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Apostila Cultura Afro - NR

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3 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A história da África, no Brasil sempre foi deixada para segundo 
plano nos estudos históricos e escolares – se é que se pode dizer que alguma 
vez houve, realmente, a preocupação em estudar a história do continente 
africano e sua influência no Brasil. Contudo, neste momento, existe uma 
tentativa de remediar este silêncio histórico ao incluir nos currículos das 
escolas e universidades a disciplina “História da África”.Nós, aqui em nossa 
apostila, vamos refletir e caminhar na cultura afro-brasileira. 
 O Projeto de Lei 10.639, traz uma importante mudança na Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº. 9394/1996), instituindo 
que, a partir de 2003, o ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira nas 
escolas de nível Fundamental e Médio seria obrigatório. A Lei nº 10.639/2003 
acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dois 
artigos: 26-A e 79-B. O primeiro estabelece o ensino sobre cultura e história 
afro-brasileiras e especifica que o ensino deve privilegiar o estudo da história 
da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira 
e o negro na formação da sociedade nacional. O mesmo artigo ainda determina 
que tais conteúdos devem ser ministrados dentro do currículo escolar, em 
especial nas áreas de educação artística, literatura e história brasileiras. Já o 
artigo 79-B inclui no calendário escolar o Dia Nacional da Consciência Negra, 
comemorado em 20 de novembro. 
 Podemos afirmar que a história da África vem sendo mutilada 
pelo preconceito e ignorância da cultura ocidental com uma visão de mundo 
característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade 
socialmente mais importante do que as demais. Este imenso continente foi 
oprimido tanto na sua cultura como na sua história. Seu povo presenciou ao 
longo de séculos a vinda de viajantes, exploradores traficantes de escravos, 
missionários e de todos os tipos de usurpadores de suas riquezas, valores 
morais e cultura. 
 
 
 
 
4 
 
 
 E por sua vez coube a estes estrangeiros propagarem a 
imagem de que este povo viveu em um cenário de barbárie de completa 
miséria ou do mais absoluto caos, cabe a nós, professores em sala de aula 
fazer as seguintes perguntas: afinal que história teria o continente africano para 
contar? Como podemos mostrar em sala de aula a importância desse povo 
para a nossa cultura? Esta apostila pretende construir, em breves páginas, 
uma visão(não profunda, porém eficaz) da história do continente africano, sua 
influência e importância nas questões referentes à cultura afro descendente no 
Brasil. 
 A escola deve adotar uma agenda positiva de inclusão de 
todos os sujeitos e promover alterações curriculares que permitam a 
consolidação destes avanços através de sua incorporação ao cotidiano dos 
jovens estudantes, com destaque para o combate ao racismo e a toda forma de 
discriminação. Pereira (2014) defende que as orientações legais que 
fundamentam a mudança nos currículos escolares: 
 [...] está orientado por uma agenda anti racismo, pela legítima 
positivação de memórias e da ascendência africana, e pela intenção 
em conferir visibilização de registros e imagens negras, abordando 
dores e ressentimentos históricos advindos de séculos de 
escravização com vistas ao agendamento da reparação histórica e à 
ruptura com a desigualdade racial histórica, vigente ainda no país. A 
dinâmica social contemporânea expressa compromissos com a 
ruptura com o eurocentrismo e coma a criação de estratégias de 
visibilização de populações e de histórias negadas ou distorcidas. 
(PEREIRA, 2014: 191) 
 Em síntese, cabem à escola: a responsabilidade de eliminar a 
visão reduzida e muitas vezes distorcida com que são tratadas as contribuições 
de negros e seus descendentes para a construção da nossa pátria; e 
consolidar um ambiente de combate ao racismo, à discriminação e respeito à 
diversidade. 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://www.faculdadefutura.com.br/cursos/historia-e-cultura-afro-brasileira 
https://www.faculdadefutura.com.br/cursos/historia-e-cultura-afro-brasileira%20-
5 
 
