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Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL Trauma Abdominal Anatomia: → O abdome anterior é definido como a área compreendida entre os arcos costais, superiormente, ligamentos inguinais e sínfise púbica, inferiormente, e as linhas axilares anteriores, lateralmente. A maioria das vísceras ocas pode estar acometida quando houver ferimento no abdome anterior. → A transição toracoabdominal é a área localizada abaixo da linha transmamilar, anteriormente, a linha infraescapular, posteriormente, e arcos costais, superiormente. Essa área, embora protegida pelos ossos do tórax, inclui diafragma, fígado, baço e estômago. → O flanco é a área localizada entre as linhas axilares anterior e posterior, desde o sexto espaço intercostal até a crista ilíaca. A espessa musculatura atua com barreira para ferimentos penetrantes. → O dorso é a área localizada na região posterior e tem como limites as linhas axilares posteriores, as pontas das escápulas e as cristas ilíacas. O flanco e o dorso contêm os órgãos retroperitoneais. → OBS: Lesões de órgãos e vísceras retroperitoneais são difíceis de serem reconhecidas e diagnosticadas, pois essa área não possibilita a realização de um exame físico adequado; além disso, os sinais ou sintomas de peritonite podem não estar presentes na fase inicial. Além disso esse espaço não é acessado pelo lavado peritoneal diagnóstico (LPD) e difícil de ser avaliado pelo FAST. → A cavidade pélvica é limitada pelos ossos pélvicos, consistindo essencialmente na parte inferior dos espaços retro e intraperitoneal. Localizam-se nessa região o reto, a bexiga e os vasos ilíacos e, nas mulheres, os órgãos reprodutores internos. A perda de sangue pode ser muito significativa nessa região e ocorrer a partir de qualquer ferimento nos órgãos intrapélvicos ou na parte óssea. Mecanismo de trauma: Trauma Fechado: → Impacto direto (abdome contra volante ou intrusão de porta em uma colisão podem deformam os órgãos sólidos e vísceras ocas, podendo causar sua ruptura, acarretando hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo intestinal e, consequentemente, peritonite. → O cisalhamento é uma forma de lesão por esmagamento relacionados a desaceleração que pode ocorrer quando um dispositivo de segurança e de restrição é usado de forma inadequada, ocasionando lacerações do fígado e do baço. Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL → No trauma fechado os órgãos mais acometidos são baço, fígado e intestino delgado. Airbag não impede lesão abdominal. Trauma Penetrante: → Ferimentos por arma branca e projéteis de baixa velocidade causam danos aos tecidos por corte e laceração. Geralmente envolvem fígado, intestino delgado, diafragma e cólon. → Ferimentos por projéteis de alta velocidade transferem mais energia cinética às vísceras abdominais. Acometem mais intestino delgado, colón, fígado e estruturas vasculares abdominais → Dispositivos explosivos provocam vários tipos de lesões podendo ser penetrantes e contusas. Avaliação: → A histórica clínica deve abranger o tipo de trauma, tempo, a intensidade; se for penetrante saber o tipo, distância, volume de sangue perdido, quantidade de lesões. → Garantir via aérea pérvia e proteção da coluna cervical. A ventilação pode estar comprometida nos ferimentos transfixantes do diafragma, e a drenagem de tórax pode ser necessária. OBS: Diante de doentes hipotensos, o objetivo é determinar rapidamente se existe uma lesão abdominal ou pélvica e se esta é a causa da hipotensão. Sendo muito importante avaliar a circulação. → No exame físico abdominal: ➢ É preciso pesquisar a presença ou a ausência de ruídos hidroaéreos, pneumoperitônio (hipertimpanismo e/ou sinal de Jobert positivo) e sinais de peritonite por meio da palpação – defesa involuntária, sinal confiável. A presença de um útero gravídico, bem como a estimativa da idade fetal, também podem ser determinadas. A palpação da próstata deslocada cranialmente é um sinal de fratura pélvica importante. ➢ Deve ser seguido