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Milena Alves

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POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA 
EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL 
 
 
O artigo 205 da Constituição Federal de 1988 busca garantir 
a educação como um direito de todos e um dever do Estado e da família 
(BRASIL, 1988). A educação torna-se uma prerrogativa em que todo cidadão 
brasileiro possui o direito de exigir do Estado o acesso e a prática educativa. 
Como direito de todos, a educação, portanto, traduz muito da exigência que o 
sujeito pode fazer em seu favor. 
Neste capítulo, você aprofundará seus estudos para localizar e 
compreender os direitos educacionais garantidos pela Constituição Federal, 
analisará os reflexos da educação para a sociedade e, também, identificará 
os desafios para a garantia da educação como direito à igualdade de 
oportunidades e à diferença. 
AULA 02 
LIMITES E 
POSSIBILIDADES 
DO DIREITO À 
EDUCAÇÃO 
 
 
 
São objetivos dessa aula: 
• Enumerar os direitos educacionais garantidos pela Constituição. 
• Examinar os efeitos de significar a educação como direito. 
• Identificar os desafios para a garantia da educação como direito à 
igualdade e à diferença 
2 LIMITES E POSSIBILIDADES DO DIREITO À EDUCAÇÃO 
A Constituição Federal Brasileira de 1988 reconheceu a educação como direito 
social e atribuiu ao Estado a responsabilidade de promover a educação fundamental 
a todos os cidadãos (DORIGON; SIMÃO, 2017). Nesse documento, o direito à 
educação está inserido no contexto dos chamados direitos de 2ª dimensão, no âmbito 
dos direitos fundamentais. A grande inovação do modelo constitucional de 1988 em 
relação ao direito à educação decorre de seu caráter democrático, especialmente pela 
preocupação em prever instrumentos voltados para sua efetividade. 
Nessa perspectiva, o direito à educação vai se constituindo como uma política 
pública que é dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com 
a colaboração da sociedade, conforme institui a Constituição Federal de 1988 
(BRASIL, 1988). O texto constitucional estabelece, inclusive, os princípios que 
baseiam o ensino. É o que prevê o artigo 206: 
O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de 
condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, 
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo 
de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições 
públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em 
estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação 
escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso 
exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes 
públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - 
garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para 
os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. 
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores 
considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo 
para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da 
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1988). 
 
O artigo que detalha o direito à educação é o 208, no qual consta que: 
I — educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) 
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a 
ela não tiveram acesso na idade própria; II — progressiva universalização do 
ensino médio gratuito; III — atendimento educacional especializado aos 
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV — 
educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de 
idade; V — acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da 
criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI — oferta de ensino 
noturno regular, adequado às condições do educando; VII — atendimento ao 
educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas 
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e 
assistência à saúde (BRASIL, 1988). 
Quanto à Declaração do Direito à Educação como o primeiro dos Direitos 
Sociais, Cretella Junior (1991, p. 881-882) pontua que 
[...] todo cidadão brasileiro tem o subjetivo público de exigir do Estado o 
cumprimento da prestação educacional, independentemente de vaga, sem 
seleção, porque a regra jurídica constitucional o investiu nesse status, 
colocando o Estado, ao lado da família, no poder-dever de abrir a todos as 
portas das escolas públicas e, se não houver vagas, nestas, das escolas 
privadas, pagando as bolsas aos estudantes. 
Considerando os artigos e os aspectos apontados, pode-se compreender a 
Constituição Federal como um marco para o desenvolvimento do direito à educação. 
Para Dorigon e Simão (2017) é importante mencionar a existência de outros dois 
instrumentos normativos que regulamentam e complementam o direito à educação: o 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (LDBEN). 
