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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 @emilly.lorenaa APG 30 - Infidelidade fatal 1) COMPREENDER AS CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS, A EPIDEMIOLOGIA, OS MECANISMOS DE TRANSMISSÃO, OS FATORES DE RISCO, QUADRO CLÍNICO, O DIAGNÓSTICO E AS COMPLICAÇÕES DA HIV A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) foi reconhecida pela primeira vez nos EUA, quando o CDC relatou a ocorrência inexplicável de pneumonia por fungo em homossexuais masculinos previamente sadios. Pouco depois, a doença foi diagnosticada nos usuários de drogas injetáveis (UDIs) de ambos os sexos, nos hemofílicos e nos receptores de transfusões sanguíneas; nas parceiras sexuais dos homens com Aids; e nos lactentes nascidos de mães com Aids. Em 1983, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi isolado de um paciente com linfadenopatia e, em 1984, ficou claramente comprovado que esse vírus era o agente etiológico da Aids. A AIDS, então, é uma doença provocada pela infecção pelo HIV e se caracteriza por imunossupressão profunda associada a infecções oportunistas, processos malignos, emaciação e degeneração do SNC. Atualmente, a AIDS é considerada uma doença crônica. A infecção pelo HIV e a AIDS fazem parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças (Portaria de Consolidação MS/GM nº 4, de 28 de setembro de 2017). De 2007 até junho de 2019, foram notificados no SINAN 300.496 casos de infecção pelo HIV no Brasil. Cerca de 38 milhões de pessoas vivem com o HIV. No que se refere às faixas etárias, observou-se que a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se na faixa de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos O HIV é um retrovírus (RNA) que ataca seletivamente linfócitos TCD4+, as células imunes responsáveis por controle e coordenação da resposta imune à infecção. Dessa forma, as pessoas infectadas pelo HIV apresentam deterioração do sistema imunológico e são mais suscetíveis a infecções graves por microrganismos habitualmente inofensivos. O HIV do tipo 1 (HIV-1) é responsável pela maioria das infecções. O HIV-2 é endêmico em muitos países na África Ocidental, embora seja raro em outras partes do mundo. O vírion do HIV é esférico e contém um cerne elétron- denso circundado por um envelope lipídico. A transmissão do HIV se dá através do contato de fluidos corporais, por exemplo, sexo sem proteção, seja oral anal, ou vaginal, compartilhamento de seringas e agulhas, transfusão de sangue contaminado, via vertical ou instrumentos perfurocortantes não esterilizados. Contato sexual é o modo mais frequente de transmissão do HIV e o uso de preservativos é extremamente efetivo na prevenção da transmissão do HIV. O HIV pode ser transmitido da gestante para o feto in utero, durante o trabalho de parto e durante o parto. E também pode ser transmitido pelo aleitamento materno. O risco de transmissão do HIV aumenta quando existem IST com ulcerações genitais (sífilis, infecção por herpes- vírus simples e cancroide) e IST não ulcerativas (gonorreia, infecção por Chlamydia e tricomoníase). É válido destacar que o vírus é transmitido mesmo com indivíduo portador assintomático. O momento no qual uma pessoa infectada, sem anticorpos anti-HIV detectados no sangue, passa a apresentar esses anticorpos é denominado soroconversão. A soroconversão ocorre 1 a 3 meses após a exposição ao HIV, embora possa demorar até 6 meses. O período de tempo entre a infecção e a soroconversão é denominado janela imunológica. Durante esse período, a pesquisa de anticorpos anti-HIV será negativa. FISIOPATOLOGIA O HIV infecta um número limitado de células no corpo, inclusive um subconjunto de linfócitos denominados linfócitos T CD4+ (linfócitos T auxiliares ou células T CD4+), macrófagos e células dendríticas. Os linfócitos T CD4+ são necessários para a função imune normal. Entre outras funções, reconhecem antígenos estranhos e ajudam a ativar linfócitos B produtores de anticorpos. Os linfócitos T CD4+ também harmonizam a imunidade celular, na qual os linfócitos T CD8+ e células natural killer (NK) destroem diretamente as células infectadas por APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 @emilly.lorenaa vírus, Mycobacterium tuberculosis e antígenos estranhos. A função fagocítica dos monócitos e macrófagos também é influenciada pelos linfócitos T CD4+. REPLICAÇÃO DO HIV: 1) A 1ª etapa envolve a ligação do vírus aos linfócitos T CD4+. Quando o HIV chega à corrente sanguínea, liga-se à superfície dos linfócitos T CD4+ graças a um receptor CD4+ que apresenta elevada afinidade para o HIV. Todavia, a ligação a esse receptor não é suficiente para ocorrer infecção; o vírus também precisa se ligar a outras moléculas na superfície (correceptores de quimiocinas, como CCR5 e CXCT4) que se conectam às glicoproteínas do envelope gp120 e gp 41. Esse processo é conhecido como ligação. 