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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃOMATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL - CONCRETOS ECIVIL - CONCRETOS E ARGAMASSASARGAMASSAS PRODUÇÃO DOPRODUÇÃO DO CONCRETOCONCRETO Autor: Me. Italo Vale Monte Júnior Revisor : Paula De L ima Sa lum IN IC IAR introdução Introdução O processo produtivo do concreto causa grande impacto na cadeia da construção devido ao alto consumo do material, movimentando a economia em todo o mundo. Contudo, esse alto consumo do concreto provoca um passivo ambiental na construção civil, que deve ser mitigado por ações sustentáveis em todas as etapas da cadeia produtiva. A inovação tecnológica promove mudanças contínuas nos processos construtivos, ocasionando aumento na produtividade da indústria e possibilitando a redução de custos e do impacto da atividade ao meio ambiente. Assim, a sustentabilidade da indústria do concreto relaciona-se a processos de produção controlados, misturas especiais com características especí�cas, aplicação do material e aproveitamento de resíduos de outras indústrias. O concreto usinado, ou dosado em central, é produzido em instalações especí�cas contemplando as operações de recebimento, estocagem, dosagem e mistura de seus materiais componentes. A atividade de recebimento dos materiais é constante nas instalações da usina, principalmente devido aos agregados que representam o maior volume do material em estoque no pátio da usina. Os agregados são armazenados em grandes áreas pela capacidade de produção da central dosadora de concreto, bem como pelo uso comum de mais de um tipo de agregados miúdos (areias de rio e de britagem) e agregados graúdos (britas 12,5 e 19 mm) para a produção diversi�cada de concretos e argamassas. As áreas de estocagem e dosagem do concreto, em uma planta comum de central dosadora, são ilustradas conforme a Figura 4.1. Concreto UsinadoConcreto Usinado O compartimento de carga dos agregados é alimentado individualmente (por tipo de agregado), com auxílio de pá carregadeira, de acordo com a necessidade de produção diária da central. Em seguida, o agregado é transportado por um conjunto de esteiras direcionando o material ao sistema automatizado de armazenamento e pesagem. Os agregados são pesados por comando do sistema automatizado, de acordo com o traço que está sendo produzido, e seguem pela esteira terciária juntamente com as adições minerais até o caminhão-betoneira. Após parte dos agregados ser adicionada ao caminhão-betoneira, o cimento é liberado do silo por sistema automatizado, pesando a quantidade necessária do traço. Em seguida, é liberado o restante dos agregados e a água simultaneamente com os aditivos. Figura 4.1 - Operações de produção do concreto em central Fonte: Elaborada pelo autor. Normalmente, o concreto é solicitado pelo cliente, sendo indicada a resistência característica do projeto e o abatimento do concreto. Características da estrutura, como a densidade de armadura e a altura da edi�cação, podem indicar a redução da dimensão máxima do agregado graúdo para reduzir a coesão do concreto e facilitar o bombeamento. Um ponto importante do concreto dosado em central é o seu transporte para a obra, que, normalmente, é realizado em caminhões-betoneira. É necessário ter atenção ao tempo de transporte, devido à pega do cimento, conforme ilustrado na Figura 4.2. É prescrito na ABNT NBR 7212 (ABNT, 2012, p. 7) que o tempo de transporte do concreto da central dosadora para a obra, em caminhão-betoneira, deve ser inferior a 90 minutos, sendo o lançamento do concreto feito em até 30 minutos da chegada no caminhão-betoneira à obra, considerando o tempo inferior a 150 minutos da primeira adição de água na central dosadora. Em hipótese alguma, deve ser liberado o bombeamento do concreto sem a conferência da nota �scal e o ensaio do abatimento do tronco de cone. Outro ponto de atenção durante a concretagem, refere-se à prescrição na ABNT NBR 14931 (ABNT, 2004, p. 19) quanto à temperatura. Recomenda-se que a massa do concreto não esteja em temperatura inferior a 5ºC nem que a temperatura ambiente esteja abaixo de 0ºC. Já em clima quente, principalmente nas condições de temperatura alta (≥ 35ºC), umidade