementar que apresentamos a você, acadêmico do curso 
de Letras, recortamos um trecho do capítulo “Sociolinguística”, escrito por Tânia 
Maria Alkmin, da coletânea “Introdução à linguística: domínios e fronteiras”. O texto 
a seguir pretende tornar acessível para leitores iniciantes as relevantes abordagens 
sobre o fenômeno linguístico como fenômeno sociocultural, fundamentalmente 
heterogêneo e em constante processo de mudança.
A partir da sua entrada nesse “terreno” dos estudos linguísticos, é 
importante que você adquira certa familiaridade com as questões mais gerais 
que se dedica a sociolinguística. A presente leitura complementar deve auxiliar a 
esclarecer seu entendimento sobre orientações teóricas que postulam o princípio 
da diversidade linguística, observando a relação entre linguagem e sociedade.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
[...]
A relação entre linguagem e sociedade, reconhecida, mas nem sempre 
assumida como determinante, encontra-se diretamente ligada à questão da 
determinação do objeto de estudo da Linguística. Isto é, embora admita-se que a 
relação linguagem-sociedade seja evidente por si só, é possível privilegiar uma 
determinada óptica, e esta decisão repercute na visão que se tem do fenômeno 
linguístico, de sua natureza e caracterização. Nesse sentido, a Linguística do século 
XX teve um papel decisivo na questão da consideração da relação linguagem-
sociedade: é esta que se encarrega de excluir toda consideração de natureza social, 
histórica e cultural na observação, descrição, análise, e interpretação do fenômeno 
linguístico. Referimo-nos, aqui, à constituição da tradição estruturalista, iniciada 
por Saussure em seu Curso de Linguística Geral, em 1916. É Saussure quem define 
a língua, por oposição à fala, como o objeto central da Linguística. Na visão do 
autor, a língua é o sistema subjacente à atividade da fala, mais concretamente, é o 
sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas variações observáveis da 
fala. Da fala, se ocupará a Estilística, ou, mais amplamente, a Linguística Externa. 
A Linguística, propriamente dita, terá como tarefa descrever o sistema formal, a 
língua. Inaugura-se, assim, a chamada abordagem imanente da língua que, em 
termos saussurianos, significa “afastar tudo o que lhe seja estranho ao organismo, 
ao sistema” (SAUSSURE, 1981, p. 17) [...].
Saussure institucionaliza a distinção entre a Linguística Interna oposta a 
uma Linguística Externa. É essa dicotomia que dividirá, de maneira permanente, 
o campo dos estudos linguísticos contemporâneos, em que orientações formais 
se opõem a orientações contextuais, sendo que estas últimas se encontram 
fragmentadas sob o rótulo das muitas interdisciplinas: Sociolinguística, 
Etnolinguística, Psicolinguística etc.
A tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou, mais precisamente, 
língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do século 
XX. Integrados ou não à grande corrente estruturalista, que ocupou o centro da 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
15
cena teórica, particularmente, a partir dos anos 1930, encontramos linguistascujas obras são referências obrigatórias, quando se trata a questão de pensar do 
social no campo dos estudos linguísticos. Não caberia, aqui, enumerar todos 
esses estudiosos, mas uma breve referência a alguns nomes, ligados ao contexto 
europeu, impõe-se: Antoine Meillet, Mikhail Bakhtin, Marcel Cohen, Émile 
Benveniste e Roman Jakobson. [...]
O esboço feito até aqui pode ser reduzido a uma afirmação muito simples: 
a questão da relação é óbvia e complexa ao mesmo tempo. Sabemos que é inegável, 
mas também, que a passagem do social ao linguístico – e do Linguístico ao social 
– não é feita com tranquilidade. Não há consenso sobre o modo de tratar e de 
explicar a questão da relação entre linguagem e sociedade: o fato é que o lugar 
reservado a essa consideração constitui um dos grandes “divisores de águas” no 
campo da reflexão da Linguística contemporânea.
2 A SOCIOLINGUÍSTICA: FIXAÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS
O termo Sociolinguística, relativo a uma área da Linguística, fixou-se em 
1964. Mais precisamente surgiu em um congresso, organizado por William Bright, 
na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), do qual participaram 
vários estudiosos, que se constituíram, posteriormente, em referências clássicas 
na tradição dos estudos voltados para a questão da relação entre linguagem 
e sociedade: John Gumperz, Einar Haugen, William Labov, Dell Hymes, 
John Fischer, José Pedro Rona. Ao organizar e publicar, em 1996, os trabalhos 
apresentados ao referido congresso sob o título Sociolinguistics, Bright escreve o 
texto introdutório As dimensões da Sociolinguística, em que define e caracteriza 
a nova área de estudo. A proposta de Bright para a sociolinguística é a de que 
ela deve demonstrar a covariação sistemática das variações linguística e social. 
Ou seja, relacionar as variações linguísticas observáveis em uma comunidade às 
diferenciações existentes na estrutura social desta mesma sociedade. Segundo o 
referido autor, o objeto de estudo da Sociolinguística é a diversidade linguística. 
E, como que estabelecendo um roteiro para atividades de pesquisa a serem 
desenvolvidas na área da Sociolinguística, Bright, na mesma obra, identifica 
um conjunto de fatores socialmente definidos, com os quais se supõe que a 
diversidade linguística esteja relacionada como:
a) identidade social do emissor ou falante – relevante, por exemplo no estudo dos 
dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas femininas e masculinas;
b) identidade social do receptor ou ouvinte – relevante, por exemplo, no estudo 
das formas de tratamento, da baby talk (fala utilizada por adultos para se 
dirigirem aos bebês);
c) o contexto social – relevante, por exemplo, no estudo das diferenças entre a 
forma e a função dos estilos formal e informal, existentes na grande maioria 
das línguas;
d) o julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento 
linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes linguísticas. [...]
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
16
Os referidos autores observam, também, que a Sociolinguística se constitui 
e floresce no momento em que o formalismo, representado pela gramática de 
Chomsky, alcança enorme repercussão, em rota para o seu percurso vitorioso. 
Vemos assim, que, de um lado, a preocupação com as relações entre linguagem 
e sociedade tinha raízes históricas no contexto acadêmico norte-americano, 
e também que a oposição entre uma abordagem imanente da língua versus a 
consideração do contexto social é posta com grande vitalidade no campo dos 
estudos linguísticos. De fato, a constituição da Sociolinguística se fez, claramente, a 
partir da atividade de vários estudiosos e pesquisadores que deram continuidade 
à tradição, inaugurada no começo do século XX por F. Boas (1911) e seus discípulos 
mais conhecidos – Edward Sapir (1921) e Benjamin L. Whorf (1941): a chamada 
Antropologia Linguística. Nessa vertente, em que linguagem, cultura e sociedade 
são considerados fenômenos inseparáveis, linguistas e antropólogos trabalham 
lado a lado e, mesmo, de modo integrado. Nesse sentido, o que há de novo é a 
definição de uma área explicitamente voltada para o tratamento do fenômeno 
linguístico no contexto social no interior da Linguística, animada pela atuação 
de linguistas e, particularmente, de estudiosos formados em campos das ciências 
sociais. A Sociolinguística nasce marcada por uma origem interdisciplinar. É 
oportuno assinalar que o estabelecimento da Sociolinguística, em 1964, é percebido 
pela atuação de vários pesquisadores, que buscavam articular a linguagem com 
aspectos de ordem social e cultural.
Em 1963, Labov publica seu célebre trabalho sobre a comunidade da ilha 
de Martha’s Vineyard, no litoral de Massachusetts, em que sublinha o papel 
decisivo dos fatores sociais na explicação da variação linguística, isto é, da 
diversidade linguística observada. Nesse texto, o autor relaciona fatores como 
idade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude ao comportamento linguístico manifesto 
dos vineyardenses, mais concretamente, à pronúncia de determinados fones do 
inglês. Logo, em 1964, Labov finaliza sua pesquisa sobre a estratificação social 
do inglês em New York, em que fixa um modelo de descrição e interpretação do 
fenômeno linguístico no contexto social de comunidades urbanas – conhecido 
como Sociolinguística Variacionista ou Teoria da Variação, de grande impacto na 
linguística contemporânea. [...]
Assim, o rótulo “Sociolinguística”, como foi possível observar, reuniu 
e agregou, no seu início, pesquisadores marcados pela formação acadêmica 
em diferentes campos do saber e marcados também pela preocupação com as 
implicações teóricas e práticas do fenômeno linguístico na sociedade norte-
americana. Surgem, assim, pesquisas voltadas paras as minorias linguísticas 
(imigrantes porto-riquenhos, poloneses, italianos etc.), e para a questão do 
insucesso escolar de crianças oriundas de grupos sociais desfavorecidos (negros e 
imigrantes, particularmente). Em suma, a realidade diversificada, tanto linguística 
como cultural dos Estados Unidos, torna-se um ponto de reflexão básico para um 
contingente significativo de estudiosos. A propósito, vale lembrar que, também em 
1964, houve um congresso em Bloomington, Indiana, em que linguistas e cientistas 
sociais debateram questões relativas às relações interdisciplinares, ao campo da 
dialetologia social, à escolarização de crianças provenientes de meio social pobre e de 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
17
origem estrangeira. Três obras referenciais foram organizadas a partir dos trabalhos 
apresentados nesse congresso: Ferguson (1965) Directions in Sociolinguistics: reporto 
on a interdisciplinar seminar, Lierberson (1966) (ed.) Explorations in Sociolinguistics, e 
Schuy (1964) (ed.) Social dialects and language learning.
3 A SOCIOLINGUÍSTICA: OBJETO, CONCEITOS, PRESSUPOSTOS
Pondo de maneira simples e direta, podemos dizer que o objeto da 
Sociolinguística é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu 
contexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comunidade 
linguística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham 
um conjunto de normas com respeito aos usos linguísticos. Em outras palavras, 
uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir por pessoas 
que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacionam, por meio de 
redes comunicativas diversas, e que orientam seu comportamento verbal por um 
mesmo conjunto de regras. Tomemos, como exemplo, o uso do modo imperativo 
em português. Para os falantes do português, o imperativo denota ordem, exortação, 
conselho, solicitação, segundo o significado do verbo e o tom de voz utilizado, 
como em: “Vai-te embora”; “Ouve este conselho!”; “Vem cá”; “Desce daí”. [...]
A depender do alcance e dos objetos de um trabalho de natureza 
Sociolinguística, podemos selecionar e descrevercomunidades de fala como a 
cidade de New York e a cidade do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belém. Ou 
o povo ianomâmi, que vive no Estado do Amapá. Ou, ainda, as comunidades 
dos pescadores do litoral do Estado do Rio de Janeiro, da ilha de Marajó, dos 
estudantes de Direito, dos rappers etc.
Ao estudar qualquer comunidade linguística, a constatação mais imediata 
é a existência de diversidade ou da variação. Isto é, toda comunidade se caracteriza 
pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a 
Sociolinguística reserva o nome de variedades linguísticas. O conjunto de variedades 
linguísticas utilizado por uma comunidade é chamado repertório verbal. Assim é que, 
a propósito da cidade de Bruxelas, na Bélgica – país caracterizado pelo bilinguismo 
francês-flamengo (variedade do holandês) – Fishman aponta:
Os funcionários administrativos do Governo, em Bruxelas, que são de 
origem flamenga, nem sempre falam holandês entre si, mesmo quando 
todos sabem holandês muito bem e igualmente bem. Não só há ocasiões 
em que falam francês entre si, em vez de holandês, como também há 
algumas ocasiões em que falam entre si o holandês standard enquanto 
em outras usam esta ou aquela variedade regional do holandês. De 
fato, alguns da mesma forma usam diferentes variedades de francês: 
uma variedade particularmente carregada de termos administrativos 
oficiais, outra correspondendo ao francês não técnico falado nos 
círculos de educação superior e refinados da Bélgica, e, ainda 
outra, que não é apenas um “francês mais coloquial”, mas o francês 
coloquial dos que são flamengos. Em suma, essas diversas variedades 
de holandês e de francês constituem o repertório linguístico de certos 
complexos sociais flamengos em Bruxelas (FISHMAN, 1974, p. 28).
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
18
Caso consideremos uma comunidade como a de Salvador, observaremos 
que o seu repertório linguístico se constitui de variedades linguísticas distintas, 
dado que os habitantes da cidade falam de modo diferente em função, por 
exemplo, de sua origem regional, de sua classe social, de suas ocupações, de sua 
escolaridade e também da situação em que se encontram. Assim é que um falante 
que pronuncia a palavra “doido” como [‘doijd3u] revela sua proveniência da 
região interiorana, assim como a pronúncia da palavra “cozinha” como [kú’zîǝ] 
indica, além da origem social, a sua pouca escolaridade. Um mesmo habitante 
de Salvador, segundo a situação em que se encontrar, poderá optar entre usar 
as expressões “Fiquei retado” ou “Fiquei aborrecido”, assim como entre “João 
convidou ele” ou “João o convidou”.
Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variações. 
Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma entidade 
homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um 
conjunto de variedades. Concretamente: o que chamamos de “língua portuguesa” 
engloba os diferentes modos de falar utilizados pelo conjunto de seus falantes do 
Brasil, em Portugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc.
Língua e variação são inseparáveis: a Sociolinguística encara a diversidade 
linguística não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do 
fenômeno linguístico. Nesse sentido, qualquer tentativa de buscar apreender 
apenas o invariável, o sistema subjacente – se valer de oposições como “língua 
e fala”, ou competência e performance – significa uma redução na compreensão do 
fenômeno linguístico. O aspecto formal e estruturado do fenômeno linguístico é 
apenas parte do fenômeno total.
FONTE: ALKMIN, Tânia Maria. Sociolinguística: parte 1. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna 
C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. V. 1. São Paulo: Cortez, 2001, p. 21-47.
19
Neste tópico, você aprendeu que:
• A sociolinguística tem sido classificada como uma das áreas de conhecimento 
da própria linguística, ciência relativamente recente que é responsável pelo 
estudo da linguagem humana.
• As primeiras contribuições para o surgimento de um pensamento social sobre 
a linguagem datam logo após a publicação do “Curso de Linguística Geral”, o 
que contribuiu para o desenvolvimento das duas correntes – o estruturalismo 
e a sociolinguística – de modo independente.
• Saussure (corrente estruturalista) analisava exclusivamente os fatores internos 
da língua, como sua sintaxe e fonologia, excluindo as influências sociais que 
levam a variações e mudanças nos fatores internos da língua.
• Como disciplina da linguística, a sociolinguística surge em oposição às concepções 
sistêmicas e formalistas dadas à língua em correntes como a do estruturalismo de 
Saussure e do gerativismo de Chomsky. Meillet foi um dos primeiros linguistas 
a se contrapor à corrente estruturalista, embora tenham sido os estudiosos 
estadunidenses, apenas na década de 1960, que receberam maior destaque para 
formulação da nova escola de pensamento denominada sociolinguística.
• As condições externas à língua são aquelas vinculadas a fatores sociais, que 
dependem de seus falantes para serem realizadas. São exemplos de condições 
externas à língua a classe social do falante, o grupo social ao qual pertence, a 
situação comunicativa, dentre outros aspectos. 
• As principais diferenças entre os estudos de Meillet e de Saussure estão na 
abordagem interna e externa da língua, na abordagem sincrônica e diacrônica, 
no tratamento social dado à língua e não abstrato, ao tratamento heterogêneo 
e não homogêneo à língua como fato social.
• A sociolinguística alavancou com a sociolinguística norte-americana, a partir de 
um seminário organizado em 1964. Dentre os principais nomes da sociolinguística 
como uma nova escola de pensamento está William Labov (constitui a 
sociolinguística variacionista ao pesquisar a fala dos negros americanos).
RESUMO DO TÓPICO 1
20
• Os sociolinguistas contemporâneos entendem que para que possamos 
compreender a realidade linguística, o porquê da variação e mudança 
linguística, das atitudes e ações sobre as línguas, precisamos encarar uma 
perspectiva social na linguística.
• Para estudar as variações linguísticas, suas estruturas e mudança/evolução no 
contexto social de dada comunidade de fala, a sociolinguística dialoga com 
a linguística geral. Assim, é possível explicarmos fenômenos morfológicos, 
sintáticos, semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
21
1 A partir de suas leituras sobre a sociolinguística, você deve ter percebido que 
ela se constitui como um campo científico do estudo da língua, associado à 
própria linguística. Para auxiliar na sua apropriação de conhecimento acerca 
dessa disciplina, montamos para você um roteiro de leitura, com o qual você 
poderá registrar suas inferências a partir das seguintes perguntas:
a) Por que houve a necessidade de iniciar uma nova escola de pensamento para os 
estudos linguísticos se o estruturalismo já marcava a linguística como ciência? 
b) Quando e onde passamos a chamar os estudos que relacionam a sociedade e 
a linguística como sociolinguística?
c) Qual é o pressuposto básico da sociolinguística?
d) Qual o objeto de estudos da sociolinguística?
e) Quem é reconhecido como o principal fundador da sociolinguística 
variacionista?
f) O que você entende por heterogeneidade e variação linguística?
2 Ao longo deste tópico você viu que a sociolinguística é uma escola de 
pensamento da linguística. A sociolinguística surgiu, assim, para dar conta 
do aspecto social que constitui o uso da língua. Nesse sentido, essa disciplina 
procura responder às perguntas sobre a língua que outras correntes de 
estudo (como o estruturalismo e o gerativismo) não pretenderam responder. 
Tendo isto em vista, assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para 
a(s) falsa(s):
( ) O estruturalismo, assim como a sociolinguística, entende que a língua é 
uma instituição social e, por isso, a estuda inserida em um contexto deuso.
( ) A sociolinguística procura explicar fenômenos de variação e mudança 
linguísticas a partir de estudos situados com falantes da língua, já que eles 
a influenciam cultural e historicamente.
( ) A sociolinguística tem caráter interdisciplinar, tendo em vista que dialoga 
com a linguística geral para explicar fenômenos morfológicos, sintáticos, 
semânticos e fonéticos acerca da variação linguística.
( ) Por meio dos estudos sociolinguísticos, podemos justificar o porquê de 
algumas pessoas tenderem a falar mais corretamente que outras, como é o 
caso da fala de professores com relação a de seus alunos.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) F – V – V – F.
b) ( ) V – V – F – V.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) F – V – V – V.
e) ( ) V – F – V – F.
AUTOATIVIDADE
22
3 Leia o fragmento do texto a seguir a respeito da linguística moderna saussuriana: 
A Linguística, iniciada a partir do Curso, leva em conta os princípios 
saussurianos de que a língua “é um sistema que conhece apenas sua própria 
ordem” (cl g: 31); “é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser 
consideradas em sua solidariedade sincrônica” (cl g: 102); “é uma forma e não 
uma substância” (cl g: 141) e de que a Linguística “tem por único e verdadeiro 
objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma” (cl g: 271).
FONTE: FIORIN, José Luiz; FLORES, Valdir do Nascimento e BARBISAN, Leci Borges. (Orgs.). 
Saussure: a invenção da Linguística. São Paulo: Contexto, 2013.174 p.
Assinale a alternativa CORRETA em relação às ideias apresentadas no fragmento 
do texto e à concepção de estudos sociolinguísticos apresentados neste tópico:
a) ( ) Saussure foi o primeiro linguista a valorizar os estudos sociolinguísticos 
ao reconhecer a língua como fato social.
b) ( ) O objeto de estudo da linguística estruturalista centrou-se na estrutura 
da língua a partir dos fatores externos a ela.
c) ( ) O estruturalismo estuda a língua em si mesma e por si mesma, o que é 
fortemente criticado pelos sociolinguistas.
d) ( ) Os estudos sociolinguísticos priorizam o estudo do sistema linguístico 
fechado em si mesmo.
e) ( ) Os estudos saussurianos ainda carecem de cientificidade porque 
deixaram de contemplar a dimensão social da linguagem.
4 Para os sociolinguistas, os modelos estruturalistas e gerativistas de estudo 
são problemáticos porque desconsideram as influências externas à língua, 
como questões históricas, culturais, sociais, ideológicas, entre outras. 
Escreva um parágrafo crítico a respeito dos modelos problematizados pela 
sociolinguística, defendendo a necessidade de relacionar a língua com 
questões históricas, culturais, sociais, ideológicas dos seus falantes.
5 Neste tópico, você viu que Meillet foi um dos primeiros linguistas a se contrapor 
à corrente estruturalista, embora tenham sido os estudiosos estadunidenses, 
apenas na década de 1960, que receberam maior destaque para formulação da 
nova escola de pensamento denominada sociolinguística. Sobre os principais 
pressupostos da sociolinguística, analise as proposições a seguir:
I- Os fatores internos (estrutura) e fatores externos (história e mudanças 
sociais) da língua são levados em consideração para explicação da variação 
e mudança linguísticas.
II- São exemplos de condições externas à língua a classe social do falante, o 
grupo social ao qual pertence, a situação comunicativa, a idade, o gênero.
III- Assim como Saussure, Meillet aborda a língua sincrônica e diacronicamente, 
a fim de contemplar as influências históricas e atuais na sua estrutura.
É CORRETO o que se afirma em:
23
a) ( ) I e II.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II, apenas.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I e III.
6 Ao longo deste tópico, você se deparou, principalmente, com a reflexão de 
três estudiosos da língua: Saussure, Meillet e Labov. Disserte, sucintamente, 
o que aprendeu sobre eles.
24
25
TÓPICO 2
RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Como falante da língua portuguesa, você já deve ter observado quantas 
pessoas, falantes dessa mesma língua, possuem um “sotaque” diferente do seu 
(como no exemplo da pronúncia da palavra Pernambuco, mencionada no tópico 
anterior). Você também já deve ter percebido que há várias pessoas que fazem 
seleções de “palavras diferentes” que você para descrever um mesmo fenômeno 
ou objeto (como é o caso da escolha entre as palavras biscoito e bolacha), ou ainda, 
que construam “frases cujas formas sejam diferentes” das suas (como em “eu não 
falei”, “eu não falei não”, “falei não”...). 
Essas diferenças nas formas de falar, como veremos neste tópico, 
são denominadas pela sociolinguística como variações linguísticas, e estão 
relacionadas a diversos fatores: origem geográfica do falante, sua idade, gênero, 
entre outros. Reconhecer esses fatores, contudo, não quer dizer que admitamos 
algum tipo de condicionamento da fala com a região de nascimento do falante, 
ou com sua classe social etc. O que estamos admitindo, aqui, é o fato de que os 
falantes adquirem formas de falar a língua em convívio com outros falantes de 
dada região, grupo social etc. 
A reflexão sobre essas diferentes realizações em uma mesma língua é 
estudada pela sociolinguística a partir da relação entre a língua e a sociedade, 
conforme já viemos conversando desde o Tópico 1 desta primeira unidade. 
No Tópico 2, passaremos a estudar alguns conceitos essenciais para falarmos 
acerca da diversidade linguística, isto é, acerca das diversas possibilidades que 
temos para pronunciar as palavras da nossa língua, para escolher as palavras 
para descrever um mesmo objeto ou fenômeno e para realizar as construções 
sentenciais da língua. Vamos começar, então, a falar de variação linguística, e, 
por conseguinte, de variedade, variável e variante, de comunidade linguística, 
de normas da língua, que se vinculam a conceitos de gramáticas, bem como do 
entendimento de língua como um sistema heterogêneo. Pronto para iniciar?
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
26
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS: VARIAÇÃO E COMUNIDADE
Como vimos na introdução deste tópico, é natural, como falantes de uma 
língua, a portuguesa, observarmos o jeito que cada um tem de falar. Essa observação 
normalmente se dá pelo âmbito geográfico, no qual tendemos a destacar os vários 
sotaques que as pessoas revelam; uns mais “cantados”, outros com pronúncias 
mais “aligeiradas”, outros, ainda, mais “chiados”, só para citar alguns exemplos. 
Pela fala, tendemos a determinar a região de um falante, a reconhecer, inclusive, se 
sua nacionalidade é a mesma ou não é a mesma que a nossa. 
Como afirma Silva (2001, p. 11), faz parte do “conhecimento comum” das 
pessoas “falar sobre” a linguagem e discutir aspectos relacionados às propriedades 
das línguas que conhece[m]. [...] Contudo, há um ramo da ciência cujo objeto 
de estudo é a linguagem”. Esse ramo, conforme já introduzido no Tópico 1, é 
a linguística, responsável por “determinar os princípios e as características 
que regulam as estruturas das línguas” (SILVA, 2001, p. 11). A sociolinguística, 
como uma das disciplinas da linguística, entende que uma língua não pode ser 
compreendida puramente pelo seu escopo linguístico, pois precisamos da relação 
língua e sociedade para explicarmos diversos fenômenos linguísticos.
Quando duas pessoas falantes de uma mesma língua se encontram e 
passam a interagir linguisticamente, certamente se dá uma interação 
ampla em que cada uma das pessoas envolvidas passa a criar uma 
imagem de outra pessoa. Podemos identificar se a pessoa é falante 
nativo daquela língua. Um falante nativo é um indivíduo que 
aprendeu aquela língua desde criança e a tem como língua materna 
ou primeira língua. Caso classifiquemos o falante como sendo nativo, 
podemos afirmar se tal pessoa partilha da mesma variante regional 
daquela língua. Não precisamos nem mesmo ver um falante para 
determinar a sua idade ou sexo,e talvez seu grau de educação. Isto 
pode ser facilmente atestado quando atendemos a um telefonema. 
Podemos também precisar se o falante é estrangeiro que tem a língua 
em questão como segunda língua. Na grande maioria dos casos, 
falantes de uma segunda língua têm características de sua língua 
materna transpostas para a língua aprendida posteriormente. Tem-se, 
portanto, o “sotaque de estrangeiro” com características particulares 
de línguas específicas (como “sotaque” de americano, de japonês, 
alemão, italiano etc.) (SILVA, 2001, p. 11, grifos nossos).
Quando observamos as características linguísticas dos falantes de uma 
dada língua, procuramos compreendê-las dentro de uma comunidade de fala. 
“Uma comunidade de fala consiste de um grupo de falantes que compartilham de 
um conjunto específico de princípios subjacentes ao comportamento linguístico” 
(SILVA, 2001, p. 12, grifos nossos). No livro Padrões Sociolinguísticos, Labov 
([1972] 2008) conceitua a comunidade de fala a partir das atitudes dos falantes 
em relação à língua e às gramáticas que esses falantes compartilham. No entanto, 
vale considerarmos que esse conceito continua em debate e aperfeiçoamento nas 
discussões científicas. Guy (2001), por exemplo, faz uma reelaboração e define 
comunidade de fala como sendo um grupo de falantes que: 
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
27
1- compartilham traços linguísticos que são diferentes dos de outros grupos;
2- têm uma frequência alta de comunicação entre si;
3- apresentam as mesmas normas e atitudes em relação ao uso da língua. 
Diante do que vimos até o momento, é possível entender que o estudo da 
sociolinguística se preocupa com a comunidade de fala e não com um sistema 
específico de um ou outro indivíduo apenas. Para saber mais sobre o conceito 
de comunidade de fala, retome a seção “A sociolinguística: objeto, conceitos, 
pressupostos” da leitura complementar do Tópico 1 desta unidade.
Sempre que estudarmos a língua, partindo da sua relação com a sociedade, 
precisamos reconhecer a comunidade de fala a ser analisada. Em outras palavras, 
todo fenômeno linguístico a ser discutido precisa estar situado socialmente. 
Tanto no contexto de ensino superior quanto no contexto de educação básica, 
defendemos a importância do estudo da língua de forma situada, a fim de que 
fenômenos linguísticos possam ser compreendidos através de usos linguísticos 
concretos. Nesse sentido, você, professor de língua portuguesa em formação, 
precisa se despir de certos preconceitos acerca de falas marginalizadas para 
procurar compreendê-las, entender o porquê de serem realizadas e assim tratá-las 
com cientificidade. Para entender melhor, vejamos a situação expressa na imagem 
a seguir, que submete a zoologia (ramo da biologia responsável pelo estudo dos 
animais) às prescrições formais que comumente ocorrem com a língua:
FIGURA 3 - A ZOOLOGIA X A LINGUÍSTICA
FONTE: <https://i1.wp.com/starkeycomics.com/wp-content/uploads/2019/04/Prescriptive-
Zoology.jpg?fit=1199%2C1400&ssl=1>. Acesso em: 24 abr. 2019 (tradução nossa)
Na verdade, você não está no 
meu livro de animais, portanto 
você não é um animal de verdade.
Subespécies? Apenas um tigre 
que não sabe ser um tigre 
adequado! Tão preguiçoso.
Isso é um erro. Sua espécie 
deve ter apenas 9 faixas. 
Eduque-se.
Pare de evoluir!
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
28
Como a língua é dinâmica, é perfeitamente natural que nela ocorram 
mudanças com o tempo, o que implica admitir variações nos usos cotidianos 
de cada falante, de acordo com sua intenção discursiva e com a comunidade 
de fala à qual pertence. Em contexto escolar, há uma tendência de naturalizar o 
apagamento da variação da língua, embora em outros campos científicos, como 
o da biologia, essa naturalização de apagamento da diversidade das espécies não 
tende a ocorrer com a mesma frequência.
Na imagem que você acaba de ver, é possível observar, de uma forma 
bem-humorada, como seria antiético se na zoologia houvesse uma certa 
seleção dos animais considerados cabíveis de estudo, ou se os animais fossem 
submetidos ao que está prescrito nos manuais do zoólogo, ao invés de estudados 
e descritos na forma que são encontrados. Pareceu bastante absurdo, não é 
mesmo!? Infelizmente, como vimos, essa realidade prescritiva não costuma soar 
tão absurda ou antiética quando tratamos, de modo geral, da língua.
Quando estamos nos dirigindo ao estudo da língua, especialmente em 
contexto escolar, costumamos nos deparar com situações como no quadrinho um: 
“Na verdade, você não está no meu livro de animais, portanto, você não é um animal 
de verdade”. Nesse caso, quando há uma variação linguística que não está presente na 
gramática normativa, tendemos a ignorar essa variação, tratando-a como inexistente 
na língua. Quanto ao quadrinho dois (Subespécies? Apenas um tigre que não sabe 
ser um tigre adequado! Tão preguiçoso), identificamos que há uma tendência, na 
língua, de dizermos que as pessoas que não falam conforme a norma-padrão são 
preguiçosas, e não damos atenção à nova forma da língua, digna de ser estudada 
para que seja possível compreendermos como e por que ela acontece. 
No quadro três, entra a relação de erro: “Isso é um erro. Sua espécie deve ter 
apenas nove faixas. Eduque-se”. É comum que subjuguemos como simplesmente 
erro uma forma inovadora da língua, que se afasta da norma-padrão, e não 
busquemos compreendê-la como regularidade dentro dos aspectos linguísticos 
e extralinguísticos. Diante de tudo isso, veja o absurdo que seria pedir para a 
língua parar de “evoluir”, ou melhor, parar de mudar, assim como ocorreu no 
quadrinho quatro com uma espécie animal.
A partir do exposto, precisamos problematizar que, para uma variação 
existir, ela não precisa ser dicionarizada ou prescrita pela gramática normativa, 
basta estar em uso por uma comunidade de fala. Nesse sentido, é preciso que 
trabalhemos com a educação linguística em contexto escolar, validando as 
diferenças como constitutivas da língua, e rompendo com a tradição de classificar 
como erro tudo o que se afasta do padrão.
Com a disciplina de sociolinguística na graduação em Letras, procuramos 
romper com certos estigmas da língua para compreender que qualquer forma 
linguística em português, utilizada por comunidades de fala prestigiadas 
socialmente ou não, constitui o que convencionamos chamar de língua portuguesa 
e, por isso mesmo, não pode ser excluída dos estudos da língua.
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
29
Diante do que ora fora apresentado a você, acadêmico, já é possível 
compreender que o conhecimento sobre uma língua não se limita às classificações 
normativistas de orações e palavras, pois estas são apenas elementos de estudos, 
mas não a língua em si. Para estudar uma língua, portanto, precisamos considerar 
seus elementos extralinguísticos, que consistem nos aspectos históricos, sociais, 
situacionais. Nesse sentido, a língua é sempre tratada, na sociolinguística, de 
forma heterogênea, o que implica a existência de variação linguística.
A variação linguística, como já discutimos anteriormente, refere-se às diferenças 
que uma mesma língua pode apresentar em diferentes planos (histórico, comunicativo, 
estilístico, regional, social, contextual). Em outras palavras, a variação linguística pode ser 
compreendida como o processo pelo qual duas formas, com um mesmo valor de significado, 
podem ocorrer em um mesmo contexto (COELHO; GÖRSKI; NUNES DE SOUZA, 2015). 
Dizemos, portanto, que as diferenças de uso da língua provêm de diferentes variações, que 
podem ser: diastráticas (ou sociais), diatópicas (ou geográficas), diacrônicas (ou temporais), 
diafásicas (ou contextuais) e diamésicas (ou de modalidade escrita/falada). A seguir, 
acompanhe exemplos de cada uma dessas variações.
IMPORTANT
E
a) Variação diacrônica: refere-se às mudanças na forma da língua ao longo da 
história. Para exemplificar a notória mudançada língua portuguesa ao longo 
do tempo, Bagno (2007) apresenta um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, 
considerada entre diferentes estudiosos como a primeira produção literária 
brasileira, datada de 1º de maio de 1500:
Easy segujmos nosso caminho per este mar delomgo ataa terça feira 
doitauas de pascoa que foram xxj dias dabril que topamos alguus 
synaaesde terá seemdo da dita jlha segundo os pilotos deziam obra de 
bjc lx ou lxx legoas . os quaaes herã muita camtidade deruas compridas 
aque os mareantes chama botelho [...] (PERO VAZ DE CAMINHA 
1500 apud BAGNO, 2007, p. 165).
Se compararmos a língua utilizada na carta com qualquer produção 
escrita atual, ainda que ambas as produções sejam escritas em língua portuguesa, 
perceberemos nítidas diferenças linguísticas. Quanto mais antigo for o texto, mais 
comprometida fica nossa compreensão, já que se distancia da variedade com a 
qual estamos habituados.
b) Variação diatópica: também conhecida como variação geográfica, está 
relacionada aos usos linguísticos que falantes de uma mesma língua podem 
realizar de maneira diversificada, conforme suas origens geográficas. Confira 
alguns exemplos elencados por Alckmin (2001, p. 35):
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
30
a) brasileiros e portugueses se distinguem em vários aspectos de sua 
fala. No plano lexical, apenas um exemplo: “combóio” em Portugal, 
“trem” no Brasil. No plano fonético: a pronúncia aberta da vogal 
anterior média como em “prémio” [‘prEmjU], em contraste com 
a pronúncia fechada no Brasil, “prêmio” [‘premjU]. No plano 
gramatical: derivações diversas de uma raiz comum, como em 
ficheiro, paragem, bolseiro, que no Brasil correspondem a fichário, 
parada e bolsista; a colocação de advérbios como em “Lá não vou 
(Portugal) e “Não vou lá” (Brasil).
b) entre falantes brasileiros originários das regiões nordeste (incluída 
a Bahia) e sudeste, percebemos diferenças fonéticas, como, por 
exemplo, a pronúncia de vogais médias pretônicas – como ocorre 
na palavra “melado” pronunciadas como vogais abertas no 
nordeste [mE’ladU] e fechadas no sudeste [me’ladU]. Percebemos 
também diferenças gramaticais, como, por exemplo, a preferência 
pela proposição verbal da negação, como em “sei não” (nordeste) e 
“não sei” (ou, “não sei, não”, no sudeste); o uso do artigo definido 
antes de nomes próprios como em “Falei com Joana” (nordeste) e 
“Falei com a Joana” (sudeste);
c) O Estado da Bahia, por exemplo, a origem urbana ou rural pode ser 
evidenciada pelo uso da expressão “de primeiro” [di primero], em 
lugar de “antigamente”, “anteriormente”.
c) Variação diamésica: é associada ao meio de comunicação, tendo em vista que 
nela se verifica a comparação entre as modalidades oral e escrita da língua 
(BAGNO, 2007). A esta altura de seus estudos, você já notou que existem 
diferenças na forma que você utiliza a língua na fala e na escrita? Quando você 
escreve um e-mail, por exemplo, consegue pensar previamente na linguagem 
escrita, nas sentenças, na ortografia, consegue revisá-lo e modificá-lo. Nesse 
sentido, um comunicado enviado por e-mail certamente será diferente de um 
comunicado proferido oralmente, na interação face a face, mesmo quando os 
interlocutores são os mesmos e o conteúdo da mensagem também. Isto porque, 
na oralidade, não temos a mesma possibilidade de revisão ou reajuste. Logo, 
há variações que costumam ser aceitas entre essas duas modalidades, como 
CÊ e VOCÊ; NÃO VAMU NÃO e NÃO VAMOS etc.
d) Variação diastrática: também conhecida como variação social, “relaciona-se a 
um conjunto de fatores que têm a ver com a identidade dos falantes e também 
com a organização sociocultural da comunidade de fala” (ALCKMIN, 2001, 
p. 35). Tais fatores são normalmente identificados como de: a) classe social; 
b) idade; c) gênero; d) situação ou contexto social. Confira alguns exemplos 
elencados por Alckmin (2001):
I- Classe social: observou-se o uso de dupla negação em grupos situados 
abaixo na escala social, como em “ninguém não viu”, “eu nem num gosto”. 
Nesse mesmo grupo, costuma-se encontrar a presença de [r] em lugar de 
[l], em grupos consonantais, como em “brusa” (blusa) e “grobo” (globo). 
II- Idade: com relação à idade, é comum encontrarmos certas gírias para 
denotar faixa etária jovem.
III- Gênero: diferentes estudos identificaram o uso frequente de diminutivos, 
como “bonitinho”, “gostosinho, “vermelhinho” na fala feminina. 
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
31
3 AS GRAMÁTICAS E A NOÇÃO DE ERRO
Como estudante de Letras, especialmente ao longo desta disciplina, você 
passará a ter subsídios para formular, ainda que de forma inicial, explicações 
sobre o mecanismo subjacente à linguagem. Essa tarefa, pois, coincide com o 
papel da própria gramática da língua. 
O papel da gramática, vale destacar, é o de apresentar as normas de uma dada 
língua. Em contato com os estudos da linguística aplicada, vemos, comumente, que a palavra 
“normas”, no plural, implica compreendermos que há regularidades diversas de se utilizar 
a língua, que não tão somente a norma-padrão, tradicionalmente imposta em materiais 
didáticos mais antigos ou antiquados.
NOTA
Nesse sentido, quando falamos em gramática, nem sempre estamos 
falando na gramática prescritiva ou normativa, a qual está limitada a prescrever 
(e não explicar) as regras para o uso da norma-padrão de uma dada língua. 
Conforme têm apontado alguns estudiosos brasileiros (BAGNO, 2011; BAGNO, 
2007; BORTONI-RICARDO, 2004; ALCKMIN, 2001; SILVA, 2001), não existe o 
falante ideal, que realmente faça uso de todas as regras gramaticais prescritas 
pela gramática normativa, sem violações. A norma-padrão, pois, não é língua 
materna de ninguém, mas uma forma da língua ensinada nas escolas, em 
contexto de educação formal. Apesar disso, não podemos apagar os méritos da 
gramática normativa, tendo em vista seu papel em estabelecer certos padrões que 
são compartilhados pelos falantes de uma mesma língua (SILVA, 2001), além de 
seu patrimônio cultural (BAGNO, 2007). 
IV- Situação ou contexto social: a situação social implica a mudança que 
tendemos a realizar de acordo com os nossos interlocutores, o lugar 
onde nos encontramos (em um bar, em uma conferência, por exemplo) e 
segundo o tema da conversa (como a fofoca, assunto científico...). Esse tipo 
de variação, que depende do contexto social, também é conhecido como 
variação estilística ou de registro, considerando que o falante pode fazer 
uso de um estilo mais formal ou informal. 
Diante do que você viu até o momento, já deve ter compreendido que, 
para estudarmos a variação linguística, precisamos sempre levar em consideração 
a realidade das relações sociais dos falantes. Sempre que um falante utiliza a 
língua, o faz dentro de uma variedade linguística relativa ao seu grupo social, 
seu contexto comunicativo, sua origem geográfica etc. Continue sua leitura para 
refletir, a seguir, a noção de erro construída socialmente sobre certas variedades.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
32
“Ao contrário do que declaram algumas pessoas desavisadas, os linguistas 
não consideram o processo de constituição de uma norma-padrão como uma coisa 
intrinsicamente negativa. Eles sabem que a vida social é regulada por normas, entre as quais 
estão as normas de comportamento linguístico. Os linguistas simplesmente chamam a 
atenção para o fato de a normalização da língua não ser um processo “natural”, mas sim o 
resultado de ações humanas conscientes, ditadas por necessidades políticas e culturais, e nas 
quais impera frequentemente uma ideologia obscurantista, dogmática e autoritária. Alguns 
linguistas (mas nem todos!) acreditam que uma norma-padrão poderia até ser um elemento 
cultural desejável, desde que constituída com o auxílio da pesquisa científica e com base em 
projetos sociais democráticos e não excludentes” (BAGNO, 2007, p. 34).
IMPORTANT
E
O queprocuramos problematizar, aqui, com o apoio da sociolinguística, 
é que a gramática normativa não deve ser utilizada de forma acrítica em 
contexto educacional, pois precisamos refletir, como professores e estudantes 
da língua portuguesa, sobre as particularidades dessa língua que não atendem 
necessariamente a tais prescrições e que ainda assim são perfeitamente utilizadas 
por nós, falantes dessa língua. Silva (2001, p. 15, grifos nossos) exemplifica com o 
uso do futuro simples no português brasileiro, que é recomendando pela gramática 
normativa, mas não necessariamente utilizado no cotidiano pelos falantes: 
“Eu buscarei um livro amanhã”. Para uma grande maioria dos 
falantes do português brasileiro o futuro simples não ocorre na língua 
falada. Em seu lugar ocorre o futuro composto: “Eu vou buscar o 
livro amanhã”. Note, contudo, que o futuro simples é utilizado na 
linguagem escrita e em algumas variantes do português brasileiro 
(e certamente do português europeu). Faz-se, portanto, pertinente 
registrar a norma que prescreve o uso do futuro simples. De posse 
desta informação, falantes podem fazer uso apropriado de futuro 
simples se lhes for necessário.
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
33
 
