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Revelada (Imperio do Caos Livro - Jessica Macedo

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Prévia do material em texto

Copyright ©2023 Jéssica Macedo
 
Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento ou a
reprodução de qualquer parte desta obra - física ou eletrônica -, sem
autorização prévia do autor. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Capa
Mirella Santana
Projeto Gráfico
Jéssica Macedo
Revisão
Deborah Ratton
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos, e
locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum
período da história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer
semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
 
 
Sumário
Sumário
Sinopse
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Leia antes
Sacrificada (Império do Caos Livro 1)
 
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Sinopse:
Ele era o vilão do mundo dela...
Em um mundo corrompido e dominado pelos elementum, Arden de Haddan
se tornou o imperador do Caos. O brutal líder da Nação do Fogo fez as
cidades se ajoelharem diante da sua crueldade e tirania. Seu nome era
temido e ele fazia questão de lembrar aos seus inimigos que não havia
piedade para aqueles que o desafiassem.
 
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Mari era herdeira de um poderoso clã, mas foi rejeitada desde a infância,
tratada como a escória. Ela não era nada e o destino se mostrou ainda mais
cruel para a jovem inocente quando foi usada em benefício de sua família.
 
Ao se ver cara a cara com um homem mais assombroso do que o próprio
Diabo, ela saberá que o seu sacrifício é apenas o início. Em um jogo cruel
de política e intrigas, Mari descobre mais sobre si mesma e a proximidade
com Arden evolui de pavor e repulsa a uma paixão avassaladora.
Entretanto, quando se há poder envolvido, o preço sempre pode ser alto
demais.
Rendida (Império do Caos Livro 2)
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Sinopse:
Entregue para a morte, ela ressurgiu das cinzas, mas se esqueceu de que ele
ainda era o vilão.
Nos braços do Imperador do Caos, a jovem princesa da Nação da Água
revelou poderes que desconhecia e o salvou de um final trágico. Mari, que
por muito tempo foi tida como uma medíocre, descobriu em si uma força
narrada apenas em lendas.
 
Até controlar todo poder que existe dentro dela, precisará de muita
dedicação, mas está disposta a dar tudo de si para se tornar mais forte e
construir um lar onde finalmente se encontrou. Entretanto, ela não fazia
ideia de que era apenas uma peça num plano maior do Senhor do Fogo.
 
Arrasada pela verdade, Mari decidiu que não seria mais manipulada e
lutaria para a sua liberdade. Não disposta a se tornar uma arma no jogo de
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poder entre as nações, vai precisar fugir e se esconder enquanto busca
aliados nas outras nações dispostos a ensiná-la a controlar os demais
elementos.
 
Em sua busca pelo domínio do mundo, Arden não vai desistir facilmente de
sua arma mais poderosa e escapar dele será um dos muitos desafios que
Mari terá que enfrentar.
 
 
Sinopse
 
Ela fugiu para não ser controlada, mas nada tem mais poder sobre si
do que o coração…
 
Com o objetivo de dominar todos os elementos, Mari viajou pelas
outras nações, fez aliados, inimigos e descobriu novos perseguidores que
desejavam a mesma coisa dela: poder.
Sabia que nunca estaria a salvo se não pudesse garantir a sua própria
proteção. Embora já houvesse se tornado muito poderosa, ainda faltava um
elemento, o Fogo. Para isso teria que retornar ao local das suas maiores
dores e rever aquele que havia despedaçado o seu coração.
Não há nada na Grande Nação do Fogo que o imperador não saiba e
Mari tinha ciência disso, voltar para lá significava estar diante dele
novamente.
Ela estava disposta a aceitar a ajuda do imperador para dominar o
Fogo, mas prometeu a si mesma que jamais confiaria em Arden novamente.
Porém, o Grande Senhor do Fogo está longe de ser o seu único desafio,
porque as outras nações descobriram sobre ela e não estão dispostas a
deixar tamanho poder nas mãos do tirano. Logo Mari vai perceber que o
jogo de poder é muito maior do que ela imaginava e que Arden não é o
único que anseia usá-la como arma de guerra.
 