relativa Figura 4.2 - Tempo de transporte e aplicação do concreto Fonte: Koonsiri Boonnak; yupiramos; macronomy / 123RF. do ar baixa (≤ 50%) e alta velocidade dos ventos (≥ 30 m/s), devem-se adotar medidas para reduzir a perda de consistência do concreto e a temperatura de sua massa. Após a descarga do concreto na obra, a limpeza interna do tambor do caminhão-betoneira deve ser feita de modo que o resíduo líquido da lavagem seja conduzido para o sistema de tratamento, não podendo o e�uente ser in�ltrado diretamente no solo. Esse tratamento pode ser feito na obra, quando dispor de sistema de tratamento, ou na própria usina, após retorno do caminhão, conforme ilustrado na Figura 4.3. Figura 4.3 - Descarga do resíduo líquido da lavagem do caminhão-betoneira na usina Fonte: Elaborada pelo autor. É comum o tratamento desse e�uente nas centrais dosadoras de concreto, pois aumenta o ciclo de vida da água no processo de produção do concreto. A água recuperada de processos de preparo do concreto deve atender às prescrições da ABNT NBR 15900 quanto aos parâmetros físico-químicos (ABNT, 2009, p. 7-8), podendo ser reutilizada em novo amassamento do concreto e na lavagem do agregado graúdo por aspersão. praticar Vamos Praticar O concreto produzido em central é rotineiramente utilizado na execução de estruturas de concreto armado, independentemente do porte da construção. A prescrição normativa brasileira para o procedimento de produção do concreto dosado em central é de�nida pela ABNT NBR 7212, sendo abordados parâmetros quanto a materiais, mistura, transporte, lançamento e controle da resistência do concreto. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7212 : execução de concreto dosado em central: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2012. Assinale a alternativa correta, relativa ao procedimento de dosagem do concreto em central, prescrito na ABNT NBR 7212. a) O dosado na central é produzido no dia anterior ao pedido do cliente. b) O transporte do concreto em caminhão-betoneira para a obra deve ser feito em, no máximo, cinco horas. c) O fck do projeto e o abatimento do concreto devem ser especi�cados no pedido à central dosadora. d) A dosagem do concreto é realizada em volume. e) Inicialmente, é adicionado 100% da água de amassamento no balão do caminhão-betoneira, seguida do restante dos materiais. Os concretos especiais representam uma classe de misturas diferenciadas quando comparadas às misturas convencionais, promovendo-se características especí�cas no material para uma determinada aplicação. Na maioria das vezes, essas características eliminam ou restringem algum efeito negativo do concreto, além de potencializarem suas propriedades mecânicas, durabilidade e sustentabilidade. Na visão de Neville (2014, p. 678), alguns concretos chamados de especiais podem ser classi�cados de acordo com o material cimentício utilizado, como os concretos com sílica ativa, escória granulada de alto forno e cinza volante. Porém, é mais comum o reconhecimento pela característica que o material promove à mistura. Nesse sentido, Mehta e Monteiro (2014, p. 489-623) relatam doze concretos especiais diferentes, os quais se destacam por seu uso mais comum: Concreto leve estrutural; Concreto autoadensável; Concreto de alto desempenho; e ConcretosConcretos EspeciaisEspeciais Concreto reforçado com �bras. Devido à potencialidade dos materiais, abordaremos nesta unidade o concreto leve estrutural (CLE), o concreto autoadensável (CAA) e o concreto reforçado com �bras (CRF). Ressalta-se que o concreto de alto desempenho (CAD) é a mistura que reúne as características de alta trabalhabilidade, alta resistência e alta durabilidade, sendo essas características abordadas no CAA e no CRF. Concreto Autoadensável (CAA) O concreto autoadensável (CAA)surgiu no Japão, ao �nal da década de 1980, a partir da necessidade de eliminar as falhas de concretagem por de�ciência no adensamento do concreto com vibração convencional. Produzido com os mesmos materiais do concreto convencional, o CAA necessita de uma combinação dos materiais que permita elevada �uidez e estabilidade na mistura, de modo que preencha todos os espaços das formas a partir do adensamento por seu peso próprio, sem acúmulo nas armaduras