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ESTUDO DE CASO SOBRE ENDOMETRIOSE – ECC: CENTRO CIRÚRGICO - Planejamento do pré-op para trans-op 1. Coleta de dados P. H. N. M., 31 anos, sexo feminino, parda, desquita, 49kg, 1,55m, referenciada do PA-HC acompanhada da irmã. Cirurgia anterior de extração de siso e procedimento de colonoscopia prévia. Alergia à Plasil. Não etilista e não tabagista, sem lesões, sem alterações sensoriais, sem uso de próteses. Relata desejo de engravidar. Diagnosticada com endometriose infiltrativa e tratamento proposto de laparotomia videolaparoscópica para drenagem e/ou biópsia. Paciente encontra-se em ar ambiente sem uso de O2 suplementar, em jejum desde às 21:00 do dia anterior à cirurgia, precaução padrão, banho tomado no dia da cirurgia com sabonete, Escala EVA DOR escore 0. Possui termo de consentimento assinado para anestesia e cirurgia. Implementadas as ações de prevenção de úlcera por pressão (proteger proeminências ósseas). OBS.: cirurgia cancelada por falta de equipamento necessário. 2. Diagnóstico médico O que é endometriose A doença tem como característica a presença de um tecido semelhante ao endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste internamente o órgão e a cada mês é preparado para receber o embrião – nele ocorre a implantação, ou nidação. Quando a gravidez não ocorre descama originando a menstruação e um novo ciclo. O tecido ectópico cresce em locais como os ovários, as tubas uterinas e os ligamentos que sustentam o útero, resultando em alterações na capacidade reprodutiva. A endometriose pode interferir na fertilidade dos estágios iniciais aos mais avançados. No entanto, a infertilidade é consenso na literatura médica nos mais avançados, quando as lesões infiltram mais profundamente. Fisiopatologia A hipótese mais amplamente aceita para a fisiopatologia da endometriose é de que as células endometriais são transportadas da cavidade uterina durante a menstruação e subsequentemente se implantam em locais ectópicos. Fluxo retrógrado do tecido menstrual pelas tubas uterinas é comum e pode transportar células endometriais viáveis para as cavidades pélvica e abdominal; o sistema linfático ou circulatório pode transportar as células endometriais viáveis para locais distantes (p. ex., a cavidade pleural). Outra hipótese é a metaplasia celômica: o epitélio celômico se transforma em glândulas semelhantes às endometriais. 1. Refluxo da menstruação A teoria mais comum é que a endometriose é causada pelo refluxo da menstruação. Essa teoria sugere que o fluxo menstrual, além de sair por via vaginal, volta pelas tubas uterinas e é derramado na cavidade pélvica, permitindo que as células endometriais se unam e cresçam nas superfícies peritoniais. Esta é uma das teorias de maior aceitação, já que o refluxo menstrual é um fenômeno bastante comum entre as mulheres e explicaria as localizações mais comuns da endometriose. Entretanto, esta teoria não explica como os implantes chegam a locais mais distantes. Outro problema é o fato de que apenas uma pequena porcentagem das mulheres desenvolve endometriose sendo que ao redor de 90% das mulheres podem ter este refluxo. Por isso a endometriose é considerada uma doença multifatorial, isto é, vários fatores participam para que a mulher desenvolva endometriose. 2. Imperfeição imunológica Uma outra explicação possível sugere que uma imperfeição hereditária no sistema imunológico permite que células endometriais perdidas se desenvolvam, desimpedidas, na cavidade pélvica e em outros órgãos. Esta teoria tem sido bastante estudada e a participação do sistema imune no aparecimento da endometriose freqüentemente demonstrada. 3. Indução de Célula Multipotencial Essa teoria sugere que certas células do sistema reprodutivo feminino tem o potencial de desenvolver- se em diferentes tipos de órgãos. Essas células são estimuladas a desenvolver-se no tecido endometrial depois de expostas a alguns “eventos iniciais” como a existência de resíduos menstruais ou certos níveis plasmáticos de hormônios ovarianos. 4. Transporte Linfático Uma possível explicação de como a endometriose ocasionalmente se localiza em locais remotos, como pulmão, fígado, umbigo ou braços, sugere que as células endometriais são transportadas através do sistema linfático. 5. Predisposição Genética Finalmente, diversos estudos sugeriram a existência de uma predisposição genética para a endometriose. Mulheres que têm histórico familiar de endometriose parecem ser mais propensas a desenvolver a moléstia do que aquelas cujas parentes mais próximas não apresentam a doença. 6. Outros fatores Outros fatores tem sido envolvidos na etiologia da endometriose, como fatores ambientais, por exemplo, onde substâncias tóxicas como a dioxina que é encontrada no leite e na carne pode estar associadas ao desenvolvimento da endometriose. 