 
Capítulo um
 
 
Depois que toda a confiança que eu tinha nele ruiu como um castelo de
cartas atingido por uma brisa, acreditei que não voltaria a pisar naquele local. O
palácio de Haddan, que por um tempo fora o mais próximo de um lar para mim,
transformou-se em partes das lembranças tristes de um coração devastado.
Embora ainda sentisse a dor que me fizera partir, compreendia que não era
a mesma mulher que havia fugido, longe de Arden, da minha família e de todos
aqueles que um dia me viram como ferramenta para os seus objetivos, havia me
encontrado. Durante aquele tempo pude perceber o que eu era sem a influência
deles.
Estava de volta ao Império do Fogo, onde uma vez fui posta diante da
morte e acabei revelando uma essência desconhecida em mim. Sem dúvidas, a
princesa rejeitada pela família, descrente do próprio poder e vista como a escória
havia ficado em um passado que felizmente parecia distante.
— Mari! — ouvi o grito da Rory correndo em minha direção quando desci
do avião na pista de pouso, no principal palácio do Imperador do Fogo. — Você
está viva!
Minha amiga parecia surpresa e um tanto emocionada ao me ver depois de
todo aquele tempo. Eu não tinha certeza de quantos dias ou meses haviam se
passado desde que deixei aquele local, mas sabia que fora o bastante.
Parecia ser algo terrível Rory cogitar que eu pudesse estar morta,
entretanto as possibilidades eram tão vastas que aquele parecia ser um destino
provável para uma garota sozinha, solta sem proteção, vagando de um canto para o
outro. Contudo, esse tempo foi necessário para que eu me encontrasse e
descobrisse que não era uma mulher indefesa.
Na primeira vez que pisei naquele palácio, eu tinha medo de tudo, mas
naquele instante eu já não temia mais nada. Ainda não tinha controle do elemento
fogo, porém os outros três me garantiam poder o bastante para enfrentar um
exército.
Eu sou poderosa!
Aceitar isso mudava tudo.
— É bom ver você, Rory. — Apartei o abraço, afastando-me para enxergá-
la melhor.
Vasculhei o seu corpo rapidamente, fora as antigas cicatrizes de
queimaduras pré-existentes à minha partida, não encontrei nenhum ferimento
novo. Ela estava com as bochechas coradas além de um ar saudável, indicando que
provavelmente não fora punida pela minha fuga. Com sorte, o general com quem
se envolvera a protegera da fúria do Arden, pois eu sabia que o Imperador do Fogo
não era conhecido pela sua paciência e piedade.
— Parece tudo bem.
— Eu estou bem — garanti a ela e minha cabeça se virou brevemente,
fitando Arden em outro ângulo.
Depois do que acontecera e independentemente dos meus sentimentos,
havia algo de que eu tinha certeza: não confiava nele.
As palavras e promessas do Grande Senhor do Fogo se mostraram vazias
depois que percebi que não passavam de mera manipulação. Fora uma tola em
acreditar por um momento que aquele homem nutria qualquer sentimento que não
fosse por si mesmo.
Então por que eu estava ali?
Ainda que fosse óbvio, precisava me recordar do motivo que me levara a
concordar com o convite de voltar ao palácio de Haddan. Arden era e continuaria
sendo o melhor dominador de fogo e eu precisava aprender o elemento. Poderia
até ir até outra pessoa e pedir ajuda, mas dificilmente encontraria alguém que não
fosse fiel ao imperador, por devoção ou medo, todos da Nação faziam exatamente
o que ele desejava.Seria um desafio insuperável passar despercebida em um momento em que
todos sabiam quem eu era.
Por dezenove anos da minha vida, não signifiquei nada para ninguém, era
apagável e esquecível. Um membro da família real de Andria que a minha avó
preferia esquecer, fingir que nunca nasceu. No entanto, com meus poderes
revelados, eu não era apenas alguém conhecido por todos, mas uma arma que
desejavam ter ao seu lado.
Arden havia se ajoelhado diante de mim e dito que o mundo me
pertenceria, mas eu não me convenceria facilmente com o seu discurso como
antes. Aquele homem já tentara me manipular e isso não havia mudado. Ele
poderia estar tentando uma alternativa nova para me ludibriar.
O que o poderoso Imperador do Fogo provavelmente não estava levando
em consideração era que, apesar de ele ser o mesmo homem, eu não era a mesma
mulher. O coração que ele havia partido ainda estava lá, recordando-me de que o
homem diante de mim era exatamente o bárbaro cruel, o conquistador impiedoso e
o manipulador tirano que as outras nações descreviam.
Arden era o vilão, só eu tinha sido tola para pensar que talvez as outras
nações estivessem erradas, e ele, certo.
O tirano queria conquistar o mundo e eu tinha o poder de fazer isso.
Só que agora o jogo era diferente, eu sabia das regras, das intenções dele e
estava preparada para isso, mas era a minha vez de usá-lo ao meu favor e aprender
o que precisava.
Ele iria aprender a lidar com as minhas regras, porque eu tinha o poder de
fazê-lo se curvar e não teria medo de usá-lo.
Arden não iria mais usar o meu coração para me manipular. Ao menos eu
tinha repetido isso para mim milhares de vezes.
— Entregue os seus pertences para que os empregados os levem aos
meus…
— Quero meu antigo quarto — cortei-o antes que completasse a frase.
Eu estava de volta ao palácio, todavia não retomaria o espaço na sua cama.
Não éramos mais um casal, se é que havíamos sido em algum momento.
Arden ficou em silêncio por alguns instantes e eu vi chamas vibrarem em
seus olhos vermelhos, mas conteve muito bem qualquer vestígio de revolta. Ele
não era apenas o melhor dominador de fogo, também tinha uma habilidade
singular de esconder os próprios sentimentos, o que eu provavelmente precisava
aprender.
— Como quiser — assentiu.
Tirei a minha pequena mochila e entreguei ao criado. Eu não tinha muita
coisa e, andando de um lado para o outro, acabava sendo melhor assim, porque,
quanto mais pertences, mais difícil de carregar.
Isqueiro se remexeu debaixo da minha blusa e apontou a cabeça na gola da
minha roupa, chamando a atenção do Arden, que até o momento não o havia visto.
— Tem uma coisa em você! — Entrou em posição de ataque, mas movi
sua mão para trás usando o ar antes que fizesse algo.
— Não é uma coisa. — Cerrei os dentes. — É meu amigo.
— Parece que os seus meses longe foram muito solitários para considerar
isso como um amigo.
— Tenho absoluta certeza de que ele é bem mais confiável do que a
maioria das pessoas que cruzaram o meu caminho.
Era muito mais do que uma indireta, mas Arden fingiu não levar para o
lado pessoal.
— Imagino que ele não precise de nenhum tratamento especial.
— Isqueiro está bem. — Empurrei-o de volta para que se escondesse nas
minhas vestes.
— Achei fofinho — comentou Rory.
— E você, precisa de algo? — perguntou Arden.
— Apenas um tempo para me acomodar e um banho.
— Eu vou ordenar…
— Ainda me lembro de como tudo funciona por aqui e Rory pode me
ajudar. — Passei por ele, dando as costas, e segui pelo corredor com a minha
amiga assim que envolvi os ombros dela, empurrando-a.
Estávamos distantes alguns metros, longe o bastante para que Arden não
nos ouvisse, quando ela exclamou:
— O que foi aquilo?
— Aquilo? — fiz-me de desentendida.
— Você saiu daqui completamente apaixonada por aquele homem,
desapareceu por quase um ano e agora retorna com ele, mas parece prestes a
esfolá-lo com as unhas. O que foi que eu perdi?
— Eu fui uma tola, Rory.
— O que está dizendo?
— Era óbvio e ainda assim eu não notei. Arden quer dominar as outras
nações e sabe que eu sou a forma mais eficaz de realizar esse desejo. O imperador
não ama nada além da possibilidade de se tornar o senhor do mundo.
— Tem certeza?
— Absoluta — afirmei com convicção.
— O tempo sem você foi bem agitado aqui — disse enquanto ainda
caminhávamos pelo longo corredor e virávamos na direção da ala dos aposentos.
— O imperador não ficou nada contente ao retornar e perceber que você não
estava aqui. Se não fosse o Vemen, ele teria me matado.
— A culpa não é sua.
— O que aconteceu? — Empurrou-me para o meu antigo quarto e fechou a
porta para que tivéssemos privacidade.
Olhei em volta e percebi que o ambiente havia sido deixado exatamente da
forma como estava quando eu saíra, tive a momentânea impressão de que não
havia se passado tanto tempo.
Peguei Isqueiro e o coloquei sobre a cama. O meu amiguinho afofou o
colchão e acomodou-se em uma posição espiralada.
— Ele é fofinho — comentou Rory.
— Sim. — Sorri. — Tem sido a minha principal companhia desde que
deixei o Império do Fogo.
— Achei que fosse encontrar o imperador, que ficariam juntos, quem sabe
em uma tenda quente…
— Foi o que eu imaginei até chegar lá. — Soltei um longo e profundo
suspiro ao me recordar do que acontecera. — Antes que o Arden me visse, eu o
escutei conversando com um dos generais, falando sobre a minha importância
naquela guerra e que eu era uma ferramenta crucial para os seus planos. Ele não
sente nada por mim, só queria me manipular para que eu lhe desse o que sempre
desejou.
— Tem certeza?
— Sim, e provavelmente Vemen sabe disso.
— Ele nunca me falou nada, eu juro…
— Tudo bem, Rory. Por que ele falaria? Não o julgo por isso, no fim todos
os dominadores do fogo são fiéis ao Arden. Foi por isso que eu voltei. Seria
impossível aprender o elemento sem que ele soubesse.
— Então conseguiu?! Vi você usando o ar contra ele.
Balancei a cabeça fazendo que sim.
— Isso é incrível! Dominar todos os elementos parecia impossível, mas
você consegue.
— Ainda falta o fogo, mas eu já tenho domínio sobre os outros três.
— Como?
— Eu tive ajuda.
Recordei-me do Drake e de quanto fora fundamental para que eu
aprendesse não apenas a dominar a terra, ele havia me apresentado alguém para
me ajudar com o ar e a compreender outras coisas sobre mim mesma.
Pensei na última vez que o vira na passagem pela fronteira sem me revelar.
Dificilmente ele apoiaria o fato de eu estar de volta ao Império do Fogo.
Aceitando as verdadeiras intenções do Arden, era impossível ter um pensamento
diferente…
— No que está pensando? — Rory interrompeu a minha divagação.
— Em alguém que não aprovaria o meu retorno.
— Parece que fez outros amigos além dessa coisinha. — Indicou Isqueiro.
Drake fora mais do que um amigo apesar da forma como nos afastamos,
entretanto achei melhor não comentar a respeito disso com a Rory. Ainda que ela
fosse a primeira amiga de verdade que eu tivera. Qualquer comentário que ela
pudesse fazer com o marido colocaria em risco a vida do Drake e eu não me
perdoaria.
Ainda não sabia o que acontecera com a Karen depois que os homens do
rei de Aires foram atrás dela, mas não precisava colocar ainda mais inimigos na
direção deles. Afinal, não era apenas Arden que me queria como uma arma de
guerra.
— Fiz, mas preciso mantê-los em segurança.
— Parece que não confia mesmo no imperador.
— Nunca deveria ter confiado. A fama que ele tem nas outras nações não é
injusta.
— Ainda assim, acha que voltando para cá você está segura?
— Percebi que não estou segura em lugar algum, no entanto aprendi a me
defender. Arden pode ser poderoso, mas descobri que ele não é mais forte do que
eu.
— Quem é você e o que fez com a minha melhor amiga? — Rory riu.
Ri de volta.
— Você não é a mesma Mari que foi embora.
— Não, eu não sou e Arden vai perceber isso de um jeito ou de outro.
— Só se lembrem que nem todos nesse palácio são à prova de fogo —
enquanto Roryfalava, poderia parecer uma brincadeira, mas no fundo havia muita
verdade, porque a mulher em que eu havia me transformado não teria medo de
enfrentar o Imperador do Fogo novamente.
 