Como estamos defendendo um posicionamento de que não há formas certas 
ou erradas da língua falada, mas adequadas e inadequadas ao seu contexto de comunicação, 
levamos em consideração que todo falante de uma língua é capaz de desenvolver sua 
competência comunicativa. Todo falante nativo aprende a falar sua língua na convivência 
com outros falantes, e por isso mesmo, inserido em algum grupo social (ou melhor, 
comunidade de fala), aprende a falar de um determinado modo. No entanto, ao longo da 
vida, esse mesmo falante aprende a mudar certos aspectos da forma que fala a língua, de 
acordo com suas necessidades sociais. 
 A essa habilidade, Fishman (1972 apud ALCKIMIN, 2001) atribui a denominação de 
competência comunicativa e sociolinguística, adquirida de forma lenta e inconsciente por 
cada falante. Dessa forma, é possível afirmar que cada um de nós conhece suficientemente 
bem a língua que fala. Diante disso, é capaz de desempenhar, socialmente, habilidades 
contextuais e discursivas (estabelecendo sentido na conexão de orações e frases mesmo 
que, muitas vezes, não conheça a nomenclatura utilizada na gramática normativa). Os 
conhecimentos que temos sobre a língua nos permitem fazer uso da linguagem para dar 
uma ordem ou optar por uma expressão equivalente mais modalizada (no sentido de realizar 
um pedido), “como em “saiam daqui, já!” ou “por favor, dirijam-se à saída”; se é oportuno dizer 
“tô fora” ou “não vai ser possível”; ou, ainda, “a gente não sabia” ou “não sabíamos”, ou ainda 
“desconhecíamos”” (ALCKIMIN, 2001, p. 37-38).
IMPORTANT
E
A partir do posicionamento crítico à gramática normativa ou prescritiva, 
vamos procurar compreender a importância da gramática descritiva nos nossos 
estudos. Diferentemente da gramática normativa, que prescreve normas da 
língua, sem necessariamente explicá-las, a descritiva busca “descrever as 
observações linguísticas atestadas entre os falantes de uma determinada língua” 
(SILVA, 2001, p. 15). Nesse sentido, a gramática descritiva não julga como certo 
ou errado padrões linguísticos utilizados pelos falantes de dada língua, mas 
documenta-os como são manifestados no momento da descrição. Retomando o 
caso do futuro simples, em uma gramática descritiva, veríamos a documentação 
da “sua ausência no português falado de vários dialetos”, bem como, o registro 
de “suas características nas variantes em que ele ocorre. Tais gramáticas são 
formuladas com o apoio teórico da linguística” (SILVA, 2001, p. 16).
 Diante do que você estudou até agora, já deve ter percebido que, para 
a sociolinguística, não há língua melhor ou pior que outra, não existem formas 
da língua que sejam mais evoluídas que outras, tendo em vista que todas elas 
permitem a interação entre os falantes quando situadas em seus contextos de 
usos. Quando novas demandas sociais surgem, novas palavras ou formas 
comunicativas também surgem (o que visualizamos com bastante nitidez nos 
meios de comunicação digital), comprovando a mudança linguística como 
constitutiva das línguas. As línguas mudam continuamente, conforme você pode 
observar também nos estudos da filologia da língua portuguesa.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
34
Nesse momento dos seus estudos, é imprescindível que você reflita e 
problematize a orientação tradicional escolar de ensino da língua portuguesa como 
algo homogêneo ou fixo, cuja existência dependa única e exclusivamente da norma-
padrão (a qual passa a ser ensinada de forma fragmentada e descontextualizada). 
É a partir dessa orientação, pois, que decorre uma prática que costuma nos gerar 
insegurança no uso da linguagem ao “separar as ocorrências linguísticas em dois 
grupos: o certo, identificado sempre com as formas gramaticais escolares, e o 
errado, que, em geral, é aquilo que a gente fala e ouve o dia inteiro” (FARACO; 
TEZZA, 2001, p. 10, grifos no original). Por conseguinte, tendemos a pensar que 
não sabemos língua portuguesa, já que a língua do nosso dia a dia é julgada como 
errada na tradição escolar.
Frases como Sou bom em matemática, mas péssimo em português, ou Será 
que falei certo?, ou Não sei nada de gramática, Mas que língua mais difícil 
esse tal do português são muito frequentes em ambientes escolarizados. 
Daí porque, embora a palavra ocupe um espaço extraordinário na 
vida das pessoas, ela mantenha sempre o seu toque “estrangeiro”, 
como algo que nunca pode ser completamente dominado (FARACO; 
TEZZA, 2001, p. 10, grifos no original).
Com a sociolinguística, esperamos que você passe a compreender que 
a divisão da língua em certo e errado acaba eliminando o caráter investigativo 
para o estudo dela. O que é classificado como errado, pois, tende a perder o 
valor de estudo, distanciando o aluno de educação básica da compreensão do 
funcionamento da sua língua materna. 
Erros de português são simplesmente diferenças entre variedades 
da língua. Com frequência, essas diferenças se apresentam entre a 
variedade usada no domínio do lar, onde predomina uma cultura de 
oralidade, em relações permeadas pelo afeto e informalidade, [...] e 
culturas de letramento, como a que é cultivada na escola (BORTONI-
RICARDO, 2004, p. 37, grifo no original).
Para melhor compreender o que é erro, na sociolinguística, precisamos 
diferenciar a língua falada da língua escrita. Isto porque, na língua escrita, é 
possível exigir normas ortográficas, que podem ou não ser seguidas de forma 
correta por quem escreve. Quando a ortografia de uma palavra estiver diferente 
daquela exigida na regra, podemos identificar um erro ortográfico. Na fala, por 
sua vez, não temos como exigir regras ortográficas, logo, não podemos transcrever 
essa mesma noção de erro para o contexto da oralidade.
Nos nossos estudos, como você pode observar, não lidamos com erros, já 
que toda variedade linguística utilizada por uma comunidade de fala é reconhecida 
e, por tanto, legítima para comunicar. Isso não significa dizer, contudo, que o 
falante não se adéque a certos contextos de usos da língua (lembra-se da variação 
diastrática? Nela, há a mudança de estilo, por exemplo, que depende do contexto 
social no qual o falante se insere).
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
35
Tratamos, na sociolinguística, de usos adequados e inadequados da língua 
para determinados contextos comunicacionais. Todo falante precisa desenvolver 
a habilidade de adequar a linguagem para cada situação de uso, desempenhando, 
assim, sua competência linguística. A isto, não atribuímos a avaliação de erro e 
acerto, mas identificamos a adequação linguística.
De acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p. 74), é papel da escola “facilitar 
a ampliação da competência comunicativa dos alunos, permitindo-lhes se 
apropriarem dosrecursos comunicativos necessários para se desempenharem 
bem, e com segurança, nas mais distintas tarefas linguísticas”. A escola, pois, é o 
lugar reconhecido socialmente para o letramento, o que implica reconhecermos, 
também, que é um espaço privilegiado para o ensino sistemático de recursos 
comunicativos, necessários para o desempenho competentemente em certas 
práticas sociais (BORTONI-RICARDO, 2004).
DICAS
Para compreender melhor a relação entre a noção de erro e o ensino de 
gramática na educação básica, sugerimos que assista ao Programa “Salto para o Futuro” / 
Série: Um Mundo de Letras: Práticas de leitura e escrita, episódio “A gramática na escola”, 
apresentado pela TV Escola / Secretaria de Educação a Distância (SEED) / MEC, Produzido 
pela REDE BRASIL (TVE), Rio de Janeiro, RJ. Nesse episódio, contamos com a rica 
participação do Prof. Dr. José Carlos de Azeredo (UFF), da Prof.ª. Drª. Edair Maria Görski 
(UFSC) e do Prof. Dr. Luiz Carlos Travaglia (UFU). Link para acesso: https://www.youtube.com/
watch?v=yQ8fFk4m900&t=323s.
FIGURA 4 - A GRAMÁTICA NA ESCOLA
FONTE: <https://youtu.be/yQ8fFk4m900>. Acesso em: 15 maio 2019.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
36
O ensino dos recursos comunicativos, como viemos discutindo ao longo da 
Unidade 1 do nosso material, precisa ser crítico, logo, deve extrapolar os conceitos 
prescritivos da gramática tradicional, tendo em vista que a norma-padrão não 
será adequada a todos os contextos comunicativos. Vamos a um exemplo? Você 
já pensou se um roteirista escrevesse as falas das personagens de um filme 
seguindo a norma-padrão? O resultado certamente lhe causaria estranhamento, 
pois os filmes mais aclamados são aqueles que fogem da artificialidade, isto é, 
são aqueles em que as atrizes e os atores captam a essência da personagem, e a 
linguagem é constitutiva desse processo. Como naturalmente falamos fazendo 
uso de diferentes variedades, esperamos que os filmes representem essa realidade. 
Nos filmes nacionais, também estranhamos quando nos deparamos com a fala 
carioca, por exemplo, sendo utilizada por uma personagem gaúcha. A seguir, 
vamos nos aprofundar um pouco mais a este debate a partir de alguns conceitos-
chave utilizados na sociolinguística variacionista.
4 VARIEDADE, VARIAÇÃO, VARIÁVEL, VARIANTE
Nesta etapa dos nossos estudos, já compreendemos que a variação 
linguística é constitutiva da língua. Não existem línguas que não tenham variação. 
Nesse sentido, podemos definir a língua, na perspectiva sociolinguística, como 
um conjunto de variedades.
A partir deste momento, acostume-se a utilizar os termos específicos para 
o estudo dos diferentes modos de falar uma mesma língua: variação, variedade, 
variável e variante. Vamos conhecer melhor cada um deles?
Como vimos no início da nossa leitura, compartilhamos princípios sociais 
e linguísticos quando fazemos uso de uma língua, sem que necessariamente 
tenhamos que estudá-los formalmente. Por exemplo, um morador do interior de 
São Paulo não estuda o som do R pós-vocálico para pronunciar “porta” com uma 
líquida retroflexa não lateral.
Quando estudamos os sons da fala de uma língua, precisamos utilizar a 
representação fonética desses sons, o que ocorre convencionalmente por meio do alfabeto 
fonético internacional, identificado pela sigla IPA (International Phonetic Alphabet). A líquida 
retroflexa não lateral é um som fonético representado pelo símbolo [ɹ] e popularmente 
chamada de R caipira. A palavra “porta”, assim, teria o seu R representado na fala de uma 
camada significativa da população do interior de São Paulo como po[ɹ]ta. No Rio de Janeiro 
metropolitano, como a pronúncia costuma ser diferente, poderíamos representar da seguinte 
forma: po[ɣ]ta. Temos aqui, portanto, o exemplo de dois sons ([ɹ] e [ɣ]) para representar o R 
pós-vocálico, mas poderíamos encontrar ainda outros.
NOTA
TÓPICO 2 | RELAÇÕES ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
37
A pronúncia de “po[ɹ]ta” na comunidade de fala interiorana é 
compartilhada entre os falantes sem que haja uma exigência explícita para que isto 
ocorra. Nesse sentido, dizemos que o falante realiza a seleção de dada variante 
para falar. É justamente por isso, como vimos desde o primeiro tópico, que a 
análise sociolinguística precisa levar em conta tanto os fatores linguísticos como 
os extralinguísticos para compreendermos dado fenômeno da linguagem. Dentre 
os fatores extralinguísticos, foram destacados a região geográfica, classe social, 
escolaridade, faixa etária, gênero, estilo. A variante é assim empregada com a 
finalidade de “[...] caracterizar as propriedades linguísticas compartilhadas por 
um grupo específico de falantes. Temos, assim, variantes etárias, variantes de 
sexo, variantes geográficas etc.” (SILVA, 2001, p. 14).
Para que sejam consideradas variantes, as formas linguísticas precisam 
ser intercambiáveis em um mesmo contexto e precisam manter o mesmo 
significado. No exemplo da porta (po[ɹ]ta ou po[ɣ]ta), a palavra porta sempre 
será porta, independentemente de qual variante o falante usar. A variante, assim, 
equivaleria a uma forma linguística selecionada pela comunidade de fala. 
Você já consegue entender por que temos os termos variante, variedade e 
variação? A variação linguística, como vimos, produz um conjunto de realizações 
possíveis de uma língua, admitindo-a como heterogênea. Consoante Bagno 
(2007, p. 39), “[...] debaixo do guarda-chuva LÍNGUA, no singular, se abrigam 
diversos conjuntos de realizações possíveis dos recursos expressivos que estão à 
disposição dos falantes”. Nesse sentido, é dentro da variação que encontramos a 
variedade linguística, ou seja, encontramos “um conjunto dos muitos “modos de 
falar” uma língua [isto é, seus dialetos]” (BAGNO, 2007, p. 47).
Ainda segundo Bagno (2007) é possível estudarmos quantas variedades 
linguísticas quisermos. Isto dependerá dos fatores sociais que incluiremos no nosso 
estudo. O modo de falar de cada grupo social em estudo (como mulheres agricultoras 
da Paraíba acima de 60 anos; jovens entre 18 e 25 anos, com baixa escolaridade, do 
interior de São Paulo etc.) constitui uma variedade linguística (BAGNO, 2007), um 
“dialeto”. Cada variedade linguística apresentará uma característica (a variante) 
que permitirá diferenciá-la de outra variedade (de outro “dialeto”):
[...] nem todas as variedades linguísticas do português brasileiro 
apresentam o “s chiado” [que constitui em uma variante] em final de 
sílaba (FE[ʃ]TA) ou final de palavra (FE[ʃ]TA[ʃ]); algumas variedades 
usam TU como pronome de 2ª pessoa, enquanto outras usam 
VOCÊ); a maioria das variedades que apresentam o TU eliminaram a 
terminação –S na conjugação verbal (TU FALA, TU COME), enquanto 
outras (poucas) conservam o –S (TU FALAS, TU COMES), e por aí 
vai... (BAGNO, 2007, p. 47).
Perceba que, diante do que lhe foi apresentado, podemos entender 
que dentro da variação (heterogeneidade da língua), existem variedades 
(caracterizadas pelos modos de falar dos grupos sociais dos falantes), e dentro 
das variedades, existem as variantes (elemento singular, como o uso do TU ou 
VOCÊ, que permitirá caracterizar a variedade do grupo). No próximo tópico, 
você ainda visualizará alguns exemplos de variantes do português brasileiro.
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
38
O termo variável, dentro desse contexto de estudos, é aplicado para 
assumir a possibilidade de variação de dado uso linguístico, permitindo ao 
falante a escolha de uma variante dentre a possibilidade de outras para se chegar 
a uma variedade linguística. Conforme Mollica (2003, p. 11), um exemplo de 
variável linguística ou de fenômeno variável é “a concordância entre o verbo e o 
sujeito [...], pois se realiza através de duas variantes, duas alternativas possíveis 
e semanticamente equivalentes: a marca de concordância no verbo ou a ausência 
da marca de concordância”. Este seria o caso também apresentado porBagno 
(2007) na citação anteriormente realizada, em que há uma variável linguística que 
permite duas variantes para a conjugação verbal acompanhada do pronome TU: 
o apagamento da terminação–S na conjugação verbal (TU FALA, TU COME) ou 
a manutenção do –S (TU FALAS, TU COMES).
As variantes são as formas que concorrem em uma variável, interna ou 
externa na língua. Nas variáveis internas, “encontram-se os fatores de natureza 
fonomorfossintáticos, os semânticos, os discursivos e os lexicais” (MOLLICA, 
2003, p. 11), enquanto que nas externas, “reúnem-se os fatores inerentes ao 
indivíduo (como etnia e sexo), os propriamente sociais (como escolarização, nível 
de renda, profissão e classe social) e os contextuais (como grau de formalidade e 
tensão discursiva)” (MOLLICA, 2003, p. 11). 
Vale considerarmos, ainda, de acordo com Mollica (2003, p. 11), que há 
variantes que “podem permanecer estáveis nos sistemas (as mesmas formas 
continuam se alternando) durante um período curto de tempo ou até por 
séculos, ou podem sofrer mudança, quando uma das formas desaparece”. No 
caso da mudança linguística, o fator variável parece desaparecer aos poucos, 
permanecendo um único modo de falar algo, momento em que se configura um 
fenômeno de mudança em progresso. Podemos, assim, investigar a mudança 
linguística, a estabilidade de certas variantes, a variedade de um grupo social, 
quais são os fenômenos variáveis, assim como prever um comportamento 
linguístico regular e sistemático (MOLLICA, 2003). 
No próximo tópico, veremos de forma mais aprofundada as variáveis 
que configuram as variantes do português brasileiro, de modo a reconhecermos 
a heterogeneidade da língua e a importância de nos distanciarmos de uma visão 
homogênea ao tratarmos da norma-padrão em sala de aula. Mas antes disso, vamos 
colocar em prática os conceitos aprendidos neste tópico com algumas atividades?
39
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A sociolinguística, enquanto subárea da linguística, estuda a língua usada por 
comunidades de fala.
• A comunidade de fala consiste de um grupo de falantes que compartilha 
normas em relação ao uso da língua. Como exemplo, podemos retomar as 
mulheres analfabetas e agricultoras da Paraíba acima de 60 anos de idade como 
uma comunidade de fala.
• Para estudar uma língua, precisamos considerar seus elementos linguísticos e 
extralinguísticos, que consistem nos aspectos históricos, sociais, situacionais. 
Nesse sentido, a língua é sempre tratada, na sociolinguística, de forma 
heterogênea, o que implica a existência de variação linguística. Cada 
comunidade de fala apresenta uma variedade própria de seu grupo social.
• A variação linguística consiste na heterogeneidade da língua. As diferenças de 
uso da língua provêm de diferentes variações, que podem ser: diastráticas (ou 
sociais), diatópicas (ou geográficas), diacrônicas (ou temporais), diafásicas (ou 
contextuais) e diamésicas (ou de modalidade escrita/falada). 
• Na variação diastrática, destacamos a organização sociocultural da comunidade 
de fala em: a) classe social; b) idade; c) gênero; d) situação ou contexto social. 
• A norma-padrão é problematizada pela sociolinguística no sentido político e 
ideológico, tendo em vista a legitimação de uma variedade e a exclusão de 
outras, de modo autoritário. No entanto, isto não significa que a norma-padrão 
deva ser ignorada, pelo contrário, deve ser aliada à pesquisa científica a fim de 
democratizá-la. Por isso, seu tratamento em sala de aula precisa ser crítico.
• Todo falante nativo aprende a falar sua língua na convivência com outros 
falantes, e por isso mesmo, inserido em uma comunidade de fala, aprende a 
variedade linguística dessa comunidade, embora também aprenda a transitar 
entre diferentes modos de falar, conforme sua necessidade social. O falante 
desempenha certas habilidades contextuais socialmente, bem como discursivas, 
de acordo com sua competência comunicativa e sociolinguística. 
• A gramática normativa tradicional é aquela que prescreve normas da língua, 
sem necessariamente explicá-las. A gramática descritiva não julga como certo 
ou errado os padrões linguísticos utilizados pelos falantes de dada língua, mas 
documenta-os como são manifestados no momento da descrição. 
40
• A divisão da língua em certo e errado NÃO é utilizada pela sociolinguística 
devido à necessidade de investigação de qualquer variedade linguística como 
constitutiva da língua. Tratamos, na sociolinguística, de usos adequados e 
inadequados da língua para certos contextos comunicacionais. Todo falante 
precisa desenvolver a habilidade de adequar a linguagem para cada situação de 
uso, desenvolvendo, assim, sua competência comunicativa e sociolinguística. 
• Na variação linguística (processo pelo qual diferentes formas podem ocorrer 
no mesmo contexto linguístico com o mesmo valor referencial, ou com o mesmo 
valor de verdade), existem variedades (caracterizadas pelos modos de falar 
dos grupos sociais dos falantes, como um dialeto). Nas variedades, existem as 
variantes (forma individual que disputa pela expressão variável, como a variante 
TU ou VOCÊ, que permitirá caracterizar a variedade do grupo). O termo variável 
consiste no item gramatical no qual localizamos a variação linguística (nas 
variantes TU ou VOCÊ, identificamos a variedade do grupo, mas a possibilidade 
de escolher entre um pronome ou outro indica um fenômeno variável).
41
1 Assinale a alternativa que melhor defina comunidade de fala para os estudos 
sociolinguísticos:
a) ( ) Grupo de pessoas cuja fala seja homogênea entre si, a fim de caracterizar 
a variedade linguística em comum.
b) ( ) Grupo de pessoas que vive em uma comunidade e fala a mesma língua, 
sem variação.
c) ( ) Grupo de pessoas que fala a língua fazendo uso de normas em comum. 
d) ( ) Grupo de pessoas que apresenta a variante padrão da língua 
compartilhada entre si.
2 Veja a tabela a seguir e procure identificar as comunidades linguísticas 
estudadas. Em seguida, conceitue comunidade de fala com suas palavras:
AUTOATIVIDADE
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Localidades
Contextos linguísticos
[ey] + flap
(dinheiro)
[ey] e [ay] + fricativa palato-
alveolar (beijo, caixa)
Percentual PR Percentual PR
Florianópolis/SC 96% 0,32 48% 0,62
Porto Alegre/RS 99% 0,35 98% 0,46
Curitiba/PR 97% 0,79 94% 0,22
Região Sul 98% 66%
FONTE: Görski e Coelho, (2012, p. 135)
3 (ENADE, 2017) 
FIGURA - VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
FONTE: ENADE (2017)
Eu mandei ver!
A Verinha é uma gata!
Demorô!
Tô bolado...
Pô, Vô! 
Tu não saca nada!
De que raça?
E foram?
É que a condução atrasou
O quê? Levou uma bolada?
É, hoje em dia não saco nada 
mesmo. Mas, quando eu era 
jovem, sacava muito bem no 
vôlei. E no tênis também!
42
O texto exemplifica a variedade linguística:
a) ( ) Diatópica (geográfica).
b) ( ) Diacrônica (de tempo).
c) ( ) Diafásica (forma/informal).
d) ( ) Diamésica (modalidade oral/escrita).
e) ( ) Diastrática (camada social/profissional).
4 No quadro a seguir, você verá a comparação de fenômenos comuns à 
modalidade escrita da língua e à modalidade oral.
ORALIDADE E ESCRITA
Oralidade Escrita
O momento de produção e o de recepção do 
texto são simultâneos.
Há defasagem entre o momento de produção 
e o de recepção.
É possível negociar o sentido com o interlocutor 
e, também, corrigir-se.
O autor deve antecipar possíveis dúvidas 
do leitor e tratar de esclarecê-las ainda no 
momento de produção.
O texto é coconstruído: para comunicar-se 
melhor, os interlocutores interagem o tempo 
todo, usando tanto a linguagem verbal quanto 
a não verbal.
O autor produz o texto solidariamente 
e, depois, o leitor deve reconstruir seus 
significados também sozinho.
É impossível “voltar atrás” no que foi dito. É possível revisar o texto quantas vezes for necessário.
O processo de produção é transparente: o 
interlocutor “vê” seus erros e correções.
O processo de produção fica oculto: o leitor 
tem acesso apenas ao textofinal.
É impossível consultar outras fontes durante 
a produção.
É possível consultar outras fontes e checar as 
informações.
O planejamento é local: enquanto está falando 
uma frase, a pessoa pensa na próxima.
O planejamento é global: a pessoa planeja 
o texto como um todo e, caso se desvie do 
plano inicial, pode aceitar a nova ordem ou 
voltar atrás.
Tende a haver maior tolerância a erros e, 
portanto, mais informalidade.
Tende a haver maior cobrança e, portanto, 
mais formalidade.
A obediência à norma padrão costuma ser 
menos rígida. Por exemplo: as marcas do 
plural às vezes desaparecem.
A norma padrão costuma ser seguida com mais 
rigor, até porque é possível revisar o texto.
Predomínio de frases curtas e simples: “Bom dia, 
pessoal! Hoje a gente vai dar uma recordada na 
equação de segundo grau. Vamos abrir o livro 
na página 10 que eu já explico”.
Predomínio de frases longas e complexas: 
“Para a primeira aula, está prevista uma 
revisão dos fundamentos de cálculo, a começar 
pela equação de segundo grau. Os alunos 
resolverão uma série de problemas em sala, 
sob a supervisão do professor”.
Predomínio da voz ativa e da ordem direta: 
“Vamos revisar os fundamentos de cálculo”.
Uso frequente da voz passiva e da ordem indireta: 
“Serão revisados os fundamentos de cálculo”.
Abundância de “ f rases quebradas” 
(anacolutos): “Essas optativas, precisa fazer 
o pré-requisito primeiro”.
Maior linearidade na composição das frases: 
“Para inscrever-se nas disciplinas optativas, é 
preciso ter cumprido os pré-requisitos”.
FONTE: Adaptado por Juarez Firmino da obra de GUIMARÃES, Thelma de 
Carvalho. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson, 2012. Disponível em: <https://
juarezfrmno2008sp.blogspot.com/2012/07/variacao-diamesica.html>. Acesso em: 2 maio 2019.
43
Esse quadro exemplifica a variedade linguística:
a) ( ) Diatópica (geográfica).
b) ( ) Diacrônica (de tempo).
c) ( ) Diafásica (forma/informal).
d) ( ) Diamésica (modalidade oral/escrita).
e) ( ) Diastrática (camada social/profissional).
5 A variação diastrática é a que observa os modos de falar de diferentes 
grupos sociais, normalmente identificados por: a) classe social; b) idade; c) 
gênero; d) situação ou contexto social. Na situação de sala de aula, em que 
você estiver exercendo seu papel social de professora ou professor, na sua 
fala, haverá variação linguística? Explique e argumente com a discussão 
realizada ao longo deste tópico.
6 A divisão da língua em certo e errado NÃO é utilizada pela sociolinguística, 
mas sim os usos adequados e inadequados da língua para determinados 
contextos comunicacionais. Tendo isto em vista, assinale V para a(s) 
sentença(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s):
( ) Para desenvolver a habilidade de adequar a linguagem para cada situação 
de uso, o falante possui a competência de aprender a falar conforme os 
postulados da gramática normativa.
( ) A competência comunicativa e sociolinguística permite que o falante 
aprenda que todo texto escrito será produzido conforme a norma-padrão, 
embora na fala possa admitir erros.
( ) Aprender a transitar entre diferentes modos de falar, conforme sua 
necessidade social, corresponde ao seu desempenho adequado, que parte 
da competência comunicativa e sociolinguística. 
7 Leia o fragmento do texto a seguir:
 Se por gramática entendermos o estudo sem preconceitos do funcionamento 
da língua, do modo como todo ser humano é capaz de produzir linguagem 
e interagir socialmente através dela, por meio de textos falados e escritos, 
portadores de um discurso, então, definitivamente é para ensinar gramática, 
sim. Na verdade, mais do que ensinar, é nossa tarefa construir o conhecimento 
gramatical dos nossos alunos, fazer com que eles descubram o quanto já 
sabem da gramática da língua e como é importante se conscientizar desse 
saber para a produção de textos falados e escritos coesos, coerente, criativos, 
relevantes etc. (BAGNO, 2007, p. 70).
Agora, analise a relação entre as seguintes proposições e assinale a alternativa 
CORRETA:
44
I- Com fundamento na sociolinguística, defendemos que a gramática normativa 
se constitui como objeto de ensino da disciplina língua portuguesa
PORQUE
II- Ela explica os padrões linguísticos utilizados pelos falantes.
a) ( ) As duas proposições são verdadeiras, e a segunda é justificativa da 
primeira.
b) ( ) As duas proposições são falsas.
c) ( ) A primeira proposição é falsa e a segunda é verdadeira.
d) ( ) As duas proposições são verdadeiras, mas a segunda não é justificativa 
da primeira.
8 Como você está começando a ter contato com uma linguagem científica bastante 
específica da área da sociolinguística, sugerimos que inicie a produção de um 
glossário. Toda vez que se deparar com uma nova palavra, escreva-a em seu 
glossário para futuras consultas ao longo dos seus estudos. Que tal iniciar este 
glossário com as seguintes palavras: variação, variedade, variável, variante? 
Para isto, construa um quadro que contenha uma coluna para a explicação de 
cada um desses termos e uma para seus respectivos exemplos. 
45
TÓPICO 3
ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO 
PORTUGUÊS BRASILEIRO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A partir dos fundamentos da sociolinguística, estivemos trabalhando 
com a identificação da diferença linguística na língua portuguesa. Na presente 
disciplina, você começa a observar a variedade linguística inserida na comunidade 
de fala, sem julgá-la em comparação com a norma-padrão.
Com este tópico, em específico, esperamos que você dê continuidade 
aos seus estudos sociolinguísticos a fim de desenvolver fundamentos para uma 
pedagogia culturalmente sensível no contexto de educação básica, atribuindo 
cada vez mais um caráter científico à língua ao invés de mero juízo de valor. 
Tendo isto em vista, passaremos a discutir as variedades prestigiadas e 
estigmatizadas na língua portuguesa, o tratamento dado aos conceitos de norma-
padrão e norma culta e os diferentes níveis da variação. Vamos começar?
2 POR QUE TRATAR DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA PARA O 
CONTEXTO DE TRABALHO NA EDUCAÇÃO BÁSICA?
Bortoni-Ricardo (2004) sugere, enquanto professoras e professores 
de língua portuguesa na educação básica, que adotemos uma pedagogia 
culturalmente sensível aos saberes dos educandos. Nesse sentido precisamos nos 
atentar “às diferenças entre a cultura que eles [os alunos] representam e a da 
escola”, a fim de “encontrar[mos] formas efetivas de conscientizar os educandos 
sobre essas diferenças” (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 38).
Identificar a diferença linguística no momento da realização é o primeiro 
passo para conscientizar o estudante sobre essa diferença. É justamente 
por conta da identificação da diferença que o estudo da variação linguística 
constitui importância ao longo de sua formação em Letras, tendo em vista que 
a falta do reconhecimento implica a falta da conscientização em sala de aula. A 
dificuldade maior, muitas vezes, está em identificarmos a variedade na qual nós 
mesmos nos inscrevemos. 
Após a identificação da diferença, o que fazemos? Devemos corrigir nossos 
alunos? Tendo em vista que a palavra “corrigir” se inscreve na noção de certo e 
errado, não devemos corrigir. No entanto, como colocamos acima, precisamos 
conscientizar os estudantes sobre as diferenças linguísticas sempre que for 
46
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
oportuno, bem como ensinar-lhes recursos para se adequarem linguisticamente 
aos diferentes contextos comunicativos. Nesse sentido, procuramos dar recursos 
para que comecem a monitorar seu próprio estilo, “sem prejuízo do processo de 
ensino/aprendizagem, isto é, sem causar interrupções inoportunas. Às vezes, será 
preferível adiar uma intervenção para que uma ideia não se fragmente, ou um 
raciocínio não se interrompa” (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 42).
A partir desse contexto, esperamos que você aja criticamente em sala de 
aula com relação ao ensino de língua portuguesa,considerando que a norma-
padrão é apenas mais uma das diferentes variedades linguísticas que temos à 
disposição. Assim como nos estudos da sociolinguística, esperamos que você 
possa observar a variedade linguística inserida na comunidade de fala, sem julgá-
la em comparação com a norma-padrão. 
Algumas variedades, como você verá melhor na Unidade 3 com a discussão 
sobre o preconceito linguístico, recebem maior prestígio que outras, por razões 
sociopolíticas. Como exemplo, podemos identificar o estigma social que a fala de uma 
comunidade de baixa escolaridade, de área rural, sofre em comparação ao prestígio 
atribuído a uma variedade mais urbana, falada por uma comunidade mais escolarizada. 
Em ambas, muitas vezes, podemos encontrar distanciamentos da norma-padrão, como 
a omissão do R em verbos de infinitivo – Preciso FALÁ com você – e a troca de R por L 
em encontros consonantais – pRaca ao invés de pLaca. Contudo, nesses dois exemplos 
citados, apenas a variedade de menor escolaridade, na qual identifica-se a troca do R 
por L em encontros consonantais, sofre estigma social. 
Essa valoração linguística é reflexo da hierarquia social existente entre 
esses grupos de falantes, a qual acaba implicando na falsa ideia de que há 
variedades superiores e outras inferiores. Vamos tratar, no nosso material de 
sociolinguística, das variedades prestigiadas, aquelas faladas por grupos mais 
urbanos, de classe social mais elevada, com maior escolaridade, e das variedades 
estigmatizadas, que são aquelas faladas por grupos de menor prestígio social. 
A norma-padrão é a variedade linguística socialmente mais valorizada, de 
reconhecido prestígio social, cujo uso é, normalmente, requerido em situações de 
formalidade na escrita. Nos materiais didáticos, contudo, parece haver uma certa 
confusão entre o que é a norma-padrão e o que é a norma culta, ou língua culta. 
De acordo com Bagno (2007), podemos identificar como norma culta ou língua 
culta as variedades prestigiadas do grupo. Estamos chamando-as aqui sempre de 
variedades prestigiadas, nunca de norma culta, a fim de evitarmos a falsa ideia de 
que quem não as utiliza não tem cultura. 
A norma-padrão, portanto, não é sinônimo de norma culta, tendo em vista 
que não é a forma falada pelos grupos sociais de maior prestígio, mas um conjunto 
de normas prescritas pela gramática normativa. Como afirma o autor, “[...] o 
português brasileiro são três: uma norma-padrão, que não é língua de ninguém; um 
conjunto de variedades estigmatizadas e um conjunto de variedades prestigiadas, 
cada uma delas caracterizando grupos sociais específicos” (BAGNO, 2007, p. 131).
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
47
O uso indevido da terminologia, para Bagno (2007), é um dos maiores 
problemas da abordagem da variação linguística em materiais didáticos. Por isso, 
é importante que você se aproprie desse conhecimento sociolinguístico e consiga 
lidar com o livro didático de forma crítica, trabalhando aspectos bem elaborados 
dele e problematizando, com seus alunos, algumas lacunas com relação ao 
tratamento dado à língua. 
A sociolinguística nos dá subsídios para compreendermos a relação entre 
as diferentes variedades da língua e o reconhecimento de apenas uma delas como 
norma-padrão. Esse reconhecimento, vale destacarmos, pode mudar ao longo da 
história. Na língua portuguesa, inclusive, podemos encontrar alguns usos que já 
foram padrão e hoje não são mais, como observado nos exemplos do século XVI:
- as formas “desreito”, “despois”, “frecha”, “frito”, “premeiramente”, 
hoje desabonadas, são encontradas no texto da carta de Pero Vaz de 
Caminha, de 1500;
- as formas “frauta”, “escuitar”, “intonce”, assim como as construções 
sintáticas do tipo “deseja de comprar” (com a presença da preposição 
de) [...] – hoje consideradas incorretas – são encontradas em Os 
Lusíadas, de Camões (1572). 
 Como se vê, representações de pronúncias e construções gramaticais 
atestadas em textos legitimados não são mais consideradas como 
“bom uso”. Como entender, então, que ocorrências equivalentes, 
tão vivas em variedades não padrões contemporâneas, como por 
exemplo “Framengo”, “ele deve de sair, agora” e “a gente fomos 
lá”, sejam consideradas como “erradas”, “fruto de ignorância”? A 
fala das classes altas mudou e a de outros grupos sociais reteve esses 
usos: esse foi o “erro” (ALCKMIN, 2001, p. 41).
O fundamento teórico desta disciplina, como vimos, permite-lhe 
reconhecer, em seu trabalho em sala de aula, que os princípios que regulam as 
propriedades da norma-padrão não são puramente linguísticos, mas também 
sociais. O que se marginaliza na língua, por conseguinte, se marginaliza, na 
verdade, no grupo social que a fala. Conforme Bagno (2007, p. 129), essa realidade 
precisa ser analisada e criticada “para que o trabalho na escola não reproduza 
os mesmos estereótipos e as mesmas discriminações que vigoram na sociedade 
em geral”. Continue sua leitura para aprofundar o debate com a realidade 
variacionista do português brasileiro.
3 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Ao longo desta unidade você leu sobre a constituição da disciplina 
sociolinguística nos estudos científicos sobre a linguagem. Também viu que, 
quando analisamos a língua cientificamente, é incoerente julgar uma variante 
como melhor ou pior que outra, embora reconheçamos que, socialmente, existam 
as variantes de prestígio ou as estigmatizadas. 
48
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Para entendermos melhor sobre as variantes do português brasileiro, é 
importante que saibamos que a variação ocorre em todos os níveis da língua. 
Em outras palavras, a variação pode ser fonético-fonológica; morfológica; 
sintática; semântica; lexical; estilístico-pragmática. É justamente por isso que a 
sociolinguística é um campo de estudo interdisciplinar. No diálogo com essas 
outras áreas da linguística, é capaz de observar os usos da língua por uma 
comunidade de fala. Vamos conhecer melhor cada um dos níveis citados?
a) Variação fonético-fonológica: ocorre quando a troca de um som pelo outro 
não gera mudança no significado da palavra. Bagno (2007) exemplifica com as 
várias pronúncias do R, que pode ser mais vibrante (como tipicamente no Rio 
Grande do Sul), pode ser realizado como o popular R caipira (que é aquele que 
se assemelha à pronúncia da língua inglesa estadunidense), pode, ainda, ser 
realizado bem na garganta, como na pronúncia carioca, e assim por diante.
Quando ocorre uma variação de ordem fonético-fonológica, um som é trocado 
por outro sem que haja mudança no significado da palavra. Por conta disso, tais sons são 
considerados alofones de um mesmo fonema.
NOTA
b) Variação morfológica: essencialmente se refere à alteração que ocorre em 
uma unidade mínima de significado da palavra, isto é, em um morfema da 
palavra. Por exemplo, em “pegajoso” e “peguento”, vemos uma variação no 
uso dos sufixos, que exercem função de expressar a mesma ideia (BAGNO, 
2007). Na variação morfológica, podemos observar como os morfemas (que 
são elementos que carregam significado dentro de uma palavra) variam para a 
inovação linguística. No exemplo de “pegajoso” e “peguento”, os sufixos que 
foram utilizados na formação dessas novas palavras (derivadas a partir do 
verbo pegar), apesar de diferentes, exercem a mesma função de substantivar a 
palavra pegar para dizer que algo gruda (como em grudento). 
 
A variação morfológica normalmente é uma variação de interface, sendo, 
em muitos casos, morfofonológica ou morfossintática. A partir de Coelho, Görski 
e Nunes de Souza (2015), podemos identificar alguns exemplos que ilustram bem 
esses níveis de variação:
I- Na variação morfofonológica, a variação atinge um morfema e um fonema. 
Exemplo: o apagamento do morfema verbal -r como marca de infinitivo em 
realizações como andá, vendê e parti é uma variação morfofonológica. Veja 
que o -r representa um fonema (um som da palavra)e também um morfema 
(uma unidade que marca infinitivo do verbo). Na realização “revolve” (em 
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
49
comparação com “revólver”), não temos esse mesmo tipo de variação, 
pois a queda do –r é um fato apenas fonológico, já que é parte do radical 
da palavra, e não um morfema que traz um significado à palavra. Outro 
exemplo de variação morfofonológica que podemos encontrar com facilidade 
no português brasileiro é com relação à redução do morfema verbal –ndo 
(utilizado para representar o gerúndio) para –no, como em “falando” versus 
“falano”, “comendo” versus “comeno”.
II- Na variação morfossintática, a variação atinge um morfema e a relação da 
estrutura sentencial. Exemplo: na formação das sentenças “tu anda” e “eles 
anda”, observamos a concordância com a segunda pessoa do singular e 
com a terceira pessoa do plural na relação entre pronome e verbo. Quando 
precisamos iniciar a análise da relação entre os termos de uma sentença, 
levamos em consideração as relações sintáticas. Por isso, a transformação que 
o verbo sofre nas duas sentenças exemplificadas não é apenas morfológica, 
ela é morfossintática.
III- Se analisarmos apenas a alternância entre os pronomes “tu” e “você” ou “nós” 
e “a gente”, estaremos realizando uma análise de variação morfológica (e não 
um caso de interface), pois não há necessidade de reconhecer a relação entre 
os termos de uma sentença ou entre os sons de uma palavra, apenas há a 
necessidade de observar a escolha de um pronome para o outro.
c) Variação sintática: refere-se à organização dos elementos dentro de uma 
sentença. O exemplo que Bagno (2007, p. 40) apresenta é o seguinte: "UMA 
HISTÓRIA QUE NINGUÉM PREVÊ O FINAL / UMA HISTÓRIA QUE 
NINGUÉM PREVÊ O FINAL DELA / UMA HISTÓRIA CUJO FINAL 
NINGUÉM PREVÊ”.
d) Variação semântica: refere-se à variação de significados empregados por cada 
comunidade de fala a uma palavra. A palavra “vexame”, por exemplo, pode 
significar “vergonha” ou “pressa”, a depender da região do falante (BAGNO, 2007).
e) Variação lexical: corresponde à variação de palavras que temos para dizer a 
mesma coisa. Por exemplo: “as palavras MIJO, XIXI, e URINA se referem todas 
à mesma coisa” (BAGNO, 2007, p. 40).
f) Variação estilístico-pragmática: refere-se à variação da situação comunicacional, 
que ora requer maior grau de formalidade, ora requer menor grau de 
formalidade. Por exemplo: “os enunciados QUEIRAM SE SENTAR, POR FAVOR 
e VAMO SENTANO AÍ, GALERA” podem ser proferidos pelo mesmo falante, 
dependendo de sua situação comunicativa (BAGNO, 2007, p. 40).
 
