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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Edley M. dos Santos Regina P. de Moraes Rosemeire R. dos Santos 1ª Edição, 2020 EAD Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Henrique Karru Romaneli Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames Pró-reitor de pós-graduação lato sensu e Pró-reitor da educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Wendel Tomas Lima Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Valdir Knoener Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes Supervisora Administrativa: Rhayane Storch Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira Editora Universitária Adventista 1ª Edição, 2020 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Imprensa Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Rosemeire Rodrigues dos Santos Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP Regina Celia Pinheiro de Moraes Mestre em Letras pela UFPR Edley Matos dos Santos Mestre em Linguística Aplicada pela Unicamp Santos, Edley Matos dos. Leitura e produção de texto [livro eletrônico] / Edley Matos dos Santos; Regina Celia Pinheiro de Moraes; Rosemeire Rodrigues dos Santos. Engenheiro Coelho: UNASPRESS, 2020. 1 Mb, PDF ISBN 978-85-8463-171-1 1. Produção textual. 2. Leitura. I Título. CDD-808 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Leitura e produção de texto 1ª edição – 2020 e-book (pdf) OP 00123_021 Editoração: Werter Gouveia Revisão: Werter Gouveia Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Follis Capa: Jônathas Sant’Ana Diagramação: Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP CEP 13.448-900 Tels.: (19) 3858-5222 / (19) 3858-5221 www.unaspress.com.br Imprensa Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc Creriane Nunes Lima Mestre em Educação pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO LINGUAGEM, LÍNGUA, VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E TÓPICOS TEXTUAIS ...................... 13 Introdução ........................................................................................14 Linguagem e língua .........................................................................15 Tipos de linguagem ................................................................19 Variações linguísticas .......................................................................24 Variações regionais, diatópicas ou geográficas .....................26 Variações históricas ou diacrônicas ........................................27 Variações socioculturais ou diastráticas .................................29 Variações situacionais ou diafásicas .......................................31 Fatores de comunicação e funções da linguagem ..........................34 Função referencial ...................................................................40 Função emotiva .......................................................................42 Função conativa ou apelativa .................................................45 Função poética ........................................................................47 Função metalinguística ...........................................................50 Função fática ...........................................................................51 Textualidade e intertextualidade .....................................................53 O que é um texto ....................................................................54 Intertextualidade ....................................................................60 Coesão e coerência textuais .............................................................63 Coesão textual .........................................................................63 Coerência textual .....................................................................70 Referências .......................................................................................77 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS, O TEXTO NA ESFERA JORNALÍSTICA, E RESUMO E RESENHA .................. 81 Introdução ........................................................................................82 Gêneros textuais e tipos textuais .....................................................82 Tipos textuais ..........................................................................87 Narração, descrição e argumentação/dissertação ..........................91 Narração ..................................................................................91 Descrição .................................................................................96 VO CÊ ES TÁ A QU I Argumentação/dissertação ....................................................98 Esfera jornalística, notícia e reportagem ........................................105 Esfera jornalística ...................................................................105 Notícia ....................................................................................107 Reportagem ...........................................................................113 Editorial e artigo de opinião ...........................................................117 Editorial ..................................................................................117 Artigo de opinião ...................................................................123 Resumo e resenha...........................................................................131 Resumo ..................................................................................131 Resenha ..................................................................................134 Referências ......................................................................................143 VO CÊ ES TÁ A QU I PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA. EMENTA Aborda a capacidade de leitura e escrita como atividades essencialmente ligadas ao processo de comunicação próprio ao ambiente escolar, estimulando o discente a desenvolver a capacidade de leitura e escrita para desenvolvimento e exercício pleno da função docente. Utilização de diversos tipos e gêneros textuais. A temática contemplará questões relativas a direitos humanos e seus desdobramentos, educação ambiental e diversidade cultural e étnica. EMENTA Aborda a capacidade de leitura e escrita como atividades essencialmente ligadas ao processo de comunicação próprio ao ambiente escolar, estimulando o discente a desenvolver a capacidade de leitura e escrita para desenvolvimento e exercício pleno da função docente. Utilização de diversostipos e gêneros textuais. A temática contemplará questões relativas a direitos humanos e seus desdobramentos, educação ambiental e diversidade cultural e étnica. CONHEÇA O CONTEÚDO Caro(a) leitor(a) Este é o material de Leitura e Produção de Texto. Escrevemos este conteúdo com a finalidade de ampliar sua competência como leitor(a) e escritor(a) de textos, a fim de torná- -lo apto(a) a ler textos de maneira consciente e crítica e a escrever para diferentes situações de comunicação de forma adequada. Para que a comunicação seja efetivada, é necessário considerar uma série de fatores: a situação em que ocorre, os participantes da mesma, seu objetivo etc. Todos esses fatores te ajudam a escolher o tipo de lin- guagem, a língua (com suas variações), o veículo para a mensagem e vários outros fatores importantes. Em comunicação escri- ta, é necessário produzir um “texto”, e não um amontoado de palavras e ideias, coeso e coerente. Como fazê-lo? Aqui você entrará em contato com os tipos e gêneros textuais mais importantes para sua vida acadêmica e profissional, o que o possibi- litará a reconhecê-los, produzi-los e compreen- dê-los quando necessário. Esperamos que, ao concluir o estudo, você possa se aproximar de diferentes textos de maneira mais consciente e crítica, e que sua experiência comunicativa possa ser ainda mais satisfatória. GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS, O TEXTO NA ESFERA JORNALÍSTICA, E RESUMO E RESENHA - Aprender que há vários gêneros textuais para o desenvolvimento da competência comunicativa; - Reconhecer as características e funcionalidades dos tipos textuais narração, descrição e dissertação, e dos gêneros textuais notícia, reportagem, editorial, artigo de opinião, resumo e resenha. UNIDADE 2 OB JE TI VO S 82 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO INTRODUÇÃO Para escrever textos de qualidade, tanto acadêmicos quanto práticos, é necessário que dominemos o gênero a que nos dispomos a escrever e os tipos textuais utilizados no mesmo. Contudo, muitas vezes não conseguimos sequer diferenciar os gêneros entre si. Isso torna a tarefa impossível de ser cumprida. Por esse motivo, nesta unidade veremos diversos gêneros importantes para seu crescimento pessoal, acadêmico e profissional. Ao longo desta unidade, você aprenderá: • o que são gêneros e tipos textuais; • de que se tratam os tipos textuais narração, descrição e argumentação; • como são construídos os gêneros textuais notícia, reportagem, editorial, artigo de opinião, resumo e resenha. GÊNEROS TEXTUAIS E TIPOS TEXTUAIS Quando lemos ou produzimos um texto, seja um bilhete, seja um artigo acadêmico, acessamos diversas capacidades que desenvolvemos em diferentes interações comunicativas. 