e sem ocorrência de segregação. De acordo com Tutikian e Dal Molin (2008, p. 9), Gomes e Barros (2009, p. 16) e Repette (2011, p. 1.770), esses requisitos de�nem as habilidades necessárias ao CAA, que são: É característico do CAA o elevado consumo de materiais �nos combinado entre o cimento, adições minerais e adequado empacotamento de partículas do agregado miúdo, associado ao uso de aditivos superplasti�cantes e modi�cadores de viscosidade. Características do CAA no Estado Fresco A normalização brasileira, por meio da ABNT NBR 15283-1 (ABNT, 2017, p. 7), prescreve nove requisitos para a classi�cação do CAA no estado fresco, dos quais recomenda apenas quatro para comprovar as propriedades do material no ato do recebimento na obra. Os requisitos de �uidez, viscosidade plástica aparente e estabilidade dimensional são avaliados pelos ensaios de espalhamento, t500 e índice de estabilidade visual previstos na ABNT NBR 15823-2 (ABNT, 2017b). Já a habilidade passante é avaliada pelo ensaio, utilizando-se o anel J, conforme ABNT NBR 15823-3 (ABNT, 2017c). Os requisitos do CAA são relacionados aos métodos de ensaios, conforme o Quadro 4.1. Requisito Método de ensaio Código normativo Espalhamento (mm) Slump-�ow ABNT NBR 15823-3 Viscosidade plástica aparente (�uxo livre) t ABNT NBR 15823-2 Viscosidade plástica aparente (�uxo con�nado) Funil V ABNT NBR 15823-5 Índice de estabilidade visual (�uxo livre) Análise visual do slump-�ow ABNT NBR 15823-2 Habilidade passante (�uxo livre) Anel J ABNT NBR 15823-3 Habilidade passante (�uxo con�nado) Caixa L ABNT NBR 15823-4 Caixa U ABNT NBR 15823-4 (ensaio facultativo) Resistência à segregação Coluna de segregação ABNT NBR 15823-6 Método da peneira ABNT NBR 15823-6 (ensaio facultativo) Quadro 4.1 - Método de ensaio para avaliação das propriedades do CAA no estado fresco Fonte: Adaptado da ABNT NBR 15823-1 (2017a, p. 4-6). Observa-se na Figura 4.4, após a leitura dos códigos QR, os vídeos destinados à pesquisa com CAA que foram produzidos no laboratório de materiais de construção de uma universidade da Rede Ânima Brasil. 500 O vídeo da Figura 4.4a ilustra o procedimento para determinação do slump- �ow, tempo de espalhamento (t ) e índice de estabilidade visual, que são realizados no mesmo procedimento por meio do cone de Abrams. Já o ensaio do anel J é realizado em outra determinação, também com o cone de Abrams e um anel com barras de aço para simular a habilidade passante do CAA em �uxo livre, conforme demostrado na Figura 4.4b. Características do CAA no Estado Endurecido A combinação de elevado consumo de cimento com adições minerais sob ação de aditivos superplasti�cante e adequada distribuição granulométrica do agregado miúdo, associada à baixa relação água/cimento, promove misturas de CAA mais compactas quando comparadas as de concretos com vibração convencional. Essas características do CAA podem resultar em aumento da resistência e durabilidade. Figura 4.4 - Ensaios com CAA no estado fresco Fonte: Elaborada pelo autor. 500 De acordo com Repette (2011, p. 1.789), é mais difícil a produção de CAA com baixas resistências, entre 20 e 30 MPa, do que concretos com média e elevada resistências. Misturas comuns de CAA são dosadas com a relação água/materiais cimentícios de 0,45 a 0,50 e geralmente adquirem resistência à compressão aos 28 dias de 40 MPa (MEHTA; MONTEIRO, 2014, p. 524). Concreto Reforçado com Fibras (CRF) O uso de �bras como componente de reforço no concreto é indicado para aumentar a capacidade resistente do material. As �bras funcionam como saibamais Saiba mais Até os dias atuais, o uso do concreto autoadensável é limitado em obras com tipologia vertical, quando comparados aos concretos com vibração convencional. O CAA apresenta vantagens como velocidade de produção e redução do ruído e de mão de obra. Porém, ainda é produzido com custo maior do que o concreto comum. E saiba mais sobre o comparativo entre o CAA e o concreto com vibração convencional. Fonte: Costa e Cabral (2019, p. 289). ACESSAR http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212019000400356 armaduras em miniatura dentro do concreto e combatem a propagação da �ssuração do material, conforme ilustrado na Figura 4.5. De acordo com Figueiredo (2011, p. 