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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7 2 DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .................. 8 2.1 FATORES DE RISCO E FATORES DE PROTEÇÃO: CONCEITOS... .................................................................................................. 11 2.2 FATORES DE RISCO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 13 2.3 FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ............................................................. 15 2.4 FATORES DE RISCO ASSOCIADOS ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .............................................................................................. 16 2.5 O QUE CAUSA DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?........... 17 2.6 COMO COMPREENDER QUE AS CRIANÇAS PASSAM POR DIFICULDADES? .............................................................................................. 20 2.7 COMO AJUDAR ESSAS CRIANÇAS A SE DESENVOLVEREM?.... .................................................................................... 21 2.8 CONTEXTO ESCOLAR E SOCIAL DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .............................................................................................. 22 2.9 APRENDIZAGEM ....................................................................... 23 2.10 FATORES RELACIONADOS À APRENDIZAGEM ..................... 25 2.11 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ...................................... 26 2.12 O FRACASSO ESCOLAR E A QUEIXA ESCOLAR ................... 28 3 2.13 FAMÍLIA E ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM .............................................................................................. 29 3 DISTÚRBIOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E DA APRENDIZAGEM .................................................................................................. 30 3.1 LINGUAGEM ............................................................................... 31 3.2 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM .................................... 31 3.3 BASES BIOLÓGICAS DA LINGUAGEM ..................................... 34 3.4 ETIOLOGIA DOS DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA........ ................................................................................................... 35 3.5 LINGUAGEM E EPILEPSIA ........................................................ 36 3.6 LINGUAGEM E AUTISMO .......................................................... 37 3.7 INTERVENÇÃO NA CRIANÇA COM DISTÚRBIO DA LINGUAGEM.. ................................................................................................... 38 3.8 DESENVOLVIMENTO NORMAL ................................................ 40 3.9 BASES NEUROBIOLÓGICAS .................................................... 40 3.10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM ESCRITA NA INFÂNCIA .................................................................................... 41 3.11.1 DISLEXIA ................................................................................... 42 3.11.2 DISLEXIA E DISTÚRBIO DA ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE .... 45 3.11.3 DISLEXIA E BAIXO PESO AO NASCIMENTO .......................... 46 3.11.4 INFLUÊNCIAS GENÉTICAS NA DISLEXIA ............................... 47 3.11.5 OUTRAS ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ESCRITA - DISGRAFIA E DISORTOGRAFIA ..................................................................... 47 3.11 INTERVENÇÕES ........................................................................ 48 4 3.12 CONTEXTO ESCOLAR E SOCIAL DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM .............................................................................................. 49 4 A RELEVÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA PARA AUXILIAR CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ....................................................... 50 4.1 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS .................. 55 5 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA APRENDIZAGEM .................................................................................................. 58 5.1 A LINGUAGEM E SEUS MODOS DE EXPRESSÃO .................. 58 5.2 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM .................................... 65 5.3 REGRAS QUE COMPÕEM O SISTEMA LINGUÍSTICO ............ 68 5.4 TEORIAS CLÁSSICAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: O DEBATE GENÉTICA E AMBIENTE .................................................................. 70 5.5 PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM.. ................................................................................................... 72 6 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ................................................. 76 6.1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO ............................................. 76 6.2 CONCEITO DE LETRAMENTO .................................................. 79 6.3 REFLEXÃO ACERCA DO ALFABETIZAR LETRANDO ............. 83 7 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO .................................................... 87 7.1 OS PRINCIPAIS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO .................. 87 7.2 AS ESPECIFICIDADES DO MÉTODO SINTÉTICO DE ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................. 93 6.2.1 MÉTODO ALFABÉTICO .............................................................. 93 5 6.2.2 MÉTODO FÔNICO ...................................................................... 95 6.2.3 MÉTODO SILÁBICO .................................................................... 96 7.3 AS ESPECIFICIDADES DO MÉTODO ANALÍTICO DE ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................. 98 6.3.1 MÉTODO DA PALAVRAÇÃO ...................................................... 99 6.3.2 MÉTODO DA SENTENCIAÇÃO ................................................ 100 6.3.3 MÉTODO GLOBAL DE CONTOS .............................................. 100 8 LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA ............................................... 102 8.1 AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA LINGUAGEM .......... 102 8.1.1 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO ............ 102 8.1.2 FALA E ESCRITA: CONJUNTO DE PARTES UNIDAS ENTRE SI ......................................................................................................................... 104 8.1.3 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS ................................................ 107 8.2 O TEXTO LITERÁRIO E AS SUAS MANIFESTAÇÕES LINGUÍSTICAS ................................................................................................ 108 8.2.1 O QUE É UM TEXTO LITERÁRIO? ........................................... 109 8.3 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA ................................. 111 8.4 A LINGUAGEM E OS SEUS DIFERENTES CONTEXTOS ...... 114 8.4.1 TIPOS DE LINGUAGEM ............................................................ 114 8.4.2 A INTERLOCUÇÃO E O CONTEXTO ....................................... 116 9 ALFABETIZAÇÃOBASEADA EM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS ...... 117 10 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................... 120 11 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR ................. 122 6 11.1 O PROFESSOR ALFABETIZADOR E A SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA.. ................................................................................................. 123 11.2 A ESCOLA E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR .................................................................... 126 11.3 O PROFESSOR ALFABETIZADOR E A PESQUISA ............... 128 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................. 132 7 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante aoda sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 8 2 DEFINIÇÕES DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Atualmente, no Brasil, presenciam-se muitos problemas na Educação da rede pública de ensino, como abandono escolar, crianças que passam pela escola sem mesmo conseguirem se alfabetizar, queixas dos professores em relação à falta de concentração dos alunos, desinteresse, violência e indisciplina que corroboram com a cronicidade dos problemas de aprendizagem. O Sistema de Progressão Continuada, adotado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em que as crianças não repetem o ano, mas recebem apoio extra para aprenderem os conteúdos em que tiveram dificuldade, não foi adequadamente implementado e o que se observa são alunos que chegam às séries mais adiantadas sem um repertório mínimo de conhecimentos e habilidades para continuar sua escolarização (Valente e Arelaro, 2002). Apesar desse grave quadro da Educação no Brasil, dados do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais apontam que 27.063.256 crianças de 7 a 14 anos estiveram matriculadas no Ensino Fundamental no país, em 2005 (Brasil, 2006). Apesar de o dado sugerir aumento no número de crianças que frequentam a escola, o que se observa é que a ampliação do acesso ao Ensino Fundamental foi acompanhada de repetência, abandono escolar e degradação da qualidade, evidenciando que o principal problema atualmente na educação não é quantitativo, mas diz respeito à qualidade do ensino oferecido. Essas reflexões são uma introdução ao tema a que se propõe este trabalho, perfazendo o cenário em que estão inseridas as escolas e, nelas, as crianças com dificuldades de aprendizagem. Pesquisas têm relacionado problemas psicossociais na adolescência à presença de dificuldades de aprendizagem na infância, sendo por isso um tema que merece ser investigado (Maughan, Gray e Rutter, 1985; Rutter, 1987; Santos e Marturano, 1999; Marturano, 2000; Ferreira e Marturano, 9 2002; Morrison, Robertson, Laurie e Kelly, 2002; Elias, 2003; Motta, 2003; Sapienzal e Pedromônico, 2005). A dificuldade de aprendizagem é apresentada ou percebida no momento do ingresso formal da criança na escola. É um período de crucial importância para o desenvolvimento, em que o indivíduo deve cumprir tarefas desenvolvimentais, como adquirir competências nas relações interpessoais, sair-se bem na escola, aprender a ler e a escrever, manter uma conduta governada por regras (Elias, 2003; Rapapport, 1981). No ambiente escolar, a criança recebe as avaliações de seus professores, colegas e pais sobre suas habilidades e sucessos acadêmicos e, com base nelas, constrói uma visão de si (Cubero e Moreno, 1995). A vivência de situações de baixo rendimento escolar gera não apenas sentimentos como baixa autoestima, mas também influencia na capacidade produtiva do indivíduo, na aceitação pelos pares etários e familiares e em outras áreas do desenvolvimento. Além disso, o sucesso escolar favorece o desenvolvimento socioafetivo adequado (Elias, 2003). Nesse sentido, esse período é de grande importância por concentrar grandes desafios desenvolvimentais, e a ocorrência de dificuldades de aprendizagem pode trazer consequências negativas no futuro. No entanto, embora as pesquisas na área da educação apontem a necessidade de atenção para os problemas de aprendizagem, a literatura referente a esse tema, na maioria das vezes, aborda as dificuldades de aprendizagem sem discriminá-la como causa ou consequência; isto é, quando a dificuldade de aprendizagem é um fator de risco para problemas psicossociais ou quando existem fatores de risco que predispõem a criança a desenvolver problemas de aprendizagem no futuro. Tal discriminação é importante para a elaboração de programas de intervenção que visam a redução de sua incidência e prevenção de consequências psicossociais associadas, seja o foco da intervenção a própria 10 dificuldade de aprendizagem, para prevenir problemas que decorrem dela, seja o foco da intervenção fatores que antecedem a dificuldade de aprendizagem e poderiam aumentar a probabilidade de ocorrência da mesma. É possível afirmar que a dificuldade de aprendizagem está inserida em uma cadeia de causas e consequências de problemas psicossociais na infância, que precisam receber a atenção necessária, pois ora funcionam como causa, ora como consequência de problemas comuns na idade escolar. Assim, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da produção científica acerca dos trabalhos publicados na literatura nacional e internacional, por meio de pesquisas em bases de dados, resumos e artigos científicos, teses e dissertações sobre dificuldades de aprendizagem, abordando suas definições, consequências, fatores de risco associados em crianças no início da etapa escolar. A revisão da literatura visou mapear os estudos que têm sido feitos na área e buscou procurar como as dificuldades de aprendizagem estão situadas no universo cientifico. Um estudo de revisão de literatura sobre o tema se faz necessário na medida em que a dificuldade de aprendizagem na infância, constituída como um problema de grande relevância na atualidade, precisa ter seu campo de investigação teórico sistematizado, a fim de que possa contribuir para pesquisas e intervenções na área, sempre visando responder às demandas por conhecimentos advindas dos problemas sociais. Não há consenso na literatura em relação à definição para as dificuldades de aprendizagem. Numa perspectiva orgânica, as dificuldades de aprendizagem são consideradas como desordens neurológicas que interferem na recepção, integração ou expressão de informação e são manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio, habilidades matemáticas ou habilidades sociais (Correia e Martins, 2005; Almeida e Alves, 2002; Fonseca, 1995; García, 1998). 11 O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV (1994), por sua vez, define como transtornos da aprendizagem quando os resultados do indivíduo em testes padronizados de leitura, matemática ou expressão escrita estão substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de inteligência. Já a Classificação de transtornos mentais e de comportamento – CID 10 (1993) denomina dificuldade de aprendizagem como transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. Numa perspectiva educacional, as dificuldades de aprendizagem refletem uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou cálculo ou para a aquisição de aptidões sociais (Correia e Martins, 2005). Ballone (2004) afirma que as dificuldades de aprendizagem não devem ser tratadas como se fossem problemas insolúveis, mas como desafios que fazem parte do próprio processo da aprendizagem. Também considera necessário identificar e preveni-las mais precocemente, de preferênciaainda na pré-escola. 2.1 FATORES DE RISCO E FATORES DE PROTEÇÃO: CONCEITOS A abordagem teórica-conceitual escolhida para pensar os problemas de aprendizagem neste trabalho diz respeito aos fatores de risco e proteção que estão presentes na vida de um indivíduo. Segundo essa abordagem, é a interação entre os fatores que vão determinar se um indivíduo vai ou não desenvolver um problema psicossocial ou uma patologia no futuro. Sendo assim, é importante que se conheçam esses fatores para que se possam adotar medidas preventivas para os problemas que atingem a infância e a adolescência. Por definição, fatores de risco compreendem eventos negativos que ocorrem na vida de um indivíduo e que, quando estão presentes, aumentam a probabilidade de que ele venha a apresentar problemas de ordem física, social ou 12 emocional (Yunes e Szymansky, 2001), podendo prejudicar sua adaptação e gerar uma organização patológica de seus sistemas biológico, emocional, cognitivo, linguístico, interpessoal e representacional (Cicchetti, Rogosh e Toth citados por Cicchetti e Toth, 1997). Contudo, a presença de fatores de risco na vida de um indivíduo não significa, necessariamente, que ele vá apresentar algum problema no seu desenvolvimento, uma vez que a vulnerabilidade varia de um indivíduo para outro, sendo também importante considerar a extensão em que cada pessoa experiencia os fatores de risco em função de sua história pregressa (Yunes e Szymansky, 2001; Rutter, 1999). Análises mais sofisticadas sugerem que o risco é um processo, e que o número total de fatores de risco a que uma pessoa foi exposta, o período de tempo, o momento da exposição ao risco e o contexto são mais importantes do que uma única exposição grave (Engle, Castle e Menon, 1996). No entanto, deve-se levar em conta não apenas o número de eventos de adversidades, mas como o evento afetou o indivíduo. Em contraposição ao risco, existem os fatores de proteção que são influências ambientais e das características do indivíduo que provocam uma modificação da resposta aos processos de risco. As funções dos fatores de proteção são: • Reduzir o impacto dos riscos; • Reduzir as reações negativas em cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; • Estabelecer e manter a autoestima e autoeficácia, através de estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso; • Criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse (Rutter, 1987). 13 Tendo em conta a diversidade de trabalhos encontrados, eles serão agrupados em trabalhos que abordam as dificuldades de aprendizagem como fatores de risco para desenvolvimentos de problemas psicossociais, trabalhos que apontam fatores de risco para desenvolvimentos das dificuldades de aprendizagem e os que não fazem essa diferenciação, apenas associando a dificuldade de aprendizagem a alguma condição. 2.2 FATORES DE RISCO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Vários trabalhos relacionam a dificuldade de aprendizagem como risco para o desenvolvimento de problemas psicossociais (Rutter, 1987; Santos e Marturano, 1999; Marturano, 2000; Ferreira e Marturano, 2002; Morrison, Robertson, Laurie e Kelly, 2002; Elias, 2003; Motta, 2003; Sapienzal e Pedromônico, 2005). A criança com dificuldade na aprendizagem pode desenvolver sentimentos de baixa autoestima e inferioridade (Erikson, 1971 citado por Santos e Marturano, 1999), frequentemente acompanhadas de déficits em habilidades sociais e problemas emocionais ou de comportamento (Elias, 2003; Motta, 2003). Assim, as dificuldades de aprendizagem, quando persistentes e associadas a fatores de risco presentes no ambiente familiar e social mais amplo, podem afetar negativamente o desenvolvimento do indivíduo e seu ajustamento em etapas subsequentes (Santos e Marturano, 1999). E, de acordo com Sapienzal e Pedromônico (2005), os próprios problemas de aprendizagem são considerados como fator de risco, pois desencadeiam uma série de consequências negativas na vida das crianças. Os problemas escolares são frequentemente associados aos problemas de comportamento de crianças e adolescentes. Ferreira e Marturano (2002) pesquisaram associações entre contextos de risco e problemas de comportamento em crianças com baixo desempenho escolar. Concluíram que as dificuldades 14 acadêmicas tendem a aumentar a vulnerabilidade para a inadaptação psicossocial, quando o ambiente familiar está repleto de adversidades, como problemas nos relacionamentos interpessoais, falhas parentais quanto à supervisão, monitoramento e suporte, menor investimento dos pais no desenvolvimento da criança, práticas punitivas e modelos adultos agressivos. E enfatizam a importância de ações preventivas que envolvam a criança e seu ambiente familiar. Elias (2003) aponta que o baixo desempenho escolar aparece frequentemente associado a problemas socioemocionais, o que constitui um fator de risco para distúrbios psicossociais na adolescência e que indivíduos com problemas dessa natureza apresentam déficits em habilidades de solução de problemas interpessoais e problemas de comportamento. Motta (2003) também aponta que a associação entre dificuldade de aprendizagem e problemas de comportamento tem sido objeto de estudo por constituir fator de risco ao desenvolvimento das crianças. Segundo Bianchi (2005), a manifestação simultânea de dificuldades comportamentais e escolares amplia a possibilidade de problemas nos contextos social e acadêmico, com prejuízo nos relacionamentos interpessoais e interferência no ajustamento social, favorecendo a tendência ao isolamento social, com risco de comportamento antissocial. Além disso, as dificuldades de aprendizagem e a percepção de limitações quando comparadas ao grupo de iguais leva as crianças a apresentarem sentimentos de menos valia e impotência. O trabalho de Barrera e Maluf (2003) aponta correlações significativas entre os níveis iniciais de consciência fonológica e o desempenho acadêmico de crianças. A consciência fonológica refere-se à capacidade da criança em reconhecer que o que ela escreve é aquilo que verbaliza. Constitui uma capacidade que é adquirida normalmente pela criança ao longo de seu desenvolvimento. Porém, a literatura mostra que a não aquisição da consciência fonológica contribui para o desenvolvimento de dificuldades na leitura e escrita (Barrera e Maluf, 2003; 15 Capovilla e Capovilla, 2000; Santos, 1996), ou seja, ela pode ser considerada como um fator de risco. Carneiro, Martinelli e Sisto (2003) buscaram verificar diferenças significativas entre os níveis de dificuldade de aprendizagem na escrita e o autoconceito geral, escolar, social, familiar e pessoal de crianças no Ensino Fundamental. Os resultados evidenciaram que a dificuldade de aprendizagem na escrita está significativamente relacionada com o autoconceito geral e com o escolar, verificando-se que conforme aumenta o nível de dificuldade de aprendizagem na escrita diminui o autoconceito. 2.3 FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Del Prette (2000) associa déficits de habilidades sociais na infância como fatores de risco, apresentando correlações significativas com as dificuldades de aprendizagem. A autora aponta o desenvolvimento da competência social e um repertório elaborado de habilidades sociais como fatores de proteção e resiliência no desenvolvimento de indivíduos. Boruchovitch (1994 citado por Bianchi, 2005) afirma que a autoeficácia, crença do indivíduo em sua capacidade de desempenho em atividades (Bandura, 1989), interfere no nível de desempenho da criança, em fatores como a escolha de atividades, motivação e quantidade de esforço a ser investido nas demandas próprias do contexto escolar. De acordo com Medeiros (2000), crianças com senso de autoeficácia são capazes deperceber a si mesmas com habilidades e apresentam estratégias cognitivas para lidar com problemas potenciais e essa expectativa de autoeficácia pode influenciar também o comportamento. 16 O ambiente escolar é um contexto em que o senso de eficácia é constantemente testado e construído, principalmente na relação do aluno com o professor, funcionários e colegas. Resenthal e Jacobson (1968) fizeram um estudo em que professoras foram levadas a acreditar que alguns de seus alunos deveriam apresentar grande progresso escolar ao longo do ano e esses alunos realmente mostraram tais progressos. Os autores sugerem que a explicação para tal resultado está na sutil interação entre o professor e seus alunos: o tom de voz, a postura, a expressão facial seriam os meios através dos quais, involuntariamente, o professor comunica suas expectativas aos seus alunos e essa comunicação contribui para o aluno construir a concepção de si. Assim, é possível que o aluno vá mal porque é isso que se espera dele, ou seja, a expectativa negativa do professor pode constituir um fator de risco para o desempenho acadêmico dos alunos. 2.4 FATORES DE RISCO ASSOCIADOS ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM No contexto escolar, é comum encontrar, em crianças que têm dificuldades em aprender, a sobreposição de diversos fatores de risco, como pobreza, conflitos familiares, violência, maus tratos familiares, dentre outros. Pesquisas mostram que crianças com dificuldades acadêmicas manifestam paralelamente prejuízos de ordem emocional e comportamental (Graminha e Coelho, 1994; Medeiros, 2000). São frequentes dificuldades intra e interpessoais como solidão, depressão, suicídio e delinquência, que coexistem com as dificuldades de aprendizagem, potencializando os efeitos das mesmas, conduzindo a resultados negativos na vida adulta (Weller, Watteyne, Herbert e Crelly, 1994; Bender e Wall, 1994). A literatura ainda aponta correlações entre dificuldades de aprendizagem, autoconceito e senso de autoeficácia (Bianchi, 2005; Okano, Loureiro, Linhares e 17 Marturano, 2004; Medeiros, Loureiro e Marturano, 2003; Carneiro, Martinelli e Sisto, 2003; Jacob, 2001; Loureiro, 2000; Medeiros, 2000; Bandura, 1989). Bianchi (2005) traz que o prejuízo no autoconceito torna-se maior diante da sobreposição de dificuldades de aprendizagem e de comportamento, isso porque a criança que apresenta essa combinação de fatores tem mais dificuldade em construir confiança em si mesma. Giurlane (2004) afirma que a influência do ambiente familiar é significativa tanto sobre problemas de comportamento como sobre dificuldades no aprendizado acadêmico. As crianças que não vão bem na escola sofrem uma pressão criada por uma rede de pessoas significativas em suas vidas e da sociedade em geral. 2.5 O QUE CAUSA DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM? Muitas são as causas que podem levar uma criança a ter problemas na aprendizagem. Causas que, se não tratadas, podem contribuir no aumento dessas dificuldades agravando ainda mais esses problemas. Alguns fatores que podem causar dificuldades na aprendizagem podem surgir de muitas formas como por: motivos físicos, que podem atingir uma criança no seu estado anormal de saúde; motivos neurológicos, aqueles que atingem o sistema nervoso; motivos sensoriais, os que atingem os órgãos dos sentidos; motivos emocionais, que afetam a personalidade de uma criança através das emoções e dos sentimentos; os motivos educacionais, que afetam o processo educativo; o motivo intelectual e cognitivo, que podem afetar a inteligência de uma criança, entre outros motivos que podem repercutir no desenvolvimento educativo de um indivíduo, originando distúrbios que contribuem para diferentes problemas de aprendizagem. 