2) A 2ª etapa possibilita a internalização do vírus. Após a ligação, os peptídeos do envelope viral se fundem à membrana do linfócito T CD4+. A fusão resulta em perda do envelope do vírus, possibilitando que o conteúdo do cerne viral (os 2 filamentos de RNA viral e as enzimas transcriptase reversa, integrase e protease) penetre na célula do hospedeiro. 3) A 3ª etapa consiste na síntese de DNA. Para a reprodução do HIV é obrigatório que o RNA viral se torne DNA e isso é feito graças a enzima transcriptase reversa. A transcriptase reversa faz uma cópia do RNA viral e, depois, uma cópia especular. O resultado é um DNA de duplo filamento que carreia informações para replicação viral. 4) A 4ª etapa é denominada integração. O novo DNA penetra no núcleo do linfócito T CD4+ e, com a ajuda da enzima integrase, é inserido no DNA original da célula. 5) A 5ª etapa envolve transcrição do DNA viral com duplo filamento para formar RNA mensageiro (mRNA) de filamento único com as instruções para formação de novos vírus. O tratamento da infecção pelo HIV/AIDS se fundamenta no uso de agentes que interrompem as etapas do processo de replicação do HIV. A replicação do HIV envolve a destruição do linfócito T CD4+ e a liberação de cópias do HIV para a corrente sanguínea. Essas partículas virais (vírions) invadem outros linfócitos T CD4+, possibilitando a evolução da infecção. Com o passar dos anos, a contagem de linfócitos T CD4+ diminui gradativamente em decorrência da destruição e o número de vírus detectados no sangue das pessoas infectadas pelo HIV aumenta. Até a contagem de linfócitos T CD4+ cair a níveis muito baixos, uma pessoa infectada pelo HIV pode permanecer assintomática, embora ainda esteja ocorrendo replicação viral ativa e testes sorológicos conseguem identificar anticorpos anti-HIV. Esses anticorpos, infelizmente, não conferem proteção contra o vírus. O declínio contínuo dos linfócitos T CD4+ coloca a pessoa infectada pelo HIV em alto risco de contrair outras infecções ou ter câncer. RESUMINDO: Quando infecta uma pessoa, o vírus HIV se liga a um componente da membrana que reveste o linfócito T CD4+ e o invade para se multiplicar. Ele altera o DNA do linfócito para que crie cópias do vírus. Depois que se multiplica, rompe e destrói o linfócito se ligando a outros para continuar sua multiplicação. Conforme a infecção pelo HIV avança, o sistema imunológico vai enfraquecendo até não conseguir mais combater outros agentes infecciosos. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 @emilly.lorenaa QUADRO CLÍNICO A evolução típica da infecção pelo HIV é definida portrês fases, que geralmente ocorrem em um período de 8 a 12 anos. As três fases são: INFECÇÃO PRIMÁRIA: Muitas pessoas, quando são infectadas incialmente pelo HIV, apresentam uma síndrome semelhante a mononucleose, que pode durar algumas semanas. Essa fase aguda inclui: febre, fadiga, mialgia, dor de garganta, sudorese noturna, distúrbios gastrintestinais, linfadenopatia, erupção cutânea maculopapular e cefaleia. Nessa fase existe aumento da replicação viral, que resulta em cargas virais muito altas, algumas vezes superiores a 1.000.000 cópias/mℓ, e queda da contagem de linfócitos T CD4+. Em geral, os sinais/sintomas surgem aproximadamente 1 mês após a exposição ao HIV, embora possam aparecer mais cedo. Após algumas semanas, o sistema imunológico atua para controlar a replicação viral e reduzir a carga viral a um nível mais baixo. FASE DE LATÊNCIA OU CRÔNICA ASSINTOMÁTICA: a fase primaria é seguida por um período latente em que a pessoa não apresenta sinais nem sintomas da doença. O período latente mediano é de aproximadamente 10 anos. Durante esse período de tempo, a contagem de linfócitos T CD4+ cai gradativamente a partir da faixa normal de 800 a 1.000/μℓ para 200/μℓ ou menos. Alguns indivíduos apresentam linfadenopatia nessa fase. De modo geral, a linfadenopatia generalizada persistente é definida como aumento crônico dos linfonodos por mais de 3 meses em pelo menos dois locais do corpo, não incluindo a região inguinal. Os linfonodos podem ser dolorosos ou visíveis externamente. AIDS FRANCA: ocorre quando uma pessoa apresenta uma contagem de linfócitos T CD4+ inferior a 200/μ ℓ ou uma doença definidora de AIDS. Sem tratamento antirretroviral, essa fase pode evoluir para morte em 2 ou 3 anos ou, em alguns casos, mais rápido ainda. O risco de infecções oportunistas e morte aumenta significativamente quando a contagem de linfócitos T CD4+ cai abaixo de 200/μℓ. EVOLUÇÃO CLÍNICA A evolução clínica da infecção pelo HIV varia de uma pessoa para outra. 