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PRODUÇÃO E TECNOLOGIA DE SEMENTES Francihele Cardoso Müller Campos de produção de sementes Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os atributos que definem a qualidade de uma semente. Identificar as classes de sementes e os respectivos processos de certificação. Definir os passos de uma inspeção nos campos de sementes. Introdução A demanda por sementes de alta qualidade vem aumentando, uma vez que elas são fundamentais no processo de produção. A partir da utilização de sementes de qualidade, é possível presumir o compor- tamento da cultura ao longo do ciclo, bem como seu rendimento. As sementes constituem o insumo com maior valor agregado, uma vez que seu potencial produtivo é determinado pelo potencial genético inerente a elas. Assim, é necessário que o controle do processo produtivo e de certificação de sementes instaure as condutas necessárias para que seja implementado um campo de produção de sementes, garantindo, dessa forma, a manutenção da identidade e da qualidade das sementes. Neste capítulo, você vai estudar o processo produtivo de sementes, quais parâmetros são avaliados para caracterizar sua qualidade e quais classificações de sementes estão previstas na legislação brasileira. Além disso, conhecerá os passos para a realização das inspeções de campos de produção de sementes. 1 Qualidade de sementes A qualidade de sementes corresponde a um conjunto de atributos, responsáveis pela determinação do seu valor para semeadura. Tais atributos são de natureza genética, fi siológica, física e sanitária, e apresentam equivalente importância para determinar a qualidade de sementes. Atributos genéticos Dentre os atributos que garantem a qualidade de sementes, a alta pureza genética apresenta-se como um importante parâmetro, uma vez que é pelas caracterís- ticas intrínsecas da semente que o cultivar expressará plenamente seu ciclo, sua produtividade, sua capacidade de resistir a determinadas doenças, suas características organolépticas, entre outras (KRZYZANOWSKI et al., 2008). No caso do milho-doce, por exemplo, a maioria dos híbridos atuais possui o gene sh2, capaz de atuar na síntese de carboidratos no endosperma das se- mentes, apresentando grande aceitação pelos consumidores. No entanto, essas sementes têm baixo vigor e produzem plântulas muito frágeis, o que caracteriza uma desvantagem (FIGUEIREDO NETO; ALMEIDA; VIEIRA, 2014). No Brasil, existem diversos programas de melhoramento genético que atuam no sentido de produzir cultivares com melhor qualidade genética. Exemplo disso é a produção de sementes com maior quantidade de lignina no seu tegumento, o que pro- porciona maior resistência contra dano mecânico. Outra atividade de melhoramento é a seleção de linhagens a partir de metodologias como envelhecimento acelerado ou ainda pelo método de deterioração controlada. Dentre as características das se- mentes que podem ser melhoradas geneticamente, podemos citar impermeabilidade à água, resistência a fungos, tamanho, entre outras (FRANÇA NETO et al., 2016). Atributos físicos Quando falamos em atributos físicos de sementes, consideramos fatores como pureza física, peso de mil sementes, peso volumétrico e danos mecânicos. A pureza de um lote de sementes indica seu padrão de qualidade em relação à sua composição. Assim, parâmetros como número de sementes de plantas daninhas e outras espécies cultivadas, partículas do solo, restos vegetais, fragmentos de sementes, sementes danifi cadas e pedras são parâmetros importantes para avaliar a pureza (KRZYZANOWSKI et al., 2008). No sistema de certifi cação de sementes brasileiro, existem, para este atributo, padrões estabelecidos para os diferentes tipos de sementes, como mostrado no Quadro 1. Campos de produção de sementes2 Fonte: Adaptado de Brasil (2005). Semente Básica C1 C2 S1 ou S2 Pureza Semente pura (% mínima) 99,0 99,0 99,0 99,0 Material inerte (%) – – – – Outras sementes (% máxima) zero 0,05 0,08 0,1 Determinação de outras sementes por número (nº máximo) Semente de outra espécie cultivada zero zero 1 2 Semente silvestre zero 1 1 1 Semente nociva tolerada zero 1 1 2 Semente nociva proibida zero zero zero zero Verificação de outros cultivares por número (nº máximo) 2 3 5 10 Quadro 1. Padrões de semente de soja no sistema de classificação brasileiro O Quadro 1 apresenta os padrões de pureza para a cultura da soja, de acordo com