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Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as � Publisher: Fabio Carvalho VICTOR CIVITA (1907-1990) Fundada em 1950 ROBERTO CIVITA (1936-2013) Diretor de Redação: Mauricio Lima DIRETORIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO EDITORIAL E AUDIÊNCIA Andrea Abelleira DIRETORIA EXECUTIVA DE OPERAÇÕES Guilherme Valente DIRETORIA DE MONETIZAÇÃO E RELACIONAMENTO COM CLIENTES Erik Carvalho VEJA 2 836 (ISSN 0100-7122), ano 56/nº 14. VEJA é uma publicação semanal da Editora Abril. Edições anteriores: Venda exclusiva em bancas, pelo preço da última edição em banca mais despesa de remessa. Solicite ao seu jornaleiro. VEJA não admite publicidade redacional. Redatores-Chefes: Fábio Altman, Policarpo Junior e Sérgio Ruiz Luz Editores Executivos: Daniel Hessel Teich, Monica Weinberg Editor Sênior: Marcelo Marthe Editores: Amauri Barnabe Segalla, André Afetian Sollitto, Carlos Eduardo Valim Banhos Henrique, Clarissa Ferreira de Souza e Oliveira, José Benedito da Silva, Raquel Angelo Carneiro, Sergio Roberto Vieira Almeida, Tiago Bruno de Faria Editores Assistentes: Larissa Vicente Quintino, Ricardo Vasques Helcias, Thomaz de Molina Repórteres: Alessandro Giannini, Allaf Barros da Silva, Amanda Capuano Gama, Bruno Caniato Tavares, Diego Gimenes Bispo dos Santos, Felipe Barbosa da Silva, Felipe Branco Cruz, Felipe da Cruz Mendes, Gustavo Carvalho de Figueiredo Maia, Gustavo Magalhães da Silva Junior, João Pedroso de Campos, Kelly Ayumi Miyashiro, Laísa de Mattos Dall’Agnol, Leandro Bustamante de Miranda, Leonardo Caldas Vargas, Luana Meneghetti Zanobia, Lucas Vettorazzo Rodrigues Barros, Luiz Paulo Chaves de Souza, Marcela Moura Mattos, Maria Aguida Menezes Aguiar, Maria Eduarda Gouveia Martins Monteiro de Barros, Meire Akemi Kusumoto, Paula Vieira Felix Rodrigues, Ramiro Brites Pereira da Silva, Sérgio Quintella da Rocha, Simone Sabino Blanes, Valmir Moratelli Cassaro, Victoria Brenk Bechara, Victor Irajá Sucursais: Brasília — Chefe: Policarpo Junior Editor Executivo: Daniel Pereira Editor Sênior: Robson Bonin da Silva Editora Assistente: Laryssa Borges Repórteres: Hugo Cesar Marques, Ricardo Antonio Casadei Chapola Rio de Janeiro — Chefe: Monica Weinberg Editores: Ricardo Ferraz de Almeida, Sofia de Cerqueira Repórter: Caio Franco Merhige Saad Estagiários: Camille da Costa Mello, Diego Alejandro Meira Valencia, Eric Cavasani Vechi, Felipe Soderini Erlich, Gabriela Caputo da Fonseca, Giovanna Bastos Fraguito, Maria Fernanda Firpo Henningsen, Maria Fernanda Sousa Lemos, Marilia Monitchele Macedo Fernandes, Paula de Barros Lima Freitas, Pedro Henrique Braga Cardoni, Thiago Gelli Carrascoza Checadora: Andressa Tobita Editor de Arte: Daniel Marucci Designers: Ana Cristina Chimabuco, Arthur Galha Pirino, Luciana Rivera, Ricardo Horvat Leite Fotografia — Editor: Alexandre Reche Pesquisadora: Iara Silvia Brezeguello Rodrigues Produção Editorial: Supervisora de Editoração/Revisão: Shirley Souza Sodré Secretárias de Produção: Andrea Caitano, Patrícia Villas Bôas Cueva, Vera Fedschenko Revisora: Rosana Tanus Supervisor de Preparação Digital: Edval Moreira Vilas Boas Colaboradores: Fernando Schüler, José Casado, Lucilia Diniz, Maílson da Nóbrega, Murillo de Aragão, Vilma Gryzinski, Walcyr Carrasco Serviços Internacionais: Associated Press/Agence France Presse/Reuters www.veja.com Redação e Correspondência: Rua Cerro Corá, 2175, lojas 101 a 105, 1º andar, Vila Romana, São Paulo, SP, CEP 05061-450 IMPRESSA NA PLURAL INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA. 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No assunto pri- Br as il R ev ist as 2 | 4 NA CONTRAMÃO O leilão da Vale e algumas capas de VEJA sobre privatização: apesar dos benefícios de um Estado mais enxuto para o país, a oposição ideológica ainda persiste vatização, esse é o caso da nova gestão petista. Mesmo an- tes de assumir o governo, o presidente Lula voltou suas ba- terias para a já concluída transferência do controle da Ele- trobras, a qual chamou de “um crime de lesa-pátria”, como se, nas mãos do Estado, diversas ilegalidades não tivessem sido cometidas contra o Erário (além, é claro, da absoluta falta de competência para tocar projetos na área). Em ou- tra frente, nomes graúdos do governo têm pressionado a Petrobras a não repassar ativos já negociados para outras empresas. Enfim, um colossal retrocesso. Para piorar, até o marco do saneamento corre risco. Defendida por mem- bros da atual administração, uma revisão do texto pode Br as il R ev ist as 3 | 4 dar mais tempo para empresas estaduais ou municipais manterem sem licitação contratos com prefeituras, algo in- justificável depois de décadas de fracassos da iniciativa pú- blica em atingir metas de universalização. Ninguém imaginaria que, de volta ao poder, o petismo te- ria se convertido em ferrenho defensor da iniciativa privada. Mas as reservas que os seus políticos mantêm frente a esses investimentos — curiosamente, num momento de contas públicas bastante fragilizadas — ultrapassam o razoável. A insistência em acreditar no Estado como o único capaz de ser um grande indutor do crescimento da economia vai con- tra todas as evidências práticas e teóricas. Como estaria o setor de comunicações brasileiro se tivesse seguido, até hoje, trajetória similar à do setor de saneamento? No fim dos anos 90, a Telebras chegava a levar anos para instalar linhas de telefonia fixa. Nas mãos da iniciativa privada, a eficiência fi- nalmente foi alcançada: o Brasil possui hoje 40 milhões de linhas de celular a mais do que o seu número de habitantes. No setor de mineração, a Vale atualmente paga 45 bilhões de reais em impostos anuais e emprega mais de 70 000 pes- soas. Em 1997, tinha 15 000 funcionários e o faturamento era de apenas 3 bilhões de reais. Na concepção mais atual de atuação do Estado, ele po- de ajudar em alguns setores, regulamentando as empresas que assumem serviços como a administração de estradas ou abastecimento de água, ficando mais livre assim para concentrar energia e investimentos em áreas essenciais Br as il R ev ist as 4 | 4 como saúde e educação. No ideário petista, no entanto, vi- gora ainda uma certa ojeriza ao modelo. Esse dogmatis- mo, vale ressaltar, se contrapõe hoje ao esforço de vários governadores na direção contrária. Em São Paulo, como mostra a reportagem que começa na página 24, Tarcísio deFreitas luta no momento para concretizar a privatiza- ção do Porto de Santos, ainda sob risco de naufragar dian- te da oposição do presidente. Enquanto escala seus ministros para embarreirar proje- tos como esse e congelar privatizações óbvias e urgentes, como a dos Correios, Lula sonha em reviver o PAC. Um es- tudo recente da consultoria Inter.B mostrou que o progra- ma prioritário de investimentos das gestões petistas teve um impacto direto e indireto de apenas 1,23% do PIB, anualmente, entre 2007 e 2014 (bem menos do que se alar- deava anteriormente). Por último, mas não menos impor- tante, o Estado grande foi terreno que semeou diversos es- cândalos de corrupção, servindo de cabide de empregos para políticos mais interessados em arrecadar recursos pa- ra o próprio bolso do que em fazer o Brasil crescer. A ava- lanche de denúncias, aliás, levou o partido ao ponto mais baixo de sua história e à prisão de muitos dos seus correli- gionários. Portanto, é surpreendente constatar que, depois de tudo isso, a atual administração continue disposta a re- petir os mesmos erros do passado. ƒ Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as “JUIZ NÃO É VINGADOR” Corregedor Nacional de Justiça critica magistrados que se comportam como paladinos e afirma que a democracia foi preservada graças à ação enérgica do Judiciário LARYSSA BORGES C R IS TI A N O M A R IZ /A G . O G LO B O 1 | 9 ENTREVISTA LUIS FELIPE SALOMÃO Br as il R ev ist as O CORREGEDOR DO CNJ é uma espécie de xerife encar- regado de investigar irregularidades praticadas por juízes e tribunais. No cargo há sete meses, Luis Felipe Salomão con- duz atualmente cerca de 2 800 apurações dessa natureza, a mais rumorosa delas a que resultou recentemente no afasta- mento de Marcelo Bretas, magistrado responsável pela Ope- ração Lava- Jato no Rio de Janeiro. Essa é a parte mais visível do trabalho. Há outras menos visíveis, mas não menos im- portantes, que incluem a busca de soluções para problemas como a morosidade de processos e ações de abrangência so- cial. O órgão vai coordenar, em breve, uma força-tarefa que visa a dar cidadania a cerca de três milhões de brasileiros que beiram a invisibilidade por não terem sequer o registro do próprio nascimento — a maioria é de moradores de rua. Juiz do Superior Tribunal de Justiça (STJ) há catorze anos, o ministro diz que os magistrados não podem ser responsabili- zados pela impunidade no Brasil, critica os colegas que se comportam como vingadores e afirma que, se não fosse a ação enérgica do Judiciário, a democracia brasileira teria sido sufocada. A seguir os principais trechos da entrevista. Por que o cidadão comum tem a sensação de que a impu- nidade é a regra no país, especialmente quando se trata de casos envolvendo poderosos? No Conselho Nacional de Justiça temos metas para julgamentos de processos que envolvem casos de corrupção. Mas, ao contrário do que pensa o senso comum, o juiz não pode ter compromisso 2 | 9 Br as il R ev ist as “A Lava-Jato se perdeu quando os juízes confundiram a função deles com atividade política e começaram a se expor demais, a se acharem paladinos” com um resultado predeterminado, com a punição de quem está sendo acusado. O compromisso de todo e qualquer juiz é julgar