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1 2 3 1. INTRODUÇÃO A história da África, no Brasil sempre foi deixada para segundo plano nos estudos históricos e escolares – se é que se pode dizer que alguma vez houve, realmente, a preocupação em estudar a história do continente africano e sua influência no Brasil. Contudo, neste momento, existe uma tentativa de remediar este silêncio histórico ao incluir nos currículos das escolas e universidades a disciplina “História da África”.Nós, aqui em nossa apostila, vamos refletir e caminhar na cultura afro-brasileira. O Projeto de Lei 10.639, traz uma importante mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº. 9394/1996), instituindo que, a partir de 2003, o ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira nas escolas de nível Fundamental e Médio seria obrigatório. A Lei nº 10.639/2003 acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) dois artigos: 26-A e 79-B. O primeiro estabelece o ensino sobre cultura e história afro-brasileiras e especifica que o ensino deve privilegiar o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. O mesmo artigo ainda determina que tais conteúdos devem ser ministrados dentro do currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística, literatura e história brasileiras. Já o artigo 79-B inclui no calendário escolar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Podemos afirmar que a história da África vem sendo mutilada pelo preconceito e ignorância da cultura ocidental com uma visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que as demais. Este imenso continente foi oprimido tanto na sua cultura como na sua história. Seu povo presenciou ao longo de séculos a vinda de viajantes, exploradores traficantes de escravos, missionários e de todos os tipos de usurpadores de suas riquezas, valores morais e cultura. 4 E por sua vez coube a estes estrangeiros propagarem a imagem de que este povo viveu em um cenário de barbárie de completa miséria ou do mais absoluto caos, cabe a nós, professores em sala de aula fazer as seguintes perguntas: afinal que história teria o continente africano para contar? Como podemos mostrar em sala de aula a importância desse povo para a nossa cultura? Esta apostila pretende construir, em breves páginas, uma visão(não profunda, porém eficaz) da história do continente africano, sua influência e importância nas questões referentes à cultura afro descendente no Brasil. A escola deve adotar uma agenda positiva de inclusão de todos os sujeitos e promover alterações curriculares que permitam a consolidação destes avanços através de sua incorporação ao cotidiano dos jovens estudantes, com destaque para o combate ao racismo e a toda forma de discriminação. Pereira (2014) defende que as orientações legais que fundamentam a mudança nos currículos escolares: [...] está orientado por uma agenda anti racismo, pela legítima positivação de memórias e da ascendência africana, e pela intenção em conferir visibilização de registros e imagens negras, abordando dores e ressentimentos históricos advindos de séculos de escravização com vistas ao agendamento da reparação histórica e à ruptura com a desigualdade racial histórica, vigente ainda no país. A dinâmica social contemporânea expressa compromissos com a ruptura com o eurocentrismo e coma a criação de estratégias de visibilização de populações e de histórias negadas ou distorcidas. (PEREIRA, 2014: 191) Em síntese, cabem à escola: a responsabilidade de eliminar a visão reduzida e muitas vezes distorcida com que são tratadas as contribuições de negros e seus descendentes para a construção da nossa pátria; e consolidar um ambiente de combate ao racismo, à discriminação e respeito à diversidade. Imagem - https://www.faculdadefutura.com.br/cursos/historia-e-cultura-afro-brasileira https://www.faculdadefutura.com.br/cursos/historia-e-cultura-afro-brasileira%20- 5 Recentemente, tivemos o exemplo do jornalista William Waack, que foi afastado da Rede Globo (onde apresentava um dos principais telejornais da emissora) após o vazamento de um vídeo de bastidor, no qual ele usou uma expressão racista ao fazer um comentário com a pessoa que entrevistaria ao vivo, o também jornalista Paulo Sotero (que reage ao comentário com uma gargalhada igualmente preconceituosa). A indignação contra o comportamento discriminatório de pessoas altamente escolarizadas e formadoras de opinião foi imediata, especialmente nas redes sociais. E a pergunta feita hoje em sala de aula é: como poderemos transformar anos de um pensamento corrompido e ensinamentos superficiais em algo positivo dentro da sala de aula para que os alunos compreendam e possam dar valor a essa cultura que tanto contribuiu para o surgimento de uma nação?Vamos tentar caminhar sem deixar esse pensamento de lado, nós com professores, temos a importante missão de levar para os alunos um conteúdo que vai além da data de 20 de novembro (dia da consciência negra), que ultrapasse o simples mostrar a imagem de Zumbi do Palmares, mas dar atenção a projetos que valorizem a literatura negra, os artistas e a cultura africana; mobilizar os próprios alunos para uma discussão e conscientização da cultura negra dando voz a coletivos com projetos que sejam capazes de envolver os alunos de forma a trazer um pouco da cultura negra para dentro da escola. 