 
Capítulo dois
 
 
— Obrigada, Brad — agradeci ao eunuco quando ele me entregou uma
toalha, assim que saí da banheira, após um banho quente e revigorante.
Sem dúvidas senti falta disso durante o meu tempo como nômade,
dormindo em abrigos improvisados na floresta e tomando banho em rios e lagos.
A água quente e as essências perfumadas foram algo de que eu precisei abrir mão
enquanto fugia.
— É um prazer servi-la, Alteza. Sentimos a sua falta.
Queria simplesmente dizer que também havia sentido, porém era muito
mais complicado do que isso e optei por não ter que explicar toda aquela história
novamente.
Meus vestidos ainda estavam ali e optei por um azul, relegando os típicos e
numerosos vestidos pretos da Nação do Fogo. Ostentar as cores do império
poderia dar ao Arden a falsa sensação de que ele ainda me controlava e isso não
era o que eu queria.
Recusei o convite dele para jantar em seus aposentos e solicitei que a
refeição fosse servida nos meus. Pedi que Rory e o marido se juntassem a mim.
Aquilo poderia parecer uma enorme desfeita, mas eu honestamente não estava me
importando.
Depois do banho, os empregados vieram servir o jantar em uma mesa
muito menor do que a do imperador, mas com espaço o bastante para que quatro
pessoas se sentassem de maneira confortável.
Logo o general e sua esposa entraram no cômodo, Vemen fez uma breve
reverência em sinal de respeito em relação ao meu título de nascença.
— General, Rory, sentem-se. — Indiquei as cadeiras a eles.
— Vossa Alteza, parece ótima — ele comentou, percorrendo-me em uma
rápida vistoria.
Considerando todo o tempo em que precisei ficar sozinha e as vezes que a
minha habilidade de me proteger fora testada, de fato, eu estava muito bem.
— Obrigada. Pode me chamar Mari.
Ele assentiu.
Ouvi uma batida à porta que me fez erguer os olhos. Eu não estava
aguardando mais ninguém, porém fiz um gesto para que Brad fosse até lá e a
abrisse.
Assim que os meus olhos encontraram os vermelhos de Arden, precisei me
conter para não me remexer na cadeira e manter a postura. No fundo, ainda que eu
devesse ignorar e não confessar a ninguém, meu peito ainda tinha um
comportamento inadequado diante da presença dele.
— O que está fazendo aqui?
— É o meu palácio — lembrou-me. — Imaginei me juntar a vocês uma
vez que a minha convidada de honra não quis se juntar a mim.
Por um instante cogitei expulsá-lo, mas Arden estava certo, era o palácio
dele e não poderia me esquecer de que precisava da sua ajuda, só não poderia
permitir que me manipulasse outra vez.
— Sente-se. — Apontei para a cadeira vazia.
Imaginei que rebaixar-se a um pouco menos de luxo seria um progresso.
Afinal, antes de se tornar rei e por fim um grande imperador, ele havia nascido
príncipe de Haddan. E sempre morara naquele palácio.
Arden puxou a cadeira e acomodou-se diante de mim.
Trocamos olhares por alguns instantes, mas nenhum de nós ousou falar
nada. Isso foi o suficiente para que o clima do ambiente se tornasse cada vez mais
pesado, recaindo sobre nós e me deixando com falta de ar, quase como se o
elemento houvesse nos abandonado.
Virei-me para a Rory e notei a aliança na mão dela, era a mesma que se via
no dedo do general.
— Então realmente se casaram? — tentei desviar o assunto.
— Queria que você tivesse sido a minha madrinha. — Rory sorriu sem
jeito ao deixar os talheres de lado para trocar olhares com o marido.
Eu já tinha visto aquele olhar apaixonado na minha direção antes, mas não
vindo do Arden.
— Ela preferiu nos privar da companhia dela — comentou o Senhor do
Fogo, enquanto cortava seu pedaço da carne como se não fosse nada de mais.
— Precisei de um tempo para me conhecer depois que percebi que estava
vivendo uma mentira. Não é fácil lidar com o fato de que você está sendo
manipulada.
— Talvez esteja exagerando um pouco, não acha?
— Exagerando, imperador?
Vemen engoliu em seco.
— Acho que é melhor nós irmos, Rory.
— Não, vocês nem terminaram de comer. — Eu não queria que eles
saíssem correndo, entretanto o clima realmente estava desconfortável.
— Vai ficar para outro momento. — A minha amiga se levantou e puxou o
braço do marido sem pensar duas vezes.
— Rory. — Levantei-me para tentar impedir que os dois deixassem o
cômodo, mas, antes que os alcançasse, uma barreira de fogo surgiu na minha
frente e fez com que eu recuasse por reflexo.
— Deixe-os ir — a voz firme e impositiva do Arden atraiu a minha
atenção.
— Queria jantar com eles, e não com você — era impossível não soar tão
áspera e nem estava me preocupando em evitar.
— Nem tudo sai como planejamos.
— Ainda bem, não é? — Virei-me para ele e o imperador se levantou,
tornando-se uma muralha de músculos à minha frente.
— De fato você está mudada, não me recordava de ser tão ríspida.
— Percebi que estava me enganando.
— Enganando? — Ergueu uma das sobrancelhas negras. — Disse que
dominaríamos o mundo e tenho certeza de que ainda faremos isso.
— Você dominaria…
— Eu já tentei, mas só você é capaz e estou disposto a servi-la quando
conseguir.
— Sei que você não serve a ninguém, Arden. — Meus olhos ficaram fixos
nos seus e percebi o quanto eles me aprisionavam, encará-lo poderia ser uma
grande cilada, mas já era impossível evitar.
— Só precisa confiar em mim.
— Confiar? — Poderia ser cômico se não fosse tão triste. — Já confiei em
você antes e não cometerei o mesmo erro outra vez.
— Sabe que precisa de mim, ou não teria voltado.
— E você só fez de tudo para me convencer a retornar porque ainda tem
esperanças de que eu fique ao seu lado novamente.
— De fato — admitiu.
— Veremos ao lado de quem a corda arrebenta.
— Estou ansioso para esse momento. — Ele se inclinou, pegando o garfo
novamente, e cravou-o num pedaço de carne, jogando-o na boca. — Tenha uma
boa noite, estarei esperando-a amanhã no meu salão de treinamento ao nascer do
sol; não se atrase, pois preciso cuidar de outros compromissos ao longo do dia —
dizendo isso, Arden saiu do cômodo sem medo de dar as costas para mim.
Ele sabia que eu poderia matá-lo ao mesmo tempo que tinha certeza de que
eu não o faria.
Fiquei parada um momento, de pé, sem reação. Até que senti algo quente
roçar no meu tornozelo e olhei para baixo, vendo Isqueiro sair da barra do meu
vestido.
— Vai ser mais difícil do que eu imaginava, amiguinho.
Isqueiro não sabia falar, mas, quando subiu na cadeira que havia pouco
estava ocupada pelo Arden, tive certeza de que o pequenino sabia a que eu estava
me referindo.
Pensei que provavelmente por esse motivo o Drake tinha tanto medo de
que eu voltasse. Arden era bom em manipular, bom até demais, por isso ele tinha
toda a Nação do Fogo ao seu lado e era um milagre ainda não ter o mundo inteiro.
Ficar ali sem voltar a ser uma peça dele seria o meu maior teste de força.
 