Nesses diferentes níveis da variação linguística que apresentamos, talvez 
o que lhe traga maiores novidades, agora, seja o de variação fonético-fonológica, 
tendo em vista que a representação alfabética não é capaz de retratar a realidade 
dos sons da língua pronunciados por seus falantes. Para isto, fazemos uso do 
IPA (Alfabeto Fonético Internacional). Veja, a seguir, a imagem de um quadro 
que representa os sons do português-brasileiro produzidos com algum tipo de 
obstrução no trato oral (chamados de consoantes).
50
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
É importante que você não confunda consoantes com letras dentro do contexto 
que estamos lhe apresentando. Na fonética e na fonologia, as consoantes são compreendidas 
como sons produzidos com alguma obstrução no trato oral (e não corresponderão de modo 
direto às letras do nosso alfabeto ortográfico). Vale destacarmos que, em outras línguas, são 
encontrados ainda outros símbolos que não estão representados no quadro a seguir.
IMPORTANT
E
QUADRO 2 – REPRESENTAÇÃO FONÉTICA DAS CONSOANTES DA LÍNGUA PORTUGUESA
Articulação
Bilabial Labiodental
Dental 
ou 
Alveolar
Alveopalatal Palatal Velar Glotal
Maneira Lugar
Oclusiva desvozeadavozeada
p
b
t
d
k
g
Africada desvozeadavozeada
tʃ
dʒ
X
ɣ
h
ɦ
Fricativa desvozeadavozeada
f
v
s
z
ʃ
ʒ
Nasal vozeada m n ɲ
Tepe vozeada ɾ
Vibrante vozeada r ̆
Refroflexa vozeada ɹ
Lateral vozeada l ʎ lj
FONTE: Adaptado de <http://www.dle.uem.br/fonetica/consoantes.html>. Acesso em: 9 jul. 2019.
DICAS
No site do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá http://
www.dle.uem.br/fonetica/consoantes.html, você encontrará os quadros das consoantes 
e das vogais da língua portuguesa com animações. Ao clicar em cada símbolo fonético, o 
site lhe direcionará para a explicação de como o som é produzido, a exemplos de palavras 
com a aplicação desse som, à possibilidade de ouvir o som, além de exercícios para colocar 
sua aprendizagem em prática. Também sugerimos que você assista ao vídeo “ALFABETO 
FONÉTICO INTERNACIONAL (IPA): Como interpretar? Para que serve?| Masterclass de 
fonética #1”, https://www.youtube.com/watch?v=FYAzWHT__tM, disponível no Canal English 
in Brazil by Carina Fradozo. Nesse vídeo, você poderá assistir a uma aula completa gravada por 
Carina Fragozo sobre o International Phonetic Alphabet (IPA). Seu foco, embora voltado à língua 
inglesa, é bastante pertinente nos nossos estudos sobre a variação linguística no nível fonético 
e fonológico para observarmos a importância da representação fonética da língua falada.
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
51
Minutagem: 
0:54 O que é o IPA? 
2:57 Para que servem os símbolos? 
7:30 Como interpretar o IPA? 
7:44 Consoantes pulmônicas 
13:57 Consoantes não pulmônicas 
14:30 Outros símbolos 
14:45 Diacríticos 
15:16 Suprasegmentos 
17:22 Tons 
17:47 Vogais 
São vários símbolos que podem lhe parecer confusos inicialmente, já que 
uma parte deles se diferencia do alfabeto ortográfico que convencionalmente 
conhecemos. Por isso, vamos lhe apresentar, no quadro a seguir, exemplos de 
usos desses símbolos para representar certos sons da nossa língua.
Símbolo 
Fonético
Exemplo em 
palavra Explicação do símbolo
[b] Baba Usado para representar o som do “b”.
[k] Cuca, quinta, quero Usado para representar o som de “c” e “qu” quando parecem ser pronunciadas como um “k”.
[d] Dado Usado para representar o som do “d”.
[dʒ] Dia Usado para representar uma variante que parece unir “d” e “j” no som de “d”.
[f] Fofo Usado para representar o som do “f”.
[g] Gato, grande Usado para representar o som de “g” quando precede as vogais “a, o, u” ou consoantes.
[ʒ] Já Usado para representar o som de “j”.
[l] Lá Usado para representar o som de “l” em início de sílaba.
[ʎ] Palha Usado para representar o som de “lh”.
[m] Mama Usado para representar “m” em início de sílaba.
[n] Nó Usado para representar “n” em início de sílaba.
[ɲ] Manhã Usado para representar “nh”.
[p] Pó Usado para representar “p”.
[ɾ] Puro, braço, prato
Usado para representar o “r” entre os dentes, normalmente 
pronunciado em palavras que possuem um único “r” entre vogais 
ou em encontro consonantal. 
[r ̆] Carro, rato
Usado para representar o “r” vibrante, como na pronúncia do 
político Michel Temer, ex-presidente do Brasil. Normalmente 
utilizado no encontro de dois “r” ou em “r” em início de palavra, 
mas também pronunciado em palavras como porta, carta. O “r” 
vibrante normalmente é encontrado no Sul do Brasil.
QUADRO 3 - CONSOANTES
52
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
[x] Carro, rato
Usado para representar o “r” velar, como na pronúncia 
característica da variedade carioca. Normalmente utilizado no 
encontro de dois “r” ou em “r” em início de palavra.
[ɣ] Perda Correspondente de [x] e ocorre no final de sílaba seguida de consoante, como em perda, tarde, carta, curva.
[ɹ] Porta
Popularmente conhecido como “r” caipira, o [ɹ] é produzido como 
se houvesse combinação de r e l na pronúncia, como na pronúncia 
do inglês estadunidense, “we are” (nós somos).
[h] Rio, terra Pronúncia característica, por exemplo, da variedade mineira de Belo Horizonte. Não ocorre fricção na região velar.
[s] Só, cedo, texto É o popular som de “s”, independentemente de sua grafia alfabética.[ʃ] Xixi, chimarrão É o popular som de “x”, independentemente de sua grafia alfabética.
[tʃ] Tchau, tia Usado para representar o som de “t” quando for pronunciado como se houvesse o encontro entre “t” e “x”.
[v] Vovô Usado para representar o som de “v”.
[z] Casa, doze Usado para representar o popular som de “z”, independentemente da sua grafia alfabética.
FONTE: Adaptado de Bagno (2011, p. 16-17).
No Quadro 2 e no Quadro 3, você teve um contato inicial com a 
representação fonética das consoantes da língua portuguesa. No Quadro 4, 
a seguir, você poderá observar a representação fonética das vogais orais do 
português brasileiro. 
QUADRO 4 - REPRESENTAÇÃO FONÉTICA DAS VOGAIS ORAIS DA LÍNGUA 
PORTUGUESA BRASILEIRA
FONTE: Massini-Cagliari e Cagliari (2001, p. 129)
Regiões Articulatórias
Anterior Central Posterior
Altura:
Fechada i u
meio-fechada e o
meio-aberta ɛ ɔ
Aberta a ɐ
Não arredondada Não arredondada arredondada
Labialização
Além das vogais orais, apresentadas acima, existem, também, as vogais 
nasais e as semivogais. Todas elas estão exemplificadas no Quadro 5 logo a seguir. 
É importante que você observe que há mais de cinco vogais quando levarmos 
em consideração sua produção fonética, diferente do que tradicionalmente 
estudamos com a representação ortográfica no período de alfabetização. 
TÓPICO 3 | ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
53
Para entender melhor cada um dos sons apresentados, veja o Quadro 5, 
que traz exemplos e explicações da realização das vogais, além das semivogais.
QUADRO 5 – VOGAIS E SEMIVOGAIS
Símbolo 
Fonético
Exemplo em 
palavra Explicação do símbolo
[a] Pá Usado apenas quando o “a” é tônico.
[ɐ] Madeira Usado apenas quando o “a” não possui tonicidade.
[e] Bebê Usado para representar apenas o “e” fechado.
[ɛ] Pé Usado para representar apenas o “e” aberto, com em “é”.
[i] Vi Usado para representar o som de “i” quando constitui núcleo da sílaba (não é semivogal).
[o] Vovô Usado para representar apenas o “o” fechado.
[ɔ] Vovó Usado para representar apenas o “o” aberto, como em “ó”.
[u] Urubu Usado para representar o som de “u”, quando núcleo da sílaba (não é semivogal).
[ã] Manhã Usado para representar o som do “a” nasalizado.
[ẽ] Vento Usado para representar o som do “e” nasalizado.
[ĩ] Fim Usado para representar o som do “i” nasalizado.
[õ] Som Usado para representar o som do “o” nasalizado.
[ũ] Mundo Usado para representar o som do “u” nasalizado.
[y] Raiva Usado para representar o som do “i”, quando for uma semivogal.
[w] Louco Usado para representar o som do “u”, quando for uma semivogal.
FONTE: Adaptado de Bagno (2011, p. 16)
Agora que você já conhece as representações fonéticas das consoantes 
e das vogais da língua portuguesa, vamos passar a observar como esses sons 
são discutidos e observados diretamente no campo da sociolinguística. Quando 
procuramos destacar um único som da palavra que varia, como é o caso do R, 
escrevemos a palavra de acordo com nossa ortografia, mas substituímos as letras 
vinculadas à variante pela representação fonética entre parênteses quadrados [ ]. 
Por exemplo, a palavra carro pode variar bastante. Então, é possível que façamos 
algumas representações: ca[x]o, ca[ɾ]o, ca[r̆]o, só para citar alguns exemplos.
Podemos também realizar a transcrição fonética completa da palavra. 
Para isto, além dos parênteses quadrados, precisamos fazer uso de aspas simples 
e reta ̍ , a qual precede a sílaba tônica da palavra, como em “fala” [ˈfalɐ]. Veja que, 
na palavra “fala”, a sílaba mais forte na pronúncia é o “fa”, por isso o símbolo 
de aspas simples e reta (ˈ) precisa ser colocado antes dessa sílaba durante a 
transcrição fonética. 
Neste livro não trabalharemos especificamente com o estudo da fonética, 
mas faremos uso de transcrições para representar as diferentes pronúncias do 
português brasileiro, isto é, algumas variantes no nível fonético. Recomendamos, 
54
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS E À SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
então, que tenha sempre consigo os quadros que trazem exemplos de cada som 
para lhe auxiliar na interpretação da variação e para que você consiga se apropriar 
de cada um deles.
Na próxima unidade, passaremos a analisar algumas regularidades 
linguísticas. Por isso, é importante que você estude os símbolos que foram aqui 
apresentados e procure, aos poucos, se apropriar deles. Elaboramos uma lista de 
autoatividades que poderão auxiliá-lo nessa tarefa. Fique conosco!
55
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A pedagogia culturalmente sensível corresponde ao trabalho com as 
diferenças culturais em contexto escolar, no qual cabe à professora ou professor 
de língua portuguesa identificar a variação linguística presente na sala de 
aula no momento da realização para, quando for oportuno, conscientizar o 
estudante sobre as diferenças linguísticas. Essa prática é importante para o 
desenvolvimento da competência comunicativa e sociolinguística do aluno.
• A valoração linguística que determina modos de falar como certos ou errado, 
bonitos ou feios, é resultado de uma hierarquia social existente entre os grupos 
de falantes. Neste livro, discutimos a existência das variedades prestigiadas, 
aquelas faladas por grupos mais urbanos, de classe social mais elevada, com 
maior escolaridade, e das variedades estigmatizadas, que são aquelas faladas 
por grupos de menor prestígio social. 
• A norma-padrão e a norma culta NÃO são sinônimos. A norma culta ou língua 
culta corresponde às variedades prestigiadas faladas por grupos sociais. A 
norma culta falada em Belo Horizonte certamente é diferente daquela falada 
em Pernambuco e assim por diante. A norma-padrão NÃO é a forma falada 
pelos grupos sociais de maior prestígio, mas é um conjunto de regras prescritas 
pela gramática normativa (e, por isso mesmo, não pertence à comunidade de 
fala alguma).
• A sociolinguística permite que reconheçamos que o que se marginaliza na 
língua, se marginaliza, na verdade, no grupo social que a fala. Logo, é correto 
afirmar que o que regula a norma-padrão não são princípios puramente 
linguísticos, mas também sociais. Isto quer dizer que, embora a norma-padrão 
não seja uma língua pertencente a uma comunidade de fala, ela existe por 
conta de questões sociais (essencialmente políticas) e não por exigência de uma 
estrutura interna da língua.
• A variação linguística ocorre em todos os níveis da língua: a variação pode 
ser fonético-fonológica; morfológica; sintática; semântica; lexical; estilístico-
pragmática. 
• Para observar a variação fonético-fonológica, a representação alfabética não 
é suficiente. Por isso, fazemos uso do IPA (Alfabeto Fonético Internacional), 
com o qual trabalhamos as representações fonéticas de vogais, semivogais e 
consoantes da língua portuguesa.
56
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
57
1 A sociolinguística apresenta contribuições significativas para o ensino de 
língua portuguesa em contexto de educação básica. Seus subsídios acerca 
da diversidade linguística nos fazem pensar a urgência de uma pedagogia 
culturalmente sensível com os saberes dos educandos. A partir dessas 
considerações, analise as assertivas a seguir e selecione a que esteja ancorada 
em uma prática pedagógica culturalmente sensível:
I- A compreensão da troca ortográfica de “mais” no lugar de “mas” na escrita 
do aluno a partir de seu modo de falar permite um trabalho de identificação 
da variação linguística, bem como a posterior conscientização da diferença 
entre forma escrita e falada, ao invés da mera correção ortográfica.
II- O trabalho de conscientização em sala de aula deve sempre levar o aluno 
a substituir sua variedade linguística, quando estiver errada, para passar a 
falar conforme a norma-padrão.
III- O reconhecimento da heterogeneidade que já existe na sala deaula é 
um aspecto importante do trabalho com ensino de língua portuguesa 
(da conscientização da língua padrão, dos usos em diferentes situações 
comunicativas, etc.).
Estão CORRETAS apenas a(s) sentença(s):
a) ( ) I e III.
b) ( ) III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) I e II.
2 Leia o trecho de Carmo Bernardes (1969) utilizado por Bortoni-Ricardo 
(2004, p. 13) para iniciar a conversa sobre língua portuguesa como língua 
materna: “Custei a danar a aprender a linguagem deles e aqueles trancas 
não quiseram aprender a minha” Essa fala caracteriza a tentativa de Carmo 
Bernardes a aprender a língua da comunidade escolar urbanizada, quando 
saiu de um contexto interiorano. Com base no fundamento teórico discutido 
ao longo desta Unidade e no próprio livro de Bortoni-Ricardo (2004), 
comente a afirmação de Carmo Bernardes buscando refletir a diversidade 
linguística que pode ser explorada em sala de aula e a prática pedagógica 
que pode auxiliar o professor em tal tarefa.
3 Considerando o contexto brasileiro, é possível afirmar que a língua 
portuguesa falada pelas camadas sociais mais populares é inferior à norma-
padrão ao trazer marcas linguísticas que se distanciam das prescrições 
gramaticais? Discuta.
4 Por que a escola deve levar os alunos a se apoderarem de regras linguísticas 
que gozam de prestígio, entre outras?
AUTOATIVIDADE
58
5 O professor deve intervir na forma em que os alunos utilizam a linguagem 
no domínio escolar? Responda considerando as diferenças entre a cultura 
da oralidade, predominante na variedade usada no domínio do lar, e a 
cultura de letramento, como a que é cultivada na escola.
6 Ao longo deste tópico você viu alguns conceitos importantes para tratarmos 
os diferentes modos de se utilizar a língua, seja na modalidade escrita ou oral. 
Assinale a alternativa que apresenta a melhor definição para norma culta:
a) ( ) Forma falada pelos grupos sociais de maior prestígio, também conhecida 
como variedades de prestígio.
b) ( ) Conjunto de normas prescritas pela gramática normativa e, por isso 
mesmo, não pertencente à comunidade de fala alguma.
c) ( ) É sinônimo de norma-padrão e amplamente utilizada nos manuais 
didáticos de língua portuguesa.
d) ( ) É oposição da norma inculta, falada pelas pessoas mais ignorantes do país.
e) ( ) Conjunto de normas ensinadas nos livros didáticos para a escrita correta 
das palavras.
7 A variação linguística ocorre em todos os níveis da língua: a variação pode 
ser fonético-fonológica; morfológica; sintática; semântica; lexical; estilístico-
pragmática. Diante disto, relacione as colunas, identificando em cada 
variação o nível em que ocorre:
(1) Variação fonético-fonológica.
(2) Variação morfológica.
(3) Variação sintática.
(4) Variação semântica.
(5) Variação lexical.
(6) Variação estilístico-pragmática.
( ) Camisola, em Portugal, é uma roupa que se usa em 
vez da camisa. Ex.: As camisolas dos jogadores de 
futebol. / No Brasil, camisola é uma peça de vestuário 
feminino usada para dormir.
( ) Informal: E aí, cê tá bem? / Formal: Como a senhora 
está?
( ) [dʒ]ia / [d]ia.
( ) Eu nem num sei / Sei não.
( ) Maluquês / Maluquice.
( ) Aipim / Mandioca. 
( ) Tô bem / Estou bem.
8 (ENADE, 2017) As variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer 
a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. A 
um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística.
FONTE: TARALLO, F. A Pesquisa Sociolinguística. São Paulo: Ática, 1986 (adaptado).
Assinale a opção que apresenta dois pares linguísticos legítimos de variação 
linguística.
a) ( ) m[u]rcego – m[o]rcego, [p]ata – [l]ata.
b) ( ) [b]ote – [p]ote, d[e]dal – d[ɛ]dal.
c) ( ) f[i]liz – f[ɛ]liz, p[u]mada – p[o]mada.
d) ( ) [d]oca – [t]oca, lei[t]e – lei[tʃ]e.
e) ( ) [t]ime - [tʃ]ime, [d]ata – [m]ata.
59
9 Ouça a leitura do texto “Só de sacanagem”, com a interpretação da cantora 
Ana Carolina, e preste muita atenção nas palavras destacadas:
Só de sacanagem
Elisa Lucinda - interpretado por Ana Carolina
[...]
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então 
agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba" e eu 
vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. 
Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que 
veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dá para mudar 
o final!
(Link para ouvir a leitura acesse: https://www.youtube.com/watch?v=cE1VuxpOshI)
a) Faça a transcrição fonética das sílabas destacadas nas palavras, de acordo 
com a variante da intérprete.
Palavra Transcrição fonética
Comigo
Rouba
Freguês
Desde
b) Sobre as variantes utilizadas por Ana Carolina, identifique a pronúncia de 
“o” não tônico, de “r” em início de palavra, de “s” em final de sílaba, e 
de “d” quando precede o som de “i” (como quando a cantora pronunciou 
“desde”). Compare esses sons com a forma que você os pronunciaria nessas 
palavras e descreva as semelhanças e/ou diferenças da variação em nível 
fonético e fonológico.
10 No vídeo a seguir você deverá assistir à entrevista de Cacau Menezes, 
colunista de jornais da cidade de Florianópolis, SC, com Ney Matogrosso, 
artista brasileiro natural do Mato Grosso do Sul, embora tenha vivido em 
São Paulo e Rio de Janeiro grande parte de sua vida.
60
FONTE: <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/jornal-do-almoco/videos/t/edicoes/v/cacau-
menezes-entrevista-ney-matogrosso/7368434/?mais_vistos=1> Acesso em: 27 ago. 2019.
a) A partir do vídeo, represente foneticamente os sons destacados nas palavras 
a seguir:
Fala de Cacau Menezes
Palavras Transcrição Fonética
Os teatros O[ ] teatro[ ]
Florianópolis Florianópoli[ ]
Rio de Janeiro [ ]io de Janeiro
Fala de Ney Mato Grosso
Palavras Transcrição Fonética
Rua [ ]ua
Roupagem [ ]oupagem
Horas Hora[ ]
b) Com base na transcrição fonética de alguns sons produzidos por Ney Mato 
Grosso e por Cacau Menezes, responda: As palavras indicadas para observação 
das variáveis linguísticas sinalizam para semelhanças ou diferenças entre a 
fala do entrevistador e do entrevistado? Explique sua resposta.
61
UNIDADE 2
ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS 
CONTATOS LINGUÍSTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• apresentar análises de variação e mudança linguística;
• discutir o fenômeno da mudança linguística como algo inerente à sociedade;
• identificar regularidades linguísticas em variedades do português brasileiro;
• conhecer os traços contínuos e descontínuos da variação; 
• discutir conceitos referentes a línguas em contato;
• apresentar noções acerca do bilinguismo e das práticas de translinguagem;
• introduzir o conceito de alternância de códigos, estratégias linguísticas, 
bem como a definição de translinguagem;
• refletir sobre as ideologias monolíngues e sobre as que diferem desta 
orientação linguística no que concerne ao bilinguismo e à educação bilíngue.
Esta unidade está organizada em três tópicos. Neles, você encontrará dicas, 
textos complementares, observações e atividades que lhe darão uma maior 
compreensão dos temas a serem abordados.
TÓPICO 1 – SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
TÓPICO 2 – ALTERNÂNCIAS DE CÓDIGO E ESTRATÉGIAS 
LINGUÍSTICAS
TÓPICO 3 – O MITO DO MONOLINGUISMO
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
62
63
TÓPICO 1
SOCIOLINGUÍSTICA 
VARIACIONISTA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos estudos da Unidade 1 do seu material de Sociolinguística,você provavelmente notou que esta disciplina está preocupada com a descrição 
das diferentes variedades que coexistem dentro de uma comunidade ou 
mais comunidades de fala. Nesse sentido, não podemos confundir a língua 
portuguesa com a gramática normativa dessa língua, uma vez que buscamos 
compreender as variedades do português brasileiro considerando o seu contexto 
social de uso. Para essa compreensão, dependemos do campo científico da 
sociolinguística variacionista, que apresenta modos próprios de pesquisa. Neste 
tópico, pretendemos introduzir, de forma sucinta, a metodologia de pesquisa 
da sociolinguística variacionista e apresentar possibilidades para o estudo de 
fenômenos linguísticos variáveis do português brasileiro.
Para esse estudo, você conhecerá os cinco problemas e princípios 
empíricos para uma teoria da variação e mudança linguística, que são: fatores 
condicionantes, encaixamento da variação, avaliação das mudanças, transição e 
implementação.
É a partir do estudo nessa perspectiva, considerando os problemas e 
princípios citados, que sociolinguistas brasileiros têm identificado atitudes de 
estigmatização a determinados traços linguísticos denominados de descontínuos, 
os quais representam as variantes linguísticas típicas de falantes provenientes de 
classes sociais economicamente desfavorecidas, com menor grau de escolaridade 
e associadas às zonas rurais do país. Em contrapartida, há variantes linguísticas 
encaixadas em classes sociais economicamente favorecidas, provenientes de 
zonas urbanas e com maior escolaridade, que não sofrem o mesmo estigma. 
Diante dessa realidade, os estudos da sociolinguística têm contribuído 
significativamente para o contexto de educação básica, uma vez que a descrição 
das variedades de comunidades de fala existentes no Brasil desmente o mito 
do monolinguismo nacional e de homogeneidade na língua portuguesa, 
desqualificando o ensino pautado exclusivamente na noção de certo e errado. 
Nesse sentido, é muito importante que você, enquanto futuro docente, conheça e 
compreenda a perspectiva da qual parte a sociolinguística para que as suas aulas 
possam ser planejadas, levando em conta as variedades com as quais você se 
deparará em sua sala de aula. Pronto para iniciar a Unidade 2?
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
64
2 PARA ENTENDER A VARIAÇÃO E A MUDANÇA LINGUÍSTICA
Na Unidade 1, você teve a oportunidade de conhecer o conceito de 
variação linguística, em quais níveis ela ocorre e de que maneira os contextos 
sociais influenciam para que ela ocorra. A partir dessa compreensão, podemos 
observar a importância do trabalho no campo da variação linguística para o 
debate sobre o progresso da mudança linguística que, conforme Labov (2008), 
ocorre em três estágios: na origem, na propagação e no término. Em outras 
palavras, por meio da pesquisa no campo da sociolinguística variacionista, é 
possível olhar para um contexto no qual inicia-se uma variação linguística, 
compreender como a nova variante passa a se propagar em novos contextos, 
entre falantes de diferentes idades, escolaridades, classes sociais, e de que forma 
essa variante assume a norma de uso. 
Para exemplificar, retomaremos um contexto de variação apresentado 
na Unidade 1 acerca do pronome de segunda pessoa do plural. Como já 
observamos, embora o pronome “vós” ainda se faça presente nos manuais de 
gramáticas normativas da língua portuguesa, os falantes do português brasileiro 
o substituíram pelo pronome “vocês” para indicar a segunda pessoa do plural. 
Se realizarmos uma análise sociolinguística em textos antigos, veremos que, no 
século XVI, o pronome “vós”, e não “vocês”, era utilizado para marcar a segunda 
pessoa do plural. Nos séculos seguintes, novas formas passaram a competir com 
“vós”, o que implicou na variação linguística. A partir dessa variação, observamos, 
portanto, uma mudança linguística completada da forma pronominal de “vós” 
para “vocês” na fala de praticamente todos os brasileiros. 
Vale destacarmos que “nem toda variabilidade e heterogeneidade na 
estrutura linguística implica mudança; mas toda mudança implica variabilidade e 
heterogeneidade” (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 126, grifos nossos). Isso quer 
dizer que sempre que nos depararmos com uma mudança linguística, como é o caso de 
“vós” e “vocês”, conforme vimos há pouco, também nos deparamos com a heterogeneidade 
da língua, com a sua possibilidade de variação. No entanto, mesmo quando estamos 
diante de uma variação linguística, não quer dizer que haja uma mudança linguística. Por 
exemplo: As formas “tu” e “você” convivem na nossa sociedade, especialmente no Sul do 
Brasil, marcando uma diferença de estilo e região. Podemos observar que entre as formas 
concorrentes “tu” e “você” há variação, mas não há uma mudança linguística, uma vez que 
ambas as formas continuam em uso.
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
65
Duas obras foram fundamentais para a consolidação dos estudos da 
teoria da variação na busca para compreender a língua em sua heterogeneidade, 
num processo constante de variação e mudança linguística: (1) a primeira obra, 
publicada por Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog (2006), é intitulada 
“Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística”; (2) e a 
segunda obra, que você conheceu um pouco melhor na Unidade 1, foi publicada 
por William Labov (2008) e recebeu o título de “Padrões sociolinguísticos”. 
FIGURA 1 – FUNDAMENTOS EMPÍRICOS PARA UMA TEORIA DA MUDANÇA LINGUÍSTICA
FONTE: <http://twixar.me/yfGT>. Acesso em: 24 ago. 2019.
Em nossa sociedade, nós interagimos por meio da língua. É através dela que 
a vida acontece. No entanto, isso só é possível porque essa língua é estruturada, possui 
uma lógica e todos aqueles que dominam essa língua conseguem se entender, mas, se 
existe uma estrutura, como é possível que a língua mude sem que o caos aconteça? 
Como continuamos a nos comunicar mesmo diante das variações e das mudanças que 
acontecem? Para responder a essas perguntas, a teoria da mudança busca por dados 
empíricos variáveis. Para descrever esses dados, contudo, é importante que se tenham 
ferramentas adequadas. Nesse sentido, a sociolinguística parte de alguns problemas (que 
podem, também, ser entendidos como questionamentos) empíricos, que orientam os 
estudos daqueles que buscam conhecer e compreender como é possível que “[...] tanto 
língua quanto comunidade permaneçam ordenadas, embora a língua mude” (COELHO et 
al., 2015, p. 76). Esses problemas, também chamados de princípios, foram propostos por 
Weirich, Labov e Herzog (2006) e guiam ainda hoje os estudos sociolinguísticos.
IMPORTANT
E
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
66
I- Fatores condicionantes – “busca-se compreender quais são as condições 
para a mudança em dada estrutura, que podem advir de fatores de ordem 
social e de ordem linguística” (SALOMÃO, 2011, p. 191, grifos nossos). Esse 
princípio possibilita descrever, por exemplo, de que forma aspectos sociais, 
como idade, gênero, sexo, escolaridade, entre outros, condicionam a variação 
e a mudança linguística. Além disso, também possibilita observar a influência 
dos condicionantes linguísticos que participam da própria estrutura da língua, 
como os morfológicos ou sintáticos, por exemplo, na mudança da língua.
II- Encaixamento da variação – busca-se descrever o fenômeno da variação 
linguística com base na observação dos fatores condicionantes linguísticos 
e sociais (não linguísticos). Podemos dizer que a análise variacionista, em 
sua essência, corresponde à observação de fatores sociais e seu reflexo nos 
fenômenos linguísticos que ocorrem na fala de uma comunidade (LABOV, 
2008). Em outras palavras, nesse princípio, o fenômeno da variação é descrito 
dentro de uma comunidade de fala a partir dos fatores condicionantes. 
III- Avaliação das mudanças – “busca-se estudar os possíveis efeitos da variação 
sobre a estrutura linguística,sobre a eficiência comunicativa e sobre um 
amplo conjunto de categorias não representacionais (inclusive interacionais, 
discursivas e pragmáticas) envolvidas na fala” (SALOMÃO, 2011, p. 191). 
Em outras palavras, a avaliação das mudanças nos permite refletir sobre os 
valores da própria variável linguística entre seus falantes, sobre o papel do 
falante no processo de mudança e sobre sua consciência acerca do processo 
de mudança (LABOV, 2008). A atitude do falante pode se manifestar em dois 
níveis, a saber: (i) avaliação linguística e (ii) avaliação social. Enquanto que 
a avaliação linguística se relaciona à eficiência na comunicação, a social diz 
respeito ao significado social das formas linguísticas (COELHO et al., 2015, 
p. 91-92). Em suma, podemos dizer que a avaliação corresponde à atitude 
social quanto à língua para a determinação de uma mudança linguística.
IV- Transição – “busca-se compreender os estágios intervenientes entre dois 
estados da língua: como um falante aprende uma forma alternante, tempo 
em que as duas formas coexistem, tempo em que uma das formas prevalece 
sobre a outra” (SALOMÃO, 2011, p. 191). O problema da transição consiste 
na observação e na descrição da mudança linguística, por meio de um olhar 
diacrônico, de um ponto inicial de origem do fenômeno até um ponto no qual 
a mudança se apresenta concluída, totalmente visível, ou seja, observa-se a 
progressão da mudança ao longo de diferentes gerações.
V- Implementação – “busca-se analisar os fatores responsáveis pela 
implementação da mudança e a razão pela qual as mudanças em um aspecto 
estrutural ocorrem em determinada língua em um dado momento, mas não 
em outra língua com o mesmo aspecto, ou na mesma língua, em outras 
épocas” (SALOMÃO, 2011, p. 191). Uma das hipóteses da implementação de 
Labov (2008) é a de que a mudança raramente acontece de baixo para cima, 
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
67
isto é, a mudança é legitimada e encaixada apenas se a avaliação de grupos 
sociais prestigiados, com maior escolaridade, maior poder socioeconômico, 
aceitar a forma inovadora e incorporá-la às suas variedades prestigiadas.
Você sabia que há muitos estudos sociolinguísticos que são realizados a 
partir de cartas pessoais escritas em diferentes séculos? O problema de implementação 
da mudança pode guiar esse tipo de estudo, uma vez que os dados revelam as formas 
inovadoras da língua usadas nas cartas pessoais e que foram incorporadas pelos falantes. 
As cartas pessoais normalmente são extraídas de uma plataforma on-line chamada de 
CORPORA do PHPB, disponível em: https://sites.google.com/site/corporaphpb/.
NOTA
Cada um desses cinco problemas representa os princípios para uma teoria 
da variação e mudança linguística, a fim de que o sociolinguista possa observar, em 
dados reais da fala de comunidades, como as variações ou as mudanças linguísticas 
podem estar encaixadas num contexto social, como são avaliadas e como a mudança 
pode ser ativada em contextos geográfica e temporalmente específicos. 
Esses cinco problemas, portanto, correspondem a uma investigação 
sobre a língua, que pode ser realizada com objetivos distintos, tais como: I. 
identificar os fatores condicionantes da variação linguística; II. observar o reflexo 
dos fatores condicionantes da variação linguística na fala de uma comunidade; 
III. compreender a atitude social de uma comunidade de fala diante de formas 
concorrentes da língua; IV. descrever uma mudança linguística em curso ou 
totalmente concluída; V. descrever a implementação da mudança, considerando 
o encaixamento e a avaliação da forma inovadora na comunidade de fala. Para 
saber mais sobre como se realizam as pesquisas na sociolinguística variacionista, 
continue a leitura deste tópico!
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
68
2.1 ANALISANDO REGULARIDADES LINGUÍSTICAS: 
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
Prezado acadêmico, a discussão aqui presente buscará lhe auxiliar na 
compreensão dos princípios metodológicos de uma análise de regularidade 
linguística, importante para o seu olhar crítico de dados de variação linguística ao 
receber materiais pedagógicos. Você poderá, assim, avaliar se os livros didáticos, 
por exemplo, trazem materialidade de variação linguística real ou representações 
fictícias (como nos quadrinhos de Maurício de Sousa), cujo objetivo não é estudar 
a heterogeneidade da língua, mas produzir conteúdo literário. Apresentamos 
a você uma abordagem inicial dos estudos sociolinguísticos para você ter uma 
base para empreender suas próprias investigações e para que possa levar o 
conhecimento variacionista da linguagem para a sala de aula.
A sociolinguística, como campo de investigação científico sobre a língua, 
pode ser compreendida a partir de duas perspectivas diferentes de estudo: a 
macrossociolinguística e a microssociolinguística (MONTEIRO, 2000). 
Na macrossociolinguística, a relação sociedade e língua é compreendida a 
partir de discussões voltadas ao multilinguismo e às políticas linguísticas, que serão mais 
aprofundadas nos próximos tópicos da Unidade 2 e na Unidade 3 do nosso livro. A segunda 
perspectiva de estudo, a microssociolinguística, se constitui como foco no presente tópico, 
pois nos permite analisar como os fatores sociais resultam nas variedades faladas por 
diferentes comunidades brasileiras.
IMPORTANT
E
A perspectiva da microssociolinguística é mais comumente denominada 
a partir da corrente de estudos laboviana: sociolinguística variacionista ou 
teoria da variação (embora essa perspectiva também englobe a sociolinguística 
interacional e a etnografia da fala). William Labov é considerado precursor no 
campo devido aos métodos que utilizou em sua dissertação de mestrado e em 
sua tese de doutorado para coletar dados de variedades da língua inglesa falada 
na ilha de Martha’s Vineyard, no estado de Massachusetts, e das variedades da 
língua inglesa falada em Nova York.
A relação língua e sociedade, como temos discutido ao longo deste livro, é 
foco na análise sociolinguística para compreensão de regularidades presentes na 
fala de uma comunidade linguística. A fim de sistematizar o processo de variação 
linguística, o pesquisador sociolinguista identifica fatores sociais que implicam 
o fenômeno variável.
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
69
Perceba que os conceitos acerca da variação linguística, como variedade, 
variante, variável, trabalhados na Unidade 1, continuam em uso para os nossos estudos. Por 
isso, não deixe de retomá-los sempre que necessário antes de prosseguir com as suas leituras.
NOTA
Conforme introduz Bagno (2007) na obra “Nada na língua é por acaso”, a 
variação linguística não acontece livremente em um sistema aleatório onde “tudo 
pode”. O emprego das variantes é regido por certas regras sociais e estruturais 
(LABOV, 2008), que permitem verificar o encaixamento linguístico e social da 
variação, além de uma possível mudança linguística em curso.
Essa verificação ocorre por meio de pesquisas na sociolinguística 
variacionista, as quais realizam análises quantitativas e qualitativas de um corpus. 
Você saberia dizer o que é um corpus de pesquisa? Na sociolinguística variacionista, 
o corpus de pesquisa se refere a um conjunto de dados de variação linguística obtido 
com base em determinadas características. Nesse sentido, podemos selecionar um 
conjunto de dados que nos permite analisar a variação fonético-fonológica de um 
estado brasileiro, ou a variação morfossintática entre grupos de escolaridades 
diferentes numa mesma cidade, só para citar alguns exemplos.
Na pesquisa variacionista, é possível comprovarmos que a variação é 
constitutiva da língua, o que implica admitir que diferentes formas linguísticas 
convivam na sociedade, nas comunidades de fala, e que inclusive há variação na fala 
de um mesmo indivíduo. Além disso, a sociolinguística variacionista tem comprovado 
que a mudança linguística não ocorre de uma hora para outra, mas é gradual.Os pressupostos teóricos presentes na teoria da variação “permitem ver 
regularidade e sistematicidade por trás do aparente caos da comunicação no dia a 
dia, procurando demonstrar como uma variante se implementa na língua ou desaparece” 
(SALOMÃO, 2011, p. 190, grifos nossos), como ocorre seu encaixamento na comunidade 
de fala, quais as atitudes dos falantes diante da maneira inovadora, de que forma se dá a 
transição e implementação de uma mudança.
IMPORTANT
E
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
70
Para analisar essa realidade, a sociolinguística variacionista trabalha 
com dados estatísticos, que são tratados qualitativa e quantitativamente, a 
partir da noção de peso relativo, que é a análise da regra variável baseada nos 
seus fatores contextuais. 
Existe um pacote de programas para a análise computacional dos dados. 
Os mais utilizados são o VARBRUL e o GOLDVARB, auxiliando a calcular a 
porcentagem dos fenômenos variáveis para que, em seguida, interpretemos o 
fenômeno da variação, relacionando os princípios estatísticos e as teorias sociais 
e linguísticas (SALOMÃO, 2011). “O resultado da análise das variantes pode 
produzir duas situações: a existência de estabilidade entre variantes, denominada 
variação; ou a competição entre as variantes com aumento de uso de uma delas, 
chamada mudança em curso” (SALOMÃO, 2011, p. 192, grifos nossos).
Como você já deve ter percebido ao longo da sua leitura, nos nossos 
estudos, procuramos trabalhar com o falante-ouvinte real, em situações reais 
de linguagem, e não com um falante-ouvinte ideal, para o qual se impõe certos 
modelos linguísticos. Nesse sentido, ao realizarmos uma pesquisa sociolinguística, 
lidamos com gravações de amostras de fala informais e espontâneas de um 
número expressivo de informantes, a fim de que seja possível analisar as formas 
variáveis dentro de uma comunidade de fala. Salomão (2011, p. 191, grifos nossos) 
explica o passo a passo da pesquisa na sociolinguística variacionista:
 