18 O ambiente escolar pode favorecer de maneiras diversas o desenvolvimento do sujeito. Assim, acerca do papel da escola como alienante ou libertadora, no que diz respeito ao desenvolvimento citado, afirma Pain (1992, p. 12): A função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter efeito alienante ou libertador. Através disto, compreende-se que o importante diante das situações e causas que podem vir a ocorrer às dificuldades de aprendizagem é saber lidar com esta problemática. A maneira como ela é encarada nas escolas e na sociedade em geral, pode tornar-se o meio mais eficaz para transformar esta situação. Dependendo de como a educação é usada e repassada, mediante os métodos utilizados, o resultado deste processo configura-se como fundamental na ajuda para minimizar a problemática das dificuldades no aprendizado. É importante reiterar, também, que a eficácia nos meios que fornecem subsídios para a superação das dificuldades, depende, de modo intensivo, da recepção dos docentes e familiares da criança em processo de ensino. Uma sequência didática que favoreça o incentivo, o estímulo positivo, é um dos elementos fundantes na constituição de métodos que suplementem a atividade em sala de aula. Sobre isso, indica Santos (1961, p. 33): Ensinar não é transmitir dogmaticamente conhecimentos, mais dirigir e incentivar, com habilidade e método, a atividade espontânea e criadora do educando. Nessas condições, o ensinar compreende todas as operações e processos que favorecem e estimulam o curso vivo e estimulante da aprendizagem. 19 Algumas crianças não aprendem pelo fato de, muitas vezes, não serem aceitas ou motivadas, por serem crianças que têm problemas de aprendizagem. De modo que isso não significa que elas sejam incapazes de aprender ou de se desenvolverem. Geralmente essas dificuldades levam uma criança a não aprender, por não possuírem uma maior de assimilação de um determinado assunto, no entanto, podem se desenvolver em outras coisas. Quando uma criança não é compreendida diante de seus encalços, a mesma passa a ser cobrada pelos familiares e professores. Esta cobrança pode prejudicar ainda mais o estímulo da mesma. Uma criança não tem dificuldades de aprendizagem pelo fato de ela querer ou desejar, mas por motivos e consequências que geralmente surgem dentro de casa, problemas que podem afetar primeiramente o seu desenvolvimento psicológico, trazendo consequências que visam a ocasionar os encalços no aprender. Os problemas de comunicação com os colegas e professores, de atenção de ansiedade, podem levar a criança a não se desenvolver na escola. Um trabalho de ajuda, de compreensão sensível do que esta criança sofre, é um elemento muito importante para a ação pedagógica. Se esta relação de ajuda não for algo presente, uma relação que possa surgir primeiramente da compreensão e do estímulo dos familiares e professores responsáveis pelo educando, isso poderá fazer com que essas crianças em déficit de aprendizagem não sintam-se capazes nas suas atividades escolares, pois o estímulo a compreensão e a motivação de ambas as partes, escola e família, pode fazer a diferença na vida de crianças nas situações de exíguo educacional. 20 2.6 COMO COMPREENDER QUE AS CRIANÇAS PASSAM POR DIFICULDADES? As dificuldades de aprendizagem dentro das salas de aula são observadas geralmente quando alguma criança passa a demonstrar comportamento de carência, quase sempre nas fases iniciais, quando o mesmo inicia sua vida escolar. Ela demonstra que tem dificuldades no decorrer do tempo. Um professor consegue identificar esses problemas pelo fato de muitas vezes alguns alunos demonstrarem um rápido desenvolvimento, enquanto outros não conseguem sequer desenvolver a coordenação motora. Esse passa a ser um primeiro ponto observado em sala de aula pelo professor, na fase inicial da vida escolar, para identificar crianças em déficit na aprendizagem. Nestecaso para o educador é normal que a criança não se desenvolva logo de início. Com o passar do tempo é mais fácil identificar quando estas dificuldades passam a aparecer, pois a criança não se desenvolve como deveria (Oliveira, 20014). Nas fases seguintes da vida escolar de uma criança, outros pontos são observados em um aluno com dificuldades em aprender. Não que seja algo fácil e rápido de ser assimilado pelo educador, mas pelo fato de que os alunos passam a não dominar alguns pontos básicos, observados pelos mesmos nas salas de aula. A isso refere-se: não conseguir escrever o próprio nome; não reconhecer e não saber nomear as letras do alfabeto, identificando entre elas as vogais; não diferenciar letras de números e outros símbolos; não conhecer a ordem alfabética; não reconhecer os números naturais fazendo a correspondência entre números e quantidades; não se percebe que as vogais estão presentes em todas as sílabas; não consegue ler e escrever palavras, silabas ou letras; não domina a sequência numérica; não sabe escutar; não participa das atividades dirigidas pelo educador; não segmenta oralmente as silabas de palavras e compara as palavras quanto ao tamanho (Oliveira, 20014). 21 Observando esses pontos torna-se mais fácil perceber quando um aluno tem problemas na aprendizagem. O momento da identificação do problema é fundamental para se estabelecer um diálogo com o aluno e a família, procurando a melhor resolução para o problema. Segundo Dockrell (2000, p. 15): As dificuldades de aprendizagem podem ser classificadas de variadas formas, a mais relevante é relacionada à base cognitiva subjacente a uma dificuldade, pois a intervenção procura afetar o funcionamento cognitivo, a avaliação apresenta um perfil das potencialidades dentro dos domínios relevantes do funcionamento cognitivo. Toda criança traz consigo o desejo de aprender, e toda criança tem a capacidade de aprender, sendo que quando isso não acontece é pelo fato de que algo se encontra errado. Neste caso, deve-se fazer um questionamento em um todo sobre os motivos e as causas das dificuldades no aprendizado (Oliveira, 20014). 2.7 COMO AJUDAR ESSAS CRIANÇAS A SE DESENVOLVEREM? Nem sempre o desenvolvimento de uma criança em sua fase escolar acontece de acordo com o esperado e desejado pelas partes que envolvem a criança. Quando isso vem a acontecer é preciso agir de maneira cautelosa, de modo a não levar a criança a se sentir questionada ou cobrada, fazendo com que a problemática emergida venha a piorar e não melhorar. Para ajudar uma criança com essas dificuldades é preciso ter um conjunto de pessoas que trabalhem juntas em prol de um único objetivo: tentar diminuir os problemas de dificuldades na aprendizagem. O compreender, o não cobrar, o estimular, e o ajudar, buscando métodos de ajuda que venham desenvolver o aprendizado escolar de um aluno, são coisas que podem ajudar no desempenho escolar de uma criança, levando-a a compreender que ela é capaz de aprender e de se desenvolver (Oliveira, 20014). 22 Toda criança já nasce com uma abertura para o saber, e essa sabedoria é desenvolvida com o seu crescimento, a escola só vem complementar esse desenvolvimento na vida de uma criança em todas as áreas de sua vida. Isso não significa que quando uma criança tem dificuldades de aprendizagem ela não possa aprender. O desenvolvimento pode ser de maneira lenta, mas que venha a trazer para o aluno a meta escolar esperada, pois com as estratégias adequadas às necessidades identificadas esse processo se torna viável (Oliveira, 20014). 2.8 CONTEXTO ESCOLAR E SOCIAL DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Associadas a problemas de natureza comportamentais e emocionais, as dificuldades de aprendizagem são bastante frequentes. De acordo com Stevanatoet al (2003), tais dificuldades influenciam nos problemas escolares, afetando os sentimentos e comportamento das crianças, podendo se expressar de forma interna ou externa. Desta forma, Santos e Marturano (1999) apontam que as dificuldades de aprendizagem podem ser decorrentes de problemas educacionais ou individuais, bom como ambientais, sendo consideradas como uma condição de vulnerabilidade psicossocial, por desenvolver sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, sendo em muitos casos acompanhada de problemas de habilidades sociais, emocionais e de comportamento, que podem afetar de forma negativa o desenvolvimento do indivíduo (Oliveira, 20014). No contexto social Stevanato et al. (2003) trazem que crianças com dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, têm associados problemas de socialização, tendo menos habilidades sociais, problemas estes que persistem por toda a vida acadêmica. Estas crianças tendem a atribuir o fracasso a fatores internos e o sucesso a fatores externos (Oliveira, 20014). 23 Desta forma, segundo Enricone e Goldberg (2007), trabalhar a inclusão dessas crianças que apresentam uma série de dificuldades, valorizando seu potencial positivo, através da compreensão e paciência por parte de profissionais e família é fundamental para que estas se tornem adultos bem-sucedidos (Oliveira, 20014). 2.9 APRENDIZAGEM O conceito de aprendizagem não é simples. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), existem diversas possibilidades de aprendizagem, onde a psicologia transforma a aprendizagem em um processo a ser investigado. Tradicionalmente a psicologia trabalhou no campo da aprendizagem com duas grandes correntes, as teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas, sendo importantes as contribuições de Piaget, Vygotsky, Emilia Ferreiro. A teoria de Piaget traz que o ser humano é dotado de estruturas biológicas, e uma forma de funcionamento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva a construção de significados (PIAGET, 2002). Para Piaget desenvolvimento intelectual é o resultado da construção de um equilíbrio progressivo entre assimilação e acomodação, tal desenvolvimento propicia o aparecimento de novas estruturas mentais, ou seja, um processo de evolução. Assim o desenvolvimento é condição para a aprendizagem (PIAGET, 2002). Segundo Vigotski (2007), o desenvolvimento é processual, que se dá de fora para dentro, e a aprendizagem sempre parte das relações entre pessoas, assim as mudanças têm raiz na sociedade e cultura. Desta forma Vigotski aponta que a educação como um processo social sistemático de construção da humanidade, onde a matéria prima do desenvolvimento encontra-se no mundo externo, nos instrumentos culturais construídos pela humanidade, onde o aluno não pode ser visto como alguém que não aprende, a escola torna-se então um lugar de mediação 24 no desafio de ensinar, onde todos têm papéis importantes, o professor sendo a figura fundamental, assim como o colega de classe, o planejamento das atividades, sendo a escola o lugar da construção humana. Outro ponto importante para a aprendizagem, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), que é complexo para a psicologia é a motivação, que esta atribuída na aprendizagem tanto à facilidade quando à dificuldade de aprender. Onde a motivação possui três tipos de variáveis: o ambiente; as forças internas do indivíduo (necessidade, desejo, vontade, interesse, instinto) e o objeto que atrai o indivíduo por ser fonte de satisfação de fator interno que o mobiliza. A teoria bioecológica de Bronfenbrenner destaca muitas influências sobre a aprendizagem, citando a autoconfiança da criança, onde crianças com sentimentos de auto eficiência se esforçam mais conseguindo se destacar; os estilos parentais, com pais que propiciam ambiente propício para o estudo, auxiliando positivamente nas tarefas, o nível sócio econômico, sendo este um fator de importante influência, o sistema educacional e a cultura são fatores que contribuem para o sucesso ou fracasso no desenvolvimento escolar.(PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010). Um ponto importante é apresentando por Carvalho (2011), sobre a deficiência e a dificuldade de aprendizagem, pois segundo o autor, a presença de deficiência não implica necessariamente em dificuldade de aprendizagem, no entanto inúmeros alunos apresentam distúrbios de aprendizagem e não são portadores de deficiência. Verifica-se então, segundo Carvalho (2011), que ambos os grupos têm a necessidade de uma educação especial e da utilização de recursos que auxiliem o desenvolvimento, pois segundo as estatísticas há um grande número de alunos com dificuldades de aprendizagem sem que portem qualquer deficiência mental, física, sensorial ou múltipla. Sendo assim, segundo Furtado (2010), aprendizagem é um processo complexo, pois envolve a pessoa em todas as suas dimensões: afetiva, cognitiva e psicossocial, implicando em mudanças de formas de comportamentos anteriores, 25 se estabelecendo em alguns casos como um risco ou ameaça. Quanto a risco o autor esclarece que a aprendizagem gera o risco de não se dar conta ou não ser bem-sucedido, e para isso se faz necessária a ação motivadora do professor para impulsionar a vontade de aprender. Furtado (2010) cita o DPA, ou seja, disposição para aprender, colocando que este é o estado emocional em que se encontra uma pessoa diante de uma situação de aprendizagem, e que pode ser favorável ou desfavorável. Dependendo assim de três fatores principais: momento de vida da pessoa, a história pessoal de aprendizagem e a percepção do contexto da aprendizagem. 2.10 FATORES RELACIONADOS À APRENDIZAGEM A aprendizagem sempre passa pelo Sistema Nervoso Central, no entanto, segundo Rotta (2006), nem sempre ele é responsável pelo fracasso escolar. Dados apontam que as dificuldades para a aprendizagem podem chegar a 50% e como causas primárias têm-se problemas como a dislexias, discalculias, dispraxias, disgnosias, déficits de atenção e hiperatividade, que necessitam ser investigados. No entanto não são as únicas causas, devem-se olhar também as causas não primarias como problemas físicos, socioeconômicos e pedagógicos. De acordo com Sampaio (2011) são inúmeros fatores que podem desencadear problemas ou dificuldades de aprendizagem, entre eles estão: fatores orgânicos, fatores psicológicos e fatores ambientais. Rotta (2006) aponta para o fato de que as crianças com dificuldades de aprendizagem muitas vezes são diagnosticadas de forma errada, chegando ao atendimento com um prédiagnóstico. Para tanto o autor coloca que fatores envolvidos nas dificuldades para aprendizagem podem ser divididos em: 26 • Fatores relacionados com a escola. Para Rotta (2006), nesses fatores estão envolvidas desde as condições físicas do ambiente, as condições pedagógicas e condições do corpo docente no que se refere a motivação, dedicação, qualificação e remuneração adequadas. • Fatores relacionados com a família. Sendo que a família também deve oferecer condições para o sucesso da aprendizagem, onde fatores como alcoolismo, drogadição, pais desempregados ou comportamento antissocial atingem diretamente a criança. (ROTTA 2006). • Fatores relacionados com a criança. Rotta (2006) aponta a necessidade de distinguir os problemas físicos em geral, dos problemas psicológicos e problemas neurológicos. Neste contexto, Rotta (2006) considera que para atender crianças com dificuldades para a aprendizagem se faz necessária uma equipe multidisciplinar, que possa entender a criança como um ser global, e não dividida em pequenas partes, avaliadas e tratadas de forma isolada. Sendo assim, para o diagnóstico devem ser considerados os seguintes fatores: fatores orgânicos, fatores específicos de adequação percepto-motriz e fatores psicogênicos e fatores ambientais. 2.11 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Segundo Fonseca (1984) as dificuldades de aprendizagem representam o maior desafio educacional e clínico, e um contexto inestimável para pesquisas científicas. Um contexto onde todos os atores da educação possuem um conceito muito subjetivo sobre o que é uma criança com dificuldades de aprendizagem. Sendo assim Fonseca (1984) conceitua dificuldade de aprendizagem como um 27 termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da escrita, da leitura e do raciocínio matemático. Sisto (2001) ressalta que vez ou outra as pessoas sentem algum tipo de dificuldade para aprender alguma coisa durante a vida escolar. Algumas superadas e outras pela pouca importância dada àquele conteúdo passam despercebidas, assim, as razoes das dificuldades de aprendizagem foram e são identificadas por diferentes critérios, que implicam em distintas definições sobre o que realmente poderia ser considerado como dificuldades de aprendizagem. Desta forma segundo Sisto (2001), crianças defasadas em sala de aula, em idade ou em determinadas matérias especificas, que indicam ser crianças mais lentas do que as demais, ou com comportamento inadequado, podem estar na origem da classificação de crianças com dificuldades de aprendizagem. No Brasil não há estatísticas sobre o fato, porém a quantidade de crianças que não se alfabetizam nem na primeira, nem na segunda série estava estimada em torno 60%, sendo que o ciclo básico e a proposta de não avaliação até a quarta série do Ensino Fundamental retardou esta estatística. Desta forma crianças que não foram alfabetizadas, mas não apresentam dificuldades de aprendizagem, podem estar produzindo o sintoma por causa do processo pelo qual estão passando. (SISTO,2001). De acordo com Sisto (2001), para muitos autores, dificuldades de aprendizagem significam em qualquer dificuldade observável vivenciada pelo aluno ao acompanhar o ritmo de aprendizagem dos colegas da mesma idade, independente do fator determinante da defasagem. Desta forma, são caracterizados como dificuldades de aprendizagem problemas situacionais de aprendizagem problemas de comportamento, problemas emocionais, de comunicação, físicos e problemas múltiplos (SISTO, 2001). 28 Para Santo e Marturano (1999), as dificuldades de aprendizagem são visualizadas como uma condição de vulnerabilidade psicossocial, pois a criança com dificuldades de aprendizagem pode desenvolver sentimento de inferioridade e baixa autoestima. Sendo que as dificuldades de aprendizagem são frequentemente acompanhadas de déficits em habilidades sociais e problemas emocionais ou de comportamento. Sisto (2001) coloca que as dificuldades de aprendizagem podem somente ser entendidas em sua complexa interação com fatores intra e extraescolares. Requerem intervenções tanto no âmbito do aluno, quanto nas praticas pedagógicas, formação de professores, e mudanças de natureza política, econômica e social. 2.12 O FRACASSO ESCOLAR E A QUEIXA ESCOLAR No Brasil, segundo Sisto (2001), as dificuldades de aprendizagem são o centro dos problemas do fenômeno de fracasso escolar que é caracterizado por um alto índice de repetição e evasão escolar. De acordo com Souza (1997), o aluno brasileiro permanece em media 8 anos e meio na escola, e apenas três entre cem concluem o primeiro grau sem repetência, sendo que 70% dos alunos de 8ª série estão fora da idade real para o período. Souza (1997) ressalta que um aluno, ao repetir, terá a oportunidade de refazer ou aprender o que não conseguiu, segundo a lógica da repetência, no entanto, pesquisas apontam que crianças que repetem têm metade das chances de serem aprovadas no próximo ano, desta forma a repetência pode reforçar sua estigmatização, marcando-as como diferentes ou deficientes. Outro dado é o de que a maioria de crianças repetentes ou que se evadem da escola provêm das camadas mais pobres da população. Segundo Souza (1997), pesquisas apontam que70% dos encaminhamentos feitos de crianças na faixa de 5 a 14 anos para atendimento 29 psicológico tem como queixa problemas de escolarização, sendo que metade das crianças encaminhadas eram ingressantes cujos professores acreditavam ter problemas de aprendizagem. Onde Souza (1997), que um certo olho clinico do professor, já representa o início da responsabilização do aluno pelas dificuldades de aprendizagem. Sendo desta forma a queixa escolar a principal causa de encaminhamentos, Souza (1997) enfatiza em sua pesquisa que ao analisar a faixa etária das crianças, os problemas se apresentam tanto no início do processo de aprendizagem, mas também em sua continuidade, e com aquelas que estão repetindo o ano. Souza (1997) cita que quando as crianças se encontram no início da alfabetização, essas dificuldades podem significar um conjunto de expectativas escolares em relação ao aluno, então todo aluno que se desviar do padrão pode ser visto como um problema potencial. Assim, a base do atendimento psicológico para crianças com queixas de dificuldade de aprendizagem baseia-se na entrevista inicial e anamnese, aplicação de testes, encaminhamento psicoterapêutico e orientação aos pais. É importante também não olhar a queixa escolar como responsabilidade única da criança encaminhada e não considerar o fracasso escolar apenas como processo emocional, sendo necessária a prática de um conjunto de avaliações, desde o social, cultural, passando pelo psíquico, compreendendo a dificuldade apresentada, para se ter um diagnóstico seguro (SOUZA, 1997). 2.13 FAMÍLIA E ESCOLA NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM De acordo com Polonia e Dessen (2005), o envolvimento família e escola no desenvolvimento da aprendizagem tem sido assunto de pesquisas principalmente no que se refere ao desenvolvimento cognitivo e social do aluno, no entanto poucas pesquisas apontam estratégias que promovam o aprimoramento e 30 a ampliação dos modelos de relação entre os dois ambientes. Segundo Polonia e Dessen (2005), família e escola são duas instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos, e podem atuar tanto como propulsores quanto como inibidores do crescimento físico, social e intelectual da criança. Quanto ao papel da família, Polonia e Dessen (2005) ressaltam que a família pode impulsionar a produtividade escolar e o aproveitamento acadêmico, mas também o seu distanciamento pode provocar o desinteresse e a desvalorização da educação. Embora a família seja apontada como uma das variáveis responsável pelo fracasso escolar é inegável sua contribuição no desenvolvimento da aprendizagem. Desta forma as autoras apontam que os recursos psicológicos, sociais, econômicos e culturais dos pais se tornam aspectos fundamentais para o desenvolvimento humano. Desta forma para Polonia e Dessen (2005), quando família e escola mantêm boas relações maximizam o desenvolvimento e aprendizado da criança. Para tanto, a escola deve reconhecer a importância da colaboração dos pais auxiliando as famílias a exercerem seu papel na educação. 3 DISTÚRBIOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E DA APRENDIZAGEM Grande parte das queixas relatadas na clínica pediátrica, neurológica, neuropsicológica e fonoaudiológica infantil refere-se a alterações no processo de aprendizagem e/ou atraso na aquisição da linguagem. Acredita-se que as dificuldades de aprendizagem estejam intimamente relacionadas a história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita. Por isso, a necessidade de identificação precoce dessas alterações no curso normal do desenvolvimento evita posteriores conseqüências educacionais e sociais desfavoráveis (Landry SH, 2010). 31 3.1 LINGUAGEM A linguagem é um exemplo de função cortical superior, e seu desenvolvimento se sustenta, por um lado, em uma estrutura anatomofuncional geneticamente determinada e, por outro, em um estímulo verbal que depende do ambiente (Castaño J, 2003). Serve de veículo para a comunicação, ou seja, constitui um instrumento social usado em interações visando à comunicação. Desta forma, deve ser considerada mais como uma força dinâmica ou processo do que como um produto. Pode ser definida como um sistema convencional de símbolos arbitrários que são combinados de modo sistemático e orientado para armazenar e trocar informações (Nogueira S, Fernández B, 2000). 3.2 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar-se com os outros. Tem também capacidade para discriminar precocemente os sons da fala. A aprendizagem do código linguístico se baseia no conhecimento adquirido em relação a objetos, ações, locais, propriedades, etc. Resulta da interação complexa entre as capacidades biológicas inatas e a estimulação ambiental e evolui de acordo com a progressão do desenvolvimento neuropsicomotor (Castaño J, 2003). Apesar de não estar completamente esclarecido o grau de eficácia com que a linguagem é adquirida, sabe-se que as crianças de diferentes culturas parecem seguir o mesmo percurso global de desenvolvimento da linguagem. Ainda antes de nascer, elas iniciam a aprendizagem dos sons da sua língua nativa e desde os primeiros meses distinguem-na de línguas estrangeiras (Nogueira S, Fernández B, 2000). 32 No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser reconhecidas: a pré-lingüística, em que são vocalizados apenas fonemas (sem palavras) e que persiste até aos 11-12 meses; e, logo a seguir, a fase lingüística, quando a criança começa a falar palavras isoladas com compreensão. Posteriormente, a criança progride na escalada de complexidade da expressão. Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial, com sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento (Costa DI, 2002). Tabela 01 - Desenvolvimento da linguagem 33 Fonte: Costa DI (2002). O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de quatro sistemas interdependentes: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da linguagem num contexto social; o fonológico, envolvendo a percepção e a produção de sons para formar palavras; o semântico, respeitando as palavras e seu significado; e o gramatical, compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar palavras em frases compreensíveis. Os sistemas fonológico e gramatical conferem à linguagem a sua forma. O sistema pragmático descreve o modo como a linguagem deve ser adaptada a situações sociais específicas, transmitindo emoções e enfatizando significados (Cervera-Mérida JF, 2003). 