O ECA preconiza, em seu artigo 4º, que “[...] é dever da família, da comunidade, 
da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a 
efetivação do direito […] à educação” (BRASIL, 1990). No artigo 53, o Estatuto dispõe 
que a educação é direito de toda criança e adolescente: 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - igualdade de condições 
para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus 
educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às 
instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em 
entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua 
residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do 
processo pedagógico, bem como, participar da definição das propostas 
educacionais (BRASIL, 1990). 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabelece as 
diretrizes da educação nacional e, em seu artigo 1º, trata sobre o desenvolvimento da 
educação: 
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na 
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino 
e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas 
manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se 
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições 
próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e 
à prática social (BRASIL, 1996). 
De acordo com essa legislação, o direito fundamental à educação é efetivado 
a todas as crianças e adolescentes de forma que sejam respeitadas as características 
e as diferenças de cada um deles, devendo ser atendidas às necessidades de cada 
sujeito, inclusive das pessoas com necessidades especiais. 
O planejamento, a criação e a execução das políticas de educação são 
realizadas em um trabalho conjunto dos três poderes que formam o Estado: 
Legislativo, Executivo e Judiciário. O Poder Legislativo ou o Executivo, assim como a 
sociedade civil organizada, podem propor políticas públicas para a educação. O 
Legislativo cria as leis referentes a uma determinada política pública e o Executivo é 
o responsável pelo planejamento da ação e pela aplicação da medida. Já o Judiciário 
faz o controle da lei criada e confirma se ela é adequada para cumprir o objetivo a que 
se propõe. 
Conceber um direito educacional tipificado como política pública é assumir a 
urgência em pensar uma educação de qualidade que, para Dorigon e Simão (2017), 
deve ser entendida como direito humano essencial, o qual o governo brasileiro tem o 
compromisso maior de promover a todos e todas. Assim,“[...] a universalização do 
ensino fundamental, a ampliação da educação infantil, do ensino médio, da educação 
superior e a melhoria da qualidade em todos os níveis e nas diversas modalidades de 
ensino são tarefas prioritárias” (BRASIL, 2007, p. 11). 
A política educacional estabelecida como política pública não apenas possibilita 
que a educação se fortaleça como um caminho para que todos conheçam seus 
direitos e deveres, mas também contribui para o desenvolvimento de valores, 
conforme aponta o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos: 
[…] a educação é compreendida como um direito em si mesmo e um meio 
indispensável para o acesso a outros direitos. A educação ganha, portanto, 
mais importância quando direcionada ao pleno desenvolvimento humano e 
às suas potencialidades, valorizando o respeito aos grupos socialmente 
excluídos. Essa concepção de educação busca efetivar a cidadania plena 
para a construção de conhecimentos, o desenvolvimento de valores, atitudes 
e comportamentos, além da defesa socioambiental e da justiça social 
(BRASIL, 2007, p. 25). 
O direito à educação garantido pela Constituição Federal propõe, portanto, que 
cada sujeito tenha assegurado o direito de aprender e, para tanto, é urgente que 
voltemos nossas atenções às crianças, aos jovens e aos adolescentes que estão fora 
da escola. Outro aspecto importante a considerar refere-se àqueles que estão dentro 
da escola, porém correm os riscos de abandono e evasão, aumentados em razão de 
fatores e vulnerabilidades diversas, como a discriminação, o trabalho infantil e, ainda, 
a falta de condições de se deslocar até a escola. 
2.1 Os Efeitos de Significar a Educação como Direito 
Pessoa (2018) aponta que o direito à educação é um direito fundamental a 
todos os cidadãos brasileiros amparados pela nossa Carta Maior, no seu artigo 6º. É 
um direito humano que ocupa um lugar de destaque no rol dos direitos humanos, 
portanto, é um direito essencial para o exercício da cidadania. Dessa forma, vale 
reafirmar que, entre todos os direitos humanos, o direito à educação é indispensável 
ao cidadão. O autor afirma ainda que nenhum dos outros direitos, ou seja, civil, 
político, econômico e social, podem ser praticados pelos sujeitos sem que tenham 
recebido o mínimo de educação. Daí a fundamental importância da educação como 
direito. 