6 2. O ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E SEUS DESAFIOS A cultura afro-brasileira está presente em nosso dia a dia, mas infelizmente nem todas as instituições de ensino realizam ou aplicam em suas escolas essa lei. O tema referido em nossa apostila vem trazer uma explanação do assunto e mostrar a importância e a relevância deste em sala de aula e o papel do professor que por muitas vezes não aborda o assunto com a devida importância. Em quase tudo hoje em dia encontramos costumes e crenças do povo africano: brincadeiras, roupas, danças, musicas, comidas e até na religião podemos encontrar a África no Brasil. Dentro de sala de aula não pode ser diferente, uma vez que preparar os alunos para esse tipo de diversidade e conhecimento é nosso papel enquanto educadores e professores. Em nossa apostila vamos encontrar um pouco da história e de como a lei 10.639 vem auxiliar o professor para que possa em sala de aula trabalhar esse tema de forma relevante e conscientizadora para o aluno. Passados dez anos da sanção da Lei 10.639/03, que obriga escolas públicas e particulares a ensinar história e cultura afro-brasileira, o Brasil ainda enfrenta uma série de desafios para vencer o racismo dentro das instituições de ensino. De uma forma geral, a situação hoje é de aplicação pontual da legislação por professores e escolas e de falhas na formação de docentes. "As escolas ainda trabalham a questão racial apenas em 13 de maio (data da abolição da escravatura no Brasil, em 1888) ou em 20 de novembro (dia da Consciência Negra), mas isso tem que fazer parte do cotidiano. Um professor não pode fazer carinho apenas no cabelo liso, mas também no cabelo crespo", afirmou a coordenadora de Educação em Diversidade da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Ana José Marques. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2003/lei-10639-9-janeiro-2003-493157-publicacaooriginal-1-pl.html 7 Agencia Câmara de Noticias- https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA- DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html Um dos grandes desafios e que se torna uma dificuldade em sala de aula é a formação de professores. Os cursos superiores que formam os docentes, disseram, muitas vezes não incluir na grade curricular a temática da história e da cultura afro-brasileira, sendo este um assunto a ser tratado em disciplinas optativas, quando há oferta. Resta às secretarias de educação promover cursos de formação continuada de seus professores, criando oportunidade de acrescentar a formação do docente esse assunto tão relevante. Ao mesmo tempo em que é um desafio, podemos ver um avanço em sala de aula, pois agora o assunto é tratado de uma forma mais efetiva. É claro que muitas coisas precisam mudar, e é isso que vamos analisar nos próximos capítulos dessa apostila, como reconhecer a contribuição do povo africano na construção da nossa cultura e transmitir em sala de aula para os alunos, não só em datas comemorativas, mas também mostrar que tudo em nossa volta sofreu fortes influências desses povos. Vamos começar observando rapidamente com foi essa caminhada: https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/442414-ENSINO-DA-CULTURA-AFRO-BRASILEIRA-AINDA-ENFRENTA-DESAFIOS,-DIZEM-ESPECIALISTAS.html 8 1948 - Uma das mais significativas experiências de mobilização negra foi o jornal Quilombo, editado no Rio de Janeiro. A edição nº 0, ano 1, trazia a seguinte afirmação: "Nos dias de hoje a pressão contra a educação do negro afroxou (sic) consideravelmente, mas convenhamos que ainda se acha muito longe do ideal". 1949 - 1º Congresso do Negro Brasileiro. Temas abordados: sobrevivências religiosas e folclóricas; formas de luta (capoeira de Angola, batuque, pernada); línguas (nagô, gegê, língua de Angola e do Congo, as línguas faladas nos anos de escravidão). Década de 1950 - Iniciam-se os primeiros estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos no Brasil. Décadas de 1960 e 1970 - Os militares oficializaram a ideologia da democracia racial e a militância que ousou desafiar esse mito foi acusada de imitadora dos ativistas americanos, que lutavam pelos direitos civis. O mito da democracia racial persiste até hoje. Década de 1980 - Retomada dos estudos sobre preconceitos e estereótipos raciais em livros didáticos. Os resultados das pesquisas apresentam a depreciação de personagens negros, associada a uma valorização dos brancos. 1984 - Em São Paulo, a Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-Brasileiros promoveu discussões com professores de várias áreas sobre a necessidade de rever o currículo e introduzir conteúdos não discriminatórios. 