 
 Recentemente, tivemos o exemplo do jornalista William Waack, 
que foi afastado da Rede Globo (onde apresentava um dos principais 
telejornais da emissora) após o vazamento de um vídeo de bastidor, no qual 
ele usou uma expressão racista ao fazer um comentário com a pessoa que 
entrevistaria ao vivo, o também jornalista Paulo Sotero (que reage ao 
comentário com uma gargalhada igualmente preconceituosa). A indignação 
contra o comportamento discriminatório de pessoas altamente escolarizadas e 
formadoras de opinião foi imediata, especialmente nas redes sociais. 
 E a pergunta feita hoje em sala de aula é: como poderemos 
transformar anos de um pensamento corrompido e ensinamentos superficiais 
em algo positivo dentro da sala de aula para que os alunos compreendam e 
possam dar valor a essa cultura que tanto contribuiu para o surgimento de uma 
nação?Vamos tentar caminhar sem deixar esse pensamento de lado, nós com 
professores, temos a importante missão de levar para os alunos um conteúdo 
que vai além da data de 20 de novembro (dia da consciência negra), que 
ultrapasse o simples mostrar a imagem de Zumbi do Palmares, mas dar 
atenção a projetos que valorizem a literatura negra, os artistas e a cultura 
africana; mobilizar os próprios alunos para uma discussão e conscientização da 
cultura negra dando voz a coletivos com projetos que sejam capazes de 
envolver os alunos de forma a trazer um pouco da cultura negra para dentro da 
escola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
2. O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E SEUS 
DESAFIOS 
 A cultura afro-brasileira está presente em nosso dia a dia, mas 
infelizmente nem todas as instituições de ensino realizam ou aplicam em suas 
escolas essa lei. O tema referido em nossa apostila vem trazer uma 
explanação do assunto e mostrar a importância e a relevância deste em sala 
de aula e o papel do professor que por muitas vezes não aborda o assunto com 
a devida importância. Em quase tudo hoje em dia encontramos costumes e 
crenças do povo africano: brincadeiras, roupas, danças, musicas, comidas e 
até na religião podemos encontrar a África no Brasil. Dentro de sala de aula 
não pode ser diferente, uma vez que preparar os alunos para esse tipo de 
diversidade e conhecimento é nosso papel enquanto educadores e 
professores. 
 Em nossa apostila vamos encontrar um pouco da história e de 
como a lei 10.639 vem auxiliar o professor para que possa em sala de aula 
trabalhar esse tema de forma relevante e conscientizadora para o aluno. 
Passados dez anos da sanção da Lei 10.639/03, que obriga escolas públicas e 
particulares a ensinar história e cultura afro-brasileira, o Brasil ainda enfrenta 
uma série de desafios para vencer o racismo dentro das instituições de ensino. 
 De uma forma geral, a situação hoje é de aplicação pontual da 
legislação por professores e escolas e de falhas na formação de docentes. "As 
escolas ainda trabalham a questão racial apenas em 13 de maio (data da 
abolição da escravatura no Brasil, em 1888) ou em 20 de novembro (dia da 
Consciência Negra), mas isso tem que fazer parte do cotidiano. Um professor 
não pode fazer carinho apenas no cabelo liso, mas também no cabelo crespo", 
afirmou a coordenadora de Educação em Diversidade da Secretaria de 
Educação do Distrito Federal, Ana José Marques. 
 
 
 
 
 
 
 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2003/lei-10639-9-janeiro-2003-493157-publicacaooriginal-1-pl.html
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agencia Câmara de Noticias- https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-
DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html 
 
 Um dos grandes desafios e que se torna uma dificuldade em 
sala de aula é a formação de professores. Os cursos superiores que formam os 
docentes, disseram, muitas vezes não incluir na grade curricular a temática da 
história e da cultura afro-brasileira, sendo este um assunto a ser tratado em 
disciplinas optativas, quando há oferta. Resta às secretarias de educação 
promover cursos de formação continuada de seus professores, criando 
oportunidade de acrescentar a formação do docente esse assunto tão 
relevante. Ao mesmo tempo em que é um desafio, podemos ver um avanço em 
sala de aula, pois agora o assunto é tratado de uma forma mais efetiva. É claro 
que muitas coisas precisam mudar, e é isso que vamos analisar nos próximos 
capítulos dessa apostila, como reconhecer a contribuição do povo africano na 
construção da nossa cultura e transmitir em sala de aula para os alunos, não 
só em datas comemorativas, mas também mostrar que tudo em nossa volta 
sofreu fortes influências desses povos. Vamos começar observando 
rapidamente com foi essa caminhada: 
https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html
https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html
https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html
8 
 
 
1948 - Uma das mais significativas experiências de mobilização negra foi o 
jornal Quilombo, editado no Rio de Janeiro. A edição nº 0, ano 1, trazia a 
seguinte afirmação: "Nos dias de hoje a pressão contra a educação do negro 
afroxou (sic) consideravelmente, mas convenhamos que ainda se acha muito 
longe do ideal". 
1949 - 1º Congresso do Negro Brasileiro. Temas abordados: sobrevivências 
religiosas e folclóricas; formas de luta (capoeira de Angola, batuque, pernada); 
línguas (nagô, gegê, língua de Angola e do Congo, as línguas faladas nos anos 
de escravidão). 
Década de 1950 - Iniciam-se os primeiros estudos sobre preconceitos e 
estereótipos raciais em livros didáticos no Brasil. 
 
Décadas de 1960 e 1970 - Os militares oficializaram a ideologia da democracia 
racial e a militância que ousou desafiar esse mito foi acusada de imitadora dos 
ativistas americanos, que lutavam pelos direitos civis. O mito da democracia 
racial persiste até hoje. 
 