de forma célere, resguardar o direito de defesa e aplicar a lei no caso concreto. O papel do Judiciário não é o de ser o paladino no combate à corrupção. Se existe corrupção e não há corruptos presos, algo está errado, certo? Não estou adotando uma postura defensiva, mas o sistema criminal no Brasil não é composto só pelo juiz. Ele envolve delegado, Ministério Público, estrutura de apuração, perícia. Reconheço que nosso sistema criminal está longe de ser o ideal, mas a sensação de impunidade que recai no colo do Judiciário não é responsabilidade exclusiva dele. É preciso investir em sistemas de inteligência, troca de informações. Como juiz, estou aqui para analisar as provas que me são trazidas. Claro que não sou uma samambaia, 3 | 9 Br as il R ev ist as mas, sob o risco de perder a isenção que todo magistrado deve ter, não posso ser um vingador. Juiz não é vingador. Mesmo em casos notórios em que políticos confessaram seus crimes ou foram apanhados em flagrante, poucos acabaram de fato penalizados. Varas específicas para julgar casos assim não minimizariam essa distorção? Com quase 35 anos de experiência no Judiciário, acho que a especialização na área criminal gera deformações. Varas especializadas com temas muito midiáticos levam a uma exposição que não combina com a atividade de juiz. Muitos magistrados acabam misturando a atividade com política, se extasiam com reconhecimento, acham que vão resolver todos os problemas do Brasil, extrapolam, abandonam a ideia de imparcialidade, e vai tudo por água abaixo. O senhor está se referindo à Operação Lava-Jato? A La- va-Jato se perdeu quando os juízes confundiram a função deles com uma atividade política e começaram a se expor demais, se acharem paladinos. Na Corregedoria, por exem- plo, está sendo apurado no âmbito administrativo o caso do magistrado Marcelo Bretas, responsável pela operação no Rio. O processo dele está sob sigilo, mas o Plenário do CNJ reconheceu que ele ultrapassou a linha não só pela mistura da atividade judicial com a política, mas por sua própria conduta, incompatível com o que se deve esperar de um juiz. Recentemente, recebemos reclamações disciplinares 4 | 9 Br as il R ev ist as também contra o juiz Edua rdo Appio, o responsável pela Lava-Ja to no Paraná. Vamos examinar as condutas dele. O senador Sergio Moro está nesse rol de magistrados que misturaram a magistratura com a política? Sim. Ele é um exemplo clássico de utilização da toga com finalidade política. Essa suspeição foi reconhecida pelo Supremo. O fato de o juiz deixar a magistratura para trabalhar no Exe- cutivo e depois disputar uma eleição parlamentar, por si só, comprova essa mistura. Por isso, defendo o cumprimento de uma quarentena para que magistrados possam entrar na política após deixarem o cargo de juiz. A Polícia Federal descobriu um plano para assassinar Mo- ro. Como o senhor viu a declaração do presidente Lula de que isso seria uma armação? Nesse caso específico, a Polí- cia Federal agiu com muita competência e provou que o tra- balho com inteligência é a melhor solução para enfrentar o crime organizado. Descobrir o plano e agir contra seus auto- res também foi um sinal de vitalidade da corporação e uma demonstração clara da importância de atuar como uma polí- cia republicana. Foi uma ação policial muito bem-feita. A maior pena para um juiz pego em irregularidades é a aposentadoria compulsória. Ele vai para casa e continua recebendo salário, mesmo sem trabalhar. Isso não está mais para um prêmio? Há uma percepção errada do que 5 | 9 Br as il R ev ist as seja a aposentadoria compulsória. Ela não é um prêmio pa- ra o juiz nem significa a manutenção do salário que ele re- cebia quando estava no cargo. Com a punição, o magistra- do perde os vencimentos, mas, como contribuiu para a Pre- vidência Social, tem direito a receber o que recolheu. Um criminoso não perde a aposentadoria do INSS porque co- meteu um crime. O que qualquer um pagou até o dia da pu- nição entra no cálculo da aposentadoria. Isso vale para to- do cidadão, e não só para os magistrados. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes pode ser colocado na categoria de juiz herói ou vingador? Como presidente do Tribunal Superior Eleito- ral, se ele não tivesse tido a firmeza que teve, as eleições tal- vez nem tivessem acontecido. Eu, na condição de juiz elei- toral, acompanhei parte do processo instaurado contra o ex-presidente Bolsonaro. Criamos precedentes importan- tes para a democracia, como a tese de que atacar a urna ele- trônica, o sistema de votação ou o sistema eleitoral gera inelegibilidade e cassação. Foi preciso muitacoragem do ministro Alexandre e do TSE para poder levar à frente o processo eleitoral de 2022. As instituições democráticas e o Judiciário deram uma prova muito robusta de que atuam efetivamente para o estado democrático de direito. Juristas questionam muitas dessas decisões. Falam, in- clusive, em abusos. As decisões do ministro Alexandre de 6 | 9 Br as il R ev ist as “Se não fosse a independência, a autonomia e a firmeza do Judiciário, estaríamos numa situação muito pior. Não sei exatamente onde, mas certamente muito pior” Moraes foram confirmadas pelo plenário. O papel dele foi muito relevante na defesa da democracia. Dele, do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal. Se não fosse a independência, a autonomia e a firmeza do Judiciá- rio, estaríamos numa situação muito pior. Não sei exatamen- te onde, mas certamente muito pior. O senhor se alinha com a tese de que a democracia bra- sileira de fato correu risco? Acho que não é uma tese, são fatos concretos que apontam nessa direção. Se não fosse o Judiciário independente, a imprensa livre e a reação da so- ciedade, que percebeu o avanço do sistema autoritário, não tenho dúvida de que algo terrível poderia ter acontecido. O êxtase dessa marcha foi no dia 8 de janeiro. Cabe agora ao TSE analisar a questão da inelegibilidade do ex- presidente Bolsonaro, e no campo criminal fatos serão apurados. 7 | 9 Br as il R ev ist as É aceitável que juízes recebam por palestras ou eventos patrocinados por empresários que podem no futuro ter processos nas mãos desses mesmos magistrados? O juiz não pode ser impedido de realizar uma atividade docente. A maioria desses eventos é feita por entidades ligadas à magis- tratura e é realizada para debates relevantes para o funciona- mento do Poder Judiciário. O que é ruim — e ilegal — é a confusão entre o interesse privado e a atividade pública. A monetização de palestras, a meu ver, é um problema ético que cada juiz avalia do seu ponto de vista. É esperado desse magistrado que se declare suspeito se vier a deparar com um processo desse contratante. Mas cada caso é um caso. Qual deve ser o limite de participação de magistrados em redes sociais? A lei impede que haja politização e que o juiz externe qualquer opinião com conotação política para que não se quebre a imparcialidade de sua atuação no jul- gamento. Isso vale da mesma forma para as redes sociais. Em alguns casos com os quais nos deparamos no CNJ, a atuação de magistrados nas redes era tão intensa que trans- bordava para a realização de cursos em que eles ganhavam dinheiro. Também encontramos episódios em que o sujeito perdia o tempo dele na internet e não cumpria com a obri- gação de julgar processos. O Congresso discute a possibilidade de criar mandatos para os juízes do STF e alterar a forma como eles de- 8 | 9 Br as il R ev ist as vem ser escolhidos. O senhor vê necessidade de mu- danças? O mundo todo vem debatendo o tempo de per- manência e a melhor forma de escolher um cidadão que vai dizer o que é ou não é constitucional. São discussões que visam a conferir legitimidade para o indicado a uma cadeira de ministro do Supremo. É preciso, porém, anali- sar cuidadosamente os prós e os contras de cada uma dessas propostas. O que não me parece razoável é sim- plesmente instituir mandatos, alterar a idade de ingresso e modificar o próprio funcionamento do sistema sem que haja um consenso com o Supremo. Representatividade é um requisito a ser observado pa- ra a escolha de futuros ministros do STF? Como requisi- to constitucional, não. O tema da representatividade está muito presente hoje, mas isso não pode tolher a escolha do presidente da República. O critério constitucional só estabelece que o indicado tem de ter o mínimo de 35 anos, notório saber jurídico e reputação ilibada. A representati- vidade até pode ser um elemento a ser considerado, mas não pode ser vinculativo. Quem diz isso é o juiz do STJ ou o candidato a ministro do Supremo? O presidente da República detém legitimidade e competência para fazer as melhores indicações para o Su- premo Tribunal Federal, que depois terão seus nomes sa- batinados no Senado da República. ƒ 9 | 9 Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as Br as il R ev ist as IMAGEM DA SEMANA 1 | 2 PATRICK RODRIGUES/NSC TOTAL/AFP UMA ONDA DE BARBARIDADE NOTÍCIAS sobre massacres em escolas sempre foram tristemente comuns em outros países, principalmente nos Estados Unidos, palco de episódios como o de Columbine, em 1999, quando a ação de dois jovens atiradores deixou quinze mortos. Nos últimos anos, infelizmente, esse tipo de brutalidade se tornou frequente no Brasil. O caso mais recente foi registrado na quarta-feira 5, quando Br as il R ev ist as 2 | 2 um criminoso de 25 anos invadiu uma creche em Blumenau (SC), matou quatro crianças com idade entre 4 e 7 anos e feriu mais cinco. A chacina veio dez dias após um aluno de 13 anos matar uma professora e ferir quatro pessoas em uma escola de São Paulo. A escalada é preocupante. Levantamento