1985 - A comemoração de 13 de maio foi questionada pela Comissão por meio de cartazes enviados às escolas do estado de São Paulo. O material também exaltava 20 de novembro como data a comemorar a consciência negra. 1986 - A Bahia inseriu a disciplina Introdução aos Estudos Africanos nos cursos de Ensino Fundamental e Médio de algumas escolas estaduais atendendo a antiga reivindicação do movimento negro. 1996 - Entre os critérios de avaliação dos livros didáticos comprados e distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foram incluídos aqueles específicos sobre questões raciais. 1998 - Inclusão da Pluralidade Cultural entre os temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais. 2003 - A publicação da Lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino da História da África e dos Afro-brasileiros no Ensino Fundamental e Médio. 9 O Brasil – o país mais negro fora da África – ainda enfrenta uma série de desafios para acabar com o racismo e promover mais equidade para essa população, que representa mais de 50% do total de brasileiros. Uma iniciativa que veio contribuir para mudar essa realidade completa, em 2018, 15 anos da sua promulgação: trata-se da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório no país o ensino de história e de cultura africana e afro-brasileira nas escolas em sua totalidade. A legislação considerada na época uma grande conquista, principalmente pelos movimentos sociais negros e parceiros que lutavam há bastante tempo pela inserção do tema na educação, ainda enfrenta uma série de barreiras para ser de fato implementada com qualidade. Apesar dessa imensidão de teses, artigos e trabalhos de conclusão de curso que tivemos nos últimos 15 anos sobre o tema, o que é um avanço, ainda precisamos de mais profissionais que possam se dedicar a esta área do conhecimento, como ocorre em outros países. Além disso, temos constantemente embates políticos, como agora o novo currículo proposto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e o que vemos é o silenciamento da aplicação da lei. Algumas escolas entendem que não precisam mais falar sobre o tema, que não têm obrigação. E isso nos leva a entender o quanto temos ainda no Brasil uma sociedade racista, discriminadora, que não consegue ver todos os grupos em termos de igualdade. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm 10 3. HISTÓRIA DA ÁFRICA Para compreendermos um pouco da história da África de uma forma resumida, precisamos visualizar geograficamente seu território. O continente africano é divido em duas partes distintas: o centro norte (no mapa compreende a parte mais clara) é dominado pelo grande deserto do Saara (8.600.000 Km2); já o centro sul (no mapa compreende a parte mais escura) é ocupado pela floresta tropical (figura1) Imagem - https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-duas-africas.htm Essa separação geográfica pode ter proporcionado a diferenciação étnica existente no continente, pois o norte é habitado por árabes, egípcios, beberes e tuaregues e no centro sul encontramos mais de 800 etnias negras africanas. Desta forma, a disposição geográfica mostra que o isolamento de ambas as regiões determinou um contato esporádico com os povos europeus, onde não encontramos por muito tempo uma relação entre africanos e europeus https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-duas-africas.htm 11 Contudo, entre os africanos havia alguns contatos entre o norte e centro sul, onde o tráfico de escravos no continente africano já existia e os traficantes transportavam para Arábia e para os mercados do mediterrâneo, temos que ressaltar que era um tráfico bem menor que o europeu no período dos descobrimentos. No século XV, com o advento das grandes expedições atlânticas, o continente africano foi um dos primeiros a ser explorado, primordialmente por Portugal, que possuía a autorização previa da igreja através de encíclicas papais: [...] Dum, Diversas e a RomanusPontifex – deram direitos aos reis de Portugal de despojar e escravizar eternamente os Maometanos, pagãos e povos pretos em geral”. (LOPES apud OLIVA,2003, p.435, grifos do autor) Ao longo de vários séculos, historiadores africanos encontraram diversos manuscritos retratando as culturas, as guerras, as políticas e economias da África, na maioria utilizando a escrita muçulmana ou árabe. A maioria destas narrativas pautava-se em fontes orais que eram analisadas sem uma concepção euro centristas. O que esperar de seres de pele negra que no período medieval sempre eram associados ao mal devido às interpretações da sagrada escritura? Desta forma, coma autorização da igreja e de “Deus” os navegantes se deparam com os povos africanos, que para o seu olhar europeu, confirmaram realmente sua inferioridade devida sua falta de “civilização”, rituais pagãos e bestializados, e sua língua Barbara. Acredita-se que o tráfico de escravos praticados por portugueses tenha retirado 15 milhões de africanos de suas terras e encaminhado para outras localidades sendo que 4 milhões tenham sido levados para o Brasil. Este processo é chamado de desterritorialização, que pode ser