1.331), pode-se relacionar a baixa resistência à tração do concreto à sua grande di�culdade de interromper a propagação das �ssuras quando submetido a esse esforço. Contudo, Mehta e Monteiro (2014, p. 547) a�rmam que as propriedades do concreto reforçado com �bras dependem do tipo, quantidade e dimensões das �bras adicionadas, além das propriedades da matriz cimentícia e a interface �bra- matriz. No Brasil, as �bras mais comuns utilizada no concreto são as metálicas soltas e as de polipropileno, conforme ilustrado na Figura 4.6. Figura 4.5 - Esquema de concentração de tensões para um concreto simples (a) e com reforço de �bras (b) Fonte: Figueiredo (2011, p. 1.332). Figura 4.6 - Fibras de aço soltas curtas (a), longas (b) e longas coladas; �bras de polipropileno �briladas (d) e mono�lamento (e) Fonte: Adaptada de Figueiredo, (2011, p. 1.328). Carvalho e Cabral (2018, p. 10) comprovaram que a �bra metálica com ancoragem nas pontas (diâmetro nominal = 0,75 mm e comprimento nominal = 50 mm), em teor de 40 kg/m³, melhora a resistência à compressão e tenacidade à �exão do concreto em 12,89% e 108,9%, respectivamente, quando comparado ao concreto de referência. De todo modo, é necessária atenção na dosagem do concreto com uso de �bras, pois o componente de reforço aumenta a coesão da mistura, podendo prejudicar a aplicação do material caso ocorra redução indesejada do abatimento do concreto. Concreto Leve Estrutural (CLE) A substituição do agregado natural com densidade normal (entre 1.520 a 1.680 kg/m³) por agregado leve (densidade abaixo de 1.120 kg/m³) in�uencia na redução da densidade aparente do concreto. saibamais Saiba mais É recorrente o uso de �bras no concreto aplicado em obras de infraestrutura, como pavimentos rodoviários, pisos industriais, revestimento de túneis e pontes, devido à condição de exposição das peças estruturais a grandes esforços mecânicos, além de retração plástica e até mesmo sinistro de incêndio. Leia o artigo disponível a seguir e saiba mais sobre o efeito de �bras metálicas e de polipropileno nas propriedades mecânicas do concreto. Fonte:Carvalho e Cabral (2018, p. 2). ACESSAR http://dx.doi.org/10.1590/s1517-707620180003.0510 Os concretos, de maneira geral, possuem na zona de transição um elo fraco suscetível à propagação de �ssuração quando o material é solicitado a esforço mecânico. Isso acontece nos concretos convencionais devido à película de água no entorno do agregado graúdo natural, promovida pela exsudação. Esse comportamento é diferenciado no CLE, pois a porosidade do agregado leve promove maior absorção da água de amassamento do concreto, conduzindo à redução da espessura da zona de transição no CLE, conforme ilustrado na Figura 4.7. Observa-se, nas Figuras 4.7(a) e (b), o aspecto das zonas de transição nos concretos leve estrutural com argila expandida e no concreto convencional com agregado basáltico, respectivamente. De todo modo, Metha e Monteiro (2014, p. 494) atribuem ao agregado leve ser o componente mais fraco no sistema, quando o material é submetido à tensão de compressão até sua ruptura. Ou seja, a ruptura acontece no agregado leve e não na zona de transição, como nos concretos convencionais. De acordocom Rossignolo (2009, p. 77), a rigidez do concreto leve é menor do que o concreto convencional devido aos módulos de deformação da argamassa e dos agregados leves serem próximos, promovendo uma Figura 4.7 - MEV no per�l do concreto – a) Com argila expandida e b) Com agregado basáltico Fonte: Adaptada de Angelin, Lintz e Gachet-Barbosa (2017, p. 7). melhoria no comportamento do material na região elástico do diagrama tensão-deformação. Outro benefício do concreto leve é a redução da sua condutividade térmica quando comparado ao concreto convencional, ou seja, o CLE contribui na redução da temperatura interna dos ambientes, por promover uma barreira mais e�ciente do que o concreto convencional contra a passagem da radiação solar. saibamais Saiba mais O uso combinado do cimento Portland com adições minerais sob a ação de aditivos superplasti�cantes é uma condição primordial para o aumento da durabilidade dos concretos. Esse aspecto também é importante em se tratando do concreto estrutural leve autoadensável, que possui parâmetro