34 A intenção de comunicar-se pode ser demonstrada de forma não-verbal através da expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder, esperar pela vez, questionar e argumentar. Essa competência comunicativa reflete a noção de que o conhecimento da adequação da linguagem a determinada situação e a aprendizagem das regras sociais de comunicação é tão importante quanto o conhecimento semântico e gramatical (Nogueira S, Fernández B, 2000). 3.3 BASES BIOLÓGICAS DA LINGUAGEM O processo da linguagem é bastante complexo e envolve uma rede de neurônios distribuída entre diferentes regiões cerebrais. Em contato com os sons do ambiente, a fala engloba múltiplos sons que ocorrem simultaneamente, em várias freqüências e com rápidas transições entre estas. O ouvido tem de sintonizar este sinal auditivo complexo, decodificá-lo e transformá-lo em impulsos elétricos, os quais são conduzidos por células nervosas à área auditiva do córtex cerebral, no lobo temporal. O logo, então, reprocessa os impulsos, transmite-os às áreas da linguagem e provavelmente armazena aversão do sinal acústico por um certo período de tempo (Castaño J, 2003). A área de Wernicke, situada no lobo temporal, reconhece o padrão de sinais auditivos e interpreta-os até obter conceitos ou pensamentos, ativando um grupo distinto de neurônios para diferentes sinais. Ao mesmo tempo, são ativados neurônios na porção inferior do lobo temporal, os quais formam uma imagem do que se ouviu, e outros no lobo parietal, que armazenam conceitos relacionados. De acordo com este modelo, a rede neuronal envolvida forma uma complexa central de processamento. Para verbalizar um pensamento, acontece o inverso. Inicialmente, é ativada uma representação interna do assunto, que é canalizada para a área de Broca, na 35 porção inferior do lobo frontal, e convertida nos padrões de ativação neuronal necessários à produção da fala. Também estão envolvidas na linguagem áreas de controle motor e as responsáveis pela memória (Kandel DB, 1997). O cérebro é um órgão dinâmico que se adapta constantemente a novas informações. Como resultado, as áreas envolvidas na linguagem de um adulto podem não ser as mesmas envolvidas na criança, e é possível que algumas zonas do cérebro sejam usadas apenas durante o período de desenvolvimento da linguagem (Casas-Fernández C, 2000). Acredita-se que o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem em cerca de 90% da população; contudo, o hemisfério direito participa do processamento, principalmente nos aspectos da pragmática (Geschwind N, 1995). 3.4 ETIOLOGIA DOS DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA A fala caracteriza-se habitualmente quanto à articulação, ressonância, voz, fluência/ritmo e prosódia. As alterações da linguagem situam-se entre os mais freqüentes problemas do desenvolvimento, atingindo 3 a 15% das crianças, e podem ser classificadas em atraso, dissociação e desvio (Caputte AJ, 1991). Tabela 02 - Classificação das alterações da linguagem 36 Fonte: Caputte AJ (1991). A etiologia das dificuldades de linguagem e aprendizagem é diversa e pode envolver fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos e emocionais (estrutura familiar relacional), ocorrendo, na maioria das vezes, uma inter-relação entre todos esses fatores. Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem também podem ocorrer em concomitância com outras condições desfavoráveis (retardo mental, distúrbio emocional, problemas sensório-motores) ou, ainda, ser acentuadas por influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada (Undheim AM, 2003). 3.5 LINGUAGEM E EPILEPSIA Os efeitos da epilepsia, das crises convulsivas e das descargas eletroencefalográficas sobre a linguagem têm sido discutidos em diversos estudos. Pode-se dizer que três são os distúrbios mais relatados em pacientes epilépticos: as disfasias do desenvolvimento associadas a epilepsia; as afasias críticas (agudas), onde ocorre uma alteração transitória da função cognitiva; e a afasia epiléptica adquirida (síndrome de Landau-Kleffner) (Shinnar S, 2000). 37 A afasia epiléptica adquirida é caracterizada pela deteriorização da linguagem na infância associada a crises ou atividade eletroencefalográfica epileptiforme anormal. Esse tipo de afasia muitas vezes é confundido com síndrome autística ou deficiência auditiva. Além da deteriorização da linguagem e da agnosia auditiva, observam-se alterações de comportamento, incluindo traços autistas. Por isso, devemos estar atentos a qualquer criança que apresente regressão de linguagem, devendo esta ser avaliada cuidadosamente (para que seja feito um diagnóstico diferencial) e encaminhada para o tratamento adequado (Ribeiro KMN, 2002). 3.6 LINGUAGEM E AUTISMO A regressão da linguagem é observada na síndrome de Landau-Kleffner e na regressão autística. Recentes estudos focados na linguagem verbal de crianças com espectro autista enfatizam traços anômalos da fala, como a escolha de palavras pouco usuais, inversão pronominal, ecolalia, discurso incoerente, crianças não-responsivas a questionamentos, prosódia aberrante e falta de comunicação. Muitos estudos atribuem a ausência de fala em alguns indivíduos ao grau de severidade do autismo, à tendência a retardo mental ou a uma inabilidade de decodificação auditiva da linguagem (Rapin I, 2003). Tabela 03 - Etiologia dos distúrbios da linguagem oral e escrita 38 Fonte: Undheim AM (2003) No autismo, a compreensão e a pragmática estão invariavelmente afetadas, e os achados incluem prosódia aberrante, ecolalia imediata e/ou tardia e perseveração (persistência inapropriada no mesmo tema). Outros sintomas estão também presentes, distinguindo essas crianças daquelas com apenas atraso de linguagem; esses sintomas incluem, particularmente, perturbações da comunicação não-verbal, comportamentos estereotipados e perseverantes, interesses restritos e/ou inusuais e alteração das capacidades sociais (Wilson S, 2003). Concluímos, com isso, que a regressão de linguagem na infância se caracteriza por um distúrbio grave, com morbidades significativas a longo prazo (Becker F, 1995). 3.7 INTERVENÇÃO NA CRIANÇA COM DISTÚRBIO DA LINGUAGEM A produção da fala e linguagem pode ser considerada adequada ou não de acordo com a idade cronológica. Para avaliá-la, é necessário levar em conta os 39 aspectos cognitivos e emocionais do desenvolvimento, que poderão indicar ou não a severidade do caso, bem como a necessidade de orientação especializada à família e/ou terapia fonaudiológica (Becker F, 1995). Sabe-se que a estimulação precoce da linguagem pode prevenir distúrbios de aprendizagem, dislexia e problemas de desenvolvimento. Pesquisas vêm demonstrando a importância dos 3 primeiros anos de vida no desenvolvimento do cérebro humano (Tedesco MRM, 1997). São princípios básicos da intervenção na criança a avaliação do desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis, a orientação à família e escola e a terapia propriamente dita. Esta pode ser dividida em terapia da fala (onde serão abordados objetivos como desvios fonéticos e fonológicos), terapia de voz (disfonias), terapia de motricidade oral (distúrbios de alimentação, respiração e mobilidade de órgãos fonoarticulatórios), terapia de linguagem oral (onde o enfoque pode estar centrado na expressão e/ou recepção de linguagem) e terapia de linguagem escrita (dislexias, disortografias e disgrafias) (Becker F, 1995). Todas as atividades de estimulação dentro da terapia fonoaudiológica infantil devem ser realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer nas técnicas propostas. Também é recomendável envolver a família e, quando necessário, a escola (Landry SH, 2010). A estimulação através de canto, conversa, brincadeiras e leitura propicia a aquisição de habilidades que favorecem o desenvolvimento. Para que comece a ocorrer um processo de comunicação, a criança deverá se sentir motivada. Deverá existir o que se chama de intenção comunicativa (através da fala serão conseguidos objetos de interesse da criança). Este aspecto surge através do contato diário com as pessoas e da estimulação que essa interação propicia. Também devemos considerar a importância da amamentação materna, alimentação com textura e consistência adequadas nas diferentes fases e a não-existência de hábito de sucção de dedo ou chupeta além dos 2 anos. Todos esses fatores contribuem para uma 40 musculatura orofacial adequada à produção da fala. A família tem papel fundamental na estimulação da linguagem, e cabe ao médico e/ou terapeuta envolvê-la ou permitir envolver-se pela família (Shaywitz SE, 2003). 3.8 DESENVOLVIMENTO NORMAL A habilidade de leitura é verificada através da capacidade de decodificação, fluência e compreensão da escrita (Capellini AS,2000). O processo normal de leitura ocorre em duas etapas.Inicialmente, é realizada a análise visual, através do processamento vísuo-perceptivo do estímulo gráfico. Em seguida, ocorre o processamento lingüístico da leitura, onde, através da via não-lexical, é feita a conversão grafema-fonema e, pela via lexical, é feita a leitura global da palavra com acesso ao significado (Heim S, 2003). A criança tem que descobrir que há letras que não representam o som da fala, visto que a leitura alfabética associa um componente auditivo fonêmico a um componente visual gráfico, o que é denominado de correspondência grafofonêmica. É necessária a conscientização da estrutura fonêmica da linguagem (decomposição das palavras) e das unidades auditivas que são representadas por diferentes grafemas (Medow N, 2003). 3.9 BASES NEUROBIOLÓGICAS O processo de aquisição da linguagem escrita, assim como o da linguagem oral, envolve diversas regiões cerebrais, entre elas a área parieto-occipital. Na região occipital, o córtex visual primário é o responsável pelo processamento dos símbolos gráficos, e as áreas do lobo parietal são responsáveis pelas questões vísuo-espaciais da grafia. Essas informações processadas são reconhecidas e decodificadas na área de Wernicke, responsável pela compreensão da linguagem, 41 e a expressão da linguagem escrita necessita da ativação do córtex motor primário e da área de Broca. Para todo este processo ocorrer, é importante que as fibras de associação intra-hemisféricas estejam intactas (Kandel DB, 1997). Em uma pesquisa, observou-se ativação cerebral de pessoas normais durante a leitura de pseudopalavras nas seguintes regiões: região frontal inferior esquerda; região parietotemporal, envolvendo os giros angular, supramarginal e a porção posterior de giro temporal superior; e regiões occipitotemporais, envolvendo porções mesiais e inferiores do giro temporal e giro occipital. O mesmo estudo foi realizado em disléxicos, sendo constatado um aumento de ativação no giro frontal inferior e pouca ativação em regiões posteriores (Shaywitz SE, 1998). Pesquisadores relatam que, em relação aos mecanismos neurológicos das dificuldades de leitura, alterações referentes à assimetria hemisférica geram uma organização atípica do hemisfério direito em crianças e adolescentes com dislexia (Hayes EA, 2003). Disléxicos apresentam uma desconexão temporo-parieto-occipital e uma desconexão com o córtex frontal esquerdo, assim como anormalidades do córtex têmporo-parietal e do cerebelo em relação a outras regiões do cérebro (Medow N, 2003). 3.10 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM ESCRITA NA INFÂNCIA Dificuldades de aprendizagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento do aprendizado da leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral (Nunes T, 1997). Ao se estudar alterações no processo de aprendizagem da linguagem oral, freqüentemente verifica-se a ocorrência de posteriores dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita. Da mesma forma, ao se investigar os fatores que antecedem as dificuldades de leitura e escrita, surgem questionamentos a respeito 42 das dificuldades de aprendizado da linguagem. Ressalta-se que, entre as alterações de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades fonológicas, e não as articulatórias, que podem ocasionar prejuízos no aprendizado posterior da leitura e da escrita (Spreen O, 1995). 3.11.1 DISLEXIA A leitura e a escrita envolvem habilidades cognitivas complexas, além de capacidade de reflexão sobre a linguagem no que se refere aos aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. As crianças, ao iniciar a alfabetização, já dominam a linguagem oral, sendo capazes de iniciar o aprendizado da escrita. Porém, sabe-se que existem regras mais específicas e próprias da escrita, havendo, então, maiores dificuldades no seu aprendizado (Ciasca AS,1995). No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais38,39. Sabe-se que se um aluno com dificuldades de aprendizagem for bem conduzido pelos profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos resultados escolares (Polity E, 2003). É importante ressaltar que existe uma combinação dos fenômenos biológicos e ambientais no aprendizado da linguagem escrita, envolvendo a integridade motora, a integridade sensório-perceptual e a integridade socioemocional (possibilidades reais que o meio oferece em termos de quantidade, qualidade e freqüência de estímulos). Além disso, o domínio da linguagem e a capacidade de simbolização também são princípios importantes no desenvolvimento do aprendizado da leitura e da escrita (Mathes PG, 2002). 43 Sendo considerada uma alteração de aprendizagem, a dislexia caracteriza- se por dificuldades específicas na realização da leitura e da escrita, havendo, de maneira geral, dois tipos de dislexia: a dislexia de desenvolvimento e a dislexia adquirida (Ciasca AS,1995). A primeira refere-se a alterações no aprendizado da leitura e escrita com origem institucional, ou seja, ambiental, referente à forma de aprendizado escolar. Nesses casos, ocorre diminuição da capacidade de leitura associada a disfunção cerebral, havendo uma alteração específica na aquisição das habilidades de leitura e conseqüente dificuldade no aprendizado da leitura. Existem autores que consideram fatores genéticos como uma das causas de dislexia de desenvolvimento. Já na dislexia adquirida, o aprendizado da leitura e da escrita, que foi adquirido normalmente, é perdido como resultado de uma lesão cerebral (Medow N, 2003). Vários são os fatores ainda em estudo que descrevem as causas da dislexia de desenvolvimento entre eles, déficits cognitivos, fatores neurológicos (neuroanatômicos e neurofisiológicos), prematuridade e baixo peso ao nascimento, influências genéticas e ambientais. Sabe-se, porém, que fatores externos (ambientais) não podem ser separados de problemas neurológicos, visto que aspectos tais como instrução inadequada, distúrbios emocionais e pobreza de estímulos na infância podem causar diferenças no desenvolvimento neurológico e cognitivo que precedem dificuldades severas de leitura (Landry SH, 2002). As dislexias podem ser divididas em dois tipos: central e periférica (Tabela 4). Na primeira, ocorre o comprometimento do processamento lingüístico dos estímulos, ou seja, alterações no processo de conversão da ortografia para fonologia. Na segunda, ocorre o comprometimento do sistema de análise vísuo-perceptiva para leitura, havendo prejuízos na compreensão do material lido. Entre as dislexias centrais, ressaltam-se a fonológica, a de superfície e a profunda; já as dislexias 44 periféricas incluem a dislexia atencional, a por negligência e a literal (pura) (Capellini AS, 2000). Em relação às dislexias de desenvolvimento, as mais comuns são a dislexia fonológica e a de superfície, já mencionadas anteriormente, e a dislexia semântica. Esta se caracteriza pela preservação da leitura em voz alta, sem erros de decodificação (fonema-grafema), porém com pobreza na compreensão da escrita (Van der Schoot M, 2002). Tabela 4 - Classificação das dislexias centrais e periféricas Fonte: Van der Schoot M (2002). 45 Várias pesquisas vêm fornecendo evidências de déficits fonológicos em dislexias de desenvolvimento. No entanto, recentes estudos demonstraram a existência de múltiplos déficits de processamento temporal nas dislexias. De fato, disléxicos mostram anormalidades visuais e auditivas que podem resultar de problemas generalizados na percepção e na seleção de estímulos. Crianças com dislexia apresentam alterações auditivase visuais referentes à orientação espacial. Esses achados sugerem que déficits na atenção da seleção espacial podem desorganizar o desenvolvimento de representações fonológicas e ortográficas que são essenciais para o aprendizado da leitura (Ramus F, 2003). Em uma pesquisa realizada pelo Institute of Cognitive Neuroscience (Londres), foram investigados 16 disléxicos adultos e 16 controles através de uma bateria de testes psicométricos, fonológicos, auditivos, visuais e cerebelares. Dados individuais revelaram que todos os disléxicos apresentaram déficits fonológicos, 10 mostraram déficits auditivos, quatro tinham déficits motores, e dois tinham déficits visuais. Esses achados sugerem que déficits fonológicos podem aparecer na ausência de qualquer outra alteração motora ou sensorial e são suficientes para causar um prejuízo significativo, como foi demonstrado em cinco dos 16 disléxicos (Breier JI, 2003). 3.11.2 DISLEXIA E DISTÚRBIO DA ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE A grande maioria das crianças com déficit de atenção/ hiperatividade apresenta dificuldades escolares, podendo haver a concomitância dessas alterações com dislexia do desenvolvimento. Realizou-se um estudo comparando grupos de crianças com dificuldades de leitura sem déficit de atenção/hiperatividade, crianças somente com déficit de atenção e hiperatividade, crianças com dificuldade de leitura e déficit de atenção e hiperatividade, e crianças sem nenhum prejuízo. Foram investigados aspectos 46 referentes ao processamento auditivo do lobo temporal dessas crianças. Os resultados da pesquisa não indicaram um déficit nas funções temporais auditivas em crianças com dificuldades de leitura, mas sugeriram que a presença de déficit de atenção e hiperatividade é um fator significante na performance de crianças com dificuldades de leitura (Downie AL, 2003). Outra pesquisa realizada na Holanda (Department of Special Education, Vrije Universiteit, Amsterdã) mostrou que os déficit inibitórios em disléxicos lexicais podem ser atribuídos a disfunções em estruturas cerebrais fronto-centrais envolvidas em inibições motoras, sugerindo que possa haver uma associação entre dislexia lexical e déficit de atenção/hiperatividade, já que os dois grupos apresentam disfunção executiva (Ramus F, 2003). 3.11.3 DISLEXIA E BAIXO PESO AO NASCIMENTO Em relação às crianças que nascem com baixo peso, existe uma associação entre a presença de doença cerebral periventricular e baixa performance em testagens de leitura e habilidades de soletração (St Sauver JL, 2001). Em um estudo realizado nos Estados Unidos, pesquisadores buscaram encontrar associações entre dificuldades de leitura e seus potenciais fatores de risco em meninos e meninas. Os resultados indicaram que meninas com baixo peso ao nascimento apresentam duas vezes mais probabilidade de desenvolver alterações de leitura. Salienta-se que existem diferenças na utilização cortical durante a leitura em crianças com baixo peso ao nascimento (Khan SC, 1999). 47 3.11.4 INFLUÊNCIAS GENÉTICAS NA DISLEXIA Sabendo-se que existem alguns indivíduos que têm predisposição genética para dificuldades de leitura, as dislexias vêm sendo estudadas em função de seus aspectos genéticos. A leitura está sendo relacionada a cromossomos específicos (6, 1, 2 e 15), apesar de, até recentemente, não haver evidências de genes específicos responsáveis pela capacidade ou incapacidade de leitura (Rutkowski JS, 2003). Achados mais recentes, pesquisados através do Projeto Genoma Humano, evidenciaram quatro genes de suscetibilidade à dislexia: DYX1, DYX2, DYX3 e DYX4. São genes em diferentes posições, suspeitando-se do caráter heterogêneo dos transtornos de leitura (Pedagogia em Foco, 2003). Uma outra pesquisa, que está sendo realizada pelo neuropsicólogo Frank Wood, da Universidade de Forest Wake, revela que outros cromossomos (6, 1, 2 e 15) têm relações com a incapacidade de algumas crianças no processamento do texto. Mais especificamente, sabe-se que existe um lócus nos cromossomos 6 e 18 que tem mostrado fortes e replicáveis efeitos nas habilidades de leitura (Francks C, 1989). É importante ressaltar que o progresso no entendimento do papel da genética na dislexia pode ajudar a diagnosticar e tratar crianças suscetíveis a tais dificuldades com maior efetividade e rapidez. 3.11.5 OUTRAS ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ESCRITA - DISGRAFIA E DISORTOGRAFIA Devendo ser analisada através de diferentes tarefas (cópia, ditado e escrita espontânea), a expressão da escrita também pode evidenciar alterações como a disgrafia, ou seja, alterações no traçado das letras, e a disortografia, que se refere 48 a alterações ortográficas na escrita das palavras não esperadas para determinada faixa etária e escolaridade. A disgrafia e a disortografia podem estar associadas ou não às dislexias. 3.11 INTERVENÇÕES São princípios básicos do trabalho em linguagem escrita com a criança: estimular a descoberta e utilização da lógica de seu pensamento na construção de palavras e textos e na representação de fonemas; oferecer oportunidades para a escrita e leitura espontâneas; explorar constantemente as diversas funções da escrita (não apenas produção textual mas também cartas e bilhetes); e explicitar as diferenças entre língua falada e língua escrita. É importante que a criança tenha adequada consciência de que a fala e a escrita são formas diferentes de expressão da linguagem. Conforme visto anteriormente, alterações nos processos perceptivos da leitura ou nos processos psicolingüísticos (lexicais, visuais, fonológicos, sintáticos ou semânticos) podem acarretar dificuldades de leitura, estando a elaboração do programa de reabilitação diretamente relacionada com a avaliação dos processos deficitários na criança35. Em pacientes com dislexia de superfície, geralmente se utiliza uma estratégia lexical, e em disléxicos fonológicos, a intervenção mais apropriada é a estimulação da conversão grafema-fonema (não-lexical) (Byrne B, 1989). Salienta-se a importância da estimulação da consciência fonológica em pré- leitores, visto que muitos estudos demonstram sua eficiência no aprendizado da leitura (Capovilla AGS, 2000). A principal indicação atual para o tratamento de crianças com dificuldades de linguagem escrita é a intervenção direta nas habilidades de leitura, associada a atividades relacionadas ao processamento fonológico da linguagem. Práticas anteriores buscavam estimular habilidades consideradas pré-requisitos para o 49 aprendizado da leitura, como percepção vísuo-espacial, habilidades psicomotoras, etc (Salles JF, 2003). Todas as atividades de estimulação da linguagem escrita devem ser realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer em ler e escrever. Em casa, o estímulo deve ser iniciado com a leitura de histórias infantis pelos pais para os filhos, a estimulação de jogos de rimas, que ajudam na consciência fonológica, jogos com letras e desenhos, para a criança já ir se familiarizando com a escrita, leitura de rótulos e propagandas enfim, nunca se deve obrigar uma criança a ler um livro, e sim fazê-la ter vontade de ler e conhecer a sua história (Capellini AS, 2000). 3.12 CONTEXTO ESCOLAR E SOCIAL DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Associadas a problemas de natureza comportamentais e emocionais, as dificuldades de aprendizagem são bastante frequentes. De acordo com Stevanatoet al (2003), tais dificuldades influenciam nos problemas escolares, afetando os sentimentos e comportamento das crianças, podendo se expressar de forma interna ou externa. Desta forma, Santos e Marturano (1999) apontam que as dificuldades de aprendizagem podem ser decorrentes de problemas educacionais ou individuais, bom como ambientais, sendo consideradas como uma condição de vulnerabilidade psicossocial,por desenvolver sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, sendo em muitos casos acompanhada de problemas de habilidades sociais, emocionais e de comportamento, que podem afetar de forma negativa o desenvolvimento do indivíduo. No contexto social Stevanato et al. (2003) trazem que crianças com dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, têm associados problemas de 50 socialização, tendo menos habilidades sociais, problemas estes que persistem por toda a vida acadêmica. Estas crianças tendem a atribuir o fracasso a fatores internos e o sucesso a fatores externos. Desta forma, segundo Enricone e Goldberg (2007), trabalhar a inclusão dessas crianças que apresentam uma série de dificuldades, valorizando seu potencial positivo, através da compreensão e paciência por parte de profissionais e família é fundamental para que estas se tornem adultos bem-sucedidos. 4 A RELEVÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA PARA AUXILIAR CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A Psicopedagogia é uma ciência que surgiu a partir da necessidade de auxiliar pessoas com dificuldades de aprendizagem, possui uma abordagem multidisciplinar que envolve as áreas da Psicologia, Pedagogia, Psicanálise, Linguística e Neuropsicologia, tendo como objetivo compreender a questão da aprendizagem de forma ampla, percebendo as contribuições dessas áreas para o processo de desenvolvimento do indivíduo de forma global e não isolada (BOSSA, 2011). De acordo com Martini (1999), a Psicopedagogia vem sendo utilizada há alguns anos com o intuito de compreender os fatores que causavam e/ou influenciavam o baixo rendimento de algumas pessoas, sobretudo no ambiente escolar. Na mesma direção, Visca (1987, p. 33), ao refletir sobre as origens da Psicopedagogia afirma que esta: Nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade de atender as crianças com dificuldades na aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de 51 estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. Nas décadas de 1960 e 1970, esta ciência sofreu grande influência de correntes da psicologia, tais como o Humanismo e o Behaviorismo, que, conforme sinaliza o autor, possibilitavam ao profissional realizar uma análise que trazia como ponto de partida dois paradigmas: a vontade de aprender aquilo que realmente se gosta (Humanismo) e a importância de se ter um estímulo visando uma resposta, conforme destaca Scoz e Mendes (2002): [...] A psicopedagogia além de dominar a patologia e a etiologia dos problemas de aprendizagem, aprofundou conhecimentos que lhe possibilitam uma contribuição efetiva não só relacionada aos problemas de aprendizagem, mas, também, na melhoria da qualidade do ensino oferecido nas escolas. [...]