sua classe, tema que será abordado mais adiante neste capítulo. É possível verificar que nas sementes da categoria básica o número máximo de sementes de outras espécies que podem ser encontradas junto às sementes de soja é bem reduzido. Isso se reflete em um dos atributos que garantem a qualidade física dessas sementes. O peso de mil sementes corresponde a um dado importante na avaliação da qualidade das sementes, utilizado para diferentes finalidades. Traz a informação sobre o tamanho das sementes, bem como sobre sua maturidade e sanidade (BRASIL, 2009). Dessa forma, pode ser utilizado para comparar a qualidade de diferentes lotes de sementes, para determinar o rendimento de cultivos e ainda para calcular a densidade de semeadura. Esse atributo pode gerar grande variabilidade nos valores obtidos, mesmo que dentro de uma mesma espécie. Com o objetivo de estabelecer o peso de um determinado volume de se- mentes, o peso volumétrico consiste em mais um método de aferir a qualidade de sementes. Quando o volume das sementes é dado em hectolitros e seu peso em quilogramas, chamamos essa determinação de peso hectolítrico (hl), característica que sofre influências do clima, solo, adubação, maturidade 3Campos de produção de sementes da semente, entre outros fatores (BRASIL, 2009). Considerando que esse parâmetro refere-se à qualidade da semente, a disponibilidade de nutrientes no solo, por exemplo, pode ser um fator determinante no desenvolvimento da planta e incorporação desses nutrientes na planta e nas sementes. O dano mecânico causado às sementes pode ter sua origem durante as operações de colheita, secagem, beneficiamento, armazenamento e semeadura (Figura 1). Figura 1. Semente de soja danificada mecanicamente. Fonte: Krzyzanowski et al. (2008, p. 3). Os dados mecânicos podem ser caracterizados como (FRANÇA NETO; HENNING, 1984; FLOR et al., 2004; SOUZA et al., 2009): visíveis (imediatos), que podem ser constatados a partir da observa- ção a olho nu em tegumentos quebrados e cotilédones separados e/ou quebrados; invisíveis (latentes), que causam abrasões e/ou danos internos ao em- brião, como trincas microscópicas que podem afetar a germinação, o vigor, o potencial de armazenamento e o desempenho da semente no campo. Campos de produção de sementes4 Atributos fisiológicos Ao observar a uniformidade do estande, a qualidade da semente é facilmente verifi cada. Essa qualidade indica um material sadio, de alto vigor, com capa- cidade de superar as diferentes condições adversas e manter sua vitalidade por certo período de tempo, garantindo sua longevidade (POPINIGS, 1977). A qualidade fisiológica das sementes foi definida por Popinigis (1977) como a capacidade de desempenhar funções vitais. O máximo potencial fisiológico das semente é alcançado próximo à maturidade. Depois disso, elas estão sujeitas à deterioração, seja pela colheita, por condições ambientais adversas, durante a secagem, no processamento ou armazenamento, tornando um desafio a produção de sementes de alto padrão com germinativo e vigor elevados (ALI; RAHMAN; AHAMMAD, 2014; MARCOS FILHO, 2015). Os parâmetros que influenciam no potencial fisiológico das sementes incluem a germinação (viabilidade) e o vigor. Eles controlam a capacidade inerente às sementes de expressar suas funções vitais, independentemente das condições am- bientais, sejam elas favoráveis ou não (MARCOS FILHO, 2015). A germinação de sementes é avaliada a partir da observação da emergência e desenvolvimentodas estruturas essenciais do embrião (sistema radicular, parte aérea, gemas terminais, cotilédones e coleóptilo em Poaceae). Assim, a semente demonstra sua aptidão para produzir uma planta normal sob condições a campo. A velocidade e a uniformidade com que as plântulas emergem dependem do vigor das sementes e das condições ambientais. O vigor das sementes reflete- -se diretamente na capacidade da planta acumular matéria seca. No entanto, quando ocorre o avanço nos estádios de desenvolvimento, esse efeito tende a se reduzir, de modo que o desempenho da planta torna-se mais dependente das relações genotípicas e ambientais (MARCOS FILHO, 1999). Dessa forma, podemos afirmar que alta germinação e vigor são pré-requi- sitos para obtenção de bom estabelecimento de plântulas e, consequentemente, alta produtividade (FIGUEIREDO NETO; ALMEIDA; VIEIRA, 2014). Sanidade A sanidade da semente refere-se à presença ou ausência de