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CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES OBJETIVOS Definir as principais causas de cervicalgia (trauma, síndrome do desfiladeiro torácico, doença discal, lesão de plexo braquial e de nervos periféricos...) e lombalgia (hérnia de disco, trauma, infecção, artrite, distúrbios degenerativos e anomalias congênitas), conhecendo suas epidemiologias Entender a abordagem da cervicalgia e lombalgia, associando a necessidade de indicação de exames complementares Conhecer o manejo terapêutico de cada etiologia, diferenciando as abordagens farmacológicas das abordagens não farmacológicas e indicação cirúrgica ANATOMIA DA COLUNA VERTEBRAL A coluna vertebral pode ser dividida em: A parte anterior da coluna vertebral é formada por corpos vertebrais cilíndricos separados por discos intervertebrais e mantidos unidos pelos ligamentos longitudinais anterior e posterior. Os discos intervertebrais são responsáveis por 25% da extensão da coluna vertebral e permitem que as vértebras ósseas se movimentem com facilidade umas sobre as outras. Esses discos são formados por um núcleo gelatinoso central, circundando por um anel cartilaginoso resistente, o anulo fibroso. Com o aumento da idade, ocorre um ressecamento do núcleo gelatinoso e degeneração do anulo fibroso, resultando em perda da altura do disco Os discos são maiores na região cervical e lombar, onde os movimentos da coluna são mais amplos. A porção anterior da coluna absorve os impactos dos movimentos corporais, como caminhada e corrida, e, junto com a porção posterior, protege a medula espinal e raízes nervosas no canal medular. Já a parte posterior da coluna consiste nos arcos e processos vertebrais, fornecendo ancoragem para músculos e ligamentos que funciona, como um sistema de polias e alavancas que resulta nos movimentos de flexão, extensão e inclinação lateral da coluna vertebral Na região cervical, as raízes nervosas saem em um nível acima de seus respectivos corpos vertebrais → Exemplo, a raiz nervosa C7 sai no nível de C6-C7. Já na região torácica e lombar sai em um nível abaixo → A raiz nervosa T1 sai no nível T1-T2. A lesão de raiz nervosa (radiculopatia) é uma causa comum de dor no pescoço, no braço, na região lombar, nas nádegas e nas pernas. CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES A partir de C3, cada corpo vertebral cervical e o primeiro torácico projeta um processo ósseo lateral para cima – o processo uncinado que se articula com o corpo vertebral cervical acima através da articulação uncovertebral. A articulação uncovertebral pode hipertrofiar com a idade e contribuir para o estreitamento do forame neural e a radiculopatia na coluna cervical. LOMBALGIA É a segunda razão mais comum para consultas médicas nos Estados Unidos, sendo que mais de 80% das pessoas apresentará dor nas costas significativa em algum momento de sua vida. ABORDAGEM AO PACIENTE COM DOR NAS COSTAS ANAMNESE Deve sempre procurar pelos fatores de risco para uma etiologia grave subjacente: 1. Dor piora em repouso ou à noite 2. História anterior de câncer, infecção crônica (especialmente pulmonar, urinaria e cutânea) ou traumatismo 3. Incontinência 4. > 70 anos de idade 5. Uso de drogas intravenosas ou glicocorticoide 6. História de déficit neurológico rapidamente progressivo EXAME Fatores de risco que podem ser encontradas no exame físico do paciente são: 1. Febre inexplicada 2. Perda de peso inexplicada 3. Dor à palpação/percussão sobre a linha media da coluna 4. Massa abdominal, retal ou pélvica 5. Rotação interna/externa da perna ao nível do quadril; sinal da percussão do calcanhar 6. Sinais de elevação da perna estendida ou da perna estendida inversa 7. Déficit neurológico focal progressivo Recomenda-se um exame físico que inclua o abdome e o reto → A dor nas costas referidas de órgãos viscerais pode ser reproduzida durante a palpação do abdome (pancreatite, aneurisma aórtico abdominal) ou percussão dos ângulos costovertebrais (pielonefrite) Alguns testes que podem ser feitos são: Spurling: é utilizado