. Dessa forma contribui para a percepção global do fato educativo e para a compreensão satisfatória dos objetivos da educação e da finalidade da escola, possibilitando, assim, uma ação transformadora (SCOZ; MENDES, 2002, p. 34). Na atualidade, observa-se que a Psicopedagogia pauta-se sob o direcionamento de três correntes principais, são elas a Psicanálise, que defende a ideia de que para que o aprendizado ocorra de forma efetiva, é necessário haver um vínculo entre quem ensina e quem aprende, além do associacionismo, no qual se tem como principal conceito as influências que os fatores externos exercem nesse contexto. E, por fim, o construtivismo, que defende a ideia de que existe uma relação intrínseca entre as relações sociais e a construção de conhecimento entre os indivíduos (MARTINI, 1999). Existem dois campos principais para a atuação da Psicopedagogia. O primeiro é o clínico, onde tem-se como foco a realização de tratamento terapêutico, buscando compreender porque o indivíduo não aprende, para assim buscar meios de ajudá-lo a superar esse problema (MORAES, 2010). O segundo é o institucional, que pode ser desenvolvido em instituições como empresas, hospitais e em escolas. No contexto escolar, destaca-se que o 52 profissional habilitado em Psicopedagogia trabalha com a prevenção, sobretudo a prevenção de problemas de aprendizagem como os discentes, fazendo com que este profissional seja de fundamental importância dentro do ambiente escolar (OLIVEIRA, 2009). Conforme destaca o Código de Ética da profissão do psicopedagogo formulado pela Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPP, 2011) no seu artigo 3º, são objetivos desse profissional: a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão escolar e social; b) compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem; c) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia; d) mediar conflitos relacionados aos processos de aprendizagem. Assim sendo, pode-se inferir que uma das funções principais da Psicopedagogia no âmbito educacional é o de promover a inclusão de alunos com dificuldades cognitivas, trabalhando em parceria com o professor da sala de aula regular, buscando promover um melhor diálogo e estabelecer uma parceira, pois conforme destaca Vercelli (2009, p. 73): A Psicopedagogia institucional é um campo de estudo que vem se desenvolvendo como ação preventiva de muita importância, mas é vista como ameaçadora, pois tem por objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar a realidade escolar. Torna-se ameaçadora, pois em muitos casos, o psicopedagogo poderá propor mudanças para que determinadas crianças aprendam, mas, infelizmente, muitos educadores resistem a essas mudanças e interpretam o que lhes foi dito como se não estivessem dando conta do papel que exercem. Observa-se do exposto acima, que nem sempre as relações entre professores e psicopedagogos são harmoniosas, considerando que em muitos 53 casos existe um conflito em relação aos papéis exercidos por ambos os profissionais, especialmente pelo fato de o psicopedagogo por vezes sugerir mudanças no que se refere a práticas educativas muitas vezes cristalizadas e destinadas a atender as demandas educativas dos alunos, desconsiderando assim a diversidade existente em sala. Mas como identificar os alunos que possuem déficits na aprendizagem? Incialmente é preciso que o educador realize uma avaliação prévia do acompanhamento do aluno nas atividades propostas. Ao serem verificadas situações em que essas crianças apresentam comprometimento na aprendizagem, estas devem ser encaminhadas para uma avaliação com o psicopedagogo para realizar uma avaliação, buscando assim obter um melhor diagnóstico. Em relação à importância do diagnóstico, concorda-se com Bossa (2011), quando afirma que este: É de extrema relevância detectarmos, através do diagnóstico, o momento da vida da criança em que se iniciam os problemas de aprendizagem. Do ponto de vista da intervenção, faz muita diferença constatarmos que as dificuldades de aprendizagem se iniciam com o ingresso na escola, pois pode ser um forte indício de que a problemática tinha como causa fatores intraescolares (BOSSA, 2011, p. 101). Nesse sentido, pode-se afirmar que o diagnóstico é algo bastante complexo, e que exige do investigador uma análise minuciosa. Em se tratando do diagnóstico realizado pelo psicopedagogo, este tem como objetivo descobrir os motivos pelos quais a pessoa não consegue aprender, tratando-se de crianças pequenas, possibilita ainda a intervenção precoce, o que contribui significativamente no processo de superação desses obstáculos. Com relação aos instrumentos utilizados por esse profissional para realizar o diagnóstico, além de técnicas mais simples, a exemplo da entrevista e anamnese, encontram-se os testes projetivos, avaliação perceptomotora, teste de apercepçãoinfantil (CAT.); teste de apercepção temática (TAT.); provas de nível de pensamento (Piaget); avaliação do nível pedagógico, desenho referente aos membros de sua 54 família, testes psicomotores, lateralidade, estruturas rítmicas, dentre outros, com a finalidade de reunir a maior quantidade de dados possíveis para serem analisados (BOSSA, 2011). A entrevista e a anamnese consistem num roteiro de perguntas e observações sobre cada caso, e configuram-se como o primeiro passo para a realização de uma avaliação psicopedagógica, pois é através desses instrumentos que o psicopedagogo busca identificar os principais fatores responsáveis pelas dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelas crianças. Já os demais tipos de testes aplicados, a exemplo do TAT, trabalham numa perspectiva mais subjetiva, utilizando a técnica de interpretação de figuras por meio da contação de histórias, como o objetivo de conhecer determinadas da personalidade do indivíduo (COLL; MARTIN, 2006). Observa-se que o objetivo maior do diagnóstico está para além de simplesmente descobri o que existe por trás das dificuldades de aprendizagem de uma criança, pois conforme destaca Bossa (2011), independentemente dos fatores que estão interferindo no processo de ensino-aprendizagem desse aluno, faz-se necessário que a escola proporcione a elas não somente o acesso à educação, mas também o seu acesso e permanência. Após serem diagnosticadas, essas crianças necessitam fazer um acompanhamento com uma equipe multiprofissional. No caso do psicopedagogo, pode-se afirmar que ele é um profissional indispensável nesse processo, uma vez que as crianças pequenas demandam necessidades educacionais que envolvem as esferas cognitivas, afetivas e sociais, necessitando assim de um acompanhamento individualizado, incluindo também o apoio à família, pois embora sejam esferas que necessitam caminhar juntas, possuem suas especificidades: A intervenção psicopedagógica não pode configurar-se da mesma maneira quando direcionada para o contexto escolar e quando oferecida a uma família; os instrumentos e as estratégias utilizadas irão variar conforme a orientação esteja direcionada (SOLÉ, 2001, p. 28). 55 Compreende-se do exposto a necessidade de tanto os alunos quanto as famílias possuírem orientação quanto aos motivos que ocasionam as dificuldades de aprendizagem, assim como conhecer e desenvolver estratégias para o enfrentamento desses problemas, buscando, assim, melhor atender e contribuir no processo de inclusão desses alunos no ambiente escolar. Sabe-se ainda que as primeiras experiências da vida de uma criança se dão no contexto familiar. Por isso, se torna imprescindível que estas primeiras aprendizagens se desenvolvam num ambiente propício para o desenvolvimento afetivo e para a busca da autonomia das crianças, uma vez que estas primeiras experiências e emoções interferem diretamente na construção da identidade da criança e na forma como ela vai encarar o ambiente escolar, que, na maioria das vezes, é o primeiro contato da criança com a sociedade fora do ambiente familiar (SOARES, 2010). 4.1 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Enquanto espaço de construção e socialização de saberes, a escola tem o dever de atender a todos, independentemente de suas limitações, sejam elas cognitivas, físicas, culturais e afetivas. Pautada nesses ideais, nos últimos anos, no país, estudiosos de diversas áreas da educação vêm discutindo acerca da necessidade de se perceber a escola como um espaço formativo que deve atender a todos, incluindo as pessoas com necessidades educacionais especiais. Nessa perspectiva, surge a chamada “escola inclusiva”, cuja proposta não consiste apenas em promover somente a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, mas de todos, considerando que o direito à educação é garantido por lei e deve ser usufruído por todas as pessoas. Observa-se ainda que nos últimos anos, o quantitativo de alunos com necessidades educacionais 56 especiais no país teve um aumento significativo. Conforme o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio TeixeiraINEP, o número de alunos matriculados nas escolas subiu de 114.834 para 750.983, somente no período de 2005 a 2015 (INEP, 2016). Tal fato, segundo as pesquisas do INEP, se justifica pelas mudanças na legislação brasileira, a exemplo da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), que dentre outras prerrogativas reafirma a educação como um direito inalienável das pessoas consideradas público-alvo da educação especial (BRASIL, 2008). Entretanto, é válido afirmar que foi a necessidade de incluir esses alunos que a princípio gerou a discussão sobre a inclusão escolar como um direito de todos os alunos, dentre eles aqueles considerados público-alvo da educação especial, ou seja, discentes com deficiência (física, intelectual, visual, auditiva e múltipla), transtornos de neurodesenvolvimento, a exemplo do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Altas habilidades/superdotação, conforme enfatiza a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Assim sendo, a escola inclusiva, defendida pela legislação desde a década de 1990, deve ser aquela capaz de: Adaptar-se, acolher e cultivar as diferenças como um elemento de valor positivo, e a abertura de um espaço pluralista e multicultural, no qual se mesclam as cores, os gêneros, as capacidades, permitindo assim o acesso a uma escola, uma educação, na qual todos, sem exclusão, encontrem uma resposta educativa de acordo com as suas necessidades e características peculiares (CAMACHO, 2003, p. 09). Pode-se inferir que com esta nova tarefa, a escola demanda por profissionais que estejam capacitados para acolher a diversidade existente em sala de aula. No caso específico de crianças na educação infantil, sobretudo as que possuem necessidades educacionais especiais, necessitam realizar o acompanhamento com o psicopedagogo, a fim de auxiliar no desenvolvimento de 57 suas potencialidades, considerando que na realidade de muitas instituições, este é o único profissional que além dos docentes e gestores, compõe a equipe pedagógica. Sabe-se é na infância que a criança pequena inicia seu processo de aquisição do conhecimento nas mais diversas áreas, vivenciando situações que interferem direta e indiretamente em sua aprendizagem. Sobre essa questão, concorda-se com Relvas (2008), quando afirma que: As experiências vividas pelo educando em desenvolvimento são referidas e imprimem significação determinante em seu processo de construção pessoal. A aprendizagem coloca em foco as diferentes dimensões do educando sob a ótica integradora do aspecto cognitivo, afetivo, orgânico e social. O 'olhar' sobre esses aspectos, ao mesmo tempo em que relativiza a importância da escola na aprendizagem, coloca em foco a importância de toda reunião de fatores 'extraclasses' que interferem no processo de construção do conhecimento e do papel do aprendente (RELVAS, 2008, p. 112-113). Nesse sentido, observa-se que o papel do psicopedagogo é bastante relevante, pois além de trabalhar os desafios e as possibilidades de aprendizagens dessas crianças em sua mais tenra idade, auxiliando-as em seu processo de adaptação no ambiente escolar, ele pode realizar um trabalho em parceria com o professor da sala de aula, buscando novas estratégias para que esses alunos possam aprender melhor, além de contribuir no processo de formação continuada desenvolvido na escola (SANTOS, 2007). Além disso, este profissional pode contribuir para dar suporte na formação dos docentes que atuam com essas crianças nas classes comuns, conforme destaca Bayer (2006), propondo o desenvolvimento de novas estratégias e metodologiaspara se trabalhar com esses alunos, buscando estabelecer um diálogo melhor entre a escola, família e o aluno, pois um dos maiores obstáculos para que essa inclusão ocorra de forma efetiva tem sido a falta de informação sobre as dificuldades enfrentadas por estes, bem como os meios pelos quais as mesmas podem ser minimizadas. 58 5 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA APRENDIZAGEM 5.1 A LINGUAGEM E SEUS MODOS DE EXPRESSÃO Tema de interesse de variadas áreas, a linguagem está presente em nossa história desde os tempos mais remotos. Sua existência é marcada por registros de desenhos rupestres (Figura 1), criação do alfabeto, múltiplas formas de comunicação e sistema utilizado para envio e recebimento de mensagens. Quanto à definição de linguagem e suas formas de expressão, de acordo com Santrock (2009, p. 54), encontramos a seguinte conceituação: Linguagem é uma forma de comunicação – seja falada, escrita ou gesticulada – que é baseada em um sistema de símbolos. A linguagem consiste de palavras utilizadas por uma comunidade (vocabulário) e de regras para as variações e combinações (gramática e sintaxe). Figura 1 - Imagens rupestres: tipo de linguagem. Fonte: MattLphotography/Shutterstock.com. Outro importante pesquisador e linguista de renome, Evanildo Bechara (2004) entende por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados 59 na intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. Assim, quando o indivíduo se vale das palavras, expressando-as de modo oral ou por meio da escrita, está empregando a linguagem verbal. Segundo Fiorin (2002), a linguagem verbal é, portanto, o produto do pensamento como meio de comunicação. Ela está intrinsecamente relacionada às sociedades e comunicações, a linguagem é usada para exprimir emoções, sentimentos, ideias de cunho subjetivo, formulada por meio da leitura de mundo entremeada pela realidade contextual, onde o falante está inserido. Partindo desse pressuposto, podemos facilmente constatar que a linguagem vai muito mais além de uma comunicação verbal. Até mesmo um silêncio é um modo de comunicação. Ao transitarmos por uma cidade, teremos outdoors nos transmitindo algo por meio de imagens, semáforos nos informando por meio de cores, símbolos em um hospital que nos informam mensagens tais como “silêncio”, “não fume”, e assim por diante. Para que possamos exemplificar os diferentes modos de expressão, apresentaremos algumas imagens que representam um tipo de linguagem (LEITURA..., 2011). O alfabeto em Braille (Figura 2) é utilizado por deficientes visuais. É formado por meio de combinações de seis pontos que fazem a composição da cela Braille, organizada por meio de duas colunas e três linhas de pontos, de cima para baixo e da esquerda para direita, cuja forma em relevo representa uma letra ou pontuação (NICOLAIEWSKY; CORREA, 2008). 60 Figura 2 - Alfabeto em Braille. Fonte: Pyty/Shutterstock.com Na Figura 3, estão representados códigos linguísticos utilizados em diferentes partes do mundo, encontrados por meio de diferentes textos de circulação em jornais, revistas, situações comunicativas entre pessoas, por meio de discursos e formas de expressão de acordo com o contexto em que o falante está situado (LEITURA..., 2011). Figura 3 - Variedades de idiomas. 61 Fonte: CHM3N/Shutterstock.com A língua de sinais (Figura 4), em nosso país denominada Língua Brasileira de Sinais — LIBRAS, utiliza um espaço visual e uma linguagem não verbal. Para ser empregada, necessita de alguns parâmetros relacionadas aos gestos, ao corpo, às expressões faciais, por exemplo (LEITURA..., 2011). Figura 4 - Linguagem por meio de gestos. 62 Fonte: Ali Ozgon/Shutterstock.com A linguagem não verbal se vale de imagens, figuras, símbolos, assim como está presente em elementos artísticos, como na música, dança, escultura e em gestos, valendo-se de um modo de se comunicar. Por meio de símbolos, como as sinalizações de trânsito com placas e sinais pelas cores, são transmitidas informações, como podem observar nas Figuras 5 e 6, tanto para os transeuntes quanto para os condutores de veículos (LEITURA..., 2011). Figura 5 - Símbolos que representam regras no trânsito. 63 Fonte: Germán Ariel Berra/Shutterstock.com. Figura 6 - As cores no semáforo transmitem informações para motoristas e transeuntes. 64 Fonte: Sudowoodo/Shutterstock.com. Agora que você (re)conheceu os principais modos de expressão comumente presentes em nosso cotidiano, falaremos a respeito das características linguísticas. Todas as linguagens humanas têm traços em comum (WAXMAN; LIDZ, 2006), tais como as regras que pautam as organizações e descrevem seu funcionamento (GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004), e a capacidade de produtividade infinita, que diz respeito à habilidade de se produzir incontáveis sentenças significativas, valendo-se de um grupo finito de palavras e estruturas (SANTROCK, 2009). Quanto à organização, a linguagem é pautada por um sistema de regras que envolve cinco elementos, apresentados no Quadro 1. A partir desse aporte teórico, constatamos a relevância dos diferentes meios de expressão da linguagem em nossas relações pessoais, familiares e profissionais. Acima de tudo, nos espaços educacionais, cada vez mais os profissionais envolvidos devem planejar ações voltadas para a aquisição e apropriação de diferentes meios de se comunicar, adequando seu discurso de acordo com o contexto em que se está inserido, valorizando os conhecimentos prévios revelados pelos alunos e respeitando-os (Lima, 2019). 65 O trabalho com as diversas formas de linguagem favorece a aquisição de competências essências, tanto para a formação acadêmica quanto para o exercício de cidadania, visto que a língua faz parte da sociedade, da convivência, da base das relações interpessoais e é fundamental para o entendimento entre as situações comunicativas que em estamos inseridos (Lima, 2019). Quadro 1 - Elementos da linguagem Fonte: Santrock (2009, p. 55-56). 5.2 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM As pessoas se comunicam por meio da linguagem, seja oral, escrita ou por gestos que podem se desdobrar em símbolos. Existem diversas comunidades 66 falantes que utilizam diferentes códigos para discursar. Nós utilizamos a Língua Portuguesa que contém vocabulário, regras, variações e combinações (SANTROCK, 2009). Engana-se quem pensa que o desenvolvimento da linguagem se inicia quando a criança pronuncia as primeiras palavras, comumente chamando por suas figuras materna/paterna e pedindo algo relacionado a suas necessidades básicas. Antes mesmo de se valer da fala como recurso expressivo, os bebês emitem sons para se comunicar por meio de choro, balbucio, chamados de sons pré-linguísticos. Uma única sílaba pode apresentar significados distintos, variando de acordo com contexto. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 196), “Da pode significar ‘eu quero aquilo’, ‘eu quero sair’ ou ‘onde está o papai?’. Uma palavra como essa, que expressa um pensamento completo, é chamada de holofrase”. No decorrer de seu desenvolvimento, também é ampliada a capacidade de identificar os sons pronunciados no ambiente e se valer de gestos. A partir de seu primeiro ano de vida, aproximadamente, a criança é capaz de emitir sons de suas primeiras palavras e sentenças, comumente um ano e oito meses depois. Veja, no Quadro 2, a seguir, as principais etapas desse desenvolvimento nos primeiros dois anos de vida da criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 196-197). 67 Quadro 2 - Etapas de desenvolvimento nos primeiros anos de vida Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 196-197). A partir desse período, apósos 24 meses, a criança gradativamente vai conseguindo expressar-se combinando três, quatro e cinco palavras, transitando de frases simples para complexas, entre dois ou três anos até os anos do ensino fundamental (BLOOM, 1985). 68 Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combinações de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses, demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 5.3 REGRAS QUE COMPÕEM O SISTEMA LINGUÍSTICO Por meio dessas regras em nosso sistema linguístico, encontramos o modo como a linguagem se organiza, assim como a descrição de seu funcionamento (GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004). Analisando esse desenvolvimento a partir das cinco regras que compõem nosso sistema, observamos as seguintes evoluções, adaptadas de acordo com Papalia e Feldman (2013). • Em termos de fonologia, elas percebem ritmos, gostam de poemas, inventam nomes bobos para as coisas, substituindo um som por outro (como bubblegum, bubblebum, bubbleyum), e gesticulam com cada sílaba em uma frase. • Conforme as crianças deixam esse estágio de falar duas palavras, fica evidente que elas sabem regras morfológicas. Então, começam a utilizar as formas de plural e possessivo dos substantivos, preposições, artigos e a colocar finais apropriados nos verbos. • Quanto à sintaxe, após passar do estágio das duas palavras, a criança mostra um domínio crescente de regras complexas sobre como as palavras devem ser ordenadas. Para perguntas feitas com “que” e “onde”, como “Onde o papai está indo?” ou “O que aquele 69 garoto está fazendo?”, a criança deve conhecer duas diferenças importantes entre frases interrogativas e afirmativas. • De acordo com a análise de elementos semânticos, o vocabulário verbal de uma criança de seis anos de idade varia de 8 mil a 14 mil palavras. Considerando que a aprendizagem das palavras começou quando ela tinha 12 meses, isso traduz uma proporção de 5 a 8 novos significados de palavras por dia, entre um e seis anos de idade. • Mudanças substanciais em pragmática também ocorrem durante a primeira infância. Uma criança de seis anos é muito mais falante do que uma de dois anos. Quais são algumas das mudanças na pragmática que acontecem nos anos pré-escolares? Por volta dos três anos de idade, as crianças melhoram sua habilidade em conversar sobre coisas que não estão fisicamente presentes. Isto é, elas melhoram seu domínio sobre a característica da linguagem conhecida como deslocamento. As crianças se tornam cada vez mais distantes do “aqui e agora” e são capazes de conversar sobre coisas que não estão fisicamente presentes, assim como coisas que aconteceram no passado ou podem acontecer no futuro. Pré- escolares podem dizer o que querem almoçar amanhã, algo que não seria possível no estágio das duas palavras na infância. Crianças pré-escolares também se tornam cada vez mais capazes de conversar de modos diferentes com pessoas diferentes. A partir das etapas intermediárias e finais da infância, as bases construídas das fases anteriores fornecem meios para que a criança seja capaz de adquirir e consolidar novas habilidades no momento da aprendizagem da leitura e da escrita. Conhecimentos acerca do alfabeto e os sons relacionados a esses sinais gráficos, 70 a ampliação vocabular e os modos estruturais de construções de sentenças tendem a se consolidar, e a compreensão de regras mais complexas vai sendo internalizada. Durante o ensino fundamental, as crianças já podem, segundo Papalia e Feldman (2013, p. 60), “[...] produzir discursos conectados, relacionando sentenças conectadas uma a outra e produzir descrições, definições e narrativas que se compõem e fazem sentido [...]”. Agora que você identificou as características das primeiras etapas de aquisição da linguagem, conhecerá algumas teorias a respeito desses processos envolvendo as abordagens propostas por B. F. Skinner e Noam Chomsky. 5.4 TEORIAS CLÁSSICAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: O DEBATE GENÉTICA E AMBIENTE Questões envolvendo os processos que levam à aquisição da linguagem foram objetos de estudo de pesquisadores de diferentes áreas em diferentes tempos. Uma das problematizações a serem investigadas diz respeito ao questionamento sobre a capacidade lingüística: se ela é aprendida ou inata. Na década de 1950, houve duas correntes teóricas representadas por B. F. Skinner e Noam Chomsky, apresentadas no Quadro 3, a seguir (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Quadro 3 - As duas correntes teóricas: de Skinner e de Chomsky 71 Fonte: Papalia e Feldman (2013, p. 198). A partir dessas concepções, no decorrer dos anos subsequentes, novos estudos acerca desses processos foram desenvolvendo-se. Atualmente, a maioria dos pesquisadores do desenvolvimento sustenta que a aquisição da linguagem, assim como outros elementos envolvendo a evolução humana, depende de um entrelaçamento entre a genética e o ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013). De acordo com as novas concepções, a criança com a audição funcionando de acordo com a normalidade, ou seja, ela não estando surda, comumente terá uma capacidade nata de aquisição da linguagem, que pode ser ativada ou restringida de acordo com as experiências que vivenciará. Assim, quanto mais estímulos na apresentação de diferentes modos de se comunicar na infância, mais condições a criança terá para novas etapas dessa aprendizagem (Lima, 2019). 