Década de 1980 - Retomada dos estudos sobre preconceitos e estereótipos 
raciais em livros didáticos. Os resultados das pesquisas apresentam a 
depreciação de personagens negros, associada a uma valorização dos 
brancos. 
1984 - Em São Paulo, a Comissão de Educação do Conselho de Participação e 
Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos 
Afro-Brasileiros promoveu discussões com professores de várias áreas sobre a 
necessidade de rever o currículo e introduzir conteúdos não discriminatórios. 
1985 - A comemoração de 13 de maio foi questionada pela Comissão por meio 
de cartazes enviados às escolas do estado de São Paulo. O material também 
exaltava 20 de novembro como data a comemorar a consciência negra. 
1986 - A Bahia inseriu a disciplina Introdução aos Estudos Africanos nos cursos 
de Ensino Fundamental e Médio de algumas escolas estaduais atendendo a 
antiga reivindicação do movimento negro. 
1996 - Entre os critérios de avaliação dos livros didáticos comprados e 
distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foram incluídos 
aqueles específicos sobre questões raciais. 
1998 - Inclusão da Pluralidade Cultural entre os temas transversais nos 
Parâmetros Curriculares Nacionais. 
2003 - A publicação da Lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino da História da 
África e dos Afro-brasileiros no Ensino Fundamental e Médio. 
9 
 
 
O Brasil – o país mais negro fora da África – ainda enfrenta uma série de 
desafios para acabar com o racismo e promover mais equidade para essa 
população, que representa mais de 50% do total de brasileiros. Uma iniciativa 
que veio contribuir para mudar essa realidade completa, em 2018, 15 anos da 
sua promulgação: trata-se da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório no país o 
ensino de história e de cultura africana e afro-brasileira nas escolas em sua 
totalidade. 
A legislação considerada na época uma grande conquista, 
principalmente pelos movimentos sociais negros e parceiros que lutavam há 
bastante tempo pela inserção do tema na educação, ainda enfrenta uma série 
de barreiras para ser de fato implementada com qualidade. 
Apesar dessa imensidão de teses, artigos e trabalhos de conclusão de 
curso que tivemos nos últimos 15 anos sobre o tema, o que é um avanço, 
ainda precisamos de mais profissionais que possam se dedicar a esta área do 
conhecimento, como ocorre em outros países. Além disso, temos 
constantemente embates políticos, como agora o novo currículo proposto pela 
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e o que vemos é o silenciamento da 
aplicação da lei. Algumas escolas entendem que não precisam mais falar sobre 
o tema, que não têm obrigação. E isso nos leva a entender o quanto temos 
ainda no Brasil uma sociedade racista, discriminadora, que não consegue ver 
todos os grupos em termos de igualdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
10 
 
 
3. HISTÓRIA DA ÁFRICA 
 
 Para compreendermos um pouco da história da África de uma 
forma resumida, precisamos visualizar geograficamente seu território. O 
continente africano é divido em duas partes distintas: o centro norte (no mapa 
compreende a parte mais clara) é dominado pelo grande deserto do Saara 
(8.600.000 Km2); já o centro sul (no mapa compreende a parte mais escura) é 
ocupado pela floresta tropical (figura1) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-duas-africas.htm 
 Essa separação geográfica pode ter proporcionado a 
diferenciação étnica existente no continente, pois o norte é habitado por 
árabes, egípcios, beberes e tuaregues e no centro sul encontramos mais de 
800 etnias negras africanas. Desta forma, a disposição geográfica mostra que 
o isolamento de ambas as regiões determinou um contato esporádico com os 
povos europeus, onde não encontramos por muito tempo uma relação entre 
africanos e europeus 
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-duas-africas.htm
11 
 
 
 
 Contudo, entre os africanos havia alguns contatos entre o norte 
e centro sul, onde o tráfico de escravos no continente africano já existia e os 
traficantes transportavam para Arábia e para os mercados do mediterrâneo, 
temos que ressaltar que era um tráfico bem menor que o europeu no período 
dos descobrimentos. No século XV, com o advento das grandes expedições 
atlânticas, o continente africano foi um dos primeiros a ser explorado, 
primordialmente por Portugal, que possuía a autorização previa da igreja 
através de encíclicas papais: 
 
 [...] Dum, Diversas e a RomanusPontifex – deram direitos aos reis de 
Portugal de despojar e escravizar eternamente os Maometanos, 
pagãos e povos pretos em geral”. (LOPES apud OLIVA,2003, p.435, 
grifos do autor) 
 