de dosagem diferente do CAA simples. Leia o artigo disponível a seguir e saiba mais sobre o comportamento do concreto leve estrutural autoadensável com uso de adições minerais. Fonte: Borja (2011, p. 24). ACESSAR Em se tratando do concreto com argila expandida, isso acontece pela estrutura de poros existentes no interior do agregado leve, conforme ilustrado na Figura 4.8. https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/15567 Figura 4.8 - Microgra�a da estrutura interna da argila expandida Fonte: Borja (2011, p. 162). De acordo com Rossignolo (2009, p. 70), o ar aprisionado na estrutura celular dos agregados leves reduz a absorção e transferência de calor quando comparado ao dos concretos convencionais. praticar Vamos Praticar Os concretos especiais são misturas formadas a partir de materiais cimentícios alternativos, que conferem características especí�cas às misturas para uma determinada aplicação. Os concretos de alto desempenho e concreto leve estrutural se destacam nessa classi�cação. NEVILLE, A. M. Propriedades do Concreto . 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. Assinale a alternativa correta, relativa aos concretos especiais. a) O concreto reforçado com �bras é caracterizado pela redução da propagação de �ssuras. b) O concreto leve estrutural apresenta maior espessura da zona de transição quando comparado ao concreto convencional. c) O concreto autoadensável apresenta baixa viscosidade da pasta de cimento. d) O concreto de alto desempenho é caracterizado apenas pela elevada resistência. e) O concreto leve com argila expandida facilita a passagem da radiação solar para o interior da edi�cação. Na atualidade, uma das grandes preocupações da comunidade cientí�ca é reduzir o aquecimento global. Assim, a temática da sustentabilidade nunca foi tão discutida em todas as indústrias no mundo, por incorporar aspectos ambientais, econômicos e sociais. Nesse sentido, Mehta e Monteiro (2014, p. 733) alertam sobre as grandes emissões globais de dióxido de carbono promovidas pelas atividades humanas e comentam que a indústria do cimento é responsável por 7% dessas emissões de CO2 no planeta. Na visão de Isaia (2011, p. 43), o concreto sustentável deve atender a três requisitos: 1. Durabilidade e segurança, que promovem melhor custo- benefício em estruturas mais duráveis, devido à diluição do custo ao longo do tempo, e seguras quanto à ocorrência de incêndios. 2. Materiais cimentícios suplementares, que promovem a redução da produção de clínquer e, consequentemente, a redução das emissões de CO2, além de aproveitar rejeitos de outras indústrias. O concreto doO concreto do FuturoFuturo 3. Concreto com agregados reciclados, que promovem a redução de resíduos da construção civil e economia na cadeira produtiva pela redução de energia, transporte e extração de agregados naturais. Com pensamento semelhante à durabilidade do concreto como requisito sustentável, Neville (2016, p. 717) comenta que o aproveitamento pleno do concreto de alto desempenho ainda não ocorreu, visto que a maioria dos códigos normativos não consideram resistência superiores a 60 MPa. De todo modo, a normalização brasileira, mediante a ABNT NBR 6118, avançou e já permite o dimensionamento de estruturas com resistência característica à compressão do concreto em até 90 MPa. Na visão de vários autores, o requisito de durabilidade é essencial para se atingir a sustentabilidade na indústria do concreto, pois ocasiona menor custo de manutenção, redução de resíduos e menor consumo de concreto para novas construções. Nesse aspecto, Mehta e Monteiro (2014, p. 734) defendem, a longo prazo, a redução na taxa de consumo do concreto de três maneiras distintas: Redução no impacto do projeto por arquitetura inovadora; Redução de peças estruturais por projetos inteligentes sem comprometer a segurança; e Aumento na durabilidade por substituição de grandes porções de cimento Portland por materiais cimentícios suplementares. Mesmo existindo a possibilidade do uso de novos materiais para a produção de concretos com misturas mais duráveis, é importante mencionar que as boas práticas de construção com as tecnologias disponíveis comercialmente também possibilitam produzir concretos mais duráveis, combatendo a �ssuração plástica, segregação e reações deletérias do concreto. praticar Vamos Praticar A durabilidade das estruturas de concreto é bastante discutida na atualidade pelo papel que desempenham no alcance da sustentabilidade da construção civil. Isso acontece devido ao aumento da vida útil dos materiais e, consequentemente, a menor emissão de gases de efeito estufa. MEHTA, P. Kumar; MONTEIRO, Paulo J. M. Concreto : microestrutura, propriedades e materiais. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2014. Assinale a alternativa correta, relativa à durabilidade dos concretos. a) A durabilidade do concreto é atingida com elevados consumos de cimento na mistura. b) Concretos com baixa resistência são mais duráveis do que os concretos de elevada resistência. c) O aumento da durabilidade das estruturas também eleva a geração de resíduos sólidos na construção civil. d) Ações deletérias no concreto podem reduzir a durabilidade das estruturas. e) A cadeia produtiva do concreto não emite gases de efeito estufa na atmosfera. Em um primeiro momento na evolução tecnológica do concreto, ocorreram mudanças no processo produtivo do cimento para reduzir o seu custo e, por consequência, promover benefícios ao meio ambiente. A substituição parcial do clínquer por rejeitos industriais com propriedades pozolânicas e novas fontes alternativas de combustível para a produção do cimento foram exemplos dessas medidas economicamente e ambientalmente adequadas ao processo produtivo do cimento. A busca constante para a sustentabilidade na indústria do concreto desencadeou, nas últimas décadas, estudos sobre materiais alternativos aos constituintes comuns do concreto como forma de reduzir o impacto ambiental da construção civil. Avaliou-se a substituição de agregados naturais por agregados reciclados, a adição de �bras naturais e sintéticas recicladas, além de e�uentes industriais como o lodo resultante do tratamento de esgoto, sendo esses estudos realizados até os dias atuais. AplicaçõesAplicações Sustentáveis doSustentáveis do ConcretoConcreto Os agregados reciclados apresentam propriedades físicas variadas e maior porosidade quando comparados ao agregado natural, demandando maior quantidade de água no amassamento do concreto. Esse comportamento é comum tanto para agregado reciclado misto (ARM) quanto para o agregado reciclado de concreto (ARC). De acordo com Gomes, Poggiali e Azevedo (2019, p. 11), de maneira geral, as misturas de concreto com grandes quantidades de agregado reciclado graúdo podem ser viabilizadas pelo uso combinado com adições minerais. De todo modo, o agregado miúdo reciclado misto de concreto termina sendo menos utilizado doque seus respectivos agregados graúdos na produção de concretos. Porém, estudos revelaram o efeito bené�co da fração �na do ARM (RUAN et al . 2019, p. 603) e do ARC (MONTE JÚNIOR, 2017, p. 67) na produção de argamassas. Uma outra fonte alternativa muito promissora para mitigar o impacto ambiental de outras indústrias, associada à tecnologia do concreto, é o uso de �bras. As �bras no concreto promovem a redução da propagação de �ssuras, contribuindo para o aumento da durabilidade das estruturas. A partir do uso de �bras de PET no concreto, Pereira, Oliveira Júnior e Fineza (2016, p. 848) comentam que a capacidade de carga do concreto ecológico é maior do que a capacidade de carga do concreto convencional. reflita Re�ita O passivo ambiental da construção civil relaciona-se principalmente com a geração de resíduos sólidos, o consumo de recursos naturais e de energia, e a emissão de gases de efeito estufa. Assim, a sustentabilidade da atividade da construção civil passa por ações de mitigação a esse passivo ambiental. Buscando reduzir o impacto ambiental de uma construção, que medidas podem ser adotadas no canteiro de obras para reduzir os consumos de água e energia, além de gerar menor quantidade de resíduos sólidos? Re�ita sobre esse importante assunto para mitigar o impacto ambiental da construção civil. Fonte: Marques, Gomes e Brandli (2017, p. 80). Já com o uso de �bras minerais, Ramirez et al . (2019, p. 1) relatam a boa interação das �bras de lã de rocha e de vidro com matriz cimentícia, conforme demonstrado na Figura 4.9. Figura 4.9 - Interação