Nesse cenário, vale lembrar que, infelizmente, milhões de crianças ainda 
permanecem privadas de oportunidades educacionais, muitas delas em razão da 
pobreza e da desinformação. Assim, levar educação básica e de qualidade para todos 
e fazer valer tal direito é um dos maiores desafios a serem superados nos dias atuais. 
Pensar na educação como direito é pensar que a educação faz parte das 
condições para a existência da dignidade do ser humano. Ao falar em dignidade 
humana, pode parecer difícil compreender o conteúdo que tal expressão transmite, 
todavia, para que se possa verificar com maior coerência o sentido da palavra 
dignidade, é viável pensar em respeito, igualdade, acessibilidade, participação e 
vários outros aspectos possíveis de serem atingidos por meio da educação. Dessa 
maneira, esta necessita ser considerada como um direito do ser humano. 
 A educação, como um dos direitos fundamentais do homem, originado do 
direito natural, deve ser assegurada de maneira primordial. Muniz (2002) reforça que 
a educação é considerada apenas como um direito social, porém, deve ser mais que 
isso: nasce no direito à vida, é instrumento fundamental para que a pessoa se realize 
como pessoa. De acordo com a autora, o ser humano tem sede de saber, mas seu 
potencial para aprender só se transformará em ato no momento em que lhe forem 
propiciadas todas as condições necessárias para tal. E isso só é possível por meio da 
educação, da consagração desse direito. 
Quanto aos efeitos de significar a educação como direito, é preciso pensar que 
a educação básica é um momento privilegiado em que a igualdade cruza com a 
equidade e se reafirma, inclusive, como possibilidade de desconstrução de 
estereótipos, preconceitos e discriminações, tanto pelo papel socializador da escola 
quanto pelo seu papel de multiplicadora de conhecimentos diversos e significativos. 
Nessa perspectiva de ser fundamental à vida, a educação, dada sua inerência à 
cidadania e aos direitos humanos, foi, então, declarada e positivada como direito do 
cidadão e dever do Estado. 
Importante mencionar que declarar e assegurar direitos vai além de uma 
solenidade. Declarar, significa retirar do esquecimento, enquanto proclamar quer dizer 
que as pessoas continuam a ser portadoras do seu direito. Dessa maneira, quando o 
direito de um indivíduo não é respeitado, se faz necessária a cobrança do mesmo. 
Declarar um direito é muito significativo, equipara-se a colocá-lo dentro de uma 
hierarquia que o reconhece solenemente como ponto prioritário das políticas sociais. 
Esse direito se torna ainda mais significativo quando é declarado e garantido como tal 
pelo poder interventor do Estado, no sentido de assegurá-lo e implementá-lo (CURY, 
2002). 
Determinar que a educação é um direto, é estabelecer sua disponibilidade e 
permanência para todos, pensando-a também como um meio de abertura que oferece 
ao indivíduo uma possibilidade de autoconstrução e identificação como sendo capaz 
de tomar atitudes, reflexão, participação e tornar-se crítico. Dessa forma, a educação 
enquanto um direito do cidadão possibilita as oportunidades de crescimento e 
cidadania, bem como mudanças no rumo de carreiras, sendo uma alternativa diferente 
para as apropriações e para o sentimento de pertencimento. 