definido como uma quebra de vínculos, uma perda de território, um afastamento dos nossos territórios um afastamento dos nossos territórios, havendo assim, uma perda de controle das territorialidades pessoais ou coletiva, uma perda de acesso a territórios econômicos, simbólicos.Este fenômeno se caracteriza pelas civilizações ibéricas que não somente fundaram 12 colônias na África, mas expatriaram habitantes por motivos comerciais e lucrativos. Contudo o século XV com a chegada dos europeus e a penetração para o interior intensificou– se: a dominação da África e inúmeras narrativas começaram a ser produzidas sobre uma nova ótica. Nasce o “exótico Novo Mundo”, descrição destas terras selvagens e austeras com sua fauna e flora desconhecida inundaram a sociedade européia. Mas o maior impacto foi a descrição do “outro”, dos habitantes destas terras, “parecidos” com seres humanos, contudo, despidos literalmente de civilidade e com a pele de cor negra. Imagem - https://twitter.com/descomplica/status/1024733350219661314 https://twitter.com/descomplica/status/1024733350219661314 13 3.1. CULTURA Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. A história registra com abundância as transformações por que passam as culturas, seja movida por suas forças internas, seja em consequência desses contatos e conflitos, mais freqüentemente por ambos os motivos. Por isso, ao discutirmos sobre cultura, temos sempre em mente a humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de existência. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa. Assim, cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a grande variação delas. Saber em que medida as culturas variam e quais as razões da variedade das culturas humanas são questões que provocam muita discussão. Por enquanto é fundamental entender os sentidos que uma realidade cultural faz para aqueles que a vivem. De fato, a preocupação em entender isso é uma importante conquista contemporânea. Desde o século passado tem havido preocupações sistemáticas em estudar as culturas humanas, em discutir sobre cultura. Esses estudos se intensificaram na medida em que se aceleravam os contatos, nem sempre pacíficos, entre povos e nações. As preocupações com cultura se voltaram tanto para a compreensão das sociedades modernas e industriais quanto das que iam desaparecendo ou perdendo suas características originais em virtude daqueles contatos. Contudo, toda essa preocupação não produziu uma definição clara e aceita por todos do que seja cultura. Por cultura se "entende muita coisa", e a maneira como ela foi mencionada nas páginas anteriores é apenas um entre muitos sentidos comuns de cultura. 14 Vejamos alguns desses sentidos comuns. Cultura está muito associada a estudo, educação, formação escolar. Por vezes se fala de cultura para se referir unicamente às manifestações artísticas, como o teatro, a música, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar na cultura da nossa época ela é quase identificada com os meios de comunicação de massa, tais como o rádio, o cinema a televisão. Ou então cultura diz respeito às festas e cerimônias tradicionais, às lendas e crenças de um povo, ou a seu modo de se vestir, à sua comida a seu idioma. A lista pode ser ampliada. As várias maneiras de entender o que é cultura derivam de um conjunto comum de preocupações que podemos localizar em duas concepções básicas. A primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspectos de uma realidade social. “Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou nação” ou então de grupos no interior de uma sociedade. Podemos assim falar na cultura francesa ou na cultura xavante. Do mesmo modo falamos na cultura camponesa ou então na cultura dos antigos astecas. Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas. No entanto, o sentido em que se fala de cultura é o mesmo: em cada caso dar conta das características dos agrupamentos a que se refere, preocupando-se com a totalidade dessas características. Imagem - https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/ https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/ 15 Vamos à segunda. Neste caso, quando falamos em cultura estamos nos referindo mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças, assim como às maneiras como eles existem na vida social. Observem que mesmo aqui a referência à totalidade de características de uma realidade social está presente, já que não se pode falar em conhecimento, idéias, crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. O que ocorre é que há uma ênfase especial no conhecimento e dimensões associadas. Entendemos neste caso que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio, da vida social. Imagem - https://amar.art.br/um-projeto-nacional-para-a-cultura-brasileira/ https://amar.art.br/um-projeto-nacional-para-a-cultura-brasileira/ 16 4. ÁFRICA E BRASIL: A UNIÃO DA HISTÓRIA E CULTURA Iniciamos esse capítulo falando sobre os variados tipos de resultados que nasceram dessa união, união entre dois povos e que deixou um rico legado para as gerações. Podemos começar falando do feriado do dia 20 de novembro, feriado da consciência negra, mas você sabe como ele surgiu? A data foi estabelecida pelo projeto Lei n.