Primeiramente, o investigador tem de delimitar o fenômeno 
linguístico variável, levantando todas as possibilidades de produção 
que estão em variação. Posteriormente, ele deve lançar hipóteses sobre 
as variáveis condicionadoras (linguísticas e sociais) que podem estar 
influenciando a escolha de uma ou de outra forma variante, baseando-
se tanto nos dados coletados, na teoria linguística e na estrutura 
social da comunidade estudada. É importante que o investigador 
identifique os grupos de fatores, tanto estruturais como sociais, 
com os quais irá trabalhar antes de submeter os dados a uma análise 
computacional, por meio de um pacote de programas (alguns dos 
mais utilizados são o VARBRUL e o GOLDVARB) que faz os cálculos 
de frequência (SALOMÃO, 2011, p. 192, grifos nossos).
Para ilustrar esses procedimentos metodológicos da teoria da variação, 
convidamos você a conhecer a pesquisa de Macedo (2004), que realiza uma análise 
de variação no nível fonético-fonológico no falar "culto" de Recife, na qual identifica 
o encaixamento da palatização de /s/ em final de sílaba. A pesquisadora, para iniciar 
seu estudo na sociolinguística variacionista, passa por quatro etapas de delimitação:
1- Seleção do fenômeno linguístico variável: /s/ em final de sílaba.
2- Delimitação da comunidade de fala: grupo de falantes que acessam a norma 
prestigiada de Recife.
3- Reconhecimento de todas as possibilidades de produção que estão em 
variação: Macedo (2004) reconhece quatro variáveis para /s/ em final de sílaba 
na fala prestigiada de Recife: (1) as consoantes alveolares surdas [s] e [ʃ], como 
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
71
em pa[s]tel, mê[ʃ]; (2) as consoantes alveolares sonoras [z] e [ʒ], como em me[z]
mo ou pé[ʒ]descalços; (3) a consoante fricativa glotal, como em me[h]mo; (4) e 
ainda a possibilidade de não se pronunciar o /s/, o que se identifica como um 
zero fonético – me[Ø]mo.
4- Levantamento de hipóteses sobre as variáveis condicionadoras (linguísticas 
e sociais): Macedo (2004) considera as variáveis sociais de sexo (feminino e 
masculino) e de faixa etária (I – de 13 a 20 anos; II – de 21 a 45 anos; III – de 46 a 70 
anos). Como variáveis linguísticas, Macedo (2004) considera a posição da sílaba 
(intravocabular – quando o /s/ ocorre dentro de uma palavra, como em pasta; 
ou intervocabular – quando o /s/ se localiza no final de uma palavra e na fala 
se conecta com o início de outra, como em olhos azuis), a categoria gramatical 
(verbo, adjetivo, substantivo, outras), o contexto fonológico antecedente (quais 
vogais e consoantes antecedem o /s/), o contexto fonológico seguinte (quais 
vogais e consoantes sucedem o /s/), a tonicidade (a sílaba onde se encontra 
o /s/ é tônica ou atônica), e a sonoridade (o traço vozeado ou desvozeado da 
consoante seguinte).
Para delimitação do corpus de pesquisa, Macedo (2004) extraiu 5.369 
ocorrências de /s/ em final de sílaba de 12 inquéritos do tipo DID do Projeto NURC 
– Recife, aleatoriamente selecionados, totalizando aproximadamente 360 minutos 
de gravação. Das 5.369 ocorrências, por meio do pacote computacional VARBRUL, 
Macedo (2004) analisou pormenorizadamente 3.911, que correspondem às 
realizações alveolar e palatal do fonema em questão (o que corresponde ao 
reconhecimento de todas as possibilidades de produção que estão em variação).
O Projeto NURC surgiu da iniciativa de documentar e descrever a norma 
objetiva do português culto falado no Brasil, tendo promovido o registro sonoro de 
exemplares da fala urbana, com vista à descrição de seus aspectos fonéticos e fonológicos, 
gramaticais e léxicos.
As gravações compreendem três tipos de entrevistas: D2 – diálogo entre dois informantes, 
DID – diálogo entre informante e documentador e EF – elocução em atitude formal. Os 
informantes apresentam as seguintes características: formação universitária, nascidos na 
cidade sob estudo e filhos de falantes nativos do português. Dividem-se em três faixas 
etárias, a saber: I – de 25 a 35 anos, II – de 36 a 55 anos e III – de mais de 56 anos.
No Brasil, foram gravadas entrevistas em cinco capitais, a saber: São Paulo, Rio de Janeiro, 
Porto Alegre, Salvador e Recife (IEL, UNICAMP, 2013-2019. 
FONTE: <http://www3.iel.unicamp.br/cedae/noticia.php?view=details&article=203>. Acesso 
em: 28 jul. 2019.
NOTA
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
72
A seguir, você conseguirá visualizar como ocorreu a análise quantitativa 
e qualitativa da realização do /s/ em final de sílaba, levando em consideração a 
variável linguística das categorias gramaticais:
Lembre-se de que a variável linguística significa que há algo interno à própria 
língua que favorece a variação.
NOTA
QUADRO 1 – CATEGORIA GRAMATICAL
FONTE: Macedo (2004, p. 58)
FATOR APLIC./TOTAL FREQUÊNCIA
Verbo 479/804 60%
Adjetivo 265/462 57%
Substantivo 1.009/1.961 51%
Outra 687/2.142 32%
Nessa análise, identifica-se que “a categoria gramatical que mais favorece 
a palatização é o verbo” (MACEDO, 2004, p. 58). 
Seguidamente, a autora procura relacionar os dados da categoria linguística 
com as variáveis sociais da pesquisa, afirmando que: “após analisarmos uma a 
uma, todas as variáveis em estudo, constatamos que cinco foram as variáveis 
selecionadas pelo programa computacional como estatisticamente relevantes 
para a produção da palatal” (MACEDO, 2004, p. 60), que foram de sexo; contexto 
fonológico seguinte; traço de sonoridade do segmento seguinte; faixa etária; 
posição da sílaba. No gráfico a seguir, a autora cruza as variáveis sociais, que são 
as de maior peso no tocante à realização palatal:
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
73
GRÁFICO 1 – PRODUÇÃO PALATAL EM POSIÇÃO DE CODA: SEXO X FAIXA ETÁRIA
FONTE: Macedo (2004, p. 61)
Conforme podemos observar no gráfico anterior, a produção palatal atinge 
percentuais altíssimos no sexo feminino, chegando a 99% na segunda faixa 
etária, também é na segunda faixa etária masculina que podemos verificaro mais elevado índice percentual, 66% (MACEDO, 2004, p. 61).
Observe, acadêmico, que os condicionadores sociais (sexo e faixa etária) 
estão atuando nessa variação específica. Assim, a realização de uma ou outra 
variante parece estar condicionada por esses fatores, quando se olha em uma 
perspectiva externa à língua.
Numa rápida análise, podemos perceber uma diferença de 
comportamento na produção palatal entre homens e mulheres 
distribuídos nas respectivas faixas etárias. Entre as mulheres, o 
índice mais baixo de produção é na I faixa e o mais alto, como já 
dissemos, na II faixa, estando a I e II faixas praticamente no mesmo 
patamar, havendo um pequeno favorecimento também para a II 
faixa (MACEDO, 2004, p. 61).
Além do trabalho de Macedo (2004), que utilizamos para exemplificar a 
você como ocorre uma pesquisa à luz da teoria da variação, existem outros estudos 
dessa natureza sobre a fala e a escrita, abrangendo fenômenos morfológicos, 
sintáticos, fonético-fonológicos, discursivo-pragmáticos. Não deixe de conferir 
mais sobre essas pesquisas, que investigam não só a variação e a mudança, mas 
as atitudes e as crenças linguísticas relacionadas à variação linguística. Fique 
conosco para ler mais sobre a avaliação acerca dos traços linguísticos.
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
74
2.2 AS DIMENSÕES SOCIAIS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: 
TRAÇOS DESCONTÍNUOS E GRADUAIS
Como vimos até agora, a pesquisa sociolinguística contribui para 
pensarmos na heterogeneidade da língua condicionada a fatores sociais. Também 
vimos que a diversificação social, além de constituir fatores condicionantes para 
a variação linguística, agrega um conjunto de valores socioculturais às variantes 
de uma língua, o que pode ser investigado especialmente a partir do problema 
da avaliação proposto por Weinreich, Labov e Herzog (2006).
Tomando como base a teoria da variação, Bagno (2007) identifica que as 
variedades linguísticas podem ser representadas a partir de um contínuo. De um 
lado desse contínuo, temos falares que evidenciam maior renda econômica, maior 
escolaridade e maior contato com o espaço urbano, avaliados, consequentemente, 
com maior prestígio social. Do outro lado, contudo, os falares com menor renda, 
menor escolaridade e maior contato com o espaço rural, são avaliados socialmente 
com maior estigma. 
FIGURA 2 – CONTÍNUO DOS FALARES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
FONTE: Bagno (2007, p. 77)
- renda
- escolaridade
+ rural
+ renda
+ escolaridade
+ urbano
+ 
ES
TI
G
M
A
+ PR
ESTÍG
IO
Conforme observa Bagno (2007), a avaliação atribuída às variedades 
linguísticas é essencialmente social, isto é, os traços linguísticos característicos de 
classes menos favorecidas social e economicamente (menor escolaridade, menor 
renda, maior contato com zonas rurais) são avaliados negativamente. O autor 
procura destacar que “não é propriamente a língua que está sendo avaliada, 
mas, sim, a pessoa que está usando a língua daquele modo” (BAGNO, 2007, p. 
77, grifos nossos).
Na nossa fala, portanto, podemos encontrar traços linguísticos 
característicos de variedades mais estigmatizadas e de variedades mais 
prestigiadas. A esses traços, os sociolinguistas Bagno (2007) e Bortoni-Ricardo 
(2004) têm atribuído a denominação de traços graduais e traços descontínuos.
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
75
Traços graduais são aqueles comuns aos falares de praticamente todos 
os brasileiros; e traços descontínuos são aqueles que estão presentes principalmente 
no contínuo de menor renda, menor escolaridade, de origem mais rural (BAGNO 2007; 
BORTONI-RICARDO, 2004).
IMPORTANT
E
Para que essas ideias fiquem mais claras, vamos ler o texto “O limoeiro”, 
de autoria do cartunista brasileiro Maurício de Sousa, cujo conteúdo contempla 
características da fala de Chico Bento, personagem de origem rural, do interior de 
São Paulo. Durante sua leitura, preste especial atenção nas palavras destacadas 
em negrito.
O Limoeiro
Maurício de Sousa
Chico Bento: — Vixi! Como você cresceu! Inté parece qui foi onte 
qui prantei esse limoero! Agora, já ta cheio di gaio! Quase da minha artura! 
Como o tempo passa, né? Uns tempo atrais, ocê era deste tamanhico! Fiz um 
buraquinho i ponhei ocê inda mudinha dentro! Protegi dos vento, do sor, das 
geada... i nunca dexei fartá água! Imagina se eu ia dexá ocê passa sede! Hoje 
você ta desse tamanhão! Quero vê o dia im qui ocê tivé mais grande qui eu! 
Cum uns gaio cumprido cheio di limão i umas foia bem larga, pra dá sombra 
pra quem tivé dibaxo! Aí, num vô percisá mais mi precupá c’ocê, né limoero? 
Pruque aí ocê vai tá bem forte! Vai sabê si protegê do vento do sor i da geada, 
sozinho! I suas raiz vão tá tão cumprida qui ocê vai podê buscá água por sua 
conta! Ocê vai sê dono doce mesmo! Sabe, limoero... Tava pensando... Acho 
que dispois, vai sê eu qui vô percisá docê! Isso é... Quando eu ficá mais véio! 
Craro! Cum uns limão tão bão qui ocê tem... i a sombra qui ocê dá, pode mi 
protegê inté dos pingo di chuva! Ocê vai fazê isso, limoeiro? Cuidá di mim 
também? Num importa! O importante é qui eu prantei ocê! I é ansim qui eu 
gosto! Do jeito qui ocê é.
Pai do Chico Bento para a Mãe do Chico Bento: — Muié... tem reparado 
como nosso fio cresceu?
FONTE: SOUSA, M. de. O limoeiro. Chico Bento, nº 354. In: BORTONI-RICARDO, S. M. 
Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola 
Editorial, 2004, p. 45.
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
76
Você conseguiu perceber que, dentre as palavras destacadas, algumas 
delas recebem maior rejeição que outras? No discurso direto da personagem Chico 
Bento, Maurício de Sousa procurou incluir marcas características da fala rural do 
interior de São Paulo, a fim de dar vivacidade ao texto. No entanto, apesar de 
a fala ser caracterizadamente rural, nela encontramos tanto traços descontínuos 
quanto traços graduais. 
No quadro a seguir, acompanharemos a explicação de cada palavra 
destacada que caracteriza um traço descontínuo:
QUADRO 2 – TRAÇOS DESCONTÍNUOS EM “O LIMOEIRO”
Palavra Explicação
INTÉ
É uma forma arcaica da preposição até. Esse arcaísmo se conservou no polo rural 
e praticamente desapareceu dos falares urbanos; por isso foi considerado traço 
descontínuo. Observe que muitas formas encontradas hoje no polo rural são 
arcaísmos que se preservaram e podem ser encontrados em obras literárias antigas, 
como Os Lusíadas, poema que foi escrito pelo português Luís Vaz de Camões, 
para celebrar as descobertas marítimas de seus patrícios, e publicado em 1572 
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 54).
PRANTEI
A troca de /l/ por /r/ nos grupos consonânticos, como em bloco/broco, problema/
probrema/pobrema é encontrada em falares rurais e rurbanos e, às vezes, até em falares 
urbanos. Preferimos classificar prantei como um traço descontínuo, considerando 
que esse fenômeno é muito estigmatizado na cultura urbana (BORTONI-RICARDO, 
2004, p. 54). O falar rurbano é aquele intermediário, situado entre o caracterizado 
rural e urbano.
ARTURA
A troca de /l/ pós-vocálico por /r/ é fenômeno típico dos falares rurais igualmente 
avaliado muito negativamente nas cidades. É, portanto, um traço descontínuo 
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 55).
PONHEI
O verbo pôr é irregular e no pretérito perfeito é conjugado assim: pus, puseste, pôs, 
pusemos, pusestes, puseram. Nos falares rurais, porém, o pretérito perfeito é formado 
em analogia com os verbos regulares (cantei/ casei/ falei etc.), usando-se, como 
base, a forma da primeira pessoa do presente (ponho). A forma ponhei é, portanto, 
uma regularização que segue um processo de analogia. Observe que formações 
analógicas como essa são muito comuns na linguagem de crianças pequenas, que 
dizem coisas como: “eu descei”, “já chegui” etc., mas a variante ponhei é uma forma 
estigmatizada nas comunidades urbanas e tem o mesmo caráter de um estereótipo 
dos falares rurais. Por isso, nós os catalogamos como traço descontínuo(BORTONI-
RICARDO, 2004, p. 55-56).
SOR
É variante da palavra sol em que o /l/ pós-vocálico é realizado como /r/. É a mesma 
regra fonológica que vimos em artura. A flutuação entre /r/ e /l/ pós-vocálico é 
própria das comunidades situadas no polo rural, onde também podemos ouvir 
galfo/garfo; calvão/carvão (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
MUIÉ
Nesta variante de mulher, típica do polo rural do contínuo, temos a aplicação de 
duas regras: a vocalização da consoante lateral palatal /lh/ e a perda do /r/ final. 
A primeira regra tem caráter descontínuo e pode ser observada em /filho/ > fio/; /
palha > paia/; /trabalha > trabaia/. A perda do /r/ final é um traço gradual. Observe 
que essa perda é mais frequente nos infinitivos verbais, mas também ocorre em 
substantivos como mulher; colher e suor ou em adjetivos como maior, melhor etc. 
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 58).
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
77
PERCISÁ
Nessa palavra, vemos que o fonema /r/ alterou sua posição no interior da sílaba: 
/precisar/ > /percisá/. Essa regra, que é conhecida como metátese, é muito comum 
nos falares rurais. Alguns exemplos: “tauba” (< tábua), “partelera” (< prateleira), 
“preguntar” (< perguntar), “vrido” (< vidro). [...] Na evolução do português arcaico 
para o português moderno, ocorreram muitos casos de metátese. Exemplos: 
semper (latim) > sempre; desvariar > desvairar; depredar > depedrar (BORTONI-
RICARDO, 2004, p. 57-58).
DISPOIS
É uma forma arcaica de depois que ainda se conserva nos falares rurais. A palavra 
depois se formou da junção de três preposições latinas: de + ex + post, e isso explica 
a presença do “s” na forma arcaica (e rural) despois/dispois (BORTONI-RICARDO, 
2004, p. 58).
FONTE: Bortoni-Ricardo (2004, p. 54-58)
Bortoni-Ricardo (2004) explica que algumas variantes presentes nessas 
palavras destacadas são típicas dos falares situados no polo rural e que, conforme 
nos aproximamos do contexto urbano, essas variantes vão desaparecendo. 
“Dizemos, então, que esses traços têm uma distribuição descontínua porque seu 
uso é “descontinuado” nas áreas urbanas” (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 53, 
grifos nossos). Bagno (2007), por sua vez, esclarece que a rejeição às variedades 
mais estigmatizadas, que apresentam traços descontínuos, é reflexo direto da 
exclusão e injustiça da distribuição dos bens sociais, e não especificamente pela 
estrutura linguística. 
Como você deve ter reparado no texto de Maurício de Sousa, ainda há 
outros traços que estão presentes na fala de Chico Bento que não discutimos. 
Esses traços são aqueles que se situam na fala de todos os brasileiros e, por isso 
mesmo, “se distribuem ao longo de todo o contínuo. Esses traços, ao contrário 
dos outros, têm uma distribuição gradual”, e, portanto, os chamamos de traços 
graduais (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 53). Conforme a própria caracterização 
da fala de Chico Bento revela, os traços linguísticos graduais também fazem parte 
do repertório dos falantes das variedades mais estigmatizadas, e não somente 
daquelas que recebem certo prestígio social.
No Quadro 3, você poderá acompanhar a explicação de cada palavra 
destacada no texto que caracteriza um traço gradual. Conforme pontua Bortoni-
Ricardo (2004), talvez você não vá concordar totalmente com essa classificação, 
mas o importante é ter fundamentos para justificar e refletir sobre esses traços.
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
78
QUADRO 3 – TRAÇOS GRADUAIS EM “O LIMOEIRO”
Palavra Explicação
LIMOERO
O sufixo –eiro é pronunciado quase sempre “êro”. Os ditongos ei e ai seguidos 
dos fonemas /r/, /n/, /j/ e /x/ tendem a ser reduzidos, tornando-se vogais simples 
/e/ e /a/. Exemplos: cade(i)ra, ca(i)xa, be(i)jo, ribe(i)ra etc. Todos esses são traços 
graduais (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 54).
OCÊ
O pronome de tratamento você deriva do tratamento antigo “Vossa Mercê”, que 
obedeceu ao seguinte percurso: vossa mercê > vosmecê > você > (o)cê. As formas 
“ocê” e “cê” são muito usadas em estilos não monitorados por todos os brasileiros 
(BORTONI-RICARDO, 2004, p. 55).
DOS VENTO
Temos um sintagma ou frase nominal, cujo núcleo é um substantivo (vento). Os 
sintagmas nominais são formados de um núcleo nominal e de outros elementos 
chamados determinantes, que podem ser artigos definidos (o, a, os, as), artigos 
indefinidos (um, uma, uns, umas) ou pronomes (demonstrativos, indefinidos, 
possessivos etc.). Podem ocorrer também adjetivos no sintagma nominal. No 
português padrão, principalmente na modalidade escrita, os determinantes e os 
adjetivos concordam em gênero e número com o núcleo do sintagma (ex.: todos 
aqueles cidadãos corruptos serão processados). [...] Mas no português oral, nos 
estilos não monitorados, há uma tendência a evitar a redundância, flexionando-
se só o primeiro elemento do sintagma, como ocorreu no diálogo de Chico Bento 
que vimos (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 58).
DEXEI
Nesta forma verbal, o primeiro ditongo /ei/ foi reduzido a /e/, como em limoero, que 
já vimos. Observe que em dexei o ditongo que já está na sílaba átona pretônica foi 
reduzido, mas o mesmo ditongo que está na sílaba tônica final se preservou. De 
fato, os segmentos fonológicos das sílabas tônicas tendem a ser mais resistentes a 
mudanças fonológicas. No entanto, o ditongo /ou/ reduz-se a /o/ tanto em sílabas 
átonas não finais, quanto em sílabas tônicas não finais e finais. Veja: outro > otro; 
outono > otono; entrou > entrô. Se compararmos então o que está acontecendo com 
o ditongo /ei/ e o ditongo /ou/, concluiremos que a regra de redução do ditongo 
/ou/ se aplica a uma gama maior de ambiente do que a regra de redução do ditongo 
/ei/. Isso é um indicador para nós de que a primeira já está mais avançada no 
processo de evolução da língua que a segunda (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
TIVÉ
Esta forma verbal ocorreu no seguinte enunciado: “Quero vê o dia im qui ocê 
tivé mais grande qui eu”. Há muitos comentários a fazer sobre esta fala do Chico 
Bento, começando pelo tivé. Nesse contexto, a forma tivé é variante de estiver, que 
é futuro do subjuntivo do verbo estar, que perdeu a sílaba inicial es- e o fonema /r/ 
final. A forma tivé também pode ser variante de tiver, que é futuro do subjuntivo 
do verbo ter. 
[...]
Classificamos tivé como um traço gradual porque a perda – ou aférese, que é a 
supressão de fonema(s) – da sílaba inicial es- no verbo estar é um traço generalizado 
no português brasileiro, especialmente nos estilos não monitorados. Igualmente 
a perda do /r/ final nos infinitivos verbais e nas formas do futuro do subjuntivo 
é um traço gradual (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 56).
DIBAXO
Nessa variante do advérbio debaixo, foram aplicadas duas regras [...]: a redução 
de vogal pretônica /e/ > /i/ e do ditongo /ai/ > /a/. Ambas as regras têm caráter 
gradual (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 57).
FONTE: Bortoni-Ricardo (2004, p. 54-58)
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
79
Você consegue identificar algum desses traços na sua fala ou na fala de 
alguém que você conheça? É importante destacarmos novamente que o fato 
de esses traços constituírem variedades linguísticas de falantes do português 
brasileiro não significa que haja erros nessas variedades, uma vez que, com o apoio 
da sociolinguística, observamos que os traços representam apenas diferenças no 
uso da língua. O fato de existir estigma ou prestígio sobre eles implica apenas 
no nosso reconhecimento de que se há variação linguística, também há avaliação 
sobre as variantes.
Com relação à perspectiva de erro, vale relembrarmos que, quando estamos 
pensando nos contextos de uso da língua, não tratamos as variantes como formas 
que possam ser consideradas erradas. As diferentes formas de usar a língua, 
de fato, não são erros, afinal, fazem parte da variação e mudança linguísticas. 
Contudo, conforme discutimos no Tópico 3 da Unidade 1, em um contexto de 
ensino formal, é dever da escola apresentar aos alunos as diferentes variedades, 
num processo de identificaçãoe conscientização (BORTONI-RICARDO, 2004), 
discutindo, inclusive, o preconceito linguístico contido naquelas variedades mais 
estigmatizadas.
No quadro a seguir, elencamos 15 principais traços descontínuos do 
português brasileiro:
QUADRO 4 – TRAÇOS DESCONTÍNUOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
TRAÇOS DESCONTÍNUOS COMENTÁRIO
1. Queda da vogal átona postônica 
em palavras proparoxítonas: córrego 
> corgo; pássaro > passo; bêbado > bebo; 
árvore > arvre etc.
Prosseguimento de uma tendência muito antiga na língua 
portuguesa, que transformou em paroxítonas um sem-
número de proparoxítonas latinas: tégula > telha; apícula > 
abelha; límpidu > limpo etc.
2. Não nasal ização de s í labas 
postônicas: home ~ homem; ontem ~ 
onte; fizeram ~ fizero etc.
Outra tendência antiga na história da língua; até hoje 
os dicionários registram pares como ABDÔMEN/
ABDOME, REGÍMEN/REGIME, CERTÂMEN/CERTAME, 
VELÂMEN/VELAME, CERÚMEN/CERUME, em que a 
variante sem nasalização final é mais amplamente usada. 
Outras muitas palavras, como LUME, EXAME, NOME, 
CIÚME, provém de palavras latinas em que existia um 
–N final postônico.
3. Monotongação de ditongos átonos 
crescentes em posição final: notícia > 
notiça; paciência > paciença; imundície > 
imumdice etc.
A história da língua apresenta muitos exemplos da mesma 
tendência, que as variedades estigmatizadas seguem mais 
coerentemente: istitia > justiça; pigritia > preguiça; factitiu > 
feitiço; pretiu > preço; criantia > criança etc. 
4. Rotacismo: troca de L por R em 
encontros consonantais ou em final de 
sílaba: placa > praca; planta > pranta; talco 
> tarco; futebol > futebor etc.
O rotacismo nos encontros consonantais ocorreu na 
formação do português. Inúmeras palavras que hoje têm 
um R no encontro consonantal tinham um L na palavra 
de origem. 
5. Pronúncia [y] da consoante palatal 
[ʎ], escrita LH: telha > têia; abelha > abêia; 
velha > véia etc.
Mudança que também aconteceu em galego, francês e na 
maioria das variedades do espanhol.
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
80
6. Eliminação do plural redundante, 
marcado em geral só nos determinantes: 
os menino, as casa, aquelas coisa toda etc.
Também ocorre nos estilos falados menos monitorados 
dos falantes urbanos escolarizados, em situação distensa.
7. Redução da morfologia verbal a duas 
formas: [eu] canto e [tu/você/ele/nós/a 
gente/vocês/eles] canta; ou a três: [eu] 
canto, [tu/você/ele/vocês/eles] canta; 
[nós] cantamo.
Também ocorre nos estilos falados menos monitorados 
dos falantes urbanos escolarizados, em situação distensa.
8. Uso dos pronomes do caso reto em 
função de complemento: ABRAÇA EU; 
LEVA NÓS TAMBÉM; ELA GOSTA 
MUITO DE TU; EU CONHECO ELE 
etc.
O pronome ELE (e flexões) também é usado pelos falantes 
urbanos escolarizados em função de objeto. Os outros 
aparecem com menor frequência, e sobretudo com 
construções sintáticas mais complexas: VOCÊ NUNCA 
TINHA VISTO EU E O PEDRO JUNTOS ANTES?
9. Uso do pronome oblíquo MIM 
como sujeito de infinitivo depois da 
preposição PRA ( < PARA): É COISA 
DEMAIS PRA MIM FAZER!
Essa construção se torna cada vez mais frequente na fala 
de cidadãos altamente escolarizados das zonas urbanas, 
particularmente na cidade e no estado de São Paulo.
10. Uso da palavra MAIS como 
preposição equivalente a COM: O 
PEDRO TEVE AQUI MAIS A MARIA.
Também usada em algumas variedades urbanas regionais.
11. Formação analógica do verbo 
PONHAR a partir da primeira pessoa 
PONHO: EU JÁ PONHEI A MESA 
DO JANTAR.
Processos analógicos semelhantes também operam nas 
variedades urbanas. A maioria dos brasileiros, inclusive 
os mais letrados, pronuncia “vim” o infinitivo de VIR, 
muito provavelmente por influência analógica das formas 
conjugadas em que aparece a nasalidade: VENHO, VIM, 
VINHA etc.
12. Surgimento da preposição NE 
(pronunciada /ni/), deduzida das 
formas compostas: NO, NA, NUM, 
NISSO etc.: ELA MORA NE GOIÂNIA.
Também ocorre em algumas variedades urbanas regionais.
13. Uso de advérbio de intensidade 
com formas superlativas: MAIS MIÓ, 
MAIS PIÓ, MUITO ÓTIMO etc.
Recurso enfático, que também ocorre nas variedades 
urbanas de escolarizados quando dizem, por exemplo, 
ISSO VAI PIORAR AINDA MAIS, PODE FICAR AINDA 
MELHOR etc.
14. Léxico característico, variável de 
região para região: FRUITA, LUITA, 
OITUBRO, CUZINHA, DRUMI, 
PERCURÁ, DESPOIS, ANTOCE, 
A R R E S P O N D Ê , A L E M B R A R , 
DEREITO, MENHÃ, VOSMECÊ etc.
A maioria desses vocábulos representam sobrevivências 
de fases anteriores da língua e podem ser encontrados na 
literatura medieval e clássica.
1 5 . A p r ó t e s e d e u m [ a ] e m 
algumas palavras: ATROPEÇÔ, 
ALEMBRANDU, AVOAR.
A prótese de um [a] em algumas palavras (atropeçô, 
alembrandu, avoar) se refere ao processo de inserção 
do fonema nessas palavras, como resultado de um 
processo histórico de mudanças linguísticas internamente 
motivadas e regidas por leis fonéticas. 
FONTE: Bagno (2007, p. 144-146)
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
81
Vale destacarmos que muitas variações linguísticas são realizações das 
regras mais recorrentes na língua. A título de exemplo, pensemos no caso das 
paroxítonas, que são as palavras mais comuns na língua portuguesa. Por conta 
da regularidade da tonicidade das palavras, há essa tendência de tentarmos 
encaixar outras palavras nesse mesmo padrão tônico, especialmente palavras 
proparoxítonas, que seriam as exceções no português brasileiro. Nesse sentido, 
o primeiro traço descontínuo apresentado no quadro anterior é reflexo dessa 
regularidade linguística, na qual palavras proparoxítonas, como córrego, bêbado 
e árvore, podem variar para palavras paroxítonas, como corgo, bebo e arvre. 
Interessante pensar, prezado acadêmico, que as palavras estrangeiras, inclusive, 
quando são trazidas para a língua portuguesa, tendem a ser pronunciadas como 
paroxítonas (observe a tonicidade de delete, cheque, clique, enter...).
Agora que você já conhece alguns traços descontínuos do português 
brasileiro, confira, no Quadro 5, os traços graduais:
QUADRO 5 – TRAÇOS GRADUAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
TRAÇOS GRADUAIS COMENTÁRIOS
1. Redução dos ditongos /ey/ a /e/ e 
/ay/ a /a/ diante de consoantes palatais 
ou da vibrante simples: BEIJO [ˈbeʒo]; 
CAIXA [ˈkaʃɐ]; CHEIRO [ˈʃeɾu] etc.
A convenção ortográfica leva a pronúncias forçadas, 
artificiais, que não correspondem à realidade falada 
pela imensa maioria dos brasileiros de todas as regiões. 
Esse fenômeno interfere no processo de alfabetização, 
uma vez que a tendência do aprendiz é escrever a vogal 
simples e não o ditongo. Também é responsável por casos 
de hipercorreção, como as escritas CARANGUEIJO, 
BANDEIJA, PRAZEIROSO etc.
2. Redução de ditongo /ow/ a /o/ em 
todos os contextos: OURO [ˈoɾu]; 
CALOURO [kaˈloɾu]; AMOU [aˈmo] etc.
A convenção ortográfica leva a pronúncias forçadas, 
artificiais, que não correspondem à realidade falada pela 
maioria dos brasileiros de todas as regiões. Esse fenômeno 
interfere no processo de alfabetização, uma vez que a 
tendência do aprendiz é escrever a vogal simples e não 
o ditongo.
3. Ditongação da vogal tônica final 
seguida de /s/ , resultando nas 
pronúncias: “pais” para PAZ, “mêis” 
para MÊS, puis para PUS etc.
Essa ditongação é generalizada no português brasileiro, 
ocorrendo em quase todo o território nacional. Dela, 
resulta a dificuldade de distinguir, na escrita, a conjunção 
MAS do advérbio MAIS, uma vez que tendem a ser 
pronunciados exatamente da mesma forma.
4. Apagamento do /r/ em final de 
palavra, principalmente em final 
de verbos no infinitivo: CANTAR 
> CANTÁ; VENDER > VENDÊ; 
PROFESSOR > PROFESSÔ. 
O apagamento do /r/ nos infinitivos caracteriza o 
vernáculo de todos os brasileiros. Nas demais palavras, 
é mais frequente em determinadas variedades regionais.
5. Queda do –S final das formas verbais 
de 1ª pessoa do plural (NÓS): VAMO 
LÁ! NÓS COMPRAMO ISSO PRA 
VOCÊ.
Caracteriza a fala rápida, distensa, informal. 
UNIDADE2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
82
6. Uso amplo de ONDE para se referir 
a espaço, tempo, situação etc., ou como 
organizador do fluxo discursivo: ESSA 
É UMA CRISE MUITO PERIGOSA, 
ONDE NÓS PRECISAMOS OLHAR 
PARA FRENTE EM BUSCA DE UMA 
SOLUÇÃO
A norma padrão só admite o uso de ONDE com referência 
a “espaço físico”.
7. Uso indistinto de ONDE por AONDE 
e vice-versa: ONDE VOCÊ PENSA 
QUE VAI? AONDE VOCÊ PENSA 
QUE ESTÁ?
Apesar desse uso indistinto estar registrado há séculos 
na língua, inclusive na melhor literatura, os puristas só 
admitem AONDE com verbos que indicam direção ou 
movimento: AONDE VOCÊ VAI?
8. Uso do verbo TER impessoal, 
com sentido de existência: JÁ TEM 
AÇÚCAR NESSE CAFÉ? QUANTAS 
PESSOAS TINHA POR LÁ?
A tradição purista condena esse uso de TER, prescrevendo 
em seu lugar o verbo HAVER: JÁ HÁ AÇÚCAR NESSE 
CAFÉ? QUANTAS PESSOAS HAVIA POR LÁ?
9. Atribuição de gênero feminino a 
palavras tradicionalmente masculinas 
e vice-versa: A DÓ, O ALFACE, 
DUZENTAS GRAMAS etc. 
A norma padrão prescreve os gêneros tradicionais.
FONTE: Bagno (2007, p. 147-156)
Além dos traços graduais aqui apresentados, é possível identificar 
muitos outros. No entanto, para compreendermos sobre os aspectos da variação 
linguística, o que foi listado já é suficiente. Essa compreensão, prezado acadêmico, 
é importante para ser levada ao contexto da sala de aula, uma vez que a discussão 
sobre essas variações pode auxiliar seus futuros alunos a reconhecerem as regras 
que regem a norma padrão, partindo das regras que constituem a própria fala. 
Além disso, ao perceberem que não é possível, a ninguém, falar de acordo com 
o que traz a norma padrão o tempo inteiro, os alunos podem quebrar alguns 
estigmas e entenderem que todos variam o seu falar em alguma medida.
No próximo tópico, introduziremos alguns conceitos relacionados à 
macrossociolinguística (ou sociologia da linguagem), como alternância de 
códigos, estratégias linguísticas, bilinguismo, entre outros, que, assim como o 
estudo da variação, permitem combatermos o mito do monolinguismo brasileiro. 
Antes disso, vamos realizar uma leitura complementar que poderá lhe direcionar 
a fazer uma pesquisa sociolinguística? Em seguida, confira as autoatividades 
para colocar em prática o que estudamos neste tópico!
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
83
LEITURA COMPLEMENTAR
Na leitura complementar que apresentamos a você, acadêmico do curso de 
Letras, recortamos um trecho do artigo “Sociolinguística variacionista: pressupostos 
teórico-metodológicos e propostas de ensino”, escrito por Márluce Coan e Raquel 
Meister Ko, e publicado pelo periódico “Domínios da Lingu@gem”. Esse texto, 
de forma sucinta, retoma os pressupostos da teoria da variação linguística, 
especialmente com base nos postulados labovianos.
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE VARIAÇÃO E MUDANÇA
A Teoria da Variação e Mudança Linguística (também chamada 
Sociolinguística Quantitativa ou Laboviana) tem como objeto de estudo a variação e 
mudança da língua no contexto social da comunidade de fala. A língua é vista pelos 
sociolinguistas como dotada de “heterogeneidade sistemática”, fator importante 
na identificação de grupos e na demarcação de diferenças sociais na comunidade. 
O domínio de estruturas heterogêneas é parte da competência linguística dos 
indivíduos. Nesse sentido, a ausência de heterogeneidade estruturada na língua 
seria tida como disfuncional (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006).
A língua não é propriedade do indivíduo, mas da comunidade (é social). 
Entretanto, Labov discorda de Saussure, Chomsky e outros que insistem na 
homogeneidade necessária do objeto linguístico, que ignoram a heterogeneidade 
e que consideram a fala como caótica e desmotivada (FIGUEROA, 1996). Labov 
(2008) crê que o novo modo de fazer linguística é estudar empiricamente as 
comunidades de fala. Esse argumento pode ser acoplado à rejeição da psicologia 
individual como um modelo de referência para a linguística, bem como rejeição 
do idioleto ou gramática individual como o objeto da linguística (FIGUEROA, 
1996). De acordo com Labov (2000), todos os sociolinguistas concordam que 
produções e interpretações de um falante não são o lugar primário da investigação 
linguística nem as unidades finais da análise, mas os componentes usados para 
construir modelos de nosso objeto primário de interesse, a comunidade de fala.
A Sociolinguística que Labov propõe é aquela com o propósito de estudar 
a estrutura e a evolução da língua no contexto social da comunidade, cobrindo 
a área usualmente chamada de Linguística Geral, a qual lida com Fonologia, 
Morfologia, Sintaxe e Semântica (LABOV, 2008). Segundo Figueroa (1996), 
quando se diz que a Sociolinguística é o estudo da língua em seu contexto social, 
isso não deve ser mal-interpretado. A Sociolinguística laboviana não é uma teoria 
da fala, nem o estudo do uso da língua com o propósito exclusivo de descrevê-
la, mas o estudo do uso da língua no sentido de verificar o que ela revela sobre a 
estrutura linguística (langue).
Quando Labov fala em heterogeneidade, refere-se à variação, mas está 
interessado na variação que pode ser sistematicamente explicada. A variação 
sistemática é um caso de modos alternativos de dizer a mesma coisa, sendo esses 
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
84
modos portadores do mesmo significado referencial (LABOV, 2008). A linguística 
laboviana tornou-se sinônimo do estudo de variação e mudança linguísticas. 
Conforme Labov (1978), dois enunciados que se referem ao mesmo estado de 
coisas com o mesmo valor de verdade constituem-se como variantes de uma 
mesma variável (regra variável).
Assumindo a perspectiva de que é impossível entender o desenvolvimento 
de variação e mudanças linguísticas fora da vida social da comunidade, já que 
pressões sociais estão continuamente operando sobre a linguagem, Labov se 
propõe, em seus trabalhos pioneiros, a correlacionar os padrões linguísticos 
variáveis a diferenças paralelas na estrutura social em que os falantes estão 
inseridos. De fato, investigando variáveis fonológicas, o autor constata uma 
forte correlação entre a estratificação social dos falantes e seus usos linguísticos 
diferenciados. Ampliando o escopo da regra variável para além dos limites da 
fonologia, Weiner e Labov (1977) estudam construções ativas e passivas do inglês, 
testando fatores externos (estilo, sexo, classe, etnia, idade) e fatores internos 
(status informacional, paralelismo estrutural), concluindo que os dois tipos de 
condicionamento podem ser independentes, uma vez que todos os grupos sociais 
tratam a alternância ativa/passiva da mesma maneira. A extensão do modelo 
variacionista para tratar fenômenos sintático-discursivos “abriu as portas à 
incorporação de hipóteses funcionalistas, no sentido de atribuir a motivações fora 
da estrutura da língua, decorrentes de necessidades comunicativo-funcionais, a 
origem da variação” (PAREDES, 1993, p. 885).
Labov (2008) comenta que, se se quer dar uma contribuição significante no 
que se refere ao funcionamento da língua, o estudo dessa em seu contexto social 
não pode permanecer no campo da Fonologia. Note-se que mudanças fonológicas 
podem alterar a morfologia da língua; mudanças morfológicas podem alterar a 
sintaxe; mudanças sintáticas, o plano discursivo.
Correlacionando variação e mudança, a Teoria da Variação e Mudança 
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006) rompe com a dicotomia sincronia/
diacronia (SAUSSURE, 1995) aproximando-as. “Afinal de contas, para que 
os sistemas mudem, urge que eles tenham sofrido algum tipo de variação” 
(TARALLO, 1994, p. 25). A conjunção entre sincronia e diacronia permite que 
o enfoque não seja o de mudanças abruptas ou etapas estáticas. Pode-se dizer 
que, “a partir de tais e tais características estruturais e de tais e tais condições de 
funcionamento, o sistema, quase que preditivamente, caminhou na direção X e 
não nadireção Y” (TARALLO, 1994, p. 26).
Tendo sido evidenciada a variação num momento sincrônico, atual, 
por exemplo, volta-se ao passado para o encaixamento histórico das variantes, 
fechando o ciclo com a chegada novamente ao presente (TARALLO, 1994); desse 
modo, pode-se observar (ou não) a manifestação da doutrina do uniformitarismo: 
alguns mecanismos que operaram para produzir mudanças no passado podem 
estar operando nas mudanças correntes (LABOV, 2008). Se olhar o passado 
pode fornecer indícios para explicar o presente, é possível olhar o presente para 
TÓPICO 1 | SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
85
projetar o futuro, ou seja, verificar uma mudança em tempo aparente. Conforme 
pontua Labov (1994), esse tipo de mudança refere-se à predominância de uma 
das variantes nos grupos mais jovens.
As observações em tempo aparente conectadas às observações em tempo 
real permitem que se verifique a mudança em progresso. A análise da mudança 
em tempo aparente é apenas um prognóstico, uma projeção que o pesquisador 
se arrisca a fazer, portanto, constitui-se como uma hipótese. A articulação 
entre presente e passado permite evidenciar estágios variáveis e mudanças 
que aconteceram (tempo real) e que estão em curso (tempo aparente). Convém, 
contudo, deixar claro que nem toda variabilidade na estrutura linguística 
envolve mudança, mas toda mudança envolve, obrigatoriamente, variabilidade 
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006).
Via variação, pode-se captar a direção e algumas generalizações acerca 
da mudança. De acordo com Faraco (2005), a mudança não se refere à troca 
direta e abrupta de um elemento por outro, mas envolve sempre uma fase de 
concorrência. Da variação entre duas formas para a codificação de uma mesma 
função/significação, uma pode se fixar na função tornando a outra obsoleta, 
embora nem sempre seja esse o caso.
Para explicar a mudança, é preciso dizer o que aconteceu (fatos) e por 
quê (princípios). A teoria da mudança, segundo Lass (1980), teria de incluir a 
variabilidade como um axioma, visto ser empírica a variabilidade. Pelo que 
supõe Lass, o estudo da variação pode constituir-se em caminho para explicar o 
fenômeno da mudança linguística.
FONTE: COAN, M.; KO, R. M. Sociolinguística variacionista: pressupostos teóricometodológicos e 
propostas de ensino. Domínios da Lingu@agem, v. 4, n. 2, 2010, p. 175-178.
86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A sociolinguística é dividida em duas perspectivas diferentes de estudo: a 
macrossociolinguística e a microssociolinguística. Assim, trabalhamos com a 
sociolinguística variacionista, situada na microssociolinguística. 
• A mudança linguística ocorre em três estágios: na origem (quando inicia dado 
fenômeno variável), na propagação (como a nova variante é introduzida a 
diferentes contextos sociais e comunidades) e no término (quando a mudança 
linguística é completada). 
• Toda mudança linguística implica variação, mas nem toda variação resulta em 
uma mudança linguística. 
• Weinreich, Labov e Herzog (2006) propuseram cinco problemas e princípios 
empíricos para uma teoria da variação e mudança linguística: I. Fatores 
condicionantes; II. Encaixamento da variação; III. Avaliação das mudanças; 
IV. Transição; V. Implementação.
• O pesquisador sociolinguista identifica fatores sociais que implicam no 
fenômeno variável, que são os condicionantes sociais e linguísticos.
• Reconhecer que a língua varia não significa dizer que ela é caótica, pois, 
conforme os estudos sociolinguísticos têm comprovado, mesmo na variação 
existe regularidade e sistematicidade. 
• A sociolinguística contribui para a compreensão de que a variação é constitutiva 
da língua e a mudança linguística não ocorre de uma hora para outra, mas é 
gradual. Nesse sentido, o sociolinguista reconhece a variação como a existência 
de estabilidade entre variantes e mudança em curso como o aumento de uso 
significativo de uma das variantes que competem no fenômeno variável.
• A metodologia de pesquisa na sociolinguística variacionista parte da 
necessidade de utilizar como corpus de análise dados de fala reais, tratados 
qualitativa e quantitativamente, a partir da noção de peso relativo. 
• A pesquisa na sociolinguística variacionista envolve algumas etapas, a saber: 
I. seleção do fenômeno linguístico variável; II. delimitação da comunidade de 
fala; III. reconhecimento de todas as possibilidades de produção que estão em 
variação; IV. levantamento de hipóteses sobre as variáveis condicionadoras 
(linguísticas e sociais).
• A avaliação das variantes linguísticas é social e tem sido observada a partir dos 
traços linguísticos graduais e descontínuos.
87
• Os traços graduais são comuns aos falares de praticamente todos os brasileiros 
e os traços descontínuos estão presentes principalmente no contínuo de menor 
renda, menor escolaridade, de origem mais rural.
• Os principais traços descontínuos elencados nos nossos estudos foram: queda 
da vogal átona postônica em palavras proparoxítonas (árvore > arvre); não 
nasalização de sílabas postônicas (home ~ homem); monotongação de ditongos 
átonos crescentes em posição final (notícia > notiça); rotacismo (placa > praca); 
pronúncia [y] da consoante palatal [ʎ], escrita LH (telha > têia); eliminação 
do plural redundante (os menino); a prótese de um [a] em algumas palavras: 
ATROPEÇÔ, ALEMBRANDU, AVOAR, entre outros.
• Os principais traços graduais elencados nos nossos estudos foram: redução 
dos ditongos /ey/ a /e/ e /ay/ a /a/ (BEIJO [ˈbeʒo], CAIXA [ˈkaʃɐ]); redução de 
ditongo /ow/ a /o/ (OURO [ˈoɾu]); ditongação da vogal tônica final seguida 
de /s/ (“pais” para PAZ); apagamento do /r/ em final de palavra (CANTAR > 
CANTÁ); queda do –S final das formas verbais de 1ª pessoa do plural – NÓS - 
(VAMO LÁ); entre outros.
88
AUTOATIVIDADE
1 A sociolinguística é uma área da linguística preocupada com os 
estudos da linguagem sob um aspecto social. Ela pode ser dividida em 
duas perspectivas diferentes de estudo: a macrossociolinguística e a 
microssociolinguística. Assinale a alternativa CORRETA que caracteriza 
um estudo da microssociolinguística:
a) ( ) Sociologia da linguagem.
b) ( ) Alternância de código.
c) ( ) Sociolinguística variacionista.
d) ( ) Política linguística.
e) ( ) Multilinguismo.
2 A mudança linguística ocorre em três estágios: na origem (quando 
inicia dado fenômeno variável), na propagação (como a nova variante é 
introduzida a diferentes contextos sociais e comunidades) e no término 
(quando a mudança linguística é completada). Considerando o exposto, 
analise a tabela a seguir, que apresenta dois fenômenos variáveis para duas 
localidades da região Sul do Brasil:
 USO DE TU VS. VOCÊ E CONCORDÂNCIA VERBAL COM TU (ADAPTADA DE 
LOREGIAN-PENKAL, 2004, p. 133; 167)
Localidades Uso de tu vs. você Concordância verbal com o pronome tu
Percentual Peso Relativo Percentual Peso Relativo
Florianópolis/SC 76% 0,32 43% 0,85
Ribeirão da Ilha/SC 96% 0,78 60% 0,91
Porto Alegre/RS 93% 0,61 7% 0,35
Região Sul 
(sem Curitiba) 87% 40%
FONTE: Görski e Coelho (2012, p. 146)
Agora, a partir da análise feita e dos estudos realizados, classifique V para as 
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O pronome de segunda pessoa do singular é um fenômeno variável que 
se realiza por meio de duas variantes (tu e você), o que revela o término 
de uma mudança linguística. 
( ) A variante TU está encaixada na Região Sul (Florianópolis, Ribeirão da Ilha/
SC e Porto Alegre /RS), sendo a mais usada para expressar segunda pessoa 
do singular, embora haja variação para VOCÊ em 13% das ocorrências.
89
( ) A variável de concordância verbal com o pronome TU tem como variantes 
a presença de marca de concordância (tu vais, tu foste...) e ausência de 
marca de concordância (ex.: tu vai, tu foi). 
( ) A Região Sul (Florianópolis, Ribeirão da Ilha/SC e Porto Alegre /RS) parece 
avaliar negativamente a ausência de marca de concordância verbal com o 
pronome TU, impedindo umamudança linguística de se completar.
3 Explique e exemplifique a afirmação “toda mudança linguística implica 
variação, mas nem toda variação resulta em uma mudança linguística”. 
4 Ao longo deste tópico, você conheceu os cinco problemas e princípios 
empíricos para uma teoria da variação e mudança linguística: I. Fatores 
condicionantes; II. Encaixamento da variação; III. Avaliação das mudanças; 
IV. Transição; V. Implementação. Relacione as colunas, indicando cada 
problema com sua devida explicação:
I- Fatores condicionantes
II- Encaixamento da variação
III- Avaliação das mudanças
IV- Transição
V- Implementação
( ) Estuda a atitude social quanto à variante 
para a determinação de uma mudança 
linguística.
( ) Busca identificar os fatores linguísticos 
e sociais como condicionantes para a 
variação e mudança linguística.
( ) Analisa por que uma mudança linguística 
em certa estrutura ocorre em dado 
momento, mas em outra língua não.
( ) A partir dos condicionantes, descreve a 
variação e a mudança linguística em uma 
comunidade de fala.
( ) Observa e descreve uma mudança 
linguística em curso.
5 A metodologia de pesquisa na sociolinguística variacionista parte da 
necessidade de utilizar como corpus de análise de dados de fala reais, 
tratados qualitativa e quantitativamente. Nesta questão, gostaríamos de 
propor a você a elaboração de quatro etapas de pesquisa, que você poderá 
desenvolver com o acompanhamento de seu professor. Defina:
I- Seleção de um fenômeno linguístico variável.
II- Delimitação da comunidade de fala.
III- Reconhecimento de todas as possibilidades de produção que estão em variação.
IV- Levantamento de hipóteses sobre as variáveis condicionadoras (linguísticas 
e sociais).
6 A avaliação das variantes linguísticas é social e tem sido observada a partir 
dos traços linguísticos graduais e descontínuos. Assinale a alternativa 
CORRETA que apresenta um grupo de traços descontínuos:
90
a) ( ) Praca (placa); Escrevê (escrever).
b) ( ) Pexe (peixe); pobrema (problema).
c) ( ) Home (homem); Deiz (dez).
d) ( ) Arvre (árvore); Têia (telha).
e) ( ) Os Menino (os meninos); Oro (ouro).
7 (ENADE, 2014) Leia o texto a seguir.
Restos
Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve 
ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu 
vim catar verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão 
por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra 
comer… Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. 
Quase desmaiei, até.
Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, 
imagina: fiquei de pernas bamba. Me deu até tontura. Acho que também 
por causa do fedor… Uma carniça que só o senhor cheirando pra saber. Mas 
eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa 
lixeira! Nessa aqui! Coitadinho… Deve ter se esgoelado de tanto chorar. 
A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, 
cheinha de tapuru. Eu nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei 
morrendo de pena… E de medo, também… Os olho… É do que mais me 
alembro… Esbugalhado, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai! 
Soltei um berro e saí correndo.”
FONTE: SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação linguística e texto literário: perspectivas 
para o ensino. Cadernos do CNLF, v. XIV, n. 4, t. 4, 2010, p. 3310 (com adaptações).
Considerando a variedade linguística utilizada pela personagem do texto, 
analise as afirmativas a seguir:
I- A redução do verbo “estar”, como em “tá” e “tava”, é uma característica 
evidenciada na fala de sujeitos escolarizados e não escolarizados.
II- A eliminação da marca de plural, como em “os pedaço” e “pernas bamba”, 
é um traço das variedades linguísticas populares faladas e escritas.
III- A prótese do fonema /a/ em “alembro” é uma característica associada à 
história da língua portuguesa.
É correto o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
91
8 (ENADE, 2011)
O caso é caracterizado na língua como rotacismo, ou seja, um processo de 
mudança em que se emprega o /r/ no lugar de /l/ nos vocábulos. Embora seja 
inadequado à norma padrão da língua, esse processo é bastante frequente 
em variedades de menor prestígio social. Acerca desse tema, avalie as 
informações a seguir:
I- As diferenças entre variedades da língua, como a exemplificada pelo 
rotacismo, não devem ser consideradas mero fator de preconceito 
linguístico; dado que este é um dos fatores que favorecem a unidade 
linguística de uma comunidade.
II- O rotacismo é bem aceito por todos os falantes e é empregado de forma 
ampla nos diversos grupos sociais, sendo uma das mudanças que se está 
generalizando no português brasileiro.
III- O processo de rotacismo é decorrente de diferenças sociais recentes, que 
estão permitindo o surgimento de dialetos paralelos ao português padrão 
e utilizados por falantes em ascensão social.
IV- O processo de rotacismo não é novo na língua e já ocorria no período de 
passagem do latim vulgar para o português, como no caso de /plicare/ > /
pregar/.
É CORRETO o que se afirma apenas em:
a) ( ) I e II. 
b) ( ) I e IV. 
c) ( ) II e III. 
d) ( ) I, III e IV. 
e) ( ) II, III e IV.
'Praca cronada'
Ladrão de carros derrapa no Português 
e é preso pela polícia por causa de uma 
placa clonada
Disponível em: <http://www.xapeco.com.br/praca-cronada/> Acesso em: 19. ago. esp. 2011.
92
9 (ENADE, 2008)
Canção
Nunca eu tivera querido
Dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca
e depois no teu ouvido
 