principalmente para identificação de compressão de raiz nervosa por hérnia cervical. O paciente deve permanecer sentado, olhando para a frente, e o médico se posta atrás, em pé e deve realizar compressão axial da coluna cervical, buscando a reprodução dos sintomas. Uma vez reproduzidos, o médico deve realizar distração axial cervical cuidadosa (apoiando-se o queixo e o occipício), após a qual haverá melhora dos sintomas, o que caracterizará o teste como positivo. O paciente pode ser sensibilizado por meio da inclinação lateral da cabeça e da compressão axial cuidadosa, que demonstrará o lado de pior compressão. Manobra de elevação da perna estendida (EPE): é um teste simples à beira do leito para a doença de raízes nervosas. Com o paciente em posição supina, a flexão passiva da perna estendida sobre o quadril estira as raízes nervosas de L5 e S1 e o nervo ciático; a dorsiflexão do pé durante a manobra aumenta o estiramento. Em pessoas saudáveis, a flexão de pelo menos 80° é normalmente possível sem causar dor, embora uma sensação de aperto ou estiramento nos músculos isquiotibiais seja comum. O teste de EPE será positivo se a manobra reproduzir a dor habitual do paciente nas costas ou no membro. A produção do sinal da EPE na posição supina e sentada pode ajudar a determinar se o achado é reproduzível. O paciente pode descrever a ocorrência de dor na região lombar, nas nádegas, na parte posterior da coxa ou na parte inferior da perna, porém a manifestação essencial é a reprodução da dor habitual do paciente. O sinal da EPE cruzado estará presente quando a flexão de uma perna reproduzir a dor na perna ou nádega oposta. O sinal da EPE cruzado é menos sensível, porém mais específico, para hérnia de disco que o sinal da EPE. O sinal da EPE reverso é suscitado ao pedir-se ao paciente que fique de CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES pé ao lado da mesa de exame e estenda passivamente cada perna com o joelho completamente estendido. Essa manobra, que estira as raízes nervosas L2- L4, o plexo lombossacro e o nervo femoral, será considerada positiva se reproduzir a dor habitual do paciente nas costas ou no membro. Em todos esses testes, a lesão do nervo ou da raiz nervosa é sempre no lado da dor. EXAMES COMPLEMENTARES Exames laboratoriais raramente são necessários para avaliação inicial de lombalgia aguda inespecífica (<3 meses de duração), exceto se o paciente apresentar os fatores de risco. Nesse caso, os exames pedidos são: 1. Hemograma completo 2. Velocidade de hemossedimentação (VHS) 3. Exame de urina Em relação ao exame de imagem, os indicados são: 1. TC → detecção de fraturas que envolvem as estruturas posteriores da coluna, junções craniocervicais e cervicotorácicas, vértebras CQ e C2, fragmentos ósseos no canal vertebral ou desalinhamento + modalidade primaria de rastreamento para traumatismo agudo moderado e grave 2. RM → definição das estruturas das partes moles 3. Mielotomografia comuputadorizada → fornece imagem ideias do recesso lateral do canal vertebral, define anormalidades ósseas e é mais bem tolerada por pacientes claustrofóbicos Porém, é importante lembrar que alterações degenerativas são comuns em pessoas normais e sem dor, por isso, algumas diretrizes não recomendam exames de imagem avançados como a RM da coluna nas primeiras 6 semanas em pacientes com LA inespecífica na ausência dos sinais de alerta ETIOLOGIA DOENÇA DISCAL LOMBAR OU CERVICAL Quadro clinico: é uma causa comum de lombalgia, sendo que a dor pode localizar-se na região lombar ou ser referida para o membro inferior, nádega ou quadril que não alivia na posição sentada. Além da dor, um disco roto pode causar ainda limitaçãode movimento da coluna vertebral (principalmente a flexão), déficit neurológico focal ou dor radicular, geralmente unilaterais. Achados motores (fraqueza focal, atrofia muscular ou fasciculações) são menos frequentes do que as alterações focais da sensibilidade ou dos reflexos. Um espirro, tosse ou algum movimento trivial podem resultar em prolapso do núcleo pulposo, empurrando o anel desgastado e