º 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. No entanto, somente em 2011 a lei foi sancionada (Lei 12.519/2011) pela presidente Dilma Rousseff.O Dia da Consciência Negra é comemorado em todo território nacional. Esta data foi escolhida por ter sido o dia da morte do líder negro Zumbi, que lutou contra a escravidão no Nordeste. A celebração relembra a importância de se refletir sobre a posição dos negros na sociedade. Afinal, as gerações de afro descendentes que sucederam a época de escravidão sofreram diversos níveis de preconceito diretamente relacionado a cor de sua pele. Zumbi, nascido livre num quilombo (aldeia onde viviam os escravos fugitivos), lutou até a morte para defender seu povo contra a escravidão. Da escravidão, Zumbi só conhecia as terríveis histórias que os mais velhos estavam sempre contando. Eles lembravam a morte no porão dos navios, a escuridão das senzalas, o trabalho escravo e os castigos sofridos. O Quilombo dos Palmares estava situado numa longa faixa de terra de 200 quilômetros de largura, estava paralelo à costa, situado entre o cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e a parte norte do curso superior do rio São Francisco, hoje no estado de Alagoas. Numa das batalhas entre os colonose o Quilombo, Zumbi foi morto. Como era costume na época, seu corpo ficou exposto em praça pública para servir de exemplo para que ninguém tentasse ir contra os colonizadores. Mesmo assim, seu exemplo de luta foi passando de geração e ele acabou sendo escolhido como herói para o povo negro brasileiro. https://www.todamateria.com.br/quilombo-dos-palmares/ 17 Imagem - Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) Acervo do Museu Antonio Parreiras A criação de um dia comemorativo da Consciência Negra é uma forma de lembrar a importância de valorizar um povo que contribuiu para o desenvolvimento da cultura brasileira. E você como futuro professor (a) deve aproveitar essa data e conscientizar os alunos para a importância desse povo na formação social, histórica e cultural de nosso país. Mas qual foi o legado deixado pelo povo africano em nosso país? Onde podemos encontrar a cultura afro em nosso país? Quando os portugueses começaram a comprar ou capturar africanos e trazê-los para serem escravizados no Brasil, trouxeram também muitas coisas da cultura africana para o nosso território. Os escravos que vinham da África não eram todos de um mesmo povo; falavam várias línguas, tinham diferentes religiões, comidas próprias e aparências diferentes. Essa diversidade de costumes acabou influenciando a formação da cultura brasileira e chegando até nós, nos dias de hoje,de diferentes formas. https://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/ 18 A existência da escravidão no Brasil durante quase quatrocentos anos, além de ter constituído a base da economia material da sociedade brasileira, influenciou também sua formação cultural. A miscigenação entre africanos, indígenas e europeus é à base da formação populacional do Brasil. Dessa forma, a matriz africana da sociedade tem uma influência cultural que vai além do vocabulário, que por sua vez, é extenso:Moleque, quiabo, fubá, caçula e angu, cachaça, dengoso, quitute, berimbau e maracatu - todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial. Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira. Diante das mais variadas formas de influência Afro atualmente, podemos destacar para o nosso estudo dentro de nossa apostila a religião, a música, dança e a culinária. Vamos conhecer um pouco sobre esses elementos, suas características e alguns aspectos importantes e essenciais para o desenvolvimento e abordagem desse tema em sala de aula por vocês, futuros professores. Imagem - https://novaescola.org.br/ https://novaescola.org.br/ 19 4.1 Culinária A culinária é um elemento típico da cultura afro-brasileira. Com ela veio também às panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da culinária baiana, preparados com azeite dendê e pimentas. Destacam-se Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além dos doces de pamonha e cocada. E, por fim, o prato brasileiro mais conhecido de todos: a feijoada. Ela foi criada pelos escravos como uma apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir dos restos de carne que os senhores de engenho não consumiam. Como os colonizadores vieram para o Brasil sem suas mulheres, eles utilizavam as escravas para realizar as atividades como lavar, passar, servir e claro, cozinhar. As escravas precisavam improvisar para alimentarem-se no novo território, que, por sua vez, tinha uma estrutura bem pouco eficaz. Diante da precariedade dos utensílios de cozinha da época, surgiu a própria maneira de cozinhar, preparar e principalmente reinventar sua arte de cozinhar, pois até mesmo a elite da época, tinha de importar vários gêneros, devido a precariedade de desenvolvimento e produtividade da terra. O uso de sementes, raízes, folhas, frutas e tudo que pudesse suprir a carências dos alimentos na colônia e nas senzalas, passaram a dar um novo sabor na arte de cozinhar e assim, na própria cozinha brasileira, que essencialmente com a incorporação de animais que a dieta africana trazia em seus cardápios, privilegiava a mesa dos Senhores nas colônias. Adeptos da caça utilizaram os animais que encontravam no estranho território como, tatus, lagartos, cutias, capivaras, preás e caranguejos. Os animais eram muitos freqüentes nos cardápios das senzalas e praticamente passou a incorporar os cardápios dos colonizadores. 