 Ao longo de vários séculos, historiadores africanos 
encontraram diversos manuscritos retratando as culturas, as guerras, as 
políticas e economias da África, na maioria utilizando a escrita muçulmana ou 
árabe. A maioria destas narrativas pautava-se em fontes orais que eram 
analisadas sem uma concepção euro centristas. 
 O que esperar de seres de pele negra que no período medieval 
sempre eram associados ao mal devido às interpretações da sagrada 
escritura? Desta forma, coma autorização da igreja e de “Deus” os navegantes 
se deparam com os povos africanos, que para o seu olhar europeu, 
confirmaram realmente sua inferioridade devida sua falta de “civilização”, rituais 
pagãos e bestializados, e sua língua Barbara. 
 Acredita-se que o tráfico de escravos praticados por 
portugueses tenha retirado 15 milhões de africanos de suas terras e 
encaminhado para outras localidades sendo que 4 milhões tenham sido 
levados para o Brasil. Este processo é chamado de desterritorialização, que 
pode ser definido como uma quebra de vínculos, uma perda de território, um 
afastamento dos nossos territórios um afastamento dos nossos territórios, 
havendo assim, uma perda de controle das territorialidades pessoais ou 
coletiva, uma perda de acesso a territórios econômicos, simbólicos.Este 
fenômeno se caracteriza pelas civilizações ibéricas que não somente fundaram 
12 
 
 
colônias na África, mas expatriaram habitantes por motivos comerciais e 
lucrativos. 
 Contudo o século XV com a chegada dos europeus e a 
penetração para o interior intensificou– se: a dominação da África e inúmeras 
narrativas começaram a ser produzidas sobre uma nova ótica. Nasce o “exótico 
Novo Mundo”, descrição destas terras selvagens e austeras com sua fauna e 
flora desconhecida inundaram a sociedade européia. Mas o maior impacto foi a 
descrição do “outro”, dos habitantes destas terras, “parecidos” com seres 
humanos, contudo, despidos literalmente de civilidade e com a pele de cor 
negra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://twitter.com/descomplica/status/1024733350219661314 
 
 
 
https://twitter.com/descomplica/status/1024733350219661314
13 
 
 
3.1. CULTURA 
 
 Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos 
tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que 
conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas 
perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por 
contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se 
apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e 
expressá-la. A história registra com abundância as transformações por que 
passam as culturas, seja movida por suas forças internas, seja em 
consequência desses contatos e conflitos, mais freqüentemente por ambos os 
motivos. Por isso, ao discutirmos sobre cultura, temos sempre em mente a 
humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de existência. 
São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e as características 
que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa. 
 Assim, cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao 
mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. 
Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se 
constata a grande variação delas. Saber em que medida as culturas variam e 
quais as razões da variedade das culturas humanas são questões que 
provocam muita discussão. Por enquanto é fundamental entender os sentidos 
que uma realidade cultural faz para aqueles que a vivem. De fato, a 
preocupação em entender isso é uma importante conquista contemporânea. 
 Desde o século passado tem havido preocupações 
sistemáticas em estudar as culturas humanas, em discutir sobre cultura. Esses 
estudos se intensificaram na medida em que se aceleravam os contatos, nem 
sempre pacíficos, entre povos e nações. As preocupações com cultura se 
voltaram tanto para a compreensão das sociedades modernas e industriais 
quanto das que iam desaparecendo ou perdendo suas características originais 
em virtude daqueles contatos. Contudo, toda essa preocupação não produziu 
uma definição clara e aceita por todos do que seja cultura. Por cultura se 
"entende muita coisa", e a maneira como ela foi mencionada nas páginas 
anteriores é apenas um entre muitos sentidos comuns de cultura. 
 
14 
 
 
 Vejamos alguns desses sentidos comuns. Cultura está muito 
associada a estudo, educação, formação escolar. Por vezes se fala de cultura 
para se referir unicamente às manifestações artísticas, como o teatro, a 
música, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar na cultura da nossa 
época ela é quase identificada com os meios de comunicação de massa, tais 
como o rádio, o cinema a televisão. Ou então cultura diz respeito às festas e 
cerimônias tradicionais, às lendas e crenças de um povo, ou a seu modo de se 
vestir, à sua comida a seu idioma. A lista pode ser ampliada. 
 As várias maneiras de entender o que é cultura derivam de um 
conjunto comum de preocupações que podemos localizar em duas concepções 
básicas. A primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspectos de 
uma realidade social. “Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza 
a existência social de um povo ou nação” ou então de grupos no interior de 
uma sociedade. Podemos assim falar na cultura francesa ou na cultura 
xavante. Do mesmo modo falamos na cultura camponesa ou então na cultura 
dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem 
distintas. No entanto, o sentido em que se fala de cultura é o mesmo: em cada 
caso dar conta das características dos agrupamentos a que se refere, 
preocupando-se com a totalidade dessas características. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/ 
 
https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/
15 
 
 
 Vamos à segunda. Neste caso, quando falamos em cultura 
estamos nos referindo mais especificamente ao conhecimento, às ideias e 
crenças, assim como às maneiras como eles existem na vida social. Observem 
que mesmo aqui a referência à totalidade de características de uma realidade 
social está presente, já que não se pode falar em conhecimento, idéias, 
crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. O que ocorre é que há 
uma ênfase especial no conhecimento e dimensões associadas. Entendemos 
neste caso que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio, da vida 
social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://amar.art.br/um-projeto-nacional-para-a-cultura-brasileira/ 
 
