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FARMACOLOGIA DOS ANESTÉSICOS GERAIS E LOCAIS Anestésicos locais: Supressão temporária da sensibilidade dolorosa de uma determinada área do organismo. Anestésicos gerais: Depressão reversível do SNC com perda de percepção e de resposta a estímulos. ● ANESTÉSICOS GERAIS Inalatórios 1800: óxido nitroso – gás hilariante (risco de depressão respiratória) 1846: Willian Morton: Éter para extração dentária (inflamatório) 1853 – Clorofórmio para indução do parto (lança perfume) 1929 - Ciclopropano 1956 - Halotano Os anestésicos podem ser INALATÓRIOS ou ENDOVENOSOS e devem oferecer: Sedação e diminuição da ansiedade Perda da consciência e amnésia Relaxamento da musculatura esquelética Supressão dos reflexos indesejados Analgesia Para isso não é só um medicamento que será administrado. - Anestésico ideal: Ação previsível Indução e recuperação rápida Poucos efeitos adversos Estabilidade química Monitoramento da concentração plasmática (inalatórios são mais fáceis) Fácil administração Possibilidade no controle do nível de profundidade anestésica Possibilidade de utilização como agente único Pequeno custo operacional em baixo fluxo Rápida recuperação pós anestésica, principalmente nos anestésicos de baixa solubilidade ● MECANISMO DE AÇÃO Pouco esclarecido Teoria de alvos moleculares em múltiplos níveis do SNC Efeito nas sinapses (pré – liberação dos neurotransmissores; pós – frequência dos impulsos) Transmissão excitatória é mais afetada que inibitória Ação pré-sináptica pode alterar a liberação de neurotransmissores, ao passo que um efeito pós-sináptico pode modificar a frequência ou a amplitude dos impulsos que saem da sinapse. A transmissão excitatória é mais fortemente afetada pelos anestésicos, em comparação com a potencialização dos efeitos inibitórios. Inibitória – AN aumentam sensibilidade dos receptores GABA e glicina, aumenta influxo de Cloreto e saída de K hiperpolariza a celula, fica mais dificil a despolarização o que reduz excitabilidade neural Excitatória = inibição de receptores nicotínicos (despolarização) e muscarinicos, de glutamato, NMDA, serotonina ● ESCOLHA DO ANESTÉSICO A prática moderna também faz associação de fármacos intravenosos e inalatórios para minimizar efeitos colaterais. Escolhidos para obter uma anestesia segura e eficiente baseada no tipo de procedimento e nas características do paciente, como função dos órgãos, condições médicas e medicação concomitante. Pode ser necessário o uso de drogas vasoativas. Sistema cardiovascular: suprimem função cardiovascular; hipotensão; redução da pressão de perfusão. Associar a drogas vasoconstritoras se necessário. Sistema respiratório: deprimem a respiração; inalatórios promovem broncodilatação. Fígado e rins: influenciam a distribuição de longo prazo e a depuração. Flúor, bromo e outros metabólitos dos hidrocarbonetos halogenados podem afetá-los causando toxicidade. SNC: distúrbios neurológicos (epilepsia) influenciam a escolha do fármaco. Gestação: Efeitos na organogênese fetal: benzodiazepínicos (distúrbios SNC). Os anestésicos IV e os opioides deprimem a respiração influenciando a ventilação e a oxigenação adequada durante a cirurgia. Anemia aplástica – deixa de produzir novas hemácias. No SNC causa taquicardia, gritos, gemidos, agitação ● ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS Amplamente usados para facilitar a rápida indução da anestesia e substituíram a inalação como método preferido de indução na maioria das circunstâncias, exceto na anestesia pediátrica. Mas sozinhos não atendem às 5 exigências para anestesia. Os anestésicos intravenosos empregados para indução da anestesia geral são lipofílicos e têm partição preferencial nos tecidos lipofílicos altamente perfundidos (cérebro, medula espinal), o que explica seu rápido início de ação. - CARACTERÍSTICAS GERAIS Rápida indução – “circulação braço-cérebro”. Parte ligado às proteínas plasmáticas, parte livre. Moléculas livres, não ionizadas e lipossolúveis atravessam a barreira hematoencefálica mais rapidamente. Usado como agente único ou em combinação com anestésicos inalatórios para: Suplementar anestesia geral Manter anestesia geral Promover sedação Controlar a pressão sanguínea Recuperação – o fármaco se