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Classi�cação – Parte 1 Introdução Em toda disciplina é importante nos dedicarmos a entender, inicialmente, a conceituação, sobre o que iremos trabalhar, em qual terreno a técnica jurídica deverá realizar-se. Com o direito civil, que lida com as relações entre os sujeitos de direito e os bens da vida, as coisas, não é diferente. Especialmente, no campo dos contratos, onde há forte presença do ordenamento jurídico relativo às relações obrigacionais. Assim temos que contrato é: um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades" — GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 443 “ ” Sobre a manifestação da manifestação de vontade e liberdade / desenvolvimento Econômico A manifestação de vontade é verdadeira condição de existência dos contratos, eis que não se pode falar, neste campo jurídico, de nenhuma avença que haja sido fruto de opressão ou violência. Trata-se, assim, de um campo onde se manifesta a vontade livre, de negócio jurídico que se a�rma como um instrumento de conciliação de interesses contrapostos (GAGLIANO; FILHO, 2020). O contrato, pois, realiza e conforma vontades, conforma interesses, manejando-os sob a rubrica legal e do contexto de circulação de bens e serviços, de circulação de capitais - algo que é imprescindível para o desenvolvimento econômico. Direito Civil - Contratos Introdução aos Contratos e Classi�icação Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! Fonte: shutterstock. Assim como a propriedade, os contratos também possuem uma função social, que necessariamente deve estar presente. Esse aspecto diz respeito, sobretudo, a uma leitura constitucional e social dos contratos, que é instituto típico de direito privado. Há, assim, uma relevância social nos contratos, que vai desde a característica destacada quanto ao desenvolvimento econômico, quanto a uma ideia de paci�cação social e segurança jurídica. Essa socialização dos contratos, e do direito privado em geral, diga-se de passagem, vai muito além da primária noção de harmonização de interesses contrapostos, à medida que busca respeitar a dignidade humana, relativizar a igualdade das partes contratantes, isto é, considerando as posições reais e não meramente formais das partes, a presença da cláusula implícita da boa-fé objetiva (deveres de lealdade, con�ança, con�dencialidade e transparência), o respeito ao meio ambiente e os valores sociais do trabalho. Introdução à função social dos contratos Socialização dos contratos. Além da harmonia dos interesses contrapostos. Dignidade / relativização da igualdade / boa-fé objetiva / preservação do meio ambiente / valor social do trabalho. Introdução à função social dos contratos Do que estudamos até aqui, é possível propor uma rede�nição do contrato, para que alcance o plexo de valores constitucionais a partir dos quais, a�nal, todo o direito deve ser lido, interpretado e aplicado. O contrato, então, é negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, visando a atingir determinados interesses patrimoniais, convergem as suas vontades, criando um dever jurídico principal (de dar, fazer ou não fazer), e, bem assim, deveres jurídicos anexos, decorrentes da boa-fé objetiva e do superior princípio da função social" — GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 446 “ ” A natureza contrato é a de negócio jurídico. jurídica do Corrente voluntarista Domina no direito brasileiro a corrente voluntarista, isto é, que considera a declaração de vontade como elemento predominante, inclusive à luz do disposto no art. 112 do Código Civil, segundo o qual: Críticas a corrente voluntarista As críticas a essa corrente dizem respeito ao fato de que nem sempre a verdadeira premissa dos contratos é a vontade destinada a uma determinado �m previamente conhecido, até mesmo porque é possível a conversão substancial do negócio, segundo o princípio da conservação, quando o negócio inicialmente entabulado, inválido, converte-se em outro válido desde que apresente os respectivos pressupostos deste último. Ademais, o negócio jurídico Logo, o consentimento ou consenso, é que é verdadeiramente importante para a formação de um contrato (negócio jurídico), formado, portanto, a partir das vontades emitidas pelos declarantes. Sem isso, o negócio jurídico será considerado inexistente. Natureza jurídica do contrato "Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que sentido literal da linguagem". é a manifestação de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e e�cácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico, pretendidos pelo agente" — GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 447 “ ” O contrato de execução imediata, instantâneo ou de execução única, designam os contratos cujas prestações podem ser realizadas em um só instante. Contrato de execução imediata Isso signi�ca que, cumprida a obrigação tais contratos serão exauridos, não importando que execução seja absolutamente imediata à formação do vínculo ou em algum tempo depois. Contrato de execução diferida e sucessiva Natureza da prestação. É a natureza da prestação que determina os chamados contratos de duração. Os contratos de duração, diferentemente do anterior, não podem ser cumpridos apenas num instante. Logo, os contratos de duração assim o são pela sua própria natureza. Existem casos em que a prestação não é satisfeita quando da formação do contrato, de maneira contemporânea, mas a execução se protrai no tempo. Contratos de duração. Os contratos de execução diferida são cumpridos em um só ato, porém em momento futuro à formação do pacto; logo, depende-se aqui de determinado termo. Os contratos de trato sucessivo ou de execução continuada são aqueles cumpridos mediante a prática de atos reiterados, ao longo do tempo. Contrato personalíssimo Intuitu personae O contrato é personalíssimo (intuitu personae) quando as qualidades pessoais de um dos contraentes é elemento determinante para a conclusão da avença. A uma das partes é conveniente a contratação somente com determinada e especí�ca pessoa, de sorte que seu interesse é de que as obrigações sejam por ela cumpridas. Pessoa é elemento determinante da conclusão A pessoa especí�ca passa a ser elemento causal, essencial, do próprio negócio. Basta pensar, por exemplo, quando se contrata certo pintor para a elaboração de um retrato. É importante frisar que, como consequência, um contrato personalíssimo é intransmissível, tampouco pode ser cedido a outrem para a sua execução. Contratos Impessoais Via de regra, os contratos são impessoais. Vamos destacar a seguir os aspectos de cumprimento e transmissibilidade. Cumprimento por qualquer pessoa Por ser impessoal a prestação poderá ser cumprida pela pessoa que está diretamente obrigada na avença ou até mesmo por terceiro, à medida que, neste caso, a qualidade pessoal do contraente não se mostra como elemento con�gurador essencial do pacto. transmissibilidade / cessão Pode haver, por conseguinte, transmissão da obrigação ou até mesmo a cessão das obrigações ali convencionadas. Princípios Introdução à principiologia contratual Os princípios são ditames superiores, que fundam e informam o conjunto de regras do direito positivo. (GAGLIANO; FILHO, 2020). Conferem, assim, fundamento de validade e signi�cado legitimador à integralidade da legislação. Neste sentido, no campo do direito privado, contratual, em particular, abandona-se uma postura excessivamente patrimonialista, visando a buscar uma condição de dignidade à leiturados contratos, centrada na pessoa humana. Isso faz com que haja a constitucionalização do direito civil por meio da introjeção de princípios fundamentais nas relações privadas, com verdadeira força normativa. Conheceremos, a partir de agora, os princípios mais importantes da doutrina contratual de nosso tempo. Princípio da autonomia da vontade ou consensualismo Liberdade de contratar A liberdade contratual é elemento que está na base da autonomia da vontade, isto é, de se decidir se é oportunidade ou não de celebrar um contrato, ou se o contrato será com esta ou aquela pessoa, de uma forma ou de outra, e em qual prazo. Limitações inerentes - Dirigismo contratual No entanto essa autonomia e essa liberdade não são absolutas, porque existem normas que precisam ser observadas apesar da vontade das partes, como característica da socialização que nós vimos. Nesse sentido, fala-se em dirigismo contratual, justamente para que se entenda que existem limitações de ordem pública aplicadas à realidade dos contratos. Então, como já foi dito, a função social, a boa-fé objetiva, a preocupação com a dignidade, o respeito ao meio ambiente, são alguns exemplos desse dirigismo. Princípio da força obrigatória do contrato Pacta sunt servanda O princípio da força obrigatória do contrato, conhecido como pacta sunt servanda, indica que o contrato faz lei entre as partes. A�nal de contas, de nada valeria um contrato se o que estivesse ali estipulado não devesse ser cumprido, não fosse obrigatório. Ocorre que este princípio não pode ser levado às últimas consequências (GAGLIANO; FILHO, 2020), isto