20 Proveniente tanto do próprio alimento assado ou cozido, quanto do alimento preparado com água e sal, o caldo deu origem a pratos típicos da cozinha brasileira, como o Angu (caldo com farinho de milho), e o pirão (caldo com farinha de mandioca), já conhecido pela cultura indígena. O modo africano na arte de cozinhar e temperar incrementou elementos culinários de portugueses e indígenas, recriando tanto sua própria arte de cozinhar, quanto a própria forma da cozinha brasileira. Dos pratos portugueses era comum as galinhas e os ovos nas dietas dos escravos doentes, pois os opressores acreditavam que fossem alimentos revigorantes. Com o passar dos tempos, a galinha passou a ser incluída nos cardápios afro-brasileiros. Assim, desenvolveram-se pratos típicos da cozinha brasileira, como o vatapá e o xinxim, resistentes até hoje, nos cardápios típicos regionais do país. Algumas comidas afro-brasileiras: Acarajé Bolo de feijão-macaça temperada e moída com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê. Mungunzá Alimento preparado com milho em grão e servido doce(com leite de coco) ou salgado (com acompanhamento de carne -de - sal/ ou torresmo) com leite. Vatapá Papa de farinha-de-mandioca com azeite de dendê e pimenta, servida com peixe e crustáceos. Quibebe Papa ou purê de abóbora(jerimum)com leite. Abará Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Iansã, Obá e Ibeji). Aberém Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Oxumaré). 21 Abrazô Bolinho da Culinária Afro-Brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frita em azeite-de-dendê. Acaçá Bolinho da Culinária Afro-Brasileira, feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e açúcar, é chamado acaçá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxalá, Nanã, Ibeji, Iemanjá e Exu.] Ado Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxum). Imagem - Acarajé - https://www.aguanaboca.org/receita/receita-de-acaraje/ https://www.aguanaboca.org/receita/receita-de-acaraje/ 22 4.2 Músicas e Dança As danças africanas integram a extensa lista de componentes culturais do continente africano e representam uma das muitas maneiras de comunicação cultural. Esse tipo de manifestação é de extrema importância para o seu povo, constituindo como parte essencial da vida. É uma maneira de estarem sempre conectados com seus antepassadose carrega uma poderosa carga espiritual, emocional e artística, além do entretenimento e diversão. As danças africanas tradicionais são realizadas em ocasiões importantes. Destacam-se as cerimônias em rituais de passagem, nascimento, casamento, morte, colheita, guerra, alegria, tristeza, doenças e agradecimentos. Apesar de o continente africano ter uma grande extensão com diversos países e culturas diferentes, podemos destacar como pontos comuns na dança da maioria dos povos africanos: A organização em círculos, semicírculos ou fileiras; A participação de todos independentes da idade ou escala social na comunidade; O acompanhamento de música produzida pelo som de instrumentos de percussão e batuques de tambores. A partir do estilo de dança africano evoluíram ritmos hoje bastante conhecidos pelo brasileiro, como o samba, afoxé, maracatu, congada, lundu e a capoeira, exemplos da influência africana na música brasileira que permanecem até os dias atuais. Não podemos perder de vista que estas expressões musicais são também corporais. Elas refletem nas formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação musical do samba. Temos outras expressões de música e dança como as danças rituais, o tambor de crioula, e os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé baiano. Finalmente, merece destaque especial para a capoeira. Ela é uma mistura de dança, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014. Vamos conhecer um pouquinho dessas danças. O jongo É uma dança de origem africana. O jongo permitia que os escravos se comunicassem de forma que os senhores e capatazes não compreendessem aquilo que falavam. Por meio dessa dança contavam suas tristezas e sofrimentos. https://www.todamateria.com.br/samba-de-roda/ 23 Samba de roda É um gênero musical de tradição afro-brasileira. É tocado com pandeiros, atabaques, berimbaus, chocalho e viola. Maracatu É um dos ritmos de tradição africana, que hoje é difundido em todo o nordeste brasileiro, especialmente, nas cidades de Recife e Olinda. É