83 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Segundo Fávero (2009, p. 6), as capacidades de quem fala, ouve, lê, compreende e escreve textos “derivam de uma competência específica do falante – a competência textual”, que é parte de sua competência linguística. Lembre-se: um texto é uma unidade de sentido, uma sequência coerente de enunciados em uma situação de interação especifica, produzida por meio do desenvolvimento da competência textual do seu(sua) produtor(a). A competência linguística se dá, então, pelo discurso materializado nos textos, que se organizam dentro de determinado gênero textual. Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional […]. Os gêneros são determinados historicamente. As intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, geram usos sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos. (BRASIL, 1997, p. 23). Desse modo, se todo texto, oral ou escrito (verbal, visual e verbo-visual) organiza-se em determinado gênero textual, vamos pensar: quais gêneros textuais, orais e escritos, produzimos e por meio de quais interagimos no cotidiano? 84 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Na situação seguinte, vamos verificar quais gêneros textuais mobilizamos nas diferentes situações do cotidiano. Bem, você se levanta da cama e olha o display do celular com hora, data e lembretes da agenda com compromissos do seu dia. Escova os dentes, usando uma pasta cujo rótulo diz: “Dentes brancos e saudáveis”. Então, você pega o ônibus e inicia uma conversa com um(a) colega de bairro. Chega ao trabalho; lê e responde e-mails; faz telefonemas; escreve cartas de solicitação; lê um tutorial para uso de plataformas digitais; preenche formulários impressos e online. Sai do trabalho e vai para a faculdade, pois tem de entregar a resenha acadêmica de uma tese de doutorado. Na faculdade, assiste a uma aula expositiva e a uma palestra; apresenta um seminário; tem conversas com seus colegas; troca mensagens via WhatsApp e outros aplicativos; e, enfim, volta para casa. REFLETINDO Todos os dias, precisamos falar e escrever para a realização de diferen- tes atividades, não é mesmo? Agora pense: além dos gêneros textuais que apresentamos anteriormente, que outros você costuma produzir na fala e na escrita todos os dias? Para quais situações comunicativas você os produz? 85 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Todas as palavras destacadas em itálico remetem a diferentes gêneros textuais e discursivos que utilizamos em diferentes maneiras de interação. Embora nossa escolha não seja consciente, na maioria das vezes produzimos um discurso em decorrência dos contextos de produção e recepção (situação comunicativa): quem será meu(minha) leitor(a) previsto(a) ou receptor(a)? Que tipo de mensagem quero partilhar? De que forma pretendo partilhar a informação? Qual é o objetivo da interlocução? Segundo Wachowicz (2012, p. 24): essas escolhas não são obviamente conscientes. Os indivíduos não operam linguisticamente com a metalinguagem que norteia seus eventos de fala ou de escrita. Primeiramente, estas escolhas são condicionadas pelas diferentes situações sociais das quais participamos: o que a análise do discurso chama de esferas da atividade humana (BAKHTIN, 1992, p. 279) ou atividades de linguagem (BRONCKART, 2003, p. 39). Segundo Bakhtin (1997), os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados em número infinito. Embora textos de um mesmo gênero textual sejam diferentes, suas semelhanças se devem a três dimensões que o definem: conteúdo temático, forma composicional e estilo. Conteúdo temático são todos os conteúdos (temas) dizíveis a um gênero e ao seu contexto de produção e 86 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO recepção. A forma composicional é a estrutura particular dos textos de determinado gênero, como, por exemplo, a composição em versos e estrofes, parágrafos, entre outros. Já o estilo diz respeito às unidades linguísticas selecionadas pelo falante (ou autor), incluindo as escolhas lexicais (vocabulário), a organização das frases, o registro linguístico (informal e formal), as variações linguísticas e os conjuntos particulares de tipos textuais e demais aspectos gramaticais. Muitas pessoas ainda confundem tipos textuais (tipologia textual ou sequência textual), quais sejam narrativos, dissertativos, descritivos, entre outros, com gênero textual, ou acreditam que tenham a mesma representação. No entanto, é importante entendermos que, mesmo que o gênero textual seja um conceito complementar e os tipos textuais sejam a parte da tessitura interna do gênero, esses são TESSITURA Interligação de várias partes que compõem um todo completo; forma de harmonização ou liga- ção dessas partes. 87 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA conceitos distintos. Então, qual é a diferença entre gênero textual e tipo textual (tipologias ousequências)? TIPOS TEXTUAIS O que parece similar e diferente entre uma receita culinária e um manual de instruções de um equipamento eletrônico? Qual relação pode ser estabelecida entre esses gêneros textuais? Primeiramente, quanto às dimensões de gênero, os dois textos são diferentes no que se refere ao conteúdo temático. Uma receita culinária tem como tema obrigatório do gênero a preparação de um alimento; seu(sua) leitor(a) previsto(a) é qualquer pessoa que queira cozinhar aquele alimento; e ela pode ser anotada em cadernos pessoais, publicada em livros, jornais, revistas, sites e aplicativos. Um manual de instruções terá como tema obrigatório os procedimentos de uso de determinado equipamento; seu leitor previsto é o usuário do equipamento. Geralmente, ele acompanha o equipamento ou pode ser encontrado no site do fabricante. Outro aspecto de diferença é a forma composicional. A receita culinária tem sua sequência e progressão em duas partes fixas: 1) lista de ingredientes e medidas; e 2) modo de preparo. 88 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Já o manual de instruções tem sua progressão por meio da enumeração e descrição de componentes e dos tópicos de procedimentos de uso, sem uma ordem fixa. Em contrapartida, os dois gêneros textuais têm similaridades no estilo, pois ambos se organizam pela injunção. Em outras palavras, apresentam um subconjunto particular de unidades linguísticas, como verbos no imperativo ou no infinitivo, com indicação de instruir determinado procedimento, direcionando as ações discursivas dos sujeitos. Dessa forma, a injunção não pode ser considerada como um gênero textual, pois se refere a aspectos de funcionamento da linguagem como elemento de uma das dimensões do gênero, e não fornece base suficiente para a interação em dada situação comunicativa. Injunção, assim como narração, argumentação, exposição e descrição, é denominada como tipo textual, ou, ainda, tipologia ou sequência textual, ou seja, faz parte da tessitura interna dos textos. O tipo ou a tipologia/sequência textual designa “uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)” (MARCUSCHI, 2008, p. 155). De modo geral, “os tipos textuais abrangem 89 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção”, enquanto os gêneros discursivos são em número ilimitado (MARCUSCHI, 2008, p. 155). No Quadro 9, apresentamos os tipos textuais e os gêneros orais e escritos nos quais estes são predominantes e relacionam-se com as estruturas composicionais e de estilo. Quadro 9 – Tipos e gêneros textuais TIPOS TEXTUAIS EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS EM QUE PODE PREDOMINAR O TIPO TEXTUAL Narrativo: caracteriza-se por apresentar a sequência de determinados fatos sobre personagens ou agentes dentro de um tempo e contexto específicos, seguindo uma estrutura. Também pode ser a representação de experiências vividas, situadas no tempo. Conto maravilhoso, conto de mistério, fábula, lenda, narrativa de aventura, novela, romance, poema narrativo, crônica, relato de experiência vivida, relato de viagem, testemunho, notícia, reportagem, ensaio biográfico, post nas redes sociais, entre outros. Descritivo: caracteriza-se pela descrição/especificação de pessoas, lugares, objetos, sentimentos etc. Poema letra de canção, bula de remédio, rótulos, anúncios, entre outros. 90 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Argumentativo/dissertativo: caracteriza-se pelo desenvolvimento de raciocínio lógico com sustentação, refutação e negociação de tomada de posição ou opinião sobre determinado assunto. Artigo de opinião, dissertação de vestibular, diálogo argumentativo, carta do leitor, carta de reclamação, deliberação informal, debate regrado, discurso parlamentar, dissertação de mestrado, tese de doutorado, post e comentário na internet, entre outros. Expositivo: caracteriza-se pela apresentação textual de diferentes formas de saberes. seminário, conferência, tomada de notas, resumo de textos “expositivos” ou explicativos, relatório científicos, relato de experiência científica, artigo de divulgação científica, relato de prática, textos informativos, entre outros. Injuntivo ou prescritivo: caracteriza- se pela regulação mútua de comportamentos. Instruções de montagem, receita culinária, receita médica, regras de jogo, instruções de uso, tutoriais, leis, regimentos, anúncios publicitários, entre outros. Fonte: adaptado de Travaglia (2007) e Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) Essas características dos tipos textuais, que organizam a estrutura interna dos gêneros, não aparecem sozinhas em um texto. Por exemplo, contos de mistério têm um tipo textual narrativo predominante, porém têm como característica a sequência descritiva do local e do ambiente. No tópico seguinte, vamos discutir sobre narração, descrição e dissertação/ argumentação, por serem os tipos mais estudados na escola e em livros didáticos. 