 
Capítulo três
 
 
— Bom dia para você também, pequeno despertador. — Abri os olhos
quando Isqueiro começou a lamber o meu rosto.
Rolei na cama soltando um suspiro de satisfação diante do colchão e
lençóis tão macios que pareciam ser feitos de seda. O conforto daquele palácio era
inigualável, mas não poderia me deixar seduzir por ele e esquecer-me do que
realmente importava.
Assim que me sentei na beirada da cama, vi Brad entrar carregando uma
bandeja com o desjejum, o que fez Isqueiro pular no meu colo. O pequenino
pareceu muito empolgado diante da possibilidade de forrar o estômago com algo
diferente de peixe mal assado e sem tempero.
— Desculpe-me, Alteza! — Brad colocou a bandeja sobre a mesa e se
inclinou na minha direção. — Não sei como esse bicho entrou aqui, peço
desculpas. Essas criaturas estão por toda parte.
Isqueiro mordeu a mão do eunuco antes que este o pegasse e deixei escapar
uma gargalhada.
— Não se preocupe, Brad.
— Mas, Alteza...
— Esse é o Isqueiroe fui eu quem o trouxe para cá.
— Ele pode ser perigoso, trazer doenças…
— Tenho certeza de que há muito mais com o que eu precise me preocupar
neste palácio. Uma salamandra de fogo não é uma ameaça.
— Se quiser que eu me livre disso…
— Não toque nele — falei com ênfase.
— A senhorita quem sabe.
— Obrigada. — Levantei-me, indo até a bandeja, e peguei um pedaço do
pão; ainda estava quente, provavelmente acabara de sair do forno.
Assim que terminei o café da manhã, troquei a camisola por um conjunto
de treinamento com calça e camisa feitos com um tecido à prova de fogo. Não
queria nenhuma desculpa ou motivo para ficar nua diante do Arden. Ainda que as
lembranças invadissem minha mente num momento ou em outro, a minha
intimidade com o imperador se resumiria aos momentos de treinamento.
Havia repetido a mim vezes o suficiente, a ponto de acreditar.
Arden era um homem atraente, mas não era o único. Suas estratégias de me
levar a acreditar que tínhamos um relacionamento já haviam funcionado antes,
mas eu não cederia ao mesmo jogo.
— Vai me esperar aqui? — questionei ao Isqueiro, que estava sobre a mesa
comendo os farelos que ficaram espalhados pela bandeja.
O fato de ele saltar em mim e escalar o meu braço, acomodando-se no meu
ombro, foi resposta o bastante.
— Está bem. Então vamos.
Meu quarto não era o único cômodo que continuava como antes, o
caminho até o salão de treinamento dele não mudara nada e logo eu passei pelas
portas duplas, encontrando-o de pé. Arden estava virado de costas, os braços
cruzados atrás do corpo e a visão fixa em algum ponto na sua frente. Eu, no
entanto, não conseguia ver nada além dos grandes castiçais com velas tremulantes
e o enorme símbolo da Nação do Fogo na parede, ao fundo do cômodo.
— Arden?
— Finalmente você chegou.
Ele girou o corpo, virando-se na minha direção, e percebi que estava
usando trajes semelhantes aos meus, sem as vestes pomposas de imperador,
apenas algo mais confortável que lhe desse liberdade de movimento. Uma calça e
uma camiseta justa, mostrando os músculos da forma que eu via quando estava
sem ela.
Desviei o olhar para um dos castiçais. Reparar nele não era uma boa forma
de começarmos, tampouco me manteria firme em meu objetivo de não ceder.
— Estou pronta para começarmos.
— Ótimo. — Deu alguns passos vindo na minha direção, e Isqueiro saltou
do meu ombro. Sentindo-se ameaçada, a salamandra correu para trás de uma
pilastra, ainda que, graças ao fato de ser uma criatura do fogo, fosse imune. —
Parece que seu bichinho ficou com medo.
— Ele é esperto o bastante para não se arriscar.
— Ou talvez você tenha cultivado nele um medo além da conta.
— Você faz isso muito bem sozinho com o terror que disseminou pelas
outras nações.
— O medo é uma ferramenta importante quando se quer vencer uma
guerra.
— Eu me lembrarei disso.
Ficamos nos encarando por um bom momento até que inspirei
profundamente e estufei o peito, recordando-me do motivo pelo qual estava ali.
— Pronta?
Fiz que sim.
Arden se moveu, lançando uma coluna de fogo na minha direção. Fiz com
que ela se extinguisse antes de me atingir acabando com o ar à sua volta.
— Muito bom.
— Obrigada.
— Mas você não tem que acabar com o fogo, preciso que o gere.
Fixei um olhar decidido enquanto Arden dava alguns passos na minha
direção, parando na minha frente, e me mantive firme até que ele girou, ficando
atrás de mim. Não queria demonstrar nenhuma relutância, mas sabia o quanto era
arriscado.
— Como? — Estufei o peito.
— Ele está dentro de você. — Arden tirou o meu cabelo do caminho
enquanto a sua boca se aproximava da minha orelha.
Ele não mediria esforços para me fazer cair no seu jogo novamente.
— Feche os olhos.
Não, Mari!
— Feche os olhos — repetiu em um tom calmo, mas a sua voz continuava
a ser firme e penetrante.
Confiar nele era um erro, porém eu tinha certeza de que, de tudo o que
Arden poderia fazer, me matar não era uma possibilidade, pois ele precisava dos
meus poderes para os seus objetivos.
Acabei acatando o seu comando, fechando os olhos. Senti-o se mover atrás
de mim e posicionar-se através do ar. Fiz de tudo para me manter firme até que
suas mãos foram para a minha cintura e subiram pela lateral. Já havia caído
naquela estratégia uma vez, mas não seria igual.
— Não sei como se conectou aos outros elementos, mas o fogo vem de
dentro. É aquela sensação que arde dentro de nós e pode ser alimentada com fúria
ou simplesmente algo mais primordial como necessidade. Está mais relacionado
aos sentimentos do que você pode imaginar. O fogo é volátil, feroz, incontrolável,
tudo o que você precisa é encontrá-lo e deixar fluir.
Senti pequenos formigamentos enquanto as mãos dele se aproximavam da
região abaixo dos meus seios. Aquelas sensações eram perigosas demais, assim
como o fogo.
— O fogo é incontrolável, você nem deve tentar. O que precisa aprender a
fazer é alimentá-lo e direcioná-lo. Encontre-o e o faça fluir.
Eu poderia sentir o elemento dentro de mim e nos castiçais do ambiente a
nossa volta, cada vez mais intenso e mais quente.
Não se comparava à estabilidade e firmeza da terra ou à fluidez do ar,
assim como Arden havia dito era… incontrolável.
Tentei fazer com ele o mesmo que com os outros elementos, mas não
parecia funcionar. O fogo era rebelde, impulsivo e possuía as suas próprias regras,
assim como o próprio Arden.
— Não impeça de fluir… Não tente limitá-lo…
Quando abri os olhos, percebi que nós dois estávamos em chamas. O
elemento estava completamente ao meu redor, mas eu nem fazia ideia de como
aquele incêndio havia começado e percebi que, assim como Arden havia dito, não
era possível controlar.
— Percebe?
Fiz que sim.
— É um bom começo.
Voltei a encontrar os seus olhos vermelhos e tudo vibrou ainda mais, até
que uma sirene ecoou como o badalo de um sino dentro do ambiente e fez com
que a chama se dissipasse, como se uma onda houvesse apagado tudo.
— O que foi isso? — Afastei-me dele como se houvéssemos sido atingidos
por uma onda elétrica.
— Eu preciso ir. — A forma como se afastou de mim e correu para a porta
