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Psicomotricidade e Psicopedagogia 
 
Competências 
• Compreender os conceitos de Psicomotricidade e 
Psicopedagogia; 
• Entender o fazer do psicólogo nessas subáreas da psicologia; 
• Compreender a relação entre Psicomotricidade e 
Psicopedagogia; 
• Compreender como essas especialidades da Psicologia se 
relacionam com a educação e o desenvolvimento do indivíduo; 
 
Introdução 
 
A psicologia pode ser pensada como uma ciência que tem como 
objeto de estudo o comportamento humano. A manifestação desse 
comportamento pode ser uma resultante da expressão da sua emoção, 
desencadeando um ato motor voluntário. A função motora é um aspecto 
presente desde a concepção do indivíduo, perdurando por todas as 
etapas do ciclo vital até o fenecer. O homem não nasce pronto, mas se 
constrói na sua relação com o outro, da mesma forma acontece com 
seu corpo. O movimento é a manifestação do desenvolvimento humano 
e possibilita a interação do sujeito com o mundo externo (Rocha, 2007; 
Caron, 2010). 
O desenvolvimento pleno e integral do indivíduo está relacionado 
às atividades psicomotoras. O estudo entre o pensamento e a ação, 
envolvendo a emoção são pertencentes à psicomotricidade. Nesse 
sentido, essa ciência pode ser entendida como um campo de estudos 
onde há a interação dos aspectos motor, cognitivo e afetivo, levando 
em consideração o contexto ecológico, social e cultural do indivíduo. 
Tendo o homem como objeto de estudo, a psicomotricidade 
engloba as áreas educacionais, pedagógicas e de saúde. Nessa 
perspectiva, as ações de educação psicomotoras são técnicas 
pedagógicas eficientes e necessárias ao desenvolvimento infantil, na 
medida em que a psicopedagogia é um campo científico que se dedica 
a desvendar dificuldades de aprendizagem e fracasso escolar olhando 
o indivíduo em sua totalidade, integrando os aspectos afetivos, 
biológicos e sociais. 
O objetivo deste capítulo é oferecer conhecimento sobre essas 
duas áreas de atuação do psicólogo, descrevendo suas possibilidades 
de atuação e fazendo um paralelo entre a psicopedagogia e a 
psicomotricidade, de maneira que seja possível um entendimento a 
respeito do que representam na psicologia e de que forma elas se 
entrelaçam nessa ciência. 
 
Psicomotricidade 
 
A psicomotricidade enquanto ciência é campo da Psicologia, da 
Pedagogia, da Educação Física, da Fisioterapia, da Terapia 
Ocupacional e da Fonoaudiologia. Para atuar como psicomotricista, é 
necessário que o profissional adquira conhecimentos específicos do 
funcionamento psíquico e sua interrelação com a atividade motora, 
sendo indispensável que haja uma compreensão global do indivíduo, 
considerando aspectos de sua personalidade, emoção, aculturação e 
desenvolvimento. Na psicologia, o psicomotricista é um profissional que 
além da sua formação básica tem a concessão do título de especialista 
em psicomotricidade, conforme as exigências do Conselho Federal de 
Psicologia (CFP, 2007). 
A psicomotricidade é considerada uma ciência da educação com 
enfoque na constituição do corpo com o psiquismo do homem, 
educando o movimento em paralelo com as funções intelectuais, 
visando potencializar a capacidade física do indivíduo para favorecer 
seu desenvolvimento geral. Diz respeito ao controle mental das 
expressões do corpo, consistindo na dinâmica dos gestos, das atitudes 
e posturas enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do 
ser e da sua interação com o outro e com o mundo. 
Nesse sentido, sendo a psicomotricidade essa relação entre o 
pensamento e o corpo, há uma conexão entre as funções 
neurofisiológicas e psíquicas, levando em consideração as dimensões 
biológicas, psicológicas e sociais do indivíduo, fazendo uso de aspectos 
como a comunicação do ser humano, contemplando gestos e outras 
manifestações corporais que permitem o entendimento da expressão 
da interligação do seu mundo interno e externo (Weirich, 2010). 
Erroneamente, a psicomotricidade por vezes é vista como uma 
técnica de educação física com enfoque no movimento corporal e 
embora, não seja errado que é esse seu objeto de estudo, o objetivo 
não é tão somente o desenvolvimento motor, mas a possibilidade de 
uma leitura holística do indivíduo através deste, pois trata-se de uma 
ciência que envolve conceitos psicológicos, psicossomáticos, 
psicolinguísticos, sociológicos e etc. 
Considerando que a psicomotricidade entende o indivíduo como 
uma concepção indivisível entre o seu corpo e a mente, no sentido em 
que as manifestações e o desenvolvimento de um está relacionado ao 
outro, a aprendizagem está no cerne dessa ciência que associa de 
forma dinâmica o ato ao pensamento, o gesto à palavra e as emoções 
ao símbolos e conceitos. Dessa forma, as estruturas fundamentais para 
que o indivíduo explore o meio em que se desenvolve são equilíbrio, 
tonicidade, orientação espacial e temporal, imagem corporal, 
lateralidade e coordenação motora, preocupando-se com a ação do 
sentir, agir e pensar, transpondo a barreira do “homem e seu corpo” 
para o “homem é o seu corpo” (Weirich, 2010; Barreto, 2012). 
 