91 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA SAIBA MAIS Os pesquisadores Dolz, Noverraz e Schneuwly vêm rea- lizando, nos últimos 20 anos, estudos sobre organiza- ção didática no ensino de leitura e produção escrita: se- quência didática e agrupamento de gêneros textuais. Pesquise sobre o ensino de leitura e produção escrita na escola com o procedimento de sequência didática e agrupamento de gêneros por tipos textuais. NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E ARGUMENTAÇÃO/DISSERTAÇÃO NARRAÇÃO Você já parou para pensar que organizamos nossas experiências por meio da narração do nosso passado e pela projeção do futuro, e que comparamos nossa vida com as narrativas com as quais temos contato pelos livros, pelos jornais e pelas novelas televisivas? Desde pequenos, desenvolvemos a competência de narrar os fatos de nosso dia a dia – como os acontecimentos da escola e das brincadeiras com os colegas – ou, ainda, de recontar as histórias de livros lidos ou de filmes e desenhos animados a que assistimos. Segundo Lemes et al.: 92 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Numa narração, o que deve sobressair é a ação localizada, pelo NARRADOR, no tempo e no espaço, atribuída a personagens [ou agentes], organizada numa sequência que revela relações entre cada etapa que compõe o conjunto de ações que, por sua vez, diferenciam uma história da outra. (LEMES et al., 2013, s.p.) Conforme você viu no Quadro 9, o tipo textual narrativo é predominante em diferentes gêneros textuais que estão presentes em diversas atividades humanas ou de linguagem. Por exemplo, na esfera literária/artística há contos, romances, novelas etc.; já na esfera acadêmica, há a crônica histórica e o relato de memórias; e, na esfera jornalística, as notícias e as crônicas diversas. Em todos esses gêneros textuais, há vários elementos da narrativa: • narrador: quem conta ou sobre cujo ponto de vista os fatos são narrados; • personagem ou agente: quem realiza as ações ou participa dos fatos narrados; • espaço: local ou ambiente onde ocorrem os fatos; • tempo: quando ou em quanto tempo ocorrem os fatos; 93 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA • enredo: conjunto de ações em que se entrelaçam todos os elementos anteriores. A seguir, apresentamos um trecho do primeiro capítulo de “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, romance de costumes, escrito na segunda metade do século 19 e esteticamente relacionado ao Romantismo brasileiro: Era no tempo do rei. […]. Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo Algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se, porém, do negócio, e viera ao Brasil. […] Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da Hortaliça, quitandeira daspraças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. […] Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. [...] 94 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história (ALMEIDA, Manoel). O trecho acima apresenta os elementos da narrativa que compõem a análise do Quadro 10. Quadro 10 – Análise do trecho do livro “Memórias de um Sargento de Milícias” ELEMENTOS DA NARRATIVA ANÁLISE DO TRECHO DE “MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS” ELEMENTOS LINGUÍSTICOS Tempo A história se passa na estada de Dom joão VI e da família real no Brasil (“Era o tempo do Rei”) e dura entre a saída de Portugal para o Brasil e o nascimento do filho, gerado durante a viagem. Pode ser caracterizado por advérbios, locuções adverbiais ou adjuntos adverbiais temporais, como: “tempo do rei”, “neste tempo”, “desde tempos remotos”, “resto do dia”, “dia seguinte”, “sete meses”. 95 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Espaço Ocorre durante a viagem de navio entre Portugal e o Brasil, na cidade do Rio de janeiro. Pode ser caracterizado por advérbios locativos ou adjuntos adverbiais locativos, como: “Em Lisboa”,” ao Brasil”, “mesmo navio”, “borda do navio”, “em terra”. Personagens (agentes) Leonardo Algibebe (pai), maria da hortaliça (mãe) e o filho Leonardo (protagonista). Os personagens ou agentes são identificados por meio de substantivos próprios, ou seja, pelos seus nomes. Enredo As ações apresentadas no trecho correspondem à apresentação da origem do protagonista, ou seja, à introdução da narrativa. As ações são representadas pelos verbos “aborrecera-se”, “viera”, entre outros. Narrador Narrador/observador. Uso da terceira pessoa do verbo, como, por exemplo, “saltaram”, “começou”. Fonte: elaborado pelos autores (2017) A narração apresenta três etapas de progressão: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. A introdução é a parte ou o estado inicial da narração e consiste na apresentação de o que, com quem, onde e quando aconteceu. Isso ocorre no trecho anterior, que é parte do primeiro parágrafo do romance “Memórias de um Sargento de Milícias”. Já na notícia ela ocorre no primeiro parágrafo, que é denominado “lide”. 96 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO O desenvolvimento é o momento da progressão da narrativa em que os conflitos se constituem e chegam a um ponto crítico de tensão, ou, ainda, o momento em que os fatos principais se apresentam ou se aprofundam. Na conclusão os conflitos são resolvidos em decorrência das ações dos personagens ou agentes, ou, ainda, ocorre um desfecho do conflito inicial. No trecho analisado, há elementos de descrição, visto que os tipos textuais não são estanques, como, por exemplo, na descrição das personagens: “Maria da Hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota”. DESCRIÇÃO Imagine a seguinte situação: você está “teclando” com uma pessoa em um site de relacionamentos. Vocês já trocaram várias mensagens, contaram histórias e descreveram suas qualidades, seus defeitos e como gostam e não gostam de coisas e determinados hábitos e ações. Então, decidem se encontrar e, portanto, mandam uma mensagem com a descrição exata de suas características físicas e de como estarão vestidos. A cena relatada é bem comum e apresenta as características do tipo textual descritivo que consiste, segundo Köche, Boff e 97 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Marinello (2010), na exposição das propriedades, das qualidades e características de objetos, de ambientes, de ações, de estados e, no caso imaginado, de pessoas. A descrição permite ao leitor a visualização do objeto/cena apresentado/a, que passa a ser concebido mentalmente a partir de um processo linear de observação, com o uso de adjetivos ou locuções adjetivas, advérbios ou locuções adverbiais, comparação direta ou indireta e por meio de metáforas e metonímias. Predomina, ainda, o uso dos verbos de estado, no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo, demonstrando, assim, a força das escolhas lexicais nesse tipo textual. Observemos, então, o seguinte poema do escritor modernista brasileiro Mário de Andrade, “Aceitarás o amor como eu o encaro?”: Aceitarás o amor como eu o encaro? … … Azul bem leve, um nimbo, suavemente Guarda-te a imagem, como um anteparo Contra estes móveis de banal presente. Tudo o que há de melhor e de mais raro Vive em teu corpo nu de adolescente, A perna assim jogada e o braço, o claro Olhar preso no meu, perdidamente. Não exijas mais nada. Não desejo.1 1 Texto disponível em: <http://bit.ly/2T2KfMj>. Acesso em: 07 jan. 2020. 98 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO No poema de Mário de Andrade, há a predominância do tipo textual descritivo. Na primeira estrofe, o eu lírico descreve como encara o amor por meio do uso de adjetivos e advérbios como “azul”, “bem leve”, “suavemente”, bem como a metáfora “nimbo” (nuvem de chuva) e a comparação “como um anteparo” (guarda- vento). Na segunda estrofe, há a descrição do corpo da pessoa amada, a quem se dirige o eu lírico. Para descrevê-la, ele utiliza-se dos adjetivos, das locuções adjetivas e dos advérbios “melhor”, “mais raro”, “nu”, “de adolescente”, “preso” e “perdidamente”. Em todos os gêneros em que há descrição, mesmo que não seja ela predominante, esse tipo textual pode desempenhar papel determinante como: exemplificação, nos gêneros organizados pela argumentação, e ambientação e apresentação de um personagem, nos gêneros organizados pela narrativa, conforme vimos no trecho de “Memórias de um Sargento de Milícias”. ARGUMENTAÇÃO/DISSERTAÇÃO Todos os dias, somos chamados a opinar sobre diferentes assuntos, seja em nossa vida privada, seja sobre assuntos públicos. Com as redes sociais e os ícones de curtir (gostei) ou não curtir, entre outros, além da opção de comentar ou 99 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA compartilhar determinado status, postagem ou link, estamos opinando e demonstrando acordo ou desacordo sobre diferentes pautas. Assim, a argumentação está presente todos os dias em nossa vida, seja para concordar, discordar, formar uma opinião com pontos de vista negociados, ou tentar persuadir o nosso interlocutor. SAIBA MAIS Sugerimos a leitura do livro “Argumentação”, de José Luiz Fiorin (2015), publicado pela Editora Contexto. Esse livro discute as bases históricas e teóricas da argumentação e expõe as principais organizações discursivas utilizadas