Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacognosia Profa. Ludmilla de Mesquita Farmácia Alcaloides, metilxantinas e plantas especiais • Conceito • Introdução • Ocorrência, distribuição e localização • Funções nos vegetais • Classificação • Detecção e caracterização • Métodos de extração • Atividade biológica e usos farmacêuticos ALCALOIDES - ASPECTOS GERAIS Introdução • Alcaloides constituem vasto grupo de metabolitos com grande diversidade estrutural. • Representam cerca de 20% das substâncias naturais descritas. • Ao longo do tempo, vem causando grande impacto na economia, medicina e em outros setores sociais e políticos. • Desde os primórdios da civilização, as espécies vegetais contendo alcaloides foram usadas como medicamento, veneno e em “poções mágicas” Breve histórico Na Grécia antiga, Sócrates foi executado ao ingerir chá de Cicuta. coniina Conium maculatum L. Durante o Império Romano, a esposa do imperador Augusto, Lívia, assassinava inimigos políticos do marido durante os banquetes, adicionando a Beladona aos alimentos. atropina (d/l-hiosciamina) Atropa belladona L. Índios da bacia amazônica utilizam o extrato seco da planta conhecida como “curare”, em flechas usadas na pesca, caça e em guerras. tubocurarina (bloqueador da JNM/ paralisia) Chondodendron tomentosum L. (folhas e raízes) Estudos realizados Papaver somniferum L. morfina 1803 - Derosne – Realizou o primeiro isolamento de um “álcali” vegetal - descreveu o "sal de ópio" (mistura de morfina e outros alcalóides) 1806- Seturner - demonstrou a natureza básica da “substância sonífera” do ópio - mais tarde denominou-a morfina. 1817-1820 - Pelletier & Caventou - isolaram a emetina das raízes de Ipecacuanha Cephaelis ipecacuanha (Brot.) Stokes emetina 1817-1820 - Pelletier & Caventou – isolaram estricnina de sementes da Noz-vômica estricnina Strychnos nux-vomica L. 1817-1820 - Pelletier & Caventou – isolaram quinina e cinchonina das cascas de quina quinina cinchonina Cinchona spp 1848 - Merck - papaverina Papaver somniferum L. Ação espasmolítica 1881 – Landenburg – isolouo alcalóide tropânico escopolamina escopolamina (l-hioscina) Datura stramonium L. Ação espasmolítica coniina atropina (d/l-hiosciamina) tubocurarina morfina cafeína emetina O que os alcaloides tem em comum? quinina cinchoninaquinina escopolamina (l-hioscina) estricnina papaverina SUBSTÂNCIAS NITROGENADAS DE ORIGEM NATURAL COM AÇÃO FARMACOLÓGICA ENCONTRADOS PREDOMINANTEMENTE EM ANGIOSPERMAS EM SUA MAIORIA POSSUEM CARÁTER ALCALINO ALCALOIDES ¨N̈ H H H+ N Cl- ÁCIDO BASE ALCALOIDES VERDADEIROS PROTOALCALOIDES PSEUDOALCALOIDES Classificação ALCALOIDES VERDADEIROS Classificação ALCALOIDES DERIVADOS DE AMINOÁCIDOS, CONTENDO UM ÁTOMO DE NITROGÊNIO EM ANEL HETEROCÍCLICO morfina emetina PROTOALCALOIDES mescalina COMPOSTOS CONTENDO UM ÁTOMO DE NITROGÊNIO QUE NÃO PERTENCE A UM SISTEMA HETEROCÍCLICO SÃO AMINAS SIMPLES Lophophora williamsii (Lem.) J. Coult. Peyote PSEUDOALCALOIDES COMPOSTOS NITROGENADOS NÃO DERIVADOS DE AMINOÁCIDOS, COM O ÁTOMO DE NITROGÊNIO EM ANEL HETEROCÍCLICO, OU NÃO. POSSUEM TODAS AS CARACTERÍSTICAS DOS ALCALOIDES VERDADEIROS, MAS PROVEM DO METABOLISMO DE TERPENOS (Ex: aconitina) OU DO ACETATO (coniina) coniina Cicuta Conium maculatum l. (Apiaceae) Acônito Aconitum napellus (Ranunculaceae) aconitina DISTRIBUIÇÃO E LOCALIZAÇÃO NO VEGETAL PODEM SER ENCONTRADOS EM TODAS AS PARTES DO VEGETAL, MAS HÁ ACÚMULO