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Módulo Tributo e Segurança Jurídica ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2023.01-TSJ-BSB SEMINÁRIO V - SEGURANÇA JURÍDICA E PROCESSO: COISA JULGADA AÇÃO RESCISÓRIA E PRECEDENTES EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA Questões 1. Tomando o conceito fixado por Paulo de Barros Carvalho1 acerca do princípio da segurança jurídica: “dirigido à implantação de um valor específico, qual seja o de coordenar o fluxo das interações inter-humanas, no sentido de propagar no seio da comunidade social o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurídicos da regulação da conduta.” Pergunta-se: a) Que é segurança jurídica? Qual sua relevância? Trata-se de um tema bastante relevante, o qual ainda é colocado em xeque mesmo atualmente. Para início do debate, não poderia deixar de destacar os ensinamentos do ilustre Humberto Ávila2, quando diz que o direito deve ser “compreensível, estável e previsível”. Para ele o direito tem que possuir um mínimo de clareza e determinação. O professor Paulo de Barros Carvalho3 leciona que o direito é uma construção do ser humano, sendo uma linguagem com o condão de modificar o mundo social. Aqui, entendendo o direito como conjunto de normas jurídicas válidas em um determinado lugar. Nesse sentido, lógico se faz imaginar que o direito detém a finalidade de regular as condutas interpessoais, de maneira que a previsibilidade e a segurança restam por ser valores dependentes a sua finalidade. Nessa esteira, acaba inimaginável afrontar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido, bem como a coisa julgada em um estado democrático de direito, pois assim, fariam com que fossem até 1. In Curso de direito tributário. 15ª edição. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 149. 2 ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2019. 3 Artigo: O Princípio da Segurança Jurídica em Matéria Tributária, de Paulo de Barros Carvalho. Módulo Tributo e Segurança Jurídica mesmo declarados como autoritários os atos imprevisíveis e instáveis contra as pessoas. Ainda, nossa Carta Magna, em seu art. 5º, XXXVI, deixa expresso que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A segurança jurídica é princípio constitucional, garantindo que lei nova não prejudique relações estabilizadas sob vigência de lei anterior. Paulo de Barros ainda vai além, ao mencionar que a segurança jurídica é sobreprincípio, de modo que não o encontramos de maneira explícita, todavia, temos direcionamentos com que nos permitem analisar as suas bases e inseri-la em nosso ordenamento. Podemos exemplificar com o princípio da legalidade tributária, no qual em uma instituição de tributo a lei exige veemente a observância da segurança jurídica, contribuindo para que reste o direito de modo cristalino e objetivo. Nota-se assim, a importante relevância da segurança jurídica, no intuito de atingir a estabilidade das decisões, bem como a confiança depositada pela sociedade em nosso ordenamento. b) Analisando o ordenamento jurídico como um todo, isto é, as normas de direito material (constitucional e tributário) e processual civil, texto constitucional e infralegal, indique limites objetivos cuja função no sistema é dar efetividade à segurança jurídica, justificando sua resposta com motivos e indicação do dispositivo normativo. Para auxiliá-lo(a), segue um exemplo: formação da coisa julgada num processo, mecanismo processual que impede a rediscussão da mesma questão em outro processo – art. 5º, XXXVI da Constituição Federal/1988, art. 502 do CPC/2015. Conforme já exposto, a segurança jurídica encontra-se presente em todo o sistema normativo de modo implícito, primordialmente em nossa Constituição Federal. Em pese tal fato, tal matéria não fugiu da atenção do legislador ordinário, o qual, por meio da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, em seu art. 6º e seus parágrafos, trouxe o conceito de ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada, vejamos: Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. Módulo Tributo e Segurança Jurídica § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Adiante, ao analisar o próprio CTN, verifica-se prescrições que direcionam a primazia da segurança jurídica, constituindo-se de, como de uma forma genérica, de paradigma para o contribuinte. Podemos extrair do CTN o princípio da legalidade, através do art. 9º, quando expressa a vedação aos entes federados no que tange a instituição ou majoração de tributos sem que a lei o estabeleça, princípio também extraído dos arts. 5º, II e art. 150, I, da CF/88. Outro exemplo, podemos citar a homenagem à irretroatividade como regra imperiosa, por meio dos arts. 105, 106, 116 e 146, do CTN, também exposta perante a análise dos arts. 5º, XXXVI e art. 150, III, alínea “a”, da CF/88. Noutra norma, porém, ainda seguindo o primado da segurança jurídica, não podemos esquecer do CPC, o