enfraquecido posteriormente. Fisiopato: O mecanismo pelo qual a lesão de discos intervertebrais causa dor é desconhecido, já que o anel fibroso interno e o núcleo pulposo normalmente são desprovidos de inervação → O núcleo pulposo rompido pode levar a inflamação e produção de citocinas pró- inflamatórias no interior do núcleo, provavelmente gerando e perpetuando a dor nas costas. A lesão de raiz nervosa (radiculopatia) por herniação de disco costuma ser causada por inflamação, mas a herniação lateral pode produzir compressão no recesso lateral ou no forame intervertebral. A doença tem mais probabilidade de ocorrer nos níveis de L4-L5 ou L5-S1, é incomum antes dos 20 anos de idade e que afeta principalmente indivíduos com sobrepeso e apresenta provavelmente algum fator genético envolvido Diagnostico: É mais seguro quando há concordância entre a anamnese, o exame físico, os resultados de imagens e a EMG → O ideal é realizar uma RM ou mielo-TC para confirmar a localização e o tipo de patologia (RM de coluna gera incidências únicas da anatomia intraespinal e de tecidos moles adjacentes, enquanto as lesões ósseas do recesso lateral ou do forame intervertebral são mais bem visualizadas pela mielo-TC.) Síndrome da cauda equina Ocorre quando o feixe de nervos que se estende da parte inferior da medula espinhal, distal ao término da medula espinal em L1-L2, é comprimido ou danificado. A causa mais comum de síndrome da cauda equina é um disco com hérnia. Podem ocorrer lombalgia, fraqueza e arreflexia nas pernas, anestesia em sela e perda da função vesical. Pode haver o envolvimento combinado do cone medular e da cauda equina. O tratamento é a descompressão cirúrgica, às vezes como procedimento urgente na tentativa de restaurar ou preservar a função motora ou a esfincteriana, ou radioterapia para os tumores metastáticos CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES DOENÇA DEGENERATIVA DA COLUNA Englobam: 1. Estenose do canal medular/vertebral (ECVL) com ou sem claudicação neurogênica Definição e quadro clinico: ECVL se refere ao estreitamento do canal vertebral lombar por onde passa a medula. Já a claudicação neurogênica consiste em dor, normalmente nas costas e nádegas ou pernas (de forma bilateral) que surge ao caminhar ou ficar de pé, sendo aliviada ao sentar Pacientes com claudicação neurogênica costumam sentir alivio de dor na posição de flexão (como caminhar inclinado sobre um carrinho de compras e pedalar sentados em bicicletas ergométricas). Isso ocorre porque a posição de flexão permite aumentar o diâmetro anteroposterior do canal vertebral e reduzir a hipertensão venosa intraespinal, produzindo alívio da dor. Fraqueza focal, perda sensitiva ou alterações dos reflexos podem ocorrer quando a estenose vertebral está associada à radiculopatia. Apenas raramente ocorrem déficits neurológicos graves, como paralisia e incontinência urinária. Causa: é variável, podendo ser adquirida (mais comum, causada por doença degenerativa, traumatismo, cirurgia na coluna, distúrbios metabólicos ou endócrinos – lipomatose epidural, osteoporose, acromegalia, hipoparatireoidismo – e doença de Paget) ou congênita (acondroplasia e idiopática) ou uma mistura de ambos. Diagnostico: RM proporciona a melhor definição da anatomia anormal Tratamento: a. Conservador: pode consistir em anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), paracetamol, programas de exercícios e tratamento sintomático dos episódios de dor aguda b. Cirúrgica: é considerada quando o tratamento clinico não alivia os sintomas o suficiente e geralmente a ECVL acompanhada por claudicação neurogênica responde à descompressão cirúrgica dos segmentos estenóticos Os preditores de desfecho cirúrgico ruim incluem problemas para deambular no pré-operatório, depressão, doença cardiovascular e escoliose. Até 25% dos pacientes tratados cirurgicamente desenvolvem estenose recorrente no mesmo nível espinal ou em um nível adjacente dentro de 7 a 10 anos; os sintomas recorrentes geralmente respondem a uma segunda descompressão cirúrgica 2. Estreitamento de forame intervertebral