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FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL Neste capítulo, você terá a possibilidade de adentrar um pouco mais no universo do profissional de Pedagogia, de modo a compreender e construir novos olhares sobre este profissional. Os pontos a serem abordados no capítulo, perpassam pelas características do Pedagogo, considerando os parâmetros que regem a profissão em âmbito nacional e, ainda, apontam as características deste (a) profissional de maneira globalizada em um contexto mundial. Deste modo, espera-se que o capítulo, a partir de uma abordagem significativa, possibilite um olhar diverso e contextualizado sobre a Pedagogia e os profissionais que a assumem e a compõem. AULA 05 COMPETÊNCIAS GERAIS E ESPECÍFICAS DA DOCÊNCIA E HABILIDADES CORRESPONDENTES Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Descrever as competências do profissional de Pedagogia. • Identificar os parâmetros nacionais que regem a profissão no Brasil e as discussões nacionais sobre a formação e atuação docente. • Contextualizar a profissão de pedagogo a nível mundial. 5 COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DE PEDAGOGIA Na atualidade, os cursos de Ensino Superior de Pedagogia têm apresentado propostas de ensino cada vez mais modernas, com objetivos inovadores de formação do profissional e com competências, habilidades e conteúdo para o exercício da prática educativa em espaços escolares e não escolares. Além disso, em geral, propõe-se a articular, de forma crítica e reflexiva, as concepções teóricas e o cotidiano docente. Nessa perspectiva, utiliza, enquanto suporte teórico, os saberes advindos de áreas como a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia, a Didática e a Política, entre muitas outras. Busca-se, nesse profissional, diversas competências e habilidades, que, portanto, acabam por caracterizá-lo. São elas: • ter capacidade de planejamento, execução de planos e projetos; • dinamismo e olhar múltiplo frente às diversidades; • saber se comunicar e dialogar; • ter equilíbrio emocional; • ter conhecimento teórico suficiente para embasar a sua prática pedagógica; • saber trabalhar em equipe e mediar conflitos; • ser criativo; • ter aptidão para o trabalho com o público; • ser proativo para promover ações preventivas; • elaborar estratégias e intervenções pedagógicas; • acreditar na Educação. Diante de tantas aptidões, o objetivo é que os profissionais de Pedagogia consigam, principalmente, compreender as transformações educacionais, políticas, científicas e sociais, considerando os mais diversos vieses e as diversidades existentes nesse processo de construção do conhecimento. É preciso defender e assegurar uma matriz curricular que contenha o domínio de conteúdos básicos e a expansão gradual de habilidades e competências articuladas e relacionadas com o universo educacional e pedagógico, tomando, para si, a reflexão, a ação crítica, a interdisciplinaridade, a contextualização e a formação continuada. Para que o processo de formação do pedagogo ocorra de maneira eficaz e seja coerente com as demandas sociais, a adequação, a ampliação e a inovação da proposta pedagógica curricular, com a perspectiva de conceber a Educação como algo em constante movimento e transformação, são necessárias. Nesse contexto, tem-se, como pano de fundo, a atuação do pedagogo, de modo a possibilitar que o conhecimento pedagógico esteja acessível e contribua com os mais diversos espaços e em diferentes realidades. A formação e a consequente atuação do profissional de Pedagogia devem reafirmar uma preocupação com a qualidade e a responsabilidade inerentes a essa função para resultar na transformação dos mais diversos espaços educacionais, escolares e não escolares. Portanto, é preciso que haja a reflexão permanente acerca dos processos que envolvem a Educação e a Pedagogia e toda a sua complexidade na sociedade contemporânea. Assim, emergem alguns questionamentos indispensáveis: Qual é o pedagogo que queremos para a sociedade atual? Como colaborar na (re)construção desse profissional? O pedagogo da/na sociedade atual deve ser um profissional multifacetado, o qual navega pelos conhecimentos teóricos da Educação e da Pedagogia para que tenha sustentação em sua prática cotidiana. Deve ser um profissional pesquisador empenhado em transformar a realidade do espaço escolar ou dos demais espaços onde atua. Além disso, esse profissional precisa agir no trabalho com ética pela justiça, pela igualdade de oportunidades e pela diminuição dos distanciamentos e das lacunas para que todos tenham acesso aos processos educativos, nos mais diferentes espaços. 