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Ground school – Aeronave Beechcraft King Air C90 Ground school é o treinamento teórico sobre a aeronave que o piloto voará, seja no curso de piloto privado, no início de sua caminhada na aviação, seja na companhia aérea, operando aeronaves equipadas com motores a reação (conhecidas como aeronaves TIPO). Este é o primeiro passo para se entender o funcionamento dos sistemas, o comportamento da máquina para cada situação e os procedimentos que devem ser executados, antes de passar para o treinamento prático. Dessa forma, um ground school bem executado proporciona ao piloto um conhecimento aprofundado sobre o seu avião, que poderá fazer a diferença em qualquer cenário da operação. Neste tópico, teremos um breve ground school da aeronave turboélice Beechcraft King Air serie C90. A fabricante Beechcraft possui outros modelos de aeronaves King Air – F90, B200, B250, B300 e B350 – todas podem ser vistas como variantes do modelo inicial o A90 King Air, que, por sua vez, é uma evolução do Queen Air, um avião executivo equipado com motores a pistão, com capacidade para nove ocupantes. Todos os aviões da família King Air usam como base a fuselagem que foi desenhada para o Queen Air. Todos os dados técnicos apresentados aqui são retirados do manual dos modelos C90 GTi/GTx. A AERONAVE E SUAS ESPECIFICAÇÕES Figura 2. Layout do King Air. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 21. King Air C90 é uma aeronave asa baixa, turboélice, de alta performance, desenvolvida na década de 1970 e voltada para a aviação de negócios. O modelo foi desenvolvido para ser um avião executivo versátil, que pudesse operar em pistas variadas, preparadas ou não. Tem capacidade máxima para até 13 ocupantes, porém sua configuração normal é de até oito ocupantes – seis passageiros e dois pilotos, ou de sete passageiros e o piloto, já que é certificado pela FAA para operação single pilot. As versões A e B são equipadas com motores PT6A-21A, já as versões mais recentes contam com os motores Pratt & Whitney PT6A-135A, além do conjunto quadripá de hélices Hartzell. Como especificações dos equipamentos GTi e GTx, há os dados especificados na Tabela 4: Tabela_4.pdf 463.9 KB As velocidades operacionais são as seguintes para os dois modelos: Tabela 5. Velocidades operacionais do King Air C90 GTi/GTx. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 23. (Adaptado). https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1932.61762/content/_4387102_1/scormcontent/assets/iGtUFoV0d9wowU1B_gAFNIS_Akkhbw2w8-tabela-4.pdf https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1932.61762/content/_4387102_1/scormcontent/assets/iGtUFoV0d9wowU1B_gAFNIS_Akkhbw2w8-tabela-4.pdf https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1932.61762/content/_4387102_1/scormcontent/assets/iGtUFoV0d9wowU1B_gAFNIS_Akkhbw2w8-tabela-4.pdf https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.1932.61762/content/_4387102_1/scormcontent/assets/iGtUFoV0d9wowU1B_gAFNIS_Akkhbw2w8-tabela-4.pdf A cabine de comando do King Air é otimizada para operação com um piloto, não significando que a operação com dois pilotos fique comprometida. As versões GTi e GTx fazem uso do glass cockpit, filosofia que emprega telas multifuncionais no lugar dos mostradores analógicos que equipam versões mais antigas da aeronave. Atualmente empregam o painel Collins Pro Line 21, que conta com três telas LCD – Adaptative Flight Display (AFD) – dois PFDs (Primary Flight Display), um para cada piloto, e um MFD (Multi-Function Display) no centro do painel. Os pilotos possuem praticamente todas as informações relacionadas com a aeronave e com a operação apresentadas nestas telas, reduzindo a carga de trabalho. Esta geração de C90 também é dotada de um FMS – Flight Management System, e de uma CDU – Control Display Unit, através dos quais os pilotos inserem dados relativos ao plano de voo e à performance do avião. Além das telas, a cabine ainda conta com o painel de alertas (annunciator panel), a unidade de rádio (Radio Tunning Unit – RTU) e um display secundário de voo (Secondary Flight Display System – SFDS), que funciona como backup para o caso de perda das telas. Se isso ocorrer, os pilotos ainda terão dados referentes à velocidade, nível de voo, proa, e ainda será possível executar aproximação por ILS usando o display secundário. No topo do painel, está localizado o FGP – Flight Guidance Panel, que controla o FGS – Flight Guidance System. Os pilotos podem inserir dados através desse painel diretamente no piloto automático, e as informações serão apresentadas nos PFDs. Os dados dos motores são apresentados no topo do MFD, esta parte da tela é chamada de Engine Indicating System – EIS. Na Figura 3, podemos ver a disposição da cabine de comando: Figura 3. Disposição dos aviônicos do King Air C90 GTi/GTx. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 33. MOTOR TURBOÉLICE Os modelos C90 GTi/GTx são equipados com motor turboélice da Pratt & Whitney, o PT6A-135A, que produz 750 shp. Os modelos da série C90 A e B usam o PT6A-21A, que produz 550 shp. Entretanto, a Beechcraft decidiu aplicar um derate no 135A que equipa os modelos GTi e GTx, dessa forma, os motores geram 550 shp, que é apresentado no manual da aeronave. O motor PT6A é um turboélice de fluxo de ar reverso e turbina livre, que aciona a hélice através de uma caixa de redução. O termo “turbina livre” se refere ao design da seção de turbinas do motor. No caso do PT6A, existem duas seções: uma responsável por girar o compressor e a caixa de acessórios – turbina de compressão – e outra que vai girar a seção de potência, caixa de redução e hélice – turbina de força/potência. As turbinas são montadas em eixos diferentes, que não se conectam, e direções opostas, e são movidas pelo fluxo de ar que circula pelo interior do motor. Figura 4. Seções de potência e compressão do PT6A. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 152. O termo fluxo de ar reverso se explica pelo modo como o ar é admitido no sistema. O ar é direcionado pelo duto de admissão para a parte de trás do motor. Ali, se localiza o compressor, e segue para a parte da frente, onde estão a câmara de combustão, seção de turbinas e o escapamento. O conjunto de potência que equipa os GTi/GTx ainda conta com hélices quadripá da Hartzell, com 90 polegadas de diâmetro. A configuração com quatro pás reduz a velocidade na ponta das hélices e a vibração gerada pelo movimento. Além disso, o sistema é completado com um governador hidráulico. Este conjunto possibilita ao King Air a aplicação de reverso durante o pouso. Figura 5. Fluxo de gases do PT6A. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 151. Como já mencionado, o PT6A-135A possui um derate por razões de performance e vida útil do motor, e isso se explica por conta de deficiências observadas nas versões A e B do C90. O PT6A-21A gera 550 shp, porém, tem restrição durante a subida. Ao cruzar 14.000 ft, em regime de potência máxima de subida, o motor gerará 550 shp, porém, o indicador de temperatura interna (ITT) das turbinas atingirá o arco vermelho (próximo de 695 ºC), fazendo com que uma redução de potência seja aplicada, e reduzindo sua disponibilidade. O PT6A-135A tem um ESHP – Equivalent Shaft Horsepower – que é a potência máxima desenvolvida pelo motor quando combinando a potência no eixo de transmissão mais hélice com a tração gerada pelos gases da exaustão. Nessa condição, o valor máximo de ITT será de 800 ºC, pois, uma vez que esse motor recebe o derate e passa a gerar somente 550 shp, temos uma margem de temperatura muito grande, o que possibilita ganhos de potência e desempenho para ele e a aeronave. Assim, a restrição de temperatura durante a subida deixa de existir e o avião pode subir com 550 shp até 18.000 ft. PRINCIPAIS SISTEMAS Como dito anteriormente, este é um ground school bemresumido sobre o King Air C90, portanto, agora falaremos de alguns dos sistemas que fazem parte da aeronave. Um estudo mais aprofundado deles, você terá se no futuro vier a voar neste avião, ou se por curiosidade ler seu manual de treinamento. Um dos principais sistemas do C90 GTi/GTx é o sistema de combustível. Cada motor é alimentado pelos seus respectivos tanques de combustível, a única exceção é durante o crossfeed em caso de falha da bomba de combustível. A capacidade máxima utilizável do sistema é de 384 galões – 192 galões em cada asa, divididos da seguinte