60-70% dos infectados pelo HIV desenvolvem AIDS 10-11 anos após a infecção = são considerados progressores típicos. 10-20% evoluem rapidamente, desenvolvendo AIDS em menos de 5 anos = são considerados progressores rápidos. 5-15% não evoluem para AIDS por mais de 15 anos = são progressores lentos. Imunodeficiências graves e até morte podem ocorrer se a infecção pelo HIV não for tratada ou detectada. As infecções oportunistas começam a ocorrer quando o sistema imunológico é gravemente comprometido = o número de linfócitos T CD4+ está diretamente relacionado com o risco de desenvolvimento de infecções oportunistas. As infecções oportunistas são causadas por microrganismos que não provocam infecção em pessoas hígidas. As infecções oportunistas são, mais frequentemente, categorizadas pelo tipo de microrganismos causal: As infecções oportunistas causadas por bactérias e micobactérias incluem pneumonia bacteriana, salmonelose, bartonelose, tuberculose (M. tuberculosis) e infecções causadas pelo complexo Mycobacterium avium-intracellulare (MAC). As infecções oportunistas fúngicas incluem candidíase, coccidioidomicose, criptococose, histoplasmose, peniciliose e pneumocistose. As infecções oportunistas por protozoários incluem criptosporidiose, microsporidiose, isosporidiose e toxoplasmose. As infecções oportunistas virais incluem aquelas causadas por citomegalovírus (CMV), herpes-vírus simples (HSV), herpes-zóster, papilomavírus humano APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 @emilly.lorenaa (HPV) e vírus JC, o agente causal da leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). DIAGNÓSTICO Os métodos diagnósticos usados na infecção pelo HIV incluem métodos laboratoriais para determinar a existência de infecção e métodos clínicos para avaliar a evolução da doença. Tendo em vista as questões psicológicas relacionadas com a infecção pelo HIV e a AIDS, é crucial manter a sensibilidade e a confidencialidade sempre que for implementada a testagem. O método mais acurado e barato de identificar a infecção pelo HIV é a pesquisa de anticorpos anti-HIV (ELISA). O ELISA é um imunoensaio de 4ª geração que detecta o antígeno p24 e anticorpos anti-HIV, tendo uma janela imunológica de 15 dias (os anticorpos contra o HIV geralmente aparecem na circulação dentro de 3 a 12 semanas depois da infecção). Sua sensibilidade e especificidade é de 99%. A PCR é uma técnica de detecção do DNA do HIV, detecta o vírus em vez do anticorpo contra o vírus. É útil no diagnóstico de infecção pelo HIV em recém- nascidos/lactentes de mulheres infectadas porque eles apresentam anticorpos anti-HIV maternos (independentemente de estarem ou não infectados). Como a quantidade de DNA viral na célula infectada pelo HIV é pequena em comparação com a quantidade de DNA humano, a detecção direta do material genético viral é difícil. Os testes rápidos (TR) são imunoensaios simples, com resultados em até 30 minutos, realizados preferencialmente de forma presencial em ambiente não laboratorial com amostra de sangue total obtida por punção digital ou amostra de fluido oral.. Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras) de imunocromatografia de fluxo lateral, imunocromatografia de duplo percurso (DPP) e imunoconcentração. Western-blot: esse teste é considerado “padrão ouro” para confirmação do resultado reagente na etapa de triagem. Tem alta especificidade e sensibilidade, mas, comparado aos demais testes sorológicos, têm um elevado custo. REFERÊNCIAS NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. JAMESON, J L.; FAUCI, Antônio S.; KASPER, Dennis L.; e outros Medicina interna de Harrison - 2 volumes (20ª ed). Porto Alegre: Grupo A, 2019. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016. 149 p.: il.
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