pela análise da estabilidade pélvica (achados de exame físico sugestivos de fratura pélvica incluem a evidência de ruptura de uretra (próstata deslocada cranialmente, hematoma escrotal ou sangue no meato uretral), de discrepância entre o comprimento dos membros ou de uma deformidade rotacional da perna sem fratura óbvia), bem como inspeção do flanco, o escroto e a área perianal à procura de sangue no meato uretra, de Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL edemas, de hematomas ou de laceração do períneo, da vagina, do reto ou das nádegas, o que é sugestivo de uma fratura pélvica exposta. OBS: O exame vaginal deve ser realizado somente quando houver suspeita de lesão. → Após o término do exame físico, o doente deve ser coberto com cobertores para ajudar a prevenir a hipotermia. → Medidas auxiliares ao exame primário: ➢ O paciente deve ser submetido à sondagem gástrica, útil para esvaziar o conteúdo gástrico, diminuindo o risco de aspiração, além de verificar possíveis sangramentos digestivos. Nasogástrica contraindicada em suspeita de fratura de base de crânio. ➢ Sondagem vesical para descompressão da bexiga, avaliação de hematúria e monitorização do débito urinário. Antes da sondagem vesical, deve-se realizar o exame do períneo avaliando presença e toque retal, o que permite avaliar também a presença de sangramento, crepitação ou espículas ósseas e a tonicidade esfincteriana. Se o paciente apresentar incapacidade de urinar espontaneamente, fratura pélvica instável, sangue no meato uretral, hematoma escrotal ou equimose perineal, além de espículas ósseas no toque retal, estará contraindicada a sondagem vesical e deverá ser feita uretrografia retrógrada. Avaliação complementar: → Pacientes instáveis com suspeita de sangramento abdominal podem ser submetidos a Lavado Peritoneal Diagnóstico (LPD) ou ultrassonografia na sala de emergência (FAST). A única contraindicação desses exames é a indicação de laparotomia. Dependendo da etiologia do trauma, esses indivíduos podem ser diretamente submetidos à laparotomia exploradora. → Entre os estáveis, é possível realizar exames complementares. • Radiografia: RX AP do tórax é recomendada na avaliação de doentes com trauma fechado multissistêmico, avalia presença de pneumoperitônio. Se instáveis e trauma penetrante, não faz. Se estável e trauma penetrante acima do umbigo ou uma lesão toracoabdominal suspeita, faz para excluir a presença de hemotórax ou pneumotórax ou, ainda, para avaliar presença de ar intraperitoneal. Pode determinar o trajeto de projeteis. Radiografia AP pélvica pode ser útil no estabelecimento da origem da perda de sangue em doentes com estado hemodinâmico alterado e em doentes com dor pélvica. • FAST (avaliação ultrassonográfica direcionada para trauma): detecta líquido na cavidade intra-abdominal. Rápido e não invasivo. o Pode detectar razões para a hipotensão sem hipovolemia: tamponamento cardíaco. o As imagens devem ser obtidas do saco pericardial, do espaço hepatorrenal, do espaço esplenorrenal e da pelve ou fundo de saco de Douglas. A segunda a valiação pode ser realizada dentro de 30 min, podendo detectar hemoperitônio progressivo. o Um FAST negativo não exclui lesão intra-abdominal. Porém, torna menos provável que a fonte de hemorragia que produz alterações hemodinâmicas seja o abdome. o A visualização pélvica é realizada melhor antes da inserção da sonda vesical de demora, pois, a bexiga distendida ajuda a visualização de líquido livre na pelve. o Ondas sonoras não se deslocam bem pelo ar, aumentando a dificuldade de realizar o FAST em doentes com enfisema subcutâneo. o Assim como para a LPD, a indicação absoluta de laparotomia é uma contraindicação para o FAST. o Fratura de pelve pode diminuir a acurácia do FAST • Lavagem peritoneal diagnóstica: exame rápido para identificar hemorragia.Embora invasiva, permite a investigação de possível lesão de víscera oca. Pode alterar os exames clínicos subsequentes. Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL o Contraindicacões relativas para a LPD Incluem cirurgias abdom nais prévias, obesidade mórbida, cirrose avançada e coagulopatia preexistente. o A fácil aspiração de sangue, de conteúdo gastrintestinal, de fibras vegetais ou de bile, através do cateter, em doentes com anormalidade hemodinâmica, indica laparotomia. Se grande quantidade de sangue (> 10 mL) ou conteúdo gastrointestinal não são aspirados, a lavagem deve ser efetuada com 1000 mL de solução cristaloide isotônica aquecida (10 mL/kg em crianças). o O efluente é enviado para laboratório - o teste é considerado positivo na vigência de mais de 100.000 glóbulos vermelhos por mm3, 500 ou mais glóbulos brancos por mm3, ou detecção de bactérias pela coloração de Gram. • Tomografia Computadorizada: apenas para pacientes hemodinamicamente estáveis, avalia a presença e a extensão de lesões de órgãos específicos e pode diagnosticar lesões de órgãos retroperitoneais e pélvicos, que são difíceis de avaliar com exame fisico, FAST e lavagem peritoneal. Na ausência de lesões hepáticas ou esplênicas, a presença de líquido livre. na cavidade abdominal sugere lesão no trato gastroantestinal e/ou no mesentério e muitos cirurgiões de trauma acreditam que este fato seja uma indicação para laparotomia precoce. Implica administração de contraste endovenoso. • Exames contrastados: para lesões especificas e não devem atrasar o tratamento de pacientes instáveis. o Uretrografia – avalia ruptura uretral; o Cistografia – avalia ruptura de bexiga intra ou extraperitoneal; o Urografia excretora – alternativa quando não tem TC disponível para avaliar lesões do sistema urinário; o Estudo contrastado do tubo digestivo - avalia lesões retroperitoneais isoladas de órgãos gastrointestinais Abordagem do trauma abdominal: → Em ferimentos toracoabdominais ou na parede anterior do abdome causados por arma branca, as opções incluem exame físico seriado ou LPD. TC com duplo ou triplo contraste é útil em ferimentos dos flancos e do dorso. # As avaliações não devem atrasar a transferência do doente para um nível mais adequado de tratamento quando lesões graves já foram diagnosticadas. → A maioria dos ferimentos abdominais por projétil de arma de fogo é tratada por laparotomia exploradora, uma vez que a incidência de lesão intraperitoneal é significativa. Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL → Ferimentos abdominais por arma branca podem ser tratados de forma mais seletiva; cerca de 30% deles causam ferimentos intraperitoneais. Dessa forma, indicações para laparotomia em doentes com ferimentos abdominais penetrantes incluem: • Qualquer doente com alterações hemodinâmicas • Ferimentos por projétil de arma de fogo com uma trajetória transperitoneal • Sinais de irritação peritoneal • Sinais de penetração da fáscia ▪ A maioria dos pacientes vão apresentar hipotensão, peritonite ou evisceração de epíploo ou intestino delgado. Esses doentes necessitam de uma laparotomia de emergência. ▪ Nesses casos o FAST negativo não exclui a possibilidade de uma lesão intra-abdominal significativa que produz um pequeno volume de líquido livre intraperitoneal. Indicação de laparotomia em adultos: ➢ Trauma abdominal fechado com hipotensão e com FAST positivo ou evidência clínica de hemorragia intraperitoneal; ➢ Trauma abdominal fechado ou penetrante com LPD positiva; ➢ Hipotensão associada a ferimento penetrante do abdome; ➢ Ferimentos por projétil de arma de fogo que atravessam a cavidade peritoneal ou o compartimento visceral I vascular do retroperitônio; ➢ Evisceração; ➢ Hemorragia do estômago, reto ou trato geniturinário secundário a ferimento penetrante; ➢ Peritonite; ➢ Ar livre, ar retroperitoneal ou ruptura do hemidiafragma ; ➢ TC com contraste revelando lesão do trato gastrointestinal, lesão intraperitoneal da bexiga, lesão de pedículo renal ou lesão parenquimatosa grave após trauma fechado ou penetrante; Diagnósticos específicos: → Lesões diafragmáticas: o hemidiafragma esquerdo é o mais frequentemente acometido. A lesão mais típica é uma ruptura de 5 a 10 em de extensão, que envolve a porção