72 5.5 PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM As línguas naturais têm um sistema linguístico represantado por sinais gráficos e sons que são requisitados nas construções de discursos por meio da fala e escrita. Gradativamente, os bebês vão sendo influenciados pelas suas interações com o ambiente que os cerca e que contribuem para o desenvolvimento de seu progresso linguístico (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Você já parou para observar o quanto as crianças, de uma maneira geral, aprendem em tão pouco tempo a se expressar por meio de diferentes linguagens? E o quanto conseguem relacionar o vocábulo e seu significado, compreender estruturas e empregar palavras nos momentos adequados? Mas o que determina o tempo e a capacidade que a criança tem de aprender, compreender e fazer uso da linguagem? O renomado pesquisador linguista, Chomsky (1957) considerava que os humanos estão predestinados a aprenderem da linguagem de certo tempo e modo. Outros pesquisadores da área identificam similaridades às formas como as crianças passam pelo processo de aquisição da linguagem, independentemente da parte do mundo que habitam, devido à sua base biológica (SANTROCK, 2009). Pesquisadores têm investigado as relações que esses processos têm com as influências neurológicas e ambientais. O desenvolvimento do cérebro, que ocorre em grande proporção nos primeiros períodos de vida, apresenta estreitas relações com o desenvolvimento da linguagem (Figura 7). Os primeiros meios de se expressar por meio do choro passam por ações controladas pelo tronco encefálico e pela ponte, que são as partes mais primitivas cerebrais a serem desenvolvidas. De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] é possível que o balbucio repetitivo surja com a maturação de partes do córtex motor, que controla os 73 movimentos da face e da laringe [...]”. O hemisfério cerebral, responsável pelas funções linguísticas, inicia seu desenvolvimento muito cedo (HOLOWKA; PETITTO, 2002). Figura 7 - Relações entre cérebro e desenvolvimento da linguagem. Fonte: magic pictures/Shutterstock.com Outroaspecto relevante de influência para o desenvolvimento da linguagem é chamado de interação social, pois a linguagem faz parte de um ato social de interação (Figura 8). Quando a criança se desenvolve sem um contato social dentro da normalidade, como é o caso dos autistas, a linguagem não se desenvolve normalmente. Como afirma Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] a ordem de nascimento da criança, a experiência em cuidar de criança e, mais tarde, a escolaridade, os colegas e a exposição à televisão, tudo isso afeta o ritmo da aquisição da linguagem [...]”. 74 Figura 8 - Fatores influenciadores da aquisição da linguagem. Fonte: HelenField/Shutterstock.com De acordo com Hoff (2006), a partir do momento em que o bebê inicia o processo de fala, pais e cuidadores podem estimular o desenvolvimento do vocabulário por meio da repetição de palavras pronunciadas pelo bebê, mas com precisão, ao passo que ele observa com atenção e se torna capaz de aprender de modo mais rápido novos vocábulos. 75 Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática internalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio. Elas são apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das habilidades relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e Lemos (2011, p. 733): A escola é um dos ambientes que proporcionam o processo do desenvolvimento infantil. Cabe às instituições criar condições que propiciem ao indivíduo uma aprendizagem contínua, em que os conhecimentos adquiridos nos os primeiros anos de vida possam ser explorados, confrontados e aprofundados na instituição escolar. As crianças estão sendo colocadas cada vez mais cedo e num período maior de tempo em instituições de educação infantil, portanto é importante que o ambiente escolar também seja avaliado, de forma que esse possa oferecer as melhores condições possíveis para o desenvolvimento infantil. Estes devem ser ambientes ricos em recursos em estimulação ao desenvolvimento de linguagem, principalmente na fase pré-escolar, fase na qual a criança começa a desenvolver conhecimentos e capacidade importantes para o bom desempenho não apenas escolar, mas também social e emocional. O atraso de linguagem causa prejuízos escolares significantes na vida das crianças. A detecção precoce desses atrasos, bem como o conhecimento dos seus fatores de risco e proteção, possibilita ações de promoção de saúde no campo da atenção primária em saúde com a melhor capacitação dos profissionais da área e organização de programas de intervenção na infância. Ao refletirmos sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento da linguagem, constatamos que há um entrelaçamento de aspectos intrínsecos e extrínsecos, tais como fatores biológicos, ambientais familiares e espaços sociais, como as instituições de educação infantis. Todos esses elementos que fazem parte do contexto onde a criança está inserida acarretam em consequências diretas ao seu desenvolvimento linguístico em todas as suas formas de expressão e regras. Desse modo, é de extrema relevância que todos os responsáveis por ofertar à criança experimentações favoráveis à aquisição desses saberes tenham dimensão do papel que desempenham em todo esse processo. 76 6 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 6.1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO Antes de dar início às discussões, você deve conhecer o signifi cado da palavra alfabetização. Segundo o dicionário Houaiss, alfabetização é a “[...] ato de propagar o ensino ou difusão das primeiras letras” (ALFABETIZAÇÃO, 2009). Nesse sentido, se pode dizer que a alfabetização seria a ação de ensinar/aprender a ler e escrever. Essa ação permitirá que o sujeito crie novos conhecimentos. Maciel e Lúcio (2009, p. 14) complementam dizendo: A escrita, comparável a um instrumento, é vista como capaz de permitir a entrada do aprendiz no mundo da informação, seja possibilitando o acesso aos conhecimentos histórica e socialmente produzidos, seja criando condições diferenciadas para produção de novos conhecimentos. Soares (2004, p. 16) conceitua alfabetização como o “[...] processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita”. Além disso, ela destaca a alfabetização como um “[...] conjunto de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita” (SOARES, 2004, p. 16). Em outra obra, Soares (2006) complementa dizendo que, para entrar e viver no mundo do conhecimento, o sujeito precisa desenvolver duas habilidades. A primeira se relaciona ao domínio da escrita, que contempla o sistema alfabético e ortográfico, desenvolvido pela alfabetização. Já a segunda tem a ver com o domínio das competências e com o uso da escrita em diferentes situações e contextos, o que é obtido por meio do letramento. Seguindo a mesma linha, Paulo Freire (1983) afirma que a alfabetização é um ato criador, no qual o sujeito é agente da aprendizagem na medida em que vai aprendendo e compreendendo a leitura e a escrita. Segundo o autor, esse processo não acontece de forma mecânica ou desvinculada de um universo existencial, ele requer uma atitude e uma postura de criação e recriação. Freire (1991) também 77 destaca que não basta apenas dominar a escrita, é preciso inserir o sujeito nesse mundo para que desenvolva uma leitura crítica das relações sociais. Se você analisar os dois conceitos, vai notar que ambos caminham para a mesma direção. Ambos entendem que alfabetizar não é apenas decodificar ou dominar a leitura e a escrita. É preciso ir além e se torna fundamental pensar na formação de sujeitos capazes de interpretar e transformar a leitura e a escrita utilizando-as em suas práticas cotidianas (Kucybala, 2018). Traçando uma breve trajetória da alfabetização, você pode perceber que até meados de 1980 ela era pensada a partir de métodos sintéticos e analíticos que resultavam em formas definidas de como o professor deveria ensinar. Nesses métodos, em especial no silábico ou no fônico, a criança repetia informações prontas, transmitidas por meio de cartilhas, nas quais aprendia a memorizar o nome e o traçado das letras, decorando seus sons. A correspondência som- -grafia e a memorização das famílias silábicas eram utilizadas nas atividades diárias do professor, de forma que a criança era exposta a textos prontos para fixar as letras e sílabas trabalhadas (Kucybala, 2018). O trabalho era mecânico e bastava a criança decorar o nome das letras, o som e a junção das sílabas para formar palavras. A alfabetização, nesse caso, resumia-se à cópia e à repetição, sendo vista sob a perspectiva do professor, responsável por ensinar (Kucybala, 2018). Na maioria dos casos, as crianças, por repetirem tantas vezes as informações obtidas nas cartilhas, as decoravam. Contudo, não compreendiam por que cada letra era utilizada. Além disso, eram privadas de avançar em sua aprendizagem. Isso porque os professores acreditavam que a criança só poderia seguir para a leitura se, primeiro, passasse por esse processo. O chamado “período preparatório” visava a atividades de motricidade e percepção (Kucybala, 2018). Os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) mudaram o foco, pensando em como a criança aprende, se desenvolve e se apropria da língua 78 escrita. A partir desses trabalhos, esses processos passaram a ser compreendidos como uma construção contínua, desenvolvida concomitantemente dentro e fora da sala de aula, em processo interativo e que acontece desde as primeiras relações da criança com a escrita. Aqui, a criança não é mais vista como mero receptor de conhecimento, mas como um sujeito que pensa a escrita desde muito cedo, buscando compreender como ela funciona. As cartilhas são substituídas por atividadese elementos que fornecem indícios para a elaboração de atividades desafiadoras, a fim de que as hipóteses construídas pelos alunos sejam colocadas em pauta (Kucybala, 2018). Para perceber o Sistema de Escrita Alfabética (SEA), é preciso que a criança compreenda a suas propriedades. Esse sistema envolve um conjunto de hipóteses e, sabendo disso, o aluno pode realizar a leitura ou a escrita de novas palavras apenas memorizando a relação entre letra e som de forma produtiva. O Sistema de Escrita Alfabética significa muito mais que a aquisição de um código, como propunham as teorias tradicionais. Ele é um sistema notacional de representação da escrita, em que as habilidades perceptivas e de motricidade não têm um peso fundamental. Nesse caso, atividades reflexivas e desafiadoras auxiliarão a criança a compreender os segmentos sonoros da fala e das palavras (Kucybala, 2018). É preciso tratar a escrita alfabética como um objeto de conhecimento. Assim, o professor auxiliará o aluno a descobrir, reconstruir e se apropriar do SEA. Morais (2005, p. 45) destaca que para alfabetizar letrando é preciso: [...] reconhecer que a escrita alfabética é em si um objeto de conhecimento: um sistema notacional. Na esteira desse posicionamento, além de buscarmos abandonar o emprego das palavras “código”, “codificar” e “decodificar”, parece-nos necessário criar um ensino sistemático que auxilie, dia após dia, nossos alunos a refletir conscientemente sobre as palavras, para que venham a compreender como esse objeto de conhecimento funciona e possam memorizar suas convenções. 79 Nesse sentido, quando a criança ingressa na escola, é fundamental que o professor crie uma rotina diversificada, com diferentes atividades de reflexão e exploração sobre os níveis das palavras, assim como com a compreensão do sistema de escrita como um todo. Seguindo essa linha, é importante também promover habilidades de consciência fonológica, que permitirão que o sujeito reflita sobre as dimensões sonoras das palavras (Kucybala, 2018). As habilidades de consciência fonológica surgem à medida que a criança consegue refletir sobre as palavras na dimensão da sonoridade, percebendo que elas podem ser trabalhadas de diferentes formas. Vale apostar em atividades que façam a criança identificar e compreender o que é uma palavra, quantas sílabas ela possui, quais os fonemas existentes e como são feitas as correspondências entre os fonemas e as letras (Kucybala, 2018). Por isso, você pode utilizar atividades que envolvam separação, contagem e comparação quanto ao tamanho ou semelhança sonora. Além disso, pode se valer de atividades que abrangem rimas, som inicial e som final, que contribuem para que o aluno perceba os sons da fala. Mas, sobretudo, o aluno deve ser incentivado a escrever e a elaborar hipóteses, mesmo que ainda não domine o sistema alfabético de escrita. A ideia é que a criança construa o conceito de língua escrita e caminhe por esse processo significativamente. Portanto, para que ela aprenda a ler e escrever, é necessário que seja exposta a situações que a desafiem a refletir sobre a língua, transformando as informações recebidas em saberes próprios (Kucybala, 2018). 6.2 CONCEITO DE LETRAMENTO O letramento ocorre muito antes do ingresso na escola. Ele é um processo sistemático que envolve, além dos professores, pais e demais pessoas que 80 convivem com a criança. Biazioli (2018) destaca que a criança, desde muito pequena, está inserida em um contexto letrado, rodeada de situações cotidianas que envolvem a leitura e a escrita. Entre essas situações, você pode considerar o uso de livros e revistas, as contações de histórias, as músicas e as cantigas de roda como exemplos práticos e concretos de como esse processo é rico quando apresentado desde os primeiros anos de vida. Quando o adulto apresenta o mundo da cultura à criança, ela se apropria, ou seja, ela internaliza, dando sentido àquilo que está vivenciando, conhecendo, experimentando. Depois desse primeiro contato com os pais e familiares, é importante que as práticas sociais de letramento sejam promovidas. Elas devem ter início desde a educação infantil, em que a criança tem o seu primeiro convívio coletivo. Posteriormente, devem ter continuidade no ensino fundamental, em que serão criadas situações práticas para que esse processo seja aprimorado e aprofundado (Kucybala, 2018). É nesse período que a escola e, mais especificamente, o professor assumem um papel fundamental na inserção no ambiente letrado. Afinal, é necessário que tanto a sala de aula quanto os demais espaços da escola sejam vistos pela criança como lugares agradáveis e com múltiplas possibilidades de atividades e aprendizagens. Em síntese, é preciso instigar a criança a interagir com as práticas de letramento, alimentando seu desejo de estar na escola. Visitas à biblioteca, por exemplo, podem proporcionar à criança o contato com diferentes tipos de materiais escritos e possibilitar ainda uma experiência fora da sala de aula (Kucybala, 2018). Quanto mais objetos, instrumentos, linguagens, gêneros e portadores de textos de conhecimento da criança forem utilizados, maior será o sentido, o desejo e o significado internalizado por ela. Pensar na função social da leitura e da escrita é pensar no que os textos representam no dia a dia desses sujeitos dentro e fora da sala de aula. Ou seja, à medida que as crianças compreendem o uso e a função da 81 escrita, elas têm as suas intenções de aprendizagem contempladas (Kucybala, 2018). Nessa perspectiva, você deve considerar que utiliza a leitura no seu dia a dia para os mais variados propósitos, como localizar endereços, fazer uma receita, ler uma bula de remédio, mandar uma mensagem para algum amigo ou familiar, entre tantas outras. Essas leituras diversas envolvem o confronto de opiniões e interpretações e a exploração mais aprofundada do conteúdo abordado. O que você deve é incorporar tais conhecimentos na rotina da sala de aula para que os alunos se tornem verdadeiros leitores e escritores (Kucybala, 2018). O ponto de partida para o processo de efetivo aprendizado é a convivência, o contato e a experimentação com o mundo da cultura escrita. Os conhecimentos sobre a linguagem adquiridos nas mais variadas situações que a criança traz quando chega à escola evidenciam que ela está inserida em um contexto comunicativo de produção e compreensão das funções da língua escrita. Assim, a ideia é criar nas novas gerações a necessidade de utilizar a escrita socialmente, coletivamente, de acordo com a função para a qual foi criada (Kucybala, 2018). Além disso, é possível ampliar a comunicação e a troca de vivências entre os alunos, de forma que eles interajam, auxiliem-se e aproximem-se das atividades propostas pelo letramento. Esse é o sentido, a significação e a reconstrução proposta por diferentes perspectivas de apropriação do sistema de leitura e escrita (Kucybala, 2018). Essa apropriação da escrita possibilita um avanço no desenvolvimento cultural da criança, pois abre possibilidades para um conhecimento mais refinado do mundo e, consequentemente, para o raciocínio e o pensamento mais complexos. Por conta disso, é importante favorecer o contato dos alunos com diferentes tipos de textos para que façam uso dessa tecnologia da escrita nas diferentes situações vivenciadas (Kucybala, 2018). 82 Nesse sentido, você precisa ter em mente que a criança, como membro da sociedade, precisa do convívio com a leitura e a escrita para conhecer o mundo que a rodeia. Dessa forma, ela se interessa e busca respostas para suas indagações, tornando o processo de aprendizagem mais significativo. É fundamental que a criança possa falar, escutar, escrever e se envolver em situações reais de mediação e interação na sociedade, de forma que a sala de aula também se torneum espaço de participação, partilha, cooperação recíproca e trocas de opiniões, informações e experiências. Segundo Franchi (2012), essa interação social proporciona vastas experiências entre as crianças, além de favorecer que o professor observe as dificuldades e peculiaridades existentes durante a realização das atividades, na medida em que faz os devidos encaminhamentos nos momentos apropriados (Kucybala, 2018). Esse processo ainda deve levar em consideração que os modelos escritos sejam contextualizados com uma significação. Ou seja, é fundamental que a criança faça relações entre a palavra trabalhada e o objeto que ela representa. Para isso, o professor deve traçar diferentes estratégias que coloquem o sujeito em contato com distintas situações e informações do cotidiano, levando-o a compreender aquilo que está escrevendo ou lendo (Kucybala, 2018). Tais atividades, atreladas a debates e discussões, contribuem para que a criança contextualize as palavras, fazendo relações entre som, grafia e interpretando o sentido a que está sendo exposta. Além disso, essas atividades se tornam significativas quando envolvem os sujeitos na construção do conhecimento e na resolução de problemas e desafios (Kucybala, 2018). Outra questão pertinente que favorece a compreensão e a apropriação do sistema de escrita é o uso de atividades orais e espontâneas. O professor deve trabalhar tanto a letra, a sílaba e a junção delas na formação de palavras quanto a contextualização desse conhecimento para que a criança reflita sobre o processo. A promoção dessas situações dialogadas dá oportunidade para que os alunos 83 construam novas significações voltadas à proposta de alfabetização e letramento (Kucybala, 2018). 6.3 REFLEXÃO ACERCA DO ALFABETIZAR LETRANDO Alfabetização e letramento são processos paralelos, são duas ações distintas, mas que caminham juntas e são inseparáveis para a garantia da aprendizagem da leitura e da escrita. Ou seja, o professor vai ensinar o Sistema de Escrita Alfabética permitindo que a criança vivencie práticas de leitura e escrita, agregando esses conhecimentos a situações reais e atividades cotidianas. Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita — a alfabetização — e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita — o letramento (SOARES, 2004, p. 14). No entanto, há algumas questões importantes que o educador deve levar em consideração antes de tentar contemplar esses dois conceitos em seu planejamento: é possível que todas as crianças aprendam ao mesmo tempo? Como ensinar os alunos? Qual é o papel e qual é a importância do professor alfabetizador? Você pode começar refletindo sobre o papel do educador. É importante que ele realize um trabalho voltado à inserção do aluno em um ambiente alfabetizador e letrado. Nesse ambiente, a criança deve ter a oportunidade de conhecer, vivenciar, refletir e experimentar novas práticas de leitura e escrita. Além disso, o professor deve criar um espaço acolhedor que contemple as diferenças, especificidades e características dos alunos (Kucybala, 2018). Todo esse trabalho parte de um planejamento voltado ao que o professor quer e ao que precisa ensinar aos alunos ao longo de todo o ano letivo. Para fazer esse planejamento, o professor deve levar em consideração os usos sociais da 84 língua escrita, tanto no âmbito escolar como nas demais esferas, promovendo uma postura investigativa em que a autonomia, o respeito e o diálogo sejam as peças- chave para o aprendizado (Kucybala, 2018). Nesse sentido, a escola e o professor devem fazer a mediação entre as práticas de alfabetização (importantes para o desenvolvimento das competências dos alunos) e os objetivos sociais e práticas relevantes presentes nas situações do cotidiano (Kucybala, 2018). É fundamental que, na fase de alfabetização, a criança possa vivenciar a leitura, assim como a produção, a compreensão e a reflexão de textos orais e escritos, a fim de se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética. A ideia é que as diferentes ideias e posicionamentos dos alunos possam fazer parte do trabalho como um todo (Kucybala, 2018). Partindo desse pressuposto, o trabalho com diferentes portadores de texto e gêneros textuais serve como ponto de partida para enriquecer a aula. Afinal, tais portadores e gêneros se aproximam da realidade em que a criança está inserida, valorizam as suas experiências, instigam a imaginação, possibilitam um aprendizado mais significativo e propiciam vivências práticas que vão além dos conteúdos escolares (Kucybala, 2018). A seguir, você pode ver alguns dos muitos portadores de texto e gêneros textuais existentes. Eles podem ser trabalhados em sala de aula na perspectiva da alfabetização e do letramento. Além disso, se aproximam das práticas sociais vivenciadas pelos alunos (Kucybala, 2018). Receitas Manuais, regras de jogos, listas e instruções Bilhetes Cartas Convites 85 Histórias em quadrinhos, tirinhas Parlendas, cantigas de roda, trava-línguas, lendas Músicas Piadas Poesias, contos, fábulas Rótulos e embalagens Símbolos, placas Cardápios Jornais, revistas, sites, noticiários, cartazes informativos A partir do planejamento da prática, o professor poderá, por meio das atividades diárias realizadas em sala de aula, observar e buscar respostas aos questionamentos anteriores: é possível que todas as crianças aprendam ao mesmo tempo? Como ensinar os alunos? Você pode considerar que em todas as turmas, independentemente da localidade, existe uma grande diversificação e heterogeneidade em relação ao conhecimento de cada criança. Algumas possuem conhecimento além do que se espera ou do que é trabalhado durante o ano. Outras parecem não acompanhar o mesmo ritmo do restante da turma. E essa complexidade das interações em sala de aula é que torna o trabalho do professor tão desafiador (Kucybala, 2018). As crianças iniciam o ano com diferentes conhecimentos, aprendizagens, capacidades e habilidades, tanto em relação ao sistema de escrita alfabética como em relação a outros conteúdos abordados dentro e fora da sala de aula. Algumas crianças envolvem-se mais cedo e são cercadas por práticas de letramento; outras, porém, estão envolvidas em um contexto com poucos estímulos e necessitam de um contato maior com o material escrito. O que o professor precisa ter em mente é que os alunos são capazes de aprender, independentemente do ambiente em que estão inseridos. Assim, mesmo que as crianças iniciem o ano com conhecimentos 86 abaixo do que é esperado para os objetivos de trabalho, o professor pode contemplar as hipóteses e saberes que já possuem (Kucybala, 2018). Na perspectiva do trabalho conjunto entre alfabetização e letramento, o professor precisa, em primeiro lugar, traçar um perfil da turma, percebendo os diferentes níveis em que as crianças se encontram. Depois, deve pensar em atividades diversificadas que trabalhem com o sistema notacional e as situações de reflexão, questionamento e criação de hipóteses. A partir desse envolvimento e desse conhecimento que as crianças possuem acerca da escrita, é possível planejar atividades que de fato contribuam para que o aluno avance em seus conhecimentos sobre o sistema de escrita alfabética, criando diferentes oportunidades de aprendizagem e de integração com o processo de escolarização (Kucybala, 2018). Cabe ao professor compreender o processo, buscar soluções por meio de estudo, reflexão e troca com seus pares.Assim, ele deve trabalhar com esses diferentes saberes, conhecendo as práticas culturais e sociais vivenciadas pela comunidade e pelos alunos. Ele precisa ainda favorecer o contato com a escrita nas mais variadas circunstâncias, para que a criança vá se familiarizado com as situações de aprendizagem e avance de nível (Kucybala, 2018). Por fim, é urgente que escolas e educadores pensem em práticas de alfabetização e letramento partindo de um planejamento que contemple atividades capazes de auxiliar os alunos a avançarem em sua aprendizagem. Tais atividades devem ser do interesse da criança e estar de acordo com a realidade em que ela está inserida. Somente por meio dessas experiências será possível refletir sobre a prática da leitura e da escrita em diferentes circunstâncias. Portanto, o desenvolvimento das capacidades dos alunos em relação à língua escrita não é um processo que se encerra assim que eles se apropriam do sistema de escrita; pelo contrário, ele se estende por toda a vida. O que os sujeitos fazem é apenas aprimorar e criar possibilidades na construção de novos conhecimentos e habilidades (Kucybala, 2018). 