matriz cimentícia-�bras – (a) lã de rocha, (b) �bra de vidro, (c) mistura de lã de rocha e �bra de vidro Fonte: Adaptada de Ramirez et al. (2019, p. 61). O elevado consumo de água no processo produtivo do concreto também desperta interesse para estudo com o aproveitamento da água de lavagem dos caminhões-betoneiras nas centrais de concreto, bem como dos equipamentos nos canteiros de obras. A Figura 4.10 ilustra a quantidade de partículas sólidas no e�uente oriundo da lavagem de betoneira em canteiro de obras. Assim, normalmente o processo mais e�ciente e com menor custo para o tratamento é a decantação, o que rotineiramente já é feito nas centrais de concreto, sendo o aproveitamento da água recuperada permitido de acordo com padrões da ABNT NBR 15900 (ABNT, 2009). praticar Vamos Praticar O desenvolvimento sustentável na indústria do concreto é essencial devido ao elevado consumo do produto, associado às rápidas mudanças na sociedade, como o crescimento acelerado da população mundial, a urbanização e as escolhas tecnológicas para o desenvolvimento econômico. MEHTA, P. Kumar; MONTEIRO, Paulo J. M. Concreto : microestrutura, propriedades e materiais. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2014. Figura 4.10 - Decantação de e�uente da água de lavagem de betoneira Fonte: Elaborada pelo autor. Assinale a alternativa correta, relativa aos usos sustentáveis do concreto. a) No processo produtivo do concreto, apenas os agregados podem ser reciclados. b) O uso de agregados reciclados no concreto é uma alternativa sustentável para a construção civil. c) O bene�ciamento dos resíduos da construção civil só pode ser realizado em usina de reciclagem. d) Não se pode substituir o cimento no concreto para deixá-lo mais sustentável. e) O uso da �bra no concreto não pode ser considerado como alternativa sustentável. indicações Material Complementar LIVRO Métodos de Dosagem de Concreto Autoadensável Editora : Pini Autores : Paulo César Correia Gomes e Alexandre Rodrigues de Barros ISBN : 978-85-7266-215-4 Comentário : Os autores do livro “Métodos de dosagem de concreto autoadensável” abordam os métodos de ensaios para avaliação do CAA no estado plástico, utilizando riqueza de detalhes nas ilustrações. Sobretudo, comentam os métodos de dosagem do material em ordem cronológica. WEB Brasil – Cimento de Resíduos de Construção e Demolição Ano : 2018 Comentário : A inovação deve sempre acompanhar a tecnologia do concreto. Produzir novos materiais e reciclar resíduos sólidos torna-se importante para o desenvolvimento sustentável da construção civil. O vídeo traz um bom exemplo de disso e aborda uma pesquisa do IPT, que desenvolveu um novo cimento a partir do resíduo sólido da construção civil (RCD). Para assistir ao vídeo (duração de 3 min e 22 segs.), acesse o link a seguir. ACESSAR https://www.youtube.com/watch?v=_5Ev_pmYt38 conclusão Conclusão Atualmente, não é mais possível pensar em desenvolvimento econômico sem pensar no desenvolvimento ambiental e social. Isso é sustentabilidade! O conhecimento técnico sobre a tecnologia do concreto é essencial para tornar mais frequente o uso de concretos especiais que promovam aumento na durabilidade das estruturas com o mínimo de impacto ao meio ambiente. Nesse sentido, a avaliação da microestrutura do concreto permite a correta compreensão do comportamento do material, criando materiais para atender às novas demandas da sociedade. O uso de materiais alternativos no concreto sem comprometer a durabilidade e a segurança estrutural, associado ao consumo inteligente do material é um ponto fundamental que deve ser alcançado para tornar a construção civil uma atividade sustentável. referências Referências Bibliográ�cas ANGELIN, Andressa F.; LINTZ, Rosa C.C.; GACHET-BARBOSA, Luisa A. Uso de argila expandida e sílica ativa no melhoramento dos desempenhos mecânicos, físicos e térmicos de concretos leves estruturais. Revista Matéria , Rio de Janeiro, v. 22, supl. 1, jan. 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s1517-707620170005.0274 . Acesso em: 31 dez. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931 : Execução de estruturas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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