caracterizado principalmente pela percussão forte, que teve origem nas congadas, cerimônias de coroação dos reis e rainhas da nação negra. A roda de capoeira Inicialmente criada para proteção e defesa própria. Hoje vista mais como uma forma de expressão artística, devido ao movimento que os corpos fazem, durante a prática. Desenvolvida no Brasil por escravos africanos, é uma forma de expressão cultural que mistura dança, luta, música, jogo. Nela são encenados golpes e movimentos acompanhados por músicas. Os capoeiristas ficam na roda de capoeira batendo palma no ritmo do berimbau e cantando a música enquanto dois capoeiristas jogam capoeira. Capoeira é uma arte marcial marcada por seus golpes que enganam o adversário, que geralmente são feitos no solo ou completamente invertido. Imagem - O Maracatu - https://www.todamateria.com.br/dancas-africanas/ https://www.todamateria.com.br/dancas-africanas/ 24 4.3 Religião No aspecto religioso os africanos buscaram sempre manter suas tradições de acordo com os locais de sal origem dentro do continente africano. Entretanto, a necessidade de aderirem ao catolicismo levou diversos grupos de africanos a misturarem as religiões do continente africano com o cristianismo europeu, processo conhecido como sincretismo religioso. São exemplos de participação religiosa africana o candomblé, a umbanda, a quimbanda e o catimbó. Algumas divindades religiosas africanas ligadas às forças da natureza ou a fatos do dia a dia foram aproximadas a personagens do catolicismo. Por exemplo, Iemanjá, que para alguns grupos étnicos africanos é a deusa das águas, no Brasil foi representada por Nossa Senhora. Xangô, o senhor dos raios e tempestades, foi representado por São Jerônimo. Esse sincretismo com o catolicismo é originado de uma série de conflitos étnicos, principalmente no que compreendia a relação senhor branco e escravo negro. O contato entre povos tão distintos em uma terra que não era nativa de qualquer um dos envolvidos acaba por dar origem a um movimento de adaptação cultural complexo. Os negros precisaram camuflar sua ideologia para que não fossem cruelmente reprimidos pela política obrigatória da religião católica. A solução encontrada é a associação de suas divindades africanas às santidades européias, surgindo desta forma o que hoje tratamos por sincretismo religioso, como mencionado anteriormente. Faz-se importante ressaltar neste ponto que este processo também absorveu outras culturas como a indígena, por exemplo. Algumas divindades Africanas e seu correspondente católico: 1. Oxala: Jesus; 2. Oxum: Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida; 3. Oxumaré: São Bartolomeu; 4. Oxóssi: São Sebastião; 5. Obá: Santa Catarina; 6. Xangô: São Francisco de Assis, São Pedro, São João Batista; 7. Ogum: São Jorge, Santo Antonio; 8. Iemanjá: Maria mãe de Jesus; 25 Quando falamos da religião africana e suas influências aqui no Brasil, podemos verificar sua história de origem e características que são bem peculiares. Notamos estas diferenciações e adaptações que fazem da doutrina um movimento único, que perdura o tempo e carrega consigo a historicidade do povo negro. Vale ressaltar que elas possuem ainda várias ramificações dependendo de onde ela está inserida geograficamente. Vamos analisar duas delas. Candomblé De todas estas religiões, o Candomblé é a que mais carrega características da África, uma vez que esta é uma doutrina africana, mas que recebeu influência de outras fés após a chegada dos negros no Brasil. Como os africanos eram proibidos de cultuarem suas divindades em solos brasileiros, eles passaram a fundir os seus símbolos com os da igreja católica. No meio deste sincretismo surge o Candomblé afro-brasileiro, que cultuavam os orixás e tem uma forte fundamentação de sacralização dos animais. Umbanda Geralmente confundida com o Candomblé, a Umbanda é uma religião brasileira, mas que acabou recebendo forte influência dos candomblecistas. Nascida em 1908, através do Médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu guia, o Caboclo das 7 encruzilhadas, a Umbanda rompe-se com o Espiritismo, mas carrega muitas de suas características. Nesta religião não há a sacralização de animais. Imagem -Cena de Candomblé - Museu Afro Brasil - MAB (Acervo Museológico) - Wilson Tibério 26 Diferenças entre o Candomblé e a Umbanda Candomblé Umbanda Hierarquia forte A hierarquia não é tão rígida 5000 anos de existência Fundada no século XX Realiza sacrifícios de animais em cerimônias específicas Não realiza sacrifícios de animais Há incorporação somente de entidades, mas o orixá não fala, não dá consulta, só dá o axé (benção). Somente o pai e/ou mãe de santo dão conselhos e consultas através do Ifá, dos búzios. Tem incorporação de entidades encarnadas, ou seja: de espíritos que já viveram na terra. Esses dão consultas e conselhos diretamente ao cliente. Não há incorporação do orixá. Ser pai e/ou mãe de santo é equivalente ao sacerdócio católico. Por isso, é difícil para eles terem uma vida comum, pois há uma série de restrições