A efetiva inclusão da educação como direito resulta na possibilidade de 
formação de um sujeito com pleno desenvolvimento de suas potencialidades, não 
apenas intelectuais, mas principalmente morais, sociais e éticas. Assim, entende-se 
que os efeitos da educação são benéficos ao ser humano e à sociedade. Educar a 
pessoa, portanto, a torna consciente de sua responsabilidade social, considerando 
que é preciso oferecer ao ser humano conhecimentos diferentes e diversos para 
fomentar esse processo de construção de novos saberes. Nessa perspectiva, vale 
apresentar o que diz Cury (2002, p. 1): 
O direito à educação decorre de dimensões estruturais coexistentes na 
própria consistência do ser humano. Racionalidade, expressão da ação 
consciente do homem sobre as coisas, implica também o desenvolvimento 
da capacidade cognoscitiva do ser humano como meio de penetração no 
mundo objetivo das coisas. A racionalidade é também condição do 
reconhecimento de si, que só se completa pelo concomitante reconhecimento 
igualitário da alteridade. Só com o desenvolvimento destas capacidades é 
que a ação do homem com o outro e sobre as coisas torna-se humana e 
criativa. O pleno desenvolvimento da pessoa não poderia se realizar sem o 
desenvolvimento efetivo da capacidade cognitiva, uma marca registrada do 
homem. Assim sendo, essa marca se torna universal. Ela é a condensação 
de uma qualidade humana que não se cristaliza, já que implica a produção 
de novos espaços de conhecimento, de acordo com momentos históricos 
específicos. 
Os efeitos decorrentes do processo educativo perpassam por sua efetivação 
em práticas sociais que, certamente, se convertem em mecanismos de redução das 
desigualdades e das discriminações, possibilitando uma aproximação pacífica entre 
os sujeitos e até mesmo entre os diferentes povos. Assim, a difusão e generalização 
da educação escolar de qualidade como direito civil é condição cívica para a cidadania 
universal (CURY, 2002). 
Enfim, após as reflexões tecidas até aqui, observa-se que a educação contribui 
para a redefinição dos caminhos de uma sociedade, de seus valores, de sua moral, 
de suas regras e de suas relações. Quanto mais se reafirma e assegura o direito à 
educação, mais é possível que haja transformações favoráveis e que estas se 
multipliquempor toda a sociedade. A educação como direito, portanto, possibilita esse 
processo dinâmico de mudança humana e social. 
Certamente, nesse processo de reconhecimentos, construções e 
transformações, muitas são as lacunas e os desafios a serem superados para a 
garantia de uma educação básica, inclusive para a garantia da educação como direito 
à igualdade e à diferença. 
2.2 Os Desafios para a Garantia da Educação como Direito à Igualdade e à 
Diferença 
Na atualidade, um dos desafios colocados à educação é instituir uma nova 
ordem de compreensão sobre os processos educativos e sobre o currículo, de modo 
que os conteúdos não se esgotem e não se desdobrem de maneira linear e inflexível, 
mas que sejam colocados frente a um processo dialógico e estejam sendo instigados 
por novas temáticas em proposição. Os objetos do conhecimento das diversas 
disciplinas devem apontar, a partir de suas especificidades, rumo a uma ação crítica 
e reflexiva a respeito das realidades colocadas em questão. É preciso propor um 
processo que garanta a educação como direito à igualdade e à diferença. 
O conceito de diferença passou a ganhar importância na teorização 
educacional crítica a partir da emergência da chamada “política de identidade” e dos 
movimentos multiculturalistas, os quais referem-se às diferenças culturais entre os 
diversos grupos sociais, definidos em termos de divisões sociais tais como classe, 
raça, etnia, gênero, sexualidade e nacionalidade. 
Em um contexto filosófico, fala-se de filosofias da diferença para se referir a 
certas tendências filosóficas contemporâneas centradas no conceito de diferença, 
opondo-se, nesse sentido, às filosofias que se fundamentam na dialética, as quais são 
criticadas, sobretudo, porque, ao resolverem a contradição por meio de uma negação 
da negação, acabam por reafirmar a identidade e a mesmidade (REFERENCIAR). 
Embora baseados em noções de diferença que não são coincidentes, pode-se 
nomear Gilles Deleuze e Jacques Derrida como os principais representantes de uma 
filosofia da diferença. Ao se caracterizar o chamado pós-estruturalismo, esquece-se, 
em geral, que esse movimento teórico contemporâneo se define também por sua 
rejeição da dialética e por sua consequente afirmação do princípio da diferença, e não 
apenas por sua reação ao estruturalismo e seus pressupostos sobre o discurso e a 
linguagem. 