posterolateral do hemidiafragma esquerdo. Anormalidades na radiografia inicial do tórax incluem a elevação ou o "barramento" do hemidiafragma, a presença de hemotórax, o apagamento da imagem do diafragma por uma sombra gasosa ou a presença da sonda gástrica no tórax. O diagnóstico deve ser suspeitado com qualquer ferimento toracoabdominal e pode ser confirmado pela laparotomia, toracoscopia ou laparoscopia. Podem ser assintomáticos. → Lesões duodenais: a ruptura duodenal é encontrada em motoristas sem cinto de segurança e cujo veículo sofreu uma colisão frontal e em doentes que receberam um golpe direto no abdome, como o de um guidão da bicicleta. A identificação de sangue no aspirado gástrico ou de ar retroperitoneal na radiografia ou na TC de abdome deve levantar a suspeita dessa lesão. Em doentes de alto risco para essas lesões, deve -se indicar um estudo radiográfico contrastado do tubo digestório alto ou uma TC com duplo contraste. Lesões gástricas exclusivas podem ser rafiadas. Na presença de lesões múltiplas ou na primeira porção do duodeno, a gastrectomia subtotal pode ser uma opção. Nas lesões da segunda porção duodenal, associadas ou não a lesões pancreáticas, uma opção é a cirurgia de Vaughan, que consiste no reparo da lesão duodenal, seguido de cerclagem pilórica com fio absorvível por gastrostomia e de uma gastroenteroanastomose laterolateral isoperistáltica aproveitando a gastrostomia. → Lesões pancreáticas: na maioria das vezes, são resultado de um golpe direto no epigástrio, que comprime o órgão contra a coluna vertebral. Valores normais precoces de amilase sérica não excluem a presença de traumas pancreáticos graves. Por outro lado, o nível de amilase Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL pode ser elevado em casos de traumas extrapancreáticos. No entanto, níveis elevados persistentes ou crescentes de amilase sérica podem determinar que se façam pesquisas adicionais do pâncreas e outras vísceras abdominais. A TC com duplo contraste talvez não identifique trauma pancreático imediato (até 8 horas); portanto, o exame deve ser repetido mais tarde, se houver suspeita de lesão pancreática. Caso os achados da TC sejam inconclusivos, uma exploração cirúrgica do pâncreas é recomendada. O melhor exame para avaliação do ducto de Wirsung é a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, mas só deve ser realizada no paciente estável hemodinamicamente. Lesões da cauda pancreática podem ser simplesmente drenadas. As ressecções corpocaudais devem ser realizadas nas fraturas do pâncreas ou na lesão de Wirsung (lesão do ducto pancreático principal). → Lesões genitourinárias: Traumas no dorso ou nos flancos que resultam em contusões, hematomas ou equimoses são marcadores de possíveis lesões renais e exigem uma avaliação (TC ou urografia excretora) do trato urinário. Indicações adicionais para a avaliação do trato urinário incluem hematúria macroscópica ou microscópica em doentes com (1) um ferimento abdominal penetrante, (2) um episódio de hipotensão (pressão arterial sistólica inferior a 90 mm Hg) em doentes com trauma abdominal fechado e (3) lesões intra- abdominais associadas em doentes com trauma abdominal fechado. Hematúria macroscópica e microscópica em doentes com um episódio de choque indicam a possibilidade de um trauma abdominal não renal. Urografia excretora, TC ou arteriografia renal pode ser útil no diagnóstico de trombose da artéria renal ou ruptura do pedículo renal secundária a desaceleração. Fratura pélvica anterior esta relacionada com ruptura de uretra (posterior- trauma multissistemico, ou anterior- lesão isolada ao diafragmaurogenital). As lesões podem ser tratadas com rafia, nefrectomia total ou parcial. → Lesões de vísceras ocas: As lesões contusas do intestino geralmente são resultantes de desaceleração brusca que acarreta um esgarçamento próximo a um ponto fixo de sustentação visceral, principalmente quando o cinto de segurança foi utilizado de maneira incorreta. Pode apresentar equimoses lineares e transversas (sinal do cinto