na persuasão, ou seja, os principais tipos de argumento. Segundo Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009) os gêneros textuais que se organizam pela argumentação/dissertação, são marcados por questões controversas, as quais envolvem opiniões divergentes sobre determinado tema. Na sustentação, justificativa, refutação ou acordo na argumentação/ dissertação, temos basicamente quatro tipos de argumento (MARIN- HO; CARVALHO, 2010, p. 102): a. argumento de autoridade: a conclusão se sustenta pela citação de uma fonte confiável, 100 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO que pode ser um especialistano assunto ou podem ser dados de instituições de pesquisa; b. argumento de princípio: a justificativa é legítima e faz apelo a princípios, o que torna a conclusão quase incontestável; c. argumento por causa: a(s) justificativa(s) se baseia(m) em um conjunto de causas de fatos implicados na conclusão; d. argumento por exemplificação: a justificativa remete a exemplos comparáveis ao que se pretende defender. MATERIAL COMPLEMENTAR Como esse é o gênero textual mais exigido em pro- vas de vestibular e concursos públicos, é muito im- portante saber escrever uma boa dissertação. Veja algumas dicas para a construção de um bom texto dissertativo/argumentativo. Disponível em: http://www.comofazerumaboaredacao.com/texto-dissertativo-argu- mentativ. Acesso em 06 fev. 2023. http://www.comofazerumaboaredacao.com/texto-dissertativo-argumentativ 101 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Vamos ler, a seguir, a crônica argumentativa de Lima Barreto “As enchentes”. As chuvaradas de verão, quase todos os anos, causam no nosso Rio de Janeiro inundações desastrosas. Além da suspensão total do tráfego, com uma prejudicial interrupção das comunicações entre os vários pontos da cidade, essas inundações causam desastres pessoais lamentáveis, muitas perdas de haveres e destruição de imóveis [4]. De há muito que a nossa engenharia municipal se devia ter compenetrado do dever de evitar tais acidentes urbanos. Uma arte tão ousada e quase tão perfeita, como é a engenharia, não deve julgar irresolvível tão simples problema [2]. O Rio de Janeiro, da avenida, dos squares, dos freios elétricos, não pode estar à mercê de chuvaradas, mais ou menos violentas, para viver a sua vida integral [4]. Como está acontecendo atualmente, ele é função da chuva. Uma vergonha! Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem 102 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO constar os engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão [1]. O Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal defeito a vencer era esse acidente das inundações [3]. Infelizmente, porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa vida urbana, econômica, financeira e social [4]. Vida urbana, 19-1-1915.2 Observemos a numeração no texto e vejamos a análise dos argumentos no Quadro 11. Quadro 11 – Tipos de argumento e análise do texto 1. Autoridade Nesse trecho, o autor apresenta um argumento de autoridade, pois se baseia, mesmo que de forma geral, no que muitos especialistas afirmam sobre o problema das enchentes, na cidade do Rio de janeiro, para sustentar sua tese. 2 Texto disponível em: <http://bit.ly/2Fsm5lV>. Acesso em: 8 ago. 2017. 103 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA 2. Principio No trecho, o autor apresenta o princípio de que a engenharia é uma arte perfeita, por isso não compreende como não encontraram uma solução definitiva ao problema das enchentes na cidade. 3. Causa Esse trecho apresenta as possíveis causas para ocorrerem as enchentes na cidade do Rio de janeiro, no caso, o fato de a cidade ser rodeada de montanhas. 4. Exemplificação No primeiro trecho, ele apresenta exemplos de como as enchentes prejudicam a vida das pessoas na cidade. já no trecho final, apresenta exemplo de prioridade do prefeito, a qual não é a prevenção da cidade contra as enchentes. Fonte: elaborado pelos autores (2017) É impressionante como um texto de 1915, com argumentos de uma pessoa que viveu no início do século passado, pode representar muito a realidade das grandes cidades da atualidade e, ainda, ser publicado como post, carta do leitor ou outra crônica jornalística. Essa crônica utiliza os quatro tipos de argumento para sustentar a arguição do autor sobre o grande problema que assola a cidade do Rio de Janeiro, que são as enchentes. Em sua tese, o autor sustenta a ideia de que falta prioridade sobre essa questão por parte do prefeito e dos engenheiros da cidade. 104 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO NA PRÁTICA Você recebeu suas notas de uma prova e não concordou com a correção. Você, então, parte do pressuposto de que a correção do(a) professor(a) foi equivocada, visto que entende que suas respostas têm relação com o que foi discutido naquele bimestre da disciplina. A coordenação do curso te informa, então, que, para resolver a situação, você deve escrever uma carta ao(à) professor(a) da disciplina solicitando revisão de prova na qual deveria justificar sua discordância quanto à correção e à nota. Quais dimensões do gênero textual “carta de solicitação” você deve considerar para a escrita de seu texto? Que tipos de argumento você poderia utilizar em sua carta de solicitação? Caro(a) aluno(a): Para escrever qualquer gênero textual, você precisa considerar que ele é constituído de conteúdo temático, forma composicional e estilo. Quanto ao conteúdo temático de sua carta, ele deve se vincular à situação comunicativa: objetivo de sua escrita (realizar uma solicitação), quem é o leitor previsto (professor(a) da disciplina) e qual é o tema/assunto (pedido de revisão de prova e nota). Quanto à forma composicional, você deve considerar que uma carta de solicitação apresenta uma estrutura mais ou menos fixa, com: local e data, antecipação do assunto, conteúdo com apresentação do contexto e argumentos para justificativa de seu pedido, saudação final e assinatura. Também, que o texto deve se estruturar em parágrafos e períodos. 105 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Quanto ao estilo, seu texto deve ter um registro linguístico formal, pois é um documento oficial da faculdade. O tipo textual é argumentativo, por isso, a fim de justificar sua solicitação, você deve utilizar-se de argumentos de autoridade (usando os teóricos estudados no bimestre naquela disciplina), argumentos de exemplificação (utilizando exemplos teóricos e práticos) de temas debatidos na prova, argumentos de causa (levantamento de possíveis causas de não compreensão do que foi escrito na prova) e argumentos de princípio (por exemplo, o seu direito de aluno(a) de solicitar revisão de prova e nota). ESFERA JORNALÍSTICA, NOTÍCIA E REPORTAGEM ESFERA JORNALÍSTICA Você se considera uma pessoa bem informada sobre assuntos da atualidade? Como você busca se informar? Você forma sua opinião pelas informações que consome? Segundo pesquisa da Secretaria de Comunicação do Governo Federal (BRASIL, 2016), divulgada em dezembro de 2016, os brasileiros se informam primeiramente por meio de telejornais (63%), depois, por portais de notícias da internet e redes sociais (26%), noticiários de rádio (7%) e outros meios (3%). 106 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Conforme já vimos neste estudo, todo texto insere-se em um gênero textual, que, por sua vez, constitui todas as atividades humanas ou de linguagem. Quando você produz e/ ou consome informação por meio desses canais de comunicação ou suportes, está atuando na esfera jornalística, a qual é uma forma de comunicação cuja função social é informar, apresentar e suscitar opinião sobre acontecimentos e questões socioculturais e políticas relevantes à sociedade (SOUSA, 2005). Os gêneros textuais que circulam nessa esfera influenciam a opinião pública, sendo eles participantes ativos nas mudanças de rumos de acontecimentos sociais. REFLETINDO Tendo em mente que os textos que circulam na esfera jornalís- tica influenciam a opinião pública, quais interesses estão em jogo na divulgação de um fato ou na expressão de um ponto de vista? Como oseditores e jornalistas determinam o que pode/ deve ser dito/escrito? Os gêneros textuais da esfera jornalística são muitos. Contudo, três se destacam pela importância em exercer a função social nessa atividade humana: a notícia, a reportagem e o editorial. Vamos conhecer um pouco mais sobre eles? 107 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA NOTÍCIA Certamente, você lê, assiste ou escuta notícias todos os dias. A mesma notícia pode interagir com seus leitores/ouvintes em seus subgêneros: impresso, digital (escrita ou vídeo), televisivo e radiofônico. Em cada uma de suas facetas, assume conteúdo temático, forma composicional e estilos diferentes. Isso porque atende a diferentes necessidades, público-leitor e contextos de comunicação (Figura 7). Figura 7 – Notícias escritas Imagem: Shutterstock 108 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Neste subtópico, trataremos da notícia escrita, que circula em jornal impresso e na internet. A notícia é um gênero textual que apresenta um relato integral de um fato ocorrido recentemente, além de ter caráter imediato. Com a internet e a TV, uma notícia publicada no jornal impresso perde o imediatismo, mas nem por isso deixa de ser considerada recente, visto que pode trazer informações adicionais ao que foi relatado em outras mídias e/ ou dar outro tratamento ao conteúdo. Desse modo, o conteúdo temático da notícia é o relato do acontecimento novo e tem como objetivo manter a sua audiência informada e atualizada. Em sua forma composicional, esse gênero possui um título (manchete), subtítulo, fotos, legenda, corpo do texto organizado em parágrafos, legendas, olho (destaque), entre outros aspectos. Quanto ao estilo, o tipo textual predominante é o narrativo, com as etapas da narração (introdução, desenvolvimento e desfecho). A introdução ocorre em seu primeiro parágrafo, o qual chamamos de “lide” (adaptação do inglês lead) e nele, apresenta-se em linhas gerais o que há de mais importante a ser noticiado, respondendo a questões como: “O quê?”, “Como?”, “Quando?”, “Onde?”, “Por quê?” e “Para quem?”