 
 
 
https://amar.art.br/um-projeto-nacional-para-a-cultura-brasileira/
16 
 
 
4. ÁFRICA E BRASIL: A UNIÃO DA HISTÓRIA E CULTURA 
 
 Iniciamos esse capítulo falando sobre os variados tipos de 
resultados que nasceram dessa união, união entre dois povos e que deixou um 
rico legado para as gerações. Podemos começar falando do feriado do dia 20 
de novembro, feriado da consciência negra, mas você sabe como ele surgiu? 
 A data foi estabelecida pelo projeto Lei n.º 10.639, no dia 9 de 
janeiro de 2003. No entanto, somente em 2011 a lei foi sancionada (Lei 
12.519/2011) pela presidente Dilma Rousseff.O Dia da Consciência Negra é 
comemorado em todo território nacional. Esta data foi escolhida por ter sido o 
dia da morte do líder negro Zumbi, que lutou contra a escravidão no Nordeste. 
A celebração relembra a importância de se refletir sobre a posição dos negros 
na sociedade. Afinal, as gerações de afro descendentes que sucederam a 
época de escravidão sofreram diversos níveis de preconceito diretamente 
relacionado a cor de sua pele. 
 Zumbi, nascido livre num quilombo (aldeia onde viviam os 
escravos fugitivos), lutou até a morte para defender seu povo contra a 
escravidão. Da escravidão, Zumbi só conhecia as terríveis histórias que os 
mais velhos estavam sempre contando. Eles lembravam a morte no porão dos 
navios, a escuridão das senzalas, o trabalho escravo e os castigos sofridos. 
O Quilombo dos Palmares estava situado numa longa faixa de terra de 200 
quilômetros de largura, estava paralelo à costa, situado entre o cabo de Santo 
Agostinho, em Pernambuco, e a parte norte do curso superior do rio São 
Francisco, hoje no estado de Alagoas. Numa das batalhas entre os colonose o 
Quilombo, Zumbi foi morto. Como era costume na época, seu corpo ficou 
exposto em praça pública para servir de exemplo para que ninguém tentasse ir 
contra os colonizadores. Mesmo assim, seu exemplo de luta foi passando de 
geração e ele acabou sendo escolhido como herói para o povo negro brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
https://www.todamateria.com.br/quilombo-dos-palmares/
17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) 
Acervo do Museu Antonio Parreiras 
 
 
 A criação de um dia comemorativo da Consciência Negra é 
uma forma de lembrar a importância de valorizar um povo que contribuiu para o 
desenvolvimento da cultura brasileira. E você como futuro professor (a) deve 
aproveitar essa data e conscientizar os alunos para a importância desse povo 
na formação social, histórica e cultural de nosso país. 
 Mas qual foi o legado deixado pelo povo africano em nosso 
país? Onde podemos encontrar a cultura afro em nosso país? Quando os 
portugueses começaram a comprar ou capturar africanos e trazê-los para 
serem escravizados no Brasil, trouxeram também muitas coisas da cultura 
africana para o nosso território. Os escravos que vinham da África não eram 
todos de um mesmo povo; falavam várias línguas, tinham diferentes religiões, 
comidas próprias e aparências diferentes. Essa diversidade de costumes 
acabou influenciando a formação da cultura brasileira e chegando até nós, nos 
dias de hoje,de diferentes formas. 
 
https://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/
18 
 
 
 
 A existência da escravidão no Brasil durante quase 
quatrocentos anos, além de ter constituído a base da economia material da 
sociedade brasileira, influenciou também sua formação cultural. A 
miscigenação entre africanos, indígenas e europeus é à base da formação 
populacional do Brasil. Dessa forma, a matriz africana da sociedade tem uma 
influência cultural que vai além do vocabulário, que por sua vez, é 
extenso:Moleque, quiabo, fubá, caçula e angu, cachaça, dengoso, quitute, 
berimbau e maracatu - todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm 
origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos 
escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial. 
Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira. 
 Diante das mais variadas formas de influência Afro atualmente, 
podemos destacar para o nosso estudo dentro de nossa apostila a religião, a 
música, dança e a culinária. Vamos conhecer um pouco sobre esses 
elementos, suas características e alguns aspectos importantes e essenciais 
para o desenvolvimento e abordagem desse tema em sala de aula por vocês, 
futuros professores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - https://novaescola.org.br/ 
https://novaescola.org.br/
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4.1 Culinária 
 A culinária é um elemento típico da cultura afro-brasileira. Com 
ela veio também às panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, 
dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da 
culinária baiana, preparados com azeite dendê e pimentas. Destacam-se 
Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o Quibebe nordestino, preparado com 
carne-de-sol ou charque; além dos doces de pamonha e cocada. E, por fim, o 
prato brasileiro mais conhecido de todos: a feijoada. Ela foi criada pelos 
escravos como uma apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir 
dos restos de carne que os senhores de engenho não consumiam. 
 Como os colonizadores vieram para o Brasil sem suas 
mulheres, eles utilizavam as escravas para realizar as atividades como lavar, 
passar, servir e claro, cozinhar. As escravas precisavam improvisar para 
alimentarem-se no novo território, que, por sua vez, tinha uma estrutura bem 
pouco eficaz. Diante da precariedade dos utensílios de cozinha da época, 
surgiu a própria maneira de cozinhar, preparar e principalmente reinventar sua 
arte de cozinhar, pois até mesmo a elite da época, tinha de importar vários 
gêneros, devido a precariedade de desenvolvimento e produtividade da terra. 
 O uso de sementes, raízes, folhas, frutas e tudo que pudesse 
suprir a carências dos alimentos na colônia e nas senzalas, passaram a dar um 
novo sabor na arte de cozinhar e assim, na própria cozinha brasileira, que 
essencialmente com a incorporação de animais que a dieta africana trazia em 
seus cardápios, privilegiava a mesa dos Senhores nas colônias. Adeptos da 
caça utilizaram os animais que encontravam no estranho território como, tatus, 
lagartos, cutias, capivaras, preás e caranguejos. Os animais eram muitos 
freqüentes nos cardápios das senzalas e praticamente passou a incorporar os 
cardápios dos colonizadores. 
 