é, não possui caráter absoluto. Relativização Inúmeras são as circunstâncias da vida real que podem modi�car o funcionamento das cláusulas previstas num contrato, por exemplo. Imagine que uma prestação se torne excessivamente onerosa em virtude da ocorrência de uma pandemia que resultasse em altos índices de desemprego e bruscas quedas da renda. Assim é que a força obrigatória dos contratos deve ceder lugar a uma leitura conformativa, de proporcionalidade, consoante as circunstâncias concretas. Neste contexto, a questão do equilíbrio contratual é tema de fundamental importância, sobretudo quando tratado à luz da teoria da imprevisão, que é invocada quando um acontecimento superveniente e imprevisível torna excessivamente onerosa a prestação imposta a uma das partes, em face da outra que, em geral, se enrique à sua custa ilicitamente" (GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 453). — GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 453 “ ” Princípio da função social do contrato Conceito aberto / indeterminado É certo que a constante transformação da sociedade faz com que os institutos de direito privado, como dos contratos, sofram adaptações, sobretudo considerando o fato de que precisam ser compreendidos à luz dos direitos e garantias fundamentais, bem como do dirigismo contratual que estudamos. É por isso difícil e até pouco recomendável conceituar de maneira precisa e única a função social dos contratos, que, com efeito, poderá variar, quanto ao sentido, de acordo com as situações concretas. Níveis intrínseco e extrínseco É possível dizer que a função social se manifesta numa perspectiva ou nível intrínseco ao contrato, no que diz respeito à imposição de lealdade negocial e à boa-fé objetiva na relação mútua entre as partes, a �m de assegurar equivalência material entre as mesmas (isto é, ausência de desequilíbrio). Por outro lado, num nível extrínseco, tem-se em mira a proteção da coletividade, quanto às possíveis repercussões do contrato, isto é, quanto ao seus efeitos. Como visto, questões de ordem moral, bem como relacionadas à proteção do meio ambiente, são importantes de ser consideradas. Um contrato, portanto, não é só um mero contrato entre as partes, justamente porque a função social traz esses deveres anexos, que são necessários, cuja observância é verdadeira condição de legitimidade. Ademais, a liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato, conforme expressa previsão do art. 421 do Código Civil. Princípio da equivalência material Para Paulo Luiz Netto Lôbo: Há quem entenda diferente, de modo que tal princípio seria mais uma proveniência da função social do contrato (GAGLIANO; FILHO, 2020). Equilíbrio real entre direitos e deveres. Conexão com a função social. o princípio da equivalência material busca realizar e preserva o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses. Esse princípio preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando as mudanças de circunstâncias pudessem ser previsíveis.” — LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios Sociais dos Contratos no CDC e no Novo Código Civil. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 7, n. 55, 1 mar. 2002 “ ” Princípio da boa-fé A boa-fé pode ser analisada sob dois diferentes primas subjetivo e objetivo. Boa fé subjetiva A boa-fé entendida, sob o prisma subjetivo diz respeito à uma situação psicológica, "um estado de ânimo ou de espírito do agente que realiza determinado ato ou vivencia dada situação, sem ter ciência do vício que a inquina" (GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 466). Tal estado subjetivo deriva do reconhecimento da ignorância do agente a respeito de determinada circunstância, que macularia o contrato (GAGLIANO; FILHO, 2020). Boa fé objetiva A boa-fé objetiva pode ser aferida, medida, comprovada, veri�cada. Ela é princípio contratual consagrado, delineado em conceito jurídico indeterminado, que consiste em regra de comportamento, com notável fundo ético, porém com exigibilidade do ponto de vista jurídico. Essa exigência de comportamento de boa-fé, segundo uma média da sociedade, do que é razoável e pertence ao bom-senso, traz consigo alguns deveres anexos, que também são exigíveis juridicamente, como os deveres de con�ança, lealdade, informação, transparência, assistência, con�dencialidade etc. Um contrato válido, portanto, é aquele dever jurídico que consiste numa prestação de fazer, não fazer ou de dar, bem como nos deveres inerentes e decorrentes da boa-fé objetiva. Funções da boa-fé objetiva O princípio