qual reflete como exemplo, por meio de seu art. 926, a estabilidade, integridade e coerência na consolidação da jurisprudência. Também, em seu art. 976, o CPC dispõe sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas. Tais artigos processuais acima expostos, possuem o objetivo, em nosso olhar, de diminuir os efeitos de eventual ausência de isonomia nos julgamentos e, assim, resguardando direitos iguais aos demandantes. Diante do exposto, resta nítida nas normas jurídicas trazidas na presente questão, assim como em várias outras, o sobreprincípio da segurança jurídica, sobretudo firmando como alicerce imprescindível nossa Carta Maior. c) As prescrições do CPC/15 voltadas à estabilização da jurisprudência vêm ao encontro da realização da segurança jurídica (vide arts. 9º, 10, 926, 535, §§ 5º, 6º, 7º e 8º 927 todos do CPC/15) em hipóteses como a de mudança de orientação de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, como, por exemplo, ocorreu no caso do direito à manutenção do crédito de ICMS na hipótese de saída de mercadorias com redução de base de cálculo (sobre essa questão ver RE 161.031/MG e 174.478/SP – Anexos I e II)? Tratando-se de matéria tributária, ao falarmos de segurança jurídica, nos remetemos a um debate acirrante no que se refere as consequências de possíveis modificações jurisprudenciais, de modo que tais modificações sempre estarão presentes na essência da ordem jurisdicional. Por sua vez, o CPC firmou a relevância da vinculação dos precedentes, Módulo Tributo e Segurança Jurídica como meio de trazer não só isonomia, mas também celeridade à atividade jurisdicional perante a alto volume de demandas repetitivas e, consequentemente, consagrar uma direção a uniformização da jurisprudência. Todavia, casos que representam a modificação de orientação de um Tribunal, como o exemplo trazido no enunciado da questão, são sempre marcantes, e em que pese os riscos, muitas vezes são necessários, porém, desde que o novo posicionamento seja comprovadamente mais adequado do que a orientação anterior. Ressalta-se que essas mudanças devem ser feitas de maneira prudente, respeitando princípios importantes, como por exemplo o da segurança jurídica e boa-fé objetiva. Entretanto, mesmo que superada uma tese anterior, acreditamos que não podemos deixar de preservar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Os anexos I e II refletem justamente essa mudança de posicionamento de um Tribunal. No primeiro, por meio do RE 161.031, oSTF entendia que o fato de se ter a diminuição valorativa da base de incidência quanto ao ICMS, não autoriza, sob o ângulo constitucional, a proibição quanto compensação do valor recolhido na operação anterior. Os preceitos das alíneas “a” e “b” do inciso II do § 2º do artigo 155 da Constituição Federal somente têm pertinência em caso de isenção ou não- incidência, no que voltadas à totalidade do tributo, institutos inconfundíveis com o benefício fiscal em questão. Entretanto, no segundo, por meio do RE 174.478, a Suprema Corte entendeu pela isenção fiscal parcial, sendo caso de estorno proporcional, nos casos em que os créditos relativos à entrada de insumos usados em industrialização de produtos tiverem as saídas realizadas com redução da base de cálculo. 2. Jurisprudência, precedente e julgamento de caso repetitivo são utilizados como termos sinônimos no CPC/15? Exponha o alcance e o conteúdo de cada um desses três termos. Considerando sua resposta a essa primeira parte da pergunta, responda: A respeito do tema, imperioso destacarmos proveitoso ensinamento de Fredie Didier Jr.: “À luz das circunstâncias específicas envolvidas na causa, interprestam-se os textos legais (latu senso), identificando a norma geral do caso concreto, isto é, a ratio decidendi, que constitui o elemento nuclear do precedente. Um precedente, quando reiteradamente aplicado, se transforma em jurisprudência, que, se predominar em tribunal, pode dar ensejo à edição de um enunciado na Módulo Tributo e Segurança Jurídica súmula da jurisprudência deste tribunal (...)”4 Ao analisarmos o uso frequente dos termos “jurisprudência”, “precedente” e “julgamento de caso repetitivo”, podemos nos deparar com a compreensão de que o legislador faz errôneo uso de tais termos, utilizando-os como sinônimos. De uma forma ampla, podemos dizer que a jurisprudência tem caráter abstrato, remetendo-se a um composto de decisões referente a vários casos concretos que atuam no mesmo sentido. Já o precedente refere-se a um julgamento usado como fundamentação em outro julgamento futuro. Destaca-se que precedente, quando relacionado apenas às partes e não possuir efeito vinculante, o órgão jurisdicional não é obrigado a aplicar o precedente, servindo assim, em muitos casos, de mera técnica argumentativa utilizada por advogados e juízes. Por fim, o julgamento de caso repetitivo, vincula o precedente objetivando a uniformização da jurisprudência em relação a determinada