patógenos, como insetos, nematoides, bactérias, fungos e vírus. O objetivo da determinação do estado sanitário de uma amostra de sementes é obter informações que possam ser utilizadas para, por exemplo, fazer uma comparação entre a qualidade de diferentes lotes de sementes. Consiste em um parâmetro de avaliação importante porque (BRASIL, 2009): 5Campos de produção de sementes agrega valor ao lote de sementes; pode indicar a necessidade e orientar o tratamento de sementes para o controle de doenças; esclarece a avaliação de plântulas e as causas de baixa germinação e vigor, complementado o teste de germinação. A semente não é um grão que germina, pois ela apresenta atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários que garantem o desempenho agronômico, ponto-chave para o sucesso de uma lavoura. O grão, por sua vez, não é detentor desses atributos, mesmo que muitas vezes possa germinar. 2 Classes de sementes e seu processo de certificação As sementes são identifi cadas de acordo com seu processo de produção e, a partir da Lei nº 10.771, de 5 de maio de 2003 (BRASIL, 2003), que dispõe sobre o Sistema Nacional de Semente e Mudas, a classe de semente fi scalizada foi extinta, passando a classifi car as sementes em genética, básica, certifi cada de primeira geração e certifi cada de segunda geração. Ademais, essa lei reco- nhece as sementes crioulas, também chamadas de cultivar local ou tradicional, aquelas desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária ou indígenas. A classificação de sementes exige muitos passos para que as sementes produzidas sejam de qualidade. Para a classificação, ocorrem inspeções a campo, coletas de amostras e análises dos atributos que são responsáveis por indicar a qualidade das sementes. As sementes podem ser produzidas nas seguintes classes (BRASIL, 2003; BRASIL, 2004; LOPES; ELLERES, 2008): Semente genética — material obtido a partir do melhoramento de plantas, sob a responsabilidade e controle direto do seu obtentor ou in- trodutor, mantendo suas características de identidade e pureza genética. Campos de produção de sementes6 Semente básica — material obtido da reprodução de semente genética, garantindo sua identidade genética e pureza varietal. Semente certificada de primeira geração (C1) — material proveniente da reprodução vegetal de semente genética ou básica. Semente certificada de segunda geração (C2) — material proveniente da reprodução vegetal de semente genética, de semente básica ou de semente certificada de primeira geração. Semente S1 — material de reprodução vegetal, produzido fora do processo de certificação, proveniente da reprodução de C1 e C2, de semente básica ou de semente genética, ou ainda de materiais sem origem genética comprovada, que sejam previamente avaliados, e que sejam de espécies previstas em normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Semente S2 — material de reprodução vegetal produzido fora do pro- cesso de certificação, proveniente da reprodução de S1, C1, C2, semente básica ou genética, ou de materiais sem origem genética comprovada, que sejam previamente avaliados, e que sejam de espécies previstas em normas estabelecidas pelo MAPA. A certificação de sementes é uma das atividades expressas na Lei nº 10.771 e compreendida pelo Sistema Nacional de Sementes e Mudas, consistindo no processo que tem como objetivo a produção de sementes diante do controle de qualidade em todas as suas etapas, desde sua origem genética até o controle de gerações. Conforme o Art. 2º dessa lei, o certificador, pessoa física ou jurídica, deve estar inscrito no Registro Nacional de Semente e Mudas (Renasem) como produtor de sementes, credenciado pelo MAPA, o qual é responsável pelo controle do processo de certificação, supervisão, auditoria e fiscalização. As tarefas de produção e certificação de sementes devem ser realizadas sob a su- pervisão e acompanhamento do responsável técnico em todas as fases do processo, inclusive nas auditorias. A certificação é executada por um certificador ou entidade certificadora diante o controle de qualidade em todas as etapas de produção, inclusive o conhecimento da origem genética e o controle de geração. Assim, garante-se que o processo se encontra em conformidade com o estabelecido em regulamento e normas de certificação (BRASIL, 2004). 