difunde para tecidos com menor suprimento sanguíneo; concentração no plasma cai; deixa o SNC Redução do DC (hipotensão, choque) - prolonga circulação cerebral ❖ Propofol Entram rapidamente no SNC e deprimem sua função, em geral em menos de 1 minuto. Contudo, a difusão para fora do cérebro também pode ocorrer rapidamente, devido à redistribuição para outros tecidos. O suposto mecanismo de ação do propofol consiste na potencialização da corrente de cloreto mediada pelo complexo receptor de GABAA. Como é lipossolúvel é formulado com emulsão contendo óleo ou glicerina Hipnótico-sedativo usado na indução (30s) ou manutenção da anestesia; T1/2 2 a 4 min Pouca ação analgésica (associar a opióides); Potencialização das sinapses inibitórias (GABA); Podem ocorrer fenômenos excitatórios, como fasciculações musculares, movimentos espontâneos, bocejos e soluços Reduz P.A. – vasodilatação e inibição de barorreceptores. Potente depressor respiratório ❖ Fospropofol Pró-fármaco hidrossolúvel ❖ Etomidato Hipnótico sem ação analgésica, usado na indução. Potencializa as sinapses inibitórias (GABA). Útil para pacientes com doença coronariana, disfunção cardíaca, sob risco de hipotensão = poucos efeitos hemodinâmicos Menor depressão respiratória Efeitos colaterais: contrações involuntárias durante a infusão, dor no local da infusão, náuseas, vômitos Etomidato diminui níveis de cortisol e aldosterona A dexmedetomidina é um potente agonista alfa-2 adrenérgico, oito vezes mais seletivo que a clonidina. Foi demonstrado que seu efeito analgésico espinhal é decorrente da ativação de receptores alfa-2a e alfa-2c em neurônios pós-sinápticos da substância gelatinosa, porém sem afetar a liberação de glutamato. ❖ Cetamina (Quetamina) Não diminui a pressão arterial como os demais fármacos. É considerada “anestesia dissociativa”, em que os olhos do paciente permanecem abertos com nistagmo lento. Pode ocorrer estado eufórico, sendo usada como droga de abuso. Ação cardíaca por estimulação simpática, não é indicado para hipertensos e que sofreram AVE. Sabe-se que os receptores glutamatérgicos (NMDA) possuem papel importante em doenças mentais como ansiedade e depressão. Estudos pré-clínicos em ratos mostraram que antagonistas desse receptor causam efeitos ansiolíticos e antidepressivos. Entre esses antagonistas, a cetamina vem se destacando como potencial fármaco antidepressivo; estudos clínicos mostram que a administração desse medicamento é capaz de aliviar as manifestações clínicas da depressão dentro de poucas horas Potente analgésico; de rápida e curta ação; Inibição do receptor de NMDA (estudos para utilização como anti-depressivo) Induz estado dissociativo, sedação, amnésia, imobilidade, alucinações e delírios = Droga de abuso. Causa estimulação cardíaca - útil para pacientes sob risco de hipotensão, choque. Menor efeito depressor respiratório, potente broncodilatador Efeitos colaterais – aumento da PA e da pressão intracraniana ● ANESTÉSICOS INALATÓRIOS - VANTAGENS Ação previsível Indução e recuperação rápida (gás dissolvido no sangue) Poucos efeitos adversos Não inflamável com estabilidade química Monitoramento da concentração plasmática Fácil administração Possibilidade no controle do nível de profundidade anestésica Possibilidade de utilização como agente único Pequeno custo operacional em baixo fluxo Rápida recuperação pós anestésica, principalmente nos anestésicos de baixa solubilidade - AÇÃO O sangue é um reservatório farmacologicamente inativo, quando o anestésico é muito solúvel no sangue ele demora mais para atingir o coeficiente sangue/gás. Quando ele é menos solúvel no sangue, pouco se dissolve no sangue, atinge equilíbrio mais rápido, induz mais rápido. Os anestésicos inalatórios redistribuem entre os tecidos (ou entre o sangue e o gás) até que ocorra equilíbrio, obtidoquando a pressão parcial do gás anestésico é igual nos dois tecidos. Quando uma pessoa respira um anestésico inalatório por tempo suficientemente longo para que todos os tecidos estejam equilibrados, a pressão parcial do anestésico em todos os tecidos será igual à sua pressão parcial no gás inspirado. Embora sua pressão parcial possa ser igual em todos os tecidos, a concentração de anestésico em cada tecido será diferente. PORTANTO Depende do