da boa-fé objetiva é tão importante, que precisamos realizar um desdobramento no seu estudo, de maneira a compreender melhor suas funções e importância na disciplina contratual. Função interpretativa Num primeiro momento, a boa-fé traz consigo a função interpretativa, também chamada de colmatação (GAGLIANO; FILHO, 2020), de verdadeiro preenchimento de lacunas e obscuridades. Trata-se, assim, de um referencial hermenêutico, "para que possa extrair da norma, objeto de sua investigação, o sentido moralmente mais recomendável e socialmente mais útil"(GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 469). Essa função está presente no art. 113 do Código Civil, segundo o qual os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Função criadora de deveres jurídicos anexos A função criadora de deveres jurídicos são os anexos, como a lealdade, transparência, informação, etc. Função delimitadora do exercício de direitos subjetivos A chamada função delimitadora do exercício de direitos subjetivos diz respeito a se evitar o abuso de direito, como, por exemplo, se um contrato impedisse explicitamente a possibilidade de utilização da teoria da imprevisão para o reajuste das prestações mesmo em casos de desequilíbrio contratual. Previsão normativa da boa-fé objetiva A boa-fé está prevista expressamente no Código Civil, no art. 422, segundo o qual Ainda sobre a previsão normativa da boa-fé objetiva devemos ressaltar os seguintes pontos: Execução / Conclusão dos contratos O Código citado indica que a guarda da boa-fé deve ser apenas na execução e na conclusão do contrato, olvidando do texto o momento de formação dos contratos, chamado de puntuação. Boa-fé e formação dos contratos No entanto,a doutrina e a jurisprudência admitem que a boa-fé deve abranger a fase das tratativas preliminares, até mesmo porque eventual desconsideração dos deveres éticos nesta fase poderá gerar responsabilização civil por parte do infrator. os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa-fé — BRASIL, 2002 “ ” Desdobramentos da boa-fé objetiva Venire contra factum proprium O venire contra factum próprio (vir contra um fato próprio) é um desdobramento prático da boa-fé objetiva, que consiste numa vedação; vedação de comportamento contraditório da parte. "Não é razoável admitir-se que uma pessoa pratique determinado atoou conjunto de atos e, em seguida, realize conduta diametralmente oposta" (GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 478). O exemplo, nós o encontramos no art. 330 do Código Civil, em que o credor que aceitou, durante a execução de contrato de trato sucessivo, o pagamento em lugar diverso daquele inicialmente convencionado, não poderá surpreender o devedor com a exigência literal então prevista em contrato para efeito de alegar eventual descumprimento por parte deste. Também se aplica ao descumprimento habitual de um contrato (o atraso no adimplemento), sem que haja qualquer oposição por parte do credor; este, portanto, também não poderá cobrar mora pelo atraso no período. (GAGLIANO; FILHO, 2020). Supressio A supressio - outro desdobramento - consiste na perda (supressão) de um direito pela falta de seu exercício por lapso razoável de tempo. Aqui, trata-se de um comportamento omissivo por um lapso temporal, de modo que o exercício posterior de eventual direito (então não praticado) torna-se incompatível (com a boa- fé). Exemplo comum fornecido pela doutrina é quanto ao uso de área comum em condomínio, exclusivamente, por um condomíno, com exclusividade, por tempo considerável, que implica na impossibilidade de cobrança de aluguel pelo período de uso. (GAGLIANO; FILHO, 2020). Surrectio A surrectio é o contrário da supressio. Se na supressio há a perda de um direito, na surrectio ocorre o ganho de um direito. No mesmo exemplo dado, do art. 330 do Código Civil, se o credor aceitou, por razoável lapso de tempo, receber a prestação num determinado local, surge para o devedor o direito de exigir que o adimplemento das prestações ocorra no novo lugar, então tolerado pelo credo. Houve, assim, supressio para o credor e surrectio para o devedor. Tu quoque Tu quoque, vem da expressão por todos conhecida, atribuída a Júlio César, diante da traição que sofrera: "até tu, Brutus?". Esse desdobramento da boa-fé objetiva diz respeito a situações em que se veri�ca um comportamento que rompe com a con�ança, de modo que surpreende uma das partes da relação negocial, colocando-a em situação de injusta desvantagem. (GAGLIANO; FILHO, 2020). Exemplo: pode ser extraído do art. 180 do Código Civil, segundo o qual o "menor entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior" (BRASIL, 2002). Exceptio doli A exceptio doli ou "exceção dolosa" visa a "sancionar condutas em que o exercício do direito tenha sido realizado com o intuito, não de preservar legítimos interesses, mas, sim, de prejudicar a parte contrária" (GAGLIANO; FILHO, 2020, p. 479). Exemplo: o disposto no art. 940 do Código Civil, segundo o qual "aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, �cará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição."(BRASIL, 2002). Classi�cação - Parte 2 Agora vamos estudar sobre mais algumas importantes classi�cações sobre os contratos. Contratos principais Quanto ao modo por que existem A classi�cação neste caso leva em conta o modo pelo qual os contratos existem. Daí, falaremos sobre os contratos principais, acessórios e derivados. Existência própria / autonomia Os contratos principais possuem existência própria, autônoma e não dependem de qualquer outro contrato para produzirem seus naturais e regulares efeitos, por exemplo um contrato de compra e venda, uma locação. Contratos acessórios Existência subordinada ao contrato principal e a função de garantir o principal Os contratos acessórios são aqueles que têm a sua existência subordinada à do contrato principal (GONÇALVES, 2018), como é o caso de um contrato de �ança, por exemplo. Eles tem a precípua �nalidade de garantir o cumprimento das obrigações avençadas no contrato principal. Relevância da distinção entre principal e acessório A relevância na distinção entre contratos principais e acessórios justi�ca-se em razão da regra de que o “acessório segue o principal”, de modo que se for veri�cada a nulidade do contrato principal, o acessório também será nulo (CC/02, art. 184), embora o contrário não seja verdadeiro. O eventual reconhecimento da prescrição relativamente ao contrato principal também acarretará na prescrição do contrato acessório; neste caso, também, o inverso não ocorre. Contratos drivados Contratos derivados tem por base direitos �rmados e previstos em um contrato principal, como, por exemplo, a sublocação, a subempreitada. Ocontrato derivado tem a mesma natureza do contrato principal, relativamente ao seu objeto e é �rmado, portanto, dentro dos seus limites. Contratos paritários No que diz respeito à classi�cação que leva em conta a formação dos contratos, eles podem ser paritários ou de adesão. Contratos paritários Os contratos paritários revelam o modelo mais usual e tradicional, onde as partes discutem ampla e livremente as condições contratuais, eis que se encontram em situação de paridade, isto é, igualdade. Há a fase de negociações preliminares para efeito de discussão das cláusulas e condições gerais e especí�cas dos negócios. Contrato de adesão No contrato de adesão não há margem de liberdade para um dos contratantes, porque prevalece e prepondera a vontade de um apenas. Na verdade, há alguma liberdade de uma das partes que poderá contratar ou não, porém sem oportunidade de discussão, em fase preliminar, das condições do negócio. A parte aceita ou não. Exemplos de contrato de adesão: Contratos de seguro, consórcio, transporte etc. Cláusulas abusivas no contrato de consumo Dada a estreita relação entre a disciplina contratual e os contratos de consumo, cabe elucidar que, basicamente, as cláusulas abusivas têm o intuito de estabelecer uma relação desigual de vantagens e desvantagens entre as partes envolvidas na relação consumerista. Art. 51 do CDC As situações que caracterizam a abusividade têm previsão, de forma exempli�cativa, no art. 51 da Lei n.º 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), ou seja, outras hipóteses, além das estabelecidas em tal dispositivo, dão ensejo à abusividade, já que a redação da lei assinala que "são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços [...]”. Logo, no caso concreto, as hipóteses de�nidas servirão como nortes iniciais, mas não se exaurem apenas na lei, pois dependem das circunstâncias concretas. Algumas cláusulas abusivas Assim, são nulas de pleno direito, por exemplo, as cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos, ou seja, não têm validade as cláusulas tendentes a diminuir ou excluir o dever de o fornecedor responder por eventuais problemas em seus produtos ou na prestação de serviços. As cláusulas que subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, que funciona como verdadeiro instrumento de vedação ao enriquecimento ilícito. cláusulas que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, isto