ou recesso lateral a. Complexo disco-osteofito b. Hipertrofia de faceta ou articulação uncovertebral c. Protusão discal lateral 3. Espondilose (osteoartrite) e espondilolistese Espondilose/doença osteoartrítica da coluna vertebral → doença causada pelo desgaste da coluna vertebral, acometendo principalmente as colunas cervical e lombossacral. Geralmente ocorre em uma época mais tardia da vida e o paciente pode queixar-se de dor nas costas que aumenta com o movimento e está associada à rigidez e que melhora com repouso. Essa dor pode estar presente e ser proeminente em pacientes com alterações mínimas nos exames de imagem Espondilolistese → É o deslizamento anterior do corpo vertebral, dos pedículos e das facetas articulares superiores, deixando para trás os elementos posteriores que ocorre principalmente na L4 sobre L5, ou às vezes, L5 sobre S1. Pode estar associada a causas de fraqueza mecânica da pars interarticularis (infecção, neoplasia, outras doenças degenerativas da coluna, anomalias congênitas) O deslizamento pode ser assintomático ou pode causar lombalgia e contratura da musculatura posterior da coxa, lesão de raiz nervosa (mais frequentemente em L5), estenose espinal sintomática ou SCE em casos graves CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES Diagnostico: radiografias simples com o pescoço ou a região lombar em flexão e extensão revelam o movimento no segmento anormal da coluna Tratamento: medidas conservadoras (repouso, fisioterapia) sendo a cirurgia indicada quando essas medidas não são suficientes para conter a dor ou nos casos em que há instabilidade espinal (deslizamento de 5-8 mm) e nos casos com déficit neurológico progressivo ou escoliose NEOPLASIAS Quadro clínico: a coluna torácica é a mais afetada. Essas dores costumam ser constante, surda, sem alívio com repouso e pior à noite. Diagnostico: A RM, a TC e a mielo-TC são os exames de escolha nos casos em que se suspeita de metástase vertebral. Assim que se detecta uma metástase, a imagem de toda a coluna é fundamental, pois revela lesões tumorais adicionais em cerca de um terço dos pacientes. Um forte preditor de desfecho é a função neurológica basal antes do diagnóstico → A maior parte dos pacientes não conseguem mais andar no momento do diagnóstico e poucos recuperam a capacidade INFECÇÃO/INFLAMAÇÃO ESPINAL Etiologia: Geralmente é causada por disseminação hematogênica de estafilococos, mas outras bactérias ou a tuberculose (mal de Pott) podem estar implicadas, sendo a fonte primária: pele ou o trato urinário; uso de drogas intravenosas, dentição ruim, endocardite, doença pulmonar, cateteres intravenosos ou sítios de feridas no pós-operatório também podem ser responsáveis. Quadro clinico: dor nas costas em repouso, dor à palpação da vértebra acometida e elevação da VHS ou proteína C- reativa. Em uma minoria de pacientes, ocorrem febre ou leucocitose. Se ocorrer, a extensão posterior da infecção pode produzir um abscesso espinal epidural que se apresenta como dor nas costas agravada por movimento ou palpação do processo espinhoso, febre, radiculopatia ou sinais de compressão da medula espinal. O desenvolvimento subagudo de dois ou mais desses achados deve aumentar a suspeita de abscesso espinal epiduralDiagnostico: A RM e a TC são sensíveis e específicas para a detecção precoce de osteomielite. O disco intervertebral também pode ser afetado por infecção (discite) e, quase nunca, por tumor. O abscesso é mais bem delineado por RM da coluna e pode se expandir para vários níveis espinais. TRAUMATISMO Geralmente, a queixa além de dor é incapacidade de mover as pernas. E se a fratura for acima de L1, pode ocorrer também a compressão da medula espinal. A fratura pode ocorrer na ausência de traumas em pacientes com osteoporose, uso de glicocorticoides, osteomielite ou infiltração neoplásica Entorses e distensões cursam com dor que se limita à região lombar, sem irradiação para nádegas ou pernas. Já as fraturas vertebrais traumáticas comumente se apresentam com déficit neurológico, o que indica tratamento cirúrgico precoce. OUTRAS