me deixou ainda mais alarmada, desconhecia algo que pudesse provocar tal efeito
nele.
— O que está acontecendo? — Segui-o antes que desaparecesse de vista.
— Estamos sob ataque.
— De quem?
— Isso eu quero descobrir.
Não permiti que ele me deixasse para trás e o segui até a entrada do palácio
onde os soldados estavam aglomerados. O portão parecia ter caído e, quando me
aproximei o suficiente, vi uma coluna de terra ser baixada, logo atrás dela estava
alguém que imaginei que não veria tão cedo.
— Matem esse maluco — ordenou Arden instigando os soldados que se
reuniam ao redor do invasor.
De fato, era uma loucura tentar invadir o palácio sozinho. Não importava o
quanto aquele dominador de terra fosse forte e habilidoso, ele não era um exército.
Arden avançou na direção do sujeito, disposto a acabar com aquilo,
entretanto, antes que ele fizesse qualquer coisa, eu o impedi.
— Não! — Uma onda brotou do chão e empurrou o imperador para trás.
Antes que ele se recuperasse, eu avancei e fiz com que todos os
aproximadamente vinte soldados fossem soprados para longe com um ciclone.
Assim que os homens caíram, ele se virou para mim e meus olhos
encontraram os seus castanhos e gentis.
— Drake!
— Senti a sua falta. — Riu de um jeito descontraído, como se por pouco
não houvesse sido queimado vivo.
Corri na direção dele sem me preocupar com o tipo de reação que isso
causaria e o abracei tão apertado quanto possível. Aquele delicioso cheiro de relva
fresca me preencheu e fez com que eu sentisse a paz incrível de que acabara me
esquecendo desde que nos separamos.
Deixei que o abraço durasse o máximo de tempo possível até que ele se
afastou para me encarar.
— Que bom encontrá-la inteira.
— Sou dura na queda.
— Ah, eu sei disso.
— O que está fazendo aqui? Poderiam tê-lo matado.
— Não é a única dura na queda. — Afagou o meu rosto. — Além disso,
precisavaimpedir que cometesse essa loucura.
— Estou bem, Drake.
— Não aqui. Não perto dele.
— Tenho a situação sob controle.
Antes de dizer qualquer outra coisa, Drake levantou a cabeça, encarando
por cima dos meus ombros, e eu movi a minha, vendo os olhares dos dois se
confrontarem. A firmeza da terra diante da fúria do fogo. A estabilidade diante da
volatilidade. Um homem que provou que eu poderia confiar enquanto o outro já
havia me manipulado.
— É muito corajoso ou muito estúpido para estar tão longe da fronteira,
general.
— Às vezes medidas arriscadas são importantes.
A forma como os dois se fuzilavam com o olhar me causou arrepios. Drake
poderia ser a calmaria comigo, mas ele não ganharia batalhas nem ocuparia tal
posição de comando se não soubesse muito bem como contra-atacar.
— Vem comigo, Mari — Drake pediu em tom baixo.
— Ela não vai a lugar algum — Arden rugiu.
— Eu estou aprendendo a controlar o fogo, Drake.
— Não precisa ser com ele. vamos encontrar outro dominador para ajudá-
la. Sabe que a influência desse homem é perigosa. Ele vai tentar usar você
novamente.
— Sei disso.
— Desde quando você está ao lado da Terra? — questionou Arden.
— Não estou ao lado da Terra. Não estou do lado de ninguém. — Alternei
o olhar entre os dois.
— Mais um motivo para vir comigo — reforçou Drake.
— Por que não fica? Quando eu terminar, podemos ir.
— Ficar aqui? — Arregalou os olhos e olhou em volta, recordando-me de
quanto aquele era um território hostil para um dos líderes de um exército inimigo.
— Ele não vai ficar aqui! — Arden impôs.
— Ele é meu… aliado — aleguei.
— Aliado? — Drake repetiu a palavra com um tom confuso. — Bom, na
falta de um termo melhor esse deve servir.
Arden cerrou os dentes e eu reparei nos seus olhos. O fogo queimando,
incontrolável, estava dentro dele e poderia escapar a qualquer momento, como
uma bomba.
— Não permitirei que um general do exército da Terra fique no meu
palácio.
— Minhas regras — lembrei-o do acordo que havia feito para retornar ao
Império do Fogo com ele. — Se você o machucar, eu juro que o mato — deixei
bem explícito, mão era apenas uma simples ameaça.
Poderia ser um ato muito egoísta da minha parte, mas seria muito bom ter
Drake por perto. Ele era muito mais do que um mentor, um amigo e uma segunda
experiência amorosa. Aquele general era meu porto seguro.
Ele poderia ter me entregado ao rei de Bios, ter me traído e me usado como
todos os outros tentaram fazer, mas preferiu ficar do meu lado. Foi a única pessoa
que se preocupou em me proteger acima de tudo, inclusive dos seus próprios
juramentos.
— Mari… — Drake tentou me dissuadir.
— Por favor — supliquei. — Se veio até aqui para me impedir de tomar a
decisão errada, então fica aqui e garante isso.
Ele ficou em silêncio por alguns instantes, ponderando, até que acabou
assentindo.
— Okay, mas, quando você aprender, vamos encontrar outro lugar para
onde ir.
— Combinado. — Sorri e voltei a abraçá-lo.
Ficamos assim por um breve instante até que Arden pigarrou.
— Levem o nosso convidado até um dos aposentos de hóspedes —
ordenou aos soldados.
Drake me encarou e eu murmurei:
— Vai ficar tudo bem.
A contragosto, o general da Terra seguiu os homens para o interior do
palácio.
— Então foi o exército da Terra quem a ensinou a dominar o elemento? —
questionou Arden quando dei alguns passos para o interior do palácio e ele veio
atrás.
— O exército não, o Drake — corrigi-o.
— Que diferença faz?
— Toda diferença. Ao contrário de você, ele não me via como uma arma,
só queria me ajudar.
— Até parece.
— Não importa. — Dei de ombros, ignorando seu comentário. — Não
preciso convencê-lo de nada.
Minha fala fez com que Arden voltasse a cerrar os dentes.
Havia muitos motivos para que a presença do Drake fosse um grande
incômodo ao imperador, entretanto poderia me ajudar a lembrá-lo de que eu não
estava mais no seu total controle.
— Aliado?
— Posso encontrar outra palavra.
Arden deu alguns passos no corredor, pisando firme, antes de se virar para
mim novamente.
— Acho que aliado está bom.
Contive uma risada, porque de certa forma foi engraçado, mas não
debochei do Arden. Era melhor não dar a ele mais motivos para querer ferir o
Drake de alguma forma.
— Vamos retomar o treinamento.
— Acho que pode ficar para depois.
— Por quê?
— Você tem outros compromissos — recordei-o.
— Eles podem esperar.
— Não é necessário. A não ser que queira antecipar a minha partida.
Arden deu um passo na minha direção, mas por reflexo eu dei outro para
trás. Ele já havia chegado perto por muito tempo naquele dia.
— Por que partiria?
— E qual outro motivo tenho para ficar que não seja esse?
Arden abaixou a cabeça, fazendo com que eu o encarasse de forma ainda
mais penetrante. Esperei que seus lábios se movessem em qualquer frase, num
conjunto de palavras inútil, carregado com a esperança de me convencer, mas
instantes se passaram e ele voltou a se afastar.
— Espero você e seu convidado para o jantar mais tarde.
Fiquei parada no corredor, encarando suas costas largas e o observando se
afastar até que ele sumiu do meu raio de visão.
No fundo, sabia que Drake estava certo ao temer a nossa proximidade.
Porque, por mais ciente que estivesse dos perigos que Arden representava, eu
também tinha medo.
 