do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP identificou 22 ataques em escolas brasileiras desde 2002 — onze deles desde o ano passado. O “efeito contágio”, como dizem especialistas, deveria mobilizar as autoridades. Boa parte dos atentados é planejada e incentivada em comunidades no submundo da internet, onde assassinos como os de Columbine são tratados como heróis. A arma usada em Blumenau, uma machadinha, não é coincidência. Desde que foi empunhada no massacre de Suzano (SP), em 2019, que teve dez mortos, ela apareceu em cinco ocorrências em escolas de quatro estados. O alerta está dado. É preciso, no mínimo, criar mecanismos para proteger o ambiente escolar e frear a cultura à violência que se espalha nos meios digitais. Essas iniciativas não apagam a dor no coração das famílias das vítimas, mas podem evitar novas tragédias. ƒ Victoria Bechara Br as il R ev ist as 1 | 3 CONVERSA TIAGO IORC “FUI ALÉM DA MINHA ENERGIA” Após longo período de reclusão, o cantor gaúcho de 37 anos fala da volta à ativa com novo disco e turnê — e analisa a masculinidade tóxica, a pressão por hits e a onipresença de seu pop “fofinho” OLHAR SENSÍVEL O compositor de Amei Te Ver: “A música não vem da razão” D IV U LG A Ç Ã O Br as il R ev ist as 2 | 3 Qual foi a razão de seu autoisolamento a partir de 2018 — reclusão prolongada pela pandemia? Minha vida mudou desde o sucesso das músicas Amei Te Ver e Coisa Linda. Acon- teceram muitas coisas que demandavam tempo, e senti que fui além da minha energia. Sabe quando você come um prato de que gosta até enjoar? Foi isso. Eu estava em desequilíbrio e não acordava com vontade de fazer shows, algo que eu amo. A distância dos palcos não o incomodou? Nas primeiras se- manas após me afastar, eu me arrependi. Ainda estava a 100 quilômetros por hora. Mas depois senti uma felicidade tremen- da, e entrei em um ritmo de pequenos prazeres. Voltei a jogar futebol, a ver os amigos, fazer coisas que eu não fazia. Essa vida mais cotidiana restaurou minha saúde mental e vitalidade. Foi a partir daí que eu peguei o violão e voltei a compor. Você lançou recentemente o álbum Daramô, e vai fazer uma turnê por 22 cidades brasileiras. Como se sente ao vol- tar, enfim, para a estrada? Fiz recentemente shows na Euro- pa, como um aquecimento para a turnê. Eu não fazia ideia do quanto estava com saudade dos palcos. Não faço shows no Bra- sil há quase quatro anos. Sempre gostei de ver minha vida como capítulos. Este é o capítulo do Daramô, composto em parceria com minha mulher, Duda Rodrigues. Após a explosão do hit Amei Te Ver, sente pressão para atin- gir feito semelhante? Não acho que terei o mesmo resultado Br as il R ev ist as 3 | 3 se repetir a fórmula. Percebi que tudo o que diz respeito ao meu trabalho está fora do meu controle. A música não vem da razão, ela vem do sentimento e tomaseu próprio caminho. É uma questão de sensibilidade. Quando você abordou numa letra a masculinidade tóxica e sua relação com ela, muitos zombaram e fizeram me- mes. Qual foi sua intenção ao criar a música que se cha- ma, justamente, Masculinidade? A beleza da arte é fazer com que as pessoas olhem para si. Essa música partiu de ques- tionamentos meus, de trocas e conversas com amigos ao com- preender que existia uma dor ali. Esse era um tema pendente para falar, inclusive com meus familiares, meu pai e meu ir- mão. Achei bonito como brotaram muitos pontos de vista a partir dela. O diálogo nos torna mais próximos — do contrá- rio, viveremos de extremismos. Acredita que o pop fofinho que você faz inspirou outros ar- tistas, como Melim e Anavitória? Imagino que sim. Fura- mos uma bolha na qual predominavam o sertanejo e outros gê- neros mais populares. Sinto que iniciamos um resgate da músi- ca pop e da MPB. Acho ótimo ver que basta uma faísca para gerar outras tantas. Fiquei muito feliz. ƒ Felipe Branco Cruz Br as il R ev ist as DATAS 1 | 3 Em 1983, quando contra- cenou com David Bowie em Furyo — Em Nome da Honra e assinou a trilha sonora do filme dirigido por Nagisa Oshima, o músico japonês Ryuichi Sakamoto já era bastante conhecido em sua terra natal. À frente do pionei- ro grupo Yellow Magic Or- chestra, formado em 1978, ele havia estabelecido as bases da música eletrônica que domi- naria as rádios ao longo dos anos 1980. O filme, no entanto, abriu portas para o sucesso internacional. Suas habilidades co- mo compositor de trilhas foram requisitadas em Hollywood, e ele acabaria assinando produções como O Último Imperador, de 1987, e O Regresso, de 2015. Recebeu um Oscar, um Bafta, um Grammy e dois Globos de Ouro por seu trabalho. Fã de bossa nova, explorou o gênero em trabalhos solo. Sakamoto morreu em 28 de março, aos 71 anos, em decorrência de um câncer, mas o anúncio só foi feito em 2 de abril. O MESTRE DAS TRILHAS VISIONÁRIO O músico Ryuichi Sakamoto: trabalho em múltiplos gêneros musicais KE N IC H I M AT SU D A /Y O M IU R I/A FP Br as il R ev ist as 2 | 3 PA U LO S AL O M ÃO PIONEIRA DAS TELAS A televisão ainda era um veículo de comunicação pou- co conhecido quando Léa Camargo, egressa da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, mos- trou desenvoltura diante das câmeras. Participou das pri- meiras adaptações de teatro para o novo formato televisi- vo, na TV Tupi, ainda nos anos 1950, e foi pioneira da te- ledramaturgia brasileira, participando de produções ini- ciais na também extinta TV Excelsior. De volta à Tupi, no final da década de 70, estrelou papéis importantes em novelas como Mulheres de Areia, de 1973, e a primeira versão de O Profeta, de 1977. Fez comer- ciais, apresentou pro- gramas de TV e parti- cipou de alguns filmes menores. Seus últimos trabalhos foram na TV Globo, na década de 90, como Despedi- da de Solteiro, veicula- da em 1992, e Era uma Vez , de 1998. Morreu em 1º de abril, de causa não divulga- da, poucos dias após completar 90 anos. LONGA CARREIRA A atriz Léa Camargo: papéis em novelas clássicas Br as il R ev ist as 3 | 3 OUVIDO ATENTO Seymour Stein: ele “descobriu” Madonna O CAÇADOR DE TALENTOS Seymour Stein estava em uma cama de hospital, em 1982, quando conheceu uma jovem e promissora cantora: Madonna. O executivo da indústria musical ficou en- cantado e decidiu contratá-la para sua gravadora, Sire Re- cords (atualmente parte da Warner). Com faro para identificar talentos, Stein as- sinou com grupos lendários co- mo Ramones, Talking Heads, Depeche Mo- de e The Smiths. Morreu em 2 de abril, aos 80 anos, em decorrência de um câncer. ƒ EV AN A G O ST IN I/G ET TY IM AG ES Br as il R ev ist as 1 | 6 O ESTADO E A VERDADE O ESTADO brasileiro anda obcecado pela “verdade”. Leio que o governo criou uma procuradoria para combater a “desinformação”. O país viveria uma “ruína moral” e seria preciso combater a “praga” das fake news. O mesmo que faz o novo portal ao estilo fact-checking, no qual o governo diz o que é ou não verdadeiro sobre o próprio governo. O fenômeno não se dá apenas no Executivo. Ainda na campa- nha, o ministro Fachin filosofou que estamos metidos em uma imensa “desordem informacional”, o que justificaria a ação reguladora do Estado. É o que tem ocorrido. Por estas semanas, o Supremo recriou a norma constitucional, que- brando a imunidade de um deputado federal, porque, entre outras razões, ele teria veiculado “fatos sabidamente fal- sos”, nas redes sociais, em um bate-boca sobre o projeto de uma colega deputada. Tudo com direito a uma frase sínte- se: “Liberdade de expressão não é liberdade de propagação de discursos mentirosos”. Isso é tudo muito curioso. Houve tempo em que havia certo consenso de que não cabia ao Es- tado se envolver nessas coisas. Ainda em 2019, o vice-pro- FERNANDO SCHÜLER Br as il R ev ist as 2 | 6 curador-geral eleitoral Humberto de Medeiros dizia que não cabia ao Estado “ser o dono da verdade” e “tutelar so- bre aquilo que é fato”. E que, se tentasse, iria agir como um herói truculento, que “resolve um problema criando vários outros”. Agora as coisas mudaram. Por óbvio, não estamos falando de uma decisão técnica, no curso do devido processo, sobre a verdade de uma prova ou alegação específica. O problema é a presunção da verda- de sobre fatos e opiniões, no debate geral da sociedade. Quem teria a prerrogativa de definir essas coisas? Alguns dizem que Sebastian Castellion, um sábio francês do século XVI, foi o primeiro a se fazer essa pergunta, sugerindo que “somos todos hereges aos olhos de quem diverge de nós”. A pergunta agora parece renascer. Dias atrás, li a proposta do governo para a “lei das fake news”, que tramita no Congres- so. A lei usa quinze vezes a palavra “desinformação”, cria uma Comissão e um código regulando o que pode ou não ser dito. Achei curioso o veto ao impulsionamento de con- teúdos negando “fatos históricos violentos bem documenta- dos, com o objetivo de minimizá-los”. Quem sabe um semi- nário sobre a Revolução Russa? Ou nossa Revolução Far- roupilha? Fiquei no ar. O problema parece generalizado. No último pleito, a Justiça Eleitoral literalmente editou o debate eleitoral, como nunca havia acontecido no país, e mesmo agora uma lei proposta pelo presidente do Senado deseja in- cluir as fake news no rol dos crimes de responsabilidade, passíveis de levar um presidente ao impeachment. Br as il R ev ist as 3 | 6 DIVERSIDADE Tocqueville: a saída não reside no controle da informação, mas na abundância de opiniões PICTURES FROM HISTORY/GETTY IMAGES O argumento pró-censura é sempre muito parecido. Gira em torno de temas como a “disseminação de notícias falsas”, “ameaças à democracia”, “discursos de ódio”. Quanto mais abertos os conceitos, mas discricionariedade nas mãos de quem tem poder. Se você questionar, surge a falácia do espan- talho: “Então pode propaganda nazista? Pode mentir à vonta- Br as il R ev ist as 4 | 6 de?”