Segundo Santos (1999), para se caracterizar a igualdade e a diferença, é 
necessário perceber, primeiro, que a desigualdade e a exclusão têm na modernidade 
um significado totalmente distinto do que tiveram nas sociedades do antigo regime. 
Pela primeira vez na história, a igualdade, a liberdade e a cidadania são reconhecidas 
como princípios emancipatórios da vida social. A desigualdade e a exclusão têm, pois, 
de ser justificadas como exceções ou incidentes de um processo social que não lhes 
reconhece legitimidade, em princípio. E, perante elas, a única política social legítima 
é a que define os meios para minimizar uma e outra. 
Bobbio (1992) afirmava que vivemos momentos que marcam a cidadania a 
partir dos enfrentamentos em busca de melhor qualidade de vida, incluindo, nessa 
busca, a educação. Frente às grandes transformações ocorridas na sociedade 
contemporânea, é importante perceber que a educação escolar é uma dimensão 
fundamental para o exercício da cidadania, e tal princípio é indispensável para 
políticas que visam à participação de todos nos espaços sociais e políticos. 
Nessa vertente, é necessário ressaltar que são muitos os desafios quando o 
assunto é pensar a igualdade e a diferença como direito, inclusive para a formação 
docente. Portanto, é preciso lembrar, também, que existem pesquisadores que têm 
se debruçado nessa temática. Diversas pesquisas apresentam possibilidades de 
reflexão sobre práticas que envolvem sexualidades, diversidades e formação docente. 
O texto de Xavier Filha (2012), cujo título é “Educação para as sexualidades, 
para a equidade de gênero e para as diversidades: desafios na e para a formação 
docente”, apresenta o trabalho realizado a partir do curso de formação continuada no 
projeto de extensão, com o apoio da Secretaria de Educação Continuada, 
Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/ MEC), em cinco cidades brasileiras. 
O projeto intitulado “Tecendo gênero e diversidade sexual nos currículos da Educação 
Infantil” foi aprovado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e desenvolvido por 
diferentes instituições de ensino superior: Campo Grande/MS (UFMS); São Paulo/SP 
(USP); Lavras/ MG (UFLA); Campinas/SP (Unicamp) e Juiz de Fora/MG (UFJF). A 
professora, em seu texto, enfatiza as novas possibilidades de diálogos e proposições 
críticas surgidas ao longo da execução do projeto na cidade de Campo Grande (MS). 
Todo o conteúdo do livro apresenta as experiências das cinco universidades 
integrantes do projeto. 
Outro estudo a ser considerado é de Paula Ribeiro e Diogo Souza (2003) 
intitulado “Falando com professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental sobre 
sexualidade na sala de aula: a presença do discurso biológico”, no qual os autores 
relatam a organização de um curso com o propósito de discutir com professoras das 
séries iniciais sobre os discursos que constituem as sexualidades nas abordagens 
pedagógicas presentes na educação escolar. 
O livro intitulado “Educação inclusiva: tecendo gênero e diversidade sexual nas 
redes de proteção”, organizado por Cláudia Ribeiro e Ila Maria Silva de Souza (2008), 
é uma obra que começou a ser produzida como um projeto para construir práticas a 
partir de compromissos com a defesa dos direitos sexuais na infância e adolescência 
no combate ao abuso e exploração sexual. Foi uma ação de formação de professores 
que envolveu diretamente quinhentos profissionais de vinte e duas cidades do sul de 
Minas Gerais em cursos e projetos de intervenção nas áreas de educação, gênero e 
sexualidades. 
Esses projetos, certamente, surgem como construção de caminhos coletivos 
que possibilitam o novo e contribuem para o reconhecimento da necessidade de 
problematizar e discutir os diversos aspectos que envolvem as diferenças e a 
igualdade em diversas direções: sexualidades, gênero, etnias, entre outros, 
entendendo a construção do conhecimento como algo processual, com vistas a ir além 
para analisar, ressignificar, desconstruir e articular saberes. 