alimentares, de vestimentas e de atitudes. O sacerdote não precisa se dedicar exclusivamente a Umbanda. Para se sustentarem, a casas de candomblé cobram por trabalhos realizados. Não cobra pelos serviços. Imagem - Toda a Matéria - https://www.todamateria.com.br/candomble/ https://www.todamateria.com.br/candomble/ 27 5. CONCLUSÃO O tema abordado nessa apostila é muito importante e é um grande desafio para o professor ou professora em sala de aula. A influênciaque recebemos desse povo vai além de uma simples canção ou uma dança, é algo real e concreto, que pode ser observado no nosso dia a dia. Em um breve histórico das lutas e conquistas recentes, observamos a ciência dos séculos 18 e 19 considerando que os brancos possuíam maior capacidade intelectual. Depois vinham os índios e, por último, os negros. Alguns estudos afirmavam que os negros se situavam abaixo dos macacos. "Qualquer que seja o grau dos talentos dos negros, ele não é a medida dos seus direitos", Thomas Jefferson (1743-1826), político americano. Nós professores precisamos trabalhar a cultura negra como uma constante dentro de sala de aula. Somente agora há sinais concretos de mudanças para o futuro nas relações inter-raciais. Primeiro foram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que orientam a promoção da igualdade em um dos temas transversais, Pluralidade Cultural. Mas um passo muito maior e mais significativo para o ensino foi dado com a Lei no 10.639. "A legislação rompe com a ordem dos currículos ao propor um novo conhecimento científico contrário à superioridade da produção cultural européia", afirma Eliane Cavalleiro, pedagoga e coordenadora geral de Diversidade e Inclusão Educacional do Ministério da Educação (MEC). Ou seja, o mundo não se resume às conquistas e derrotas do continente europeu, mas sim, começa a valorizar e ressaltar toda a importância e perceber que a cultura africana tem sim o seu valor. Muitos professores em sala de aula cometem o erro de abordar a história dos negros a partir da escravidão, apresentando o continente africano cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e as doenças, pensando que o trabalho sobre a questão racial deve ser feito somente por professores negros para alunos negros. Não podemos apenas nos limitar dentro das salas de aulas em ver a foto do personagem Zumbi dos Palmares, podemos sim trazer para as salas de aulas um pouco da rica cultura africana e como ela está inserida em nosso cotidiano em nossas vidas. 28 Devemos no aprofundar nas causas e consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão, enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro compreender que a questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus e de outros povos, reconhecendo a existência do racismo no Brasil e a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana. Como por exemplo, por que não incluir nas aulas um pouco da literatura que fala sobre o assunto, como “A história da menina bonita e o laço de fita” da escritora Ana Maria Machado ou até mesmo “O menino marrom” do escritor Ziraldo. Vale ressaltando que ensinar e introduzir esse tópico nas salas de aula vai além de apenas apresentar a lista dos negros de antes e a escravidão, mas conscientizar que apesar de terem tido muitos avanços, mais ainda há um longo caminho a percorrer que nosso aluno como futuro professor pode ter um papel de protagonista nessa história de luta que se iniciou há mais de 400 anos atrás. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional de Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. 14 CANARIO, Rui. E escola tem: das “promessas” as “incertezas”. Porto Alegre:Universidade de Lisboa.2008 CUNHA, Henrique Jr. A inclusão da história africana no tempo dos parâmetros curriculares nacionais. Centro de Tecnologia - Universidade Federal do Ceará - UFC e Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro - NEINB/USP [20--]. Disponível em: <http://mulheresnegras.org/cunha_01.html>. __________ . Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006. __________ . Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: outubro de 2005. __________ . Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999. CARNEIRO DA CUNHA, Marianno. Arte afro-brasileira. In: ZANINI, Walter (Ed.). História geral da arte no Brasil, vol. II. São Paulo: Instituto Walter Moreira Salles, 1983[a.1980]. p. 973-1033. JENSEM, Tina Gudrun. Discursos sobre as religiões afro-brasileiras - Da desafricanização para a reafricanização. Revista de estudo a religião – Tradução Maria Filomena Mecabô. ISSN 1677-1222. PUC São Paulo. Disponível em: https://www.pucsp.br/rever/rv1_2001/t_jensen.htm FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 4 ed. São Paulo: Global, 2003. NEGROS NO BRASIL. Movimento Negro. [20--]. Disponível em: <http://negros- nobrasil.info/movimento-negro.html>. VERGER, Pierre. Orixás: deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 1981. https://www.pucsp.br/rever/rv1_2001/t_jensen.htm
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