. O desenvolvimento é o detalhamento do que foi apresentado no “lide”, enquanto o desfecho é, quase sempre, uma informação 109 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA suplementar. A notícia tem uma progressão factual decrescente, ou seja, apresenta os fatos ou as informações do maior grau de importância, ou interesse, para o menor. A linguagem da notícia é objetiva e na terceira pessoa porque precisa garantir informatividade ao texto. Vamos analisar as três dimensões desse gênero textual lendo uma notícia do portal G1 (Figura 8): Figura 8 – Imagem da tela do site G1 Fonte: reprodução de G1 (2017) Texto da notícia: Justin Bieber cancelou sua turnê para poder se ‘dedicar a Cristo’ após ter se aproximado da 110 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO igreja cristã pentecostal Hillsong, disse nesta terça- feira (25) o site TMZ. O site cita fontes próximas à igreja australiana, mas o motivo oficial não foi detalhado por Justin Bieber. Segundo o TMZ, o cantor tem se aproximado da igreja Hillsong nos últimos meses. Justin Bieber pediu desculpas para seus fãs pelo cancelamento repentino do restante de sua turnê internacional afirmando que ele precisava de descanso depois de ficar na estrada por dois anos. Seu agente, Scooter Braun, também pediu desculpas, mas disse que a ‘alma e bem-estar’ de Bieber são as maiores prioridades. A decisão de Bieber de abandonar as últimas 14 datas de sua turnê internacional ‘Purpose’ citou apenas ‘circunstâncias imprevistas’. Igreja hipster A Hillsong é uma igreja presente em 15 países. A filial brasileira está programada para ser inaugurada em setembro e é a segunda unidade da entidade na América do Sul – no fim de 2015, ela passou a operar em Buenos Aires, na Argentina.3 3 Texto Disponível em: https://g1.globo.com/musica/noticia/justin-bieber-cancelou-turne-pa- ra-se-dedicar-a-cristo-apos-entrar-para-a-igreja-hillsong-diz-site.ghtml. Acesso em: 06 fev. 2023. 111 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA É importante ressaltar que a escolha da foto para compor a notícia analisada tem relação direta com o conteúdo temático, visto que o cantor é retratado com uma imagem mais serena, olhos fechados, como se estivesse orando ou cantando um louvor. A escolha de fotos não é aleatória, já que geralmente tem ligação com o que será dito na notícia ou com o posicionamento que a empresa jornalística tem em relação aos fatos noticiados. No quadro abaixo, entenderemos esta notícia a partir de três dimensões: Quadro 12 – Análise das três dimensões da notícia do portal G1 DIMENSÕES ANÁLISE DO GÊNERO NOTÍCIA Conteúdo temático Essa notícia foi publicada no portal G1, em 25/07/2017, no editorial “Art e Pop”, seção “música”, sem especificação do jornalista que a escreveu. Ela é direcionada ao público que busca informações sobre cultura pop. O assunto tratado é o motivo do cancelamento da turnê do cantor justin Bieber. É um desdobramento da notícia do dia anterior sobre o cancelamento da turnê. Forma composicional Esse texto é composto por título, subtítulo, foto e legenda e corpo do texto. O título aparece acima, com letras maiores e frases de efeito para chamar a atenção do público. Abaixo do título, aparece o subtítulo, com letras menores e fonte diferente, com informação complementar à manchete. A foto, com legenda abaixo ou acima, aparece logo depois ou ao lado do corpo do texto. O texto é organizado em parágrafos e períodos. 112 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Estilo A notícia é organizada como uma narrativa, com introdução, desenvolvimento e conclusão e, também, com elementos (agentes, tempo, espaço, narrador e etapas). A introdução ocorre no primeiro parágrafo, com o “lide”: • “O quê?” – justin Bieber cancelou a turnê. • “Por quê?”-”se dedicar a Cristo” porque teria entrado para a igreja hillsong. • “Como?”- por fontes da própria Igreja. • “Quando?” e “Onde”? - essa informação foi divulgada pelo site TmZ na data da publicação da notícia. O desenvolvimento é o detalhamento das informações do “lide”, e o desfecho é a informação sobre a lgreja e a inauguração de sede no Brasil. O relato dos fatos ocorre de forma decrescente quanto ao grau de importância ou interesse e com o uso de linguagem objetiva e na terceira pessoa. Fonte: elaborado pelos autores (2017) SAIBA MAIS Para conhecer mais detalhadamente o gênero textual notícia, leia o livro “Estrutura da Notícia”, de Nilson Lage. Nele, o autor discute questões relacionadas à lingua- gem, à estrutura do gênero e ao papel político e social da notícia. Trata, sobretudo, da questão ética no jorna- lismo ao afirmar que há duas vertentes na produção do texto jornalístico: a que ressalta o direito à informação e a que destaca a liberdade de informar. Os gêneros textuais notícia e reportagem são, muitas vezes, confundidos porque possuem estruturas semelhantes 113 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA quanto à sua forma composicional, mas diferem em seu conteúdo temático e de estilo. Vamos ver, a seguir, as características da reportagem. REPORTAGEM Quando você lê um jornal ou uma revista, consegue distinguir o que é reportagem e o que é notícia? Se não, não se preocupe, porque você não é a única pessoa que se confunde. Muitas vezes, pela semelhança, os dois gêneros são colocados juntos para análise em diferentes materiais didáticos. Contudo, a reportagem difere da notícia especialmente em seu conteúdo temático, pois não tem o mesmo caráter imediato desta. Seu objetivo é a contextualização e o detalhamento do que foi noticiado. Vamos pegar como exemplo a notícia analisada na seção anterior sobre o cantor Justin Bieber. Com base no que foi noticiado e na polêmica que causou o cancelamento da turnê e sua possívelconversão àquela Igreja, poderia ser feita uma reportagem que se iniciaria com a seguinte contextualização e o seguinte detalhamento (conteúdo temático): linha do tempo da vida e carreira do cantor; detalhamento dos escândalos em que esteve envolvido e de sua prisão, com o caminho trilhado até à adesão a uma religião; depoimentos de pessoas próximas do cantor; boxes com os seus maiores sucessos; números de 114 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO visualizações de seus clipes, de seus seguidores em redes sociais, da vendagem de produtos associados à sua marca e de seus discos com formatos variados; do público em seus shows nas diferentes partes do mundo; entre outros. No que se refere à composição da reportagem, ela é praticamente a mesma da notícia, porém, como há contextualização e detalhamento dos fatos e acontecimentos, junta-se, ainda, a presença de infográficos ou gráficos mais simples e boxes, além de haver maior número de falas reportadas a pessoas que conhecem mais de perto o assunto, como aquelas próximas, especialistas e profissionais da área sobre a qual está sendo feita a matéria. O estilo da reportagem é menos rígido do que o da notícia. O “lide” não precisa, necessariamente, aparecer no primeiro parágrafo, já que a reportagem não tem a função de anunciar um fato nem um O estilo da reportagem é menos rígido do que o da notícia. 115 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA acontecimento novo e imediato. Segundo Lage (2000, p. 47), “podem se dispor as informações de grau decrescente de importância, mas também narrar a história, como um conto ou um fragmento de romance”. Isso porque, diferentemente da notícia, a reportagem não precisa utilizar uma linguagem objetiva, podendo ser escrita, inclusive, na primeira pessoa, bem como veicular opinião. Observe o quadro 13 a seguir, que sintetiza a diferença entre notícia e reportagem. Quadro 13 – Diferenças entre notícia e reportagem DIMENSÕES DO GÊNERO NOTÍCIA REPORTAGEM Conteúdo temático Fatos e acontecimentos novos, atualizados, imediatos e com curta duração. Contextualização e detalhamento do que já foi noticiado e sem o compromisso com novos fatos e acontecimentos nem com o imediatismo da informação. Forma composicional Título, subtítulo, fotos, legendas, olho (destaque), entre outros. Organização em parágrafos e períodos. Título, subtítulo, fotos, legendas, infográficos, entre outros. Como busca o detalhamento, em uma única reportagem podem ser encontrados todos os elementos. O corpo do texto pode ser organizado em parágrafos e períodos, embora, como recorre muito a recursos verbo-visuais, em muitos trechos, possa organizar-se em tópicos, por exemplo. 