é, que coloquem o consumidorem desvantagem exagerada ou que sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. Contrato de Adesão no Código de Defesa do Consumidor Previsto no art. 54 do Código de Defesa do Consumidor, o contrato de adesão é aquele não houve discussão das cláusulas, sobretudo por parte do consumidor que, por conseguinte, meramente adere a ele. Autorização das cláusulas por autoridade competente No contrato de adesão, as cláusulas ou foram aprovadas por alguma autoridade competente (como pode acontecer em contratos bancários, onde há cláusulas aprovadas pelo Banco Central) ou, como é mais comum, foram estabelecidas de maneira unilateral pelo fornecedor. Exemplos: contratos de adesão são os de natureza Bancária (expressa precisão no CDC, art. 3º, §2º). Contrato de consumo e oferta A oferta no mercado de consumo está disciplinada no art. 30 do CDC. Trata-se de toda e qualquer informação ou conteúdo publicitário preciso o bastante, veiculado em qualquer meio ou por qualquer forma de comunicação, com relação a produtos ou serviços. A oferta, nestes termos, vincula o fornecedor a cumprir exatamente o que foi oferecido. I. poderá exigir o estrito cumprimento, de maneira forçada, da obrigação nos exatos termos da oferta, apresentação ou propaganda. II. poderá aceitar um produto ou prestação de serviço que seja equivalente. III. poderá rescindir o contrato de consumo, com direito à que lhe seja restituído eventual quantia antecipada, com atualização monetária e perdas e danos. Contrato-tipo O contrato-tipo, também chamado de massa, em série ou por formulários (GONÇALVES, 2019) é bastante próximo do contrato de adesão. A diferença é que embora pré-formatado esse tipo de contrato poderá: ser alvo de discussão preliminar acerca do seu conteúdo; não há imposição do contrato (como ocorre no de adesão); as cláusulas encontram-se apenas pré-redigidas. São aqueles contratos com espaços em branco “no tocante à taxa de juros, prazo e condições do �nanciamento, a serem estabelecidos de comum acordo” (GONÇALVES, 2018, p. 824). Conceitos, requisitos e classi�cação Agora iremos abordar alguns conceitos, requisitos e as derradeiras classi�cações dos contratos. Requisitos dos Contratos O mais importante elemento de formação dos contratos é a manifestação de vontade livre e desembaraçada, que faça convergir num acordo de vontades, que convirja, como já sabemos, em consenso. As negociações preliminares entre as partes comportam falarmos em proposta e aceitação. A proposta, também chamada de oferta, policitação ou oblação, é que dá início à formação do contrato, não dependendo, para ser realizada, de forma especial. (GONÇALVES, 2018). Proposta Aceitação Proposta Agora vamos aprofundar um pouco acerca da proposta, tratando da oferta o dos elementos essenciais que compõe uma proposta e sua obrigatoriedade. A oferta “representa o impulso decisivo para a celebração do contrato, consistindo em uma declaração de vontade de�nitiva” (GONÇALVES, 2018, p. 801). A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócios proposto, como, por exemplo: o preço; a quantidade; eventuais prazos; forma de pagamento etc. A proposta deve ainda ser séria e consciente, à medida que vincula o proponente, conforme indicado no art. 427 do Código Civil. Ademais, com esclarece (GONÇALVES, 2018), deve ser: clara; completa e inequívoca; formulada em linguagem simples e direta, que possa ser compreendida. O art. 429 do Código Civil indica que a “oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos” (BRASIL, 2002). Entende-se que a proposta é limitada ao estoque existente (GONÇALVES, 2018). É assim que a oferta vale como proposta obrigatória, portanto, quando reúne os elementos essenciais do contrato. A proposta não obrigatória é possibilidade que está prevista no mesmo art. 427 do Código Civil. Se a proposta contiver, por exemplo, cláusula expressa a respeito, como indicando a não de�nitividade da proposta ou a possibilidade de retirá-la a qualquer tempo, não haverá vinculação. Então, em cada caso é necessário avaliar sobre se não há ressalva feita que desconstitua o caráter vinculante e obrigatório da proposta. Aceitação Agora vamos aprofundar um pouco acerca da aceitação, tratando da Concordância com a proposta, aceitação (expressa / tácita) e as hipóteses de inexistência de força vinculante da aceitação. A aceitação é a concordância com os termos da proposta. (GONÇALVES, 2018). A aceitação pode ser: Expressa Quando a declaração do aceitante é evidente no sentido da manifestação da sua anuência. O Código Civil apresenta duas situações nas quais a manifestação de vontade não será vinculante. 1. Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente, quando, por exemplo, o proponente já celebrou negócio com outra pessoa – neste caso, esse fato (novo negócio já celebrado em função do atraso) deverá ser comunicado imediatamente ao aceitante, sob pena de perdas e danos, com base no art. 430 do Código Civil. 2. Outra hipótese é a prevista no art. 433 do Código Civil, que considera “inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” – é o caso de retratação da aceitação, isto é, o desfazimento da declaração de vontade que havia sido, inicialmente, feita pelo aceitante. Tácita Quando decorre do seu comportamento que acaba por revelar a sua conduta. Conclusão do Contrato Quanto ao momento de conclusão do contrato, algumas modalidades precisam ser comentadas. Contrato entre presentes Se o contrato for celebrado entre presentes, a proposta poderá estipular ou não prazo para aceitação (GONÇALVES, 2018). Se não houver nenhum prazo, a aceitação deverá ser feita imediatamente, pois, do contrário, a oferta perderá sua força vinculativa. Se houver prazo, a aceitação deverá ocorrer dentro do lapso temporal previsto. Contrato entre ausentes Quando o contrato é celebrado entre ausentes, por correspondência (em qualquer meio), ou intermediários, a resposta pode levar algum tempo para chegar ao conhecimento do proponente. O art. 434 do Código Civil acolheu a chamada teoria da expedição, de modo que a�rma que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos, isto é, concluídos, desde quando a aceitação é expedida, exceto no caso do art. 433 (a retratação da aceitação, como vimos), bem como se o proponente se houver comprometido a esperar resposta ou se ela não chegar no prazo convencionado. Lugar da celebração Quanto ao lugar da celebração de contrato o art. 435 do Código Civil, “reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”. (BRASIL, 2002). Classi�cação de contrato quanto suas formas Vamos conhecer com são classi�cados os contratos quanto à sua forma que pode ser solenes, não-solenes, consensuais e reais Contratos solenes Contratos solenes são os que devem obedecer à forma prescrita em lei para que possam aperfeiçoar-se. Nestes casos, a forma é exigida como condição de validade do negócio, como, por exemplo, na escritura pública para a alienação de imóveis, no pacto antenupcial, no testamento público, etc. (GONÇALVES, 2018). Se a forma não for observada, o contrato será nulo, conforme previsto no art. 166, IV, do Código Civil. Contratos não-solenes Os contratos não-solenes são de forma livre, de modo que a lei nada exige, enquanto condição de validade, para que sejam perfeitos. Podem ser escritos ou até mesmo verbais. O contrato de locação é um bom exemplo. Vale lembrar que o art. 107 do Código Civil aduz que “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. (BRASIL, 2002). Contratos consensuais Os contratos consensuais são aqueles formados única e basicamente pelo acordo de vontades, independentemente da forma e da entrega da coisa ou da observância de alguma forma, motivo pelo qual são não-solenes. A lei, neste caso, não exigenada mais do que o consentimento. É a regra no nosso sistema (GONÇALVES, 2018). Contratos reais OS contratos reais são os que dependem da traditio, a tradição, isto é, a entrega da coisa que é objeto do pacto. Claro que aqui também há o consentimento, mas há uma dependência da entrega da coisa. Classi�cação de contrato quanto ao efeitos Vamos conhecer com são classi�cados os contratos quanto à seus efeitos. Analisaremos a seguir as seguintes modalidades: Contratos unilaterais São aqueles que geram obrigações para apenas uma das partes, como numa doação, por exemplo – apenas uma das partes contratantes possui uma obrigação; a outra, nada precisa fazer. Contratos bilaterais Também chamado de sinalagmáticos, são os que geram obrigações para ambas as partes, como ocorre, por exemplo, numa compra e venda, no contrato de locação, de transporte, etc. As obrigações, por conseguinte, são recíprocas; cada parte tem que fazer alguma coisa. Contratos plurilaterais São aqueles que possuem mais de duas partes; também são chamados de contratos plúrimos. Atente, no entanto, que embora possa haver várias partes, elas estarão ou no polo ativo (como credoras) ou no polo passivo (como devedoras), no que se refere à relação obrigacional. Exemplo comum é o contrato de uma sociedade ou um contrato de consórcio. Contratos gratuitos (bené�cos) Os contratos gratuitos, também chamados de bené�cos, são aqueles nos quais o benefício ou a vantagem patrimonial é auferida apenas por uma das partes, como na doação pura (incondicional), no comodato e o no reconhecimento de �lho. Enquanto uma parte recebe algo, a outra entrega ou faz algo. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil 1 Esquematizado. Parte Geral, Obrigações e Contratos (Parte Geral). 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 821). Contratos onerosos Por sua vez, os contratos onerosos podem ser subdivididos em comutativos e aleatórios. A onerosidade impõe, de maneira geral, prestações de ambos os lados, como numa compra em venda, onde o vendedor entrega a coisa e o comprador paga o preço. Contratos onerosos comutativos São aqueles que possuem prestações certas e determinadas, de modo que as partes já sabem o que irá ocorrer, quanto às vantagens e sacrifícios de cada uma, ao longo da relação obrigacional. (GONÇALVES, 2018). Nestes contratos não há riscos, portanto. Contratos aleatórios São também bilaterais, onerosos, nos quais ao menos uma das partes não poderá prever as vantagens que receberá em virtude da prestação fornecida (GONÇALVES, 2018). Neste caso, portanto, não há certeza, não há comutatividade. Com efeito, a distinção que acabamos de realizar é muito importante, dado que o regime jurídico aplicado a uma situação ou outra é diferente. O fenômeno da evicção, por exemplo, diz respeito aos contratos comutativos, bem como os chamados vícios redibitórios (que também iremos estudar mais à frente) e a rescisão por lesão. No caso dos contratos aleatórios, há um regime especí�co para eles, previsto entre os arts. 458 a 461 do Código Civil. Contrato típico / Contrato Atípico Contratos típicos Contratos típicos são aqueles que possuem seus requisitos regulamentados pela lei, como um contrato de compra e venda, de doação, de locação, etc. Contratos atípicos São aqueles que dependem exclusivamente do acordo de vontades, eis que não há previsão legal quanto aos respectivos requisitos, como nos demais casos. De acordo com o art. 425 do Código Civil: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais �xadas neste Código”. Situação-problema Uma pessoa ofereceu para outra um veículo automotor, pelo valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). O proponente, no entanto, fez a oferta por intermédio de aplicativo de comunicação à distância, eis que reside em local distante. Para tanto, �xou o prazo de 48h para a aceitação. O recebedor da proposta enviou a mensagem no prazo adequado e, dias depois dirigiu-se para buscar o veículo, mas, por problema na internet, a mensagem chegou atrasada ao proponente, que, por esta razão, realizou o negócio com outra pessoa, sem avisar aquele. Assim, o recebedor da proposta vai até você para que, na qualidade de especialista em direito contratual, ofereça parecer técnico-jurídico sobre a questão. Quais elementos devem constar nesse parecer consultivo? Resolução da Situação-Problema Para resolver esta Situação-Problema vamos considerar os seguintes tópicos: Aceitação / Concordância com a proposta Fixação de prazo para a aceitação expressa Expedição da aceitação a tempo / imprevisto Ausência de comunicação / Possíveis perdas e danos A aceitação é a concordância com os termos da proposta. (GONÇALVES, 2018). A aceitação pode ser expressa, quando a declaração do aceitante é evidente no sentido da manifestação da sua anuência, ou tácita, quando decorre do seu comportamento que acaba por revelar a sua conduta. O Código Civil apresenta a situação na qual a manifestação de vontade não será vinculante. Se a aceitação, embora expedida a tempo, por motivos imprevistos, chegar tarde ao conhecimento do proponente, quando, por exemplo, o proponente já celebrou negócio com outra pessoa – neste caso, esse fato (novo negócio já celebrado em função do atraso) deverá ser comunicado imediatamente ao aceitante, sob pena de perdas e danos, com base no art. 430 do Código Civil. Neste caso, portanto, poderão ser pleiteadas perdas e danos, porque não há notícia de que houve comunicação por parte do policitante ao oblato quanto à realização do negócio com pessoa diversa. Referências bibliográ�cas BANDEIRA, Paula Greco; KONDER, Carlos Nelson; TEPEDINO, Gustavo. Fundamentos de Direito Civil: Contratos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: https://bit.ly/3jUGqTV. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em:https://bit.ly/2P7eZrS https://bit.ly/3jUGqTV https://bit.ly/2P7eZrS
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