De acordo com Leão (2005), a educação direciona à melhoria da vida humana, 
considerando que essa é uma conquista gradual da cultura, do desenvolvimento 
crítico e do aproveitamento das potencialidades do ser humano e, portanto, requer o 
redimensionamento político dos processos educativos. Nestes, residem as 
possibilidades de reconstrução da sociedade humana, senão igualitária, menos 
desigual, em que o nível de inter-relações transcorra em um sentido de 
horizontalidade, na qual grupos ou classes sociais não se sobreponham uns aos 
outros. 
Considerando os princípios de uma educação instituída como direito de todos 
e para todos, vale lembrar que os ideais e as políticas que caminham no sentido de 
uma sociedade mais acessível e mais justa não podem abrir mão do princípio da 
igualdade de oportunidades, vislumbrando as diferenças com real significância e cuja 
visibilidade só é possível por meio de uma reflexão crítica. Menciona-se ainda, que 
tem sido no confronto cotidiano de pensar as novas possibilidades da educação como 
direito em detrimento às velhas práticas arraigadas, que têm emergido as 
possibilidades concretas de transformação. 
Pensar na educação a ser concebida como direito à igualdade, de modo a 
evidenciar as diferenças, é pensar em alguns desafios a serem superados, tais como: 
diminuir as injustiças sociais, assegurar o direito às diferenças, perceber e valorizar a 
diversidade cultural, propor ações que minimizem as violências e os distanciamentos, 
entre outros. 
O direito à educaçãodeve resultar em uma política educacional abrangente e 
minuciosa, que não somente garanta o acesso no sentido de ter escolas, salas de 
aula e carteiras suficientes e adequadas à quantidade de alunos em cada região, mas 
também que garanta a educação aos jovens que não podem se locomover até a 
escola, estejam eles em casa, hospitais, clínicas de recuperação de uso de drogas e 
centros de detenção, bem como forneça uma educação e um ambiente escolar 
inclusivo para os jovens com necessidades especiais. 
Nunes (2014) reforça que, uma vez garantido o acesso de todas as crianças e 
jovens a uma escola, é esperado que essa escola promova um ensino de qualidade, 
considerando a diversidade existente em seu meio e as diferenças apresentadas por 
cada sujeito. Para tanto, é preciso uma boa estrutura, assim como incentivar a 
formação continuada de professores e, ainda, pensar em um currículo abrangente e 
diversificado. Não adianta ter escolas sem livros que trabalhem a democracia e o 
direito, carteiras, lousa, giz, acesso à internet e outros equipamentos de que o 
professor e o aluno precisam para as atividades. Também não adianta ter o espaço, 
mas não ter professores que discutam e reflitam sobre as temáticas que envolvem 
esses temas. 
É preciso propor um currículo integrador e diverso, partindo de uma política de 
promoção do engajamento escolar, de modo que esta construa ações voltadas para 
a melhoria contínua e significativa da efetividade dos serviços oferecidos nas escolas, 
desde professores capacitados a metodologias de ensino mais eficazes. 
Nessa perspectiva, mesmo com as transformações que têm ocorrido na 
educação, é necessária uma contínua reflexão sobre os propósitos da mesma, ou 
seja, sua relação com a diversidade, o olhar para as diferenças, as propostas 
inclusivas, os processos transformadores, entre outros aspectos. É preciso, 
fundamentalmente, repensar como a diversidade e a diferença aparecem nos 
currículos e nos projetos escolares. 
Enfim, não há dúvidas quanto aos avanços alcançados pela educação e o 
quanto é necessário percebê-la como um direito fundamental ao ser humano, à 
transformação social e à vida. Ainda, é urgente compreender que a educação como 
direito necessita ser pensada e propagada para que haja, de fato, transformações 
significativas. Todavia, a educação brasileira na atualidade, apresenta muitos desafios 
que seguem em aberto junto às políticas educacionais, inclusive para a concretização 
de uma educação com qualidade e equidade, que considere as diversidades e 
respeite as diferenças de todos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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