87 7 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO 7.1 OS PRINCIPAIS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO Para conhecer os principais métodos de alfabetização, você precisa conhecer paralelamente o período histórico em que os métodos foram aplicados. Por esse motivo, é importante compreender as transformações educacionais, econômicas e sociais implicadas nesses processos para, posteriormente, discutir acerca das metodologias didáticas e especificidades de cada método (Kucybala, 2018). No entanto, antes de você se aprofundar no assunto, é importante notar que há muitos anos o cenário pedagógico e as preocupações com o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita fazem parte das discussões de educadores, que relacionam esse processo à utilização de métodos e à busca pelo melhor ou o mais eficaz deles (Kucybala, 2018). Mas, afinal, você sabe o que são métodos? Recorrendo ao dicionário Houaiss, entre tantos significados apresentados, se destaca este: métodos são um “conjunto de regras e princípios normativos que regulam o ensino, a prática de uma arte etc”. Ou ainda: “processo organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução, investigação, apresentação etc” (MÉTODO, 2009). Diante desses apontamentos, se você pensar nos métodos na perspectiva da alfabetização, pode considerar que eles se baseiam em indicar metodologias específicas que devem ser seguidas pela criança para aprender a codificar e decodificar a leitura e a escrita (Kucybala, 2018). A partir dessas discussões, você pode conhecer, então, os métodos que foram utilizados ao longo dos anos para alfabetizar as crianças. Araújo (1996) destaca que os métodos sintéticos e analíticos, criados entre os séculos XVI e XVIII e se estendendo até meados de 1960, surgiram para se opor aos métodos de 88 soletração, predominantes na Antiguidade e na Idade Média. Esses métodos de soletração eram considerados difíceis e contribuíam para os grandes índices de fracasso escolar na fase de alfabetização (Kucybala, 2018). Os métodos sintéticos, segundo Frade (2005), são procedimentos que partem das unidades menores para as unidades maiores. Ou seja, inicia-se pelo ensino das letras, da memorização, da decoração e do domínio do alfabeto para, posteriormente, passar às sílabas, às palavras, às frases e aos textos (Kucybala, 2019). Esse método em específico impossibilita que a criança avance para uma nova fase de conhecimento se não tiver, primeiro, dominado e passado por todas as etapas anteriores. Isto é, está em jogo um processo no qual a criança aprende das partes para o todo. É, portanto, um método que foca seu ensino na decifração e na leitura mecânica, dando ênfase à correspondência entre o som e a grafia e utilizando como estratégia principal a percepção auditiva, por meio de exercícios de leitura em voz alta e ditados feitos pelos professores (Kucybala, 2018). Por ser um método de decoração e memorização, ele traz suas regras já estabelecidas, o que torna o ensino cansativo, desmotivador e com pouco significado para a criança. Afinal, as palavras utilizadas nas cartilhas já eram determinadas, apresentando pouca relevância na percepção da leitura e da escrita. O aluno, nessa concepção de alfabetização, recebe o conhecimento pronto. Porém, na maioria das vezes não compreende e possui dificuldades para produzir textos devido ao restrito vocabulário a que foi exposto. Em contrapartida, acredita- se que o método sintético seja positivo, devido à grande exposição da criança às repetições e regras impostas, pois ela alcança a ortografia perfeita mais rapidamente, visto que já conhece e domina as palavras que necessita escrever em suas atividades (Kucybala, 2018). Já os métodos analíticos, diferentes dos sintéticos, “[...] partem do todo para as partes e procuram romper radicalmente com o princípio da decifração” (FRADE, 89 2007, p. 26). Esses métodos ensinam a criança partindo das unidades maiores para as unidades menores, ou seja, a leitura é vista como um ato global. Assim, os métodos analíticos visam a propor atividades que “[...] vão do texto à frase, da frase à palavra, da palavra à sílaba” (FRADE, 2007, p. 26). Do ponto de vista da alfabetização, o método analítico favorece que a criança se aproxime um pouco mais de sua realidade. Afinal, em vez de reconhecer primeiro as letras e as sílabas fora de contexto, o aluno tem a oportunidade de aprender a partir das palavras emitidas de forma inteira e não apenas das partes ou pedaços delas. Nessa perspectiva, os textos podiam ter sentido um pouco maior, pois a leitura não era realizada por meio da silabação. Em contrapartida, há as duas faces da moeda, visto que, por ser um método que parte da leitura de palavra por palavra, pode também trabalhar a partir de elementos isolados e com poucos significados, impossibilitando que a criança veja o texto na sua totalidade (Kucybala, 2018). Além disso, diferente do método sintético, no analítico os professores não exigiam que os alunos fizessem a correspondência sonora entre a fala e o texto escrito. Na maioria das atividades, eram propostos exercícios orais em que as crianças deveriam reconhecer a palavra sem pronunciá-la oralmente e eram instigadas a realizar cópias e leituras silenciosas, o que também as desestimulava e tornava o trabalho cansativo e pouco produtivo (Kucybala, 2018). De acordo com Mortatti ([2006]), iniciaram-se, por volta da década de 1920, os embates contrários aos métodos analíticos. Buscava-se um ensino que contemplasse o aprendizado da leitura e da escrita ao mesmo tempo. Surge então o método misto, que varia entre o analítico e o sintético e destaca-se tanto pelo ensino do todo quanto pelo ensino das partes, de forma conjunta. Nesse método, o professor escolhe se as atividades partirão das palavras, das frases ou dos textos. Mortatti ([2006]) ainda destaca que o método misto se tornou especialmente relevante a partir de 1934, quando foram criadas as bases psicológicas de 90 alfabetização contidas no livro Testes ABC, escrito por M. B. Lourenço Filho. Esse autor verificava a maturidade necessária para a criança aprender o processo de leitura e escrita e classificava os alunos, organizando-os em classes homogêneas, com vistas à eficácia da alfabetização. A partir dessa proposta, o ensino volta a ser visto como tradicional. O trabalho do professor, por sua vez, se baseava na produção de manuais prontos e cartilhas, que visavam a interligar a habilidade da leitura com a habilidade da caligrafia e da ortografia (Kucybala, 2018). Nessa fase, instaurou-se também o período preparatório, no qual a criança era envolvida em atividades de prontidão, de discriminação auditiva e visual, além de realizar atividadesque testavam a coordenação motora por meio de exercícios com identificação e traçado das letras. Tal proposta tinha como objetivo medir as habilidades e conhecimentos das crianças relativos à leitura e à escrita. Além disso, as separava conforme a sua maturidade (Kucybala, 2018). Em todos os métodos apresentados, tanto nos sintéticos quanto nos analíticos e mistos, predominava a utilização das cartilhas, cuja proposta principal era apresentar às crianças letras, sílabas soltas, palavras, frases e textos com pouca relevância e significado no contexto em que os alfabetizandos estavam inseridos. Da mesma forma, o objetivo das cartilhas visava a abordar apenas a codificação (escrita) e a decodificação (decifração) e pouco agregava conhecimentos aos envolvidos (Kucybala, 2018). A aprendizagem do código alfabético acontecia por meio da transmissão do ensino, cuja proposta era iniciar a alfabetização partindo das unidades mais fáceis para, em seguida, apresentar as mais difíceis. Nessas concepções de métodos, acreditava-se que o aluno chegava à escola com pouco ou quase nada de conhecimento a respeito da língua. Portanto, a escola teria o papel de iniciar o processo da leitura e da escrita por meio do ensino de letras, sílabas e palavras, 91 passando para os alunos, que eram meros receptores, as informações prontas e fora do contexto (Kucybala, 2018). A partir desse período, Mortatti ([2006]) destaca que houve uma descrença muito grande nos métodos para se alfabetizar. Isso ocorreu, pois os altos índices de fracasso escolar e reprovação, assim como a aprendizagem superficial a que as crianças eram submetidas, tornaram-se pontos de discussão entre os educadores que buscavam respostas e caminhos para alfabetizar de forma mais efetiva. O processo de ensino e aprendizagem passou a ser debatido e pensado sob um novo enfoque. Iniciaram-se as discussões acerca do construtivismo como forma de desmetodizar a alfabetização. Esse campo foi muito estudado por Jean Piaget, que é apontado como um dos precursores da teoria construtivista. A aprendizagem, nessa concepção, é vista como um processo contínuo de desenvolvimento, em que o conhecimento é construído pelo próprio sujeito na sua interação com o mundo, na medida em que é envolvido em situações de aprendizagens relevantes e significativas (Kucybala, 2018). Em meados de 1980, seguindo a linha construtivista, surgem os estudos e pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) acerca da psicogênese da língua escrita. Esses estudos reforçam que a escrita alfabética não é um código que se aprende a partir de métodos e atividades de memorização. Pelo contrário: a criança elabora e formula diferentes hipóteses sobre a escrita, sendo este um processo gradativo que acontece em momentos diferenciados do seu desenvolvimento. Além disso, outra questão levantada é que os processos de aprendizagem acontecem antes mesmo do ingresso da criança na escola. Isso se dá por meio da sua inserção em ambientes letrados e da sua participação em vivências e práticas sociais de leitura e escrita, de forma que o aluno interage com diferentes tipos de textos nas mais variadas atividades desenvolvidas (Kucybala, 2018). 92 Diante dessas questões, é fundamental que você reflita que não existem métodos perfeitos, tampouco teorias milagrosas que farão a criança aprender de forma plena. Cada indivíduo concebe o conhecimento ao seu tempo e da sua maneira. O importante é que sejam desenvolvidas metodologias de ensino que auxiliem a criança a refletir sobre a escrita alfabética, tornando-a pensante, crítica, reflexiva e questionadora (Kucybala, 2018). Frade (2005, p. 15) destaca que “Muitas vezes, à própria menção da palavra método, temos um comportamento intolerante, porque pensamos que essa palavra se refere a apenas um caminho para alfabetizar ou a uma fórmula inflexível”. Para que não haja retrocessos, é preciso combater aquele ensino a partir de métodos rígidos em que os professores ficam presos à mesma forma de ensinar e às mesmas práticas pedagógicas. Nesse sentido, Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985, p. 29) destaca: “O método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar [...] A obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito”. Assim, é importante que a escola pense em intervenções que ajudem a criança a aprender de forma conjunta, tornando-a um sujeito capaz de formular hipóteses, discutir e ser “intelectualmente ativo”. É necessário, portanto, relacionar o momento atual da educação às discussões de problemática social que permeiam o cenário educacional. Isso principalmente no que diz respeito ao fato de que não existe uma ideia definitiva ou limitada acerca das metodologias, apenas a busca por caminhos que levem a criança a se alfabetizar a partir de conteúdos mais complexos e significativos. 93 7.2 AS ESPECIFICIDADES DO MÉTODO SINTÉTICO DE ALFABETIZAÇÃO Albuquerque (2012) destaca que o método sintético de ensino surgiu por volta do século XVII. Nesse período, a leitura e a escrita passaram a ter maior importância frente às mudanças históricas que a sociedade vivia. Como a grande maioria da população não dominava o código escrito, iniciaram-se as discussões acerca de um método que contemplasse a decodificação como forma de expandir a escolarização ao restante da população, focando, assim, na prática escolar da leitura. Surge aí o método sintético, que se baseia no ensino da leitura e da decifração de forma mecânica. O objetivo principal desse processo é que a criança faça a correspondência entre o oral e o escrito por meio do aprendizado de unidades menores para unidades maiores (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985). O aluno, nesse contexto, aprende primeiro as letras, partindo para as sílabas e as letras dentro de cada sílaba, para depois, finalmente, chegar à leitura da palavra. Até que todo esse processo aconteça, a criança é submetida a uma gama de atividades de memorização e decoração de letras e traçados, como forma de garantir um aprendizado mais efetivo (Kucybala, 2018). As cartilhas ou livros utilizados durante esse período eram um dos principais recursos que o professor tinha à sua disposição, sendo também o primeiro contato da criança com algum material impresso. Para compreender melhor o método sintético, você deve conhecer as três fases distintas que são caracterizadas a partir dos métodos alfabético, fônico e silábico (Kucybala, 2018). 6.2.1 MÉTODO ALFABÉTICO No método alfabético, também chamado de método de soletração e método ABC, a unidade partia do ensino, da decoração e da memorização oral das letras do alfabeto. Primeiro, as letras eram apresentadas na ordem alfabética, depois no 94 sentido inverso e, posteriormente, havia o reconhecimento das letras isoladas (Kucybala, 2018). A etapa seguinte era apresentar a forma gráfica das letras. Conforme ia aumentando o conhecimento da criança, as sequências iam atingindo graus maiores de dificuldade. Partia-se então para o estudo e a formação das sílabas que eram soletradas e decoradas pelos alunos para fazer as combinações silábicas. Nessa etapa, a criança apenas memorizava e não estabelecia a relação entre a escrita e a fala (Kucybala, 2018). Segundo Frade (2007), as famílias silábicas eram apresentadas para as crianças de forma que elas pudessem fazer todas as combinações possíveis. Havia também a estratégia de que as letras e sílabas fossem cantadas e memorizadas. Assim, o processo se tornava lento e pouco representativo para a criança. Carvalho (2005, p. 22) ainda complementa que o método alfabético “[...] baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da memorização como estímulo didático — o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor e com elas se formampalavras isoladas”. Nesse sentido, você pode considerar que as palavras eram apresentadas e trabalhadas fora do contexto, sem haver relação entre elas. De acordo com os estudos de Frade (2007), até os dias de hoje, regiões como o Nordeste, por exemplo, utilizam esse método para alfabetizar. Seja na alfabetização doméstica, realizada pelos familiares, seja na educação levada a cabo por professores leigos e com pouca formação, ainda há o emprego e os estudos repetitivos que partem das cartas de ABC e que possuem como fundamento o ensino partindo das letras. 95 6.2.2 MÉTODO FÔNICO No método fônico, a unidade de ensino parte dos sons e tem como principal objetivo estabelecer a relação entre a letra e o som que ela representa. A união da consoante com a vogal auxilia a criança a trabalhar a pronúncia das sílabas que estão sendo formadas, relacionando a palavra falada à escrita (Kucybala, 2018). Num primeiro momento, por possuírem nomes e sons iguais, eram trabalhadas as vogais, depois palavras formadas apenas por elas. No segundo momento, eram apresentadas as consoantes e as formas mais complexas dos seus sons dentro da palavra. Para Frade (2007, p. 23), o objetivo do método fônico é fazer a relação de que: “Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som), que, junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras”. A partir da formação das palavras, surgem as frases e os textos. Esse método é muito utilizado nos dias de hoje e possui suas vantagens e desvantagens. Entre as vantagens está o fato de que, se o aluno compreender a relação entre as letras e os fonemas, haverá uma correspondência direta que será decifrada mais rapidamente, sem oferecer maiores dificuldades. Isso se dá principalmente quando é preciso escrever palavras com P, B, T, D e V, por exemplo, nas quais os fonemas representam a escrita das letras. Em contrapartida, algumas consoantes, para terem seus sons identificados, precisam do apoio de uma vogal, mesmo que ela fique oculta na hora da pronúncia. Um exemplo é o fonema /m/, que necessita de um mê para ser referenciado (Kucybala, 2018). Entre as desvantagens está o fato de que as letras podem apresentar diferentes sons e fonemas conforme a posição que ocupam na palavra. Assim, esse processo de transição até que a criança chegue ao nível ortográfico se torna mais lento. Outra questão são as variações quanto à pronúncia das palavras, que trazem confusões na hora da escrita, pois uma mesma palavra é falada de uma forma e escrita de outra. Como você sabe, o sotaque e as variações da língua conforme cada região do país influenciam essas inconstâncias (Kucybala, 2018). 96 O método fônico, nesse sentido, tem o objetivo de fazer com que a criança demonstre compreensão dos padrões regulares de correspondência entre o som e a soletração, entre os fonemas e os grafemas. A ideia é que, a partir desse domínio, possa identificar os sons e realizar a leitura de palavras (Kucybala, 2018). 6.2.3 MÉTODO SILÁBICO O método silábico ou de silabação, segundo Frade (2005), tinha como ponto de partida a união entre a consoante e a vogal para formar as sílabas. No entanto, como em métodos anteriores, as unidades eram apresentadas à criança das mais fáceis para as mais difíceis. Iniciava-se pelo ensino das vogais e encontros vocálicos, e os professores faziam as relações entre a letra e as palavras começadas com ela a partir de ilustrações. Por exemplo, “A de árvore”, “E de escada” (Kucybala, 2018). Posteriormente, eram sistematizadas as sílabas simples, também utilizando o mesmo enfoque, porém agora no destaque das sílabas iniciais dentro da palavra, como “PA de panela”, “MA de maçã”. A partir dessa introdução, eram trabalhadas as famílias silábicas da sílaba que estava em destaque na palavra, ou seja, se a sílaba que estava sendo aprendida era PA de panela, partia-se para o estudo da família pa/pe/pi/po/pu e para a formação de novas palavras (Kucybala, 2018). Nesse sentido, quando a criança era instigada a escrever alguma palavra, ela precisava primeiro se remeter à família silábica que a representava. Por exemplo, ao escrever a palavra “banana”, ela deveria pensar na família do B (ba/be/bi/bo/bu) e na família do N (na/ne/ni/no/nu) (Kucybala, 2018). O ensino das famílias silábicas compostas por essas letras era apresentado à criança de forma que a sílaba era indicada e estudada sistematicamente. A partir do estudo das famílias, partia-se para a formação de palavras, frases e textos que continham as sílabas já trabalhadas anteriormente (Kucybala, 2018). 97 Hoje, o método silábico é utilizado, por exemplo, nos silabários simples, que servem para a fixação das famílias silábicas pelas crianças (Figura 9). Figura 9 - Silabário simples. Fonte: Plano... (2016). Os apoiadores do método silábico acreditavam que o processo acontecia de forma mais concreta e rápida, pois se estabelecia a relação entre os segmentos da fala e da escrita. As cartilhas com o método silábico tinham como conteúdo palavras que partiam da sílaba trabalhada. Dentro dessa letra, eram apresentadas então várias palavras, frases e textos em que a sílaba ensinada ganhava destaque. Essas palavras, na maioria das vezes, não tinham sentido dentro do texto, pois a preocupação maior era que as famílias silábicas pudessem ser trabalhadas e 98 evidenciadas pelas crianças. Os textos e histórias eram artificiais, sem relação com os usos sociais, e tinham o propósito de trabalhar e treinar o ensino das sílabas de forma mecanizada (Kucybala, 2018). Nesse sentido, os métodos sintéticos, sejam eles alfabéticos, fônicos ou silábicos, têm como proposta a progressão das unidades menores para as mais complexas. Além disso, privilegiam a aprendizagem das partes para o todo por meio da decodificação, da análise fonológica e da relação entre letras e sons. Você pode perceber, no entanto, que os métodos da marcha sintética são inflexíveis e tendem a desconsiderar os usos e funções sociais da escrita, dando pouca importância ao sentido que os textos têm no contexto da criança (Kucybala, 2018). 7.3 AS ESPECIFICIDADES DO MÉTODO ANALÍTICO DE ALFABETIZAÇÃO No combate aos métodos sintéticos de alfabetização, surgem os métodos analíticos. Sua finalidade é romper com o princípio da decifração e ensinar a criança a perceber do todo para as partes, ou seja, a analisar de forma global a palavra, a frase ou o texto para, posteriormente, considerar e decompor as unidades menores (Kucybala, 2018). A principal estratégia perceptiva dos métodos analíticos, segundo Frade (2007), é a visual. A ideia é que o aluno compreenda o sentido de um texto, utilize a pontuação e a ortografia e tenha como ponto de partida um contexto mais próximo da sua realidade. Quando considerada essa totalidade, o processo de alfabetização deixa de ser abstrato e se tornar mais significativo (Kucybala, 2018). Assim, o professor deve apresentar às crianças as palavras, frases ou textos explorando-as o maior tempo possível, para só depois analisar e decompor as partes. Para entender melhor o método analítico, veja a seguir as três fases 99 distintas desse método: palavração, sentenciação e global de contos (Kucybala, 2018). 6.3.1 MÉTODO DA PALAVRAÇÃO É um método que se inicia a partir da apresentação da palavra, normalmente ilustrada e vinculada ao universo da criança. O objetivo disso é estabelecer relações entre a grafia e a representação da imagem. Quando o método era aplicado, as palavras eram lidas e escritas diversas vezes até serem memorizadas. Somente a partir dessa escrita é que elas eram divididas silabicamente, estudadas e relacionadas a palavras novas que contivessem as sílabas vistas anteriormente (Kucybala, 2018). Com base nas palavras e no estudo das sílabas, partia-se para a relação entre grafema e fonema,em que a criança percebia os sons que representavam cada unidade. A etapa seguinte era a formação das frases com essas palavras e de textos com as frases trabalhadas (Kucybala, 2018). A diferença entre o método da palavração e o método silábico de marcha sintética, segundo Frade (2005), é que as palavras não têm a obrigatoriedade de ser decompostas no início do processo. Pelo contrário, elas primeiro precisam ser compreendidas e reconhecidas para depois serem esmiuçadas. Além disso, na palavração não existia a lógica de que deveria iniciar-se a alfabetização pelas palavras mais fáceis. O que se levava em consideração era se as palavras apresentavam sentido e significado para os alunos. Para exemplificar o método da palavração, considere a palavra “boca”. Num primeiro momento, a palavra será analisada em sílabas (bo-ca). A partir dessa análise, é desenvolvido o trabalho com as famílias silábicas pertencentes à palavra (ba/be/bi/bo/bu), chegando-se enfim à aprendizagem das letras (b-o-c-a). Frade (2005) aponta, entre as desvantagens da palavração, as dificuldades enfrentadas 100 pelos alunos para escrever palavras novas, visto que não era incentivada a análise e o reconhecimento das partes. 6.3.2 MÉTODO DA SENTENCIAÇÃO Frade (2007) aponta que, no método de sentenciação, a aprendizagem toma como partida a utilização da sentença ou da frase que, depois de contextualizada, é dividida e decomposta em palavras. Posteriormente, são abordados os elementos mais simples e as unidades menores, as sílabas. As frases, assim como no método da palavração, são formadas e levam em consideração o contexto do aluno. Depois de as frases serem apresentadas, ocorre a leitura e a escrita delas, o que envolve um processo de memorização. Dentro de cada sentença, observa-se as semelhanças entre as palavras, comparando-as entre si, tendo como objetivo a formação de grupos com novas palavras. Somente depois desse processo é que são introduzidas as sílabas e as relações entre fonemas/grafemas (Kucybala, 2018). 6.3.3 MÉTODO GLOBAL DE CONTOS O método global de contos, textos ou historietas, segundo Frade (2007), toma como ponto de partida o reconhecimento global do texto, que, assim como nos métodos anteriores, precisa ser memorizado durante um período de forma que seja lido, escrito e compreendido. Para isso, eram apresentados aos alunos cartazes ou pré-livros com partes de um texto ou textos completos que fossem significativos para eles. Após essa apresentação e um convívio maior do aluno com o texto, este era desmembrado em frases ou sentenças, partindo-se para o reconhecimento das 101 palavras e, finalmente, das sílabas e letras. Todo esse processo acontecia de forma mais lenta, pois, caso esse método fosse apresentado apressadamente, as unidades menores poderiam não ter sentido para a criança. Nesse método, por haver a necessidade de trabalhar iniciando-se pelos textos, as cartilhas foram deixadas em segundo plano. Os textos deveriam ser escolhidos a partir de temas relevantes para o universo infantil, considerando, nesse sentido, o “todo” como algo concreto e palpável de ser apreendido. Iniciou-se então a produção de livros e cartazes que serviriam como material de apoio para o trabalho do professor (Kucybala, 2018). Há quem diga que o método global proporciona à criança maior reconhecimento e uma aprendizagem mais significativa, visto que o ensino da leitura acontece antes mesmo de a criança conhecer as partes menores ou o nome das letras. Em contrapartida, há também quem defenda que nesse método a criança não aprende realmente a ler; ela apenas decora os textos trabalhados em sala de aula, descobrindo o que está escrito (Kucybala, 2018). No que diz respeito à tentativa de a criança decodificar e realizar a leitura, acreditava-se que era um processo que acontecia com mais rapidez por partir de palavras conhecidas e que tinham como foco a memorização global. No entanto, alguns questionamentos surgiam, principalmente quando se pensava na aprendizagem efetiva dos alunos, pois o professor deveria saber identificar se o processo de leitura está realmente acontecendo, ou se aula está apenas servindo como um momento para decorar textos e histórias ou recitar palavras (Kucybala, 2018). Pensando, então, nos métodos de marcha analítica estudados até aqui, é importante você notar que todos têm como enfoque a compreensão do sentido da aprendizagem a partir do reconhecimento do todo. Assim, têm como vantagem a possibilidade de a criança realizar, desde seu primeiro contato com o processo de 102 escolarização, a leitura de palavras, frases ou textos que tenham significado para ela (Kucybala, 2018). Como você pode imaginar, se não for conduzido e orientado corretamente pelo professor, esse processo pode tornar-se um ponto de dificuldade para o aluno, correndo-se o risco de perder o sentido diante da apresentação de novas palavras (Kucybala, 2018). 