. Estes dias me aplicaram esta, em um debate, e imediata- mente me lembrei do caso Hunter Biden. À época, o Twitter e o Facebook esconderam a notícia sobre os e-mails compro- metedores para a imagem de Joe Biden, então concorrendo à Presidência, referentes a negócios nebulosos do filho dele na Ucrânia e na China quando o pai era vice-presidente de Ba- rack Obama. Os eleitores foram privados de ter acesso a uma informação que poderia ter afetado sua decisão, porque os do- nos de algumas redes acharam que a informação deveria ser censurada. Fica claro qual é o problema? Durante a campanha eleitoral, nossa Justiça Eleitoral proi- biu os jornais de associarem Lula ao ditador Daniel Ortega. Agora, no início de março, o governo Lula se recusou a assi- nar uma nota conjunta de 55 países, na ONU, incluindo Esta- dos Unidos e grandes democracias europeias, condenando as infrações a direitoshumanos na Nicarágua. Teria sido impor- tante que os eleitores tivessem acesso àquela crítica? Ela era dura demais? Cabia ao Estado bloquear aquela opinião? É evidente que deve haver limites. Cometimento de crimes bem tipificados, como a pedofilia e a injúria ra- “Querem incluir as fake news no rol de crimes passíveis de impeachment” Br as il R ev ist as 5 | 6 cial, são exemplos claros no Brasil. Ou tudo que envolva o que os americanos tipificam como “fighting words”, que funcionam como convocações diretas à violência. Is- so nada tem a ver com um cidadão dizer “prefiro uma di- tadura à vitória do candidato A ou B”, em um grupo pri- vado, ou uma crítica, ácida que seja, a nosso sistema elei- toral. O ministro Alexandre de Moraes disse em um se- minário que “é uma narrativa ridícula” dizer que se está tentando limitar a liberdade de expressão. Com o respei- to devido ao ministro, censurar previamente um filme ou alguém por dizer que prefere viver uma ditadura ou criti- car as urnas eletrônicas (os exemplos poderiam ir longe) é, sim, constranger a liberdade de expressão. A não ser que aceitemos a tese da tutela estatal sobre a verdade. Há muita gente que acredita nisso, em geral quando os cen- surados são os “outros”, um pouco como os hereges, na boa lição de Castellion. O ponto é que delegar ao Estado o direito de arbitrar sobre a verdade é trair uma das gran- des promessas modernas, do poder político como funda- mentalmente apartado da consciência individual. Esta- dos totalitários recriaram essa ideia, com as consequên- cias sabidas. Não vivemos em um Estado totalitário no Brasil. Apenas vamos aceitando, na miséria da guerra política, um iliberalismo a conta-gotas, feito de urgências políticas e visões plásticas de quem detém o poder. Algo que me intriga é a ideia comum de que o surgimento da internet tornou obsoletas as grandes lições modernas so- Br as il R ev ist as 6 | 6 bre a liberdade de expressão. É irônico observar como se pen- sou assim a cada nova revolução nas tecnologias da informa- ção. De fato, há riscos. O rádio, a TV e o cinema foram usados para a guerra e a dominação, tanto quanto para a liberdade. Nossa atual revolução tecnológica parece fatal por ter ofereci- do um desmedido aos indivíduos. Acentuou a dispersão de ideias e valores em um mundo cuja marca de nascença é a própria diversidade. Me lembra a imagem de John Milton, em sua Areopagítica, sobre Osíris, o deus egípcio esquartejado e lançado às águas do Nilo. “Tomaram a virgem verdade, cor- taram suas belas formas em mil pedaços e a jogaram aos ven- tos.” Apenas no juízo final, dizia ele, isso tudo será refeito. Até lá, nosso destino é a incerteza. De um jeito mais pragmático, foi a mesma intuição do jo- vem Alexis de Tocqueville, em sua icônica viagem à América, em 1830. Ele se impressionou com a abundância de jornais circulando na jovem república. Era aquela diversidade de vo- zes que impedia “a formação dessas grandes correntes de opi- nião que derrubam tudo à frente”. Seu ponto é sutil: a saída não reside no controle, mas na abundância. Na multiplicidade de vozes que se opõem, nos enfurecem, mas que ao longo do percurso regulam-se mutualmente. E mais importante: nos ensinam a viver em meio ao ruído, ao risco dado pelo avanço implacável da tecnologia, que não podemos deter. ƒ ƒ Os textos dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões de VEJA Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper Br as il R ev ist as SOBEDESCE 1 | 2 NASA A agência espacial americana vai levar a primeira mulher e o primeiro negro à Lua dentro da nave Orion na missão Artemis II, prevista para 2024. VICKY SAFRA A viúva do banqueiro Joseph Safra e seus familiares encabeçam a lista da Forbes de maiores fortunas brasileiras, com patrimônio estimado em 16,7 bilhões de dólares. RAFAELA SILVA Número 3 do mundo, a judoca carioca conquistou medalha de ouro na categoria 57 quilos feminino no Grand Slam de Antália, na Turquia. SOBE Br as il R ev ist as 2 | 2 CAMILO SANTANA O ministro da Educação congelou o cronograma em curso de implementação do Novo Ensino Médio, bagunçando a vida dos estudantes e das escolas. PRISÃO ESPECIAL O STF derrubou o direito a cela diferenciada para pessoas com diploma universitário, pondo fim à regra surgida na época do Estado Novo, de Getúlio Vargas. WALLACE O jogador de vôlei, ouro pela seleção na Olimpíada de 2016, recebeu punição de noventa dias por fazer uma postagem incitando violência contra o presidente Lula. DESCE Br as il R ev ist as 1 | 4 VEJA ESSA RICK BOWMER/POOL/AFP “Desejo tudo de bom.” GWYNETH PALTROW, atriz, ao pé do ouvido do oftalmologista Terry Anderson, que a acusara de ter provocado um acidente de esqui em 2016. Ela foi absolvida Br as il R ev ist as 2 | 4 “Ainda estou vivo.” PAPA FRANCISCO, ao deixar o hospital em Roma, depois de tratar uma infecção pulmonar “Em sinal de novos tempos, Exército avisa que vai punir quem comemorar golpe de 64. Ignorar a data entre os militares da ativa é 1º passo pra que daqui a alguns anos não tenhamos que assistir o Clube Militar, onde estão os da reserva, fazendo almoço pró- golpe. #DitaduraNuncaMais.” GLEISI HOFFMANN, presidente do PT, em 31 de março, em suas redes sociais “O BC tem feito sua parte.” HENRIQUE MEIRELLES, presidente do Banco Central nos tempos de Lula 1 e Lula 2 “O diabo mora nos detalhes.” FABIO GIAMBIAGI, economista e pesquisador da FGV, a respeito do novo arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad “Mas nem sequer resolvemos os problemas do século XVIII, as grandes contradições, a pobreza generalizada, a desigualdade, a exploração.” RAFAEL CORREA, ex-presidente do Equador, ao criticar o apego da esquerda às pautas identitárias Br as il R ev ist as 3 | 4 “Você nunca sabe qual porcaria vai acontecer com você. Estou velho, cara. O meu corpo dói.” ADAM SANDLER, de 56 anos, depois de fazer uma cirurgia de quadril. O ator estreou a comédia Mistério em Paris, na Netflix “A educação alimentar é um presente que a gente pode dar para as nossas crianças, e é sempre muito mais fácil a gente educar do que ter que reeducar.A gente vê muitos adultos hoje reclamando dos seus hábitos alimentares porque não tiveram isso”. BELA GIL, culinarista e apresentadora, no programa Boas Práticas Escolares, da TV Cultura “Não devemos dar atenção para essas pessoas cheias de ódio. Mas eu gostaria de reconhecer o que o governo do Brasil fez. É impressionante que tenham responsabilizado alguém e mostrado às pessoas que isso não é tolerado. Racismo e homofobia não são aceitáveis, não há lugar para isso em nossa sociedade.” LEWIS HAMILTON, piloto de Fórmula 1, a respeito da condenação de Nelson Piquet, que fez comentários inadmissíveis a respeito do britânico Br as il R ev ist as 4 | 4 “Ver filmes era meu prazer, mais do que o esporte, mais do que a música.” QUENTIN TARANTINO, diretor de cinema “Há toda uma geração de pessoas, crianças, que agora estão voltando aos episódios de Friends e os consideram ofensivos.” JENNIFER ANISTON, a Rachel do celebrado sitcom dos anos 1990 e 2000 “Meus apelidos na escola eram completamente diferentes dos de uma amiga de pele clara. Não que fosse mais fácil para ela. Mas as pessoas têm um entendimento raso sobre o que é ser negro.” IZA, cantora INSTAGRAM @IZA Br as il R ev ist as RADAR 1 | 6 ROBSON BONIN Com reportagem de Gustavo Maia, Lucas Vettorazzo e Ramiro Brites REPETECO Michel Temer, em 2017: slogan dos 100 dias de Lula já foi usado antes MARCOS CORRÊA/PALÁCIO DO PLANALTO Eterno retorno Michel Temer achou graça na escolha do slogan dos 100 dias do governo Lula. A frase “O Brasil voltou” foi a marca de sua gestão em 2017. “Falei em Davos e foi um sucesso”, relembra. Terror no campo EnquantoLula pena para conquistar o apoio dos ru- ralistas no Congresso, o avanço de acampamentos do MST nos arredores de fazendas de São Paulo tem provocado uma corrida de Br as il R ev ist as 2 | 6 produtores à Justiça paulis- ta. Só em março, foram quinze ações denunciando líderes do MST por amea- ças no campo. Não vai acabar bem Os produtores pedem à Justiça garantias de posse e multa diária aos invaso- res do MST. E alertam: há risco real de confronto e até de mortes nessas áreas de conflito. Em algumas cidades, os fazendeiros se organizam em grupos de WhatsApp para enfrentar o MST. Arquivado A PGR descartou recente- mente investigar Lula por desperdício de dinheiro pú- blico ao ter optado por mo- rar num hotel de Brasília durantes as primeiras se- manas de mandato. Todo o cuidado é pouco Lula informou à PGR que só usou o hotel porque era pre- ciso realizar obras para “au- mentar o nível de seguran- ça” no Palácio da Alvorada. Menos um