 
Capítulo quatro
 
 
— O que foi tudo aquilo lá fora? — Tomei um susto quando Rory parou ao
meu lado, porque não a vi se aproximar.
— Hã? — Ainda estava profundamente perdida em pensamentos para
raciocinar com clareza.
— Você conhece aquele general da Terra, não conhece? O que ele está
fazendo aqui? Eu vi os homens, a confusão.
— Sim, é o Drake. Ele me ensinou a controlar o elemento.
— Então vocês ficaram amigos?
— Amigos não é o suficiente… — deixei escapar, mas poderia me
arrepender, porque o grito que Rory deu chamou uma atenção inapropriada.
— Jura? E eu aqui morrendo de preocupação, achando que você estava
sozinha e largada nesse mundo. Parece que superou o imperador bem rapidinho.
— Rory! — Agarrei seu braço e saí arrastando-a para longe daquele
corredor onde qualquer um poderia nos ouvir, principalmente Arden.
Talvez eu nunca conseguisse saber o que exatamente se passava pela mente
do imperador, entretanto não precisava dar mais motivos para que ele alvejasse
Drake. Os sentimentos de Arden por mim poderiam ser uma farsa, mas me ver
com outro homem bastaria para que o Senhor do Fogo enxergasse o general como
um obstáculo aos seus objetivos.
— Ei! — protestou quando finalmente soltei o seu braço.
— Muito cuidado com o que diz em voz alta.
— Desculpa. — Encolheu-se, completamente sem graça. — Só fiquei
empolgada ao pensar que você encontrou outra pessoa, mas ao mesmo tempo,
triste por não me contar que tem um namorado.
— Eu não tenho um namorado — respondi rápido demais.
— Achei que…
— É complicado. — Balancei a cabeça confusa.
— Mais um homem tentando te manipular — lamentou ao tirar as próprias
conclusões.
— Não… Esse não é o perfil do Drake.
— Então qual o problema?
— Como eu disse, é complicado. Precisei ir embora, encontrar alguém que
me ensinasse o ar e ele teve que retornar ao fronte de batalha.
— Sinto muito…
Parecia bem mais simples resumir daquela forma, entretanto não fora
exatamente por causa disso que Drake e eu nos afastamos no fim. Eu possuía
sentimentos que não passaram despercebidos e provavelmente era por causa deles
que o general havia se arriscado tanto para me seguir até o Império do Fogo. Se
Arden me convencesse a ficar ao lado dele novamente, não haveria exército que
conseguisse me parar.
Eu era uma ameaça à Nação da Terra e todas as outras. O que eu não tinha
certeza era até onde o general estava disposto a ir para me parar.
— Não diga nada ao Vemen — pedi em tom baixo.
— Para que o imperador não saiba que andou transando com outro cara
enquanto estava longe?
— Rory…
— Deixa comigo. — Fez um gesto como se estivesse trancando a boca. —
Seu segredo está seguro.
Eu não tinha tantacerteza disso, mas era o melhor que conseguiria.
— Agora me diz?
— O quê? — Levantei uma das sobrancelhas, encarando-a de esguelha.
— Qual deles é o melhor?
— É sério? — Quis esfolá-la diante daquela pergunta.
— O que foi? — Surpreendeu-se com a minha reação.
— Existem coisas muito mais importantes neste momento. — Torci os
lábios em uma expressão de revolta.
— Só estava tentando descontrair. — Deu de ombros.
Balancei a cabeça em negativa, encarando-a, e Rory me fitou de volta até
que eu ri, inclinando-me em sua direção. Era bom perceber que algumas coisas
não haviam mudado e isso fazia com que eu me sentisse bem.
— Senti a sua falta. — Abracei-a bem apertado.
— Eu também.
Quando finalmente nos afastamos, percebi que o olhar de Rory havia
mudado, abandonando o ar descontraído e assumindo uma expressão mais séria,
que me fez reagir da mesma forma.
— O que vai fazer depois que aprender a dominar o fogo?
— Ainda não sei — fui obrigada a confessar. — Arden queria me usar para
vencer a guerra e dominar o mundo, mas não estou aqui para voltar a ser uma
ferramenta para ele.
— E o que você quer?
Aquela era uma excelente pergunta, que me deixou pensando, porém não
consegui uma resposta de imediato. A minha vida havia sido tão diferente até o
último ano que parecia ser difícil enxergar outros horizontes.
— Não acho que precisamos continuar nessa disputa.
— Talvez não precisemos.
— Como assim? — Levantei uma sobrancelha sem compreender
exatamente o que ela estava falando.
— Você tem poder para decidir o rumo da guerra ou o fim dela.
O fim…
Aquela possibilidade ficou ecoando na minha cabeça, mas parecia ser
impossível imaginar Arden desistindo de tudo aquilo. Ele tinha empenhado toda a
sua vida naquele propósito.
— Bom, você ainda tem tempo para decidir — falou Rory por fim, uma
vez que não me pronunciei.
— É, eu tenho…
— Se eu fosse você, só por precaução, iria ver como o seu general está.
Afinal, nós sabemos que o imperador é um tanto temperamental.
— Tem razão.
Engoli em seco, questionando-me se não havia cometido um enorme erro
ao insistir que Drake ficasse. Entretanto não havia blefado quando disse ao Arden
que jamais o perdoaria se ele ferisse o meu amigo.
Despedi-me da Rory e tomei o rumo da ala onde ficavam os quartos de
hóspedes do palácio. Havia dois soldados vigiando a porta de longe. Estava
semiaberta, e eu fiz um gesto para que se afastassem. Drake não era um
prisioneiro precisando ser mantido sob vigília.
Mesmo com a porta aberta, eu me aproximei e bati na madeira, chamando
a atenção dele, que estava sentado na beirada da cama com o olhar distante,
exibindo na minha direção a parte da sua face que havia sido queimada por
homens como aqueles que no momento o cercavam.
— Mari! — Seus lábios se curvaram em um sorriso quando ele ouviu o
som e me encontrou parada junto ao batente.
— Posso entrar?
— Você nem precisa pedir.
Deixei escapar uma risadinha ao caminhar para o interior do cômodo e me
acomodar ao seu lado. Drake esticou o braço e envolveu meus ombros, puxando-
me para mais perto. Tombei a cabeça, acomodando-a nele.
Após ter deixado a Nação da Terra em minha empreitada para aprender
outro elemento, imaginei que nunca mais ficaríamos próximos assim.
— Como você está?
— Eles não têm lâmpadas aqui?! — a exclamação de revolta dele me
pegou completamente de surpresa e me fez gargalhar.
De tudo o que poderia comentar, o fato de usarem castiçais e velas era a
última coisa que eu imaginava.
— Tem energia elétrica, mas eu acho que as velas têm algo a ver com o
fato de manter o fogo sempre por perto. Conheci uma pessoa que não conseguia
produzir fogo e tinha dificuldade de manipulá-lo, mas acho que ter o elemento por
perto facilita um pouco.
— É só para nos lembrar de que podemos acabar queimados.
— Você não vai se queimar, Drake — prometi ainda que não tivesse muita
propriedade para fazer isso.
— Tenho minhas dúvidas, mas eu sabia dos riscos ao abandonar o exército
e vir para cá.
— Espera! Você abandonou o exército? — Tomei um susto, ainda que o
comentário dele houvesse sido descontraído.
— Não era uma missão que o meu rei aprovaria.
— Você é louco?! Não deveria ter desertado.
— Mesmo confiando na Karen, fiquei muito preocupado quando deixei
você sozinha indo para a Nação do Ar. Depois que ela desapareceu me deixando
sem notícias suas, imaginei que tivesse cometido um erro enorme. Nunca deveria
tê-la deixado. Quando os espiões da Terra descobriram que você tinha voltado
para o Império do Fogo, soube que precisava impedir que cometesse uma loucura.
— Eu não vim para cá com intuito de lutar ao lado do Arden.
— Imaginei que tivesse voltado para ele.
— Não!
— Tenho as minhas dúvidas.
Odiei ouvi-lo dizer aquilo, mas não poderia julgá-lo, pois no fundo eu
também tinha receio.
— Isso não vai acontecer, mas quanto a nós…
— Ei! Eu não vim até aqui por isso — Drake me interrompeu. — Sei que
somos aliados — usou contra mim o mesmo termo que eu havia escolhido,
fazendo com que eu percebesse quão terrivelmente amargo era.
No fim, era melhor dessa forma, assim como havia dito para a Rory, tinha
problemas bem maiores, que exigiam a minha atenção, para ficar preocupada com
o envolvimento que tive com Arden ou com Drake.
— Só precisava impedir que escolhesse o lado errado — afirmou.
— Não estou ao lado dele — garanti.
— Honestamente espero que não.
— Quando aprender o fogo, eu vou embora.
— Para onde?
— Ainda não sei.
— Independentemente do destino que escolher, eu estarei com você. —
Virou-se na minha direção e segurou as minhas mãos entre as suas, quase como se
estivesse fazendo um juramento.
— Não posso pedir isso.
— Vou lutar ao seu lado, desde que não seja por ele.
— Drake…
— De qualquer forma, não tenho mais um exército e escolhi estar aqui.
— Obrigada! — Não soube mais o que dizer, então apenas me inclinei para
abraçá-lo.
Apesar de todas as circunstâncias, estava imensamente feliz por tê-lo ao
meu lado. Por muito tempo levei uma existência solitária, sem ninguém que se
importasse comigo, mas felizmente não era mais assim.
Permanecemos abraçados por um momento até que eu me afastei, voltando
a encarar seus olhos castanhos e a barba por fazer.
— Você disse que não teve mais notícias da Karen.
— Desde que você chegou à Nação do Ar, ela não se comunica mais
comigo, as mensagens pararam e imaginei que algo terrível houvesse acontecido
com vocês duas.
— Talvez tenha acontecido com ela — ponderei.
— Sabe de algo?
— Eu estava na casa dela quando o exército de Aires veio até mim, não
tenho certeza de quem me entregou, mas depois disso nunca mais a vi. Suspeito
que tenha algo a ver com um tal de Simon. Ele nos viu juntas e provavelmente
disse algo ao exército de Aires. Acho que podem tê-la capturado para chegarem
até mim.
— Acha?
— Eu não sei… É uma possibilidade. Acha que eles…
— Não! — Drake me impediu de terminar a frase. — Eles não fariam isso,
ela é um membro importante da realeza.
— Então acha que Karen está bem? Mesmo não tendo conseguido se
comunicar com ela? Pode ter outros motivos para ela não ter respondido?
Drake ficou tenso, encarando-me por um longo instante, o que me deixou
ainda mais tensa. Karen havia se arriscado por mim e só o pensamento de que algo
terrível poderia ter acontecido com ela fazia com que eu me sentisse muito mal.
— Precisamos tirá-la de lá — impus antes que Drake chegasse a dizer
algo.
— Não é tão simples, nem sabemos onde ela está.
— Talvez entre os prisioneiros, ou com sorte tenha voltado para casa. Na
segunda opção seria mais fácil.
— Pode ser uma missão suicida.
— Você não entrou aqui?
— É diferente, eu estava disposto a me arriscar.
— Não se arriscaria por ela?
— Sim — não hesitou.
— Então vamos até lá!
— Para quem precisava se esconder, está se arriscando demais.
— Do que adianta tanto poder se não posso ajudar os meus amigos?
Drake sorriu.
— Precisamos de um plano.
— Não é tão simples assim, principalmente porque é umcontinente
flutuante e você é a única a dominar o ar. Precisamos de um avião ou outro meio
de transporte.
— Vou conseguir um. — Estufei o peito confiante.
— Ele não nos ajudaria… — Drake ponderou.
— Deixa comigo — garanti, confiante.
Ele balançou a cabeça, não estava tão otimista, porém eu achava que
poderia usar o desejo do Arden de me manter por perto ao meu favor.
 