 
 
 
 
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 Proveniente tanto do próprio alimento assado ou cozido, 
quanto do alimento preparado com água e sal, o caldo deu origem a pratos 
típicos da cozinha brasileira, como o Angu (caldo com farinho de milho), e o 
pirão (caldo com farinha de mandioca), já conhecido pela cultura indígena. O 
modo africano na arte de cozinhar e temperar incrementou elementos 
culinários de portugueses e indígenas, recriando tanto sua própria arte de 
cozinhar, quanto a própria forma da cozinha brasileira. Dos pratos portugueses 
era comum as galinhas e os ovos nas dietas dos escravos doentes, pois os 
opressores acreditavam que fossem alimentos revigorantes. Com o passar dos 
tempos, a galinha passou a ser incluída nos cardápios afro-brasileiros. Assim, 
desenvolveram-se pratos típicos da cozinha brasileira, como o vatapá e o 
xinxim, resistentes até hoje, nos cardápios típicos regionais do país. 
 
Algumas comidas afro-brasileiras: 
 
Acarajé 
Bolo de feijão-macaça temperada e moída com camarão seco, sal e cebola, 
frito com azeite de dendê. 
Mungunzá 
Alimento preparado com milho em grão e servido doce(com leite de coco) ou 
salgado (com acompanhamento de carne -de - sal/ ou torresmo) com leite. 
 
Vatapá 
Papa de farinha-de-mandioca com azeite de dendê e pimenta, servida com 
peixe e crustáceos. 
 
Quibebe 
Papa ou purê de abóbora(jerimum)com leite. 
 
Abará 
Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada 
com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão 
seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de 
bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a 
Iansã, Obá e Ibeji). 
 
Aberém 
Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, 
macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No 
candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Oxumaré). 
 
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Abrazô 
Bolinho da Culinária Afro-Brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, 
apimentado, frita em azeite-de-dendê. 
 
Acaçá 
Bolinho da Culinária Afro-Brasileira, feito de milho macerado em água fria e 
depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de 
bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e 
açúcar, é chamado acaçá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, 
oferecida a Oxalá, Nanã, Ibeji, Iemanjá e Exu.] 
 
Ado 
Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com 
azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxum). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - Acarajé - https://www.aguanaboca.org/receita/receita-de-acaraje/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.aguanaboca.org/receita/receita-de-acaraje/
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4.2 Músicas e Dança 
As danças africanas integram a extensa lista de componentes culturais 
do continente africano e representam uma das muitas maneiras de 
comunicação cultural. Esse tipo de manifestação é de extrema importância 
para o seu povo, constituindo como parte essencial da vida. É uma maneira de 
estarem sempre conectados com seus antepassadose carrega uma poderosa 
carga espiritual, emocional e artística, além do entretenimento e diversão. 
As danças africanas tradicionais são realizadas em ocasiões 
importantes. Destacam-se as cerimônias em rituais de passagem, nascimento, 
casamento, morte, colheita, guerra, alegria, tristeza, doenças e 
agradecimentos. Apesar de o continente africano ter uma grande extensão com 
diversos países e culturas diferentes, podemos destacar como pontos comuns 
na dança da maioria dos povos africanos: 
 A organização em círculos, semicírculos ou fileiras; 
 A participação de todos independentes da idade ou escala social 
na comunidade; 
 O acompanhamento de música produzida pelo som de 
instrumentos de percussão e batuques de tambores. 
A partir do estilo de dança africano evoluíram ritmos hoje bastante 
conhecidos pelo brasileiro, como o samba, afoxé, maracatu, congada, lundu e 
a capoeira, exemplos da influência africana na música brasileira que 
permanecem até os dias atuais. 
Não podemos perder de vista que estas expressões musicais são 
também corporais. Elas refletem nas formas de dançar, como no caso do 
Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação 
musical do samba. Temos outras expressões de música e dança como as 
danças rituais, o tambor de crioula, e os estilos mais contemporâneos, como o 
samba-reggae e o axé baiano. Finalmente, merece destaque especial para a 
capoeira. Ela é uma mistura de dança, música e artes marciais proibida no 
Brasil durante muitos anos e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da 
Humanidade em 2014. Vamos conhecer um pouquinho dessas danças. 
O jongo 
É uma dança de origem africana. O jongo permitia que os escravos se 
comunicassem de forma que os senhores e capatazes não compreendessem 
aquilo que falavam. Por meio dessa dança contavam suas tristezas e 
sofrimentos. 
 