PREFERENCIAL EM UM OU MAIS ÓRGÃOS Cinchona sp Piper nigrum Cola nitidaAtropa belladona LOCALIZAÇÃO INTRACELULAR DOS ALCALOIDES SÍNTESE NO RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO ACÚMULO NOS VACÚOLOS ALCALÓIDES ARMAZENAMENTO NO VEGETAL FREQUENTEMENTE, OS ALCALOIDES SÃO ARMAZENADOS EM LOCAL DIFERENTE DAQUELE ONDE SÃO SINTETIZADOS Nicotiana tabacum L. Folhas Raízes TECIDOS E CÉLULAS COM PREFERENCIAL OCORRÊNCIA Tendência de maior acúmulo em: ● TECIDOS EM CRESCIMENTO ATIVO ● CÉLULAS EPIDÉRMICAS E HIPODÉRMICAS DISTRIBUIÇÃO NOS TECIDOS E CÉLULAS ● BAINHAS DOS FEIXES VASCULARES ●DUTOS LACTÍFEROS FUNÇÕES DOS ALCALOIDES NOS VEGETAIS “HIPÓTESES” 1.DEFESA CONTRA HERBIVORIA -toxicidade/ sabor amargo- animais e insetos evitam o vegetal 2. DETOXIFICAÇÃO DE PRODUTOS NOCIVOS GERADOS PELO METABOLISMO PRIMÁRIO - incompatível com a complexidade metabólica de sua síntese 3. RESERVA DE NITROGÊNIO - há poucas evidências 4. REGULADORES DE CRESCIMENTO (inibição da germinação) 5. MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO IÔNICO (caráter alcalino) 6. DEFESA CONTRA MICROORGANISMOS E VÍRUS - Há aumento da concentração de solanina ao sofrer ataque por microorganismos 7. PROTEÇÃO CONTRA os raios UV -A maioria possui núcleo aromático, que absorve a radiação UV solanina DISTRIBUIÇÃO NO REINO VEGETAL ANGIOSPERMAS FAMÍLIAS VEGETAIS QUE PRODUZEM ALCALOIDES: • APOCYNACEAE • PAPAVERACEAE • RANUNCULACEAE • RUBIACEAE • SOLANACEAE • BERBERIDACEAE PLANTAS FOTOSSÍNTESE GLICOSE POLISSACARÍDEOS HETEROSÍDEOS ÁCIDO CHIQUÍMICO ACETIL-CoA TRIPTOFANO FENILALANINA TIROSINA ÁCIDO GÁLICO ALCALÓIDES INDÓLICOS E QUINOLÍNICOS TANINOS HIDROLISÁVEIS PROTOALCALÓIDES, ALCALÓIDES ISOQUINOLÍNICOS E BENZILISOQUINOLÍNICOS ÁCIDO CINÂMICO FENILPROPANÓIDES LIGNANAS E LIGNINAS CUMARINAS ANTRAQUINONAS FLAVONÓIDES TANINOS CONDENSADOS CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO ORNITINA LISINA ALCALÓIDES PIRROLIDÍNICOS, TROPÂNICOS, PIRROLIZIDÍNICOS, PIPERIDÍNICOS E QUINOLIZIDÍNICOS VIA MEVALONATO ISOPRENÓIDES TERPENÓIDES E ESTERÓIDES CONDENSAÇÃO ÁC. GRAXOS E ACETOGENINAS CICLO BIOSSINTÉTICO DOS METABOLITOS SECUNDÁRIOS DETECÇÃO • Formam precipitado com reagentes específicos (reagentes gerais dos alcaloides) • Reagentes iodados • Dragendorff (solução de tetraiodobismutato de potássio) • Hager (solução aquosa de iodo em iodeto de potássio) • Mayer (solução aq. de tetraiodomercurato de potássio) • Reação com os alcaloides precipitado corado • LIMITAÇÃO: Possíveis resultados falso-positivos com: proteínas, purinas, alfa-pironas,algumas cumarinas, hidroxi- fenois, lignanas DETECÇÃO CCD fases móveis diferentes (polaridades variáveis), sistemas eluentes básicos reativos de revelação das placas cromatográficas, baseados nos reativos de precipitação - manchas coloridas -reativo de Dragendorff, -solução iodo-iodetada (vapores de I2), -iodoplatinato, -sulfato cérico e de amônio - CLAE - CG (para alcalóides voláteis) EXTRAÇÃO R1 R2 N R1 R2 N H H OH Forme BASE Soluble dans solvant peupolaire Hexane CHCl3 AcOEt Forme ACIDE Soluble dans solvant polaire H2O Alcools R3 Forma MOLECULAR Solúvel em solventes pouco ou medianamente polares n-hexano CHCl3 R3 Forma ÁCIDA (salina) Solúvel em solventes polares H2O Álcoois Presença de átomo de N com o par de elétrons não compartilhados confere caráter básico aos alcalóides Processo de extração de alcalóides com solventes orgânicos em meio alcalino Forma