116 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO DIMENSÕES DO GÊNERO NOTÍCIA REPORTAGEM Estilo A linguagem pode ser objetiva ou subjetiva, podendo ser escrita na primeira ou na terceira pessoa, bem como vincular opinião. Não apresenta uma ordem rígida dos fatos, podendo ter seu “lide” em qualquer parte do texto, por exemplo. Registro formal e uso de língua culta. Linguagem objetiva, uso da terceira pessoa, ordem rígida dos fatos, apresentados em ordem decrescente, do mais importante e interessante ao menos importante. Registro formal e uso de língua culta. Fonte: elaborado pelos autores (2017) SAIBA MAIS As imagens, tanto a fotografia quanto os infográficos, são muito importantes para noticiar um fato, contextua- lizá-lo ou detalhá-lo. Pesquise como os recursos verbo- -visuais podem complementar ou transformar o sentido da leitura de uma notícia ou reportagem. Embora a reportagem possa veicular a opinião do(a) jornalista sobre os fatos e acontecimentos, não é seu objetivo sustentar nem justificar seu ponto de vista pessoal ou da 117 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA empresa jornalística. O editorial e o artigo de opinião são escritos justamente para esse fim. EDITORIAL E ARTIGO DE OPINIÃO EDITORIAL Quando você lê, ouve ou assiste a notícias e reportagens, você sabe exatamente qual é a opinião da empresa jornalística sobre aquele assunto? É verdade que podemos inferir a opinião pelo modo como os fatos e acontecimentos são noticiados. Por exemplo: pela quantidade de vezes que aparecem; pelo espaço maior ou menor destinado à notícia ou reportagem; pelo uso de palavras que podem qualificar ou desqualificar ações, pessoas e acontecimentos; entre outras coisas. Contudo, as empresas jornalísticas ou de comunicação valem-se de um gênero textual específico para se posicionarem sobre assuntos que mobilizam a sociedade: o editorial. O editorial pode aparecer em abas ou hiperlinks de portais de notícias da internet, nas primeiras páginas das revistas impressas ou na folha oposta à capa dos jornais impressos. Segundo Mascarello, o editorial: 118 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO é um gênero de texto por meio do qual o jornal e outras mídias expressam formalmente suas opiniões a respeito de algo da atualidade ou sobre fato notificado na mesma edição, merecedor de destaque, posicionando-se a favor ou contra, com base em fontes fidedignas (estudos e pesquisas) (MASCARELLO, 2011, p. 36). A citação acima apresenta o conteúdo temático do gênero textual. Quanto à forma composicional, é um texto organizado em parágrafos, geralmente sem assinatura de um(a) autor(a), com título que antecipa o fato sobre o qual será emitida a opinião do veículo ou da empresa de comunicação. Quanto ao estilo, os tipos textuais que o compõem são o argumentativo/ dissertativo e o expositivo, os quais apresentam opinião, e as fontes são a base dos argumentos defendidos pelo(a) autor(a). O editorial utiliza-se da norma Editorial é um gênero de texto por meio do qual o jornal e outras mídias expressam suas opiniões. 119 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA culta da língua, com os verbos geralmente no presente e na terceira pessoa do singular. Veja, a seguir, o editorial da Folha de São Paulo (impresso) de 22 de julho de 2017: Ainda se protesta4 A morte de Ricardo Silva Nascimento, ocorrida há pouco mais de uma semana no bairro de Pinheiros, em São Paulo, suscitou um sentimento de revolta e de mobilização cujo significado, nos dias que correm, ultrapassa o que faz crer o número, relativamente pequeno, dos que nele se envolveram. Não compõem grande massa popular, sem dúvida, os que compareceram à cerimônia religiosa, seguida de ato público, em memória do carroceiro – baleado por um policial militar, por volta das 18h de uma quarta- feira, 12 de julho. Teria ameaçado PMs com um pedaço de pau, em frente a um supermercado, numa rua movimentada. Cidadãos que presenciaram a cena afirmam que o carroceiro parecia alcoolizado – condição que, conforme dizem, era corriqueira no seu caso. As 4 Texto disponível no site da Folha de São Paulo em: <http://bit.ly/2tDeDBS>. Acesso em: 06 fev. 2020. 120 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO autoridades ordenaram-lhe que se desfizesse da madeira que empunhava, sob pena de ser alvejado. Moradores da região asseguram que era baixa a periculosidade de Nascimento. Na dúvida, como parece ser a sinistra regra das forças de segurança no Brasil, a PM atirou. A ação terá sido “provavelmente desnecessária”, diz o ouvidor da Polícia de São Paulo, após colher relatos dos que presenciaram o homicídio. Por ter ocorrido em local e horário de alta circulação, a tragédia encontrou testemunhas em maior número – e com mais disposição de contar o que viram, pode-se presumir, do que se esperaria em casos semelhantes a ocorrer na periferia da cidade. Num contexto em que partidários da violência policial ainda parecem ativos, é com algum alívio que se registra a capacidade de alguns cidadãos de se organizarem em nome de valores como o respeito humano e a solidariedade com os mais fracose desfavorecidos. Estes não se confundem com o sentimentalismo fácil que não raro se presta a explorações de má-fé. Importa zelar pela proporcionalidade no uso da força, pela avaliação equilibrada das necessidades repressivas do Estado e, nesse caso, como em qualquer outro, por investigações isentas. 121 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Submetidos a uma rotina de estresse e de risco, mas também aos condicionamentos da truculência, os policiais militares não são, nem teriam por que ser, carrascos da população. Ei- la, entretanto, vitimada uma vez mais. Analisemos as diferentes partes desse editorial (Quadro 14). Quadro 14 – Análise do editorial da Folha de São Paulo de 22 de julho de 2017 DIMENSÕES DO GÊNERO ANÁLISE DO GÊNERO EDITORIAL Conteúdo temático A Folha de são Paulo expressa sua opinião sobre o fato noticiado em edições anteriores — assassinato do morador de rua e catador Ricardo — e nessa edição —missa de sétimo dia. Nesse editorial, a Folha se posiciona a favor da mobilização das pessoas que protestaram em nome de valores como respeito humano e solidariedade, e por uma ação da polícia com uso proporcional da força, da avaliação da necessidade de repressão e investigação isenta. Forma composicional O texto é organizado em parágrafos, sem assinatura, com o título “Ainda se protesta”, antecipando o que será discutido no texto. Estilo O tipo textual é argumentativo-discursivo. A progressão do texto é a introdução do assunto e o desenvolvimento com o relato dos fatos e argumentos que justificam a opinião e a conclusão. há argumentos de causa (com apresentação de fatos que ocasionaram o assassinato), de autoridade (opinião do ouvidor da polícia) e de princípio (alívio com a capacidade de cidadãos que apresentaram respeito humano e solidariedade). há uso de verbos no pretérito perfeito e imperfeito no relato dos fatos e verbos no presente quando apresenta os argumentos para justificar a opinião. Registro formal da linguagem com o uso da norma culta. Fonte: elaborado pelos autores (2017) 122 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO MATERIAL COMPLEMENTAR Para mais características do gênero textual “editorial”, acesse a página “Mundo Educação”. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/editorial.htm. Acesso em: 06 fev. 2023.. Conforme analisado nos quadros 12, 13 e 14 , os principais gêneros textuais da esfera jornalística têm características e objetivos diferentes. A notícia tem o objetivo de informar o novo; a reportagem, de contextualizar e detalhar a informação; e o editorial, de apresentar a opinião da empresa de comunicação, de modo que o(a) leitor(a) compreenda o tratamento dado ao que é veiculado. Os três gêneros textuais atendem à função da esfera jornalística de informar e suscitar a formação de opinião, de modo a possibilitar transformações sociais. NA PRÁTICA Você participa do conselho deliberativo do condomínio em que mora. Na última assembleia, os moradores aprovaram a necessidade de um jornal mensal tanto impresso quanto online para cada apartamento. Também ficou acertado que o conselho deliberativo ficaria responsável por produzir, diagramar e distribuir/divulgar o jornal. https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/editorial.htm 123 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Você foi escolhido(a) para produzir uma reportagem sobre o assunto mais discutido na reunião – “uso das áreas de lazer (quadras, brinquedoteca, parquinho) por visitantes” –, o qual será votado na assembleia seguinte. sabendo que a reportagem é um gênero cujo objetivo é a contextualização e o aprofundamento sobre o fato noticiado, de quais elementos da forma composicional e de estilo você precisa usar para atender ao conteúdo temático exigido? Como isso se organizaria na reportagem? ARTIGO DE OPINIÃO Todas as pessoas têm uma opinião formada sobre um número infinito de assuntos. Comentar as “postagens” em redes sociais é, hoje, quase obrigatório para quem navega com frequência (em função dessa prática muitos têm, inclusive, rompido relações sociais). Contudo, apresentar opinião pode ser uma atividade bem fundamentada, sem envolver muitas emoções sobre os assuntos discutidos. Como você procura argumentar e sustentar suas opiniões de modo a não deixar-se levar para o lado pessoal? Como formar opinião fundamentada sobre algum assunto? O gênero textual que exerce o papel de veicular opinião sobre diferentes assuntos da atualidade é o artigo de opinião. Segundo Bräkling (2000, p. 226): 124 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO O artigo de opinião é um gênero do discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis posições divergentes. É um processo que prevê uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes, que possam convencer o interlocutor. Para produzir um artigo de opinião, é necessário compreender seu conteúdo temático. Para tanto, é preciso levantar, por meio da leitura de vários textos, as posições de diferentes articulistas e estudiosos sobre o assunto. Além disso, deve-se fazer antecipação das opiniões gerais do leitor previsto de seu texto a fim de refutar as diferentes ideias sobre o assunto ou com elas concordar, no intuito de poder transformar opiniões e valores. Por isso, é essencial, para a produção de Para produzir um artigo de opinião, é necessário compreender o seu conteúdo temático. 