Levou somente a palavra
Deixou ficar o sentido
O sentido está guardado
no rosto com que te miro
neste perdido suspiro
que te segue alucinado
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado
 
Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste
Essa tristeza não viste
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também.
FONTE: MEIRELES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1993, p. 118.
Em qual das opções a seguir as duas palavras do texto estão sujeitas à redução 
do ditongo, fenômeno frequente no português falado no Brasil?
a) ( ) “eu” e “bateu-me”. 
b) ( ) “guardado” e “viu”. 
c) ( ) “louca” e “beijo”. 
d) ( ) “depois” e “sei”. 
e) ( ) “ninguém” e “bem”.
10 (ENADE, 2008) 
Com relação aos estigmas linguísticos, vários estudiosos contemporâneos julgam 
que a forma como olhamos o "erro" traz implicações para o ensino de língua. A 
esse respeito, leia a seguinte passagem, adaptada da fala de uma alfabetizadora 
de adultos, da zona rural, publicada no texto Lé com Lé, Cré com Cré, da obra 
O Professor Escreve sua História, de Maria Cristina de Campos. "Apresentei-
lhes a família do ti. Ta, te, ti, to, tu. De posse desses fragmentos, pedi-lhes que 
formassem palavras, combinando-os de forma a encontrar nomes de pessoas 
ou objetos com significação conhecida. Lá vieram Totó, Tito, tatu e, claro, em 
meio à grande alegria de pela primeira vez escrever algo, uma das mulheres 
me exibiu triunfante a palavra teto. Emocionei-me e aplaudi sua conquista e 
93
convidei-a a ler para todos. Sem nenhum constrangimento, vitoriosa, anunciou 
em alto e bom som: “teto é aquela doença ruim que dá quando a gente tem um 
machucado e não cuida direito”.
O fenômeno sociolinguístico constituído pela passagem da proparoxítona 
“tétano” para a paroxítona “teto”, na variedade apresentada, é observado 
também no emprego de:
a) ( ) “figo” em lugar de fígado, e “arvre” em vez de árvore.
b) ( ) “paia” em lugar de palha, e “fio” em lugar de filho.
c) ( ) “mortandela” em lugar de mortadela, e “cunzinha” em vez de cozinha.
d) ( ) “bandeija” em lugar de bandeja, e “naiscer” em lugar de nascer.
e) ( ) “vende” em lugar de vender, e “cantá” em vez de cantar.
94
95
TÓPICO 2
ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS 
LINGUÍSTICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃOAo longo desta unidade, temos discutido os processos envolvidos no 
estudo da variação e da mudança linguística. Além disso, depreendemos o 
quão importante é compreender tais questões para que possamos chegar à 
escola munidos de subsídios que nos auxiliem no trabalho com as diferentes 
variedades faladas pelos alunos. O que vimos até o momento, contudo, leva 
em conta a variação dentro de uma mesma língua. Neste tópico, ampliaremos a 
discussão e partiremos para a reflexão sobre alternância de línguas, bilinguismo 
e estratégias linguísticas, tópicos de discussão situados na macrossociolinguística 
(ou sociologia da linguagem).
Dentre os vários fenômenos presentes nas interações linguísticas e 
sociais, destacamos a alternância de línguas (em inglês code-switching). O code-
switching, fenômeno que consiste no uso de duas ou mais línguas, é considerado 
um fenômeno linguístico natural, pois surge nas interações conversacionais de 
pessoas bilíngues.
A alternância de línguas é compreendida como uma estratégia de adaptação 
comunicativa, empregada de forma criativa pelos falantes bilíngues, por meio do 
uso de uma ou de outra língua de acordo com os elementos particulares de cada 
situação comunicativa.
No Tópico 2 desta unidade, apresentaremos alguns conceitos de 
alternância de línguas, além de uma breve reflexão sobre estratégias linguísticas, 
dialogando com as definições de bilinguismo, visto que este fenômeno emerge 
das interações de sujeitos bilíngues. Com o intuito de enriquecer e ampliar a 
nossa aprendizagem sobre este tema, que envolve uma mistura de línguas, e por 
estarmos alinhados à sociologia da linguagem, apresentaremos também, neste 
tópico, uma definição concisa de translinguagem, por ser um conceito que vem 
sendo bastante discutido dentro do campo de pesquisas linguísticas e por divergir 
das concepções encontradas na literatura científica sobre alternância de línguas. 
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
96
Em português, code-switching pode ser traduzido por alternância de códigos ou 
alternância de línguas. Neste livro, escolhemos usar o segundo termo (alternância de línguas), 
tendo em vista a concepção de língua que embasa nosso trabalho, língua como prática social 
e não enquanto código, assunto que abordaremos ainda de maneira mais ampla.
IMPORTANT
E
2 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS
Conforme mencionamos no início desta unidade, a alternância de línguas 
é uma estratégia linguística em que o sujeito bilíngue insere itens lexicais (ou 
sentenças inteiras) de duas ou mais línguas e dialetos. 
Antes de falarmos sobre alternância de línguas, consideramos importante 
apresentar a definição de bilinguismo a que nos alinhamos neste livro e nas 
nossas práticas cotidianas. Entendemos o bilinguismo como um fenômeno 
político-linguístico que envolve o uso de diferentes línguas e experiências 
vivenciadas nessas línguas. A visão de bilinguismo que trazemos não se reduz 
à somatória de duas línguas, isto é, primeira e segunda línguas. A visão de 
bilinguismo que trazemos aborda todas as línguas que compõem o repertório do 
falante, sendo essas línguas caracterizadas dentro de um contexto multilíngue. 
Por isso, procuramos situar a construção do conceito de alternância de línguas 
para chegarmos à translinguagem. 
Compreendemos multilinguismo como um contexto no qual várias línguas, 
dialetos e falares coexistem numa comunidade. É importante deixar claro que nem 
sempre uma sociedade multilíngue possui falantes plurilíngues, visto que o multilinguismo 
está relacionado com a língua, com a cultura e com os usos da língua, enquanto que o 
plurilinguismo trata das habilidades linguísticas de um sujeito falar várias línguas.
Com relação aos conceitos “língua” e “dialeto”, que são melhores compreendidos dentro 
da linguística, eles se aplicam a aspectos diferentes, embora estes termos não sejam 
opostos. Entendemos língua como meio comum de comunicação entre pessoas de uma 
comunidade, podendo ser modificada por seus falantes nativos. Diferente da concepção 
estruturalista da língua de Saussurre e da concepção estritamente mentalista de Chomsky 
– os quais estudam a língua sem considerar o contexto de uso –, compreendemos a língua 
como um fenômeno ideológico e indissociável do seu contexto de uso. Já o dialeto é 
entendido como uma língua realizada numa região específica, tratando-se de uma 
variedade linguística, como uma realização da língua.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
97
De acordo com Grosjean (1982, p. 145), a alternância de línguas diz 
respeito ao “uso alternado de duas ou mais línguas no mesmo enunciado ou 
interação”. Segundo o autor, uma única palavra, uma sentença ou mesmo várias 
sentenças podem ser alternadas durante uma mesma interação conversacional.
A alternância de línguas tem sido descrita pelos pesquisadores como 
algo natural e inerente à condição de falante de mais de uma língua. Durante 
a conversação, os falantes bilíngues fazem escolhas linguísticas, observando as 
vantagens e desvantagens de usar uma ou outra língua (GROSJEAN, 1982). 
John Gumperz, um dos precursores do estudo de alternância de línguas, 
define o fenômeno como “a justaposição dentro do mesmo fragmento de fala 
de passagens pertencentes a dois sistemas ou subsistemas gramaticais distintos” 
(GUMPERZ, 1982, p. 59). Para o autor, falantes bilíngues alternam as línguas 
durante a comunicação e essa estratégia é parte central da interação entre os 
indivíduos bilíngues.
No entanto, embora falantes bilíngues possam lançar mão de diversos 
elementos linguísticos de diferentes línguas nas interações comunicativas, 
constituindo tal ação como uma estratégia comunicativa, esta prática não se realiza 
de forma casual, pois existem várias razões que fundamentam a alternância de 
línguas (EMMOREY et al., 2008; GROSJEAN, 1982).
No quadro a seguir, apresentamos alguns motivos e/ou funções que levam 
os falantes a alternarem as línguas nas interações comunicativas. Depois da leitura 
do quadro, você encontrará explicações mais aprofundadas para esses fenômenos.
QUADRO 6 – ALGUNS MOTIVOS PELOS QUAIS AS PESSOAS ALTERNAM LÍNGUAS
FONTE: Adaptado de Grosjean (1982) e Gumperz (1982)
Autores Como ocorre a alternância Motivo da alternância
GROSJEAN 
(1982)
Preenchimento lexical,
citar alguém ou especificar o 
interlocutor;
qualificar a mensagem, com o intuito de 
torná-la mais ampla ou com mais ênfase.
Transmitir intimidade, 
aborrecimento, bem como marcar a 
identidade com o grupo.
GUMPERZ
(1982)
Personalizar a mensagem, destacando o 
envolvimento do falante;
citações;
especificação do interlocutor.
Excluir alguém da conversa;
incluir alguém na conversa;
modificar o papel do falante;
interjeições,
qualificação da mensagem.
A seguir, apresentaremos alguns exemplos que envolvem preenchimento 
lexical, marcação de identidade e interjeições presentes na alternância de línguas:
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
98
a) Preenchimento lexical em alternância de línguas inglês – português (OLIVEIRA, 
2000, p. 70)
 I felt so much saudade after he left.
 (Eu senti tanta saudade depois que ele partiu.)
b) Marcação de identidade do grupo em alternância de línguas inglês – espanhol 
(GUMPERZ; HERNÁNDEZ-CHAVEZ, 1978, p. 296)
a. Mulher: Well, I’m glad that I met you. OK?
b. (Bom, gostei de te conhecer. OK?)
 Homem: Andale, pues, and do come again.
 (OK, e volte novamente.)
c) Função de interjeição em alternância de línguas dinamarquês – turco 
(JORGENSEN, 2005, p. 395)
a. Snak ordentlig jeg smadrer dig.
(Fale corretamente ou eu te bato)
b. Tamam. Jeg snakker meget ordentlig.
(OK. Eu falo muito corretamente.)
Um ponto que vale destacarmos é que as concepções de alternância de 
línguas, hoje, sofrem críticas em diferentes campos da linguística, uma vez que a prática 
linguística que alterna as línguas não se limita na soma de uma língua à outra (ou de 
um elemento de uma língua à outralíngua). Por isso, para lidarmos com as situações de 
bilinguismo nas quais identificamos certa interferência entre as línguas, tratamos de práticas 
translíngues (conceito que complementa a alternância de línguas), como veremos adiante.
IMPORTANT
E
Dependendo do contexto, monolíngue ou bilíngue, a alternância das 
variantes pode ser menos ou mais complexa. Em situações monolíngues, o falante 
pode alternar a variante da língua que utiliza de acordo com três variáveis. A 
primeira acontece com base em fatores pragmáticos, dependendo sempre do cenário 
e da situação que o sujeito está envolvido. A segunda, com base nos interlocutores, 
isto é, idade, sexo, ocupação, status socioeconômico, origem, além de seus papéis 
sociais em relação ao outro participante da interação. A terceira acontece de acordo 
com o tópico da conversa entre os interlocutores (ERVIN-TRIPP, 1964).
Em contextos bilíngues, essa alternância é mais complexa, pois os aspectos 
pragmáticos permitem que o indivíduo escolha, em cada situação interacional, 
não somente por variantes de uma mesma língua, mas também por línguas 
diferentes. Em situações bilíngues, os falantes podem variar o uso de acordo com 
três variáveis, a saber: 
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
99
I- O pertencimento do sujeito ao grupo. Isto envolve critérios como idade, sexo 
e religião.
II- A relevância da situação, no tocante aos interlocutores, ao ambiente físico e 
aos estilos do discurso dos participantes.
III- A relação com o tópico, pois dependendo do assunto, os falantes podem variar 
na escolha das línguas. 
É importante ressaltarmos que a escolha de uma língua pelo falante não ocorre 
necessariamente em detrimento de uma outra. Conforme Grosjean (1982), esta escolha, 
que acontece por meio ou não da alternância de línguas, se dá através de dois estágios que 
envolvem falantes monolíngues e bilíngues: 
I- No primeiro, o falante bilíngue, ao interagir com um monolíngue, escolhe inicialmente a 
língua que usará na interação. 
II- No segundo estágio, o falante bilíngue, que interage com outro falante bilíngue, decide, 
mesmo que de maneira inconsciente, se vai ou não alternar entre as línguas.
IMPORTANT
E
Para clarificar esta proposição, apresentamos a figura a seguir, de acordo 
com a proposta de Grosjean (1982):
FIGURA 3 – ESTÁGIOS DE ESCOLHA DE LÍNGUAS
 FONTE: Grosjean (1982, p.129)
Falante bilíngue em interação com
falante monolíngue falante bilíngue
utiliza utiliza
L1 L2 L1 L2
Escolha da
Língua
Code-
Switching
com
code-
Switching
com
code-
Switching
sem
code-
Switching
sem
code-
Switching
A figura é composta por traços e parênteses para mostrar a interação de 
falante monolíngue e bilíngue. Do lado esquerdo da figura, há a divisão e ligação 
por meio de traços para indicar que o falante monolíngue fala a L1 e a L2 sem 
alternar as línguas. No meio, existe uma imagem ligada por traços mostrando o 
falante bilíngue, usuário de duas línguas, isto é, L1 e L2, e que faz uso ou não da 
alternância de línguas. 
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
100
Ao aprender uma segunda língua, vivenciamos diferentes situações com 
e na língua que está sendo estudada. Uma das situações relacionadas com este 
contexto de aprendizagem é a alternância de línguas, considerada um fenômeno 
natural, que não deve ser confundida com erro ou ausência de conhecimento na 
língua em estudo.
É importante ainda esclarecer que a alternância de línguas segue uma 
concepção de uso das línguas de maneira hierárquica, ou seja, as línguas que o falante 
aprende e usa são vistas como um somatório, por exemplo, L1+L2+L3. Na interação, o 
falante decide e alterna a língua que fará parte da comunicação.
IMPORTANT
E
O profissional da área de Letras deve estar preparado para atuar e lidar 
com a diversidade sociolinguística brasileira, uma vez que poderá atuar em 
escolas situadas em contextos indígenas, de imigração e com a comunidade 
surda. Esta experiência, certamente, desvelará, no uso da língua portuguesa, o 
bilinguismo de seus falantes, que revela mais uma prática de translinguagem que 
necessariamente uma alternância de línguas, como veremos adiante.
Enfatizamos também que o conceito de alternância de línguas trouxe 
benefícios para os estudos sociolinguísticos, mas hoje são problematizados quando 
pensamos nas práticas linguísticas de maneira mais ampla, isto é, quando pensamos na 
diversidade linguística presente na sociedade, que se traduz por meio dos muitos falares e 
usos das línguas.
IMPORTANT
E
A seguir, apresentaremos o conceito de bilinguismo e de translinguagem 
como definições que divergem do conceito de alternância de línguas.
TÓPICO 2 | ALTERNÂNCIAS DE LÍNGUAS, BILINGUISMO E ESTRATÉGIAS LINGUÍSTICAS
101
2.1 ALTERNÂNCIA DE LÍNGUAS E BILINGUISMO 
Desde o início da nossa discussão neste tópico, estamos citando o 
termo “bilíngue” ou “falantes bilíngues”. Afinal, qual o conceito de bilíngue? 
Responderemos esta questão partindo de concepções distintas de bilinguismo 
defendidas por diferentes linguistas: Bloomfield, Grosjean e García.
Bloomfield (1979) define o bilinguismo como a junção de duas línguas, 
como uma somatória de dois monolíngues, o que problematizamos nos estudos 
da linguística aplicada e sociologia da linguagem. Para Grosjean (1982), em 
contrapartida, o bilíngue é o indivíduo que usa duas ou mais línguas em sua 
vida cotidiana, e este uso muda de acordo com os diferentes domínios da vida, 
como a casa, a universidade, a interação com familiares e amigos. Um falante 
brasileiro de guarani (língua indígena) e português brasileiro, por exemplo, 
dificilmente utilizaria a língua guarani na universidade, embora possa ser a língua 
que melhor atenda suas realidades interacionais na esfera familiar ou religiosa.
García (2009) apresenta um conceito de bilinguismo que se aproxima ao de 
Grosjean (2010) e, por conseguinte, se distancia de Bloomfield (1979): o bilíngue 
é alguém que possui um repertório de diferentes línguas e tem experiências 
diversas em cada uma delas. Para a autora, os falantes bilíngues não têm 
simplesmente dois recipientes externos com duas línguas (como parece entender 
Bloomfield), mas um repertório linguístico maior, um sistema de linguagem, 
com características que interagem entre si para impulsionar os desempenhos 
linguístico e cognitivo (GARCÍA, 2009).
Observe que as definições de Grosjean, com ênfase na definição de García, 
divergem da concepção de alternância de línguas, estudada anteriormente. 
Isto porque o conceito de García e Grosjean, o qual defendemos neste material 
didático, não se refere ao falante bilíngue como alguém que intercala as 
línguas nas interações – como aparece na alternância de línguas. Ao contrário, 
o falante faz uso das diferentes línguas do seu repertório sem monitorar ou 
hierarquizar a língua em uso. 
O que isto quer dizer? É que existe uma diferença marcante entre a 
alternância de línguas e a translinguagem, que é a pressuposição de que 
as línguas envolvidas na alternância são sistemas autônomos e distintos. 
Translinguagem se refere a construções linguísticas criativas por parte dos 
falantes bilíngues na produção e negociação de sentido para atingir seus 
propósitos comunicativos (GARCÍA, 2009).
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
102
Na perspectiva das práticas translíngues, o falante pode adotar recursos 
linguísticos de diferentes comunidades, sem que tenha que comprovar uma competência 
“perfeita” nas línguas que estão em uso, ou seja, ele pode “misturar” as diferentes línguas 
que conhece sem se preocupar em falar “bem” a língua em uso.
IMPORTANT
E
Todo falante bilíngue carrega marcas do seu bilinguismo e isso não 
significa dizer que ele fala alguma das línguas de forma errada, ele está apenas 
realizando práticas de translinguagem com as línguas que conhece. Como 
exemplo,trazemos os descendentes de imigrantes alemães no Brasil que utilizam 
expressões que são comuns nas construções sintáticas alemãs para a produção 
de sentenças em língua portuguesa, tais como: (i) Preciso estudar para as provas 
finais uma vez; ou uso de léxico de uma língua em outra devido ao valor distintivo 
que apresenta (ii) Eu gosto de chimia de ovo no meu pão.
É importante não confundir a translinguagem com a simples alternância entre 
as línguas que o falante conhece. Para García (2009), as alternâncias de línguas referem-
se às alternâncias de línguas nomeadas. A definição externa de quais línguas devem ser 
faladas ou de quais línguas devem ser alternadas é dada pelos estados e pelos sistemas 
escolares. Enquanto que a translinguagem incide sobre as estratégias de negociação de 
sentidos, e não unicamente sobre as formas estruturais da língua.
IMPORTANT
E
Neste livro didático, partimos do pressuposto de que as perspectivas das 
práticas translíngues não invalidam o conceito de alternância de línguas – recurso 
produtivo e estratégico nos estudos de bilinguismo –, mas o complementa, 
compreendendo que a grande diferença entre estas concepções reside no conceito 
de “língua” que subjaz a essas definições. A alternância de línguas alinha-se à 
concepção de língua como um sistema abstrato, isto é, um sistema homogêneo 
e fixo, enquanto que a prática translíngue alinha-se à concepção de língua como 
prática social, ou seja, a língua é vista como heterogênea, fluida e os aspectos 
culturais, sociais dos falantes são considerados.
103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Dentre os vários fenômenos presentes nas interações linguísticas e sociais, 
apresentamos a alternância de línguas (em inglês code-switching) como um 
fenômeno linguístico natural, que surge nas interações conversacionais de 
pessoas bilíngues, no uso de duas ou mais línguas.
• Apresentamos também, de acordo com Grosjean (1982) e Gumperz (1982), 
alguns motivos e/ou funções que levam os falantes a alternarem as línguas 
nas interações comunicativas, bem como alguns exemplos que envolvem 
preenchimento lexical, marcação de identidade e interjeições presentes na 
alternância de línguas.
• O conceito de alternância de línguas é um recurso produtivo e estratégico nos 
estudos de bilinguismo, mas o conceito de translinguagem o complementa.
• Atrelado a estes aspectos acerca da alternância das línguas, destacamos dois estágios 
que envolvem falantes monolíngues e bilíngues: I. o primeiro voltado à interação 
de um falante bilíngue com um monolíngue, que escolhe inicialmente a língua que 
usará na interação; II. segundo estágio, voltado à interação do falante bilíngue com 
outro falante bilíngue, que decide, mesmo que de maneira inconsciente, se vai ou 
não alternar entre as línguas em uma interação comunicativa. 
• Trouxemos algumas definições de bilinguismo, a começar com a de 
Bloomfield (1979), que conceitua o termo como a somatória de duas línguas 
(BLOOMFIELD, 1979). Apresentamos também outra concepção, com a qual 
nos alinhamos: a de Grosjean (2010) e a de García (2009).
• Grosjean (2010) afirma que o bilíngue é o indivíduo que usa duas ou mais línguas 
em sua vida cotidiana, e este uso muda de acordo com os diferentes domínios da 
vida, como a casa, a universidade, a interação com familiares e amigos.
• Somada à visão de Grosjean, destacamos a de García (2009), que assevera 
que o bilíngue é alguém que possui um repertório de diferentes línguas e 
tem experiências diversas em cada uma delas. Os falantes bilíngues não têm 
simplesmente dois recipientes externos com duas línguas, mas um repertório 
linguístico maior, com características que interagem entre si para impulsionar 
os desempenhos linguístico e cognitivo.
104
• Em complementação à definição de alternância de línguas, apresentamos, de 
maneira sucinta, o conceito de translinguagem, que se refere às construções 
linguísticas criativas, recursos linguísticos, por parte dos falantes bilíngues na 
produção e negociação de sentido para atingir seus propósitos comunicativos, 
sem a preocupação de possuir uma competência “perfeita” no uso da língua 
(GARCÍA, 2009).
105
AUTOATIVIDADE
1 A partir do texto apresentado, você pôde conhecer alguns temas relacionados 
à área de ensino de línguas e seus usos. Para auxiliar sua aprendizagem 
nessa disciplina, montamos para você um roteiro de leitura, com o qual você 
poderá registrar suas inferências a partir das seguintes perguntas:
a) O que você compreendeu sobre alternância de línguas e quais as razões que 
conduzem os falantes a esse fenômeno?
b) De acordo com o que estudamos nesse tópico, descreva uma situação de 
alternância de línguas que você poderia presenciar na escola. 
c) De acordo com Fishman (1965), em situações bilíngues, os falantes podem 
variar o uso da alternância de línguas de acordo com três variáveis. Quais 
são essas variáveis?
d) Qual o conceito de bilíngue apresentado no texto, de acordo com García (2009)?
e) Qual a diferença entre translinguagem e alternância de línguas?
106
107
TÓPICO 3
O MITO DO MONOLINGUISMO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, apresentamos alguns conceitos de alternância 
de línguas, dialogando com as definições de bilinguismo e translinguagem, 
uma vez que consideramos que este fenômeno é oriundo e está presente nas 
interações de sujeitos bilíngues. 
Apresentamos também algumas razões que levam os falantes bilíngues a 
alternarem os usos das línguas nas práticas de translinguagem. Este uso, de caráter 
heterogêneo, nos mostra que diferentes grupos sociais fazem uso de diversas 
línguas e, respectivamente, possuem diferentes culturas, identidades e ideologias. 
Diante de uma realidade linguística composta por várias línguas e 
diversos falantes dessas línguas, refletiremos, neste tópico, sobre o mito do 
monolinguismo, isto é, a ideia ainda presente de que existe uma única língua 
nos contextos sociais, bem como as ideologias subjacentes a este mito. Vamos 
iniciar a nossa reflexão? 
2 O MITO DO MONOLINGUISMO NO BRASIL
O Estado brasileiro, por muito tempo, estabeleceu um ideário nacional 
fundamentado em uma única língua, falada de uma única maneira (a língua 
portuguesa), e uma identidade comum aos brasileiros, atribuindo destaque ao 
mito ou à crença do monolinguismo, desconsiderando, consequentemente, todas 
as outras línguas, culturas e identidades existentes no país. 
O mito do monolinguismo, historicamente estabelecido no Brasil, 
ressalta o preconceito, o desconhecimento da realidade e um projeto político 
de se construir um país com uma língua legítima (OLIVEIRA, 2000). Os fatos 
subjacentes à concepção histórica e ideológica de que no Brasil se fala uma única 
língua trazem a ideia de que a unidade nacional só seria possível numa base 
unilíngue, o que possibilitaria aos falantes da língua portuguesa uma convivência 
amigável e harmoniosa, visto que se entenderiam perfeitamente. Para Bagno e 
Rangel (2005, p. 77):
108
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
A história da formação da sociedade brasileira revela o empenho 
constante, por parte das camadas sociais dominantes, de criar 
a imagem de um país monolíngue, onde todos os habitantes se 
entendem perfeitamente e vivem, por isso, em total harmonia. O mito 
da língua única, para se constituir, exigiu ao longo da história uma 
política linguística essencialmente autoritária, consubstanciada em 
medidas repressoras […].
Essa concepção política homogeneizante e repressora de imposição 
do português como única língua legítima do país é refutada nos dias atuais 
pelas comunidades linguísticas brasileiras, por meio de ações, instrumentos e 
políticas que enfatizam a legitimação das línguas dessas comunidades, sejam elas 
indígenas, línguas de sinais, de fronteiras ou dos imigrantes. 
Com o advento da Declaração Universal dos Direitos Linguísticos 
(UNESCO, 2006), as comunidades linguísticas ganharam uma proteção 
internacional importante,que toma como ponto de partida as comunidades 
e não os Estados. A Declaração concebe que uma organização linguística 
deve estar baseada no respeito, na diversidade, na convivência e no benefício 
recíproco, manifestando-se contrária aos interesses próprios do Estado e da 
comunidade linguística que queira prevalecer sobre outra, pois “baseia-se no 
princípio de que os direitos de todas as comunidades linguísticas são iguais 
e independentes do seu estatuto jurídico ou político como línguas oficiais, 
regionais ou minoritárias” (Art. 5 º).
Com relação ao conceito de comunidade linguística, a Declaração a define 
como toda sociedade humana historicamente situada em um território geográfico 
estabelecido, seja ele reconhecido ou não, que se autoidentifica como povo e 
que desenvolve uma língua compartilhada entre seus membros como meio de 
comunicação natural e coesão cultural entre eles, determinando, desta forma, 
uma territorialidade geográfica e simbólica para a língua da comunidade.
Artigo 1º
Esta Declaração entende por comunidade linguística toda sociedade 
humana que, assentada historicamente em um espaço territorial 
determinado, reconhecido ou não, se autoidentifica como povo e 
desenvolve uma língua comum como meio de comunicação natural e 
coesão cultural entre seus membros. A denominação língua própria de 
um território faz referência ao idioma da comunidade historicamente 
estabelecida neste espaço (UNESCO, 2006, s.p.).
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
109
Você sabe quantas línguas são faladas no Brasil? O INDL (Inventário Nacional 
de Diversidade Linguística) se ocupa com a identificação, documentação, reconhecimento 
e valorização das línguas faladas pelos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira. Dentre os diferentes setores da sociedade atuantes para inclusão das línguas 
como patrimônio cultural do Brasil, estão as Universidades, que, especialmente por meio de 
pesquisas da pós-graduação, levantam os dados sociolinguísticos dos diferentes cenários 
nacionais. Acesse o portal do INDL e saiba mais sobre a diversidade de línguas faladas no 
nosso país. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/indl.
DICAS
Dados sobre a existência da diversidade linguística e cultural no Brasil 
podem ser notados através da presença de diferentes línguas no país, pois há, em 
média, mais de 200 línguas atualmente (OLIVEIRA, 2000), sejam elas indígenas, 
crioulas, de imigração e línguas de sinais. Essa diversidade enfraquece o mito 
do monolinguismo, fomenta a necessidade de discussão e o reconhecimento 
do caráter multilíngue do país, bem como destaca a importância de políticas e 
planejamentos linguísticos que conscientizem a população brasileira desse status 
e propiciem o conhecimento de diferentes línguas, além de uma identificação 
linguística e cultural com a língua de acesso.
Quando se fala em diversidade linguística, muitas vezes, se pensa na 
diversidade interna à própria língua portuguesa, das variações presentes na 
língua, o que decorre, entre outras razões, do predomínio, no país, do mito de 
que aqui só se fala português (embora seja de fato a língua oficial do país). No 
entanto, cada vez mais, vemos que as sociedades contemporâneas estão sendo 
ocupadas e alteradas por um fluxo intenso de textos, línguas e culturas, recursos 
dos quais as pessoas fazem uso para interagir socialmente.
2.1 UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO SOBRE O MITO 
DO MONOLINGUISMO
No Brasil, ainda, tem-se difundido a ideologia do monolinguismo 
(CAVALCANTI, 1999), ou seja, a crença de que os brasileiros falam uma única 
língua. Neste sentido, as línguas dos grupos minoritários (as línguas de sinais, 
línguas indígenas, línguas de migração) são vistas como fora de um padrão, por 
se contraporem aos ideais nacionalistas. 
110
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
De acordo com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, 
a Ciência e a Cultura), a língua oficial é a língua utilizada no quadro das diversas atividades 
oficiais, isto é, as atividades legislativas, executivas e judiciais de um estado soberano ou 
território. A língua regional é a língua falada em uma determinada região ou localidade. 
Línguas minoritárias são as consideradas desprestigiadas, tais como as línguas indígenas, as 
de sinais, as línguas de imigrantes.
IMPORTANT
E
A concepção de língua única é oriunda principalmente de dois fatos 
históricos importantes do país, a saber: (i) a administração do Marquês de Pombal, 
por volta de 1750 e (ii) período da ditadura de Getúlio Vargas, entre 1937-1945. 
Com relação ao Marquês de Pombal, este acreditava que a língua indígena tupi-
guarani poderia ser uma ameaça aos colonizadores e também uma forte barreira 
para a constituição de um único povo. De igual maneira, Getúlio Vargas defendia 
a proibição do uso das línguas trazidas pelos imigrantes que vinham para o Brasil, 
como uma ameaça à identidade nacional. 
Para conhecer mais sobre as políticas de silenciamento linguístico do período 
ditatorial de Getúlio Vargas, assista ao documentário “Sem Palavras”, disponibilizado na 
plataforma Vimeo pelo link: https://vimeo.com/46396266
DICAS
A diversidade linguística sempre esteve presente na história do Brasil. 
Apesar deste fato, os governos sempre difundiram e reforçaram na sociedade a 
visão de um país monolíngue e homogêneo. Estas visões, presentes até hoje na 
sociedade, fomentam o preconceito linguístico com relação às línguas minoritárias 
(línguas de sinais, línguas indígenas, de imigração), bem como as variedades 
linguísticas presentes na língua portuguesa, impondo como aceitável apenas o 
uso do português padrão ou de um português idealizado. 
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
111
Para a sociolinguística, o termo “heterogêneo” caracteriza a língua como um 
fenômeno variável e dinâmico, considera, ainda, a variabilidade social e as diferenças no uso das 
variantes linguísticas correspondentes às diversidades dos grupos sociais. O termo “homogêneo”, 
por sua vez, considera a língua como um sistema fechado, fixo, com regras categóricas.
IMPORTANT
E
Com relação à compreensão do que vem a ser o preconceito linguístico, 
veja a tirinha a seguir:
FIGURA 4 – PRECONCEITO LINGUÍSTICO
FONTE: <https://redacaonline.com.br/blog/tema-de-redacao-preconceito-linguistico/>. 
Acesso em: 15 nov. 2019.
A imagem foi escolhida para exemplificarmos e refletirmos sobre uma 
atitude de preconceito linguístico. O homem, ao falar para a mulher a palavra 
“pobrema” numa situação de conquista amorosa, causou nela espanto e 
resistência de prosseguir a conversa, por ele não seguir uma norma padrão e fixa 
da língua portuguesa. A fala do homem revela a realidade brasileira no tocante à 
diversidade linguística e social. 
Marcos Bagno, autor do livro “Preconceito linguístico”, faz uma forte 
reflexão e crítica ao mito do monolinguismo e destaca o quanto é prejudicial 
para a sociedade, pois apaga a diversidade linguística no Brasil e fixa, nas escolas 
brasileiras, a ideia do erro quando os falantes falam ou escrevem diferente da 
norma padrão do português. A escola, por sua vez, acaba sendo um local de 
normalização e imposição de uma língua comum, quando não considera o falante 
juntamente à sua origem geográfica, idade, cultura, grau de escolaridade etc.
112
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
FIGURA 5 – LIVRO “PRECONCEITO LINGUÍSTICO”, DE MARCOS BAGNO
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Preconceito-Lingu%C3%ADstico-Cole%C3%A7%C3%A3o-
que-Como/dp/8515018896>. Acesso em: 18 ago. 2019.
Embora o tema ‘preconceito linguístico’ seja retomado e aprofundado na 
Unidade 3, você já pode procurar por referências de leitura. O livro “Preconceito linguístico” 
é uma importante referência para ampliar a compreensão e discussão sobre o preconceito 
linguístico no Brasil. Nessa obra, o autor traz discussões e propostas das ciências da 
linguagem e da educação, além de apresentar um discurso em favor de uma educação 
linguística voltadapara a inclusão social e para o reconhecimento e a valorização da 
diversidade cultural.
DICAS
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
113
2.2 IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS MONOLÍNGUES E LÍNGUA 
COMO PRÁTICA SOCIAL
O breve panorama histórico que apresentamos na seção anterior mostra 
que a constituição da concepção de língua única sempre esteve relacionada com o 
movimento colonial e suas aspirações políticas. Da Monarquia à República, sempre 
foi fomentada a construção, bem como o fortalecimento do monolinguismo, 
mesmo diante da diversidade linguística no Brasil.
Essas “crenças, ou sentimentos sobre as línguas como são usadas em seus 
mundos sociais” (KROSKRITY, 2004 apud LOPES, 2013) são um dos conceitos de 
ideologia linguística que problematizamos e que correspondem ao que estamos 
discutindo sobre a hegemonia da língua portuguesa em relação às outras línguas 
presentes na sociedade brasileira.
Compreendemos também como ideologia linguística “quaisquer 
conjuntos de crenças sobre a língua articulados pelos usuários como uma 
racionalização ou justificação de estrutura e uso linguístico percebidos” 
(SILVERSTEIN, 1979, p. 193). Ao observarmos as visões preconcebidas sobre a 
língua portuguesa em que se excluem as suas variedades, percebemos que existe 
uma concepção de uma única língua padrão na fala, desprestigiando os outros 
falares que fogem do que é considerado correto.
Um outro exemplo de crença e de ideologia linguística presente no Brasil 
é a visão sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Embora reconhecida como 
língua da comunidade surda brasileira, pela Lei nº 10.436/2002 e regulamentada 
pelo Decreto nº 5626/2005, muitas vezes ela não é vista como uma língua, mas como 
mímica, conjuntos de gestos e pantomimas ou como uma língua inferior ao português. 
Além disso, existem, com relação às línguas de sinais, alguns mitos 
recorrentes (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 31), que conferem a elas um estatuto 
linguístico inferior às línguas orais, a saber: 
Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as 
pessoas surdas. A língua de sinais seria uma mistura de pantomima 
e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. 
Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que 
seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura 
própria, subordinado e inferior às línguas orais.
114
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
FIGURA 6 – LIVRO “LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: ESTUDOS LINGUÍSTICOS”, DE RONICE 
MULLER DE QUADROS E LODENIR BECKER KARNOPP
FONTE: <https://www.amazon.com.br/L%C3%ADngua-Sinais-Brasileira-Estudos-
Ling%C3%BC%C3%ADsticos-ebook/dp/B016UWFVSW>. Acesso em: 18 ago. 2019.
O livro “Estudos Linguísticos” é uma das obras mais importantes sobre a Língua 
Brasileira de Sinais, pois as autoras descrevem detalhadamente os aspectos linguísticos em 
todos os níveis, desmistificando várias ideologias sobre as línguas de sinais.
DICAS
Pidgin é uma língua nascida do contato de outras línguas. Ela é criada de forma 
espontânea, a partir da mistura de duas ou mais línguas, servindo de apoio e comunicação 
para os falantes dessas línguas.
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | O MITO DO MONOLINGUISMO
115
Podemos citar também a ideologia sobre a língua espanhola no Brasil, 
vista como uma língua “parecida” ao português, portanto, “fácil” de ser falada 
pelos lusófonos. Além disso, muitos consideram que o espanhol “correto” é o 
falado na Espanha, em detrimento das múltiplas variedades da língua dentro da 
própria Espanha e dos países hispanofalantes.
Os conceitos apresentados sobre ideologia linguística, somados aos 
respectivos exemplos, nos mostram que a ideia de monolinguismo se associa 
a uma visão de língua única, pura e rígida, não aceitando a fluidez, os aspectos 
sociais, culturais e históricos que influenciam na fala e interação dos sujeitos. 
Conforme Blommaert (2014, p. 71):
[...] uma ideologia especializada em que a diversidade desconcertante 
que caracteriza a língua real em contextos reais (“fala”) pode ser 
reduzida a apenas um punhado de formas e regras que organizam 
as combinações de tais formas [...] que as regras são tudo o que há na 
língua, são “a língua” e ponto final. 
O texto “A ideologia do pan-hispanismo e o ensino do Espanhol no Brasil” é um 
texto relevante para a discussão de ideologias sobre a língua espanhola no Brasil. 
FONTE: <https://docplayer.com.br/32967368-A-ideologia-do-panhispanismo-e-o-ensino-
do-espanhol-no-brasil.html>. Acesso em: 18 ago. 2019.
DICAS
Contrapondo a ideologia monolíngue, apresentamos uma visão que 
busca desconstruir essa concepção totalizante de língua, ao considerar o falante 
como um agente da e na língua, levando em conta os aspectos sociais, culturais, 
históricos, ideológicos que o constroem enquanto sujeito, e que não se dissociam 
da língua em uso. 
Heller (1999) enfatiza a necessidade de mudar a visão sobre as línguas como 
sistemas autônomos e mover a sua concepção para discussões que privilegiem a 
língua como prática social, os falantes como atores sociais e as diferentes línguas 
envolvidas nas interações. 
Como prática social, entendemos que a língua se constitui no uso e nas 
interações dos falantes (GARCÍA, 2009; PENNYCOOK, 2010). Consideramos que 
a língua é um produto das atividades sociais e culturais nas quais as pessoas se 
envolvem (PENNYCOOK, 2010). 
116
UNIDADE 2 | ESTUDANDO AS VARIEDADES E OS CONTATOS LINGUÍSTICOS
Falar da língua como prática social é considerar o que acontece em um 
lugar particular e em momentos específicos, nos quais os falantes fazem uso de 
uma variedade de recursos semióticos do seu repertório linguístico, produzindo 
significados diversos (PENNYCOOK, 2010).
Esta visão de linguagem, como prática social, não só difere da concepção 
que considera a língua um instrumento de comunicação, vista como única e 
fixa, como também destaca a importância de direcionarmos o nosso olhar para a 
heterogeneidade e diversidade das línguas nas interações sociais.
117
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O mito do monolinguismo, historicamente estabelecido no Brasil, que ressalta 
o preconceito, o desconhecimento da realidade e um projeto político de se 
construir um país com uma língua legítima, é oriundo de dois fatos históricos 
importantes do país, a saber: (i) a administração do Marquês de Pombal, por 
volta de 1750 e (ii) o período da ditadura de Getúlio Vargas, entre 1937-1945.
• Ideologia linguística pode ser compreendida como qualquer conjunto de 
crenças sobre a língua articuladas pelos usuários como uma racionalização 
ou justificação de estrutura e uso linguístico percebidos, e que a ideologia 
monolíngue se associa a uma visão de língua única.
• O conceito de prática social se contrapõe ao de ideologia monolíngue e se 
constitui no uso e nas interações dos falantes, sendo um produto das atividades 
sociais e culturais nas quais as pessoas interagem.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
118
1 Na sua opinião, o contexto acadêmico tem sido um espaço de discussões e 
reflexões sobre preconceito linguístico? Descreva.
2 O que você entendeu sobre ideologias linguísticas? Explique apresentando 
exemplos.
3 Diante da concepção de língua como prática social, explique por que 
a ideologia monolíngue não se sustenta. Traga exemplos que deem 
sustentação à sua resposta.
AUTOATIVIDADE
119
UNIDADE 3
CONTRIBUIÇÕES DA 
SOCIOLINGUÍSTICA PARA A 
EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• retomar a sociologia da linguagem para refletir sobre o papel do 
multilinguismo brasileiro e das línguas em contato na educação linguística;
• refletir sobre os tipos de variedades linguísticas para a compreensão da 
heterogeneidade da língua portuguesa na educaçãobásica;
• discutir o tratamento dado à variação linguística nos materiais didáticos 
de língua portuguesa;
• discutir o conceito de preconceito linguístico frente aos comportamentos 
e atitudes sobre as línguas e seus falantes;
• introduzir o debate sobre política e planificação linguísticas.
Esta unidade está organizada em três tópicos. Neles, você encontrará dicas, 
textos complementares, observações e atividades que lhe darão maior 
compreensão dos temas a serem abordados.
TÓPICO 1 – O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE 
LÍNGUA PORTUGUESA
TÓPICO 2 – AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS 
E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS 
FALANTES
TÓPICO 3 – POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
120
121
TÓPICO 1
O TRATAMENTO DAS VARIEDADES 
NO ENSINO DE 
LÍNGUA PORTUGUESA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
No Tópico 3 da primeira unidade, vimos que a pedagogia culturalmente 
sensível corresponde ao trabalho com as diferenças culturais em contexto escolar, 
no qual cabe à professora ou ao professor de língua portuguesa identificar a 
variação linguística presente na sala de aula para conscientizar o estudante sobre 
as diferenças linguísticas. 
Neste tópico da Unidade 3, veremos que a pedagogia culturalmente 
sensível depende do tratamento dado à gramática em sala, às variações 
linguísticas e ao preconceito linguístico. Entendemos, pois, que as aulas de 
língua portuguesa, sob uma abordagem científica acima da normativa, precisa 
direcionar para a investigação dos fenômenos presentes na língua portuguesa 
não só idealizada em determinados manuais gramaticais, mas utilizada pelos 
falantes dessa língua. Essa prática, como observamos, é importante para o 
desenvolvimento da competência comunicativa e sociolinguística do aluno.
Também traremos à discussão, neste primeiro tópico, o tratamento 
dado à variação linguística nos livros didáticos de língua portuguesa, como 
os conceitos de norma e variação são abordados e de que forma buscam 
conscientizar estudantes da educação básica acerca da heterogeneidade da 
língua. Pronto para iniciar?
2 A GRAMÁTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
Ao longo da nossa conversa, vimos a importância sobre ultrapassarmos 
a noção de que a língua portuguesa, enquanto disciplina escolar, visa ao 
estudo exclusivo da gramática normativa, de uma forma descontextualizada e 
fragmentada. Nesse sentido, o estudo sobre regra gramatical continua, mas abrindo 
possibilidade para diferentes abordagens (como é o caso da abordagem descritiva 
da língua). Apesar da aparente “tranquilidade” que a abordagem normativa-
prescritiva representa para a maioria dos estudantes, pais e professores, sob uma 
falsa ideia de que sozinha possa garantir “um bom desempenho comunicativo”, 
vale considerarmos que é a descrição do uso real da língua que tem possibilitado 
a reflexão sobre as regras que regem seu “funcionamento”.
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
122
Faz parte do ensino da língua, na escola, o ensino de gramática, que não 
necessariamente precisará tomar um viés normativo, cuja função única seja de identificar 
erros e acertos nos usos linguísticos. Além disso, o ensino de gramática não se restringe ao 
ensino das nomenclaturas gramaticais, como ainda veremos nesta seção.
IMPORTANT
E
Mais importante que classificar palavras, frases, períodos “como se fossem 
coisas autônomas, com leis próprias e independentes de suas condições de uso” 
(ANTUNES, 2007, p. 75), é reconhecer o funcionamento das regras gramaticais 
da língua oral e escrita. Por conseguinte, esperamos que o estudante possa 
refletir que em situações de maior monitoramento, especialmente na escrita, 
as construções linguísticas poderiam (ou deveriam) ser diferentes da situação 
corriqueira de fala (ANTUNES, 2007).
Para saber mais sobre a fala e a escrita, recomendamos que assista ao vídeo 
do linguista brasileiro Luiz Antônio Marcuschi, do Departamento de Letras – CEEL UFPE. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XOzoVHyiDew.
DICAS
Considerando o que já estudamos, a concepção de que a língua é imutável 
ou inflexível é mítica, pois a língua assume variações, embora o falante não tenha 
total liberdade de escolha sobre essas variações (há condicionantes sociais e 
linguísticos para a variação).
E é por isso que as línguas são sistemas complexos. É que elas são 
providas de um componente – digamos – mais fixo que flexível [esse 
componente seria as regras gramaticais], e de outro mais flexível que 
fixo, à disposição do usuário, na dependência de mil e um fatores 
constituintes da situação de interação. Por exemplo, em português, a 
posição do artigo faz parte daquele componente rígido: vem sempre 
antes do substantivo; ou ainda, o artigo e o demonstrativo nunca vêm 
juntos, como em O este livro. Mas, muita coisa na língua se situa naquela 
zona de oscilação, cuja escolha por uma ou outra forma cabe ao usuário 
(por exemplo, Meu livro ou O meu livro, porcentagem ou percentagem). 
Alguém, ainda, dependendo da situação, pode optar por usar um 
adjetivo no superlativo (lindíssima) ou, para surtir o mesmo efeito, 
repetir o adjetivo, como em Ela é linda, linda! (ANTUNES, 2007, p. 72).
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
123
 Conforme pontua Antunes (2007, p. 72, grifos nossos), “todos os usos da 
língua são submetidos à aplicação de regras”, sejam eles pertencentes à norma padrão 
ou às diversas variedades linguísticas faladas por distintas comunidades. Por isso, insistimos 
que trabalhar com regras gramaticais na escola significa estudar normas que “regulam 
os usos que as pessoas fazem [da língua], nos mais diferentes contextos e com as mais 
diferentes finalidades” (ANTUNES, 2007, p. 72).
IMPORTANT
E
Além disso, vale alertá-lo, caro acadêmico, que nem sempre a noção de 
regra gramatical está clara nos materiais didáticos de língua portuguesa. Por isso, 
nesta disciplina de sociolinguística, procuramos lhe dar subsídios para reconhecer 
as regras gramaticais que se fazem presentes na língua portuguesa padrão e suas 
variedades.
Sobre essa questão, a linguista brasileira Irandé Antunes (2007) adverte 
acerca da confusão entre o estudo da regra gramatical e da nomenclatura 
gramatical nas atividades pedagógicas em língua portuguesa, inclusive em livros 
didáticos. Segundo a autora, “quando alguém está explorando as terminologias e 
nomenclaturas das diferentes classes de palavras, é comum ficar a impressão de 
que se está estudando gramática” (ANTUNES, 2007, p. 69), embora esteja apenas 
observando “rótulos, nomes das unidades da gramática” (ANTUNES, 2007, p. 70).
A promoção de atividades de análise e reflexão de regras gramaticais 
contempla o estudo das normas que especificam os usos da língua, sejam eles 
constituintes das variedades linguísticas mais prestigiadas ou não. Ao estudante, 
nesse contexto, é oportunizado o exercício de observação de regularidades da 
língua em diferentes níveis (fonético-fonológico, morfológico e suas interfaces, 
sintático, semântico, pragmático), e não sua mera classificação. 
Antunes (2007, p. 71) exemplifica algumas regras da gramática do 
português:
- deixar o verbo na primeira pessoa do singular se o sujeito da oração 
se refere à pessoa que fala (Eu gosto de ouvir música brasileira);
- pôr o artigo antes do substantivo (o livro);
- usar o presente do indicativo como núcleo do predicado em 
definições e verdades universais (O homem é um animal racional.); 
(O homem é mortal);
- deixar sem flexão de gênero ou de número os pronomes indefinidos 
alguém, ninguém, tudo, nada, algo;
- alterar a forma dos substantivos para indicar flexão de gênero (o 
gato; a gata);
- usar o demonstrativo aquele (e suas flexões) se a coisa referida está longe 
(Aquela casa é a casa onde moro) (ANTUNES, 2007, p. 71, grifos nossos).
UNIDADE3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
124
Há uma tendência de os livros didáticos, nos tópicos de estudo sobre 
gramática, evitarem contemplar as questões gramaticais que admitem variação 
(ANTUNES, 2007), fixando-se apenas nos modelos linguísticos idealizados. 
Essa prática acaba privando o estudante de reconhecer que as regras admitem 
mudanças e variações, o que, segundo Antunes (2007), se evidencia ainda mais 
pela dificuldade de abrir mão de normas cristalizadas, como a regência do verbo 
assistir com preposição (assistir ao jogo). De maneira geral, a regência com a 
preposição “a” do verbo “assistir” não costuma ser usada nem por pessoas mais 
escolarizadas. O mesmo se poderia dizer sobre o uso de pronomes oblíquos 
no início de frases ou sobre o estudo do pronome “vocês” como pronome de 
tratamento, ao invés de ser levado em conta como um pronome que, no Brasil, 
assume o lugar de “vós”.
Parece existir, nesses exemplos sobre vós e vocês, sobre a regência do 
verbo assistir, entre outros, certa dificuldade em se reconhecer que as mudanças 
linguísticas já aconteceram e que, como afirma Antunes (2007), de alguma maneira 
são irreversíveis. 
Diferentemente do estudo sobre as regras gramaticais que orientam o uso 
da língua em diferentes contextos, também precisamos do estudo da nomenclatura 
gramatical na escola, mas não para um fim em si mesma. O estudo da nomenclatura 
gramatical é importante para a abordagem científica dada à língua, a fim de possibilitarmos 
a identificação, de forma bem-sucedida, dos elementos gramaticais que estão sendo 
estudados. Cada ciência possui um “conjunto de termos com os quais se refere às coisas 
de seu campo” (ANTUNES, 2007, p. 78), e, com o estudo da língua não poderia ser diferente.
IMPORTANT
E
Estudar as nomenclaturas, portanto, não significa estudar regras (já que 
elas não regem padrão algum) ou estudar a própria norma padrão. Estudar as 
nomenclaturas implica reconhecer os nomes que as unidades da gramática têm 
para que funcionem como um recurso para a descrição das regras gramaticais 
(ANTUNES, 2007). Logo, os exercícios de língua portuguesa que solicitam apenas 
a identificação de substantivos, verbos, preposições, entre outras unidades da 
gramática, não são suficientes para que o estudante reflita e compreenda sobre os 
mecanismos que constituem os usos linguísticos, embora sejam importantes para 
nomeá-los de alguma forma.
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
125
Você já deve ter percebido, até este ponto das suas leituras, que a disciplina 
de sociolinguística não está aqui para tirar o espaço que ocupa a norma padrão de 
uma língua como registro oficial, mas de oportunizar o estudo da língua dentro 
das suas variedades. Para isso, é importante manter o diálogo com as disciplinas 
do campo gramatical, sem excluir as influências sociais sobre a variação. Continue 
sua leitura para saber mais sobre o tratamento dado à variação linguística nos 
livros didáticos de língua portuguesa.
3 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE 
LÍNGUA PORTUGUESA
Como vimos, há críticas levantadas acerca das atividades que constituem 
os livros didáticos de língua portuguesa na educação básica com relação à 
confusão entre estudo de regras gramaticais e de nomenclaturas, ou falta de ênfase 
na variação linguística. No entanto, a qualidade desses materiais é crescente, 
especialmente a partir da instituição do Programa Nacional do Livro Didático 
(PNLD), oportunizando às escolas selecionarem a coleção que melhor atender às 
necessidades educacionais dos seus estudantes.
Os livros didáticos são escritos no PNLD pelos detentores de direitos autorais, 
conforme critérios estabelecidos em edital e aprovados em avaliações pedagógicas 
coordenadas pelo Ministério da Educação, contando com a participação de Comissão 
Técnica específica, integrada por especialistas das diferentes áreas do conhecimento 
correlatas. Esses materiais didáticos distribuídos pelo MEC às escolas públicas de educação 
básica do país são escolhidos pelas próprias escolas.
FONTE: <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12391:pnld>. Acesso em: 
9 out. 2019.
NOTA
É importante destacarmos que o tratamento da variação linguística nos livros 
didáticos tem se manifestado cada vez mais. Parece haver, de fato, um avanço quanto à 
inclusão do debate sobre preconceito linguístico e diversidade nos livros didáticos, embora 
continuem com alguns problemas que merecem reflexão.
IMPORTANT
E
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
126
A gente percebe, em muitas obras, uma vontade sincera dos autores 
de combater o preconceito linguístico e de valorizar a multiplicidade 
linguística do português brasileiro. Mas a falta de uma base teórica 
consistente e, sobretudo, a confusão no emprego dos termos e dos 
conceitos prejudicam muito o trabalho que se faz nessas obras em 
torno dos fenômenos de variação e mudança (BAGNO, 2007, p. 119).
A confusão teórica a qual Bagno (2007) faz referência é a troca conceitual 
de norma culta e norma padrão, é a necessidade de constituir entendimento de 
que há variação nos diferentes níveis da língua, de que variação não é apenas 
regional ou de baixa escolaridade, de que no Brasil se falam várias línguas. 
Observe, prezado acadêmico, que estes são conteúdos que você foi estudando ao 
longo de toda a disciplina de sociolinguística. 
Bagno (2007) explica essas questões dentro de dois principais 
problemas dos livros didáticos com relação à variação linguística (quando 
ela aparece no livro):
1- A tendência de tratar da variação linguística como sinônimo somente de 
variedades regionais, rurais ou de pessoas não escolarizadas. 
2- A prática de propor exercícios de reescrita da norma estigmatizada para a 
norma padrão ou “culta”.
“Em termos sociológicos, estigma é um julgamento bastante negativo, que os 
grupos sociais hegemônicos fazem sobre os grupos subalternos, seja por seu modo de ser, 
por sua cultura e, obviamente, por sua língua” (BORTONI-RICARDO; OLIVEIRA, 2013, p. 47).
NOTA
Com relação ao primeiro problema, Bagno (2007) entende haver uma 
falsa suposição de que “os falantes urbanos e escolarizados usam a língua de 
modo mais “correto”, mais próximo do padrão, e que no uso que eles fazem 
não existe variação” (BAGNO, 2007, p. 120). Essa compreensão é resultado 
das relações de poder estabelecidas na sociedade, que abrem caminho para 
o julgamento das variedades de falantes urbanos, normalmente de status 
socioeconômico mais alto, como as formas da língua mais “corretas” (mesmo 
não correspondendo à norma padrão) quando comparadas às variedades de 
falantes rurais, com baixo status socioeconômico.
Por isso, Bagno (2007) reconhece que muitos livros didáticos insistem em 
apresentar como exemplos de variação linguística uma tirinha do personagem 
Chico Bento (de Maurício de Sousa), um poema de Patativa do Assaré ou o 
samba de Adoniran Barbosa, isto é, textos literários que apresentam de forma 
estereotipada os falares menos urbanos para fins de marcações socioculturais.
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
127
Conheça um poema de Patativa do Assaré e um samba de Adoniran Barbosa:
NOTA
Coisas do Meu Sertão
Patativa do Assaré
 