8 LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA 8.1 AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA LINGUAGEM A linguagem consiste no uso da língua para a comunicação e a interação social. Da mesma maneira que a linguagem pode ser oral ou escrita, a leitura ultrapassa o universo da escrita. É possível fazer a leitura tanto de um artigo de opinião quanto de um debate político. Ou seja, ler não significa, restritamente, decodificar uma sequência de palavras escritas (Spessato, 2019). 8.1.1 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO A linguagem é a responsável por estabelecer toda atividade comunicativa. Ou seja, ela representa a manifestação da língua, que é composta por um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade linguística. De maneira genérica, pode-se afirmar que a língua não passa de um contrato estabelecido entre os seus usuários. Caso esse contrato seja de conhecimento pleno dos usuários, a comunicação está garantida (Spessato, 2019). Cada indivíduo utiliza a língua de sua comunidade de maneira individual e personalizada, desenvolvendo assim a fala. Ou seja, as manifestações de qualquer 103 falante em relação ao uso da língua são representadas pela fala. No entanto, deve- se ter cuidado para que não ocorra a confusão da fala com o ato de falar, pois tanto o ato de falar como o de escrever são manifestados pela fala individual de cada indivíduo, que está contida no conjunto mais amplo conhecido como língua. Por exemplo, os falantes da língua portuguesa podem falar ao telefone ou escrever um texto em alguma rede social. Em ambas as circunstâncias, estarão usando a sua fala individual para manifestar a língua portuguesa em diferentes meios sociais (Spessato, 2019). O caráter social de uma língua e a sua representatividade para o processo de comunicação são inegáveis em qualquer estudo linguístico. Sabendo que a linguagem representa o uso da língua em uma esfera social, Preti (1974) afirma que, para que a vida em sociedade exista, é fundamental que as manifestações linguísticas sejam compreendidas. Sons, gestos e imagens compõem diferentes tipos de mensagens que podem se manifestar por diversos canais, como a televisão, o cinema ou um livro. Ou seja, estudar as manifestações linguísticas significa compreender que a língua é o suporte para toda e qualquer dinâmica social. No entanto, segundo Preti (1974), o seu uso não compreende apenas relações corriqueiras orais, mas também expressões mais específicas, como uma notícia escrita em um jornal (Spessato, 2019). Dessa maneira, a fala e a escrita são duas manifestações da linguagem estabelecidas por um objetivo específico dentro de um contexto linguístico. Para Calsamaglia e Tuson (2008), o discurso representa, principalmente, uma prática social interativa que pode se manifestar em contextos tanto orais quanto escritos. Inclusive, a forma como se compreende a linguagem implica uma análisetextual. Segundo Barbisan (1995), o texto é uma unidade funcional, a qual desempenha um papel dentro de um contexto. Com uma visão bastante similar, Adam (2008) afirma que o texto não representa uma sequência de palavras, e sim de atos. Essas manifestações da língua em uso, em seus contextos e necessidades específicas, 104 são conhecidas como gêneros textuais. Ou seja, as diferentes finalidades que expressam o uso linguístico são estabelecidas por circunstâncias contextuais que caracterizam e determinam o gênero textual (Spessato, 2019). 8.1.2 FALA E ESCRITA: CONJUNTO DE PARTES UNIDAS ENTRE SI Todo e qualquer texto representa um ato de comunicação dentro de um processo interacional, que pode ser tanto escrito quanto falado (KOCH; ELIAS, 2017). Os principais aspectos paradoxais entre essas duas esferas (a oralidade e a escrita) é que os contextos de produção e de recepção, de maneira geral, não coincidem no tempo e no espaço No texto escrito, a produção da mensagem é estabelecida de acordo com a intencionalidade do emissor em relação ao seu receptor. Além disso, não há necessariamente a participação direta daquele que recebe a mensagem. Nesse quesito, para Koch e Elias (2017), o diálogo se baseia e se constitui numa relação em que o emissor (nesse caso, escritor) dialoga com a perspectiva de que o receptor (nesse caso, leitor) possa compreender a sua intencionalidade. Em contraponto, o texto falado ocorre no momento da interação comunicativa, ou seja, a situação é imediata e simultânea para aqueles que participam dela. O tom de voz, por exemplo, é uma das características capazes de manifestar mais do que as palavras individualmente, pois o contexto interacional carrega identidade, e as manifestações linguísticas dos atos de fala perpassam o nível sintático de análise. De acordo com Infante (1998), a língua falada se vincula às situações comunicativas em que ela é usada diretamente entre os interlocutores. Embora haja questionamentos em relação às mídias sociais, como o WhatsApp, você não deve se esquecer de que o produtor do texto escrito (mesmo que esteja on-line) tem mais tempo para o planejamento e para a execução da sua 105 fala. Afinal, meios de comunicação como o WhatsApp frequentemente apresentam duas manifestações linguísticas: o uso da escrita e da fala, com a possibilidade de enviar áudios. Nesse caso, a conversa, por mais que pareça simultânea e imediata, não acontece na mesma esfera de uma conversa presencial (Spessato, 2019). Em relação ao uso e às manifestações da fala nas diferentes esferas comunicativas, orais e escritas, o vocabulário utilizado é preponderante para analisá-las. Na oralidade, o vocabulário é bastante alusivo, pois o uso de pronomes como “eu”, “tu”, “você”, “nosso”, “isto” ou “aquilo” ou de advérbios como “aqui”, “lá”, “hoje” ou “agora” possibilita que o processo comunicativo ocorra de maneira fluida e eficaz. Afinal, existe a possiblidade de indicar tudo o que está envolvido na mensagem sem uma nomeação específica e sem comprometer o entendimento dos interlocutores. Na escrita, é necessário que a linguagem seja menos alusiva. Para que a comunicação se estabeleça com êxito, devem-se utilizar formas de referência mais precisas e específicas, como citar datas, descrever lugares e objetos. Logo, é possível perceber que, enquanto a fala se adapta ao contexto interacional, a escrita procura ser suficiente em si mesma (Spessato, 2019). As manifestações orais e escritas são, portanto, duas modalidades da língua. Dessa forma, de acordo com Koch e Elias (2017), a oralidade difere- -se da escrita principalmente devido aos seguintes aspectos: (a) pelo próprio fato de ser falada; e (b) devido às contingências de sua formulação. Ou seja, os dois códigos, oral e escrito, têm suas manifestações e suas regras próprias de organização e funcionamento (Spessato, 2019). A linguagem oral (fala) se manifesta por meio de emissões dos sons da língua, os fonemas. Em contraponto, a linguagem escrita utiliza as letras, que nem sempre mantêm uma correspondência exata com os fonemas. Enquanto o código oral conta com o tom de voz, com os gestos e com o olhar, o escritor precisa se expressar por meio da pontuação e de marcas de formação do texto. Além disso, as estruturas sintáticas das manifestações escritas necessitam de certa linearidade. 106 Já as estruturas das manifestações orais conseguem fazer inúmeros hiperlinks, ou seja, está em jogo uma leitura sem linearidade, não comprometendo o entendimento entre os interlocutores. Contudo, embora exista uma descontinuidade na oralidade, a sintaxe geral da língua está presente na sua constituição (Spessato, 2019). Ainda que exista uma dicotomia entre textos orais e escritos, perceba que nem todas as características são essencialmente de uma ou de outra categoria. No entanto, as manifestações escritas podem ser pensadas, repensadas ou até mesmo ignoradas por uma questão de planejamento; já as manifestações orais, não. Isso ocorre porque, de acordo com Koch e Elias (2017), é como se a fala oral estivesse no mesmo patamar do rascunho de uma manifestação escrita. O texto falado, embora em muitos casos seja previamente planejado e estruturado, se apresenta em sua própria criação, visto que o contexto nunca é o mesmo. No Quadro 4, a seguir, veja as características da linguagem falada e da linguagem escrita. Embora essas características não sejam exclusivas de uma ou de outra instância, oral ou escrita, o quadro apresenta uma organização mais geral e superficial em relação às manifestações linguísticas da língua em uso. Quadro 1. Linguagem falada e linguagem escrita 107 Fonte: Adaptado de Koch e Elias (2017) 8.1.3 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS Todo texto se manifesta com uma forma e com uma fi nalidade. A forma do texto é representada pelo conceito de tipologia ou tipo textual. Segundo Marcuschi (2005, p. 154), “Tipo textual designa uma espécie de construção teórica defi nida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo) [...]” Em relação à manifestação dos tipos, é importante salientar que eles não são textos, mas são as formas que os textos assumem em diferentes contextos. Os principais tipos textuais são os seguintes: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Além de se manifestar em determinada forma, o texto também assume a sua finalidade, ou seja, o seu uso. Quando você analisa as manifestações contextuais dos textos, você trabalha com o conceito de gênero textual (Spessato, 2019). 108 Os gêneros textuais são os textos que você encontra no cotidiano e que apresentam padrões característicos, definidos pela funcionalidade, pelo estilo e pelo objetivo em diferentes esferas comunicativas. Dessa forma, na visão de Marcuschi (2005), o gênero textual materializa e adapta os textos em diferentes situações comunicativas. Você pode considerar como exemplos de gêneros: telefonema, crônica, diálogo, aula de português, reportagem, bilhete, e-mail, notícia, carta pessoal, carta comercial, resenha, romance, poema, etc. Segundo Koch e Elias (2017), para viver em sociedade, todo indivíduo constrói, ao longo de sua existência, uma competência metagenérica, que diz respeito à utilização dos textos na sua esfera de uso. É por esse motivo que as pessoas se adequam a diferentes situações comunicativas. Sabendo que a comunicação é heterogênea e que os gêneros textuais são organizados de acordo com a finalidade da comunicação, pode-se incluir nesse grupo desde um diálogo cotidiano até uma tese de doutorado. Ou seja, os gêneros se transformam com o contexto. Alguns podem desaparecer e outros, surgir, como o da conversa no WhatsApp. 8.2 O TEXTO LITERÁRIO E AS SUAS MANIFESTAÇÕES LINGUÍSTICAS A literatura infanto-juvenil,por ser uma porta de entrada para o universo da leitura, carrega consigo marcas da oralidade. Isso é importante para promover a proximidade entre os interlocutores (emissor e receptor). Todavia, para compreender como o universo linguístico interage no campo da literatura, você deve: saber identificar o que é um texto literário e o que o diferencia de um não literário; e encontrar as marcas da oralidade nos textos literários infanto-juvenis (Spessato, 2019). 109 8.2.1 O QUE É UM TEXTO LITERÁRIO? Como você já sabe, um conjunto de palavras ou frases não constitui necessariamente um texto. Falar de texto implica falar de comunicação, ou seja, de uso da linguagem. Ademais, na visão de Antunes (2010), o texto se caracteriza como uma atividade funcional, visto que é utilizado sempre com a finalidade de manter o processo comunicativo. Você também já viu que o texto pode ser oral ou escrito. Quando estão em jogo os textos escritos, inicialmente, é possível subdividi-los em dois grupos: textos literários e textos não literários (ou utilitários). Os textos utilitários procuram informar, ordenar, argumentar, explicar, etc. Normalmente, a sua linguagem é clara e objetiva. Em contraponto, os textos literários, de acordo com Fiorin (2000), caracterizam-se por uma unidade de significado composta por uma linguagem plurissignificativa determinada pela sua função estética. Em convergência, Gonzaga (2007) afirma que o texto literário não é apenas uma criação ficcional, mas também é um trabalho de criação de linguagem, cumprindo assim a sua função estética. Além disso, para Fiorin (2000), enquanto o texto não literário aspira à denotação, o texto literário, ao cumprir a sua função estética, busca a conotação. Na visão de Fleck (2008), a literatura é arte; e arte, por sua vez, é recriação, expressão da realidade. Por meio da leitura, o homem consegue redimensionar a interpretação do mundo em que está inserido. Ou seja, mergulhar em textos literários e entrar no universo da literatura faz com que a visão de mundo do sujeito se amplie, conjugando novos significados. Com a literatura e a estética, é possível desenvolver a criatividade e a sensibilidade. No entanto, saber ler não significa apenas decodificar os signos linguísticos. Segundo Orlandi (1988), a leitura de um texto representa o momento em que os interlocutores se identificam como tal, desencadeando o processo de significação do texto. É com a leitura e pela leitura que os indivíduos se tornam capazes de analisar e refletir sobre os contextos vivenciados. Contudo, o hábito da leitura não 110 é tão fácil de ser adquirido. De acordo com Fleck (2008, p. 15), esse processo se inicia ainda na infância, quando a criança tem acesso ao “[...] mundo mágico, fantástico e aberto da literatura infantil, cujo acesso garante um aprimoramento do processo de aprendizagem da linguagem como meio de construção e representação da realidade [...]”. Com a introdução das crianças e dos adolescentes no universo literário, inicia-se o processo de leitura crítica. Bamberger (1991) afirma que os pais e os professores são peças fundamentais para a introdução da leitura na vida das crianças. No entanto, há situações em que os professores adquirem papel de destaque. Por esse motivo, é importante que eles conheçam o universo da literatura infanto-juvenil. Assim, podem incentivar as crianças e os adolescentes a desenvolverem o hábito da leitura de maneira não traumática. Inclusive, para Zilbermann (1998), realizar atividades com a literatura infantil resulta imediatamente em um exercício de interpretação e compreensão, pois não enaltece somente a captação de um sentido, mas as relações que existem entre a significação e a situação atual e histórica do leitor, mesmo que ele seja uma criança. Os textos literários são representados, principalmente, por novelas, histórias em quadrinhos, romances, crônicas, contos, fábulas, poemas, etc. Na literatura infanto-juvenil, há alguns autores bastante significativos, como: Beatriz Potter, Lewis Carroll, Hans Christian Andersen, J. K. Rowling, L. Frank Baum, C. S. Lewis, Paula Pimenta, Thalita Rebouças, Monteiro Lobato, Ziraldo, Maurício de Sousa e Tatiana Belink. Cabe ao professor conhecer o universo literário das crianças e dos adolescentes para que possa apresentá-lo aos seus alunos e fazê- los desenvolver o hábito da leitura de maneira saudável e natural, sem uma imposição (Spessato, 2019). 111 8.3 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA Como você já viu, há contrastes entre a língua falada e a língua escrita. Embora conhecer tal antítese seja importante para compreender as diferentes manifestações textuais, você deve notar que, na literatura, não há uma visão dicotômica entre a oralidade e a escrita. Há manifestações da língua dentro da literatura que carregam consigo características individuais cheias de estética e de significados vinculados à língua falada (Spessato, 2019). A literatura infanto-juvenil é, geralmente, o primeiro contato da criança ou do adolescente com o universo dos livros. Um dos objetivos de todos os professores, não somente dos das séries iniciais, consiste em apresentar aos seus alunos o universo mágico da literatura, fazendo com que eles o apreciem e desenvolvam o hábito da leitura. Para que isso aconteça, desde os primeiros contatos do aluno com a escola, os professores devem apresentar livros pertinentes à sua faixa etária. Normalmente, os livros que mais agradam os jovens leitores são os que se aproximam do seu universo linguístico. Ou seja, é importante que você saiba identificar livros que agradem os alunos não apenas pelo seu conteúdo, mas também pela sua forma e pela sua manifestação linguística (Spessato, 2019). Quanto mais próximo da linguagem do aluno, mais o texto terá afinidade com ele. As marcas da oralidade, por exemplo, fazem com que o abstrato da arte se torne concreto. Segundo Koch e Elias (2017), há diferentes marcas de oralidade na escrita, como a questão da referência, as repetições, o uso de organizadores textuais continuadores típicos da fala (“e”, “aí”, “então”, etc.) e o discurso direto. Quando a criança consegue materializar a leitura não apenas com imagens, mas também com a identificação da sua linguagem e do seu vocabulário, o resultado interacional com o texto alcança mais êxito. Como você sabe, Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, é um dos mais renomados autores nacionais. Ele foi responsável por introduzir muitas 112 crianças no universo da literatura. Seu vocabulário simples, coloquial e objetivo é familiar ao seu leitor, como é possível perceber na Figura 10. Figura 10 - Tirinha da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. Fonte: Sousa (2015, documento on-line). A obra de Mauricio de Sousa também apresenta as diferentes manifestações da linguagem, como você pode ver na Figura 11. Figura 11 - Tirinha de Chico Bento, de Mauricio de Sousa. Fonte: Sousa (2017, documento on-line). Thalita Rebouças, autora de diversos livros do universo pré-adolescente e adolescente, assim como Mauricio de Sousa, procura utilizar a linguagem do universo dos seus leitores. As marcas de oralidade se fazem presentes não somente nos discursos diretos, mas também no uso das gírias e dos organizadores textuais continuadores típicos da fala, como se percebe no trecho a seguir, retirado do livro Fala sério, professor! (REBOUÇAS, 2006). Nesse trecho, Malu (a mesma protagonista do livro Fala sério, mãe!) conta como se relacionou com os professores 113 — desde o professor da academia até os do colégio — que mais marcaram a sua vida. — Quanto farelo, gente! Quem foi que comeu biscoito sem pratinho embaixo? Cadê o aspiradorzinho que a minha mãe deu pra gente? As duas começaram a rir. Permaneci séria, eu estava muito brava, muito brava. — Malu! Desestressa!— disse Helô. — Comemos sem pratinho, sim, depois a gente limpa — completou Bené. — Depois quando? — Depois... — Que biscoito foi? De polvilho? — eu quis saber. — Arrã — fizeram as duas, sapecas. — Tem ainda? — rendi-me à gula e à bagunça. Comi o último do pacote e acabei rindo com elas. Eu até gosto de bagunça. Sempre gostei. Mas o apê estava tão bagunçado que tinha ultrapassado até o meu nível permitido de bagunça. — Pô, gente, assim não dá! A gente precisa tomar vergonha na cara! Nossa casa está uma zona! — Ih, Malu, você está parecendo o Francisco, aquele professor de português da quinta série que tinha mania de arrumação, lembra? — perguntou Bené. — Ô, se lembro... (REBOUÇAS, 2006, p. 9). A marca da coloquialidade e da oralidade nos textos literários infanto- - juvenis, por aproximar os interlocutores, é bastante presente tanto nas obras literárias para crianças, como as de Mauricio de Sousa, quanto nas obras para 114 adolescentes, como as da Thalita Rebouças. Assim, com o estímulo da leitura durante a infância e a adolescência, é possível que novas portas se abram para uma literatura mais crítica e complexa (Spessato, 2019). 8.4 A LINGUAGEM E OS SEUS DIFERENTES CONTEXTOS O contexto é o conjunto de circunstâncias a que um texto se refere. Textos literários apresentam uma linguagem própria e flexível, pois têm como objetivo causar algum tipo de emoção no leitor. O uso de uma linguagem específica é fundamental para que o objetivo seja alcançado. Portanto, é necessário que você, como professor, compreenda o universo linguístico presente na literatura infanto- juvenil juntamente com as características específicas da linguagem utilizada em diferentes obras (Spessato, 2019). 8.4.1 TIPOS DE LINGUAGEM A linguagem é o uso da língua, e a língua não é um código imutável. Não há sociedade sem um processo de comunicação, e as línguas não existem sem as pessoas que as falam. Se a sociedade muda, a língua também muda, pois, como afirma Calvet (2002, p. 5), “[...] a história de uma língua é a história de seus falantes [...]”. Ou seja, as variantes contextuais não decorrem diretamente do usuário da língua, mas de diferentes situações e contextos comunicativos que o cercam em um ato de fala. Assim como a sociedade não é uniforme, a língua tampouco o será. Ela varia e as suas variações estão diretamente relacionadas a diferentes contextos linguísticos do falante. Ou seja, assim como o indivíduo tem consciência de que existe uma adequação social em relação às roupas que usa — por exemplo, 115 ninguém vai a uma entrevista de emprego com uma roupa de praia, assim como as pessoas não vão a uma festa de gala com um biquíni —, espera-se que o falante tenha uma consciência linguística. Essa consciência significa que o mesmo falante pode utilizar o nível de fala coloquial ou culto, visto que esse nível dependerá da necessidade e do contexto situacional (Spessato, 2019). Há uma norma padrão (ou culta), considerada de prestígio, e há também as variantes dessa norma. A língua pode variar em relação ao tempo (variante diacrônica ou histórica), em relação ao espaço (variante diatópica, regional ou geográfica), em relação a aspectos socioculturais (variante diastrática, social ou sociocultural), em relação ao meio de uso (variante diamésica) e em relação a contextos situacionais (variante diafásica, situacional ou estilística) (Spessato, 2019). Os estudos sobre variação linguística em diferentes contextos sociais, segundo Mollica e Braga (2013), indicam que os falantes têm um repertório linguístico que pode variar em diferentes situações de comunicação. Ou seja, o uso consciente da língua se reflete não apenas na oralidade, mas também na escrita. Os níveis de linguagem são, principalmente, os seguintes: nível formal ou culto, nível informal ou coloquial, nível popular e nível estilístico. O nível coloquial é utilizado, normalmente, em situações de informalidade, familiaridade e entre iguais. O culto insere-se em contextos de formalidade, como em uma palestra ou em uma entrevista de emprego. O popular representa, de modo geral, as variantes desprestigiadas, consideradas erradas e desvalorizadas em relação à norma culta. No entanto, o nível estilístico, também conhecido como literário, é usado em situações específicas, em que há predominância de liberdade poética e em que o erro não é considerado, mas apagado por uma necessidade estética. Ou seja, as formas desprestigiadas podem ser manifestações artísticas. A linguagem no nível estilístico, que caracteriza o texto literário, além de possibilitar únicas e diferentes estruturas na fonética, na morfologia e na sintaxe, apresenta, 116 para Fiorin (2000), os seguintes traços: relevância do plano da expressão, intangibilidade da organização linguística, criação de conotações, desautomatização e plurissignificação. Ou seja, ela dá identidade e significado aos textos literários. A linguagem estilística, com suas características próprias, personaliza os textos literários. Com ela, é possível descrever desde narrativas em situações extremamente cultas até outras que se caracterizem pelo uso da linguagem popular. Tudo depende da intencionalidade do autor com o seu texto. Ou seja, há uma tendência de aproximação entre o emissor e o receptor que ele quer atingir (Spessato, 2019). 8.4.2 A INTERLOCUÇÃO E O CONTEXTO Qualquer texto, seja oral ou escrito, é produzido por um autor que tem em mente um receptor. O termo “interlocutor” designa cada um dos participantes do diálogo. Em um texto escrito, o autor deve saber qual é o perfil de seu interlocutor para que o processo de comunicação ocorra com êxito e para que haja uma relação entre o escritor e o seu leitor. A fim de que a interação comunicativa ocorra, o destinatário deve ter em mente o seu receptor. Segundo Aburre e Aburre (2007), existem dois principais interlocutores: o universal e o específico. Na literatura infanto-juvenil, obviamente, estão mobilizadas necessidades e interesses do público infantil e juvenil. Uma maneira de o autor se aproximar do seu público, portanto, é explorar o uso de uma linguagem coloquial e mais específica. Essa linguagem não necessariamente faz parte do cotidiano do emissor, e o seu emprego é caracterizado como linguagem literária, ou seja, trata-se de um tipo de variante da norma culta, a variante diafásica, estilística ou situacional. O seu uso valoriza a proximidade entre os interlocutores, fazendo com que o contexto de 117 leitura integre o universo do receptor. Dessa forma, a referência é direta aos interlocutores específicos (Spessato, 2019). Quando se fala em interlocutores universais, normalmente estão em jogo interlocutores de textos informativos, não literários e compostos por uma linguagem objetiva e denotativa. No entanto, quando há interlocutores específicos, o texto tenta se aproximar ao máximo do seu destinatário, com marcas de subjetividade e de oralidade, por exemplo (Spessato, 2019). Além de se dirigir a interlocutores com perfis definidos, os textos se referem a circunstâncias de natureza cultural, social e linguística. Tais circunstâncias precisam ser compartilhadas por quem produz e quem recebe o texto. Ou seja, está em jogo o contexto, que representa a totalidade das informações contidas no texto. A identificação do contexto depende inteiramente do conhecimento de mundo dos leitores (Spessato, 2019). Portanto, estabelecer o perfil do leitor juntamente com a linguagem adequada para abordá-lo é o primeiro e, talvez, o principal passo que o autor pode dar para que o processo comunicativo ocorra de maneira eficaz. Além disso, quando o estilo de linguagem é pensado e analisado para determinado perfil, a leitura torna- se mais fluida e a possibilidade de ela se transformar em um hábito aumenta (Spessato, 2019). 