de segurança) ou uma fratura lombar com desvio detectada na radiografia (fratura de Chance). → Lesões de órgãos sólidos: Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque, instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de órgão sólido em doentes hemodinamicamente normais, muitas vezes, pode ser tratada não operatoriamente. Tratamento de lesões esplênicas tem melhores resultados com esplenectomia total. As ressecções hepáticas devem ser realizadas em pacientes estáveis – manobra de Pringle – pinçamento do hilo hepático, se o paciente continuar sangrando, significa que é uma hemorragia extra-hepática, pensar e lesão de cava retro-hepática. o Quando houver hemobilia (icterícia, dor abdominal e hematêmese – tríade de Sandblom) secundaria ao trauma hepático, fazer embolização por arteriografia. Tratamento não operatório: → Os princípios fundamentais para estabelecer a possibilidade de tratamento não operatório de lesão contusa de víscera maciça são a estabilidade hemodinâmica e a ausência de peritonite (causada por lesões de víscera maciça). Em caso de instabilidade hemodinâmica, desenvolvimento de irritação peritoneal ou confirmação de pneumoperitônio na tomografia, a conduta é laparotomia. Habitualmente as lesões hepáticas e esplênicas até grau III e lesões renais até grau IV, caso não tenha instabilidade hemodinâmica ou sinais de peritonite são passíveis de tratamento não operatório. Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL Cirurgia de controle de dano: → A presença de hipotermia, acidose metabólica e coagulopatia constitui a chamada tríade letal do politraumatismo; → A cirurgia de controle de danos, ou damage control, cujo princípio é a cirurgia para controle da hemorragia e prevenção de contaminação maciça, com recuperação em UTI. → indica-se o damage control para pacientes com pH menor que 7,2, temperatura axilar menor que 32 °C e necessidade de transfusões múltipla (mais de 10 unidades de concentrado de hemácias). → Raliza-se uma incisão ampla xifopúbica, com empacotamento dos quatro quadrantes do abdome. O controle das hemorragias ativas é obtido com compressão manual ou empacotamento com compressas. → As manobras de acesso ao retroperitônio, como as de Cattell e de Matto. A contaminação deve ser prevenida com suturas rápidas, evitando-se enterectomias e anastomoses. → Lesões esplênicas são rapidamente tratadas com esplenectomia. Lesões hepáticas podem ser resolvidas temporariamente com empacotamento; → A manobra de Pringle, que consiste no clampeamento do hilo hepático, permite ao cirurgião diferenciar se o sangramento é intra-hepático; → O fechamento abdominal também deve ser rápido, por vezes, temporário, com peritoniostomia, técnica conhecida como bolsa de Bogotá, especialmente útil quando há grande edema de alças e compressas dentro da cavidade abdominal. → O sistemas a vácuo de contenção da cavidade abdominal, que apesar de deixarem a parede abdominal anterior aberta, a deixa num sistema asséptico e com controle dos efluentes. → Ao término da cirurgia de controle de danos, o paciente é levado à UTI para monitorização hemodinâmica, correção da coagulopatia e aquecimento. A reoperação deve ocorrer entre 48 e 72 horas, para a retirada das compressas, inspeção completa da cavidade, restabelecimento do trânsito intestinal, limpeza e, sempre que possível, fechamento definitivo. → Uma complicação nesse tipo de abordagem é a síndrome compartimental abdominal. Define- se pressão de perfusão abdominal pelo valor da pressão arterial média menos o valor da pressão intra-abdominal. → O quadro clínico da síndrome compartimental abdominal demonstra as consequências da diminuição do retorno venoso. Com a diminuição da pré-carga e da pós-carga, o débito cardíaco aumenta para compensar a diminuição do fluxo total a órgãos-alvo, como cérebro, pulmão e rins. Acidose e hipotermia, quando presentes, causam evolução desfavorável. O baixo fluxo cerebral força o organismo a lançar mão de mecanismos de defesa, como o aumento da pressão intracraniana para manter pressão de perfusão cerebral adequada. Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL Fraturas pélvicas e lesões associadas: → Fraturas pélvicas associadas a hemorragia comumente apresentam ruptura dos ligamentos ósseos posteriores ( sacroilíaco, sacro tuberoso, sacroespinhoso e fibromuscular do assoalho pélvico) secundária a uma fratura e/ou luxação sacroilíaca ou a uma fratura sacral. Ruptura do anel pélvico pode esgarçar o plexo venoso pélvico e, ocasionalmente, os ramos da artéria ilíaca interna (lesão por compressão anteroposterior). → Lesões do anel pélvico podem ser causadas por colisões de moto, atropelamentos, esmagamento direto da pelve e queda de alturas superiores a 3,6 metros. #A hemorragia é o principal fator potencialmente reversível contribuinte para a mortalidade. Mecanismos de trauma: → Os quatro padrões de força que causam fraturas pélvicas incluem: - Compressão anteroposterior: mais relacionada com atropelamentos de pedestres, colisões de motocicleta, esmagamento direto da pelve e queda de altura superior a 3,5 metros. Pode haver disfunção da sínfise do púbis, rupturas de ligamentos ósseos posteriores, fraturas sacroilíacas (com ou sem luxações) ou fraturas sacrais. Hemorragia advinda do complexo venoso posterior da pelve e de ramos da artéria ilíaca interna (mais raramente) podem resultar do rompimento do anel pélvico; - Compressão lateral: resultam de colisões automobilísticas e levam à rotação interna da hemipelve envolvida. O volume pélvico é comprimido nessas lesões e, portanto, hemorragias com risco para a vida são incomuns. - Cisalhamento vertical: resulta na ruptura dos ligamentos sacroespinhosos e sacrotuberosos, provocando instabilidade pélvica, geralmente como resultado de uma queda. - Padrões complexos (combinação): lesões graves e complexas com sangramento volumoso, fruto da associação de compressão e cisalhamento da pelve. Classificação: ▪ Fraturas pélvicas simples: associadas a lesões menores de tecidos moles, concomitantes ou não à instabilidade osteoligamentar. Respondem por 90% das fraturas pélvicas; ▪ Trauma pélvico complexo: fraturas associadas a lesões graves de partes moles, representando quase 10% dos casos, com mortalidade de até 33% do total. Pode haver comprometimento do sistema urogenital, de vísceras ocas e lesões neurovasculares; ▪ Fratura com instabilidade pélvica e hemodinâmica; ▪ Hemipelvectomia traumática (parcial ou total): fraturas associadas ao deslocamento de uma ou duas hemipelves e à ruptura completa de estruturas, vasos e nervos da pelve; Tratamento: Dara Cunha – ATLS CAP 5 + MEDCEL → Quando associado a hemorragia, faz o controle dela por meio da estabilização do anel pélvico compressão externa, além de reanimação volêmica. → Técnicas para estabilizar a pelve: A tração longitudinal aplicada através da pele ou do esqueleto é considerada o método de primeira linha. Como nessas lesões a hemipelve está rodada externamente, a rotação interna dos membros inferiores também pode reduzir o volume pélvico. Um lençol, cinta pélvica ou outro dispositivo pode ser aplicado no nível dos trocânteres maiores dos fêmures para se estabilizar a pelve instável. E preciso tomar cuidado, pois quando muito apertados podem causar ruptura da pele e ulceração sobre as proeminências ósseas. → A fixação externa da pelve é indicadapara pacientes com fraturas pélvicas e instabilidade hemodinâmica. Pacientes com estabilidade hemodinâmica poderão ser submetidos a fixação interna definitiva. → Tratamento definitivo: A embolização angiográfica é, muitas vezes, a melhor opção para doentes com hemorragia ativa secundária a fraturas pélvicas. Geralmente em caso de instabilidade hemodinâmica e refratariedade às medidas tomadas para contenção do sangramento, deve-se suspeitar de uma causa arterial (A. ilíaca e seus ramos) # Em alguns casos não é possível diferenciar com o USG origem do sangramento (intraperitoneal ou pélvico) sendo necessários serem submetidos a TC abdominal com contraste.
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