7Campos de produção de sementes Atualmente, a agricultura tem demandado a utilização de tecnologias que resultem em produtividade e sustentabilidade, com mínimo impacto sobre o meio ambiente. A utilização de sementes certificadas de alta qualidade tem demonstrado grande importância, com benefício diretos e indiretos (Figura 2). Figura 2. Benefícios da certificação de sementes. Fonte: Adaptada de Melo e Almeida (2014). Por fim, é possível afirmar que as sementes de alta qualidade são respon- sáveis pela população adequada de plantas na lavoura e por maior velocidade de emergência e desenvolvimento das plantas. Considerando todos os aspectos envolvidos na qualidade das semente e suas implicações na implementação e produtividade das culturas, a importância da utilização de sementes de alta qualidade e origem conhecida é clara (BRASIL, 2009). 3 Inspeção de campos de sementes O processo de produção de sementes passa por diferentes etapas. Dentre elas, a inspeção de campos é a mais importante para que se obtenham sementes com a mais alta qualidade em termos de pureza genética, física e sanitária de um cultivar. É nessa etapa que tais parâmetros são avaliados e verifi cados, conferindo seu enquadramento nos padrões de qualidade estabelecidos para cada cultura (BRASIL, 2011). Campos de produção de sementes8 Fases de desenvolvimento da cultura e inspeção De acordo com Brasil (2011), ao longo do desenvolvimento das culturas existem estádios que evidenciam características agronômicas e morfológicas. Assim, a realização das inspeções deve ocorrer prioritariamente nessas fases. Portanto, cada cultura com padrões estabelecidos deve cumprir com certas etapas de inspeção. Em culturas que não possuem padrões estabelecidos, a inspeção deve ocorrer obrigatoriamente nas fases de fl orescimento e pré-colheita. A seguir, são listadas as fases de desenvolvimento das culturas de propagação sexuada consideradas para fi ns de realização das inspeções: Pós-emergência — período entre a emergência das plântulas até início do florescimento. Floração — período em que as flores estão abertas, o estigma encontra- -se receptivo e a antera está liberando pólen. Quando verifica-se 50% ou mais de plantas florescidas, é considerado período de floração plena. Pré-colheita — período em que a semente torna-se mais dura e alcança ou se aproxima da maturação fisiológica. Colheita — período em que a semente encontra-se fisiologicamente madura e seca o suficiente ou úmida. É importante que se realize no mínimo as inspeções obrigatórias nas fases apropriadas. No Quadro2 são indicados, para algumas culturas, os números mínimos de inspeções e os períodos em que deverão ser efetuadas. Cultura/categorias Nº mínimo de inspe- ções Distância mínima (m) Básica C1 C2 S1 e S2 Algodão: Entre cultivares diferentes Entre espécies diferentes do mesmo gênero 2 250 800 250 800 250 800 250 800 Arroz: Plantio em linha Plantio a lanço 2 3 15 3 15 3 15 3 15 Quadro 2. Número mínimo de inspeções e distâncias de isolamento para campos de produção de sementes (Continua) 9Campos de produção de sementes Fonte: Adaptado de Brasil (2011). Cultura/categorias Nº mínimo de inspe- ções Distância mínima (m) Básica C1 C2 S1 e S2 Aveia branca e aveia amarela 2 3 3 3 3 Azevém: Sem bordadura Com bordadura de 5 metros 2 300 200 100 50 50 25 20 25 Feijão e feijão caupi 2 3 3 3 3 Girassol 2 2.000 1.000 1.000 1.000 Mamona 2 1.000 1.000 1.000 1.000 Milho: Híbridos e variedades especiais Demais variedades 2 400 200 400 200 400 200 400 200 Soja 2 3 3 3 3 Sorgo: Cultivares de mesmo grupo Cultivares de grupos diferentes 2 300 600 300 600 300 600 300 600 Trevo: Área menor que 2 há Área maior que 2 ha 2 300 200 200 100 100 50 100 50 Trigo 2 3 3 3 3 Tricale 2 3 3 3 3 Forrageiras tropicais: Espécies autógamas e apomíticas Espécies alógamas 2 3 300 3 300 3 300 3 300 Canola 2 200 200 200 200 Cevada e centeio 2 3 3 3 3 Quadro 2. Número mínimo de inspeções e distâncias de isolamento para campos de produção de sementes (Continuação) Campos de produção de sementes10 Fontes, tipos e localização de contaminantes Os fatores que devem ser observados durante inspeções de campo são variáveis, ou seja, são avaliados de acordo com a cultura e sua fase de desenvolvimento. As fontes de contaminação podem ser: genética — corresponde às plantas da mesma cultura, porém de outros cultivares e de espécies semelhantes com capacidade de polinizar a cultura e produzir sementes; física — corresponde a sementes de plantas da mesma espécie e de outros