CAUSAS A doença inflamatória autoimune da coluna pode se apresentar com início insidioso de dor nas costas, nádegas ou pescoço. A espondilólise é a causa mais comum de lombalgia persistente em adolescentes e com frequência está associada a atividades relacionadas com esportes. É um defeito ósseo na parte interarticular vertebral, cuja causa em geral é uma microfratura por estresse em um segmento congenitamente anormal. A dorsalgia postural é uma lombalgia crônica inespecífica, que se apresenta como dor vaga e difusa nas costas com a posição sentada ou em pé prolongada, aliviada pelo repouso. MANEJO LOMBALGIA AGUDA SEM RADICULOPATIA Paracetamol e AINEs são opções de primeira linha, mas miorrelaxantes também são úteis. Os analgésicos opioides são reservados para pacientes intolerantes ao paracetamol ou aos AINEs, ou para aqueles com dor refratária grave. As opções não farmacológicas incluem manipulação espinal, exercícios, fisioterapia, massagem, acupuntura, estimulação nervosa elétrica percutânea e ultrassonografia. LOMBALGIA CRÔNICA SEM RADICULOPATIA: As medicações para esse tipo de lombalgia podem incluir paracetamol, AINEs e antidepressivos tricíclicos. A combinação de exercício aeróbico gradual, exercícios de CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES força e alongamento se mostrou benéfica. Manipulação espinal, acupuntura e massagem são opções. A terapia cognitivo-comportamental é importante, visto que fatores psicológicos e sociais são importantes na gênese da dor. LOMBALGIA COM RADICULOPATIA Recomenda-se retorno às atividades normais, com alívio da dor por meio de paracetamol e AINEs ou, em caso de dor grave, analgésicos opioides. Injeções epidurais de glicocorticoides são úteis para alívio temporário dos sintomas. A intervenção cirúrgica está indicada para pacientes com fraqueza motora progressiva causada por lesão de raiz nervosa. A cirurgia de urgência é recomendada para pacientes com síndrome da cauda equina ou com evidências de compressão da medula espinal. A cirurgia também é uma opção para pacientes com dor radicular incapacitante, apesar do tratamento convencional DOR NO PERSCOÇO E OMBRO Os mesmos fatores de risco para uma causa grave de lombalgia se aplicam à dor no pescoço, além de também poderem ocorrer sinais neurológicos de mielopatia (incontinência, nível sensitivo, pernas espásticas). O sinal de Lhermitte, um choque elétrico ao longo da coluna com o pescoço em flexão, sugere acometimento da medula espinal cervical. TRAUMATISMO Cerca de 87% das lesões da medula espinhal cervical ocorrem devido a acidentes automobilísticos, crimes violentos ou quedas e submete a medula espinal ao risco de compressão. Geralmente, acidentes automobilísticos levam a lesão em chicote → rápida flexão e extensão do pescoço, sendo que o mecanismo exato da lesão não é conhecido. O diagnostico geralmente não precisa de exames de imagem e não deve ser feito em pacientes com fratura, herniação de disco, traumatismo craniano, achados neurológicos focais ou alteração de consciência. Até 50% das pessoas que relatam lesão em chicote aguda têm dor persistente no pescoço até 1 ano mais tarde, sendo que se persistir por mais de 6 semanas após a lesão, deve-se realizar exames de imagem da coluna cervical para detectar hernias de disco Os sintomas graves iniciais têm sido associados a desfecho precário em longo prazo. MANEJO A imobilização imediata do pescoço é essencial para evitar qualquer lesão adicional da medula espinal em consequência do movimento de segmentos instáveis da coluna cervical A indicação para se obter exames de imagem são: 1. Paciente com mais de 65 anos de idade 2. Parestesia de membro 3. Mecanismo perigoso para a lesão → colisão de bicicleta com árvore ou carro estacionado, queda de altura > 1 metro ou cinco degraus, acidente de mergulho Geralmente pacientes alertas sem sensibilidade à palpação na linha media, intoxicação, déficits neurológicos ou lesões dolorosas preocupantes têm uma baixa probabilidade de lesão traumática significativa da coluna cervical Essas diretrizes devem ser ajustadas às circunstâncias individuais; por exemplo, os pacientes com osteoporose avançada, uso de glicocorticoides ou câncer podem necessitar de exames de imagem mesmo após trauma leve. Os exames que podem ser pedidos são: 1. TC → é o procedimento diagnóstico de escolha para a detecção de fraturas agudas após trauma grave; 2. Radiografias simples → podem ser usadas para graus menores de traumatismo. 