5.1 A escola e a atuação do pedagogo frente às diversidades As discussões que envolvem a diversidade perpassam, inclusive, pelo contexto escolar, visto que este é um espaço de diferenças e pluralidades. Portanto, o pedagogo contemporâneo deve atuar nesse cenário, de forma a desconstruir aspectos de preconceito e criar estratégias de respeito e dissolução das discriminações, que aniquilam as relações e comprometem o processo de ensino- aprendizagem. Nadime (2003) ressalta que o preconceito poderá ser manifestado pelo simples discurso ou pelo ato de um sujeito e poderá também tomar forma, ou melhor, estruturar-se a partir da observação do cotidiano escolar. Isso poderá ser uma via de disseminação da intolerância, por meio da linguagem ou do pequeno gesto, na qual estão contidos termos pejorativos, os quais, na maioria das vezes, desvalorizam a imagem do outro. De acordo com Gentile (2003), na sociedade, a rejeição aparece de várias formas. O desrespeito e a intolerância se contrapõem a indivíduos ou grupos desfavorecidos, que se entregam ao medo e convivem com violência, corrupção e discriminação. Na escola, essa característica aparece de forma constante. O fato de amenizar situações sem, na verdade, resolvê-las ou ainda optar pelo silêncio diante de certos fatos pelo receio de haver repressão, são apenas simples exemplos, os quais comprovam que, muitas vezes, atos discriminatórios são reforçados por atitudes de omissão, levando uma situação que deveria ser discutida e resolvida. Por isso, torna- se fundamental que o pedagogo esteja sempre atento e promova o combate a essas violências. Segundo Whitaker (1994), é necessário que os educadores, incluindo os profissionais de Pedagogia e as pessoas envolvidas no sistema educacional, percebam que, quando situações de violência e discriminação são ocultadas com o intuito de serem amenizadas, estes podem estar agindo como violadores dos direitos dos alunos, reforçando uma corrente discriminativa que não só oculta a violência que está no dia a dia, como também esconde suas verdadeiras causas. É uma violência sutil que, em geral, não aparece de forma tão explícita e serve para dissimular os conflitos. 5.2 Parâmetros nacionais para o profissional de Pedagogia no Brasil Na perspectiva de pensar a Educação e a Pedagogia na atualidade, é importante nos atermos a alguns pontos que auxiliam em tal compreensão. Paulo Ghiraldelli Jr. (2009) ressalta que apenas com a modernidade a Pedagogia foi tomando a forma e se tornou aquilo que hoje, efetivamente, conhecemos por Pedagogia. Foi a partir do século XVII que ela começou a deixar de atuar como simples condutora de crianças para se transformar em uma ciência da Educação. Nessa vertente, a Pedagogia vai traçando seus objetivos e passa a ter como objetivo geral o aperfeiçoamento dos processos de ensino-aprendizagem dos sujeitos por intermédio da reflexão crítica, da sistematização (organização) e da produção de conhecimentos. Como ciência social, a área da Pedagogia deve estar conectada com o saber produzido socialmente, inclusive por outras ciências, como a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, a Pediatria, entre outras, além de se inteirarpara compreender e fazer valer as normas educacionais do país em que está inserida. Em nível nacional, as discussões geradas acerca da construção de um curso de Pedagogia só emergiram a partir da década de 1930, visto que esse momento estava marcado por uma grande discussão em torno da Educação. De acordo com Pereira ([s.d.]), algumas curiosidades sobre o curso de Pedagogia são: • O curso foi instituído no Brasil, em 1939, e desde então a atuação do pedagogo e seu perfil profissional vêm sofrendo alterações significativas. • Hoje, a Pedagogia está cada vez mais presente em diferentes áreas: Pedagogia Empresarial, Pedagogia Hospitalar, Psicopedagogia, etc. • Devido às muitas mudanças com o decorrer da história, o perfil do pedagogo se modificou, assim como também foi redefinido o papel da Educação, da escola e dos profissionais que nela atuam. • A Pedagogia investiga a natureza dos processos educativos, bem como suas finalidades. Enquanto ciência, é responsável por explicar os objetivos e as formas de intervenção metodológica e de organização da atividade educativa visando ao sucesso da aprendizagem. Vale enfatizar que as diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, definidas pela Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação, trouxeram como pauta para discussão o debate a respeito da identidade do curso e a sua finalidade profissionalizante, agora instituída como licenciatura. Portanto, o curso de Pedagogia é destinado, na sua atual formulação legal, à formação de professores para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Complementarmente também há o desenvolvimento de competências para o ensino nos cursos de nível médio, na modalidade normal, para a educação profissional na área de serviços e apoio escolar, para as atividades de organização e gestão educacionais e para as atividades de produção e difusão do conhecimento tecno-científico do campo educacional. Nessa perspectiva, a estrutura curricular do curso de Pedagogia deverá ser organizada em três grandes núcleos: 1. Conteúdos básicos: articuladores da relação teoria e prática, referentes aos contextos: a) histórico e sociocultural, compreendendo os fundamentos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, sociológicos, psicológicos e antropológicos; b) da educação básica, compreendendo estudos dos conteúdos curriculares da educação básica, os conhecimentos didáticos, o estudo dos processos de organização do trabalho pedagógico e o estudo das relações entre educação e trabalho; c) do exercício profissional em âmbitos escolares e não escolares, articulando saber acadêmico, pesquisa e prática educativa. 