molecular Forma salina Forma molecular Droga pulverizada Sol. ácida HCl/ CHCl3 PARTIÇÃO Fase orgânica (impurezas) Fase aquosa (alcalóides fenólicos e não fenólicos) Base forte NaOH/ CHCl3 PARTIÇÃO Fase orgânica alc. NÃO fenólicos Fase aquosa (alc. fenólicos => FENOLATOS) 1) sol. ácida HCl (neutralização) 2) NH4OH/CHCl3 PARTIÇÃO Fase aquosa (impurezas) ALCALÓIDES NÃO FENÓLICOS Fase orgânica (fenóis) ALCALÓIDES FENÓLICOS concentração concentração PROCESSO DE EXTRAÇÃO DE ALCALÓIDES COM SOLVENTES ORGÂNICOS EM MEIO ÁCIDO E SEPARAÇÃO DOS FENÓLICOS E NÃO FENÓLICOS Papaver somniferum L. Família Papaveraceae Parte usada – cápsulas contendo látex ÓPIO COCA Erythroxylon coca Lamarck cocaína Família Erythroxylaceae Parte usada - folhas QUINA Cinchona pubescens Vahl Cinchona calisaya Wedell Família Rubiaceae depressores do SNC (morfina, escopolamina) estimulantes do SNC (estricnina, cafeína) Anticolinérgicos (atropina, hiosciamina, escopolamina) anti-hipertensivos (reserpina) antimalárico (quinina) amebicida,emético (emetina) antitumorais (vimblastina, vincristina) diuréticos (teobromina, teofilina) simpatomiméticos (efedrina) miorrelaxante (tubocurarina) antitussígeno (codeína, noscapina) USOS FARMACÊUTICOS Metilxantinas • São constituintes de bebidas estimulantes • São consideradas pseudoalcaloides pois não são originadas de aminoácidos • Exemplos importantes: cafeína, teobromina, teofilina, • Consumo muito antigo • Café – Arábia 1000 d.C. • Cacau – chocolate – Astecas em 1519 Origem e distribuição • Precursores: hipoxantina, adenina, guanina, nucleosídeos • Presentes em ~ 60 espécies vegetais • Coffea, Cola, Theobroma, Paullinia, Ilex e Camellia • Tem papel ecológico para planta favorecendo a adaptação em ambientes desfavoráveis Extração e doseamento • EXTRAÇÃO • Uso de solventes clorados em meio amoniacal • Solventes clorados diretamente de suas soluções aquosas ácidas • DOSEAMENTO • Detecção: formam precipitados com taninos, reativo de Dragendorff • CCD • Espectrofotometria • CLAE Uso terapêutico • sistema nervoso central: estimulantes • sistema cardiovascular: aumenta a força de contração do coração • musculatura lisa: teofilina e teobromina – relaxamento brônquios e ureteres • musculatura estriada: estimulam contração, reduz fadiga. Ex: cafeína • diurese: diurético – teobromina e teofilina CAFEÍNA – O ALCALÓIDE MAIS CONSUMIDO MUNDIALMENTE A cafeína é uma base xantínica. É um produto do metabolismo dos ácidos nucleicos, sua estrutura é muito semelhante à da adenina. Cafeína estimulante do sistema nervoso central. Aumenta a capacidade de concentração e de vigília (“tira o sono”). Estimulante cardíaco e respiratório. Relaxa a musculatura dos brônquios. Consumida nas bebidas estimulantes, componente de muitos medicamentos usados nos casos de gripe, enxaquecas associadas a outros medicamentos exemplos: melhoral, neosaldina e etc. Plantas que contêm cafeína e que são empregadas para produção de bebidas estimulantes: café – Coffea arabica chá – Camellia sinensis cacau – Theobroma cacao guaraná – Paullinia cupanamate – Ilex paraguariensis Ginseng- Panax sp 1817-1820 – Pelletier & Caventou – isolaram a cafeína cafeína Coffea arabica L. (Rubiaceae) Família - Rubiaceae Parte usada - semente CAFÉ Coffea arabica L. Camellia sinensis (L.) O. Kuntze Família - Theaceae Parte usada - folha CHÁ Família Sterculiaceae Parte usada semente CACAU Theobroma cacao L.
Compartilhar