7. Implantes cirúrgicos. Durante cirurgias em que se atinge a cavidade uterina e o endométrio. O exemplo mais frequente é a cesariana, tecido endometrial poderia contaminar a cicatriz abdominal e gerar nódulos de endometriose na própria cicatriz da parede abdominal. Endometriose infiltrativa Endometriose infiltrativa profunda é um dos subtipos morfológicos da doença, classificada geralmente no estágio IV, ou seja, no último e mais avançado desta patologia. Apresenta múltiplos implantes profundos, com aderências densas e firmes, que invadem diversos locais ao mesmo tempo, distorcendo toda a anatomia das estruturas pélvicas. Os outros dois subtipos são endometriose peritoneal superficial, no qual as lesões são planas e rasas, localizadas no peritônio e, endometriose ovariana, caracterizada pela presença de endometriomas, um tipo de cisto preenchido por líquido achocolatado nos ovários. A relação da endometriose infiltrativa com a infertilidade: No início de desenvolvimento da endometriose, o tecido anormal produz prostaglandinas, citocinas pró-inflamatórias que afetam o desenvolvimento dos folículos, levando a problemas de ovulação ou, a qualidade dos óvulos. Ao mesmo tempo, comprometem a receptividade do endométrio, fundamental para a implantação do embrião ser bem-sucedida, resultando, nesse caso, em falhas de implantação (nidação). Quando a endometriose é infiltrativa profunda, a evolução do processo inflamatório pode levar à formação de aderências: nos ovários, inibem a liberação do óvulo e nas tubas uterina, a captação dele, ou seja, não há como a fecundação ocorrer. Além disso, podem provocar distorção na anatomia pélvica, dificultando ou impedindo o desenvolvimento e sustentação da gravidez. OBS.: Nesse caso para engravidar a paciente precisaria realizar tratamento por fertilização in vitro. • Lesões superficiais peritoneais: lesão superficial no peritônio. A sua coloração viria de acordo com o seu tempo de desenvolvimento. Fonte: https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/ Figura 2: endometriose superficial típica. • Endometrioma: consiste em cistos de endometriose no ovário. https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/ Fonte: https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/ Figura 3: endometriose vesicular. • Endometriose profunda infiltrativa: é considerada como profunda quando invade mais do que 5mm de profundidade no tecido endotelial. Fonte: https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/ Figura 3: endometriose profunda: bloqueio de fundo de saco por aderências (seta). Epidemiologia da endometriose Acredita-se haver prevalência da doença de 10% em mulheres em idade reprodutiva. Além disso, cerca de 30% das mulheres que sofrem infertilidade tem endometriose e cerca de 50% ou mais das pacientes acometidas por esta patologia são inférteis. Sintomas - Dismenorreia grave (cólica antes e durante a menstruação) https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/https://www.drdanielfaundes.com.br/o-que-e-endometriose/ - Dor pélvica - Dispareunia de profundidade (dores profundas durante o ato sexual). - Quando invade a bexiga: vontade frequente e urgente de urinar, dor ao urinar e sangue na urina. - Quando invade o intestino: dor ou dificuldade de evacuar, dor anal e sangramento nas fezes OBS.: mesmo sendo uma doença crônica e complexa, os sintomas podem ser controlados e as chances de engravidar melhoradas após o tratamento, principalmente quando é diagnosticada precocemente. Diagnóstico Exames de imagem: US com preparo intestinal e RM para detectar localização, quantidade e profundida do tecido ectópico e comprometimento dos órgãos. Padrão-ouro: visualização direta por videolaparoscopia, porém, no Brasil, a laparoscopia é utilizada sempre como tratamento por se tratar de um procedimento invasivo e pelo alta sensibilidade e especificidade dos exames de imagem. Tratamento Para aliviar os sintomas característicos de endometriose, são prescritos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) para dismenorreia e medicamentos hormonais que bloqueiem a menstruação. No entanto, se a mulher deseja engravidar ou quando a endometriose infiltrativa profunda causa sintomas mais severos, pode ser indicado o tratamento cirúrgico, para remoção dos implantes, aderências pélvicas, e endometriomas, além da correção da anatomia uterina, quando for o caso. A técnica utilizada é a videolaparoscopia cirúrgica, que prevê pequenas incisões de 0,5 a 1,0 cm. Em muitos casos diagnóstico e cirurgia são realizadas em um mesmo procedimento, a prática é chamada na medicina como see and treat ou ver e tratar. Ou histerectomia total com ou sem