2. Estudos de aprofundamento e/ou diversificação da formação: referem-se “à diversificação da formação do pedagogo [que] é desejável para atender às diferentes demandas sociais e para articular a formação aos aspectos inovadores que se apresentam no mundo contemporâneo”. Propõem ainda o aprofundamento de conteúdos da educação básica ou o oferecimento de conteúdos voltados às áreas de atuação profissional priorizadas nos projetos das IES. 3. Estudos integradores: realizados a partir da participação em seminários, projetos de iniciação científica, monitoria e extensão, bem como em aulas práticas, experiências, atividades de comunicação e expressão cultural, entre outros. É importante considerar que muitos dos problemas do curso surgiram a partir das diversas discussões que o circundam, configurando-se como alguns de seus muitos dilemas: Qual é a área de atuação dos profissionais em Pedagogia? Para que serve a Pedagogia? Pedagogo e professor são a mesma coisa? Nessa perspectiva, torna-se importante trazer, neste capítulo, a atualização legal sobre os cursos de licenciatura. A Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial de Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada (BRASIL, 2015). Nesse cenário, o curso de Pedagogia vem se firmando como importante instrumento para a formação de docentes no país, sendo assim, com o passar dos anos, tem demonstrado seu valor e sua pertinência nos processos educativos de empresas, instituições e escolas. 5.3 Algumas considerações sobre a contextualização da profissão de pedagogo no mundo O desejo por outras respostas e transformações e a busca por novos olhares e novas perspectivas é o que impulsiona e deve impulsionar o pedagogo na busca pelo desconhecido. É importante atravessar o universo de uma escola ou de uma instituição e entrelaçar os conhecimentos para desvendar quais são as possibilidades de pensar o processo educacional. O pedagogo, muitas vezes, é influenciado pelas experiências que vivencia, as quais são vitais para que suas ações aconteçam de maneira eficaz. Em seu percurso, em geral, cada encontro resulta em uma nova descoberta ou uma (re)vivência. À medida que o tempo passa, as impressões e as percepções, certamente, dão lugar aos registros e às intervenções que mobilizam, diminuem distanciamentos e permitem aprendizagens. Libâneo (2001) enfatiza que o pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa e que suas ações estão direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes, além de citar as formas de atuação, tendo em vista os objetivos da formação previamente definidos em sua contextualização histórica. Nas ações pedagógicas, cada passo dado faz emergir novos questionamentos e novas descobertas no profissional da Pedagogia e fervilhar um turbilhão de encontros e desencontros. As ações de um pedagogo, em qualquer lugar do mundo, devem dialogar com as circunstâncias e os acontecimentos, além de observar, problematizar, articular, perceber as falas, criar estratégias e intervir. O olhar e o compromisso de um educador, a garra de um pesquisador, as vivências e experiências de um professor, o desejo de fazer e de aprender de um estudante e a responsabilidade do sujeito, todas essas características são essenciais ao profissional de Pedagogia, independente do país em que este atue. A profissão exige uma postura que se baseia em estratégias políticas para mostrar que, mesmo em meio a tantos desafios e desventuras que atravessam os sujeitos, é possível transformar e que diante da imposição, do medo e da descrença, há reinvenções e criatividade, mecanismos necessários para as reconstruções. É preciso que o pedagogo sinalize as transformações futuras, vislumbrando a necessidade da continuidade de cursos de formação e aperfeiçoamentos que busquem levantar, problematizar e discutir as práticas pedagógicas cotidianas dos profissionais, visando a um olhar para além daquilo que está imposto, tentando perceber as lacunas existentes dentro da escola e das demais instituições de atuação, para assim dialogar e reinventar maneiras de ser pedagogo e de praticar a Pedagogia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n° 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Brasília, DF, 2006. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília, DF, 2015. GENTILE, P. As diversas faces da escola. Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 165, p. 36- 37, set. 2003. GHIRALDELLI JR, P. História da educação brasileira. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009. LIBÂNEO, J. C. Pedagogias e pedagogos: inquietações e buscas. Educar, Curitiba, n. 17, p. 153-176,2001. NADIME, L. A.; BOURDIEU, P.; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução. Elementos para uma teoria do sistema de ensino, Lisboa, 1970. PEREIRA, L. C. Pedagogo. [s.d.]. Disponível em: https://www.infoescola.com/profissoes/pedagogo/. Acesso em: 26 jan. 2023. WHITAKER, D. Violência na escola. Revista Ideias, São Paulo, n. 21, p. 27-36, 1994.
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