 
Capítulo cinco
 
 
Arden havia nos convidado para o jantar provavelmente com o objetivo de
ficar de olho no Drake e analisar a nossa relação, mas para mim pareceu uma boa
oportunidade para conseguir a ajuda dele a fim de irmos até a Nação do Ar atrás
da Karen.
Se havia alguém com recursos e meios para isso, sem dúvidas era o
Imperador do Fogo. Só precisava convencê-lo a me ajudar, ainda que Drake
achasse isso pouco provável.
Após o banho, segui para os aposentos do imperador. Estava confiante da
minha decisão e não via motivos para pensar o contrário. O que eu havia dito ao
Drake me deu propósitos e me fez enxergar um objetivo.
Não adiantava em nada ser tão poderosa se não fosse capaz de usar isso
para proteger os meus amigos.
Karen havia se arriscado por mim e me abrigado na sua casa tentando me
ensinar o seu elemento, mas o fato de me acolher acabou fazendo com que ela
pagasse um preço. Tentar libertá-la era a minha chance de retribuir, ainda que
fosse arriscado.
Assim que abri a porta, deparei-me com o Arden de pé, fitando a lareira
com o olhar fixo. Ele sabia que era eu a adentrar o cômodo, pois não se virou de
imediato, nem entrou em qualquer posição defensiva. Ou talvez apenas fosse
confiante demais, eu não duvidava.
— Arden? — chamei, fazendo com que finalmente girasse nos
calcanhares.
Ele estava com um dos seus típicos ternos elegantes, bordados com fios de
cobre, que pareciam lava viva e com um símbolo do Império do Fogo sobre o
peito, do lado esquerdo.
— Chegou cedo.
Embora eu não me sentisse mais tão ameaçada, seu tom ainda me
provocava calafrios como da primeira vez. Perguntei-me se um dia conheceria o
homem por detrás de todo aquele ar autoritário e controlador. Contudo, logo
afastei aquele pensamento, pois não poderia me deixar iludir novamente.
— Quero conversar com você. — Achei melhor ir direto ao ponto, pois
qualquer distração poderia me fazer perder o foco.
— Sobre o seu… aliado?
— Sim… Bom, não necessariamente — acabei me atrapalhando, ainda que
demonstrar fraqueza diante dele fosse algo que eu não quisesse mais. — Na
verdade eu preciso de um avião, um helicóptero ou qualquer outro tipo de
transporte aéreo.
— Hum? — Surpreso, Arden franziu o cenho. — Por quê?
— Para irmos à Nação do Ar.
— Não.
— Posso conseguir sem a sua ajuda. — Cerrei os dentes diante da resposta
ríspida e direta dele.
— Você não vai até a Nação do Ar.
— Não estou pedindo a sua autorização, só a sua ajuda.
— Por que quer ir até lá? — Cruzou os braços ainda com uma postura
firme e autoritária.
— Salvar uma amiga.
— Parece que fez muitos amigos durante esse tempo que passou longe.
— Nem todos estavam só preocupados em ganhar uma guerra.
— Tenho as minhas dúvidas.
— Vai, ou não, me emprestar um avião?
— Você não pode ir até lá sozinha. Tentarão de tudo para capturá-la. Eu
não posso pisar lá sem tornar a guerra ainda pior.
— Só preciso do avião. Não vão me capturar, posso cuidar de mim. Além
disso, não vou sozinha, Drake vai estar comigo.
— Os dois contra o exército de Aires? Ainda assim é tolice. Ele vai acabar
morto, e você, presa.
— Eu sou uma espiritum — lembrei a ele.
— Você não vai!
— Disse que tentar pedir a ajuda dele era perda de tempo — ouvi a voz do
Drake atrás de mim e me virei para encará-lo.
— Ah, é claro que você disse — resmungou Arden.
— Esse homem não pensa em ninguém além de si mesmo — completou
Drake.
— E tirou essa conclusão sozinho ou conviveu comigo o suficiente para
deduzir?
— Sua fama o precede.
— Nem tudo o que dizem sobre mim por aí é verdade.
— Ei! — fui obrigada a intervir. — Não precisa agir desse jeito o tempo
todo.
— Seu convidado que prefere continuar alfinetando o anfitrião sem o
mínimo de cordialidade.
— É um desafio muito grande conseguir ser minimamente político com
esse homem. Tem ideia de que milhares já morreram nessa maldita guerra?
— É isso que acontece em guerras, pessoas morrem.
— Seu… — Enquanto os olhos do Drake vibravam com raiva, o chão sob
nós começou a tremer e eu fiquei com medo de que se partisse em dois, entretanto
talvez isso não acontecesse antes que tudo pegasse fogo.
— Parem! — fui obrigada a gritar e o meu movimento de reflexo com as
mãos arremessou ambos para lados opostos do cômodo com um túnel de vento. —
Vocês dois são líderes e velhos o bastante para deixar de se alfinetarem desse jeito.
— Eu me livro dele se você quiser. — O imperador buscou o meu olhar e
só conseguiu me enfurecer ainda mais.
— Arden!
— Como se livrou de vários outros como eu?
— Felizmente não como você.
— Vamos sair daqui, Mari.
— Okay… — Inspirei profundamente.
No fundo, não queria me afastar de nenhum deles, mas mantê-los juntos
parecia alimentar cada vez mais a fúria de um vulcão que não tardaria a explodir.
— Nós vamos encontrar a Karen — garanti ao Drake —, mas depois eu
preciso voltar para cá.
— Ainda acho que…
— Drake.
— Como você quiser. — Cruzou os braços. Ele não estava contente com a
minha decisão, mas desistiu de discutir. — Vamos sair antes do nascer do sol e
seguir para a fronteira. Quando chegarmos à Nação da Terra, tenho alguns amigos
que podem nos colocar em um transporte clandestino para a Nação do Ar…
— Parece um plano muito estúpido — comentou Arden.
— Fica na sua, cara.
— Se não vai nos ajudar, também não atrapalha — rosnei para ele.
— Se quiser ter uma chance de sucesso, precisamos chegar à noite e com
poucos homens. Extrair a sua amiga e sair de lá o mais rápido possível.
— Precisamos? — repeti a palavra que parecia incluí-lo.
— Não a deixarei ir sem mim.
— Ela não precisa da sua ajuda — resmungou Drake.
— Nem da sua.
— Que seja. — O general da Terra deu de ombros. — Se nos pegarem, vão
estar tão preocupados em matar você que poderemos escapar mais facilmente.
A fala do Drake ressaltou o quanto era arriscado para Arden seguir naquela
missão suicida conosco. Não havia ninguém que as outras nações odiavam mais
do que o Imperador do Fogo. Era certo que, se tivessem uma oportunidade, fariam
de tudo para conseguir a cabeça dele.
— Arden, você não pode ir!
— Não é a única que sabe se cuidar.
— Eles vão matá-lo na primeira oportunidade.
— Só se conseguirem me pegar.
A princípio, achei que resgatar Karen pudesse ser bem mais simples, mas,
à medida que a situação ia se desenhando, mais evidente ficava o quanto tudo seria
arriscado.
— Está muito disposto a se arriscar, mas para convencê-la de quê? —
Drake questionou Arden, contudo eu também queria aquela resposta.
— Não é o único disposto a tudo para protegê-la.
Os dois ficaram se encarando até que eu senti o meu estômago roncar.
— Por que não vamos jantar?
Lidar com uma guerra era terrivelmente mais difícil do que eu imaginava,
pois não conseguia nem manter a paz entre aqueles dois.
 