3. RM com angiorresonância → Quando se suspeita de lesão traumática das artérias vertebrais ou da medula espinal cervical SINDROME DO DESFILADEIRO TORACICO (SDT) O desfiladeiro torácico contém a primeira costela, a artéria e a veia subclávias, o plexo braquial, a clavícula e o ápice pulmonar. Uma lesão nessas estruturas pode resultar em CERVICALGIA E LOMBALGIA LETÍCIA FAGUNDES dor no ombro e na região supraclavicular, induzida pela postura ou pelo movimento e com as classificações a seguir. A SDT pode ser dividida em: 1. Neurogênica verdadeira É um distúrbio incomum que resulta da compressão do tronco inferior do plexo braquial ou dos ramos ventrais das raízes nervosas C8 ou T1 por uma faixa anormal de tecido que conecta um processo transverso alongado em C7 com a primeira costela. A dor é leve ou pode estar ausente. Os sinais consistem em fraqueza dos músculos intrínsecos da mão e sensibilidade diminuída na face palmar do quinto dedo. Uma radiografia anteroposterior da coluna cervical mostrará o processo C7 alongado (um marcador anatômico para a faixa cartilaginosa anômala), e a EMG e os ECNs confirmam o diagnóstico. O tratamento consiste na ressecção cirúrgica da faixa anômala. A fraqueza e a emaciação dos músculos intrínsecos da mão não melhoram, porém, a cirurgia interrompe a progressão insidiosa da fraqueza. 2. SDT arterial Resulta de compressão da artéria subclávia por uma costela cervical, que, por sua vez, resulta em dilatação pós- estenótica da artéria e, em alguns casos, formação secundária de trombo. A pressão arterial fica reduzida no membro acometido, podendo haver sinais de embolia na mão. Não há sinais neurológicos. A ultrassonografia pode confirmar o diagnóstico de maneira não invasiva. O tratamento consiste em trombólise ou anticoagulação (com ou sem embolectomia) e excisão cirúrgica da costela cervical que comprime a artéria subclávia. 3. SDT venosa Deve-se a trombose da veia subclávia, resultando em edema do braço e dor. A veia pode ser comprimida por uma costela cervical ou um músculo escaleno anômalo. A venografia é o exame de escolha para o diagnóstico. 4. SDT inespecífica ou disputada É responsável por 95% dos pacientes diagnosticados com SDT; dor crônica no braço e ombro é proeminente e sem causa clara. A ausência de achados sensíveis e específicos ao exame físico ou de marcadores laboratoriais paraesse distúrbio resulta em incerteza diagnóstica. O papel da cirurgia na SDT inespecífica e controversa. Depressão maior, sintomas crônicos, lesão relacionada ao trabalho e sintomas difusos no braço predizem resultados cirúrgicos ruins. O tratamento multidisciplinar da dor é uma conduta conservadora, embora o tratamento, com frequência, não tenha êxito. PLEXO BRAQUIAL E NERVOS A dor em decorrência de lesão do plexo braquial ou de nervos periféricos no braço às vezes simula a dor referida que provém da coluna cervical, incluindo a radiculopatia cervical. A infiltração neoplásica do tronco inferior do plexo braquial pode provocar dor no ombro ou supraclavicular que se irradia pelo braço, dormência dos quarto e quinto dedos da mão ou do antebraço medial, bem como fraqueza dos músculos intrínsecos da mão inervados pelo tronco inferior e cordão medial do plexo braquial. A lesão tardia por irradiação pode produzir fraqueza na parte superior do braço ou dormência na face lateral do antebraço ou braço devido ao envolvimento do tronco superior e cordão lateral do plexo. A dor é menos comum e menos intensa do que na infiltração neoplásica. Um tumor pulmonar de Pancost é outra causa e deve ser considerada, especialmente quando há síndrome de Horner concomitante.
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