tormento Pelo menos uma coisa me- lhorou para Lula nesses três meses de governo. Segundo Flávio Dino, as ameaças de morte contra o petista, mar- cantes na campanha, aca- baram. Ótima notícia. Cruel, mas dentro da lei A PGR arquivou uma ação movida por servidoras ges- tantes ou que foram exone- radas pelo governo Lula du- rante a licença-maternidade. Pagamos tudo O governo petista alega que o fato de a servidora estar grávida ou em licença não Br as il R ev ist as 3 | 6 garante estabilidade em cargo comissionado. Diz ainda que todos os direitos delas foram pagos. Nada como o silêncio Jair Bolsonaro foi aconse- lhado a ignorar as provoca- ções de Gleisi Hoff mann. A leitura é de que ela busca status de presidenciável ao provocá-lo. Na estrada A partir de maio, o PL vai virar uma espécie de agên- cia de viagens. Bolsonaro visitará dois estados por mês. Michelle e Braga Net- to também terão roteiros independentes pelo país. Caravana paulista Se depender de Valdemar Costa Neto, as primeiras viagens de Bolsonaro serão para o interior de São Paulo. Coisa de maluco O aloprado bolsonarista que postou no Facebook uma foto de Lula perfura- do a bala escapou de ser investigado. Apesar do “mau gosto”, a postagem não configurou crime, diz a PGR. O amor vem primeiro Bastante sincero nessa vol- ta dos EUA, Bolsonaro dis- se a um aliado que não quer que a aventura política de Michelle nas urnas prejudi- que seu casamento. Adversário ideal Outro dia, ao cruzar com Ricardo Salles na Câmara, Guilherme Boulos deu um tapinha nos ombros do “colega”: “E aí, prefeito?”. Os dois buscam a polariza- ção para disputar a prefei- tura de SP. Br as il R ev ist as 4 | 6 Sonho meu Na China, Lula vai assinar pelo menos quatro acordos aguardados pelo agro. Car- los Fávaro, da Agricultura, está otimista. “Tratativas que há muito a gente sonhava de- vem se concretizar”, diz. Tomara que dê certo Depois do sucesso do lan- çamento de sua biografia — foram mais de 1 000 autó- grafos numa noite —, João Doria foi até a casa de FHC le- var um exemplar autogra- fado do livro. O ex-presi- dente assina o prefácio da obra. Entre memórias e avaliações do momento, FH disse a Doria que está “mo- deradamente otimista” com o governo Lula. Ele não vai Apesar de Lula ter dito a Rodrigo Pacheco que iria ao Senado debater com Rober- to Campos Neto, Fernando Haddad descarta a partici- pação do chefe. Follow the money Uma grande banca de São Paulo está reunindo ricaços que perderam dinheiro no FPB Bank de Nelson Pinhei- ro, no Panamá, para acioná- -lo na Justiça. Uma briga de 100 milhões de dólares. SARAU Doria e FH: viagem pelas páginas da biografia do ex-governador Br as il R ev ist as 5 | 6 Eles sabiam Recentemente, Pinheiro prestou depoimento na PF. Disse que foi diagnosticado com Alzheimer e que os clientes que fizeram inves- timentos no banco tinham ciência dos riscos. Briga de gente grande Uma grande rede de fast food se prepara para decla- rar guerra à Coca-Cola no Cade. A ação está no forno. Aqui, tudo certo O TCU descartou crime de Bolsonaro no caso dos ca- minhões e tratores distri- buídos pela Codevasf a pre- feituras do Nordeste no pe- ríodo pré-eleitoral. O lado doce do poder A Câmara já bancou neste ano viagens oficiais de 32 deputados. Foram 650 000 reais em visitas a destinos como NY, Barcelona, Lis- boa, Dubai... O jogo não para Pablo Nobel, o marquetei- ro de Tarcísio em SP, acaba de abrir a PLTK, agência de marketing político per- manente. “Uma campanha começa logo que a outra acaba. O político não pode abandonar o eleitor por quatro anos”, diz. A coisa esfriou A chance de Joe Biden vir ao Brasil no segundo se- mestre ainda existe, mas, segundo uma fonte da em- baixada dos EUA, é cada vez mais “improvável”. Tá liberado A embaixada, aliás, voltou a autorizar nesta semana a viagem de funcionários ao Br as il R ev ist as 6 | 6 Rio Grande do Norte. O ve- to foi imposto por causa dos ataques de facções crimino- sas no estado. Uma boa causa Nesta passagem pelo Brasil, Chris Martin, vocalista do Coldplay, chamou Helder Barbalho para uma conver- sa política depois do show no Rio. A convite de Martin, o governador do Pará irá a NY no fim do mês participar da cúpula do Global Citizen, iniciativa de combate à crise climática e contra o avanço da pobreza no mundo. ƒ ATIVISTA Chris Martin: show e conversas com políticos brasileiros sobre a crise climática mundial FRANCISCO GUASCO/EFE Br as il R ev ist as 1 | 12 NO CAMINHO CERTO Enquanto a gestão Lula briga contra as privatizações, governos estaduais aceleram planos de desestatização, com geração de recursos e de eficiência SÉRGIO QUINTELLA GESTÃOBRASIL COMEMORAÇÃO Zema: concessão bilionária para o metrô em Belo Horizonte CAUÃ DINIZ/B3/DIVULGAÇÃO Br as il R ev ist as 2 | 12 esde a campanha do ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva vem batendo na tecla o plano de reverter a privatização da Eletrobras, cujo processo, legítimo, foi encerrado há mais de um ano. Esse episódio não teria maiores consequências se ficasse apenas como mais uma de suas bravatas. O problema é que o petista parece ter transformado o negócio em uma ob- sessão, usando argumentos risíveis para justificar esse em- penho e, em última instância, gastando energia à toa, dada a NOS TRILHOS Tarcísio de Freitas: dezesseis projetos na fila em São Paulo ROGÉRIO CASSIMIRO/GOVERNO DO ESTADO DE SP Br as il R ev ist as 3 | 12 alta improbabilidade de se voltar atrás nesse assunto. Após reassumir o poder e citando termos como “lesa-pátria” e “não vai ficar por isso”, Lula escalou a Advocacia-Geral da União (AGU) e até estruturas menores da administração fe- deral (caso da Secretaria do Consumidor) para tentar melar na Justiça e no Tribunal de Contas da União a exitosa opera- ção, responsável por atrair 33,7 bilhões de reais em investi- mentos para o país. Enquanto tenta levar adiante essa im- Algumas das principais estatais na mira dos governadores ATIVIDADE LUCRO LÍQUIDO EM 2022 ALCANCE SITUAÇÃO Empresa de água e saneamento básico Fornece água para 28,4 milhões de pessoas 3,1 bilhões de reais 12 000NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS Privatização em estudo AS JOIAS DA COROA (SP) Br as il R ev ist as 4 | 12 provável empreitada (falta combinar com o Congresso e o próprio TCU, que avalizaram a iniciativa), o presidente de- terminou a suspensão de diversos processos iniciados na gestão de Jair Bolsonaro. Da Petrobras aos Correios, passan- do pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e Dataprev, ele mandou engavetar oito estudos preliminares sobre possí- veis novas privatizações. A ordem do Palácio do Planalto é explícita: brecar qualquer negócio nesse sentido. Felizmente, na contramão do governo federal, alguns dos chefes dos estados mais ricos da federação não seguem ATIVIDADE LUCRO LÍQUIDO EM 2022 ALCANCE SITUAÇÃO Companhia de energia elétrica8,7 milhões de consumidores 4,1 bilhões de reais 16 300NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS Privatização em estudo (MG) Br as il R ev ist as 5 | 12 ATIVIDADE LUCRO LÍQUIDO EM 2022 ALCANCE SITUAÇÃO Companhia de energia elétrica 4,9 milhões de consumidores 1,1 bilhão de reais 5 875NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS Processo de venda iniciado (PR) a mesma cartilha de Lula e iniciaram seus mandatos com o pé no acelerador, prometendo planos ambiciosos na polí- tica de desestatização. Um dos destaques nesse campo é o governador paulista Tarcísio de Freitas, do Republicanos. Ele planeja negociar durante sua gestão dezesseis ativos. Segundo estimativas do Palácio dos Bandeirantes, o paco- te pode atrair quase 170 bilhões de reais em investimentos. A joia da coroa é a Sabesp, companhia de saneamento ava- liada em 33 bilhões de reais. Por isso mesmo, será a opera- ção mais desafiadora. Br as il R ev ist as 6 | 12 ATIVIDADE LUCRO LÍQUIDO EM 2022 ALCANCE SITUAÇÃO Companhia de saneamento básico Fornece água para 6 milhões de pessoas 307 milhões de reais 5 681NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS Privatização concluída — a assinatura do contrato ocorrerá até maio (RS) Além de enfrentar a resistência de prefeitos e de funcio- nários da estatal, o projeto esbarra nos deputados estadu- ais do PT, que recriaram uma frente parlamentar para difi- cultar e até mesmo impedir a aprovação do projeto na Ca- sa. O governador garantiu que só levará a ideia adiante se os estudos mostrarem redução no preço da conta de água. A previsão é que o levantamento seja concluído em seis meses e o processo de negociação, em 2024. “Se o projeto se mostrar viá vel, vamos chegar para a população e per- Br as il R ev ist as 7 | 12 ATIVIDADE LUCRO LÍQUIDO EM 2022 ALCANCE SITUAÇÃO Terminal marítimo de mercadorias e passageiros Movimentou 162,4 milhões de toneladas de carga em 2022 547,3 milhões de reais 1 468NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS Estado e União discutem privatização (SP) guntar se ela é a favor ou contra uma tarifa menor. As pes- soas que darão suas respostas”, afirma Rafael Benini, se- cretário de Parcerias em Investimentos. No caso da priva- tização do Porto de Santos, projeto concebido quando Tar- císio estava no ministério de Bolsonaro, ocorre também uma trombada com os petistas — no caso, com o próprio Lula, que mandou brecar o processo. Em outros estados com projetos avançados ou concluí- dos recentemente, a dissonância entre os poderes estaduais Br as il R ev ist as 8 | 12 e federal também é visível. Em Minas, sob a gestão de Ro- meu Zema, do Novo, nem a assinatura do contrato de con- cessão do metrô de Belo Horizonte, realizada na última se- mana de março, colocou fim a uma interminável disputa