Seu dotô, que é da cidade 
Tem diproma e posição 
E estudou derne minino 
Sem perdê uma lição, 
Conhece o nome dos rios, 
Que corre inriba do chão, 
Sabe o nome de estrela 
Que forma constelação, 
Conhece todas as coisa 
Da história da criação 
E agora qué i na Lua 
Causando admiração, 
Vou fazê uma pergunta, 
Me preste bem atenção: 
Pruque não quis aprendê 
As coisa do meu sertão? 
 
Por favô, não negue não 
Quero que o sinhô me diga 
Pruquê não quis o roçado 
Onde se sofre de fadiga, 
Pisando inriba do toco, 
Lacraia, cobra e formiga, 
Cocerento de friêra, 
Incalombado de urtiga, 
Muntas vez inté duente, 
Sofrendo dô de barriga, 
Mas o jeito é trabaiá 
Que a necessidade obriga. 
[...]
Sambado Arnesto
Adoniran Barbosa
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás 
Nós fumos, não encontremos ninguém 
Nós voltermos com uma baita de uma reiva 
Da outra vez, nós num vai mais 
Nós não semos tatu!
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás 
Nós fumos, não encontremos ninguém 
Nós voltermos com uma baita de uma reiva 
Da outra vez, nós num vai mais
No outro dia encontremo com o Arnesto 
Que pediu desculpas, mas nós não aceitemos 
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa 
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás 
Nós fumos, não encontremos ninguém 
Nós voltermos com uma baita de uma reiva 
Da outra vez, nós num vai mais
No outro dia encontremo com o Arnesto 
Que pediu desculpas, mas nós não aceitemos 
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa 
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: “Ói, turma, num deu pra esperá 
Ah, duvido que isso num faz mar, num tem importância 
Assinado em cruz porque não sei escrever” 
Arnesto
FONTE: 
Coisas do Meu Sertão: Patativa do Assaré.
SILVA, A. G. da. Cante lá, que eu canto cá. Rio de Janeiro: Vozes, 1978.
Samba do Arnesto: Adoniran Barbosa.
<https://www.vagalume.com.br/adoniran-barbosa/samba-do-arnesto.html>. Acesso em: 9 
out. 2019.
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
128
Esses exemplos comumente encontrados em livros didáticos retratam as 
variedades mais estigmatizadas, o que pode ser um indicativo, para os estudantes 
da educação básica, de que variação só acontece nas camadas sociais de menor 
escolaridade, de área mais rural. Além disso, esses textos não representam 
verdadeiramente variedades linguísticas do português brasileiro, uma vez que 
intentam produzir literatura como manifestação lúdica, artística (BAGNO, 2007). 
Bagno (2007) exemplifica o problema do uso inadequado dos trabalhos 
criativos em materiais didáticos com a análise de uma sentença retirada da 
fala de Zé Lelé na tirinha da Turma da Mônica: “SORRIAM QUI EU VÔ TIRÁ 
O RETRATO!”
FIGURA 1 – CHICO BENTO
FONTE: SOUSA, M. de. Turma da Mônica. In: CRUZ, A. G. C. da et al. A variação fonológica: 
metaplasmos em tiras de HQs. Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA 
– UENP/CJ. <https://docplayer.com.br/4276744-A-variacao-fonologica-metaplasmos-em-tiras-
de-hqs.html>. Acesso em: 9 out. 2019.
Ora, na tentativa de reproduzir o falar caipira, foram usadas as grafias 
QUI, VÔ e TIRÁ. Mas desde quando essas pronúncias são exclusivas 
das variedades rurais? Em todo o português brasileiro, a palavra 
que escrevemos QUE é pronunciada [ki], porque a redução da vogal 
átona final E em [i] é uma regra categórica da nossa língua, isto é, 
não apresenta variação – como ocorre em BODE, DENTE, FACE, 
GENTE, ELE, ME e em milhares e milhares de outras palavras. Tanto 
é assim, que em alguns (poucos) casos em que ele vem devidamente 
enfeitado com um acento circunflexo: QUÊ – nesses casos, não se trata 
mais da não útil palavra gramatical que pode ser pronome, conjunção, 
advérbio, preposição etc., mas sim de um substantivo (HAVIA UM 
QUÊ DE MISTÉRIO NO OLHAR DE MARINALVA) ou uma interjeição 
(O QUÊ?! TODO MUNDO FOI EMBORA?) (BAGNO, 2007, p. 121).
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
129
São em poucas regiões do país onde se preserva a pronúncia do “E” nas 
sílabas átonas finais (BODE, DENTE, FACE, GENTE, ELE), como no oeste do estado de Santa 
Catarina, por exemplo.
NOTA
O que procuramos questionar, aqui, em conformidade com Bagno (2007), 
é a marca gráfica QUI para reproduzir a fala de Chico Bento ou do Zé Lelé, mas 
nunca da Mônica, ou da Magali, crianças de áreas urbanas. As crianças brasileiras 
de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, e outras cidades grandes 
(BAGNO, 2007) pronunciam, assim como Chico Bento e Zé Lelé, a elevação de 
“e” para “i” em sílabas finais átonas – QUI para QUE, DENTI para DENTE etc. 
No entanto, a variação linguística é marcada na escrita apenas para as crianças 
de zonas rurais, implicando a falsa ideia de que para as outras crianças, de zonas 
urbanas, não há variação linguística.
Precisamos relembrar, como bem sinaliza Bagno (2007), que o problema 
não está nos textos literários, como de Maurício de Sousa, mas nos nossos 
usos descontextualizados desses textos como material pedagógico para o 
ensino da variação linguística. Como vimos na primeira unidade deste livro de 
sociolinguística, o estudo da variação se dá através de representações reais de 
falas, e não fictícias.
As opções gráficas empregadas no Chico Bento, nos sambas de 
Adoniran e nos poemas de Patativa têm como única finalidade 
criar uma atmosfera peculiar, inserir o leitor/ouvinte num universo 
social e cultural diferente daquele que vem convencionalmente 
representado pela ortografia oficial, o universo urbano letrado. 
Nenhum compromisso com o rigor da pesquisa científica (ainda 
bem!) (BAGNO, 2007, p. 123).
Uma dica pedagógica do sociolinguista Marcos Bagno (2007), ao se 
deparar com representações de falas como esta da HQ da Turma da Mônica no 
material didático de língua portuguesa, é levantar com os estudantes da educação 
básica as mesmas reflexões que foram aqui levantadas: Por que será que o autor 
optou por representar QUI para QUE, VÔ para VOU, TIRÁ para TIRAR? Será 
que essas marcas linguísticas são representativas apenas das comunidades rurais 
ou também se fazem presentes nas falas mais urbanas?
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
130
Até aqui, vimos o primeiro principal problema identificado por 
Bagno (2007) nos livros didáticos de língua portuguesa: a tendência de 
tratar da variação linguística como sinônimo de variedades regionais, rurais 
ou de pessoas não escolarizadas. O segundo problema, como mencionado 
anteriormente, se refere à prática de propor exercícios de reescrita da norma 
estigmatizada para a norma padrão ou “culta”. Nesse sentido, diante de uma 
representação da fala de Chico Bento, por exemplo, haveria uma atividade de 
reescrita da fala para a “norma culta”. 
Nesse tipo de atividade, vale destacar, há um problema conceitual, pois 
o termo “norma culta” abarca as variedades prestigiadas de uma língua, e não 
necessariamente a norma padrão. Além disso, esse tipo de atividade pode se revelar 
como preconceito linguístico, uma vez que discrimina o falar rural, solicitando que 
seja corrigido de alguma forma. “Se existe algum trabalho pedagógico interessante a 
ser feito com Chico Bento, é precisamente o de valorizar as diferenças socioculturais 
que o personagem tenta encarnar” (BAGNO, 2007, p. 123).
A conscientização da variação linguística numa pedagogia culturalmente 
sensível não se dá por meio da correção, mas da identificação de que a variação 
ocorre em todos os estratos e situações sociais. Logo, é dentro de textos (orais ou 
escritos) do próprio estudante que o uso da norma padrão ou monitoramento da 
fala deve ser exigido, por meio do exercício de adequação linguística.
Bagno (2007) sugere trabalhar, em sala de aula, com variedades linguísticas 
autênticas. Por isso, indica como uma fonte de fácil acesso o portal do Museu da Língua 
Portuguesa na internet (www.museudalinguaportuguesa.org.br), que possui amplo material 
para pesquisa e estudo acerca da língua falada e língua escrita. Alguns links que podem ser úteis:
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/menas.pdf.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Saber-uma-
li%CC%81ngua-e%CC%81-separar-o-certo-do-errado.pdf.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/estacao-educativo/biblioteca/lingua/.
• http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/10/Projetos-
cienti%CC%81ficos-sobre-o-portugue%CC%82s-brasileiro.pdf.
DICAS
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
131
LEITURA COMPLEMENTAR
Recortamos um trecho do Capítulo 6 (A variação linguística nos livrosdidáticos) do livro “Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
linguística”, escrito por Marcos Bagno. Esta leitura pode servir como um 
instrumento de análise crítica e reflexiva acerca do tratamento dado pelos livros 
didáticos (LD) aos fenômenos da variação e da mudança linguísticas, por meio de 
um roteiro composto por dez questões. 
UM ROTEIRO PARA ANALISAR OS LIVROS DIDÁTICOS
1- O livro didático trata da variação linguística?
Essa é a pergunta principal, porque se o LD não tratar de variação 
linguística em nenhum momento, ele já se revela fora de sintonia com as 
propostas mais avançadas de educação em língua materna, até mesmo no 
que diz respeito às diretrizes oficiais de ensino. Se for esse o caso, e se você 
considerar que, em outros aspectos, o LD faz um bom trabalho e merece ser 
utilizado, então caberá a você elaborar por conta própria uma boa abordagem 
dos fenômenos de variação. [...]
2- O livro didático menciona de algum modo a pluralidade de línguas 
que existem no Brasil?
Por causa da formação histórica da sociedade brasileira, uma formação 
marcada por toda sorte de violência e de autoritarismo, existe na nossa cultura 
o mito muito poderoso do monolinguismo. Todo o discurso que circula na 
sociedade carrega a noção de que ser brasileiro é sinônimo de ser falante de 
português. O Brasil, no entanto, está na pequena lista dos oito países que 
abrigam no seu território metade das línguas faladas no mundo (os outros 
sete são, pela ordem, Índia, Indonésia, Papua Nova Guiné, Nigéria, Camarões, 
México e Austrália, com o Brasil no oitavo lugar). Se considerarmos que existem 
cerca de 6.000 línguas no planeta, metade delas são faladas nesses oito países, 
sendo quase 1.000 só na Índia!
Das quase 210 línguas que coexistem com o português, cerca de 190 são 
línguas indígenas (um décimo do total de línguas que se falava no território 
brasileiro no início da colonização), usadas por um total de mais ou menos 300 
mil descendentes dos primeiros habitantes do território – sobreviventes de uma 
longa história de extermínio sistemático praticado durante os quatro séculos de 
colonização e, em boa medida, perpetuada até hoje na forma de uma situação 
social de extrema indigência e de exclusão absoluta. [...]
Além das línguas indígenas, convivem com o português brasileiro quase 20 
línguas de origem europeia e asiática, trazidas pelos imigrantes que se estabeleceram 
no Brasil desde o início do século XIX, logo após a independência (1822). [...]
Nos quase 16.000 quilômetros de fronteiras terrestres com os países 
vizinhos, o português brasileiro vive em contato com outras línguas, sobretudo 
com o espanhol, falado em sete dos dez países limítrofes. [...]
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
132
O plurilinguismo brasileiro sempre foi silenciado, inclusive por meio 
de ações violentas, como proibições formais, massacres de povos indígenas, 
legislações que condenavam à prisão quem falasse outras línguas etc. É uma pena 
que toda essa história permaneça oculta e que a escola continue preservando o 
mito do monolinguismo que, para piorar, foi construído na ilusão de que o Brasil 
é um “milagre” linguístico porque todos os brasileiros se entendem perfeitamente 
num território maior do que a Europa ocidental [...]
3- O tratamento se limita às variedades rurais e/ou regionais?
Os livros didáticos mais vendidos no Brasil são escritos e produzidos, em 
sua maioria, na região Sudeste (com predomínio no estado de São Paulo) e, em 
menor medida, na região Sul (com predomínio do Paraná), sempre por autores 
vinculados à cultura das grandes cidades. Com isso, pela própria origem social dos 
autores, as variedades linguísticas mais representadas nessas obras são as urbanas 
dessas regiões. O “diferente”, o “exótico”, o “pitoresco” será inevitavelmente o 
que vier de fora, o Outro, o que não fizer parte daquele universo sociocultural, 
que acaba sendo considerado (enganosamente) “neutro”, “normal”, “comum”.
É por isso que, no tratamento da variação linguística, esses livros quase 
unanimemente recorrem a exemplos das variedades rurais de suas próprias 
regiões (em geral exemplos não autênticos, como o Chico Bento) ou de variedades 
de outras regiões brasileiras. Desse modo, como os LD produzidos no Sudeste-
Sul são adotados em todo o território nacional, o usuário da obra didática é 
levado a acreditar que o seu modo de falar, por não estar representado no livro, é 
“estranho” ou “errado”. [...]
Tudo isso deve ser analisado e devidamente criticado, para que o trabalho 
na escola não reproduza os mesmos estereótipos e as mesmas discriminações que 
vigoram na sociedade em geral.
4- O livro didático apresenta variantes características das variedades 
prestigiadas (falantes urbanos, escolarizados)?
Essa é uma pergunta que, infelizmente, até agora, só tem podido ser 
respondida de forma negativa. Mesmo os livros didáticos que conseguem tratar 
da variação linguística de maneira relativamente satisfatória acabam deixando 
de lado as variedades urbanas, por causa do prestígio socialmente conferido à 
fala dos cidadãos urbanos mais letrados, fica a ilusão de que eles se comportam 
linguisticamente de acordo com as prescrições da gramática normativa. Isso se 
revela na confusão terminológica entre “norma culta” e “norma padrão”, tomadas 
como sinônimos, quando de fato não são, numa perspectiva científica rigorosa. 
Atenção: não abordaremos as variedades prestigiadas com a intenção de 
denunciar os “erros” e os “abusos” que “até mesmo” os falantes escolarizados 
cometem contra a língua! [...] Mostrar que ocorre variação em todas as camadas 
sociais ajuda a gerar a consciência de que a língua é essencialmente heterogênea, 
variável e mutante, e que não existe nenhum grupo social que fale mais “certo” 
ou mais “errado” do que outro e que, principalmente, a gramática normativa não 
encerra a verdade eterna, última e absoluta sobre a língua.
TÓPICO 1 | O TRATAMENTO DAS VARIEDADES NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
133
5- O livro didático separa a norma padrão da norma culta (variedades 
prestigiadas) ou continua confundindo a norma padrão com uma variedade 
real da língua?
Esse é um dos maiores problemas da abordagem da variação linguística, 
não só nos livros didáticos, mas também em muitos trabalhos acadêmicos sobre 
questões sociolinguísticas – o problema da terminologia.
Só para lembrar: O PEDRO, EU CONHEÇO ELE MUITO BEM é um 
exemplar da norma culta brasileira (variedades prestigiadas), porque todos os 
falantes brasileiros urbanos e altamente escolarizados usam o pronome ELE 
como objeto direto. Esse uso, no entanto, não é acolhido pela tradição normativa, 
portanto, não faz parte da norma padrão.
Por isso, como também já dissemos, não faz muito sentido usar termos 
como variedade padrão, língua padrão, dialeto padrão, porque o padrão não é 
variedade, nem língua, nem dialeto – para tratar de variedade, língua e dialeto, 
é preciso que existam pessoas de carne e osso falando essa variedade, língua 
ou dialeto, e ninguém fala (nem escreve) o padrão, nem no máximo grau de 
monitoramento estilístico. Como o próprio nome diz, é um padrão, um modelo 
idealizado (e muito ideologizado). [...]
6- O tratamento da variação ao livro didático fica limitado ao sotaque e 
ao léxico, ou também aborda fenômenos gramaticais?
É muito frequente, nos materiais didáticos, a abordagem da variação 
linguística se restringir a fenômenos que poderíamos chamar de superficiais: o 
sotaque e o léxico. [...]
Muito frequente também é o tratamento da variação se limitar a 
comparar sotaque e léxico do português brasileiro e do português europeu, 
sem se aprofundar nas questões mais importantes para o ensino no Brasil e 
transformando a variação linguística, ainda que involuntariamente, numa lista 
de coisas engraçadas e curiosas [...].
Existe um nível mais profundo de variação linguística que em geral é 
pouco abordado: a variação morfossintática. [...]
Na tarefa de inserçãodo aprendiz no mundo da leitura e da escrita, o 
reconhecimento das diferenças que existem entre a gramática das variedades 
estigmatizadas, a gramática das variedades prestigiadas e a norma padrão é 
indispensável. Um único exemplo, o do paradigma da conjugação verbal, basta 
para demonstrar isso:
VARIEDADES
+ESTIGMATIZADAS
VARIEDADES
+PRESTIGIADAS NORMA-PADRÃO
eu FALO eu FALO eu FALO
você [tu]
FALA
você
FALA
tu FALAS
ele ele ele FALA
a gente [nós] a gente nós FALAMOS
eles nós FALAMOS vós FALAIS
vocês
FALAM
eles FALAM
eles
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
134
[...]
7- O livro didático mostra coerência entre o que diz nos capítulos 
dedicados à variação linguística e o tratamento que dá aos fatos de gramática? 
Ou continua, nas outras seções, a tratar do “certo” e do “errado”?
[...] 
Assim, para analisar a coerência do tratamento da variação linguística no 
LD, é preciso não se limitar ao capítulo ou unidade que aborda especificamente 
esses temas, mas também investigar o trabalho que ele faz na obra com relação ao 
ensino de gramática.
É incoerente pedir respeito e tolerância diante da variação linguística e 
dizer, nos exercícios de gramática, que usar o pronome ELE como objeto direto 
é um “erro”, ou que o pronome VOCÊ é apenas uma “forma de tratamento”, ou 
que é “proibido” iniciar frases com pronome oblíquo, ou que não se pode dizer 
EU CUSTO A CRER, mas somente CUSTA-ME CRER... [...]
8- O livro didático explicita que também existe variação entre fala e 
escrita, ou apresenta a escrita como homogênea e a fala como lugar de erro?
[...]
Entre a fala mais espontânea e a escrita mais monitorada existe um 
amplo contínuo de gêneros textuais que representam as realizações empíricas da 
língua nas interações sociais. [...] No mundo contemporâneo, com o surgimento 
da comunicação virtual, por meio do computador, a separação entre o que é 
tipicamente falado e o que é tipicamente escrito se torna cada vez mais fluida – é 
só pensar que um bate-papo na internet se faz por meio de sinais escritos... [...]
9- O livro didático aborda o fenômeno da mudança linguística? Como?
[...] exatamente como no tratamento da variação, é muito frequente 
limitar a abordagem da mudança às questões de vocabulário. Mal dá para contar 
quantas vezes aparece, em LD, a crônica “Antigamente” de Carlos Drummond de 
Andrade, para tratar de palavras e expressões que não são mais usadas hoje em 
dia...
Seria muito bom se os livros começassem a dar exemplos de textos antigos 
para mostrar que a língua mudou, não só no léxico, mas principalmente na sua 
gramática, nas regras que fazem a língua funcionar como funciona. [...]
10- O livro didático apresenta a variação linguística somente para dizer 
que o que vale mesmo, no fim das contas, é a norma padrão?
Essa é uma forma muito sutil de preconceito linguístico: abordar a variação 
linguística, mostrar que a língua é heterogênea para, no final, insistir na preservação 
de um modelo idealizado de língua, de um padrão normativo extremamente rígido 
e conservador. [...]
FONTE: BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São 
Paulo: Parábola Editorial, 2007. p. 125-139.
135
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• O ensino de gramática faz parte do ensino da língua, mas não deve se restringir 
à abordagem normativa-prescritiva.
• O estudo das regras gramaticais permite identificarmos que a língua possui 
componentes mais fixos (ex.: posição do artigo faz parte daquele componente 
rígido: vem sempre antes do substantivo) e mais flexíveis (ex.: Meu livro ou O 
meu livro, porcentagem ou percentagem). 
• Todos os usos da língua são submetidos à aplicação de regras, sejam eles 
pertencentes à norma padrão ou às diversas variedades linguísticas faladas 
por distintas comunidades. Por isso, atividades de análise e reflexão de 
regras gramaticais precisam contemplar essa realidade em diferentes níveis 
(morfológico e suas interfaces, sintático, semântico, pragmático).
• Estudar a nomenclatura gramatical não é o mesmo que estudar as regras 
gramaticais. A nomenclatura gramatical é importante para a abordagem 
científica dada à língua, a fim de possibilitar a identificação dos elementos 
gramaticais em estudo com sucesso. 
• O tratamento da variação linguística nos livros didáticos tem se manifestado 
cada vez mais, embora necessite de aprofundamento.
• Há livros didáticos que ainda realizam confusões teóricas com relação 
à norma culta e norma padrão, além de realizarem algumas confusões ao 
entendimento de que há variação nos diferentes níveis da língua, de que 
variação não é apenas regional ou de baixa escolaridade, de que no Brasil 
se falam várias línguas.
• Há dois principais problemas dos livros didáticos com relação à variação 
linguística (isto quando ela aparece no livro): 1. A tendência de tratar da 
variação linguística como sinônimo somente de variedades regionais, rurais 
ou de pessoas não escolarizadas; 2. A prática de propor exercícios de reescrita 
da norma estigmatizada para a norma padrão ou “culta”.
136
1 (ADAPTADO DO ENADE, 2011)
No excerto a seguir, encontram-se algumas atividades propostas em livro 
didático de língua portuguesa:
Atividades com trecho do poema O operário em construção, de Vinícius de Moraes. 
Proposta: 
[...] 
2- Aponte todos os substantivos presentes no texto. 
3- Aponte um substantivo abstrato presente no texto. 
4- Aponte um substantivo concreto presente no texto. 
5- Qual é o único substantivo presente no texto que admite uma forma para o 
masculino e outra para o feminino? 
6- Há, no texto, algum substantivo próprio? Em caso afirmativo, aponte-o. 
AZEVEDO, D. G. Palavra e criação: língua portuguesa. São Paulo: FTD, 1996. v. 8, p. 102 
(com adaptações). 
Sobre as atividades, assinale V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para a(s) 
falsa(s):
( ) As atividades revelam um contexto de aprendizagem acerca das regras 
gramaticais da norma padrão da língua portuguesa.
( ) As atividades usam o poema como recurso e pretexto para trabalhar com 
os alunos tópicos de gramática, ignorando aspectos mais relevantes.
( ) A proposta apoia-se em atividades que representam uma confusão sobre o 
conhecimento da nomenclatura gramatical com o aprendizado da língua e 
suas regras gramaticais.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.
2 Todos os usos da língua são submetidos à aplicação de regras, sejam eles 
pertencentes à norma padrão ou às diversas variedades linguísticas faladas 
por distintas comunidades. No entanto, existem regras gramaticais que 
pertencem a componentes mais fixos e outras a mais flexíveis. Diante dessas 
considerações, leia as sentenças a seguir:
I- A mesa é branca.
II- A gente comprou uma mesa branca.
AUTOATIVIDADE
137
Explique o componente fixo destacado na sentença I e o componente flexível 
destacado na sentença II.
3 O ensino de gramática faz parte do ensino da língua, mas não deve se 
restringir à abordagem normativa-prescritiva, já que ao estudante deve ser 
oportunizado estudar a língua em uso. Diante disso, analise as sentenças 
a seguir:
I- O estudo de regras gramaticais significa priorizar a norma padrão na escola.
II- As atividades de identificação da nomenclatura gramatical explicam as 
regras da norma padrão da língua e outras variedades.
III- As regras gramaticais evidenciam que há componentes fixos e flexíveis 
na língua.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas a sentença III está correta.
b) ( ) Todas as sentenças estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
4 Você viu que o estudo das regras gramaticais faz parte do estudo da 
língua. Por isso, não pode ser ignorado na escola. No entanto, também 
deve-se ter cuidado para não se confundir estudo das regras gramaticais e 
estudo das nomenclaturas gramaticais.Explique a diferença entre regras e 
nomenclaturas gramaticais.
5 Dentro da abordagem descritiva da língua, é possível realizarmos a descrição 
de qualquer variedade linguística, reconhecendo suas regras gramaticais. 
Nesse sentido, explique a afirmação: todos os usos da língua são submetidos 
à aplicação de regras.
6 O tratamento da variação linguística nos livros didáticos tem se manifestado 
cada vez mais, embora necessite de aprofundamento. Leia o texto a seguir 
e marque V para a(s) sentença(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s), 
considerando os estudos realizados até o momento nesta disciplina: 
Coisas do Meu Sertão
Patativa do Assaré
 
Seu dotô, que é da cidade 
Tem diproma e posição 
E estudou derne minino 
Sem perdê uma lição, 
Conhece o nome dos rios, 
Que corre inriba do chão, 
Sabe o nome de estrela 
138
Que forma constelação, 
Conhece todas as coisa 
Da história da criação 
E agora qué i na Lua 
Causando admiração, 
Vou fazê uma pergunta, 
Me preste bem atenção: 
Pruque não quis aprendê 
As coisa do meu sertão? 
 