forma: 40 galões nos tanques de bordo de ataque (Figura 6, 1); 23 e 25 galões nos dois tanques localizados no bordo de fuga (Figura 6, 2); 44 galões nos tanques centrais, localizados próximos as raízes das asas (Figura 6, 3); 61 galões nos tanques de nacele (Figura 6, 4). Cada tanque de nacele se liga diretamente com o respectivo motor, e recebe combustível do tanque central através de uma bomba de transferência (boost pump ou bomba mecânica do motor). Os outros tanques da asa transferem combustível para o central por gravidade, seguindo a sequência de fluxo: asas – central - nacele. Uma característica da série C90 é que existe uma válvula que impede o retorno de combustível do tanque de nacele para os das asas (bordos de ataque e fuga, mais tanque central), assim, o combustível só flui em uma direção. Para além, o bocal de abastecimento dos tanques da asa fica no mesmo nível que o tanque de nacele, e por essa razão, ao abastecer, deve-se iniciar sempre pelo tanque de nacele e, na sequência, os da asa, assim se garante que a quantidade correta de combustível foi para cada tanque. Figura 6. Sistema de combustível do King Air C90 GTi/GTx. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 120. Outra característica presente nesta aeronave é a de que o único tanque que fornece combustível para o motor é o da nacele, nenhum outro se conecta ao motor. Assim, todo o combustível passa pelo tanque de nacele, que conta com um sensor que ativa uma bomba de transferência sempre que a quantidade de combustível em seu interior é reduzida em 10 galões. Com essa configuração, é, hipoteticamente, possível sofre uma pane seca no King Air com combustível a bordo, basta que a bomba de transferência do tanque de nacele pare de funcionar e o sistema de crossfeed – automatizado – não funcione. Para além do sistema de combustível, o C90 conta com o sistema de pressurização, que possibilita voos em altitudes elevadas, com regimes de cruzeiro mais econômicos e mais conforto para os passageiros a bordo. Nos primeiros modelos do King Air (A90 e B90), a pressurização era feita por uma bomba mecânica ligada a uma caixa de transmissão localizada no motor esquerdo. A sangria de ar dos compressores só foi adotada na versão C90 e vem sendo empregada desde então. O ar é sangrado dos compressores dos dois motores da aeronave, gerando redundância para o caso de pane em um deles. Isso eleva o nível de conforto, pois a sangria possibilita uma pressurização melhor e a redução da altitude de cabine para níveis mais confortáveis, além de melhorar a segurança do voo, como já mencionado em relação a panes. O sistema empregado no GTi/GTx consegue manter uma altitude de cabine de 6.000 ft quando nivelado a 20.000 ft em um gradiente diferencial de pressão de 5,0 +/-0,1 psi. 5,0 é o valor máximo utilizado para gradiente, pois a estrutura do avião é projetada para resistir a valores superiores, porém não irá resistir a pressões diferenciais negativas. Para descobrir qual será a altitude de cabine, o piloto deverá utilizar o Gráfico 1. Gráfico 1. Diferencial de pressão do King Air C90 GTi/GTx. Fonte: Flight Safety International, 2010, p. 266. Vendo o Gráfico 1, sabemos que, voando nivelado a 20.000 ft, com um gradiente diferencial de 4,0 psi, a altitude de cabine será de 8.500 ft. Assim, podemos chegar ao valor de altitude de cabine a 30.000 ft, mantendo o gradiente diferencial máximo (5.0 psi), que será 12.000 ft. Vale ressaltar que 12.000 ft ainda é uma altitude em que podemos respirar sem necessidade de oxigênio suplementar. PERFORMANCE O C90 GTi/GTx tem uma velocidade máxima de cruzeiro em torno de 272 kt, com um alcance máximo de 1260 nm. Como é uma aeronave que opera em pistas preparadas e não preparadas, distância de pouso e de decolagem são fatores importantes para a operação. Para decolar, o C90 GTi/GTx usa 605 metros, para pousar, 640, sendo 321 metros a distância de desaceleração. Seu teto máximo operacional é de 30.000 ft, permitindo uma viagem mais confortável para seus passageiros, e voando em espaço aéreo RVSM (Reduced Vertical Separation Minimum), possibilitando voos mais diretos. A razão de subida máxima fica em torno de 1900 ft/min.
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