político- ideológica. Poucos dias antes da posse de Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, entrou com uma ação popular tentando suspender o negócio. O processo foi julga- do improcedente no início de março, mas Hoffmann recor- re. Ela não está sozinha nessa luta. Dias antes da assinatura da papelada do pacote de concessão, o ministro de Desen- volvimento e vice-pre sidente, Geraldo Alckmin, recebeu “romarias” de políticos alinhados ao PT solicitando o cance- lamento do acordo. O próprio Alckmin, durante a transição, pediu ao então ministro da Economia, Paulo Guedes, o adia- mento do leilão — ainda bem que não foi atendido. Como sempre acontece em situações desse tipo, o cor- porativismo se mobiliza a fim de manter seus privilégios — muitas vezes, com narrativas absolutamente inverídicas. Servidores do metrô mineiro engrossaram recentemente o coro de oposição, cruzando os braços por uma semana, sob o argumento de que a privatização trará perda de emprego para a categoria. “Vai ocorrer o contrário disso, pois o con- trato prevê a expansão do sistema, com a criação de uma li- nha nova”, afirma o secretário de Desenvolvimento Econô- mico de Minas, Fernando Passalio. Segundo as previsões de Zema, os investimentos na rede metroviária mineira de- verão chegar a 4 bilhões de reais. Br as il R ev ist as 9 | 12 DUAS VISÕES Manifestação contra a privatização da Eletrobras e Ratinho Junior: visão pragmática ainda enfrenta forte resistência político-ideológica GUSTAVO BEZERRA G ER A LD O B U B N IA K /A EN Br as il R ev ist as 10 | 12 A gritaria enfrentada por Zema nas Alterosas se repete igualmente nos pampas gaúchos. No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do PSDB, luta para desembaraçar a con- cessão da companhia de saneamento gaúcha, Corsan, fi- nalizada em dezembro do ano passado. “Enquanto houver a discussão na Justiça, inclusive com pedido de liminar aceito, não conseguiremos prever uma data para assinar a documentação”, lamenta o secretário de Parcerias e Con- cessões, Pedro Capeluppi. A expectativa (otimista) do go- verno local é que os advogados públicos consigam destra- var as ações até o fim de maio. Até aqui, outro mandatário bem- sucedido na diminui- ção da estrutura estatal tem sido o governador do Paraná, Ratinho Junior. Mesmo com forte oposição do PT no esta- do, base eleitoral de Gleisi Hoffmann, ele conseguiu apro- var em três dias o plano de transformar a Companhia Para- naense de Energia, a Copel, em uma corporação. No pro- cesso, que deve ser concluído até o fim deste ano, a empresa será pulverizada entre vários acionistas, sendo que o gover- no ficará com uma fatia de 15% (atualmente, essa participa- ção é de 31,1%). No fim do mês passado, ele comemorou a concessão de uma área do Porto de Paranaguá, garantindo investimentos de 338 milhões de reais e se prepara agora para pôr em prática um ambicioso projeto de concessão ro- doviária em parceria com o governo federal. Um dos maio- res do gênero nos últimos tempos, o pacote inclui 3 300 qui- lômetros de rodovias estaduais e federais. Estão previstos Br as il R ev ist as 11 | 12 investimentos de 50 bilhões de reais em obras (duplicações, contornos, viadutos). Para vencer resistências no Palácio do Planalto, Ratinho Junior tem como aliado o ministro dos Transportes Renan Filho, mas Gleisi Hoffmann — sempre ela — já deu sinais de que tentará atrapalhar seus planos. Evidentemente, o fato de alguns desses chefes do Exe- cutivo estadual estarem na oposição a Lula (o caso mais emblemático é o do paulista Tarcísio de Freitas, eleito com o apoio de Bolsonaro) é o motivo mais óbvio para essa dissonância entre governadores e o presidente no campo das privatizações. Para além disso, há o fato de que os es- tados, muitos deles com o caixa em baixa, não têm outra saída a não ser adotar uma postura mais pragmática, en- xugando a máquina pública e atraindo investimentos pri- LONGA ESPERA Eduardo Leite, do PSDB: venda da Corsan só terá um desfecho em maio ITAMAR AGUIAR/PALÁCIO PIRATINI Br as il R ev ist as 12 | 12 vados. “É preciso buscar o racional em todos os proces- sos, ver caso a caso e não transformar cada privatização em uma guerra ideológica”, diz o cientista político e pro- fessor do Insper Carlos Melo. Relativamente recente, o processo de desestatização no Brasil começou a ganhar tração no governo Fernando Hen- rique Cardoso, com privatizações em áreas como as de mi- neração e de comunicações. Os dividendos foram inquestio- náveis. O telefone deixou de ser um patrimônio caro e para poucos (uma instalação demorava uma eternidade), a ponto de ser declarado no imposto de renda, enquanto estatais co- mo a Vale ganharam eficiência e multiplicaram lucros (leia a Carta ao Leitor). “O sucesso das privatizações vai matan- do as ideologias contrárias, como a do PT, que perdeu essa luta”, afirma o economista Luiz Carlos Mendonça de Bar- ros, ex-presidente do BNDES na primeira gestão de Fernan- do Henrique Cardoso. Como fica nítido agora, Lula e seu partido ainda não en- tenderam essa derrota, investindo perigosamente na ultra- passada ideia do Estado como o grande indutor do cresci- mento, algo que vai na contramão de todas as evidências práticase teóricas. Vale lembrar ainda que, nos anos petis- tas, o controle político de estatais como a Petrobras abriu as portas para grandes escândalos de corrupção. Definitiva- mente, algumas lições do passado não foram devidamente aprendidas pelo presidente. ƒ Br as il R ev ist as 1 | 11 DISPUTA DE PODER Formalização da união de cinco partidos de centro- direita para compor um “superbloco” embaralha ainda mais o já bastante confuso xadrez político na Câmara LAÍSA DALL’AGNOL CONTRA-ATAQUE Arthur Lira: tentativa de acertos com PL, União Brasil e até PSDB para neutralizar a nova frente CRISTIANO MARIZ/AGÊNCIA O GLOBO CONGRESSOBRASIL Br as il R ev ist as 2 | 11 NA ÚLTIMA campanha à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva declarou que, frente ao desafio de montar a sua futura base em um Congresso que saía das urnas mais inclinado à direita, daria cabo da tarefa por meio de muita conversa com todos os partidos. O esforço tentaria passar ao largo das estratégias adotadas em suas gestões anteriores, quando a busca de apoio no Legislativo acabou desembocando em escândalos como mensalão e petrolão. Passados quase 100 dias desde a posse e com os novos deputados e senadores já há dois meses nos seus postos, a situação, no entanto, se mostra bastante nebulo- sa, com muitas dúvidas sobre o tamanho real da tropa go- vernista — o que cria alguma incerteza sobre a capacidade para aprovar medidas cruciais para o mandato, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária. O que já estava confuso ficou ainda mais embaçado nos últimos dias com uma movimentação de deputados que não estava no radar: a formação de um bloco na Câmara com 142 deputados e cinco partidos, que já nasceu com tamanho suficiente (mais de um quarto dos 513 parlamentares) para ser protagonista no jogo legislativo. Formado por MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC, o grupo já é maior que o bloco de partidos de esquerda que deram sustentação a Lula na campanha e praticamente se iguala à soma da dupla PL-PP, as legendas que se colocam como oposição (veja o quadro na pág. ao lado). A nova frente surpreendeu também porque se apresentou com partidos que têm cargos no go- Br as il R ev ist as 3 | 11 BATALHA DE BLOCOS Nova frente com 142 deputados é maior que a bancada governista e quase igual à da oposição SUPERBLOCO MDB: 42 PSD: 42 Republicanos: 42 Podemos: 12 PSC: 4 142 DEPUTADOS OPOSIÇÃO PL: 99 PP: 49 Novo: 3 151 DEPUTADOS Br as il R ev ist as 4 | 11 GOVERNISTAS Federação PT/PCdoB/PV: 81 PDT: 17 PSB: 14 Federação PSOL/Rede: 14 126 DEPUTADOS * A sigla tem três ministros, mas vem ameaçando uma postura independente no Congresso ** Apoiaram Lula ainda no primeiro turno, mas estão descontentes com o governo INDEFINIDOS União Brasil*: 59 Federação PSDB/Cidadania: 18 Avante**: 7 Solidariedade**: 5 Patriota: 4 Sem partido: 1 94 DEPUTADOS Br as il R ev ist as 5 | 11 verno, como MDB e PSD, e outros longe da influência de Lula, como o Republicanos, que apoiou Jair Bolsonaro na eleição e sempre comungou da cartilha do Centrão chefiado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O “superbloco”, como tem sido chamado, tem, ao me- nos por ora, uma tendência a ajudar o governo. “No nosso bloco, hoje, 70% é governista”, afirma Fábio Macedo (Po- demos-MA), o líder da frente. Parlamentar pouco conheci- do, que tem proximidade com o ministro Flávio Dino (Jus- tiça), ele já mostra disposição para apoiar projetos impor- tantes de Lula que estão na Casa. “Tem duas MPs de gran- de importância, que são as do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida, e que com certeza, com muita boa von- tade, vamos dar andamento”, diz. Único bloco formalizado até agora na Câmara (o Cen- trão tem uma composição mais solta), a nova frente nasce, em tese, com muita bala na agulha. Com votações de gran- de porte ainda não iniciadas e em meio à queda de braço entre Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PS- D-MG), pelo controle do rito das MPs, o grupo tem poten- cial para provocar alguma reconfiguração do jogo de forças no Legislativo. Um ponto importante é a formação das co- missões mistas para analisar as MPs. Apesar de estar nas mãos de Lira esse poder, será preciso obedecer ao critério da proporcionalidade, o que faria com que o grupo ficasse com três das doze vagas nesses colegiados. Outro aspecto é a maior influência que o quinteto de siglas terá na definição Br as il R ev ist as 6 | 11 das