125 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA um artigo de opinião, uma questão controversa a ser debatida, como, por exemplo, na seção “Opinião”, da Folha de São Paulo, publicada em dois textos, com posições contrárias, respondendo à mesma pergunta. Quanto à forma composicional, o artigo de opinião organiza-se em parágrafos e geralmente se apresenta, segundo Mascarello (2011, p. 36), com “contextualização inicial (abordagem geral), detalhamento, problema, análise, tese, argumentos, conclusão (ideia geral ou convite à ação)”. Em relação ao estilo, o tipo textual predominante é o argumentativo/dissertativo, por isso há diferentes tipos de argumento. Contudo, prevalecem os de autoridade, com citações direta e indireta. Para a realização das citações, há diferentes mecanismos linguísticos usados, como: verbos de dizer e expressões de conformidade – segundo fulano(a), de acordo com, fulano(a) diz/afirma/questiona/adverte etc. Ainda há outros recursos: • conectores que introduzem argumentos (já que, visto que, pois etc.); • conectores que acrescentam argumentos (também, e, além disso, mais, ainda); 126 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO • conectores que expressam oposição (no entanto, mas, porém, contudo, todavia) ou concessão (embora, apesar de) e • conectores que apresentam conclusão (enfim, portanto, assim sendo, desse modo) (MASCARELLO, 2011). Mesmo sendo um texto que se utiliza de uma linguagem objetiva, pode ser escrito na primeira ou terceira pessoa, com predominância de verbos no presente. Veja o artigo de opinião publicado no jornal Folha de São Paulo em 21 de julho de 2017: Em defesa do SUS O Brasil tem um sistema de saúde peculiar. É o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que oferece assistência universal a todos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Sem depender da máquina estatal, acaba por ser o agente que viabiliza financeiramente a constante modernização dos hospitais de referência do País. Muitos entusiastas de nosso sistema público de saúde pregam sua expansão nos moldes do aclamado National Health System (NHS) britânico – uma 127 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA referência mundial –,inclusive defendendo o fim da saúde suplementar. Esse desejo, no momento, não passa de uma utopia. O modelo suplementar é o duto por onde chegam ao Brasil as principais inovações de procedimentos, equipamentos, medicamentos e terapias. Levando em conta que o SUS encontra-se subfinanciado, com repetidas declarações de que o governo não tem condições financeiras de prover ainda mais subsídios para a adequada manutenção do serviço, como é possível falar em eliminação do setor privado? Isso significaria delegar ao SUS cerca de 50 milhões de pessoas, pressionando de forma expressiva os cofres públicos. Infelizmente, a questão vai muito além do mero aspecto financeiro. Recentemente denunciou-se um esquema de corrupção envolvendo a empresa norte- americana Zimmer Biomet, que admitiu à Justiça de seu país o pagamento de propinas a médicos do SUS em troca da facilitação na venda de produtos a hospitais públicos brasileiros. […] A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) move na Justiça dos Estados Unidos uma ação contra a própria Zimmer e outras das maiores 128 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO fabricantes de órteses, próteses e materiais especiais por supostamente adotarem condutas corruptas em suas operações no Brasil. Nosso objetivo principal é exigir regras de compliance mais rígidas dessa indústria, com a adequada transparência nos negócios. À luz disso, pergunto: quem defende o SUS? A Abramge, que fez a denúncia da admissão do pagamento de propina a médicos e hospitais brasileiros, ou os autoaclamados defensores da saúde, que propugnam o fim dos planos privados sem apresentar solução para o sistema público? E mais: o que estão fazendo para proteger o beneficiário do SUS? Existe alguma entidade para a defesa desse cidadão? PEDRO RAMOS, advogado com especialização em negociação pela Universidade Paris-Sorbonne (França), é diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge)5. No Quadro 15, a seguir, podemos analisar mais detalhadamente o artigo supracitado, sobre o SUS e os sistemas de saúde de outros países. 5 Disponível no site Folha de São Paulo, em: https://www1.folha.uol.com.br/paywall/login. shtml?https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/07/1903041-em-defesa-do-sus.shtml. Acesso em: 06 fev. 2023. 129 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Quadro 15 – Análise do artigo “Em defesa do SUS” DIMENSÕES DO GÊNERO ANÁLISE DO ARTIGO DE OPINIÃO Conteúdo temático O autor é diretor da Associação Brasileira de Planos de saúde. Ele apresenta e defende a existência do sUs como um sistema de saúde peculiar, mas levanta uma questão controversa dos defensores do sistema: a ampliação do sUs e o fim do sistema de saúde complementar (planos de saúde), algo que ele refuta nos primeiros parágrafos. Forma composicional Organizado em parágrafos. Introdução: contextualização (sUs é o único sistema no mundo que oferece a todos - 100 milhões de pessoas - atendimento universal). Tese: a ampliação do sUs não pode ser feita com o fim dos planos de saúde, pois estes colaboram com a melhoria do serviço, uma vez que é por meio da saúde complementar que as inovações chegam ao sistema. Problemas: subfinanciamento do sUs e corrupção do sistema. Argumentos: atuação da Abramge para combater a corrupção nos sistemas público e privado e questionamento aos setores contrários ao sistema de saúde complementar sobre alternativas. Conclusão: exigência de regras mais rígidas para o fornecimento de materiais importados para tratamentos e cirurgias, bem como transparência nos negócios. Estilo Uso da terceira pessoa e predominância de verbos no presente do indicativo. Para organizar os argumentos, esse artigo faz pouco uso de conectores, em que a maioria dos argumentos são afirmações justapostas. Isso se deve pelo caráter panfletário do texto, visto que, além de defender um ponto de vista, divulga as ações da Associação, da qual o autor é o diretor. Fonte: elaborado pelos autores (2017) 130 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Geralmente, os artigos de opinião são publicados em jornais e revistas de grande circulação ou específicos de categorias e órgãos, ou, ainda, em sites especializados ou portais de notícias. O gênero textual “artigo de opinião” é parte da esfera jornalística que emite opinião sobre fatos e questões relevantes à sociedade. Seus objetivos são persuadir e influenciar a opinião pública sobre questões controversas, que podem mover e transformar realidades. Os textos que estudaremos nos próximos tópicos, resumo e resenha, são parte tanto da esfera acadêmica quanto jornalística. REFLETINDO No texto que lemos, o diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) utilizou um espaço no jornal para publicar sua opinião e do setor que ele representa. Qual é a diferença entre a utilização desse espaço por um articulista que representa um setor da sociedade e pela empresa jornalística que usa seu edito- rial para defender interesses de seus patrocinadores? Artigos de opinião são publicados em jornais e revistas de grande circulação ou em sites especializados. 131 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA RESUMO E RESENHA RESUMO Desde o Ensino Médio, você tem se deparado com a leitura e a produção de resumos para fins de estudo. O resumo, no contexto educacional, pode: antecipar, em linhas gerais, o que vai ser estudado; ser o instrumento de aprendizagem para organizar as informações lidas; ser parte ou subsídio de trabalho mais elaborado (artigos acadêmicos, monografias, dissertações e teses); ou, ainda, ser o instrumento de avaliação dos professores para saber se os alunos compreenderam os conceitos-chave de forma coerente. Já deu para perceber que a esfera de atividade humana desse gênero textual é escolar/acadêmica. O gênero textual resumo tem a finalidade de apresentar pontos-chave de um texto-fonte sem dirigir comentários críticos explícitos, além de ter caráter descritivo e expositivo (GUIMARÃES, 2012). Segundo Medeiros (2014), na produção de um resumo estão envolvidas as capacidades do(a) autor(a) de compreender, analisar, sintetizar e avaliar o que leu, selecionando as principais ideias e excluindo as irrelevantes. Os resumos podem ser esquemáticos ou lineares. 