https://www.todamateria.com.br/samba-de-roda/
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Samba de roda 
É um gênero musical de tradição afro-brasileira. É tocado com pandeiros, 
atabaques, berimbaus, chocalho e viola. 
Maracatu 
É um dos ritmos de tradição africana, que hoje é difundido em todo o nordeste 
brasileiro, especialmente, nas cidades de Recife e Olinda. É caracterizado 
principalmente pela percussão forte, que teve origem nas congadas, 
cerimônias de coroação dos reis e rainhas da nação negra. 
A roda de capoeira 
Inicialmente criada para proteção e defesa própria. Hoje vista mais como uma 
forma de expressão artística, devido ao movimento que os corpos fazem, 
durante a prática. 
Desenvolvida no Brasil por escravos africanos, é uma forma de 
expressão cultural que mistura dança, luta, música, jogo. Nela são encenados 
golpes e movimentos acompanhados por músicas. Os capoeiristas ficam na 
roda de capoeira batendo palma no ritmo do berimbau e cantando a música 
enquanto dois capoeiristas jogam capoeira. Capoeira é uma arte marcial 
marcada por seus golpes que enganam o adversário, que geralmente são 
feitos no solo ou completamente invertido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem - O Maracatu - https://www.todamateria.com.br/dancas-africanas/ 
 
https://www.todamateria.com.br/dancas-africanas/
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4.3 Religião 
No aspecto religioso os africanos buscaram sempre manter suas 
tradições de acordo com os locais de sal origem dentro do continente africano. 
Entretanto, a necessidade de aderirem ao catolicismo levou diversos grupos de 
africanos a misturarem as religiões do continente africano com o cristianismo 
europeu, processo conhecido como sincretismo religioso. São exemplos de 
participação religiosa africana o candomblé, a umbanda, a quimbanda e o 
catimbó. 
Algumas divindades religiosas africanas ligadas às forças da natureza 
ou a fatos do dia a dia foram aproximadas a personagens do catolicismo. Por 
exemplo, Iemanjá, que para alguns grupos étnicos africanos é a deusa das 
águas, no Brasil foi representada por Nossa Senhora. Xangô, o senhor dos 
raios e tempestades, foi representado por São Jerônimo. 
Esse sincretismo com o catolicismo é originado de uma série de conflitos 
étnicos, principalmente no que compreendia a relação senhor branco e escravo 
negro. O contato entre povos tão distintos em uma terra que não era nativa de 
qualquer um dos envolvidos acaba por dar origem a um movimento de 
adaptação cultural complexo. Os negros precisaram camuflar sua ideologia 
para que não fossem cruelmente reprimidos pela política obrigatória da religião 
católica. A solução encontrada é a associação de suas divindades africanas às 
santidades européias, surgindo desta forma o que hoje tratamos por 
sincretismo religioso, como mencionado anteriormente. Faz-se importante 
ressaltar neste ponto que este processo também absorveu outras culturas 
como a indígena, por exemplo. 
Algumas divindades Africanas e seu correspondente católico: 
1. Oxala: Jesus; 
2. Oxum: Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida; 
3. Oxumaré: São Bartolomeu; 
4. Oxóssi: São Sebastião; 
5. Obá: Santa Catarina; 
6. Xangô: São Francisco de Assis, São Pedro, São João Batista; 
7. Ogum: São Jorge, Santo Antonio; 
8. Iemanjá: Maria mãe de Jesus; 
 
25 
 
 
 
Quando falamos da religião africana e suas influências aqui no Brasil, 
podemos verificar sua história de origem e características que são bem 
peculiares. Notamos estas diferenciações e adaptações que fazem da doutrina 
um movimento único, que perdura o tempo e carrega consigo a historicidade do 
povo negro. Vale ressaltar que elas possuem ainda várias ramificações 
dependendo de onde ela está inserida geograficamente. Vamos analisar duas 
delas. 
 