votações. Se antes o jogo estava concentrado entre go- verno e presidência da Câmara, agora há um bloco que, apesar da inclinação governista, pode se colocar como co- laborador de Lira, dependendo do caso. Assim, a turma precisará ser ouvida também nas maiores decisões. A nova frente surgiu no velho estilo de “fazer política”. As negociações ocorreram simultaneamente a duas conver- sas frustradas para alianças — uma entre MDB e PSDB e outra entre PP e União Brasil. Essa última suscitou receio entre os demais partidos, principalmente após a demonstra- ção de força dada por Lira ao aprovar a PEC da Transição, ACENO Fábio Macedo, o líder do bloco: “boa vontade” para votar projetos de Lula FA C EB O O K @ FA B IO D IA S M A C ED O Br as il R ev ist as 7 | 11 muito cara ao governo Lula. A formalização do “superblo- co” buscou neutralizar a influência de Lira e contou com a atuação de três importantes caciques — Baleia Rossi (MDB), Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos), to- dos presidentes de suas siglas. Também pesou a necessidade de acomodar interesses regionais. Na Bahia, MDB e PSD são os principais aliados do PT, enquanto PP e União estive- ram do lado oposto na eleição. Já em São Paulo, MDB e PSD estão com o governador Tarcísio de Freitas, do Republica- nos, cuja direção há muito se afastou do jogo de Lira e seu aliado Elmar Nascimento (União-BA). Nos bastidores, os caciques da frente dizem que eles querem se diferenciar da política “baseada no orçamento secreto” de Lira. É ver para crer. No horizonte, está até uma candidatura à Presidência da Câmara no ainda distante 2025. Arthur Lira, um dos políticos mais poderosos no Con- gresso nos últimos anos, ensaia, claro, uma reação. Como o seu partido, PP, tem apenas 49 deputados, ele articula para construir outra frente, que teria o PL e o União Bra- sil, com quem voltou a negociar. Esse trio teria 207 depu- tados e não seria superado. No caso de uma eventual fe- deração, a estimativa é que as negociações avancem, so- bretudo com a aproximação das eleições municipais. “A tendência é os partidos se afunilarem para ter mais tem- po de televisão e mais acesso a recursos de campanha”, avalia Danilo Forte (União-CE), entusiasta de uma fede- ração “programática” entre a sua legenda e o PP. Outra Br as il R ev ist as 8 | 11 sigla cobiçada é o PSDB, que, apesar de ter se apresenta- do como terceira via em 2022, na Câmara sempre foi mais ligada a Lira e a Bolsonaro. O governo acompanha com atenção as movimentações na Câmara, dialoga com os líderes da nova aliança e afirma não ter preocupações adicionais, por enquanto, com a atua- ção do grupo. “Percebo que esse bloco tem mais a ver com a ocupação de espaços na Câmara do que com ajudar ou atra- SEM BALA Eduardo Bolsonaro: o líder da minoria não controla nem o seu PL SÉRGIO LIMA/AFP Br as il R ev ist as 9 | 11 palhar tanto o governo quanto o Lira”, afirma Zeca Dirceu (PT-PR), líder da bancada petista. Ele aponta até um lado positivo na união de partidos no Legislativo. “A vantagem dos blocos e, principalmente, da criação das federações é a correção de um problema do nosso sistema político, que é o grande número de partidos”, afirma. De fato, há nada me- nos que 21 legendas com assento na Casa. Os membros do novo grupo, ao mesmo tempo em que sinalizam boa vontade, mostram que o governo terá de negociar. O MDB, que tem três ministérios, lançou recen- temente uma carta-compromisso dizendoque a sua atua- ção no Legislativo será propositiva, mas crítica. “Vamos dar suporte às medidas encaminhadas pelo governo, sem deixar de fazer as críticas quando necessário”, diz Baleia Rossi (SP). “O ‘superbloco’ equilibra ainda mais a relação entre os partidos na Câmara. É a volta da grande políti- ca”, completa. Se Lula não tiver habilidade, porém, pode arrumar um problema, como alerta, reservadamente, um integrante da nova frente. “O governo agora vai ter de dialogar com o bloco e dialogar com o Lira, que tem o poder de agenda. Mas o pior cenário seria o Lira conti- nuar ‘todo-poderoso’, com o ‘supercentrão’ e todos os partidos do lado dele”, diz essa mesma fonte. O líder do bloco, Fábio Macedo, apesar do aceno a Lula, também deixa a porta aberta. “A tendência maior do bloco é go- verno, mas respeitando também cada parlamentar que queira ir para a oposição”, afirma. Br as il R ev ist as 10 | 11 Essa é a principal dificuldade hoje no Congresso: pouca gente fala claramente como oposição. Mesmo Lira, apesar do poder que tem para pressionar o governo, não fará movi- mentos bruscos para não correr o risco de um rompimento, o que dificultaria fazer andar as liberações de emendas para a sua base eleitoral e seus aliados. Evidentemente, o líder da minoria, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é o único chefe de bancada a esgrimir um discurso de oposição, mas o exército que lidera é o de um punhado de radicais que têm pouca in- fluência. Mesmo o seu PL, maior partido, com 99 deputa- dos, tem muitos políticos dispostos a votar com o governo. GUINADA Marcos Pereira: Republicanos se afasta do jogo de Lira e do Centrão B R U N O S PA D A /C Â M A R A D O S D EP U TA D O S Br as il R ev ist as 11 | 11 O fato é que, por ora, há muitas tratativas, muitas estraté- gias e muitas projeções, mas pouca certeza sobre o tamanho de cada agrupamento e a influência de cada líder no Con- gresso. A hora da verdade provavelmente se descortinará nas votações importantes, tanto das MPs quanto dos proje- tos que vão tratar da âncora fiscal e da reforma tributária. O cenário de incerteza predominante é agravado pelo inusita- do fato de que o Legislativo, já em abril, ainda não apreciou um único projeto de Lula. O que temos, então, são muitos generais e soldados se movendo enquanto esperam o jogo começar para valer. ƒ INDEPENDÊNCIA Baleia Rossi: o MDB vai apoiar, mas também vai criticar Lula C LE IA V IA N A /C Â M A R A D O S D EP U TA D O S Br as il R ev ist as 1 | 9 PERCALÇOS À VISTA Interesses políticos e lobbies poderosos podem atrasar e dificultar a tramitação do projeto que vai estabelecer as novas regras de controle das despesas do governo MARCELA MATTOS URGÊNCIA Padilha e Pacheco: esforço para que o Congresso vote o arcabouço fiscal o mais rapidamente possível AGÊNCIA SENADO POLÍTICABRASIL Br as il R ev ist as 2 | 9 O GOVERNO vai enviar ao Congresso na próxima sema- na o texto do projeto que estabelece as novas regras para substituir o chamado “teto de gastos”. Em linhas gerais, se- rão apresentadas as medidas que o Ministério da Fazenda pretende implementar para garantir o equilíbrio entre as receitas e as despesas — premissa essencial e urgente na busca da estabilidade econômica. Os mais otimistas consi- deram a possibilidade de o novo arcabouço fiscal ser ana- lisado, votado e aprovado na Câmara dos Deputados até o fim de abril. Os mais realistas preveem um caminho bem mais longo pela frente. Isso porque a proposta envolve uma miríade de interesses — políticos, empresariais, cor- porativos e eleitorais. Até aqui, o projeto já dividiu o PT, provocou divergências dentro do próprio governo, mexeu com os brios do mercado, gerou uma intensa disputa de poder entre parlamentares e acelerou a pressão pela libe- ração de emendas e cargos federais. E é só o início. O fato é que o presidente Lula chega aos 100 dias de go- verno numa situação bem distinta do clima de lua de mel que ele manteve com o Congresso no início dos seus dois primeiros mandatos. Sem uma base mínima de apoio, hoje o Planalto não tem, sequer, a garantia de que um aliado assu- mirá a relatoria do projeto. Os embates, entendimentos e de- sentendimentos começam a partir desse ponto. Há uma lista enorme de candidatos ao posto. O relator é uma espécie de “senhor do destino” de qualquer projeto. Cabe a ele elaborar o parecer que será votado no plenário, acatando ou não su- Br as il R ev ist as 3 | 9 gestões de mudança — no fim, a proposta pode ser aprecia- da sem alterações da versão original ou ter seu conteúdo parcial ou totalmente descaracterizado. Por conta desse po- der extraordinário, relatores de projetos importantes ga- nham dimensão política e, consequentemente, tornam-se os principais alvos dos mais diversos lobbies. A escolha do relator do arcabouço fiscal cabe ao presi- dente da Câmara, Arthur Lira, que já avisou que a tarefa se- rá designada a um deputado “equilibrado” — mas do seu OPOSIÇÃO Ciro Nogueira: “Do jeito que está, será uma surpresa se for aprovada” ED IL S O N R O D R IG U ES /A G ÊN C IA S EN A D O Br as il R ev ist as 4 | 9 OS CANDIDATOS Cajado e Mendonça Filho: disputa pela relatoria do projeto movimenta os partidos PA U LO S ÉR G IO /C Â M A R A D O S D EP U TA D O S B IL LY B O S S /C Â M A R A D O S D EP U TA D O S partido, o PP, cujo presidente é ninguém menos que o sena- dor Ciro Nogueira (PP-PI), ex-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro. Não é uma boa notícia para o governo. Entre os nomes citados até agora, o do deputado Claudio Cajado (PP- -BA) é o que desponta como favorito. O motivo? Ele é um dos parlamentares mais próximos de... Ciro Nogueira, e che- gou a assumir o comando do partido quando o senador ocu- pava o cargo de ministro. Os governistas, especialmente os petistas, se mostram pouco à vontade com a situação. Afi- Br as il R ev ist as 5 | 9 nal, a sigla que se alinhava ao governo Bolsonaro até um dia desses será a dona da agenda econômica do país. Para se ter ideia do que está em jogo, a ministra do Planejamento, Simo- ne Tebet, definiu o arcabouço fiscal e a reforma tributária que virá na sequência, respectivamente, como as balas “de bronze e de prata” da economia. Os dois projetos