matéria por meio da instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas, nos termos do CPC. a) Jurisprudência, precedente e julgamento de caso repetitivo são normas jurídicas? Se sim, de que tipo? Compactuando nosso entendimento exposto acima, tendo em vista que muitas vezes a jurisprudência e o precedente se apresentam como mera técnica argumentativa e não vinculam outros órgãos jurisdicionais, entende-se que ambos não são normas jurídicas. Por outro lado, o caso de julgamento repetitivo, fortemente consolidado no CPC, faz com que a decisão prolatada no caso paradigma, vire uma norma geral e abstrata, precedente vinculante, o qual deverá ser acompanhando por outros órgãos jurisdicionais quando no julgamento de matéria com mesma identidade fática e material. b) A obrigação veiculada no art. 927 do CPC/15 vincula os julgadores à jurisprudência, (e/ou) ao precedente (e/ou) ao julgamento de caso repetitivo? Esse 4 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação da tutela. Salvador: JusPodivm, 2015. Módulo Tributo e Segurança Jurídica art. 927 do CPC/15 é instrumento hábil para garantia da segurança jurídica? (Vide arts. 926, 927, 988, IV do CPC/15). O Código de Processo Civil de 2015, com o objetivo de disseminar ainda mais a segurança jurídica por meio da uniformização da jurisprudência, trouxe importantes disposições. Nesse diapasão, verifica-se que os arts. 926 e 927 do CPC aduzem ao intérprete uma maior atenção ao precedente, imputando alto grau de importância ao posicionamento dominante de certo tribunal a respeito de determinados temas e situações fáticas, ao passo que os julgadores devem observar as disposições dos incisos I a V do art. 927, no intuito de manter a jurisprudência estável, íntegra e coerente. 3. Uma lei tributária municipal é considerada inconstitucional por uma associação que possui representação em âmbito estadual. Quais seriam os caminhos para a discussão da questão com efeitos erga omnes sem que seja necessária a discussão individual por cada contribuinte? Analise as opções seguintes motivando as razões do cabimento ou não e, no último caso, o foro de ajuizamento: a) Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI: Esse tema padece de previsão legal, inclusive, sendo deveras vezes discutido na Suprema Corte. Entretanto, valioso saber que a legislação municipal somente será fiscalizada pelo STF em que for objeto de controle difuso de constitucionalidade ou quando objeto de ADPF. A Constituição Federal, em seu art. 102, dispõe que apenas os atos normativos federais ou estaduais poderão ser objeto de ADI perante o STF. Nesse sentido, entende-se não ser cabível a proposição de ADI em face de lei tributária municipal. b) Mandado de Segurança Coletivo: A CF/88, em seu art. 5º, LXX, alíneas “a” e “b”, prevê a legitimidade para impetração do Mandado de Segurança Coletivo, podendo ser por partido político, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano. No mesmo sentido, a Lei 12.016/09, em seu art. 21, dispõe tal legitimidade para assegurar a defesa dos interesses legítimos relativos aos integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, Módulo Tributo e Segurança Jurídica entidade de classe ou associação. Todavia, a Súmula 266 do STF não permite a declaração de inconstitucionalidade via Mandado de Segurança. Dessa forma, entende-se pela não possibilidade do MS coletivo nessa situação, pois não é aplicável tal remédio constitucional contra lei em tese. Ainda, os efeitos emanados seriam inter partes somente para as associadas da impetrante, visto que seria estadual o foro de ajuizamento. c) Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Nos termos do art. 1º da Lei 9.882/99, a ADPF, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público. No §º único do mesmo dispositivo, prevê que também caberá ADPF quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição. No inciso I desse §º único, está disposto que os legitimados para propor ADPF serão aqueles que podem propor ADI. Nesse sentido, em regra, a associação, como não está elencada no rol do art. 103 da CF/88, não teria legitimidade para propor ADPF. d) Ação popular: A Lei 4.717/65 dispõe sobre a ação popular, prevendo que qualquer cidadão possui legitimidade para propor tal ação com o intuito de pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio federal, estadual, e municipal, bem como de suas autarquias, entidades paraestatais ou pessoas jurídicas subvencionadas com verba pública. Destaca-se que a ação popular é um modo de ativismo popular, o qual permite ao povo, de maneira direta, cumprir a função fiscalizatória do poder público. Entretanto, entende-se que no caso em tela, a associação não teria legitimidade para propor ação popular, pois, como visto, tal ação deve ser manejada contra atos lesivos concretos, não possuindo ela poder paracontrole o controle abstrato da legislação. e) Ação Civil Pública: Trata-se de instrumento