( ) O texto é uma boa representação de variação linguística para atividades 
de identificação e conscientização, uma vez que permite reescrita para a 
norma culta.
( ) A omissão do R em “fazê” pode ser discutida nas aulas de língua portuguesa 
como marca de variação linguística urbana.
( ) O uso do texto literário para o estudo de variação linguística constitui em 
uma prática pedagógica recomendável, uma vez que permite exemplificar 
a realidade da língua portuguesa.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – V.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) V – F – F.
d) ( ) V – V – F.
139
TÓPICO 2
AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS 
COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM 
RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior, vimos alguns elementos importantes sobre o ensino 
de gramática na escola e os problemas que, de modo geral, aparecem nos livros 
didáticos de língua portuguesa para a educação básica, apesar da melhora crescente 
que apresentam ao tratamento destinado ao estudo da linguagem. No presente 
tópico, traremos a você algumas considerações sobre as línguas de contato, 
levando em conta que dificilmente você irá se deparar com uma sala de aula 
inteiramente monolíngue. Nesse contexto, conceitos sobre diglossia, sabir, pidgin, 
línguas crioulas, línguas veiculares serão levantados para a nossa conversa.
Também pretendemos retomar o estudo sobre as variedades linguísticas, 
a fim de introduzirmos o que é dialeto, socioleto, etnoleto, cronoleto, idioleto. 
Esses conceitos, pois, contribuem para a concepção de que não há língua sem 
variação. Logo, são importantes para desconstruirmos os mitos acerca da 
homogeneidade da língua portuguesa no Brasil. Por isso, é importante que você, 
futuro professor, conheça e compreenda esses conceitos. 
Em seguida, no âmbito da variação linguística, trazemos à discussão os 
comportamentos e atitudes acerca das línguas, suas variedades e seus falantes, 
bem como o preconceito linguístico. Vamos iniciar mais esta etapa de estudos?
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LÍNGUAS EM CONTATO
Antes de iniciarmos nossa conversa acerca dos comportamentos e atitudes 
sobre as línguas e seus falantes, é importante abordarmos alguns conceitos 
vinculados a situações do multilinguismo, frequentemente ignoradas em 
políticas educacionais, e à presença da variação linguística (que é inevitável) na 
própria língua portuguesa. Conforme o sociolinguista francês Louis-Jean Calvet 
pontua, o multilinguismo faz com que as línguas estejam constantemente em 
contato, e “o lugar desses contatos pode ser o indivíduo (bilíngue, ou em situação 
de aquisição) ou a comunidade. E o resultado dos contatos é um dos primeiros 
objetos de estudo da sociolinguística” (CALVET, 2002, p. 35).
140
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
No Brasil, como você viu na Unidade 2, construiu-se um mito do 
monolinguismo, pautado na concepção de que aqui só se fala português. No 
entanto, pesquisas no âmbito da sociolinguística (e/ou sociologia da linguagem) 
e da linguística aplicada desvelam um cenário bem diferente. Oliveira (2000), cujo 
trabalho se destaca no campo das políticas linguísticas para o multilinguismo, 
sinaliza para as mais de 200 línguas faladas no Brasil. Essas línguas, por 
conseguinte, geram uma situação sociolinguística complexa, uma vez que não 
só interferem na variação linguística em língua portuguesa, mas também nas 
práticas de translinguagem, nos empréstimos e interferências (como já estudado 
na Unidade 2). Nesse sentido, é importante olharmos para a formação linguística 
de uma comunidade considerando também alguns outros conceitos da 
sociolinguística, tais como: línguas aproximativas (como as línguas veiculares, 
o crioulo, o pidgin e o sabir) e a diglossia, como resultado do contato linguístico.
As línguas veiculares consistem naquelas utilizadas em situação de contato 
entre os falantes que mutuamente desconhecem a língua um do outro (CALVET, 
2002). A língua veicular, portanto, é utilizada com o intuito de possibilitar a 
comunicação entre pessoas que não partilham da mesma língua vernácula.
Vernáculo consiste em um termo utilizado para a língua que representa o 
Estado, a nação, ou para as variedades linguísticas populares (variedades vernáculas), como 
é o português popular brasileiro.
NOTA
Imagine, como exemplo de língua veicular, um refugiado sírio que chega 
ao Brasil sem falar português e procura estabelecer diálogo com brasileiros que 
não falam árabe. Para se compreenderem, esses interlocutores tentarão utilizar 
uma terceira língua que conheçam, como a língua inglesa, por exemplo. Nesse 
sentido, por meio de uma língua veicular, conseguiram encontrar uma forma de 
conversarem entre si.
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
141
A língua inglesa, nesse contexto, não é a língua materna dos falantes que 
precisam estabelecer comunicação mesmo desconhecendo a língua um do outro. No 
entanto, é a primeira língua de alguma outra comunidade, como de falantes ingleses, 
australianos, canadenses, estadunidenses, entre outros. Nesse sentido, a língua inglesa, 
ainda que seja língua materna de alguma comunidade, no exemplo dado anteriormente, é 
língua veicular para os falantes sírio e brasileiro
NOTA
Precisamos considerar o fato de que nem sempre haverá uma língua 
veicular disponível – já imaginou se o refugiado tentasse utilizar uma terceira 
língua que o brasileiro desconhecesse? Diante da necessidade de comunicação, 
ainda é possível inventarem para si outra forma de língua aproximativa, que 
pode ser uma língua sabir ou um pidgin. 
Afinal, qual é a diferença entre um sabir e um pidgin? Calvet (2002) 
distingue esses dois conceitos de língua pela estrutura que assumem:
Estas formas, chamadas de sabirs, são originalmente utilizadas entre 
comunidades que não têm língua comum, mas que mantêm, por 
exemplo, relações comerciais. Trata-se de um sistema extremamente 
restrito: algumas estruturas sintáticas e um vocabulário limitado às 
necessidades de comunicação imediata. Quando essas formas cobrem 
necessidades de comunicação mais amplas e seu sistema sintático se 
torna mais desenvolvido, fala-se de pidgins [...]” (CALVET, 2002, p. 42).
Como você deve ter notado, o sabir e o pidgin não são línguas maternas 
de ninguém, uma vez que nascem da necessidade de comunicação imediata. O 
sabir, um sistema linguístico gerado por línguas de contato é muito mais restrito 
em comparação ao pidgin. A origem do sabir, segundo Calvet (2002, p. 169), vem 
da “língua de contato formada por elementos provenientes do italiano, árabe, 
grego, turco e espanhol, desaparecida por volta de 1900, e que foi utilizada nos 
portos do Mediterrâneo desde a Idade Média”. O pidgin, por sua vez, é uma 
língua de contato cujo sistema linguístico já se desenvolveu um pouco mais em 
comparação ao sabir, e sua origem podeapresentar algumas controvérsias entre 
linguistas (CALVET, 2002). 
Um exemplo de pidgin que podemos mencionar se refere ao violento 
período em que africanos, de origens diferentes, foram retirados de suas terras e 
escravizados, levados para plantações em outros países (CALVET, 2002). Como 
não podiam se comunicar em suas línguas maternas, tiveram de criar um pidgin 
como língua aproximativa.
142
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
Acerca do contexto brasileiro, vale destacarmos que o pidgin, “desenvolvido 
como meio de comunicação de emergência nas comunidades de escravos”, 
influenciou as variedades regional-rurais existentes hoje (BORTONI-RICARDO, 
2005, p. 35). Nesse sentido, encontramos, na sala de aula, variedades que são 
decorrentes de um pidgin, conforme destaca Bortoni-Ricardo (2005).
Quando discutimos as línguas aproximativas, também é importante 
lembrarmo-nos de que o crioulo faz parte desse contexto. Com a chegada de 
imigrantes haitianos ao Brasil, em fluxos mais recentes, é possível que você tenha 
ouvido falar sobre as línguas crioulas, já que fazem parte do repertório linguístico 
de grande parte da população haitiana. Segundo Calvet (2002, p. 52): 
Para alguns, um crioulo é um pidgin que se tornou língua veicular (isto 
é, a língua primeira de uma comunidade), tendo um léxico muito mais 
ampliado, uma sintaxe mais elaborada e campos de uso variados. O 
crioulo se caracteriza então por um vocabulário emprestado a uma 
língua dominante, a dos plantadores, e uma sintaxe fundada sobre 
a sintaxe das línguas africanas. Outros enfatizam que nenhuma 
descrição pôde provar verdadeiramente as relações entre a gramática 
dos crioulos e as das línguas africanas e se inclinam especialmente 
para a hipótese de uma aproximação de aproximação. 
A aproximação de aproximação a qual Calvet (2002) se refere é a tese 
de que, na ilha da Reunião, os africanos escravizados adquiriram um francês 
sumário (“uma aproximação do francês”). Os novos escravizados que chegavam 
à ilha aprendiam esse francês sumário com os mais antigos, desencadeando em 
uma nova língua: o crioulo adquirido de “uma aproximação de aproximação”. 
Nesse contexto, é importante entendermos que o contato linguístico 
gera conflitos nas necessidades de comunicação, possibilitando o surgimento de 
novas línguas ou até o desaparecimento de determinadas línguas, de variedades 
linguísticas, além das possibilidades de situações de translinguagem (conforme 
estudado na Unidade 2) e de usos de línguas veiculares. Diante disso, as pesquisas 
sociolinguísticas de línguas em contato identificaram a necessidade de uma nova 
discussão importante no campo: a noção de diglossia. 
Em 1959, o linguista americano Charles A. Fergunson lança um conceito 
de diglossia, adaptando-o do francês, diglossie, como a existência, “dentro das 
fronteiras de uma mesma comunidade, de duas variedades [uma variedade alta 
e uma variedade baixa] de uma mesma língua, cada uma destinada a propósitos 
distintos” (FERGUNSON, 1959 apud FRITZEN, 2007, p. 76). A função de cada 
variedade, para o autor, é uma das características mais importantes da diglossia. 
Pensando nos domínios de língua, Fergunson (1959 apud FRITZEN, 2007, 
p. 76) entende que a “variedade alta seria empregada, por exemplo, para fins 
burocráticos, acadêmicos, religiosos, enquanto a baixa em situações mais íntimas 
ou informais, como no lar, entre amigos, em correspondência pessoal”.
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
143
O também linguista americano Joshua Fishman (1971) ampliou a noção de 
diglossia utilizada por Fergunson (1959). Fishman (1971 apud FRITZEN, 2007 p. 
76) incluiu “situações de bilinguismo em que duas diferentes línguas são usadas 
para funções comunicativas distintas”. Nesse contexto, o bilinguismo é estudado 
a partir da diglossia-fenômeno social, em contraposição ao bilinguismo como fato 
individual (CALVET, 2002).
Calvet (2002, p. 61-62) exemplifica a noção de diglossia de Fishman 
concretizada em quatro situações polares:
1- Bilinguismo e diglossia: todos os membros da comunidade conhecem a 
forma alta e a forma baixa. É o caso do Paraguai (espanhol e guarani).
2- Bilinguismo sem diglossia: há numerosos indivíduos bilíngues 
em uma sociedade, mas não se utilizam das formas linguísticas 
para usos específicos. Esse seria o caso de situações instáveis, de 
situações em transição entre uma diglossia e uma outra organização 
da comunidade linguística.
3- Diglossia sem bilinguismo: numa comunidade social há a divisão 
funcional de usos entre duas línguas, mas um grupo só fala a forma 
alta, enquanto a outra só fala a forma baixa. [...] 
4- Nem diglossia nem bilinguismo: há uma só língua. Só se pode imaginar 
essa situação em uma comunidade muito pequena.
Vale alertar que, embora o conceito de diglossia até aqui apresentado tenha 
exercido forte influência na sociolinguística, novas pesquisas na área passaram a questionar 
um ponto frágil na sua definição: “a relativa estabilidade da variedade alta e da baixa que 
a noção desse fenômeno [proposto por Fergunson e ampliado por Fishman] implica” 
(FRITZEN, 2007, p. 76). Essa definição é tida como frágil porque o contato sempre gera 
conflito, uma vez que as línguas e/ou as variedades linguísticas sempre disputam alguma 
legitimidade nos espaços geográficos, o que gera novas mudanças linguísticas ou a 
permanência de variações.
IMPORTANT
E
Quando falamos, hoje, em diglossia, consideramos as disputas e conflitos 
que ela implica na realidade multilíngue, na relação entre as diferentes línguas 
em contato e o uso de diferentes variedades dessas línguas. Para exemplificar, 
podemos pensar na situação bilíngue de surdos na educação básica brasileira, 
que se comunicam diariamente em Libras, mas utilizam a língua portuguesa 
nas tarefas escritas escolares. Há um conflito constante na presença dessas duas 
línguas na escola, considerando que as atividades avaliativas tendem a ser 
realizadas na língua portuguesa, dificilmente na língua materna desse estudante 
144
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
surdo. Além disso, como estudante bilíngue, revela as marcas desse bilinguismo 
nos usos do português constantemente, o que também gera conflitos. A língua 
portuguesa em uso por um surdo, que apresenta as marcas do bilinguismo, tende 
a ser mal recebida, julgada negativamente, desvelando mais uma vez a situação 
de conflito na diglossia presente na sala de aula.
A noção de diglossia, ao olharmos para o bilinguismo sob um aspecto social, 
contribui para a discussão acerca da política e planificação linguística, que será apresentada 
a você no Tópico 3 desta unidade.
ESTUDOS FU
TUROS
Na Unidade 2, vimos as alternâncias entre as línguas e as práticas de 
translinguagem como estratégias linguísticas em situação de bi/multilinguismo, 
isto é, em situação de contato entre línguas. Nesta seção do Tópico 2 da Unidade 
3, esperamos que você, prezado acadêmico, tenha refletido sobre a diglossia como 
um aspecto do bi/multilinguismo social, sobre as línguas veiculares, o sabir, o 
pidgin, bem como o crioulo como outras estratégias linguísticas investigadas pela 
sociolinguística e importantes para os estudos da linguagem também na escola. 
Lembre-se, afinal, de que seu contexto escolar tende a ser multilíngue e, ignorar esse 
multilinguismo pode implicar perda linguística, dificuldades de aprendizagem e 
construções de estereótipos que fortaleçam o preconceito linguístico. Enquanto 
professor de língua portuguesa, suas atitudes e comportamentos diante do contato 
linguístico importam e muito para os falantes dessas línguas! Continue conosco 
para conhecer aspectos sobre o estudo da variedade linguística nas comunidades 
brasileiras, considerando o dialeto, o socioleto, o etnoleto, o cronoleto e o idioleto.
3 ESTUDANDO A VARIEDADE LINGUÍSTICA: SOCIOLETO, 
ETNOLETO, CRONOLETO E IDIOLETO
Neste momento da sualeitura na disciplina de Sociolinguística, é 
importante que você consiga reunir subsídios para responder à seguinte questão: 
por que estudar a variação linguística? 
O tema variação linguística está constantemente presente nas nossas 
atitudes como professores de língua portuguesa, já que a variação, inevitável na 
vida social de qualquer pessoa, adentra a escola. Por conseguinte, a formação 
inicial do professor de língua portuguesa necessita contemplar aspectos de 
variação e preconceito linguístico, os mitos construídos acerca da homogeneidade 
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
145
da língua portuguesa no Brasil e o apagamento do multilinguismo, assim como 
as políticas que buscam reverter, de certo modo, a invisibilidade que a história 
linguística brasileira desvela sobre a diversidade de línguas e seus falantes. 
Nesse sentido, esperamos que os estudos da sociolinguística possam contribuir 
para a sua prática pedagógica aberta à heterogeneidade, e que você possa 
assumir ações de ensino da língua que permitam ao estudante da educação 
básica descrever os fenômenos morfológicos, sintáticos, fonético-fonológicos, 
semânticos, pragmáticos, contextualizados dentro de variedades linguísticas, 
incluindo a norma padrão.
Na Unidade 1 deste livro didático, você viu que existem diferentes tipos de 
variação linguística: variação diatópica, variação diastrática, variação diacrônica, variação 
diafásica e variação diamésica. Nesta seção da terceira unidade, veremos que também 
podemos classificar por tipos as diferentes variedades linguísticas: dialeto (tipicamente 
visto como variedade regional, embora o uso do termo tenha sido ampliado), socioleto 
(variedade social), etnoleto (variedade dos grupos étnicos), cronoleto (variedade de 
geração), idioleto (modo particular de cada um falar).
 Você lembra qual é a diferença entre os conceitos de variação e variedade 
na sociolinguística? A variação linguística corresponde ao processo pelo qual diferentes 
formas da língua podem ocorrer no mesmo contexto linguístico com o mesmo valor 
referencial, ou com o mesmo valor de verdade. A variedade representa o modo como uma 
comunidade fala (é o seu dialeto, por exemplo).
IMPORTANT
E
NOTA
Olhar para cada tipo de variedade linguística contribui não só na 
compreensão das características da variação, como também na prática pedagógica 
que ultrapassa a ideia de “erro” na língua para fortalecer o estudo dos diferentes 
modos de falar o português brasileiro. Irandé Antunes (2002, p. 130) afirma que 
“ninguém cria [...] suas próprias regras linguísticas. A língua é um fato social, um 
saber coletivo, que existe em função da interação do indivíduo com os seus pares”. 
146
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
As variedades da língua portuguesa se constituíram por mudanças 
linguísticas ao longo de um percurso histórico, desde o latim, até os usos atuais. 
Essas mudanças, como vimos na Unidade 2, resultaram em traços descontínuos 
e graduais, revelando fenômenos de síncope (desaparecimento de fonema no 
interior de vocábulo; ex.: LETRA para o que era LITTERA, FIGO para FÍGADO), 
vocalização (transformação de consoante (lateral) em vogal; ex.: PAIA para 
PALHA), metátese (troca de lugares de fonemas ou sílabas dentro de um vocábulo; 
ex.: SEMPRE para o que antes era SEMPER, TAUBA para TÁBUA), entre outros.
Vamos, agora, reconhecer o que significa cada tipo de variedade:
a) Dialeto: “é um termo usado há muitos séculos, desde a Grécia Antiga, para 
designar o modo característico de uso da língua num determinado lugar, 
região, província etc.” (BAGNO, 2007, p. 48). 
É importante destacarmos, consoante Bagno (2007), que o termo dialeto, 
hoje, perde sua essência conceitual restrita à variedade regional para designar o que, 
na sociolinguística, preferimos chamar de variedade. Além disso, o senso comum 
tem construído uma representação negativa acerca do dialeto, como uma forma não 
gramatical da língua falada por pessoas sem instrução formal (FRITZEN; EWALD, 2011). Essa 
representação, contudo, não cabe à sociolinguística, uma vez que trata toda a realização 
linguística como variedade de mesmo valor para estudo.
IMPORTANT
E
O sociolinguista Max Weinreich (1894-1969) popularizou a 
frase: “uma língua é um dialeto com um exército ou marinha” (NORDHOFF; 
HAMMARSTRÖM, 2011, p. 1), problematizando o fato de que não haveria 
diferença, sob o aspecto sociolinguístico, ao tratamento dado entre dialeto e língua. 
No entanto, a língua, diferentemente de um dialeto, tem status na sociedade para 
se tornar língua oficial de uma nação. Nesse sentido, seria possível afirmarmos 
que a língua é um dialeto com prestígio e o dialeto é uma língua sem prestígio. 
A língua, num cenário de preconceito, seria o que pessoas “civilizadas” 
utilizam, enquanto dialeto, visto de maneira pejorativa, consiste no desprezo a 
determinados modos de falar (CALVET, 2002). Línguas minoritárias tendem a ser 
denominadas, no senso comum, como dialetos (por não desfrutarem do status de 
língua padrão). 
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
147
A sociolinguística tem trabalhado, no Brasil, com variedades de línguas 
de imigração sem fazer distinção de status entre elas: como Pommerisch e o 
Hunsruckisch (dialetos do alemão) e o Talien (dialeto do italiano), só para citar 
alguns exemplos. Quando usamos o termo dialeto/variedade na sociolinguística, 
portanto, não estamos nos distanciando do reconhecimento de língua, já que 
entendemos que toda língua é constituída por dialetos/variedades. É importante, 
também na educação básica, desconstruir estigmas vinculados à variação 
linguística e à constituição de variedades das línguas que compõem o cenário 
multilíngue nacional.
Na língua portuguesa, em discurso majoritário, o falar caipira frequentemente 
tem sido visto como um dialeto, mas as variedades mais prestigiadas das línguas, 
faladas por pessoas escolarizadas de zonas urbanas não têm recebido a mesma 
designação. Como variedades linguísticas, na sociolinguística, todas elas são 
dialetos/variedades e recebem o mesmo tratamento científico. 
 
b) Socioleto: também chamado de dialeto social, “designa a variedade linguística 
própria de um grupo de falantes que compartilham as mesmas características 
socioculturais (classe socioeconômica, nível cultural, profissão etc.)” (BAGNO, 
2007, p. 48). Nesse sentido, consoante Monteiro (2002), é possível identificarmos, 
pelas características da fala de um indivíduo, o grupo social ao qual pertence 
(como de surfistas, de advogados etc.). 
O socioleto usado por determinados sujeitos serve como uma reafirmação 
da sua identidade, isto é, aquele uso da língua o caracteriza como sendo parte 
de um determinado grupo, por isso o faz. Perceber que o próprio indivíduo, 
por meio de uma variedade linguística, se reconhece e é reconhecido por outros 
sujeitos como pertencente a um grupo social, também tem um papel importante 
no processo de ensino da língua em sala de aula.
c) Etnoleto: é a variedade associada à determinada etnia/subgrupo cultural 
(MONTEIRO, 2002), e por isso tende a ser reconhecida como um dialeto de 
grupo étnico.
d) Cronoleto: “designa a variedade própria de determinada faixa etária, de uma 
mesma geração de falantes” (BAGNO, 2007, p. 48). Para exemplificar, podemos 
pensar na facilidade que temos para identificar a diferença da fala dos idosos 
em comparação à de indivíduos mais jovens, em virtude de conservarem traços 
que já passaram por mudanças linguísticas (MONTEIRO, 2002).
e) Idioleto: “designa o modo de falar característico de um indivíduo, suas 
preferências vocabulares, seu modo próprio de pronunciar as palavras, de 
construir as sentenças etc.” (BAGNO, 2007, p. 48). O conceito de idioleto contribui 
para reconhecermos que nenhuma comunidade é homogênea, uma vez que não 
existem “duas pessoas que falem igualmente,empregando os mesmos tipos 
de construção sintática, uma frequência igual na seleção de vocábulos ou uma 
realização de fonemas sem distinção” (MONTEIRO, 2002, p. 50). 
148
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
Estudar os diferentes tipos de variedades linguísticas é importante para 
que reconheçamos que a realização da língua é influenciada pelos contextos de 
uso, se diferenciando e até se modificando conforme idade, sexo, classe social, 
grau de escolaridade, etnias, distâncias geográficas, além dos fatores linguísticos 
(como tonicidade silábica, posição da consoante da sílaba etc.). Fique conosco 
para estudar acerca dos comportamentos e atitudes sobre as variedades da língua 
que, quando negativos, resultam no preconceito linguístico.
4 COMPORTAMENTOS E ATITUDES SOBRE AS LÍNGUAS E 
SEUS FALANTES: PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Ao longo da disciplina de sociolinguística, vimos que em qualquer língua 
há variedades diferentes. Nesse sentido, é inevitável considerar que existem 
variantes que coexistem na sociedade de forma competitiva, como a disputa 
entre “tu” e “você”, “a gente” e “nós”, a disputa entre pronúncias etc. O uso de 
determinadas variantes pode assumir traços sociais, como escolaridade, região 
de origem do falante, classe social, entre outros. As variantes, relacionadas aos 
traços sociais, são constantemente julgadas pelos falantes de uma língua, que 
podem assumir atitudes positivas ou negativas frente a certos usos linguísticos.
Considerar esses comportamentos e atitudes é importante para o estudo 
da linguagem, tendo em vista que “a valorização ou a desvalorização de uma 
determinada língua [ou variantes da língua] pode ser o fator decisivo entre a sua 
manutenção ou extinção” (CEREZOLI; MENDONÇA; SELLA, 2015, p. 1). Nesse 
contexto, consoante Labov (2008), as atitudes linguísticas são determinantes 
para os fatores de mudanças linguísticas, uma vez que só ocorre uma mudança 
na língua quando os falantes passam a aceitar a forma inovadora. Nesta seção, 
procuraremos sensibilizá-lo, prezado acadêmico, com a reflexão acerca das nossas 
atitudes frente às línguas e suas variações, bem como acerca dos preconceitos 
linguísticos em relação às variedades e aos seus falantes. 
Como você já deve ter observado, é impossível uma língua ser falada 
sem variação. Logo, todo falante, independentemente de grau de escolaridade 
ou situação socioeconômica, está sujeito à variação linguística. Diante dessa 
realidade, é pertinente questionarmos: se a língua é sempre realizada dentro 
de uma variedade, por que então algumas variedades são julgadas (no senso 
comum) como mais “erradas” que outras?
Para responder tal pergunta, precisamos considerar fatores sociais, e não 
necessariamente linguísticos, pois o estigma e o prestígio a certas variedades 
estão associados aos seus falantes, à posição social que ocupam em uma escala 
socioeconômica, à escolarização e à própria origem geográfica. Conforme 
assinalam alguns linguistas, são os grupos de maior prestígio social que detêm 
poder para ditar qual variante da língua tem maior status, valorizando ou 
rejeitando determinados usos linguísticos (AGUILERA, 2008).
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
149
Vale lembrarmos que as variantes linguísticas de uma regra variável, 
mesmo quando não corresponderem à norma padrão, não são consideradas pela 
sociolinguística como erros. Bortoni-Ricardo e Oliveira (2013, p. 50) explicam a 
atitude linguística de classificar como “errados” alguns modos de falar e outros não:
Alguns “erros” são vistos como menos salientes porque já se tornaram 
regra na língua falada pelos cidadãos mais letrados, passando, assim, 
muitas vezes, despercebidos. Bagno (2003) acredita que, por esse 
motivo, existam erros mais “errados” (ou mais “crassos”) do que 
outros e trabalha com a ideia de uma pirâmide das classes sociais, na 
qual a escala de “crassidade” é inversamente proporcional à escala de 
prestígio social, ou seja, quanto menos socialmente prestigiado for um 
indivíduo, mais erros serão encontrados na sua língua pelos membros 
das classes sociais mais prestigiosas.
No campo de estudos da sociolinguística, sempre houve a problematização 
do que é visto como erro na fala das pessoas. Por isso, desde a Unidade 1, 
introduzimos os termos adequação e inadequação linguística, cujos conceitos se 
referem a um evento ou ato de fala que atende ou não “às expectativas do ouvinte 
em função dos papéis sociais de um outro” (BORTONI-RICARDO; OLIVEIRA, 
2013, p. 48). Classificar meramente como erro um ato de fala pode ser reflexo do 
preconceito linguístico.
Para assistir a uma introdução sobre o tema preconceito linguístico, acesse o link 
https://www.youtube.com/watch?v=TDCcSKl5maI, disponível no canal Brasil Escola, no YouTube.
DICAS
O preconceito linguístico se manifesta por meio de julgamentos, que 
costumam ser desrespeitosos e depreciativos com relação às variedades das línguas e seus 
falantes (SCHERRE, 2008). É, portanto, uma crença, sem fundamento científico, sobre a língua.
IMPORTANT
E
150
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
As variedades linguísticas mais sujeitas a preconceito linguístico são, 
normalmente, as que possuem características associadas a grupos de 
pessoas com menos prestígio na escala social ou a grupos de pessoas 
da área rural ou do interior do país. Este fato decorre do sentimento de 
superioridade – muito claro na mídia – dos grupos vistos como mais 
privilegiados, econômica e socialmente (SCHERRE, 2008, p. 12). 
Na Unidade 2, ao observar os traços descontínuos, você encontrou 
amostras de variantes frequentemente sujeitas ao preconceito linguístico, o qual 
leva a afirmações descabidas e desrespeitosas sobre seus falantes: não sabe falar 
português, fala tudo errado, empobrece a língua, só para citar alguns exemplos. 
De acordo com Scherre (2008), assim como os preconceitos de raça, 
religião ou gênero que, hoje, são passíveis de punição, o preconceito linguístico 
poderia também ser tratado com gravidade na sociedade. As teorias linguísticas 
e, mais especificamente, sociolinguísticas, contribuem constantemente no 
combate ao preconceito linguístico, tendo em vista sua “condição de propiciar 
um conhecimento dinâmico e aberto dos fenômenos que envolvem a linguagem 
humana” (SCHERRE, 2008, p. 19). No entanto, cabe salientar que as discussões 
sobre a legitimação das línguas e das suas variedades, além de científicas, também 
são políticas, o que melhor veremos no último tópico desta unidade. 
TÓPICO 2 | AS LÍNGUAS EM CONTATO E OS COMPORTAMENTOS E ATITUDES COM RELAÇÃO ÀS LÍNGUAS E SEUS FALANTES
151
Achou interessante o tema “preconceito linguístico”? Confira as sugestões de 
leituras que deixamos aqui para você:
LIVROS PARA AMPLIAR O CONHECIMENTO SOBRE VARIAÇÃO E 
PRECONCEITO LINGUÍSTICO
DICAS
Doa-se lindos filhotes de Poodle
FONTE: <http://twixar.me/W7LT>. 
Acesso em: 15 out. 2019.
Preconceito linguístico
FONTE: <http://twixar.me/47LT>. 
Acesso em: 15 out. 2019.
A língua de Eulália
FONTE: <http://twixar.me/b7LT>. 
Acesso em: 15 out. 2019.
Nós cheguemu na escola, e agora?
FONTE: <http://twixar.me/w7LT>. 
Acesso em: 15 out. 2019.
FONTE: As autoras
152
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
A partir dos pressupostos até aqui apresentados, podemos compreender 
que é papel da escola oportunizar a aprendizagem dos modos diferentes de falar, 
que podem (ou devem) ser ajustados às situações sociais de uso, adotando um 
posicionamento científico, e não de preconceito. Por isso, a sociolinguística é 
indispensável na formação dos professores e nos currículos escolares (BORTONI-
RICARDO; OLIVEIRA, 2013).
Nas aulas de língua portuguesa, esperamos que os estudantes possam 
aprender a usar os recursos da variação para a competência sociolinguística, 
sem invisibilizar suas características sociodemográficas (BORTONI-RICARDO; 
OLIVEIRA,2013). Nesse sentido, como assinalam as autoras:
Um professor poderá aceitar de seu aluno tanto “eu encontrei ele no 
jardim” quanto “eu o encontrei no jardim”, dependendo do contexto 
em que o enunciado apareça. Mas não poderá jamais aceitar que o 
aluno escreva: “eu encomtrei...”. Levar em conta essa flexibilidade que 
caracteriza a interação oral não monitorada não significa, todavia, que 
os professores estejam proibidos de fazer intervenções quando seus 
alunos não ajustam com propriedade a fala à formalidade da situação” 
(BORTONI-RICARDO; OLIVEIRA, 2013, p. 55).
Em um programa televisivo do canal GNT, no qual o artista Fábio Porchat 
entrevista convidados, o tema preconceito linguístico surge em um tom bastante 
descontraído. Na oportunidade, Francisco Bosco fala sobre a invenção da gramática e como 
ela já nasce como uma invenção de classe. Confira o vídeo no link: https://www.youtube.
com/watch?v=YDDeBLxKwrs&fbclid=IwAR3ikNvOOqS_dqWpmBjqyk5BjuSzzkCF4y-
UEpnnjvpkblcdOYLGFLdYC9s.
DICAS
A sociolinguística, como temos defendido nesta disciplina, desempenha 
um papel crucial no combate ao preconceito linguístico com sua função científica 
de descrever as regularidades da língua nas mais diversas realizações, lutando 
para o reconhecimento dessa heterogeneidade em contexto escolar. No próximo 
tópico, veremos mais detalhadamente aspectos relacionados às políticas 
linguísticas, nas quais se situam a discussão sobre a legitimação das línguas e 
sua heterogeneidade. Antes de prosseguirmos, convidamos você a colocar em 
prática, por meio de algumas atividades, os conhecimentos construídos.
153
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A sociolinguística (e/ou sociologia da linguagem) e a linguística aplicada 
desvelam o multilinguismo no Brasil, apesar da existência do mito de que 
aqui só se fala português. 
• O multilinguismo faz com que as línguas estejam constantemente em 
contato, gerando uma situação sociolinguística complexa. Por conseguinte, 
é importante olharmos para a formação linguística de uma comunidade, 
considerando: línguas aproximativas (como as línguas veiculares, o crioulo, o 
pidgin e o sabir) e a diglossia como fenômenos gerados pelo contato linguístico.
• As línguas veiculares consistem naquelas utilizadas em situação de contato 
entre os falantes que mutuamente desconhecem a língua um do outro. Ex.: um 
falante de português e um falante de francês que desconhecem suas línguas 
optam por uma terceira língua, a veicular, para haver comunicação, que pode 
ser o espanhol, o inglês, entre outras. 
• Caso não haja uma língua veicular como opção de comunicação, é possível que 
os falantes inventem uma outra língua aproximativa, como o sabir ou o pidgin.
• O sabir é uma língua aproximativa, cujo sistema é extremamente restrito: 
algumas estruturas sintáticas e um vocabulário limitado às necessidades de 
comunicação imediata. 
• O pidgin é uma língua aproximativa inventada para que os interlocutores, que 
desconheçam suas línguas mutuamente, possam estabelecer comunicação. Seu 
sistema sintático é mais desenvolvido que o do sabir.
• O sabir e o pidgin não são línguas maternas de ninguém.
• Há duas formas de definir as línguas crioulas: I. O crioulo é um pidgin que se 
tornou a língua primeira de uma comunidade, cujo vocabulário é emprestado 
de uma língua dominante e uma sintaxe é fundada sobre a sintaxe das línguas 
africanas; II. O crioulo é originado de uma aproximação de aproximação, isto é, os 
escravizados africanos ensinaram uma língua dominante sumária (aproximação da 
língua dominante) a outros escravizados que realizaram uma nova aproximação, 
gerando uma nova língua (crioula), ensinada de geração a geração.
154
• A diglossia é gerada em situação de contato linguístico, como resultado de 
um contexto sociolinguisticamente complexo, onde há diferentes línguas e 
variedades dessas línguas disputando espaços. 
• As variedades da língua portuguesa se constituíram por mudanças linguísticas 
ao longo de um percurso histórico, desde o latim, até os usos atuais. Essas 
mudanças resultaram em traços descontínuos e graduais, revelando fenômenos 
de síncope, vocalização, metátese, entre outros.
• As variedades linguísticas podem ser classificadas por tipos: dialeto (tipicamente 
visto como variedade regional, embora o uso do termo tenha sido ampliado), 
socioleto (variedade social), etnoleto (variedade dos grupos étnicos), cronoleto 
(variedade de geração), idioleto (modo particular de cada um falar). 
 
• A língua é um dialeto que desfruta prestígio social, podendo assumir 
legitimação para língua padrão; o dialeto, no senso comum, é uma língua sem 
prestígio, desassociado de um padrão. Para a sociolinguística, toda língua é 
realizada em dialetos/variedades, o que implica no mesmo tratamento científico 
para descrição.
• As atitudes sobre as variantes de uma mesma variável são determinantes para 
os fatores de mudanças linguísticas, uma vez que só ocorre uma mudança na 
língua quando os falantes passam a aceitar a forma inovadora. 
• O senso comum tende a julgar determinadas variantes como “erros”, mas, 
quando as variantes parecem estar associadas a cidadãos mais letrados, não 
recebem o mesmo julgamento. Essa atitude diante da língua pode ser reflexo 
de preconceito linguístico.
• O preconceito linguístico é uma crença, sem fundamento científico, sobre a 
língua. Manifesta-se por meio de julgamentos, que costumam ser desrespeitosos 
e depreciativos com relação às variedades das línguas e seus falantes. O 
preconceito linguístico gera afirmações descabidas e desrespeitosas sobre seus 
falantes: não sabe falar português, fala tudo errado, empobrece a língua etc.
155
AUTOATIVIDADE
1 A sociolinguística (e/ou sociologia da linguagem) e a linguística aplicada 
desvelam o multilinguismo no Brasil, apesar da existência do mito de 
que aqui só se fala português. O multilinguismo reflete diretamente as 
realidades de contato linguístico que existem em nosso país. Diante desse 
contexto, analise as sentenças a seguir:
I- O multilinguismo brasileiro só existe porque os falantes necessitam 
constantemente das línguas veiculares para comunicação com estrangeiros.
II- Sabirs e pidgins correspondem ao vernáculo do português popular 
brasileiro, que é heterogêneo.
III- No Brasil, a diglossia representa situação conflituosa, uma vez que o uso e 
as atitudes diante das variedades linguísticas e de diferentes línguas estão 
longe de serem estáveis.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas a sentença I está correta.
b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Apenas a sentença III está correta.
2 O estudo sobre contato linguístico implica a necessidade de utilizarmos 
alguns conceitos da sociolinguística, tais como: língua veicular, sabir, pidgin, 
língua crioula, diglossia. Assinale a alternativa CORRETA que melhor pode 
conceituar uma língua crioula:
a) ( ) Idioma de um país terceiro utilizada em situação de contato entre os 
falantes que mutuamente desconhecem a língua um do outro. 
b) ( ) Língua aproximativa, cujo sistema é extremamente restrito: algumas 
estruturas sintáticas e um vocabulário limitado às necessidades de 
comunicação imediata. 
c) ( ) Pidgin que se tornou a língua primeira de uma comunidade, cujo 
vocabulário é emprestado de uma língua dominante e cuja sintaxe é 
fundada sobre a sintaxe das línguas africanas.
d) ( ) Língua aproximativa inventada para que os interlocutores, que 
desconhecem suas línguas mutuamente, possam estabelecer 
comunicação, sem que seja ensinada às próximas gerações de falantes.
3 A diglossia é gerada em situação de contato linguístico, como resultado de 
um contexto sociolinguisticamente complexo, onde podem haver diferentes 
línguas e variedades dessas línguas. Explique por que não podemos tratar 
de estabilidade linguística em situação de diglossia.
156
4 As variedades linguísticas podem ser classificadas por tipos:dialeto 
(tipicamente visto como variedade regional, embora o uso do termo tenha sido 
ampliado), socioleto (variedade social), etnoleto (variedade dos grupos étnicos), 
cronoleto (variedade de geração), idioleto (modo particular de cada um falar). 
Assinale a alternativa CORRETA que apresenta um exemplo de cronoleto:
a) ( ) Um grupo de idosos entre 70 e 80 anos fala “Nós comemos”, enquanto 
um grupo de jovens entre 18 e 28 anos fala “A gente come”.
b) ( ) Em uma comunidade de surfistas, o léxico “ixi”, para indicar uma 
interjeição de surpresa, faz parte da variedade de apenas um falante.
c) ( ) O inglês vernacular negro estudado por Labov. 
d) ( ) O linguajar típico da região Sudeste do Brasil.
5 O sociolinguista Max Weinreich (1894-1969) popularizou a frase: “uma 
língua é um dialeto com um exército ou marinha”. Escreva um parágrafo 
crítico acerca dessa afirmação.
6 (ENADE, 2017)
Texto 1
O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava 
sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio 
Grande do Sul, com um sotaque carregado.
— Aí, Gaúcho!
— Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora 
explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram 
tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas 
a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do 
tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
— Mas o Gaúcho fala "tu"! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava 
com o novato.
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer 
"você". Os dois estão certos. Os dois são português.
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
157
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que 
acontecera.
— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O que?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do 
menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, 
em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo 
retirados do seu corpo.
— O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso?
— Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
— Nós vinha...
— Nós vínhamos.
— Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho 
e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? 
Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não 
podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
 