9 ALFABETIZAÇÃOBASEADAEM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS De acordo com o relatório Brasil (2007), no cenário internacional há significativos avanços nos conhecimentos científicos sobre alfabetização, muitos destes publicados no ano de 2000 no National Reading Panel Report. Destacam-se os trabalhos da Drª Rhona Jonhston; Os relatórios que vem sendo produzidos na Inglaterra; Os desenvolvimentos do Programa LAMP da UNESCO; Os avanços das 118 políticas associadas como Reading First Act nos Estados Unidos e todas impulsionadas pelas pesquisas publicadas nos últimos anos especialmente as editadas pelo NICHD – National Institute of Children Health and Human Development dentre outros trabalhos e livros publicados. Diante das evidências científicas acumuladas e revisadas, especialmente por Adams (1990) e no NRP (2000), faz-se necessário que se compreenda o que é o processo de alfabetização e se estabeleça as devidas distinções entre o ato de aprender a ler do ato de ler para aprender. Tais esclarecimentos fazem a diferença para que se possa intervir de forma objetiva no desenvolvimento em leitura e escrita da criança, garantindo maiores chances de sucesso no futuro no campo educacional. A alfabetização é imprescindível para o processo inicial de escolarização. Para uma boa alfabetização é relevante a compreensão de que “ler consiste na capacidade de extrair a pronúncia e o sentido de uma palavra a partir de sinais gráficos. Escrever consiste na capacidade de codificar graficamente os sons correspondentes a uma palavra [...]” (BRASIL, 2007, p. 25). Esses conceitos e diferenças são importantes, uma vez que confusões conceituais do aprender a ler com o ler, ocorrem pela falta de clareza do que venha a ser alfabetização, ou seja, à criança aprender como funciona o sistema de escrita desde os princípios básicos até a ortografia. No entanto, na alfabetização a criança aprende muito mais do que o sistema de codificação de uma língua, refere-se ao processo de aprender a ler, e não ler para aprender cujo objetivo diz respeito aos outros anos de ensino posteriores à alfabetização. Cabe salientar que aprender a ler é o primeiro estágio no processo de ler para aprender, processo considerado longo que requer o reconhecimento de palavras e a compreensão do significado de textos. “Aprender a ler refere-se a capacidade de identificar palavras numa sentença ou texto. Para que haja 119 compreensão, a identificação de palavras deve ocorrer de forma imediata, isto, é, com velocidade e precisão” (BRASIL, 2007, p. 27). Aprender a ler consiste em adquirir competências para decodificar, sendo que a decodificação é o processo de converter letras em sons estabelecendo a correspondência grafema-fonema. Aprender a ler ajuda o leitor a ler e, ler por sua vez, é fundamental para compreender. Em geral, quando a criança começa a aprender a ler apresenta capacidade oral, porém pouca capacidade para reconhecer palavras. Em suma, pode-se afirmar que o aprender a ler é um processo no qual é necessário adquirir algumas habilidades que vão desde o reconhecimento de palavras escritas, como a decodificação e aglutinamento fonológico. Conforme a competência de leitura avança, por meio da prática, a decodificação fica mais eficiente o que torna mais fácil o reconhecimento imediato da ortografia das palavras. A essência de aprender a ler está em aprender a fazer a decodificação fonológica a qual constitui o cerne do conceito de alfabetização. Sendo assim, visualizando a importância do aprender a ler na alfabetização, bem como tendo claro que não se trata de algo natural, mas algo que pode ser desenvolvido se observados e trabalhados alguns requisitos que garantam tal aprendizado é que a alfabetização requer ser tratada no Brasil com outros olhos, focando para além do que se vivencia, isto é, buscando fundamentar-se nas evidências existentes, levando em consideração os avanços da Ciência Cognitiva da Leitura. Tratando-se por tanto de um fato científico, aprender a ler requer uma compreensão do princípio alfabético, o aprendizado das correspondências entre grafemas e fonemas, a segmentação das sequências ortográficas e fonológicas de palavras e, ainda, o uso de regras de correspondência grafema-fonema para decodificar informações. 120 Hoje, particularmente no Brasil, é comum um manejo didático do ensino de leitura que além de não proporcionar a compreensão do princípio alfabético negligencia ou desdenha o ensino explícito e sistemático das correspondências usuais e permitidas entre grafema e fonema. Nesses casos os alunos, inevitavelmente, terão que intuir, por conta própria, o princípio alfabético adivinhar as correspondências permitidas entre grafema e fonema (OLIVEIRA & SILVA, 2008, p. 3). Assim sendo, as evidências confirmam que a leitura está diretamente ligada a palavras e letras e que crianças com dificuldades de identificar palavras apresentam também dificuldades de compreensão, ou seja, tendo a criança dificuldade de identificar palavras terá de forma automática dificuldades de leitura. É nesse prisma que destacamos a importância de uma atenção especial ao observarmos que os dados refletem a imensa dificuldade de nossos alunos não só em ler, mas principalmente em compreender o que lêem. Dessa forma faz se necessário focarmos nossa atenção para práticas de ensino direcionadas ao aprendizado da leitura e de sua essência que é aprender a fazer a decodificação fonológica. 10 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO A alfabetização requer competências que incluem o conhecimento do princípio alfabético, ou seja, a capacidade de estabelecer relação grafema e fonema, a decodificação, o reconhecimento automático de palavras e a fluência. Porém, para que ocorra o domínio do princípio alfabético é preciso que a criança conheça as letras, seu nome e traçado, e tenha consciência fonêmica, a identificação dos fonemas da língua. No entanto, é preciso que lhe seja assegurado o desenvolvimento dessas competências, principalmente o domínio do princípio alfabético e a consciência 121 fonêmica, para que seja assegurado seu aprendizado. O valor dado a essas duas competências é um fato científico importante produzido pela Ciência Cognitiva da Leitura. Segundo o relatório BRASIL (2007), após análise dos fatores que influenciam a leitura por autores do National Reading Panel (2000), é que foram estabelecidas competências e habilidades fundamentais para o processo de alfabetização, que dizem respeito à consciência fonológica que é a habilidade de perceber os sons da fala como entidades independentes de seu significado; familiaridade com textos impressos; metalinguagem que é o uso da própria língua para descrevê-la ou explicá-la; consciência fonêmica, ou seja, o entendimento de cada palavra falada pode ser concebido como uma sequência de fonemas; conhecimento do princípio alfabético; decodificação; fluência; vocabulário e estratégias de compreensão de textos. Reconhecendo a importância de tais competências e habilidades na garantia do sucesso da alfabetização, convém salientar que no Brasil tais competências não são incorporadas às práticas de alfabetização, assim como frequentemente se confunde alfabetização com a compreensão por meio do alfabetizar letrando, que sustenta a alfabetização e letramento, entendendo este como meio mais eficiente de se alfabetizar. Sendo que, as descobertas da neurociência e os avanços da psicologia cognitiva nos conduzem a uma superação ideológica para nos firmarmos em evidências científicas. Evidências essas que atestam para a superioridade dos métodos fônicos com relação aos outros métodos, principalmente os métodos fônicos sintéticos que por meio de materiais adequados, possibilitam o ensino sistemático e explicito das relações grafemas e fonemas (OLIVEIRA, 2006, p. 10). Ao abordarmos questõesreferentes às habilidades e competências observaremos que as idéias referentes à alfabetização no Brasil estão distorcidas e que é concebida como natural a utilização do termo soletrar e escrever como 122 sinônimos. Cada qual tem suas especificidades e definições. Soletrar é uma habilidade essencial para as crianças aprenderem a escrever bem. Escrever, é mais difícil do que ler, refere-se à capacidade de codificar sons usando os sinais gráficos correspondentes os grafemas. “Num processo de alfabetização, primeiro é preciso aprender a grafar as palavras adequadamente, aplicando critérios de transcrição fonológica segundo padrões ortográficos, para em outro momento compor textos”(BRASIL, 2007, p. 49). Para que o desenvolvimento da escrita ocorra com êxito, o relatório BRASIL (2007, p. 49) reforça que é necessário que primeiro ocorra o envolvimento das crianças com a escrita, por meio de estímulos e de condições no ambiente como o manuseio de livros e materiais impressos, além do acesso a artefatos que as possibilitem rabiscar, desenhar, realizar tentativas de escrita, e tais estímulos e condições devem ser propiciados a criança bem antes da fase de alfabetização, durante a educação infantil. O ensino dos códigos e regras de conversão fonema-grafema exerce um papel fundamental na aprendizagem da escrita por permitir que as crianças utilizem estas regras, quando necessárias, de forma intencional, e por acelerar a aprendizagem implícita, entendendo por aprendizagem implícita a responsável pela leitura automática, enquanto que aprendizagem explícita se refere à possibilidade da criança tomar decisões quanto ao que está lendo ou escrevendo. 11 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR A sociedade atual proporciona a todos um universo de situações cotidianas que se encontram impregnadas pela escrita. Portanto, essas situações exigem as habilidades de ler e escrever. Você pode considerar que aqueles que conseguiram desenvolver essas competências no início de sua escolarização somente irão 123 beneficiar-se, uma vez que sua vida social será constantemente permeada por experiências que as exigem. A importância de ser alfabetizado fica evidente quando você percebe que o sistema de ensino tem investido em programas de formação continuada voltados aos professores que se dedicam à alfabetização. Dessa forma, cabe a você, como futuro docente, conhecer as características necessárias nessa formação para que possa desenvolver o processo de alfabetização de forma eficaz com seus alunos. A habilidade do professor alfabetizador de trabalhar com seus alunos na educação infantil e nos anos iniciais será decisiva e determinante para as futuras conquistas intelectuais destes durante toda a sua vida escolar, em todas as etapas do ensino de que venham a participar. Além disso, precisa compreender como a escola contribui com essa formação e, ainda, como a pesquisa se articula com a prática pedagógica do docente. 11.1 O PROFESSOR ALFABETIZADOR E A SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA A formação de um professor alfabetizador é um processo que se inicia quando começa sua busca por educação formal para atuar como docente. Isso pode acontecer já no ensino médio, com a frequência a um curso de magistério, por exemplo, ou ao buscar uma licenciatura em pedagogia no ensino superior. Ainda durante essa formação inicial, ocorre a inserção desse profissional no universo escolar. Nesse ambiente, por meio dos estágios, ele vai procurar observar, planejar e desenvolver a sua regência. Além disso, a partir das reflexões acerca das teorias que estudou, o futuro professor vai aprimorar os saberes que o acompanharão durante a carreira. Logo, você deve compreender que o professor, de modo geral, se encontra em constante processo de aprendizagem e de renovação de seus 124 saberes e de sua prática, recebendo novas influências de sua práxis, refletindo sobre ela e a transformando. Veja o que Tardif (2014, p. 11) afirma sobre o assunto: [...] o saber é sempre o saber de alguém que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer. Além disso, o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com outros atores escolares na escola, etc. Você pode acompanhar o raciocínio do autor e realizar uma analogia com os saberes que poderiam fazer parte da formação do professor alfabetizador. Considere, nesse sentido, que a forma como o professor compreende a importância da alfabetização de seus alunos e a função social da escola na vida deles também vai alicerçar a sua prática. Você pode inferir ainda que a forma como o professor vivenciou o seu processo de alfabetização na sua escolarização inicial também serve como parâmetro para o que pode (ou não pode) ser feito em sala de aula nessa etapa da educação básica. A identidade do professor alfabetizador normalmente é facilmente reconhecida, pois esse docente costuma sentir-se orgulhoso e feliz com o resultado de seu trabalho. Esse trabalho docente, por sua vez, foi aprimorando-se, aperfeiçoando-se, agregando novas ideias, novos métodos e novas técnicas a partir das experiências e das constantes trocas com pais de alunos, colegas professores, gestores escolares e, muito intensamente, com os próprios estudantes. Outro aspecto interessante a ser considerado quando se fala no processo formativo do professor alfabetizador diz respeito à sua formação continuada, uma vez que: [...] para se tornar um professor alfabetizador a formação inicial por si só não se faz suficiente; é preciso oportunizar (através de formação contínua) saberes necessários ao profissional para que este sinta segurança ao lecionar e possa de fato contribuir com o processo de ensino- aprendizagem. Vale lembrar que o tempo na docência também se configura num dos elementos indispensáveis para o exercício da profissão, 125 uma vez que a prática pode ser (re)apropriada conforme os diferentes contextos em que o professor atua (CARVALHO, 2014, p. 102). Como o professor alfabetizador está em constante aperfeiçoamento de sua prática pedagógica, encontra na formação continuada a oportunidade de buscar novos conhecimentos teóricos, novas leituras, discussões e compartilhamento de experiências significativas de colegas. Tudo isso pode contribuir para que ele melhore ainda mais seus processos de ensino e aprendizagem. Claro que essa formação continuada deve se adaptar à realidade em que o docente se encontra. Além disso, deve ser endereçada ao perfil de seus alunos, estar próxima às dificuldades e necessidades destes e ter o intuito de preencher lacunas de conhecimento, habilidades ou atitudes que se façam necessárias aos professores. Ainda sobre esses aspectos da formação docente, você deve ter cuidado para não reduzir o conceito de formação do professor alfabetizador, uma vez que: A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (NÓVOA, 1992, p. 13). Dessa maneira, você pode retomar aqui a seguinte ideia: é característica importante do professor alfabetizador a capacidade de refletir sobre os seus conhecimentos, as técnicas e as metodologias adotadas e experienciadas no cotidiano. Assim, ele pode sempre aperfeiçoar o que realiza em sala de aula e a própria afirmação de sua identidade docente. 126 11.2 A ESCOLA E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR Ao analisar a formação do professor alfabetizador, você não pode desconectá-la dainstituição social onde esse professor vai atuar durante todas as fases de sua carreira docente: a escola. E, como as escolas fazem parte de um sistema nacional que as organiza e regulamenta, você vai verifi car como elas são referidas, em relação à formação docente, nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (BRASIL, 2013). Esse documento tem caráter normativo e deve ser aplicado por todas as escolas em território nacional. Segundo tal documento: Para a formação inicial e continuada dos docentes, portanto, é central levar em conta a relevância dos domínios indispensáveis ao exercício da docência, conforme disposto na Resolução CNE/CP nº 1/2006, que assim se expressa: I – o conhecimento da escola como organização complexa que tem a função de promover a educação para e na cidadania; II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de investigações de interesse da área educacional; III – a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino. Além desses domínios, o professor precisa, particularmente, saber orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, interpretar e reconstruir o conhecimento. Deve transpor os saberes específicos de suas áreas de conhecimento e das relações entre essas áreas, na perspectiva da complexidade; conhecer e compreender as etapas de desenvolvimento dos estudantes com os quais está lidando. O professor da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental é, ou deveria ser, um especialista em infância [...] (BRASIL, 2013, p. 58). Dessa forma, você pode notar que é no interior da escola que o professor alfabetizador vai colocar em prática seus saberes. Esses saberes são construídos junto aos alunos e o professor deve ser um especialista, desenvolvendo as aprendizagens necessárias para que o aluno conheça, valorize e exercite sua cidadania. Se você considerar o conceito de cidadania, pode afirmar que na sociedade atual, para que um indivíduo consiga minimamente reconhecer seus 127 direitos e deveres sociais e participar ativamente da vida social em seu cotidiano, é necessário que seja alfabetizado. Logo, a escola, por meio da realização dos afazeres do professor alfabetizador, poderá conduzir esse aluno à possibilidade de se instrumentalizar por meio da leitura e da escrita para tornar-se cidadão de fato. Quando as Diretrizes citam a escola como uma “organização complexa”, você deve entender que essa instituição apresenta uma diversidade cultural que vai se fazer presente tanto entre os docentes quanto entre os alunos. Além disso, entre os docentes existirão várias tendências pedagógicas que irão pautar as práticas cotidianas, que podem aproximar-se ou afastar-se daquilo que a escola e a comunidade escolar propuseram em seus projetos político-pedagógicos. Lidar com essa complexidade e multiplicidade de relações e interações não é tarefa simples e desafia os gestores escolares no seu cotidiano. A escola está implicada diretamente na formação do professor alfabetizador. Suas primeiras experiências, ainda como aluno na sua escolarização inicial, contribuem para esse processo. Os exemplos que traz consigo em suas lembranças de professores e práticas utilizadas para alfabetização no interior da escola também constituem esse docente. Já na formação inicial, quando o professor busca os conhecimentos teóricos e práticos para tornar-se um docente, a escola será o palco de inúmeros estágios de observação, entrevistas com docentes e gestores escolares e regências de classe. Uma interessante pesquisa realizada por Utsumi (2004) revelou que, no interior das escolas analisadas pela autora, são destacados alguns aspectos que caracterizam um professor considerado bem-sucedido em suas práticas docentes. Essas características são: • Tempo de casa; • Tempo de atuação na mesma turma; • Ações bem-sucedidas. 128 Como você pode perceber, essas características apontadas pela autora estão presentes na escola, onde o tempo de casa irá relacionar-se com a vivência que o docente possui no espaço escolar. O tempo de atuação na turma refere-se à permanência do professor em um mesmo ano, em que pode se apropriar das especificidades de cada turma e, assim, aprimorar suas práticas com o passar dos anos. E as ações bem-sucedidas referem-se a todas as atividades planejadas e colocadas em práticas com os alunos e que trouxeram resultados satisfatórios e contribuíram significativamente para a aprendizagem. Como você viu, não é possível falar da formação docente de um professor alfabetizador sem considerar o local, o espaço, o “laboratório” onde ele vai se propor a tornar-se alfabetizador de fato: a escola. 11.3 O PROFESSOR ALFABETIZADOR E A PESQUISA Na atualidade, muitos são os estudos acadêmicos que recaem sobre os professores e seus saberes e afazeres no interior da escola. Esses estudos mapeiam e analisam suas práticas, seus sucessos e suas implicações no insucesso dos resultados inerentes aos seus alunos durante a escolarização. Você deve notar, porém, se observar esse cenário com uma visão um pouco mais apurada e crítica, que, na sua grande maioria, essas pesquisas e essa produção acadêmica que ocorrem no interior das academias pelo mundo afora normalmente não são um espaço em que o professor alfabetizador se faça presente. Ou, ainda, quando isso acontece, a sua presença é minoritária. Ao refl etir sobre esse fato, Nóvoa (1992, p. 6) faz a seguinte constatação: Não deixa de ser estranho que, numa época em que tanto se fala de “autonomia profissional” ou de “professores reflexivos”, se assista a um desaparecimento dos movimentos pedagógicos, no sentido que este termo adquiriu na primeira metade do século XX, isto é, coletivos de professores que se organizam em torno de princípios educativos ou de propostas de 129 ação, da difusão de métodos de ensino ou da defesa de determinados ideais. A pobreza atual das práticas pedagógicas, fechadas numa concepção curricular rígida e pautadas pelo ritmo de livros e materiais escolares concebidos por grandes empresas, é a outra face do excesso do discurso científico-educacional, tal como ele se produz nas comunidades acadêmicas e nas instituições de ensino superior. Esse trecho de Antonio Nóvoa reafirma a importância e a implicação da pesquisa científica na formação do professor alfabetizador. Você deve ter notado que os professores de turmas de alfabetização algumas vezes acabam por desenvolver suas práticas somente a partir dos livros que a escola adquire para serem aplicados. Não que os livros não sejam bons e não sirvam de apoio para as práticas; o errado seria reduzir as práticas somente ao que os livros propõem. Essa atitude dá a entender que não é necessária reflexão nem pesquisa, simplesmente aplicação do conhecimento, o que você já viu que não é considerado formação. Ao professor cabe desconfiar, manter seu olhar e sua mente aguçados ao receber um material a ser utilizado. Deve, ao utilizá-lo, possuir um olhar atento e, muitas vezes, realizar as adaptações necessárias para que atinja com seus alunos os objetivos que considera importantes. Além disso, após a aplicação de quaisquer atividades, ele precisa analisar e registrar os resultados, apontando possíveis melhorias futuras na sua aplicação. Aqui, é importante que você se lembre de que o conceito de pesquisa também é muito abrangente e passou por reconfigurações. Na atualidade, aquela ciência que buscava definir a verdade sobre as coisas é substituída pelos mais variados campos discursivos das ciências, em que inúmeras são as verdades produzidas a partir das pesquisas. Essas mudanças afetaram diretamente as pesquisas na área das ciências humanas, em que a educação se encaixa. Nesse caso, a pesquisa pode ser considerada como: (...) um trabalho esforçado, persistente ediferenciado para reduzir os riscos do “senso comum” e para transformá-lo em um “consenso” que, mesmo provisório, discutível e substituível por melhores hipóteses e 130 explicações, constitui o patamar mais seguro para orientar nossas ações coletivas e individuais (PONTES, 1995, p. 48). Acompanhando o pensamento da autora, você pode entender que a pesquisa científica voltada para a área da educação é capaz de fornecer um caminho mais seguro para pautar as práticas cotidianas em sala de aula. Logo, o docente deverá assumir uma postura curiosa e investigativa nas práticas pedagógicas que diariamente aplica. No interior da sua classe escolar, onde irá colocar seus saberes em funcionamento para que consiga desenvolver a aprendizagem da leitura e da escrita, a pesquisa deve pautar tanto a sua postura como docente quanto estimular os próprios alunos a possuírem esse interesse por novas descobertas e novos achados, iniciando-se na pesquisa científica. Marques (2006, p. 95) acrescenta: “[...] pesquisar é buscar um centro de incidência, uma concentração, um polo preciso das muitas variações ou modulações de saberes que se irradiam a partir de um mesmo ponto”. Você deve se lembrar de que o professor pesquisador que tem interesse em fazer da pesquisa um instrumento na realização de suas aulas estará enxergando o aluno como o sujeito da educação. É desse sujeito que partem as dúvidas, curiosidades e indagações. Além disso, como o centro do processo de ensino e aprendizagem, ele deve ser estimulado a desenvolver também essa atitude de pesquisador. É necessário que os professores alfabetizadores encontrem na escola o apoio necessário e os espaços onde refletir sobre suas metodologias, técnicas, recursos e teorias a respeito da alfabetização. Eles devem realizar testagens e experimentações em suas turmas, mapear e analisar os resultados destas e promover novos caminhos a trilhar para o futuro. Da mesma forma, essas pesquisas precisam ser divulgadas, publicadas em periódicos da área da educação e em revistas interdisciplinares. Assim, o campo discursivo dessa ciência pode evoluir e se renovar quanto a esses objetos de conhecimento e suas aproximações. 131 132 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. ABURRE, M. L.; ABURRE, M. B. M. Produção de texto: interlocução e gêneros. São Paulo: Moderna, 2007. ADAM, J. M. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. 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