Áreas de atuação da Psicomotricidade 
São áreas intimamente ligadas, sendo impossível dissociá-las, 
ainda que seja possível que uma se sobressaia à outra elas são 
complementares. 
Educação: Atua de forma a conceber o desenvolvimento global do 
indivíduo utilizando o corpo como forma de atingir os objetivos na escola 
e está prioritariamente na educação infantil e no ensino fundamental; 
Reeducação: Atua em funções com comprometimento, onde há 
prejuízo de funcionamento, utilizando o próprio corpo para a 
reabilitação. Através de técnicas adequadas, é possível a intervenção 
em transtornos detectados por testes e diagnósticos; 
Terapia: Atua nas emoções e na afetividade e, através de jogos 
corporais, de forma lúdica é possível o entendimento dos conflitos do 
indivíduo e o auxílio nas múltiplas ações de adaptação da vida diária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dessa forma, podemos ver que aspectos como emoção, intelecto 
e movimento estão entrelaçados e fundamentam a psicomotricidade, 
sendo o corpo e sua expressão o objeto de estudo dessa ciência. Sendo 
assim: 
Movimento pode ser entendido como uma ação que ultrapassa o ato 
mecânico, fazendo referência à posturas e posicionamentos do 
indivíduo frente a situações diversas da vida; 
Intelecto: O desenvolvimento desse construto que contempla aspectos 
da inteligência e do pensamento humano necessita do movimento para 
se estabelecer e operar; 
Afeto: Está associada à motivação do indivíduo, envolve com ele 
manifesta suas emoções, como se percebe e como se relaciona com o 
outro e com o mundo. 
Partindo disso, de que forma esses três pilares estão contidos nas 
práticas da psicomotricidade? Vamos entender melhor o movimento, a 
afetividade e a cognição dentro desse fazer. 
 
 
PSICOMOTRICIDADE 
EDUCAÇÃO 
REEDUCAÇÃO 
TERAPIA 
Movimento 
Os movimentos englobam modalidades de exercício alinhamento 
e realinhamento postural, mobilizações globais e segmentares, 
alongamentos, controle do equilíbrio estático e dinâmico, etc. Essa 
atividade desperta a consciência corporal, dando atenção para cada 
ação motora do corpo através dos movimentos. 
Durante as atividades psicomotoras desenvolvemos e/ou 
potencializamos nosso sistema sensório-motor, na medida em que 
percebe-se o desenvolvimento das percepções táteis, visuais e 
auditivas e ainda, funções cognitivas como a atenção e a memória 
também são trabalhadas. 
Afetividade 
Esse conjunto de manifestações de como nos relacionamos com 
as nossas emoções, com o que sentimos, como experimentamos 
eventos diversos da vida e, ainda como essas sensações são refletidas 
em um comportamento emocional são parte da nossa afetividade. 
Sendo assim, essa prática se relaciona com a afetividade, na medida 
que a promoção do afeto se relaciona com a autoestima, segurança eautoeficácia do indivíduo; 
Cognição 
A cognição é o ato de entender, compreender seja o que se 
manifesta no próprio indivíduo, seja o entendimento dele a respeito do 
outro e do mundo. Através da sua percepção é que constrói uma 
concepção de mundo e de indivíduo mediado sócio e culturalmente, 
desenvolvendo suas capacidades e estruturas num processo biológico 
e de interação com o meio. Embora a cognição seja um processo muito 
mais amplo e complexo, ela está ligada ao conceito de aprendizagem: 
 