processual de disposição constitucional que possui Módulo Tributo e Segurança Jurídica o objetivo à defesa de interesses difusos e coletivos. A ação civil pública é regida pela Lei 7.347/85, a qual, em seu art. 5º, V, “a”, expressa que associação poderá propor ação civil pública, desde que, concomitantemente, esteja constituída há pelo menos um ano nos termos da lei civil. Todavia, o STJ tem adotado o entendimento de afastar essa condição temporal, desde que apresentado interesse social comprovado pela dimensão do dano. No que se refere ao questionamento de inconstitucionalidade, o STF tem admitido o manejo por meio de ação civil pública, pela via difusa, como instrumento de controle incidental de constitucionalidade, porém, o requerimento da inconstitucionalidade deverá estar revestido como mera questão prejudicial, indispensável à resolução do conflito principal. f) Ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária: Essa ação terá efeitos inter partes, bem como deverá ser ajuizada de forma individual perante o foro de domicílio do contribuinte, nos termos de competência do CPC. A lei municipal deverá ter sua inconstitucionalidade suscitada pela via difusa, de forma incidental. 4. Pode o Supremo Tribunal Federal, ao julgar Recurso Extraordinário que trate de matéria tributária modular os efeitos de decisão proferida em controle difuso de constitucionalidade de forma a lhe dar efeitos ex nunc, proibindo com efeitos erga omnes a repetição do indébito tributário dos valores recolhidos até a data do julgamento? Há norma que preveja a modulação de efeitos em controle de constitucionalidade em matéria tributária em hipótese como a apresentada nesta pergunta? Pode haver modulação de efeitos por meio da edição de Súmula Vinculante? (Vide o RE 556.664-1, na parte afeta à modulação de efeitos – ementa e parte final da discussão em Plenário – e a Súmula Vinculante n. 8) A Lei 9.868/99 dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o STF. O art. 27 da referida lei estabeleceu, inicialmente, a modulação temporal dos efeitos das decisões de inconstitucionalidade, possibilitando sua aplicação por meio de ADI e ADC. No mesmo ano, por meio da Lei 9.882/99, em seu art. 11, possibilitou tal aplicação também por meio de ADPF. Tais disposições foram criadas para solucionar casos rodeados de insegurança jurídica e de excepcional interesse social motivados frente a autênticas expectativas normativas prejudicadas pelo controle de Módulo Tributo e Segurança Jurídica constitucionalidade. Em regra, no que se refere ao controle difuso, é que os efeitos sejam inter partes, de modo ex tunc. Em que pese a falta de previsão legal dispondo desse posicionamento, alguns ministros da Suprema Corte compactuam com esse entendimento, como é o caso do Min. Gilmar Mendes: “Desse modo, não há que se falar em incompatibilidade entre a fiscalização difusa e a modulação de efeitos. Isso porque a limitação de efeitos apresenta base constitucional, porquanto reclama a ponderação de interesses entre o princípio da nulidade e o da segurança jurídica, ambos constitucionalmente assegurados, o que propõe a sua utilização no modelo de jurisdição constitucional em sua totalidade.”5 Ao se falar em modulação em matéria tributária, a questão se torna ainda mais complexa, pois, em inúmeras vezes estarão envolvidos pedidos de restituição de tributos que foram pagos a maior ou indevidamente. O problema está, quando no julgamento de casos como esse, o STF, ao aduzir a modulação, resta por usar justificativas consequencialistas, primordialmente em litígios que abrangem bilhões de reais e, com isso, em nosso entender, resta por incentivar a produção de leis inconstitucionais. Entretanto, em que pese verificarmos que no STF está repleto de precedentes que não admitiram a modulação de efeitos ex nunc em julgamentos de repetição de indébito, ainda podemos constatar que o Tribunal não tem esse entendimento consolidado, sobretudo quando se refere ao controle difuso. Quanto a possibilidade de haver modulação de efeitos por meio da edição de Súmula Vinculante, entende-se pela impossibilidade, mesmo que a orientação seja pela verificação do teor do julgamento do caso concreto, ao passo que para ser validade a modulação, deverá haver de forma expressa a deliberação dos ministros. 