coeficiente de partição sangue: gás + solúvel no sangue = + lenta a indução e a recuperação O halotano é o protótipo com o qual os novos anestésicos inalatórios são comparados. Quando o halotano foi introduzido, sua rápida indução e pronta recuperação o tornaram o anestésico de escolha. Devido aos efeitos adversos e à disponibilidade de outros anestésicos com menos complicações, o halotano foi substituído na maioria dos países. HALOGENADOS Isoflurano – odor pungente e estimula reflexo respiratório = não é usado em indução inalatória, mais usado. Sevoflurano – baixa solubilidade sangue; pouco pungente; usado em indução inalatória, nefrotóxico. Halotano – potente anestésico, fraco analgésico; oxidação em hidrocarbonetos hepatotóxicos; broncodilatação (pouco usado). Desflurano – baixa solubilidade sangue; estimula reflexo respiratório = não é usado em indução inalatória. - AÇÕES A pressão arterial média tipicamente diminui cerca de 20-25% nas concentrações equivalentes à CAM (concentração alveolar mínima) de halotano, principalmente como resultado da depressão miocárdica direta, levando à redução do débito cardíaco e atenuação da função reflexa barorreceptora. Atividade hipnótica, analgésica, amnésica e relaxante muscular Cardiovascular: vasodilatação e bradicardia – risco de insuficiência Respiratório: depressão *** Hipertermia maligna - esse estado hipermetabólico gera calor e leva à hipoxemia, acidose metabólica, rabdomiólise e um rápido aumento da temperatura corporal, que pode ser fatal se não reconhecida e tratada precocemente. O processo de contração consome o ATP, o esgotamento dos estoques de ATP resulta no rompimento da membrana do músculo esquelético e há um extravasamento dos constituintes celulares, que incluem potássio, creatina, fosfatos e mioglobina. A perda do potássio a partir de células do músculo resulta em acidose metabólica e arritmias cardíacas. Um aumento potencial no consumo de oxigênio por meio da glicólise e do metabolismo aeróbico descontrolados leva a hipóxia celular, acidose láctica progressiva e excesso de geração de dióxido de carbono NÃO HALOGENADO - Óxido nitroso Não deprime respiração, não causa relaxamento muscular, efeito moderado a nulo no sistema cardiovascular, menos hepatotóxico = mais seguro Não irrita vias aéreas. Deve ser usado com outros anestésicos pois não produz hipnose (anestesia) profunda. Confusão mental. Age inibindo os receptores NMDA – inibe exocitose de neurotransmissores Anestésico geral fraco, potente analgésico Usado muito em odontologia Pouco solúvel no sangue Bloqueia os canais de NMDA e impede entrada de Ca2+, não ocorre despolarização e liberação dos neurotransmissores CONCENTRAÇÃO NECESSÁRIA → 105% ● FASES DA ANESTESIA A anestesia geral segue 4 estágios: Indução – Propofol i.v. (inconsciência em 30/40 s); Sevoflurano. Profundidade – 4 estágios causados por depressão crescente do SNC. Manutenção – anestésicos inalatórios + opióide ou outros i.v. Monitorar sinais vitais e resposta a estímulos. Recuperação - respiração espontânea, P.A. e F.C. aceitáveis, reflexos intactos e sem depressão respiratória. ● CLASSES DE FÁRMACOS ASSOCIADOS NA ANESTESIA GERAL - SEDATIVO: promove a sedação do SNC, inconsciência, sono, perda de memória - ANALGÉSICO: promove a analgesia (opióides- fentanil tem potência alta e rápido início) - RELAXANTE MUSCULAR: evita contratura muscular reflexa durante o procedimento operatório ● ADJUVANTES Adjuvantes podem colaborar e ser indicações caso seja necessário. Diminuição de ansiedade: benzodiazepínicos (Midazolan) Diminuição de secreção gástrica: bloqueadores H2 (Ranitidina) Evitar reações alérgicas: anti-histamínicos (Difenidramina) Evitar aspiração de conteúdo estomacal e êmese pós-operatória: antieméticos (Ondansetrona) Evitar bradicardia e secreção de líquidos no trato respiratório: anticolinérgicos (Atropina) - BARBITÚRICOS (Tiopental) Hipnótico-sedativo potente, fraco analgésico de rápido indução (~ 1min) e ação ultracurta Substituídos pelo propofol como indutor Aumentam neurotransmissão inibitória e reduzem a excitatória Vasoconstritores cerebrais – reduzem fluxo e volume sanguíneo e PIC Reduzem P.A. (dose dependente) – vasodilatação periférica transitória Depressores respiratório – apneia, tosse, broncoespasmo - BENZODIAZEPÍNICOS (Midazolam) Usados no pré-operatório como sedativo, ansiolítico e amnésico Rápido início de ação Pouca ação cardiovascular e potentes depressores respiratórios Benzodiazepínico + propofol + opióides = melhor sedação e analgesia Ações interrompidas pelo antagonista flumazenil - AGONISTA ADRENÉRGICO ALFA-2 (Dexmedetomidina / Clonidina) Usado em UTI e cirurgias. Efeito sedativo, analgésico, simpatolítico e ansiolítico (potente agonista α-2) Reduz a necessidade de anestésico volátil, sedativos e analgésicos Produz sedação sem depressão respiratória ● ANESTÉSICOS LOCAIS Promovem a supressão temporária de toda sensibilidade de uma área específica. Não promovem perda de consciência. Impedem, de modo reversível, a gênese e a condução de impulsos nas fibras nervosas sensitivas. Bloqueio de canais de sódio pelo lado de dentro, pela afinidade. Portanto, para a sua ação é necessário que atravesse a membrana (ser lipossolúvel, não iônico). Até o equilíbrio a anestesia “não pega”. A inflamação acidifica o meio, o que altera a capacidade de dissolução. A forma catiônica sem carga do fármaco penetra na membrana, após isso ocorre ligação com cátion e ação no receptor dos canais de NA, bloqueando e prevenindo o aumento transitório na permeabilidade da membrana do nervo ao Na+, o que é necessário para o potencial de ação. A propagação dos potenciais de ação é bloqueada, a sensação não pode ser transmitida desde a fonte do estímulo até o cérebro. Aumento da concentração, aumento do limiar de excitação, condução de impulsos mais lenta, amplitude do PA cai até ficar abolida. Mecanismo semelhante ocorre com alguns venenos como de plantas, escorpiões, sapos, baiacu. - FATORES QUE INTERFEREM NA ANESTESIA LOCAL ★ pKa do fármaco (maioria base fraca) e pH do tecido ★ Lipossolubilidade do fármaco ★ Tempo de difusão da ponta da agulha – nervo (início de ação) ★ Tempo de difusão para fora da fibra (duração) uso de vasoconstritores (epinefrina) ★ Característica da fibra – mielinizadas são bloqueadas mais rapidamente A maioria tem pKa de 7.5 a 9 – bases fracas sem carga (catiônicas) que são mais ativas no receptor e penetram mais nas membranas. PH baixo favorece a forma com carga, menos penetração na membrana pode cair em locais infectados, retardando o início da ação ou mesmo impedindo-o. Quanto mais lipossolúvel + potente, mais duração, e demora + para produzir efeito clínico Os anestésicos locais causam vasodilatação, levando à rápida difusão para fora do local de ação e diminuindo a duração quando esses fármacos são administrados sozinhos. Acrescentando o vasoconstritor epinefrina, a velocidade de absorção e de difusão do anestésico local diminui. Isso minimiza a toxicidade sistêmica e aumenta a duração de ação. ● CLASSIFICAÇÃO Butirilcolinesterase pode ser encontrada no intestino, plasma e em outros tecidos em menor quantidade. Amidas metabolizadas principalmente no retículo endoplasmático liso hepático, por isso, deve-se evitar o uso externo de anestésicos locais amídicos a pacientes com grande lesão hepática. Prilocaina tem na pomada EMLA – lidocaina + prilocaina ● FARMACOCINÉTICA ● APLICAÇÃO - TIPOS DE ANESTESIA Anestesia superficial (tópica): A anestesia das mucosas do nariz, da boca e garganta, da árvore traqueobrônquica,do esôfago e do trato geniturinário pode ser conseguida com a aplicação tópica. Os anestésicos locais são rapidamente absorvidos na circulação depois da aplicação tópica nas mucosas ou na pele exposta. Por essa razão, a anestesia tópica sempre acarreta o risco de reações tóxicas sistêmicas. Olho, nariz, boca, árvore brônquica, esôfago, geniturinário Lidocaína, tetracaína, benzocaína. Anestesia infiltrativa: Injeção direta no tecido para alcançar os ramos terminais nervosos; Cirurgias menores (em associação com adrenalina – não em dedos da mão ou do pé – lesão isquêmica). Ex. Retirada de verrugas, cistos, procedimentos odontológicos Lidocaína, bupivacaína Anestesia regional ou em plexos nervosos: Ao redor de nervos periféricos ou plexos nervosos. Alcança nervos motores somáticos (relaxamento) Ex. Bloqueio regional – nervo trigêmio, maxilar, cotovelo, mão Bloqueio de plexos: braquial e cervical. Derivados xilênicos e tetracaína
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