 
 
 
 
 
Psicopedagogia 
A Psicopedagogia constitui-se uma dentre as diversas 
possibilidades de atuação dos profissionais da pedagogia, da psicologia 
e da fonoaudiologia e é um saber constituído a partir das intervenções 
na educação. 
A psicopedagogia é um campo de conhecimento que surge numa 
fronteira entre a Psicologia e a Pedagogia e se dá de forma 
interdisciplinar integrando outras áreas de conhecimento como a 
fonoaudiologia, a neuropsicologia e o psicolinguística para a integração 
da possibilidade do entendimento da aprendizagem humana (Scoz, 
2011). Dessa forma, a psicopedagogia tem um enfoque no auxílio de 
indivíduos com algum distúrbio ou dificuldade de aprendizagem. 
Bossa (2007), nos diz que a psicopedagogia estuda o processo 
de como se dá o aprender e como este está associado à características 
evolutivas e do meio, bem como os fatores que podem produzir 
dificuldades e comprometimentos nesse processo e como podem ser 
tratados e prevenidos. 
 
 
Aprendizagem é aquisição de 
conhecimento, retenção de memória 
através da observação ou experiência, é a 
possibilidade de movimentar se 
cognitivamente, construindo novos 
saberes ou aprimorando os já existentes. 
Qual é a tarefa da Psicopedagogia? 
Como falamos anteriormente, é um trabalho interdisciplinar que 
tem como objetivo integrar, reunir e operacionalizar conhecimentos e 
práticas transformando-se em um novo todo. É isso que permite a 
inserção saudável do indivíduo no mundo e sua comunicação com a 
cultura e o desenvolvimento social com uma participação ativa e 
autônoma. 
 