5. A empresa Xpto propôs ação de repetição de indébito tributário em face da União, obtendo decisão, transitada em julgado junto ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, reconhecendo a inconstitucionalidade da lei instituidora do tributo pago e condenando a União na restituição. Iniciada a fase de cumprimento de sentença 5 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade: Estudo de direito constitucional. São Paulo: Saraiva Jur, 2012. Módulo Tributo e Segurança Jurídica contra a União sobreveio decisão de mérito do STF, em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), julgando a mesma lei constitucional (isto significa que a referida ADI foi julgada improcedente e que o controle de constitucionalidade exercido foi o concentrado). Pergunta-se: a) É necessário o ajuizamento de ação rescisória pela União objetivando a desconstituição da coisa julgada para não ter que cumprir a sentença que a condenou à restituição do tributo? Se afirmativa sua resposta, indicar o fundamento legal contido no CPC/15 que respalde sua conclusão. Se negativa sua resposta, justifique- a indicando a solução processual que a União deve adotar, bem como o dispositivo do CPC/15 que fundamenta normativamente sua conclusão. (vide Anexo III) Ao passo em que se tem uma decisão transitada em julgado, porém, a sentença a qual se executa esteja em descompasso com a decisão proferida pelo STF, entende-se que deverá a coisa julgada ser desconstituída por meio de ação rescisória, cujo prazo será de dois anos para sua propositura a contar do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF e não da decisão a ser rescindida, nos termos do art. 535, §§ 5º e 8º, do CPC. Inclusive, esse era o entendimento do STF, conforme se depreende pelo julgamento do RE 730.462, exposto no anexo III do presente seminário. Restou decido pela Suprema Corte, em sede de julgamento com repercussão geral que A decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões anteriores que tenham adotado entendimento diferente. Para que tal ocorra, será indispensável a interposição de recurso próprio ou, se for o caso, a propositura de ação rescisória própria, nos termos do art. 485 do CPC/73, observado o respectivo prazo decadencial (CPC/73, art. 495). Entretanto, não podemos deixar de citar a recente mudança de entendimento do STF quanto ao tema em tela, que por meio do julgamento envolvendo os recursos extraordinários - RE 955227 (Tema 885) e RE 949297 (Tema 881) decidiu que: 1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente os efeitos temporais Módulo Tributo e Segurança Jurídica das decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo. Nesse sentido, restou defino ainda que a perda de efeitos é imediata, sem a necessidade de ação rescisória. b)Na hipótese de modificação posterior da jurisprudência do STF, em sentido oposto ao da coisa julgada e por meio de controle difuso de constitucionalidade, em recurso extraordinário em que houve o reconhecimento da repercussão geral da matéria, a conclusão a que você chegou na resposta “a” mudaria? Justifique. Em nosso entender não mudaria, pois, nada mais é do que uma norma geral e abstrata para a concretude que, se no meio desses dois planos, permeia a norma individual e concreta revestida de caráter definitivo, de maneira que no caso em debate, que igualmente mostra-se indispensável a propositura de ação rescisória pela União. Todavia, conforme exposto na questão anterior a mudança de entendimento do STF, por mais que o contribuinte, em matéria tributária, goze de decisão em caráter definitivo, com a acepção de não mais precisa recolher certo tributo por ser inconstitucional, na circunstância de haver posterior decisão do STF em sentido oposto, pela constitucionalidade da lei que instituiu tal tributo, este passa a ser devido desde a decisão proferida pelo STF, se em controle concentrado ou difuso de constitucionalidade. 6. Um contribuinte recolheu determinado tributo a partir de uma base de cálculo prevista em lei. A instrução normativa regulamentadora (IN n. 01/02) esclareceu que, na base de cálculo, não deveria ser considerado o valor do transporte pago a terceiro (frete). Um ano depois, a IN n. 03/03 esclareceu que o frete pago a terceiro integraria a base de cálculo do tributo em questão. Nesse contexto, o contribuinte consultou você questionando a necessidade de complementação do recolhimento durante a vigência da IN n. 01/02. O que você responderia? Analise os arts. 100, 103 e 146 do CTN na resposta. Em nosso entendimento, a lei não pode retroagir para prejudicar o contribuinte. Também, de acordo com nosso posicionamento nos seminários anteriores, acreditamos que não há lei puramente interpretativa. Dessa forma, a Módulo Tributo e Segurança Jurídica alteração que a autoridade administrativa promove quanto ao critério de aplicação da norma somente poderá atingir fatos supervenientes àquela alteração, sendo vedada a irretroatividade em relação à fatos passados. Nesse sentido, com base no estudo dos artigos mencionados no enunciado da questão, a orientação ao contribuinte é pela não complementação do recolhimento do tributo durante a vigência da IN nº 01/02, ao passo que a IN nº 03/03, a qual modificou a base de cálculo, somente terá eficácia a partir de sua publicação. O art. 146 do CTN aduz que “A modificação introduzida, de ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução”, ou seja, resta claro que a aplicação da nova IN só poderá atingir os fatos geradores posteriores a sua introdução.
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