salpingo-ooforectomia bilateral como tratamento definitivo. Indicação da laparotomia: A laparoscopia costuma ser usada para remover as lesões; as lesões peritoneais e ovarianas podem ser eletrocauterizadas ou, raramente, vaporizadas ou excisadas a laser. Endometriomas devem ser removidos porque a remoção previne a recorrência de forma mais eficaz do que a drenagem. Após esse tratamento, as taxas de fertilidade são inversamente proporcionais à gravidade da endometriose. Se a ressecção está incompleta, às vezes administram-se agonistas de GnRH durante o período perioperatório, mas não está claro se essa tática aumenta as taxas de fertilidade. A ressecção dos ligamentos uterossacros com eletrocauterização por via laparoscópica ou laser pode reduzir a dor na região mediana da pelve. 3. Medicamento em uso Dienogeste Indicação: é um medicamento que contém hormônio progestogéno para o tratamento dos sintomas dolorosos das lesões da endometriose, reduzindo o tecido afetado, o que diminui a dor pélvica e os sangramentos menstruais anormais. A ovulação é inibida na maioria das mulheres em tratamento, porém dienogeste não é um contraceptivo, sendo necessário uso de contraceptivo não hormonal. Mecanismo de ação: é um derivado da nortestosterona com atividade antiandrogênica, que se liga ao receptor de progesterona no útero com apenas 10% de afinidade relativa da progesterona, reduzindo a produção endógena de estradiol e desta forma, suprimeindo os efeitos tróficos deste hormônio tanto sobre o endométrio eutópico quanto no ectópico. Quando administrado continuamente, o Dienogeste leva a um ambiente endócrino hipoestrogênico, hipergestagênico, causando decidualização do tecido endometrial e, em seguida, atrofia das lesões endometrióticas. Reações adversas: as reações adversas são mais frequentes nos primeiros meses de tratamento e tende a cessarem ao longo do tratamento. - cefaleia (9%) - desconforto nas mamas (5,4%) - humor deprimido (5,1%) - acne (5,1%) 4. Diagnóstico de enfermagem (NANDA-I) a. Risco de infecção no sítio cirúrgico relacionado à alteração na integridade da pele por procedimento invasivo e duração da cirurgia que aumenta o tempo de exposição. b. Risco de hipotermia perioperatória relacionado à baixa temperatura em sala operatória e ao procedimento cirúrgico com anestesia geral. c. Risco de lesão por posicionamento perioperatório relacionado à perda das medidas protetoras habituais, secundária à anestesia, imobilização e tempo cirúrgico entre uma e oito horas. 5. Resultados esperados (NOC) a. Controle de riscos: processo infeccioso Indicadores: Reconhecimento de comportamentos associados a risco de infecção de frequentemente demonstrado (3) aumentar para consistentemente demonstrado (5). Monitoramento de mudanças no estado geral de saúde de raramente demonstrado (2) para consistentemente demonstrado (5) Escore atual: 5 Escore planejado: 10 b. Termorregulação Indicador: Hipotermia manter em nenhum (5) Escore atual: 5 Escore planejado: 5 c. Controle de riscos Indicador: Compromissos com as estratégias de controle de riscos manter em consistentemente demonstrado (5) Escore atual: 5 Escore planejado: 5 6. Intervenções (NIC) a. Cuidados com o local de incisão cirúrgica – técnico de enfermagem (sempre) b. Regulação da temperatura: Perioperatória – técnico de enfermagem c. Controle de pressão sobre áreas do corpo • Implementação a. Identificar sinais locais e sistêmicos de processo infeccioso Lavar as mãos. Ressaltar as técnicas apropriadas de higiene das mãos para todos os profissionais entre as intervenções terapêuticas Manter técnica estéril em todos os procedimentos invasivos Administrar antibiótico profilático conforme prescrição médica b. Fazer monitoramento dos sinais vitais Cobrir com cobertores a pele exposta que não esteja sendo operada Elevar a temperatura do ambiente c. Manter o alinhamento adequado do corpo do paciente Evite movimentos descontrolados Proteger proeminências ósseas e áreas de apoio com coxins e algodão ortopédico, se necessário REFERÊNCIAS ANDRÉ, G. M. Endometriose infiltrativa profunda: conheça a doença. [online]. Reproduce Clínica. Disponível em: https://reproduce.com.br/endometriose-infiltrativa-profunda-conheca-a-doenca/. Acesso em: 01 jun. 2023. CONSULTA REMÉDIOS. Bula do Dienogeste. [online]. Disponível em: https://consultaremedios.com.br/dienogeste/bula#para-que-serve. Acesso em: 01 jun. 2023. DOCHETERMAN, J. M. & Bulechek, G. M. Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). Porto Alegre: Artmed, 4 ed., 2008. HERDMAN, T. H; KAMITSURU, S. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA-I: Definições e Classificação 2018-2020. Porto Alegre: Artmed, 11 ed. JOHNSON, M., Mass, M. & Moorhead, S. 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