Candomblé 
De todas estas religiões, o Candomblé é a que mais carrega 
características da África, uma vez que esta é uma doutrina africana, mas que 
recebeu influência de outras fés após a chegada dos negros no Brasil. Como 
os africanos eram proibidos de cultuarem suas divindades em solos brasileiros, 
eles passaram a fundir os seus símbolos com os da igreja católica. No meio 
deste sincretismo surge o Candomblé afro-brasileiro, que cultuavam os orixás e 
tem uma forte fundamentação de sacralização dos animais. 
Umbanda 
Geralmente confundida com o Candomblé, a Umbanda é uma religião 
brasileira, mas que acabou recebendo forte influência dos candomblecistas. 
Nascida em 1908, através do Médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu 
guia, o Caboclo das 7 encruzilhadas, a Umbanda rompe-se com o Espiritismo, 
mas carrega muitas de suas características. Nesta religião não há a 
sacralização de animais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem -Cena de Candomblé - Museu Afro Brasil - MAB (Acervo Museológico) - 
Wilson Tibério 
 
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Diferenças entre o Candomblé e a Umbanda 
 
Candomblé Umbanda 
Hierarquia forte A hierarquia não é tão rígida 
5000 anos de existência Fundada no século XX 
Realiza sacrifícios de animais em 
cerimônias específicas 
Não realiza sacrifícios de animais 
Há incorporação somente de 
entidades, mas o orixá não fala, 
não dá consulta, só dá o axé 
(benção). Somente o pai e/ou mãe 
de santo dão conselhos e 
consultas através do Ifá, dos 
búzios. 
Tem incorporação de entidades 
encarnadas, ou seja: de espíritos 
que já viveram na terra. Esses dão 
consultas e conselhos diretamente 
ao cliente. Não há incorporação do 
orixá. 
Ser pai e/ou mãe de santo é 
equivalente ao sacerdócio 
católico. Por isso, é difícil para 
eles terem uma vida comum, pois 
há uma série de restrições 
alimentares, de vestimentas e de 
atitudes. 
O sacerdote não precisa se dedicar 
exclusivamente a Umbanda. 
Para se sustentarem, a casas de 
candomblé cobram por trabalhos 
realizados. 
Não cobra pelos serviços. 
 Imagem - Toda a Matéria - https://www.todamateria.com.br/candomble/ 
 
 
 
 
 
 
https://www.todamateria.com.br/candomble/
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5. CONCLUSÃO 
O tema abordado nessa apostila é muito importante e é um grande 
desafio para o professor ou professora em sala de aula. A influênciaque 
recebemos desse povo vai além de uma simples canção ou uma dança, é algo 
real e concreto, que pode ser observado no nosso dia a dia. Em um breve 
histórico das lutas e conquistas recentes, observamos a ciência dos séculos 18 
e 19 considerando que os brancos possuíam maior capacidade intelectual. 
Depois vinham os índios e, por último, os negros. Alguns estudos afirmavam 
que os negros se situavam abaixo dos macacos. "Qualquer que seja o grau dos 
talentos dos negros, ele não é a medida dos seus direitos", Thomas Jefferson 
(1743-1826), político americano. 
Nós professores precisamos trabalhar a cultura negra como uma 
constante dentro de sala de aula. Somente agora há sinais concretos de 
mudanças para o futuro nas relações inter-raciais. Primeiro foram os 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que orientam a promoção da 
igualdade em um dos temas transversais, Pluralidade Cultural. Mas um passo 
muito maior e mais significativo para o ensino foi dado com a Lei no 10.639. "A 
legislação rompe com a ordem dos currículos ao propor um novo conhecimento 
científico contrário à superioridade da produção cultural européia", afirma 
Eliane Cavalleiro, pedagoga e coordenadora geral de Diversidade e Inclusão 
Educacional do Ministério da Educação (MEC). Ou seja, o mundo não se 
resume às conquistas e derrotas do continente europeu, mas sim, começa a 
valorizar e ressaltar toda a importância e perceber que a cultura africana tem 
sim o seu valor. 
Muitos professores em sala de aula cometem o erro de abordar a 
história dos negros a partir da escravidão, apresentando o continente africano 
cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e as 
doenças, pensando que o trabalho sobre a questão racial deve ser feito 
somente por professores negros para alunos negros. Não podemos apenas 
nos limitar dentro das salas de aulas em ver a foto do personagem Zumbi dos 
Palmares, podemos sim trazer para as salas de aulas um pouco da rica cultura 
africana e como ela está inserida em nosso cotidiano em nossas vidas. 
 
 
 
 
 
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Devemos no aprofundar nas causas e consequências da dispersão dos 
africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão, 
enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade 
e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro 
compreender que a questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida 
para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus 
e de outros povos, reconhecendo a existência do racismo no Brasil e a 
necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana. Como 
por exemplo, por que não incluir nas aulas um pouco da literatura que fala 
sobre o assunto, como “A história da menina bonita e o laço de fita” da 
escritora Ana Maria Machado ou até mesmo “O menino marrom” do escritor 
Ziraldo. 
Vale ressaltando que ensinar e introduzir esse tópico nas salas de aula 
vai além de apenas apresentar a lista dos negros de antes e a escravidão, mas 
conscientizar que apesar de terem tido muitos avanços, mais ainda há um 
longo caminho a percorrer que nosso aluno como futuro professor pode ter um 
papel de protagonista nessa história de luta que se iniciou há mais de 400 anos 
atrás. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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