132 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO RESUMO ESQUEMÁTICO Um resumo esquemático é “composto por tópicos hierarquizados” (GUIMARÃES, 2012, p. 184) com uma relação lógica entre eles. Ele é produzido para o(a) próprio(a) autor(a) ou para compor apresentação de slides ou textos maiores, com a finalidade de estudo, revisão ou exposição de ideias gerais. O texto pode ser organizado com a nominalização, ou seja, pode ser reduzido apenas a um conceito-chave do texto-fonte, às vezes seguido de uma frase curta. Os tópicos podem estabelecer coordenação entre si, com relação lógica entre os conceitos. Essa relação pode ser de gradação, convergência, divergência, pertencimento, comparação e intersecção. RESUMO LINEAR O resumo linear é organizado em um texto com frases e parágrafos justapostos ou relacionados por meio de mecanismos de coesão textual, como os articuladores NOMINALIZAÇÃO Transformação de uma oração independente em sintagma nominal. Fonte: osdicionários. 133 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA discursivos já estudados. Nele, o(a) produtor(a) do texto precisa levar em consideração três princípios: eliminar os elementos redundantes e supérfluos (cancelamento, seleção e avaliação); generalizar os conceitos do texto; e realizar a escrita por tópico frasal (síntese). Para realizar o cancelamento e a seleção, é preciso avaliar levando em consideração o conteúdo temático do texto- fonte com foco no objetivo de produção do resumo e do contexto, além do uso de mecanismos linguísticos de coesão e coerência do texto. Para generalizar,o(a) produtor(a) do resumo deve transformar expressões específicas do texto em expressões gerais. Por exemplo: o uso de computador, Datashow, caixa de som, PowerPoint e vídeos deve ser generalizado em “recursos multimídia ou audiovisuais”. Ao realizar a síntese, a escrita pode ser feita por tópico frasal, ou seja, seu parágrafo é iniciado pelo assunto ou conceito-chave do texto-fonte que será abordado, para posteriormente ser aprofundada a exposição no interior do parágrafo. Quando realizamos o cancelamento e a generalização, fazemos uma adaptação do texto, a qual precisa ser realizada de forma coesa e coerente, visto que o resumo deve ser compreendido de maneira autônoma e independente do texto-fonte. Veja no quadro 16 a análise desse gênero: 134 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Quadro 16 – Quadro-síntese do gênero textual resumo DIMENSÕES DO GÊNERO DESCRIÇÃO Conteúdo temático Tem a finalidade de apresentar pontos-chave de textos-fonte sem comentários críticos. Pode ser instrumento de estudo para o autor e de avaliação de aprendizagem para o professor. Além disso, pode ser parte de apresentação de slides ou de textos maiores, como artigos acadêmicos, monografias, dissertações e teses. Forma composicional Resumo esquemático: tópicos que estabelecem relação entre si. Resumo linear: organizado em frases e parágrafos. Estilo Predominância dos tipos descritivo e expositivo. Utilização de nominalização (esquemático). Utilização de generalizações. Organização de frases e parágrafos por justaposição ou por articuladores textuais (conectivos) de coesão textual. Fonte: elaborado pelos autores (2017) Muitos pesquisadores classificam esse gênero textual em dois grupos: resumo descritivo (esse que acabamos de aprender); e resumo crítico, que é a resenha. RESENHA A linha de separação entre resenha e resumo é tão tênue que muitas pessoas, em algum momento, confundem 135 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA esses dois gêneros textuais. Isso não acontece apenas com quem é leigo no assunto, já que não há consenso entre pesquisadores em que haja tanta distinção assim. Alguns, inclusive, consideram a resenha um resumo crítico, e outros caracterizam textos como “resenha-resumo”. Vamos tratar, aqui, a resenha como um gênero textual específico que se aproxima e ao mesmo tempo se distancia do resumo. Segundo Costa (2009, p. 179), a resenha é um “breve comentário (v.) crítico ou avaliação (v.) de uma obra [texto- fonte]”. Desse modo, produzir uma resenha demanda do seu(sua) produtor(a) atividades de leitura, interpretação dos conceitos abordados na obra, resumo e posicionamento crítico quanto aos pontos de vista apresentados pelo(a) autor(a) do texto-fonte. O conteúdo temático do gênero textual resenha é o texto- fonte, os assuntos e conceitos abordados, a sua relevância social e/ou acadêmica e as controvérsias, bem como as similaridades com outras obras. Quanto à organização, o texto se organiza em vários parágrafos. No início ou no final, deve ser citada a referência bibliográfica completa, incluindo o número de páginas. Nos vários parágrafos, o autor apresentará análise, interpretação, opinião, avaliação e recomendação do texto. 136 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO SAIBA MAIS Conforme vimos, a resenha é um gênero textual cujo conteúdo temático são textos-fonte de diferentes esfe- ras da atividade humana, e que são publicadas em di- ferentes suportes e para um público-leitor variado. Per- gunta: há mudança se ela for publicada em jornal, site ou revista acadêmica, ou, ainda, se referir-se a textos-fonte de esferas de atividade diferentes? Pesquise resenhas publicadas em revistas acadêmicas e em jornais e revis- tas de circulação geral sobre livros, filmes, espetáculos, CDs/DVDs musicais, entre outros, e responda a essa per- gunta usando os textos lidos como base. Quanto ao estilo, o registro linguístico é formal, respeitando a norma culta. O tipo de texto predominante é o argumentativo/ dissertativo, com o uso de diferentes argumentos para sustentar, concordar e refutar as ideias e os conceitos do texto-fonte. As frases e os períodos, no interior dos parágrafos, são conectados por justaposição ou pelos articuladores textuais para conferir coesão e coerência à resenha produzida. Leia a resenha publicada na Folha de São Paulo em 17 de julho de 2017: Filme de super-heroína é tão bom que parece da Marvel Thales de Menezes, de São Paulo 31/05/2017. MULHER-MARAVILHA Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright. 137 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA Produção: EUA, 2017, 12 anos. Direção: Patty Jenkins. O embate entre os fãs das duas maiores editoras de quadrinhos americanas, Marvel e DC Comics, é questão primordial para os nerds. Cada novo exemplar desse já sólido filão de filmes baseados em HQ é mais um round na briga. Nos últimos anos a superioridade foi da Marvel, em crítica e em bilheteria. Mas o confronto fica mais equilibrado a partir desta quinta (1o). Ao sair do cinema, a constatação: ‘Mulher- Maravilha’ não é só o melhor filme de um personagem da DC. É tão bom que parece filme da Marvel. Na verdade, parece melhor do que quase todos os filmes da Marvel. O trabalho caiu nas mãos de uma diretora. Patty Jenkins teve sucesso precoce, aos 31, com ‘Monster’ (2003). Mas a carreira empacou, restringindo-se a episódios de séries. Na superprodução, imprime assinatura incomum aos filmes de heróis de gibi. Consegue equilibrar cenas leves de química romântica entre a Mulher-Maravilha e Steve Trevor, espião americano na Primeira Guerra, com sequências de ação empolgantes. […] Sua desinibição nas coreografadas cenas de batalha talvez não tenha a ver com o treinamento militar, mas muitos espectadores devem estabelecer essa relação. 138 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO ‘Mulher-Maravilha’ tem ação durante a Primeira Guerra, quando a amazona Diana quebra o isolamento de seu ambiente, uma ilha mística habitada só por mulheres, ao encontrar Steve (Chris Pine). […] Claro que o filme rende muita discussão sobre um dos temas da vez, a mulher ganhando poder numa sociedade machista. No caso de Diana, superpoder. Com ação, humor, romance e personagens charmosos, ‘Mulher-Maravilha’ é provavelmente o início de uma franquia com tudo para dar certo. Antes do segundo filme solo, ela vai se unir aos meninos no aguardado longa da Liga da Justiça. É esperar para ver se Diana poderá colocá-los num caminho mais divertido no cinema6. Conforme apresentado no quadro 9, a finalidade do texto lido é realizar um comentário crítico ou avaliativo do filme. O tipo textual predominante na resenha é o argumentativo/ dissertativo, com a presença de argumentos a serem justificados e sustentados. Diferentemente da resenha, em um resumo não há argumentos para sustentar nem para dirigir comentários críticos, visto que ele tem caráter descritivo e expositivo. 6 Disponível no site Folha de São Paulo em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustra- da/2017/05/1888696-filme-de-super-heroina-e-tao-bom-que-parece-da-marvel.shtml. Acesso em: 06 fev. 2023. 139 GêNEROs E TIPOs TExTUAIs, O TExTO NA EsFERA jORNALísTICA, E REsUmO E REsENhA No quadro 17 a seguir, trazemos uma análise da resenha apresentada acima. Veja: Quadro 17 – Análise da resenha DIMENSÕES DO GÊNERO DESCRIÇÃO Conteúdo temático O conteúdo temático é o texto-fonte, nesse caso o filme “mulher maravilha”; a comparação entre os filmes da DC Comics e da marvel; os temas abordados (superpoder de uma mulher); e a atuação da atriz principal e da diretora. Forma composicional Organizado em parágrafos. Tem a referência completa do filme com o título, o elenco, a produção, o autor e o hiperlink com as salas de cinema, no início do texto, logo abaixo do título. No interior dos parágrafos, o autor apresenta análise, interpretação, opinião, avaliação e recomendação
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