cultivares, plantas de culturas vizinhas, de outras culturas, silvestres e aquelas com sementes que contenham patógenos (com a tecnologia de organismos geneticamente modificados surgiu uma nova fonte); presença adventícia de eventos geneticamente modificados. Dentre as fontes de contaminantes, apenas a contaminação física poderá, em alguns casos, ser verificada após sua ocorrência, podendo estar presente dentro ou fora (muito próxima) do campo de produção. No Quadro 2, encontram-se as distâncias mínimas de isolamento para algumas culturas, para que não haja contaminação de fora do campo de produção. Já os tipos de contaminantes podem ser classificados nas seguintes categorias:Plantas atípicas — aquelas da mesma espécie da cultura, mas que se diferenciam por características como ramificação, pintas, cor, ciclo de maturação, entre outros, ou ainda a planta que libera pólen indesejável na produção de linhagens progenitoras de híbridos. Plantas atípicas de difícil separação das semente no beneficiamento — são consideradas as plantas da mesma espécie e de cultivar diferente, com características agronômicas distintas; plantas de espécie cultivada, ou seja, de outra espécie de interesse agrícola; plantas de espécie nociva, que produzem sementes que são difíceis de erradicar do campo ou de difícil separação e remoção no beneficiamento; plantas de espécie nociva proibida, cuja presença de suas sementes representa um risco econômico 11Campos de produção de sementes para a cultura e não é permitida juntamente às sementes do lote; plantas de espécie nociva tolerada, cuja presença de suas sementes juntamente à amostra é permitida dentro dos limites estipulados; plantas de espécie invasora silvestre, que produz sementes silvestres reconhecidas como invasoras e sua presença na amostra é limitada. Pragas — espécies, raças ou biótipo de vegetais, animais ou agentes patogênicos nocivos aos vegetais ou produtos vegetais. Amostragem para inspeção A inspeção diz respeito à estimativa da qualidade a partir de seis subamostras, independentemente da espécie. Assim, será possível fazer a determinação da excelência do campo e tomar a decisão de aceitá-lo ou rejeitá-lo. A amos- tra de inspeção consiste em um percurso através do campo de produção de sementes, com delimitação de subamostras para realização da contagem de contaminantes. A subamostra, por sua vez, consiste em áreas cujo tamanho específi co é aferido de acordo com o limite de tolerância para fatores conta- minantes, sempre tomadas ao acaso dentro do percurso de inspeção onde são feitas as observações. Para realizar a amostragem de um campo, é necessário seguir dois requisitos básicos: um padrão de percurso que permita a observação das subamostras e possibilite a visão geral da uniformidade do campo e um sistema de amos- tragem representativo que possibilite a verificação da presença ou não de plantas atípicas. Para percorrer um campo de sementes, é importante utilizar um modelo de percurso. Como os campos possuem formas irregulares e variáveis, o padrão pode ser adaptado à forma de cada um, de modo a permitir que o inspector possa observar todas as partes do campo, das laterais ao centro, percorrendo subamostras em todas as partes do caminhamento casualmente. Na Figura 3, é possível visualizar um modelo de inspeção de um campo de produção de sementes de formato retangular, identificando a localização de seis subamostras ao longo do percurso. Campos de produção de sementes12 Figura 3. Inspeção de um campo de produção de sementes, mostrando seis locais de subamostras tomadas ao acaso durante o percurso. Fonte: Brasil (2011, p. 31). Para iniciar a inspeção no campo, o inspector deve possuir um croqui indicando o modelo de percurso a ser utilizado, no qual serão assinaladas ao acaso as localizações das subamostras. O tamanho dessas subamostras é variável, de acordo com os limites de tolerância para os contaminantes. O conjunto das subamostras forma a amostra de inspeção. Quanto ao tamanho da amostra de inspeção, recomenda-se que tenha tamanho suficiente para incluir a ocorrência de três plantas atípicas e se manter dentro dos limites de tolerância dos padrões. 