ficarão sob a égide de Lira e Nogueira. A disputa pela relatoria começou muito antes de o pro- jeto ser anunciado. Inicialmente, num acordo que envol- veu o PP e o governo, chegou-se a cogitar para a função o deputado Mendonça Filho (União-PE), ex-ministro de Mi- chel Temer. A indicação atenderia a duas necessidades: seria bem recebida pelo mercado e, ao mesmo tempo, ser- viria como um agrado ao União Brasil, que, apesar de já ter sido contemplado com três ministérios, reclama por mais espaço no governo. Mas não deu certo. Agora, os agrados precisarão ser feitos tanto aos parlamentares do União quanto aos do PP, que reclamam da demora na libe- ração de emendas e dos cargos no segundo e terceiro es- calões. “Acreditamos que na pós-Semana Santa já haja a definição do relator pela Câmara para que a gente possa iniciar toda a tramitação dentro do Congresso Nacional do novo marco fiscal”, disse o ministro Alexandre Padi- lha, das Relações Institucionais. Em uma conversa mais objetiva que teve com um parlamentar logo depois, o mi- nistro prometeu que as demandas dos congressistas serão resolvidas até meados de abril. Br as il R ev ist as 6 | 9 A seu favor, o governo espera contar com a boa vonta- de de um Congresso mais reformista e que tende a priori- zar a agenda econômica em detrimento das disputas par- tidárias e dos interesses individuais. O clamor nesse senti- do é urgente. Uma pesquisa do Instituto Datafolha mos- trou que o pessimismo com a economia aumentou, atin- gindo 26% da população, que dizem acreditar que haverá uma piora nas contas públicas. A proposta do governo es- tabelece um novo desenho para as regras fiscais dopaís, OTIMISMO Simone Tebet e Haddad: romaria entre os parlamentares para explicar as linhas gerais da proposta JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Br as il R ev ist as 7 | 9 com previsão de reduzir o déficit, estimado em mais de 100 bilhões de reais neste ano, a zero já em 2024. Ainda não está claro como isso será feito. Na apresentação da proposta, cujo detalhamento será encaminhado ao Congresso a partir da semana que vem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantiu que não haverá aumento de impostos. O equilíbrio entre as re- ceitas e as despesas será atingido acabando, entre outras coisas, com “abusos” de grandes empresas. No desafio de aprovar sua regra fiscal, o ministro da Fazenda tem feito uma romaria entre os parlamentares para explicar as li- nhas gerais da proposta — uma sugestão do presidente da Câmara, que já avisou em alto e bom som que o governo não tem uma base robusta. Haddad já se reuniu com lide- ranças aliadas e de oposição para apresentar os pilares do projeto, que visa a ampliar a receita em até 150 bilhões de reais para atingir a meta de equilíbrio das contas públicas. A intenção do ministro, em linhas gerais, foi bem recebida pelos congressistas. A questão é saber de onde tirar o di- nheiro — provável ponto de partida para outras dificulda- des políticas que se apresentarão. O ministro antecipou que a ideia é dar andamento a um pacote de medidas que visa a taxar os sites de apostas eletrônicas, tributar em- presas de e-commerce, principalmente as estrangeiras, que driblam as regras da Receita Federal — o que Had dad chamou de “contrabando” — e alterar regras de incenti- vos fiscais dados pelos estados a empresas. Br as il R ev ist as 8 | 9 Nada disso ainda está formalizado, mas só o anúncio so- bre as intenções do governo já movimentou alguns setores. Na última semana, oito times de futebol, entre os quais gi- gantes como o Flamengo e Palmeiras, emitiram nota con- junta exigindo uma “participação direta” nas discussões so- bre a regulamentação das apostas on-line, alegando um “risco de colapso” da atividade, já que o futebol é o esporte que gera o maior volume de transações dessas plataformas. Por questões eleitorais e mesmo clubísticas, há um bom nú- “CONTRABANDO” Importações: pacote de medidas prevê taxação de empresas de e-commerce e sites de apostas MATT MAWSON/MOMENT/GETTY IMAGES Br as il R ev ist as 9 | 9 mero de deputados dispostos a defender os interesses dos grandes times. Além disso, empresários também já bateram à porta de deputados, advertindo que os números aventados pelo governo estão inflados e que as medidas anunciadas na prática significam um risco para a sustentação financeira das equipes e das empresas. Além dos lobbies como esse, que podem atrapalhar a tra- mitação dos projetos, há a preocupação de que os parlamen- tares incluam no pacote mecanismos que resultem em au- mento de gastos, o que não é improvável. Do lado do gover- no, no entanto, a confiança é absoluta. “Eu penso que o Con- gresso Nacional está realisticamente otimista. Por que eu di- go que é realista esse otimismo? Porque com quem você conversa, da oposição à situação, todo mundo fala: ‘Nós pre- cisamos aprovar a nova regra fiscal e a reforma tributária. Isso não é o governo, é o estado brasileiro que está em jogo”, avalia Fernando Haddad. A realidade, porém, é menos flui- da. Um dos cotados a assumir a relatoria das propostas disse a VEJA que, após o seu nome entrar no rol dos possíveis in- dicados, seu telefone não parou de tocar. Eram representan- tes de diversos setores da economia — todos se dizendo preocupados com o arcabouço e suas implicações. “Com certeza a gente vai propor muitos ajustes, pensando no país, na economia, na inflação. Do jeito que está, será uma sur- presa para mim se a proposta for aprovada. Tem muita re- sistência”, disse a VEJA o senador Ciro Nogueira. Os percal- ços, de fato, serão muitos. ƒ Br as il R ev ist as 1 | 7 RECUO ESTRATÉGICO Aos poucos, Lula vai aparando as arestas com as Forças Armadas e encontra no Superior Tribunal Militar um aliado para a pacificação — mesmo assim, a missão é difícil MAIÁ MENEZES PANOS QUENTES Posse de Camelo no STM: novo presidente age para desanuviar clima com o governo PEDRO GONTIJO/SENADO FEDERAL PODERBRASIL Br as il R ev ist as 2 | 7 AOS POUCOS, graças a muita conversa de bastidores, o nó que se criou entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os militares começa a ser desatado. Nessa semana, o presi- dente teve mais dois encontros públicos com integrantes das Forças Armadas, cujo objetivo principal era sinalizar à caser- na que o Planalto está disposto a construir pontes, agora que a poeira dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro começa a as- sentar. Na terça-feira, na condição de comandante em chefe, Lula participou da cerimônia de nomeação de 56 novos ofi- ciais das três armas e, no dia seguinte, almoçou com a cúpula do Exército. Os eventos foram estrategicamente pensados pe- lo Ministério da Defesa para demonstrar que algumas reivin- dicações feitas à pasta, como o investimento em projetos es- tratégicos e novos equipamentos, poderão ser atendidas, mas que a politização dos quartéis não será mais tolerada. Até o momento, a bandeira branca tem sido bem recebi- da pelos dois lados. O governo demonstra não estar disposto a levar adiante uma Proposta de Emenda Constitucional pa- ra alterar o polêmico artigo 142 da Carta Magna, que costu- ma ser erroneamente interpretado pela turba golpista para justificar uma intervenção militar no país. Já os generais in- dicam que não devem se opor ao Projeto de Lei que obriga os egressos das tropas a ir para a reserva se quiserem se can- didatar a um cargo eletivo. “O caminho agora é o da pacifi- cação e o governo vem dando sinais positivos para o Alto- Comando. A aproximação está, de fato, acontecendo”, disse a VEJA um oficial de alta patente. Br as il R ev ist as 3 | 7 Um desses sinais vem do Judiciário. O novo presidente do Superior Tribunal Militar, o Tenente-Brigadeiro do Ar, Francisco Joseli Parente Camelo, tem atuado para dissolver o clima de desconfiança que se instalou entre os fardados desde que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexan- dre de Moraes determinou que os ataques aos três poderes da República deverão ser julgados pela Justiça comum. A decisão monocrática, tomada no fim de fevereiro, se baseou em depoimentos de servidores ouvidos na Operação Lesa Pátria que narraram em detalhes a inação e conivência das Fonte: Jurisprudência do STM MARTELO DE VIDRO Os casos julgados pelo STM dificilmente condenam oficiais Período de 2012 a 2022 PATENTE CONDENAÇÕES GENERAL — CORONEL 2 TENENTE-CORONEL 1 MAJOR 1 Br as il R ev ist as 4 | 7 tropas do Exército diante dos atos de vandalismo. Entre os depoentes está um integrante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do Planalto, que no governo anterior era comandado pelo ge- neral Augusto Heleno, um dos mais fiéis apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). Em grupos de WhatsApp oficiais da ativa chegaram a classificar a medida como “massacre da legali- dade”, “vergonha nacional” e “insulto à lei”. A operação panos quentes apoiada por Camelo, que mantém uma relação de certa proximidade com Lula pelo fato de ter sido piloto do avião presidencial durante os man- datos anteriores do petista, busca convencer os mais exalta- dos de que a transferência de competência para um tribunal civil é benéfica. Isso porque a decisão desobrigaria os mili- tares a agir contra seus próprios pares. Lula prestigiou a posse do novo presidente da Corte e os dois conversaram na terça-feira. Mais uma vez, o papo girou em torno da pa- cificação. “É possível que, durante o transcorrer das inves- tigações, se conclua que alguém possa ter incorrido em cri- me militar. Nesse caso, estou seguro de que o processo será direcionado à Justiça Militar. Em nenhum momento, o mi- nistro
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