 Psicopedagogia Clínica e Institucional 
Tanto a Psicopedagogia clínica quanto a Psicopedagogia 
Institucional buscam o entendimento dos processos cognitivos, sociais, 
orgânicos, pedagógicos, emocionais que interferem na aprendizagem, 
integrando pais, professores e orientadores que sejam parte desse 
sistema com o objetivo de intervir em possíveis conflitos que possam 
estar associados ao prejuízo do processo de aprender. Porém há uma 
fronteira entre esses dois fazeres, a psicopedagogia clínica não pode 
adentrar o espaço institucional na perspectiva metodológica, sendo 
essa uma competência da Psicopedagogia institucional. ] 
A interface entre a Psicopedagogia e a Psicomotricidade 
Sob a ótica da educação, três pilares são fundamentais para a 
formação de um adulto saudável, produtivo e funcional: Cognição, 
afetividade e psicomotricidade. Destes, a psicomotricidade é a que 
permite de forma precoce a aplicação de uma educação formal. 
Portanto, é fundamental para o desenvolvimento da criança, na medida 
em que permite que ela se organize e se aproprie das possibilidades de 
resolução de tarefas educativas como lógica, análise e relações, etc. 
Sendo assim, a Psicopedagogia como ciência que busca fornecer 
elementos que impulsionem a aprendizagem ou ainda que ofereça 
substrato para que ela se desenvolva, conta com o saber e as práticas 
da psicomotricidade como forma de desenvolvimento de habilidades 
motoras que são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, 
afetivo e social do sujeito. 
O trabalho psicomotor beneficia o controle e o relaxamento da 
tonicidade, sendo fundamental para o desenvolvimento harmônico, 
coordenado, espontâneo de rítmico da criança, que beneficiará, por 
exemplo, a escrita mesmo antes da aprendizagem dessa habilidade. 
Nesse sentido, a psicopedagogia se utiliza da educação psicomotora 
não para treinar essas habilidades, mas para que o corpo possa ser um 
instrumento de conhecimento, de articulação do pensamento ( Visca, 
2015). 
Para Piaget (1974), a inteligência é um produto das experiências 
do indivíduo. É através da ação e da motricidade experienciada nas 
suas vivências que ele incorpora e integra o mundo externo ao interno 
e transforma-se, sendo esse um processo de aprendizagem. A partir 
disso, a ideia de que a educação psicomotora deve estar inserida na 
educação básica desde os processos iniciais faz todo sentido, a criança 
terá um melhor desenvolvimento se tomar consciência do seu corpo, da 
lateralidade e dominar espaço e tempo. 
Sendo assim, o trabalho do psicopedagogo pela perspectiva da 
psicomotricidade pode se basear na oferta de condições motoras e 
percepto-cognitivas que possam potencializar as condições de realizar 
atividades que sejam uma possibilidade de desenvolver autonomia de 
movimentos e do pensamento impulsionando essas habilidades. 
Para finalizar, entende-se que o Psicopedagogo pode lançar mão 
de diversos recursos para o desenvolvimento cognitivo da criança e 
tudo que permeia e serve de substrato para essa habilidade. É 
fundamental fazer uso de ferramentas em que se use a expressão 
corporal como jogos, brincadeiras, dança, psicodrama, etc, para que 
sejam essas estratégias de prevenção de distúrbios de aprendizagem 
e também sirvam como intervenções para o tratamento de 
comprometimento dessa capacidade. O conhecimento oferecido pela 
psicologia nesse sentido, como a articulação entre emoção, 
sentimentos, comportamento, vai servir de subsídio para essas duas 
subáreas, psicopedagogia e psicomotricidade, sendo o substrato 
dessas especialidades. 
 
 Referências 
 
 
Barreto, S. J. (2012). Psicomotricidade, educação e reeducação. 4ªed. 
Blumenau: Livraria Acadêmica 
 
BOSSA, N. A. (2007). A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a 
partir de prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed 
 
Caron, J. (2010). PSICOMOTRICIDADE: Um recurso envolvente na 
psicopedagogia para a aprendizagem. Revista de Educação do Ideau. 
V5 N10 pp.1-17. Acesso em 03 de outubro 2020. Disponível em: 
https://www.caxias.ideau.com.br/wp-
content/files_mf/190e12d4ab9d45042132db31f3a4f55c208_1.pdf 
 
Conselho Federal de Psicologia. Resolução N° 013 de 2007. Institui a 
Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de 
Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos 
para seu registro. Acesso em 04 de outubro de 2020. Disponível em: 
https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2008/08/Resolucao_CFP_nx_013-2007.pdf 
 
PIAGET, J. (1974). O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de 
Janeiro: Zaha 
 
ROCHA, Dina Lúcia Chaves. (2007). A base da emoção e da afetividade 
– psicologia e psicomotricidade. In: ALVES, Fátima (org.). Como aplicar 
a psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. 
Rio de Janeiro: Walk 
 
SCOZ, B. (2011). Psicopedagogia e realidade escolar, o problema 
escolar e de aprendizagem. 17ª ed. Petrópolis: Vozes 
 
VISCA, J. (2015). Mosaico Psicopedagógico: textos e reflexões. 
Tradução Laura Monte Serrat Barbosa. São Paulo: Pulso 
 
Weirich, M.M.S. (2010). A relação da Psicomotricidade com a 
Psicopedagogia. Monografia apresentada nos cursos de pós-
graduação (latu sensu). Universidade Cândido Mendes. Rio de Janeiro 
Acesso em 05 de outubro. Disponível em: 
http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/R200187.pdf

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