13Campos de produção de sementes Vejamos um exemplo de determinação do tamanho da amostra para realização de inspeção: se os padrões para determinada cultura permitem plantas atípicas ou contaminantes na proporção de 1/5000, então a amostra para inspeção deve incluir 15 mil plantas. No que diz respeito à inspeção de campos de produção, é indispensável que os responsáveis tenham preparo prévio para exercer essa atividade. Assim, a partir do que foi aqui discutido, podemos concluir que é de grande importância no processo de obtenção de sementes com alta qualidade conhecer bem a origem e a categoria do cultivar a ser implantado em um campo de produção de sementes. ALI, M.R.; RAHMAN, M. M.; AHAMMAD, K. U. Effect of relative humidity, initial seed moisture content and storage container on soybean (Glycine max L. Meril.) seed quality. Bangladesh J. Agril. Res., v. 39, n. 3, p. 461-469, 2014. BRASIL. Decreto nº 5.153, de 23 de julho de 2004. Aprova Regulamento da Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 6-18, 26 jul. 2004. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2004/decreto-5153-23- julho-2004-533120-norma-pe.html. Acesso em: 2 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 10.711, de 5 de agosto de 2003. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1-4., 6 ago. 2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.711.htm. Acesso em: 2 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Guia de inspeção de cam- pos para produção de sementes. 3. ed. Brasília: MAPA/ACS, 2011. Disponível em: https:// www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/arquivos-publicacoes-insumos-agricolas/3494_guia_de_inspecao_sementes.pdf. Acesso em: 3 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa nº 25, de 16 de dezembro de 2005. Estabelece normas específicas e os padrões de identidade e qualidade para produção e comercialização de sementes de algodão, arroz, aveia, azevém, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trevo vermelho, trigo, trigo duro, triticale e feijão caupi. Brasília, DF: MAPA, 2005. Disponível em: https://www.normas- brasil.com.br/norma/instrucao-normativa-25-2005_75583.html. Acesso em: 3 nov. 2020. Campos de produção de sementes14 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília, DF: MAPA/ACS, 2009. FIGUEIREDO NETO, A.; ALMEIDA, F. A. C.; VIEIRA, J. F. Comercialização e qualidade de sementes. In: BARROS NETO, J. J. S. et al. Sementes: estudos tecnológicos. Aracaju: IFS, 2014. p. 213-240. FLOR, E. P. O. et al. Avaliação de danos mecânicos em sementes de soja por meio da análise de imagens. Revista Brasileira de Sementes, v. 26, n. 1, p. 68-76, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbs/v26n1/a11v26n1.pdf. Acesso em: 3 nov. 2020. FRANÇA NETO, J. B.; HENNING, A. A. Circular Técnica n. 9: Qualidade fisiológica e sanitária de sementes de soja. Londrina: Embrapa Soja, 1984. FRANÇA NETO, J. B. et al. Tecnologia da produção de semente de soja de alta qualidade. Londrina: Embrapa Soja, 2016. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream/item/151223/1/Documentos-380-OL1.pdf. Acesso em: 3 nov. 2020. KRZYZANOWSKI, F. C. et al. Circular Técnica n. 55: A semente de soja como tecnologia e base para altas produtividades. Londrina: Embrapa Soja, 2008. LOPES, A. M.; ELLERES, A. S. Semente certificada: ferramenta para o sucesso da lavoura de arroz. Belém: Embrapa, 2008. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream/item/176486/1/Semente-certificada.pdf. Acesso em: 17 out. 2020. MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Londrina: ABRATES, 2015. MARCOS FILHO, J. Teste de envelhecimento acelerado. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA-NETO, J. B. (ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. MELO, B. A.; ALMEIDA, F. A. C.; Produção de sementes – Processo de certificação/ fiscalização. In: BARROS NETO, J. J. S. et al. Sementes: estudos tecnológicos. Aracaju: IFS, 2014. p. 98-121. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. Brasília: AGIPLAN, 1977. SOUZA, D. C. et al. Análise de danos mecânicos e qualidade de sementes de algodoeiro. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, n. 3, p. 123-131, 2009. Disponível em: https://www. scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31222009000300014&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 17 out. 2020. Leitura recomendada SCHUCH, L. O. B. et al. Sementes: produção, qualidade e inovação tecnológica. 1. ed. Pelotas: UFPel, 2013. 15Campos de produção de sementes Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Campos de produção de sementes16
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