"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas 
"pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? 
Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol 
e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o 
gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara 
outro apelido: Pechada.
— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!
FONTE: VERÍSSIMO, L. Pechada. Revista Nova Escola, maio 2014. Disponível em: https://
novaescola.org.br. Acesso em: 9 jul. 2017.
Texto 2
Todos sabem que existe um grande número de variedades linguísticas, mas, 
ao mesmo tempo em que se reconhece a variação linguística como um fato, 
observa-se que a nossa sociedade tem uma longa tradição em considerar a 
variação em uma escala valorativa, às vezes até moral, que leva a tachar os 
usos característicos de cada variedade como certo ou errado, aceitáveis ou 
inaceitáveis, pitorescos, cômicos etc. 
FONTE: TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. 
São Paulo: Cortez, 2009.
158
Considerando a imagem apresentada, os sentidos estabelecidos pelo texto 1 e 
a reflexão provocada pelo texto 2, conclui-se que a professora:
a) ( ) Identifica “pechada” como um caso de estrangeirismo na fala de seu 
aluno, incorporado à língua portuguesa como empréstimo aceitável da 
língua espanhola.
b) ( ) Identifica o fenômeno de variação diafásica em nível lexical, ao 
compreender o contexto de uso dos vocábulos “sinaleira” e “auto”.
c) ( ) Ignora a possibilidade de discutir o tema do preconceito linguístico com 
relação ao uso de variações linguísticas diatópicas.
d) ( ) Evita, ao abordar as variedades linguísticas do português brasileiro, 
que o estudante Rodrigo sofra preconceito linguístico.
e) ( ) Explica os diferentes modos de falar de seus alunos conforme a 
ocorrência de variações morfológicas e sintáticas na fala de Rodrigo.
159
TÓPICO 3
POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores, vimos alguns elementos importantes sobre o ensino 
de gramática na escola e os problemas que aparecem nos livros didáticos de língua 
portuguesa para a educação básica. Vimos também algumas considerações sobre 
as línguas de contato, os conceitos de diglossia, sabir, pidgin, línguas crioulas, 
línguas veiculares, dialeto, socioleto, etnoleto, cronoleto, idioleto. Agora, para 
finalizar esta unidade, apresentaremos alguns conceitos e reflexões sobre a gestão 
do plurilinguismo, políticas e planejamento linguístico. 
2 A GESTÃO DO PLURILINGUISMO
Quando falamos em gestão do plurilinguismo, estamos nos referindo à 
gestão da diversidade linguística, isto é, a pluralidade e a variação das línguas 
em contato presentes em contextos diversos. Essa gestão se relaciona com o modo 
como instituições, indivíduos e grupos lidam e agem com o plurilinguismo, ou 
seja, como administram as situações de uso das línguas. Isso envolve políticas 
linguísticas provenientes do Estado, de órgãos relacionados ao governo e de 
pessoas ou comunidades que dispõem de recursos, estratégias e autoridade para 
concretizar as políticas e gestão das línguas, mobilizadas pelos seus aspectos 
ideológicos, políticos e sociais (CALVET, 2007; SPOLSKY, 2009).
Ao falarmos de gestão do plurilinguismo e das ações relacionadas 
às línguas por meio de políticas linguísticas, destacamos e reiteramos 
a diversidade presente no Brasil, que se contrapõe e desafia o mito do 
monolinguismo, um processo histórico e social de homogeneização linguística, 
que legitimou o português como língua nacional única do Brasil. Ter consciência 
disso é fundamental para o professor. Estar em sala de aula significa conviver, 
diariamente, com esse plurilinguismo. Diante disso, é fundamental compreender 
o conceito e, para além disso, as implicações práticas dessa realidade.
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
160
O que compreendemos como plurilinguismo? De acordo com os autores 
Broch (2014) e Altenhofen e Broch (2011), o termo plurilinguismo é entendido e utilizado 
para designar as competências do falante em mais de uma língua, isto é, os usos das 
línguas do falante, envolvendo uma postura linguística plural e social. Entendemos que os 
usos de diferentes línguas de um falante estão além das escolhas por usar uma ou outra 
língua, uma vez que compreendemos que as ações que fazemos com a linguagem estão 
relacionadas com outras práticas culturais, sociais e políticas.
IMPORTANT
E
O que temos visto é que o Brasil é um país de muitas línguas, e isso fica claro 
quando olhamos para o número de línguas que foram e são ainda faladas no país. Você 
já leu sobre esse tema neste material didático e viu que, no Brasil, são faladas mais de 200 
línguas. Segundo Oliveira (2000), os grupos indígenas do país falam cerca de 170 línguas, 
as comunidades de descendentes de imigrantes por volta de 30 línguas e as comunidades 
surdas do Brasil usam a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a língua de sinais Urubu-
Kaapor, localizada no sul do estado do Maranhão, a Língua de Sinais Cena, utilizada para a 
comunicação entre surdos e ouvintes em umacomunidade rural do município de Jaicós, 
no Piauí. Essa realidade caracteriza o Brasil como um país de multilinguismo.
IMPORTANT
E
Como uma das medidas e políticas que reconhecem e protegem a 
diversidade cultural e linguística do Brasil está a Constituição Federal de 1988, que 
reconheceu aos indígenas o direito à cidadania, à sua cultura e à sua língua. Apesar 
desse reconhecimento, não direcionou ações para outras línguas e comunidades, 
tais como as línguas de sinais (Libras, Urubu-Kaapor e Cena) e a dos imigrantes, 
como o italiano, o alemão, o ucraniano e o crioulo (MORELLO; SEIFFERT, 2011).
Foi a partir da Constituição de 1988 que se vislumbrou e se articulou os 
primeiros movimentos no Estado brasileiro em prol da diversidade linguística, 
cujo início é marcado pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas 
em relação às suas línguas e culturas. Estas ações inspiraram outras e abriram 
espaços para discussões e reflexões sobre a importância da defesa em torno dos 
direitos linguísticos no país.
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
161
No tocante às ações em direção ao reconhecimento, à defesa, à valorização 
e à difusão das línguas no país, além da Constituição de 1988, citamos o 
Inventário Nacional da Diversidade Linguística do Brasil (INDL), instituído 
pelo Decreto nº 7.387/2010 e conduzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional (IPHAN). Este inventário contempla as línguas que fazem 
parte da sociedade brasileira. 
Destacamos também a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada 
pelo Decreto nº 5.626 de 2005, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais 
(Libras) como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda 
brasileira. Outras políticas linguísticas que tratam do uso e da defesa das 
línguas são os documentos de co-oficialização de diversas línguas no âmbito de 
governos municipais, voltados às línguas de imigração e às línguas indígenas, 
bem como o Seminário de Criação do Livro de Registro das Línguas promovido 
pelo IPHAN em 2006.
Essas políticas linguísticas não só reconhecem a presença de diferentes 
línguas no Estado brasileiro, como também buscam valorizá-las e protegê-las, 
desafiando e desconstruindo o mito de língua única no país. Por conseguinte, 
contribui para que a sociedade perceba a multiplicidade de línguas no Brasil, 
sejam as línguas de sinais, as línguas das comunidades indígenas, de imigrantes, 
línguas crioulas, além das variedades dialetais da língua portuguesa.
Para aprimorar seus conhecimentos sobre o tema diversidade linguística e 
sobre quantas línguas são faladas no nosso país, confira esta entrevista com o professor 
Gilvan Müller de Oliveira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Hy-ggZQYP7s.
DICAS
Para você conhecer um pouco melhor as línguas citadas até o momento, 
apresentamos o quadro a seguir com as categorias de línguas conforme o 
Inventário Nacional de Diversidade Linguística (INDL) (2016, p. 13-14):
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
162
QUADRO 1 – CATEGORIAS DE LÍNGUAS CONFORME O INDL
LÍNGUAS DE IMIGRAÇÃO
Línguas alóctones trazidas ao Brasil por grupos de fala 
advindos principalmente da Europa, Oriente Médio e Ásia 
e que, inseridas em dinâmicas e experiências específicas 
dos grupos em território brasileiro, tornaram-se referência 
de identidade e memória. Exemplos: Talian, Pomerano, 
Hunsrükisch, entre outras.
LÍNGUAS INDÍGENAS
Línguas autóctones, originárias do continente sul-
americano – da porção que hoje corresponde ao território 
brasileiro – e faladas por populações indígenas. Exemplos: 
Guarani, Kaingang, Baniwa, Tukano, Ninam, Maxakali, 
Marubo, entre outras.
LÍNGUAS AFRO-BRASILEIRAS
Línguas de origem africana faladas no Brasil. Essas 
línguas apresentam notáveis diferenças linguísticas em 
vários aspectos de sua estrutura gramatical, produzidas 
por mudanças históricas desencadeadas pelo contato 
com o Português, podendo ter ocorrido transferências 
gramaticais desde esse substrato africano (LUCCHESI et 
al., 2009). Exemplos: Gíria de Tabatinga, língua do Cafundó 
e variedades Afro-brasileiras do Português Rural.
LÍNGUAS DE SINAIS
Línguas faladas por comunidades surdas, incluindo 
pessoas surdas e ouvintes, que se utilizam da modalidade 
visuoespacial com sinais manuais e não manuais, tais como 
expressões faciais e corporais. Exemplos: Libras, Língua de 
Sinais Urubu-Kaapor, Língua de Sinais do município de 
Jaicós, no Piauí, entre outras.
LÍNGUAS CRIOULAS
Línguas surgidas a partir da aquisição como língua 
materna por parte de um grupo social de uma língua 
Pidgin. Exemplos: os Galibi-Marwórno, os Karipuna e 
os Palikur, que vivem no estado do Amapá e falam uma 
língua crioula formada a partir do Francês como língua 
dominante, e de diferentes línguas africanas e indígenas 
da Guiana Francesa e Suriname.
VARIEDADES DIALETAIS DA 
LÍNGUA PORTUGUESA
Embora o Português seja língua oficial e majoritária do país, 
suas variedades podem ser objeto de ações de promoção 
e valorização. Essas variedades internas ao português 
decorrem de fatores históricos, geográficos e étnico-
culturais que influenciam a conformação de elementos 
linguísticos que demarcam identidades de falares regionais 
(variedades diatópicas) e de segmentos sociais específicos 
(variedades diastráticas).
FONTE: Adaptado de INDL (2016)
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
163
Para saber mais sobre a Política da Diversidade Linguística e sobre o Guia de 
pesquisa e documentação para o Inventário Nacional da Diversidade Linguística, acesse o 
livro do Inventário Nacional da Diversidade Linguística. 
FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/INDL_Guia_vol1.pdf>. Acesso 
em: 20 nov. 2019.
DICAS
Diante dessa realidade linguística, pensar e reconhecer a relevância de 
uma política de inclusão plurilíngue é fundamental para a construção de uma 
“democracia cultural” (OLIVEIRA; ALTENHOFEN, 2001). Para tanto, Altenhofen 
e Broch (2011, p. 17) propõem uma pedagogia do plurilinguismo, para que a 
diversidade linguística seja protegida e que a pluralidade seja fomentada e 
compreendida “como a postura de constituir-se plural diante da diversidade”. 
Nesta perspectiva, falaremos, na próxima seção, sobre políticas linguísticas, 
visto que elas existem em níveis diferentes, desde os usos das línguas por um 
falante, por uma comunidade ou por uma família, até as leis oficiais do governo.
3 POLÍTICAS E PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO 
Considerando os temas desta unidade, que englobam as diferentes 
línguas do Brasil com o preconceito linguístico em relação a essa diversidade, 
apresentamos conceitos relevantes à discussão, a começar pela definição de 
política linguística. 
De acordo com Calvet (2007), um dos autores que discute esse conceito, 
a política linguística é definida como uma deliberação das grandes decisões com 
a relação língua e sociedade. Com a definição de política linguística, o autor 
apresenta o conceito de planejamento linguístico, que, por sua vez, trata da 
implementação da política linguística. 
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
164
Assim, segundo Calvet (2007), as políticas linguísticas implicam relações de 
poder, que envolvem diversas atividades de cunho político, tais como a organização de 
leis, portarias, regimentos, de modo que o planejamento representa a passagem à ação, 
ou seja, a implementação do que a política orienta. Embora o autor apresente esses dois 
conceitos como distintos, também destaca que política e planejamento caminham juntos, 
são como um binômio inseparável, não há política sem implementação e vice-versa.
IMPORTANT
E
De acordo com Calvet (2007), para proceder às ações planejadas sobre 
uma língua, existem dois tipos de gestão das situações linguísticas. A primeira 
gestão, nomeada de in vivo, refere-se às práticas sociais por meio das quais os 
falantes resolvem seus problemas de comunicação numa língua. Essa gestão 
trata do modo comodeterminada população usa sua competência linguística no 
cotidiano, isto é, essa gestão não é determinada por instrumentos legais, como 
leis e decretos, mas se realiza por meio das escolhas espontâneas dos falantes. 
A segunda gestão, intitulada de in vitro, envolve a intervenção sobre as 
práticas sociais. O que isso quer dizer? Essa gestão linguística, segundo Calvet 
(2007), diz respeito às medidas oficiais de planejamento linguístico, por um viés 
político, no que tange a determinadas situações linguísticas, ou seja, são as ações 
do Estado em forma de poder e controle institucional sobre as práticas linguísticas.
Para Calvet (2007), quaisquer grupos sociais podem apresentar 
propostas de políticas linguísticas, entretanto, apenas o Estado tem o poder 
e as ferramentas para colocar em prática estas propostas. Como exemplo de 
políticas linguísticas que incidem sobre a língua, citamos intervenções que 
visam à defesa de uma língua, por meio de revisões e acordos ortográficos, 
determinação sobre as línguas que devem estar presentes no sistema formal 
de ensino e em contextos bilíngues ou plurilíngues, oficialização de uma 
língua, como a Língua Brasileira de Sinais (Libras). 
Uma segunda definição de política linguística que apresentamos é o conceito 
de Spolsky (2004), que define política linguística a partir de três componentes interligados, 
mas independentes, a saber: práticas, crenças e gestão. 
IMPORTANT
E
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
165
De acordo com Spolsky (2004), as práticas são compreendidas como as 
escolhas linguísticas e os comportamentos observáveis dos falantes, sobre o que 
eles realmente fazem com a língua. São os aspectos linguísticos escolhidos pelos 
falantes em situações de uso da língua no cotidiano.
O segundo componente, de acordo com Spolsky (2004), são as crenças 
sobre a linguagem. Para o autor, as crenças envolvem os valores atribuídos à 
língua e às variedades linguísticas. Algumas variedades e modos de falar são 
estigmatizados, enquanto outros podem ser mais valorizados. O terceiro 
componente apresentado pelo autor é a gestão linguística. Essa gestão engloba 
leis e decretos estabelecidos por um estado-nação que determina aspectos do uso 
oficial da língua. 
Para saber mais sobre Políticas Linguísticas, deixamos como referência o livro 
de Louis Jean Calvet. 
FONTE: <travessa.com.br/as-politicas-linguisticas/artigo/69203fda-54f9-48cd-b1a2-af7b4
c288545>. Acesso em: 20 nov. 2019.
DICAS
Além das definições apresentadas, destacamos também os tipos de políticas 
e planejamentos linguísticos (GARCEZ; SCHULZ, 2016), quais sejam: (i) políticas linguísticas 
de corpus; (ii) políticas linguísticas de status; e (iii) políticas de aquisição.
IMPORTANT
E
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
166
As políticas linguísticas de corpus tratam literalmente sobre o corpo da 
língua. Em muitos casos, isso diz respeito à língua escrita, buscando definir a 
criação de um vocabulário, o sistema gráfico em que a língua será registrada, se esse 
sistema será alfabético ou não. Mesmo a língua tendo uma escrita já consolidada, 
como é o caso do português, possíveis ajustes podem e ainda são feitos, como é o 
caso das diversas reformas ortográficas e do próprio Acordo Ortográfico.
As políticas linguísticas de status, por sua vez, englobam as funções 
das línguas nos seus contextos de uso. Uma língua pode ser meio de interação 
apenas no âmbito escolar, familiar ou profissional, por exemplo, e o seu 
reconhecimento e uso podem reiterar o seu estatuto enquanto língua. Este seria 
o caso da Libras, que após a sanção da Lei nº 10.436, seu uso e difusão tem 
ganhado cada vez mais força e amplitude.
As políticas linguísticas de aquisição tratam do ensino de línguas. Esse 
tipo de política envolve as decisões a respeito de como as línguas podem ou 
devem ser usadas como meio de instrução, que línguas são oferecidas na escola 
e em quais séries. Como exemplo desse tipo de política, citamos a lei que trata 
da obrigatoriedade da oferta de Língua Espanhola no componente curricular 
de Língua Estrangeira Moderna nas escolas brasileiras, além do Decreto nº 
5626/05, que orienta que os alunos surdos devem ser alfabetizados em Libras 
em escolas inclusivas.
A discussão que fizemos neste tópico reitera a realidade do Brasil, isto 
é, um país com diferentes línguas, culturas e identidades. Essa diversidade 
se encontra presente em todos os contextos, em especial o escolar. Por isso, é 
importante que os professores considerem e trabalhem a diversidade linguística 
na sala de aula, na escola, para que sejam fomentados o respeito e a compreensão 
ao que é diverso, ao que é diferente.
A introdução dos conceitos discutidos neste Livro Didático de 
Sociolinguística procurou servir de porta de entrada para você, prezado 
acadêmico, à realidade complexa da relação entre língua e sociedade, que implica 
reconhecer que as atitudes diante das línguas e suas variedades se constituem 
em políticas linguísticas. Encerramos este livro convidando-o para realizar uma 
última leitura complementar, na qual você verá alguns aspectos do trabalho do 
linguista frente às políticas linguísticas. Além disso, também elaboramos um 
resumo deste último tópico do livro para que você possa rever alguns conceitos 
discutidos antes de realizar as autoatividades.
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
167
LEITURA COMPLEMENTAR
Na leitura complementar que apresentamos a você, recortamos um trecho 
da entrevista com Gilvan Müller de Oliveira, concedida à Revista Revel, v. 14, 
n. 26, 2016, numa edição sobre o tema Políticas Linguísticas. Essa entrevista 
ampliará a sua compreensão sobre o conceito de Política Linguística, em quais 
países os estudos de Políticas Linguísticas encontram-se avançados e quais são 
alguns dos principais temas discutidos em Políticas Linguísticas, em especial, no 
cenário brasileiro. 
 REVEL – O que se entende hoje por “Políticas linguísticas”? Que tipo 
de trabalho um linguista que atua nessa área desenvolve?
 GILVAN – Em primeiro lugar considero necessário fazer uma distinção entre 
as instâncias que fazem políticas linguísticas e as que tradicionalmente estudam as 
políticas linguísticas, isto é, que fazem o que Louis-Jean Calvet chamou de Politologia 
Linguística. Trata-se de dois fazeres muito diferentes e que às vezes se tocam. 
Entendo que as políticas linguísticas são uma área das políticas públicas, concebidas 
e executadas por instituições que têm ingerência na sociedade, como os Estados, os 
governos, as igrejas, as empresas, as ONGs e associações, e até as famílias. 
A maior parte das políticas linguísticas são realizadas sob outros nomes, 
embutidas dentro de outras políticas, de modo que podem não ser imediatamente 
identificáveis. Isso não ocorre por um suposto secretismo dos agentes de políticas 
linguísticas – os Estados, por exemplo – mas porque as línguas e os seus usos 
estão conectados a todo o agir social do homem. Assim, uma política de saúde 
ou de defesa, de transporte ou editorial pode ter implicações sobre os usos das 
línguas e gerar demandas para intervenções sobre as próprias línguas.
Uma grande parte das políticas linguísticas não é feita por linguistas 
ou mesmo com a participação de linguistas, e a maior parte dos linguistas 
profissionais, por exemplo no Brasil, pode não se envolver diretamente com a 
concepção e execução de políticas linguísticas, embora o seu fazer muitas vezes 
possa ser usado para determinadas políticas, por exemplo para instruí-las ou 
legitimá-las. 
Em parte isso ocorre porque a mainstream da linguística do século XX, 
que teve como uma das suas preocupações centrais a de constituir uma ciência 
– ciência entendida dentro de uma ótica mais ou menos positivista (e que não 
pode por isso, naturalmente, incluir o político) – atuou na direção contrária: 
fez um esforço para separar a linguística da política, da cultura e da história – e 
também das demais ciências humanas– e para produzir uma visão cada vez mais 
imanentista e sistêmica – estrutural – da língua, focada no código. Evidentemente 
isso influenciou gerações de linguistas profissionais, e acabou conduzindo ao 
desenvolvimento uma linguística de perfil mais teórico, e mais ou menos restrita 
ao campo universitário. 
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
168
Costumo contar que quando fiz o bacharelado em linguística, na minha 
graduação, no início dos anos 1980, tive 53 disciplinas na área, mas nunca ouvi 
falar em política linguística, área acadêmica com a qual fui me familiarizar 
minimamente apenas no mestrado na Alemanha na segunda metade da mesma 
década. Não era algo corriqueiro, naquele momento, que se pensasse que 
numa graduação em linguística houvesse a necessidade de tratar de política 
linguística, ou de mostrar ao estudante que são tomadas decisões sobre as línguas e 
realizadas ações sobre as línguas, isto é, que as línguas são também moldadas pela 
intervenção humana. 
A universidade, por outro lado, é um campo com lógica própria na 
sociedade, como diria Bourdieu. Tanto é que a maioria dos linguistas que 
conheço são professores universitários, e é dentro da universidade que fazem 
as suas carreiras e constroem as suas práticas profissionais. Para todos os fins, 
consideram-se muito mais professores universitários que linguistas. 
Assim, considero importante ver o termo das duas perspectivas: da 
perspectiva das políticas linguísticas propriamente ditas, como políticas públicas, 
por um lado, e da área acadêmica chamada de “Política Linguística” por outro, 
que, para a CAPES, é uma área da linguística, dentro da subárea de sociolinguística 
ou de linguística aplicada, com uma história de uns 60 anos no meio universitário 
ocidental, e recém na adolescência no Brasil. 
No entanto, dos anos 1980 para cá, a questão tem mudado bastante, e 
desde o início do século XXI tem crescido exponencialmente o interesse disciplinar 
pela política linguística no Brasil e no mundo em geral, o que chamei em outra 
oportunidade de “a virada político-linguística” nos estudos linguísticos. 
A meu ver, o crescimento do interesse pelas políticas linguísticas, e 
igualmente pela área acadêmica chamada política linguística, tem relação 
com pressões da sociedade brasileira sobre o Estado após o processo de 
redemocratização, plasmado pela Constituição de 1988. Essa “nova república” 
que se inicia mais concretamente naquele momento, e tem hoje quase 30 anos, 
com altos e baixos (até mais baixos que altos) interrompeu o processo autoritário 
do Regime Militar e quis introduzir modificações no Brasil, quis introduzir um 
modelo mais inclusivo de cidadania, mais aberto ao reconhecimento da diversidade 
e da legitimidade das diferenças culturais e linguísticas dos brasileiros. 
A nova república quis mudar algumas compreensões que o Brasil tinha 
sobre si mesmo, tanto para acompanhar o movimento mundial de reconhecimento 
do direito de ser diferente como para atualizar o conceito de cidadania, essencial 
para o funcionamento de uma democracia, e isto precisava ser feito com a revisão 
das compreensões mais tradicionais sobre o país e sobre os brasileiros. 
Essa movimentação trouxe à luz diferentes políticas de inclusão, de fomento 
à diversidade, de reconhecimento de direitos culturais, de internacionalização, 
de desnaturalização, enfim, dos pressupostos da “Ilha Brasil”, monolíngue e 
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
169
monocultural, perfeitamente ocidental e cristã, estabilizada nos seus pressupostos 
pelo Estado Novo e depois pelo Regime Militar, e com um espaço público criado e 
mantido por meios de comunicação do nosso mainstream, em especial televisivos, 
de perfil ainda colonial e antidemocrático [...].
Trata-se, então, de colocar esses ganhos epistemológicos e metodológicos 
a serviço das sociedades, novamente citando Calvet, “porque afinal os homens 
não existem para servir às línguas, mas as línguas para servir aos homens”. As 
políticas linguísticas nos dão uma conexão entre as línguas e todo o resto do 
universo humano, seus interesses, suas necessidades, suas visões de futuro.
Construir políticas linguísticas, então, é participar da construção do 
futuro das sociedades, e mais especificamente da nossa sociedade; fazer política 
linguística, pela própria noção de intervenção sobre as línguas, sem a qual 
ela não existe, é atuar para um mundo mais justo neste campo específico das 
línguas e dos seus usos, mais plural, mais democrático e mais aberto à ecologia 
de saberes humanos. É reconhecer que também no campo do uso das línguas 
há constantemente assimetrias de poder que favorecem a uns e calam os 
outros, assimetrias que constantemente combateremos com os instrumentos da 
planificação ou planejamento linguístico, numa guerra que finalmente não temos 
(historicamente) como ganhar definitivamente, mas na qual podemos vencer 
muitas batalhas importantes, “combatendo o bom combate”.
Dificilmente poderíamos dar hoje uma visão totalmente exaustiva sobre 
as variadíssimas iniciativas, trabalhos e pesquisas que merecem o nome de 
“políticas linguísticas”, dada a amplitude, e dado, ainda, que nos encontramos 
em plena revolução digital no campo das línguas, que traz tantas modificações 
para o campo.
REVEL – Em quais países os estudos de Políticas Linguísticas se 
encontram mais avançados? 
GILVAN – Bem, para retornarmos à dicotomia que propus no início da 
entrevista, entre fazer política linguística e estudar as políticas linguísticas, acredito 
que podemos dizer, em primeiro lugar, que cada país tem a política linguística 
que necessita e que pode realizar. Dito assim, evidentemente, estou querendo 
dizer que não se pode fazer qualquer política linguística em qualquer lugar ou 
país simplesmente porque os fatores de poder, fatores geopolíticos, condicionam 
fortemente cada movimento. Então seria difícil falar de políticas linguísticas mais 
avançadas ou mais atrasadas e mais adequado tentar entender como é que um 
Estado, por exemplo, tenta resolver um problema que se lhe coloca, com os meios 
de que dispõe, e no horizonte da sua governança e das limitações ideológicas da 
sua época e dos seus quadros gestores. Essa compreensão nos ajudará a intervir no 
sentido de tornar essas políticas mais democráticas e respeitosas da diversidade, 
se isso estiver ao nosso alcance. 
UNIDADE 3 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA A EDUCAÇÃO
170
Nesse caso encontraremos, nos diversos países, problemas e interesses 
políticos fundantes, que fazem com que o Estado e suas instituições, mas 
também o Mercado ou a sociedade civil, se concentrem em ações diversas no 
âmbito das políticas linguísticas. Para uns, como a Índia, foi preciso reconhecer 
uma multiplicidade de línguas para garantir a governança e a adesão ao 
Estado e diminuir os conflitos. Para outros, como o Brasil, a continuidade 
da dominação ideológica, econômica e militar do segmento luso-brasileiro 
sobre outros segmentos constitutivos da cidadania, garantiu a força para levar 
adiante a imposição do português como língua única, ainda que lentamente 
se tenha permitido algum avanço, bastante tímido ainda, de iniciativas para o 
plurilinguismo, como comentei anteriormente. 
[...]
REVEL – Quais são alguns dos principais temas que ainda precisam ser 
discutidos em Políticas Linguísticas, em especial no cenário brasileiro? Como 
estão os estudos de Políticas Linguísticas no Brasil? 
GILVAN – Políticas linguísticas são uma faceta das políticas públicas dos 
países, das organizações internacionais, das corporações e instituições, e nesse 
sentido são um fazer permanente do homem, sempre adaptadas a sua época, 
aos interesses geopolíticos, econômicos e culturais em jogo numa determinada 
fase histórica. Não se esgotam, mudam de foco; não se completam, estão sempre 
em construção. Então talvez essa pergunta queira focalizar esse atual momento 
histórico do Brasil, os desafios que estamos vivendo nesteano de 2016, ou nesta 
segunda década do século XXI. 
Vou responder lançando mão da contribuição de Richard Ruiz, de 1984, 
no seu artigo Orientations in Language Planning, no qual apresenta três grandes 
perspectivas dentro das quais as políticas linguísticas funcionam, e que captam 
os esforços geopolíticos dos Estados na sua gestão do universo linguístico sob o 
seu poder ou alcance. 
Ruiz divide o campo das orientações em três: Língua como Problema, 
Língua como Direito e Língua como Recurso. Se mapearmos as políticas 
linguísticas veremos que em grande parte derivam de uma das três preocupações 
e transcorrem dentro de uma das três chaves. 
Assim, quando o Estado Novo brasileiro instituiu a Campanha de 
Nacionalização do Ensino, com as suas ações de proibir o uso de línguas de 
comunidades descendentes da imigração, algumas delas, então, já faladas em 
território brasileiro há mais de cem anos, estava claramente vendo as Línguas como 
Problema. Quando a Constituição de 1988, no entanto, incluiu a temática indígena, 
nos artigos 210, 215, 231 e 232, e reconheceu aos índios “sua organização social, 
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam” está no segundo quadro, que trata da Língua como 
TÓPICO 3 | POLÍTICA E PLANIFICAÇÃO LINGUÍSTICA
171
Direito. Quando os países de língua portuguesa, finalmente, criam um instituto 
para promover a sua língua no exterior, tratam a Língua como Recurso, neste 
caso um recurso do “soft power”, político, diplomático, com desdobramentos 
econômicos. 
Vivenciamos um momento histórico em que Língua como Direito e Língua 
como Recurso orientam grande parte das políticas linguísticas. Boa parte das 
ações do IPOL foram possíveis, nos últimos 15 anos, dado o crescimento da ideia 
de que as comunidades têm direito ao uso das suas línguas, mas ainda mais forte 
é a expansão das políticas que se orientam pela ideia de Língua como Recurso, em 
especial na relação com a internacionalização dos mercados, do fluxo de pessoas 
nas migrações internacionais, dos fluxos da informação e do conhecimento na 
Internet, em forma digital. 
[...]
Assim, para abreviar a conversa, o que estou sugerindo é que a área 
mais dinâmica das políticas linguísticas nas próximas décadas, ocorrerá com as 
políticas da chave de Língua como Recurso, na gestão do multilinguismo e na 
criação de soluções plurilíngues onde antes se propunham soluções monolíngues. 
Acredito, portanto, que precisamos ficar atentos a estes acontecimentos e 
às novas políticas que daí decorrerão, e repito que estamos numa fase, no Brasil, 
de grande crescimento do interesse pela política linguística, exatamente pela 
percepção da necessidade de intervir no campo das línguas, num fenômeno que 
chamei, há uns anos, como já disse no começo da entrevista, de a “virada político 
linguística”. Penso que a linguística do século XXI será grandemente e cada vez 
mais política linguística. 
FONTE: OLIVEIRA, G. M. de. Políticas linguísticas: uma entrevista com Gilvan Müller de 
Oliveira. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016. Disponível em: www.revel.inf.br. Acesso em: 20 nov. 2019.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
172
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A gestão do plurilinguismo, política e planejamento linguísticos se refere 
à diversidade linguística, à pluralidade e à variação das línguas em contato 
presentes em contextos diversos e que essa gestão se relaciona com o modo 
como instituições, indivíduos e grupos lidam e agem com o plurilinguismo, 
como administram as situações de uso das línguas.
• No Brasil se falam mais de 200 línguas, com destaque para os grupos indígenas, 
as comunidades de descendentes de imigrantes, as comunidades surdas.
• As categorias de línguas são: línguas de imigração, línguas indígenas, línguas 
afro-brasileiras, línguas de sinais, línguas crioulas, além das variedades 
presentes no português, registradas no Inventário Nacional da Diversidade 
Linguística do Brasil (INDL).
• O plurilinguismo pode ser definido como um termo que designa as 
competências do falante em mais de uma língua, isto é, os usos das línguas do 
falante, envolvendo uma postura linguística plural e social.
• O conceito de políticas linguísticas é definido como as relações de poder que 
envolvem diversas atividades de cunho político, tais como a organização de leis, 
portarias, regimentos. O conceito de planejamento linguístico é compreendido 
como a implementação do que uma política orienta.
• Uma política in vivo envolve as práticas sociais por meio das quais os falantes 
resolvem seus problemas de comunicação numa língua. Uma política in vitro 
representa as intervenções sobre essas práticas sociais.
• A política linguística pode ser compreendida a partir de três componentes 
interligados: práticas, crenças e gestão. 
• Os principais tipos de políticas e planejamento linguísticos são: (i) políticas 
linguísticas de corpus; (ii) políticas linguísticas de status; e (iii) políticas de 
aquisição.
173
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com a discussão feita no Tópico 3, defina a gestão do plurilinguismo.
2 Cite algumas políticas, mencionadas no texto, de proteção e de 
reconhecimento da diversidade linguística no Brasil.
3 Quais são os conceitos de política e planejamento linguísticos apresentados 
no Tópico 3?
4 Conforme o texto, quais são os tipos de políticas e planejamentos linguísticos?
5 (ENADE, 2015)
Texto 1
Se empreendermos uma grande viagem pelo Brasil, de Norte a Sul e de Leste 
a Oeste, recolhendo os modos de falar das pessoas de todas as regiões, de 
todos os estados, das principais cidades, da zona rural etc., vamos perceber 
que existem diferenças nesses modos de falar, diferenças que podem ser 
fonéticas, sintáticas, morfológicas, lexicais, semânticas, pragmáticas. Há muita 
semelhança, também, mas são as diferenças que chamam mais a atenção e 
que permitem classificar esses variados modos de falar a língua. Quando 
você consegue identificar os traços característicos de determinado modo de 
falar uma língua, você pode chamá-lo de variedade. A Sociolinguística veio 
mostrar que toda língua muda e varia, isto é, muda com o tempo e varia no 
espaço, além de variar também de acordo com a situação social do falante.
FONTE: BAGNO, M. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola 
Editoria, 2004.
Texto 2
 
“Olha; essa é pra quem tá arretado para conhecer um pouco mais sobre 
Pernambuco”. – Cabeça do VT chamada por apresentadora.
“Então se aprochegue. A repórter Mônica Silveira mostra essa maneira 
encantadora de falar”. – Cabeça do VT chamada por apresentador.
“É o mesmo Brasil, mas no meio de um bate-papo descontraído, esse parece 
um país à parte” – Texto do off que abre o VT.
Na companhia da citada repórter, o poeta Jessier Quirino percorre um mercado 
popular perguntando às pessoas o significado de determinadas palavras e 
expressões, em ritmo de poesia falada. Dessa conversa, surgem os sentidos 
atribuídos por nordestinos “Pedir pinico” (solicitar ajuda), “Assustado” (festa 
surpresa), “Com a gota” (com raiva), “cocorote” (cascudo) e “pirangueiro” 
(avarento). 
VT produzido pela TV Globo Nordeste/Recife, veiculado no Bom Dia Brasil 
em outubro de 2013. Tempo: 3''20'.
174
Considerando os excertos, avalie as afirmações a seguir:
I- Ao veicular uma reportagem destacando algumas formas variantes do 
“nordestinês”, telejornais de abrangência nacional, notadamente em TV aberta, 
contribuem para a divulgação das heterogeneidades da Língua Portuguesa.
II- Em telejornais de veiculação nacional, o texto jornalístico deveria recorrer 
apenas à norma culta da Língua Portuguesa para possibilitar o entendimento 
da reportagem pelo conjunto dos telespectadores, independentemente do 
seu lugar de origem.
III- A abordagem de traços de variedadesou variantes sociolinguísticas de 
determinadas regiões em uma edição de telejornal de âmbito nacional 
possibilita aos telespectadores das demais regiões o conhecimento e a 
valorização de entidades linguísticas diferentes da sua.
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III.
d) ( ) II e III.
175
REFERÊNCIAS
AGUILERA, V. de A. Crenças e atitudes linguísticas: quem fala a língua brasileira? 
In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Orgs.). Português brasileiro II: contato 
linguístico, heterogeneidade e história. Niterói: Editora Federal Fluminense, 2008.
ALKMIN, Tânia Maria. Sociolinguística: parte 1. In: MUSSALIM, Fernanda; 
BENTES, Anna C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. V. 1. 
São Paulo: Cortez, 2001.
ALTENHOFEN, C. V. BROCH, I. K. Fundamentos para uma “pedagogia 
do plurilinguismo” baseada no modelo de conscientização linguística 
(language awareness). In: BEHARES, L. E. (Org.). V Encuentro Internacional 
de Investigadores de Políticas Linguísticas. Universidad de la República y 
Asociación de Universidades Grupo Montevideo: Montevideo, 2011. p. 15-24.
ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de língua sem pedras no 
caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
ANTUNES, I. No meio do caminho tinha um equívoco: gramática tudo ou nada. 
In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São Paulo: Loyola, 2002.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAGNO, M.; RANGEL, E. de O. Tarefas da educação linguística no Brasil. Rev. 
Brasileira de Linguística Aplicada, v. 5, n. 1, 2005.
BAGNO, M. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola 
Editorial, 2011.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BLOMMAERT, J. Ideologias linguísticas e poder. Tradução de Ive Brunelli. In: 
SILVA, D. do N.; FERREIRA, D. M.; ALENCAR, C. N. (Org.). Nova pragmática: 
modos de fazer. São Paulo: Cortez, 2014. p. 67-77.
BORTONI-RICARDO, S. M. OLIVEIRA, T. de. Corrigir ou não variantes não 
padrão na fala do aluno? In: BORTONI-RICARDO, S. M.; MACHADO, V. R. 
(Orgs.). Os doze trabalhos de Hércules: do oral para o escrito. São Paulo: Parábola 
Editorial, 2013, p. 45-62. 
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística 
& educação. São Paulo: Parábola, 2005.
176
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na 
sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
BROCH, I. K. Ações de promoção da pluralidade linguística em contextos 
escolares. 2014.Tese de Doutorado – Programa de Pós-graduação em Letras, 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
CALVET, L. J. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola Editorial: IPOL, 2007.
CALVET, L. J. Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.
CEREZOLI, J.; MENDONÇA, S. C. P.; SELLA, A. F. Crenças e atitudes linguísticas na 
cidade de Missal e nas comunidades indígenas de Diamante do Oeste e São Miguel 
do Iguaço, Região Oeste do Paraná, na fronteira Brasil-Paraguai 2015. In: 18ª Jornada 
de Estudos Linguísticos e Literários. Anais da 18ª Jornada de Estudos Linguísticos 
e Literários, Unioeste, 2015, p. 1-9. Disponível em: https://www.academia.
edu/34589509/CREN%C3%87AS_E_ATITUDES_LINGU%C3%8DSTICAS_NA_
CIDADE_DE_MISSAL_E_NAS_COMUNIDADES_IND%C3%8DGENAS_DE_
DIAMANTE_DO_OESTE_E_S%C3%83O_MIGUEL_DO_IGUA%C3%87U_
REGI%C3%83O_OESTE_DO_PARAN%C3%81_NA_FRONTEIRA_BRASIL-
PARAGUAI?auto=download. Acesso em: 15 out. 19.
COAN, M.; KO, R. M. Sociolinguística variacionista: pressupostos 
teóricometodológicos e propostas de ensino. Domínios da Lingu@agem, v. 4, n. 
2, 2010, p. 173-194.
COELHO, I. L.; GÖRSKI, E. M.; NUNES DE SOUZA, C. M.; MAY, G. H. Para 
conhecer Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2015.
EMMOREY K, Borinstein HB, Thompson R, Gollan TH. Bimodal bilingualism. 
Bilingualism: Language and Cognition. 2008.
ERVIN-TRIPP. An Analysis of the Interaction of Language, Topic, and Listener. 
University of California, Berkeley, 1964.
FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: 
Parábola, 2008.
FARACO, C. A. TEZZA, C. Prática de texto para estudantes universitários. 
Petrópolis: Vozes, 2001.
FIORIN, J. L.; FLORES, V. do N; BARBISAN, L. B. (Orgs.). Saussure: a invenção 
da linguística. São Paulo: Contexto, 2013.
FISHMAN, Joshua. Putting the socio back into the sociolinguistic enterprise. 
International Journal of Sociology of Language, 92, 1991, p. 127-138.
177
FRITZEN, M. P. Ich kann mein Name mit letra junta und letra solta schreiben: 
bilinguismo e letramento em uma escola rural localizada em zona de imigração 
alemã no Sul do Brasil. Campinas: UNICAMP, 2007. 305f. Tese (Doutorado em 
Linguística Aplicada). Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual 
de Campinas, Campinas, 2007.
FRITZEN, M. P.; EWALD, L. “Bilíngue? Só se eu tivesse um curso ou escrevesse 
diariamente”: considerações sobre bilinguismo e educação em um contexto de 
línguas de imigração. Atos de Pesquisa em Educação, v. 6, n. 1, p. 146-163, jan./abr. 
2011. 
GARCEZ, P. de M.; SCHULZ, L. ReVEL na Escola: do que tratam as políticas 
linguísticas. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016. [www.revel.inf.br].
GARCIA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective. 
Malden: Blackwell, 2009.
GÖRSKI, E. M.; COELHO, I. L. Aspectos de comportamento sociolinguístico entre 
as três capitais da Região Sul: especificidades e generalizações. Revista do GELNE, 
v. 14, n.1/2, p. 135-160, 2012. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/gelne/article/
view/9368/6722 . Acesso em: 31 ago. 21.
GROSJEAN, F. Life with two languages: an introduction to bilingualism. Harvard 
University Press, 1982. 
GUMPERZ, J. Discourse Strategies. Cambridge: Cambridge University Press, 
1982.
GUY, G. As comunidades de fala: fronteiras internas e externas. In: II Congresso 
Internacional da ABRALIN, Fortaleza, março de 2001.
HELLER, M. Linguistic minorities and modernity: a sociolinguistic ethnography. 
London: Continuum, 1999. 
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL-
IPHAN. Guia de pesquisa e documentação para o INLD: patrimônio cultural e 
diversidade linguística. Vol I. Brasília, 2016.
LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. Tradução de M. Bagno; M. M. P. Scherre; 
C. R. Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].
LABOV, W. Padrões sociolinguísticos. Tradução de M. Bagno; M. M. P. Scherre; 
C. R. Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972].
MACEDO, S. S. A palatização do /s/ em coda silábica no falar culto recifense. 
2004. 100 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação 
178
em Letras e Linguística, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004. 
Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/7973/1/
arquivo8354_1.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2019.
MARRA, D.; MILANI, S. E. Uma teoria social da língua(gem) anunciada no limiar 
do século XX por Antoine Meillet. Linha d’Água, n. 25 (2), p. 67-90, 2012.
MASSINI-CAGLIARI, Gladis; CAGLIARI, Luiz Carlos. Fonética. In: MUSSALIM, F.; 
BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. V. 1. São 
Paulo: Cortez, 2001, pp. 105-146.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. Novo manual de sintaxe. São Paulo: 
Contexto, 2018.
MOITA LOPES, L. P. O português no século XXI: cenário geopolítico e 
sociolinguístico. São Paulo: Parábola, 2013.
MOLLICA, M. C. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: 
MOLLICA, M. C. & Braga, M. L. (Orgs.). In: Introdução à sociolinguística – o 
tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.
MONTEIRO, J. L. Para compreender Labov. 3. ed., Petrópolis: Vozes, 2008.
MONTEIRO, J. L. Para compreender Labov. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
NORDHOFF, S.; HAMMARSTRÖM, H. Glottolog/Langdoc: Defining dialects, 
languages, and language families as collections of resources. In: FirstInternational 
Workshop on Linked Science 2011-In conjunction with the International 
Semantic Web Conference (ISWC 2011). 2011. Disponível em: https://pure.mpg.
de/rest/items/item_1552495/component/file_1651201/content. Acesso em: 10 nov. 
2019.
OLIVEIRA, G. M. Brasileiro fala português: monolinguismo e preconceito 
linguístico. In: SILVA, F. L.; MOURA, H. M. H. (Org.). Direito à fala – A questão 
do preconceito linguístico. Florianópolis: Insular, 2000, p. 83-92.
OLIVEIRA, G. M.; ALTENHOFEN, C. V. O in vitro e o in vivo na política da 
diversidade linguística no Brasil: inserção e exclusão do plurilinguismo na 
educação e na sociedade. In: MELLO, H.; ALTENHOFEN, C. V.; RASO, T. 
(Orgs.). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. 
p. 187-216.
PENNYCOOK, Alastair. Language as local practice. New York: Routledge, 2010. 
QUADROS, R. M. de & KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos 
linguísticos. ArtMed: Porto Alegre, 2004.
179
SALOMÃO, A. C. B. Variação e mudança linguística: panorama e perspectivas da 
sociolinguística variacionista no Brasil. Fórum linguístico, Florianópolis, v. 8, n. 
2, p. 187-207, jul./dez. 2011.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. Organizado por Charles Bally, 
Albert Sechehaye; com a colaboração de Albert Riedlinger. Tradução de Antônio 
Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916].
SCHERRE, M. M. P. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre preconceito 
linguístico, variação linguística e ensino. Entrevista concedida à Jussara Abraçado. 
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito linguístico e cânone literário, 
n. 36, p. 11-26, 1. sem. 2008. Disponível em: http://www.cadernosdeletras.uff.br/
joomla/images/stories/edicoes/36/entrevista.pdf. Acesso em: 15 out. 2019.
SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto, 2001.
SILVERSTEIN, M. Language structure and linguistic ideology. In: Clyne, P.; 
Hanks, W. & Hofbauer, C. (Orgs.). The elements: a parasession on linguistic units 
and levels. Chicago: Chicago Linguistic Society, 1979.
SPOLSKY, B. Language management. NY: Cambridge University Press, 2009.
SPOLSKY, B. Language Policy. In: COHEN, James (et al.). Procedings of the 4th 
International Symposium on Bilingualism. Somerville, MA: Cascadilla Press, 
2005. p. 2152-2164. Disponível em: http://www.lingref.com/ isb/4/168ISB4.PDF. 
Acesso em: 22 out. 2019.
UNESCO (2006). Declaração Universal dos Direitos Linguísticos. Barcelona. 
Consultado em 01 de setembro de 2019. Disponível em: http://www.dhnet.org.
br/direitos/deconu/a_pdf/dec_universal_direitos_linguisticos.pdf. Acesso em: 8 
nov. 2019.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma 
teoria da mudança linguística. Tradução de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 
2006 [1968].
180
ANOTAÇÕES
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

Mais conteúdos dessa disciplina