 
Capítulo seis
 
 
Arden possuía todos os recursos do império ao seu dispor, mas isso não me
deixou menos aflita quando adentramos o avião naquela madrugada.
Era um pequeno jato com espaço para não mais do que dez pessoas.
Segundo o imperador, tratava-se de um veículo de alta tecnologia usado na
espionagem, que garantiria a nossa entrada na Nação do Ar sem que fôssemos
detectados. Não imaginava que houvesse motivos para que ele mentisse, afinal era
o principal interessado em não ser visto.
— Veste isso. — Arden jogou um uniforme preto para o Drake, que fechou
a expressão imediatamente.
Antes que o general emitisse qualquer protesto, meu olhar encontrou o dele
em uma expressão de súplica e Drake acabou assentindo. Preto poderia não ser a
cor favorita dele, mas estávamos em uma missão para salvar Karen eisso era o
mais importante no momento.
Já fazia muito tempo que eu escapara e não sabíamos o que poderia ter
acontecido a ela. Estava torcendo pelo melhor, enquanto tentava me preparar para
qualquer outro resultado, porque sabia que cada detalhe do que ela havia passado
era culpa minha.
Sem jeito eu me remexi na cadeira, inquieta, mas acabei atraindo a atenção
do Arden, que havia pouco deixara de lado um comunicador.
— Consegui informações sobre ela. O que não é fácil, considerando uma
nação onde todos têm o mesmo tom de pele e de cabelo.
— O que você sabe?
— Ela está entre os prisioneiros de guerra do rei de Aires.
— Prisioneiros? — Engoli em seco.
— Provavelmente ela não disse ao monarca o que ele queria saber.
— Sobre mim?
— Presumo que Karen não tenha uma informação mais relevante.
— Vamos tirá-la de lá — garantiu Drake.
Era o mínimo que eu poderia fazer considerando tudo o que ela
provavelmente havia passado todos aqueles meses apenas para me proteger.
— Vamos chegar em aproximadamente uma hora — avisou o Arden. — O
local é uma prisão suspensa ainda acima do continente, à qual a única forma de
chegar é voando, mas não tem nenhum local de pouso para o avião, nós teríamos
que saltar.
— E qual o problema?
— Você é a única de nós que consegue voar. É uma prisão para
dominadores de ar e não estão contando com a entrada de invasores.
— Acha que consegue nos colocar lá dentro? — questionou Drake.
— Eu não sei…
Tínhamos chegado muito longe para desistir, ao mesmo tempo que fiquei
apavorada diante daquela possibilidade.
Eu era uma espiritum, tinha o poder de controlar os quatro elementos, era a
arma determinante naquela batalha, ainda assim fiquei completamente apavorada;
ao mesmo tempo que desejava tirar a Karen de lá, não queria perder os dois para
isso.
— Sim, ela pode — afirmou Arden muito mais confiante do que eu.
O imperador tinha a incrível habilidade de me fazer acreditar em mim
mesma quando mais ninguém confiava, entretanto aquela missão parecia no
mínimo suicida.
— Arden…
— É só nos colocar no topo da prisão que eu consigo derreter as barras de
ferro e nos fazer entrar.
— E se eu não conseguir…
— Essa não é uma possibilidade. — Sua convicção parecia um tanto
doentia diante da situação arriscada.
— Mas…
— Já me salvou da morte uma vez, o que é nos fazer voar?
Era uma situação completamente diferente, mas o que eu já havia
aprendido sobre Arden é que ele dificilmente mudava de ideia. Além disso, fora eu
quem o convencera a ir até ali e não poderia desistir.
— Okay…
Ainda estava tensa, mas, quando ele tocou o meu rosto e eu vi o brilho de
convicção nos seus olhos, fiquei um pouco mais confiante. Independentemente
dos motivos que o levaram a agir assim, Arden sempre confiou muito mais no
meu potencial do que eu mesma.
— Dez minutos… preparada? — Segurou a minha mão e dessa vez eu não
apartei o toque como havia feito inúmeras vezes desde que nos reencontramos.
— Sim.
— Boa garota. — Seu sorriso de convicção me deixou ainda mais
confiante.
Se havia algo de que eu possuía certeza era que Arden não era suicida e ele
não confiaria a sua vida a mim se não estivesse certo de que eu conseguiria.
Ele tirou uma touca preta do bolso e cobriu o rosto, deixando apenas os
olhos à vista. Achei esperto da sua parte, afinal era muito mais fácil não atrair
atenção como um dominador de fogo qualquer do que como o grande e odiado
imperador.
Logo que a porta do avião foi aberta, Arden se aproximou dela. Fez um
gesto para que eu o acompanhasse e Drake também se levantou da poltrona. Só
havia mais um homem conosco e este estava pilotando o avião, então imaginei que
não se juntaria a nós naquela missão suicida.
— Pronta?
— Acho que estou…
— Ótimo. — Arden foi o primeiro a saltar e, desesperada, acabei caindo
logo em seguida.
Tudo que eu conseguia ver lá embaixo era uma fortaleza de concreto
cercada de nuvens onde o chão não parecia existir, era algo inalcançável e
transformava a situação deixando-a ainda mais assustadora.
Em queda livre, era tarde demais para voltar atrás, pois, se Arden houvesse
me explicado melhor como era o local, eu poderia ter ponderado ainda mais se não
havia outra forma de tirar Karen dali.
Estávamos caindo muito rápido e o ar ao meu redor parecia tão
incontrolável quanto o fogo que Arden havia me mostrado em nossa breve sessão
de treinamento.
Em toda parte, intenso, marcante, cada vez mais veloz…
— Nós vamos morrer! — Drake gritava e não tornava aquilo mais fácil
para mim.
— Mari, agora! — comandou Arden e eu não conseguia entender como ele
poderia se manter tão calmo naquela situação.
Entretanto, sua voz foi o suficiente para me ajudar a me concentrar e fazer
com que o ar que nos deixava passar como se fôssemos uma bigorna na água
unisse suas moléculas e se tornasse menos penetrável.
De repente, nós paramos no meio da queda, como se uma corda invisível
houvesse nos segurado, mas não havia nada além de mim movimentando o
elemento. Fiz com que voltássemos a descer lentamente até pousarmos sobre o
telhado da fortaleza.
— Acho que eu vou vomitar. — Drake estava verde e não era por causa do
seu elemento. — Nunca senti tanta falta de pisar em algo firme.
— Para um general, você está bem molenga — Arden o provocou.
— Eu suspeitava que você fosse louco, mas depois de hoje eu tenho
certeza. Saltar desse jeito sem paraquedas é no mínimo doentio.
— Achei que confiasse na Mari.
— Arden!
— Não é comigo que tem que se preocupar. — Deu de ombros.
— Só vamos tirar a Karen daqui — lembrei-os do motivo pelo qual
viemos.
Ambos assentiram e Arden fez um gesto para que o seguíssemos. Seus
espiões pareciam ter lhe explicado exatamente como o local funcionava. Não
duvidava que houvesse muitos dominadores de fogo presos naquele lugar, afinal
era uma prisão de guerra.
Havia barras de ferro trancando a passagem de ar e de luz, que facilmente
se derreteram diante do calor intenso quando Arden colocou as mãos nelas. O
Imperador do Fogo foi o primeiro a passar e ouvi o estrondo do seu peso caindo
no chão vários metros abaixo. Quando olhei para ele, percebi o quanto era alto,
porém, para quem tinha caído de um avião em queda livre.
Parei ao lado do Arden e Drake veio logo atrás de nós; com os pés em chão
firme, sua aparência pareceu melhorar significativamente. Não poderia culpar
alguém tão ligado à Terra por reagir assim em uma fortaleza literalmente no meio
do nada.
— Sabe onde ela está?
Arden fez que não.
— Essa informação eu não consegui.
— Estar aqui já é o bastante. Vamos começar por aquele corredor. — Dei
um passo para a frente, mas Arden me puxou tão rápido de volta que acabei
colidindo contra o seu peito, ficando desconcertada.
Proposital ou não, ele certamente sabia como estarmos próximos me
desestabilizava mais do que eu gostaria. Não era algo que eu queria demonstrar,
principalmente diante do Drake e considerando todas as vezes que eu já havia
negado.
— Calma — sussurrou Arden.
— Por quê?
— Shi. — Assim que ele fez um sinal de silêncio, colocando o dedo em
riste sobre os lábios, reparei nas sombras avançando no corredor e recuei ainda
mais.
Nós três nos escondemos em um vão entre as paredes pouco antes de
alguns soldados passarem. Felizmente, os dominadores do ar não notaram a nossa
presença e logo desapareceram em outra passagem.
— Essa foi por pouco. — Abri um sorriso amarelo.
— Esses não devem ser os únicos guardas neste lugar, então precisamos
tomar cuidado ou não conseguiremos encontrar a sua amiga e poderemos acabar
capturados.
Drake e eu assentimos em silêncio.
Seguimos pelo corredor onde várias celas iam se revelando pouco
iluminadas, desprovidas de água e terrivelmente frias. Lá dentro eu encontrava
muitos rostos desolados em situação bastante precária, porém nenhum deles
parecia ser o da Karen.
Arden poderia ter comentado com um pouco de deboche, mas era um fato,
mulheres e homens da Nação do Ar se diferenciavam apenas pelas feições do rosto
eporte do corpo, porque todos, sem exceção, tinham olhos e cabelos brancos. Era
uma característica muito marcante dos dominadores do elemento, porque nas
outras nações tínhamos cores de pele e cabelo muito variadas.
— Karen? — o general chamou baixo, enquanto virávamos em outro
corredor.
Pareceu uma péssima ideia, até que ouvimos uma resposta.
— Drake!
— Karen!
Seguimos na direção do som e encontramos uma cela que parecia ainda
mais abafada que todas as outras, talvez para tornar a dominação da Karen ainda
mais difícil e mantê-la refém.
A bela mulher confiante que eu havia encontrado certa vez tinha
desaparecido completamente, dando lugar a outra de olhos fundos, pele seca e
aparência decaída e cansada. Senti-me péssima ao pensar em tudo o que poderia
ter acontecido com ela desde a minha fuga.
— Arden, pode derreter as barras?
Ele assentiu e fez um gesto para que nos afastássemos, segurando a grade e
fazendo com que o ferro se tornasse líquido.
Assim que a porta não era mais um obstáculo, Karen juntou todas as forças
que lhe restavam e correu até Drake, atirando-se nos braços dele, dando um abraço
forte e apertado.
— Não acredito que é você.
Estremeci quando Arden tombou a cabeça e aproximou a sua boca da
minha orelha, mas o que ele disse em seguida não me deixou muito contente:
— Acho que o seu aliado tem uma aliada — havia um deboche que tentei
ignorar, mas não foi tão simples.
— Vamos sair daqui — chamei. — Ninguém quer topar com mais guardas.
— Mari… — Karen se virou para mim com lágrimas nos olhos. — É tão
bom saber que você está bem.
— Sinto muito pelo que lhe aconteceu.
— A culpa não é sua. Ninguém deveria querer capturá-la.
— Mari tem razão, vamos sair daqui. — Puxando a mão da Karen, Drake
foi o primeiro a colocar os pés para fora da cela.
Tentamos retomar o caminho pelo qual viemos, porém, antes que
chegássemos à saída, dois guardas apareceram no nosso campo de visão.
— Intrusos!
Fiquei com medo do que poderia acontecer, mas antes que pudessem
alertar os outros Arden literalmente os carbonizou vivos.
— Vamos sair logo daqui — disse em um tom firme e nenhum de nós
ousou questionar.
Voltamos para a entrada por onde havíamos passado, porém não parecia
haver nenhuma forma clara de escalar.
Arden olhou para mim e antes mesmo de dizer qualquer coisa eu percebi o
que ele esperava que eu fizesse.
— Você primeiro?
Assentiu.
Ergui-o como se fosse um objeto e fiz com que literalmente voasse até a
saída.
— Você conseguiu aprender. — Karen pareceu abismada e contente ao
mesmo tempo.
— Não teria sem a sua ajuda.
Arden pigarreou lá de cima, para que nos movêssemos, não era a melhor
hora ou local para ficarmos conversando.
Karen subiu sem a minha ajuda e Drake moveu o chão do lugar como uma
escada, como se aquela forma fosse muito melhor de subir, mas nós três não vimos
problema em lidar com o ar.
— Agora como vamos sair daqui? — O general olhava de um lado para o
outro e além da fortaleza, não parecia existir mais nada ao nosso redor.
— É um local feito para as pessoas não saírem — comentou Karen.
— Nosso transporte está chegando em alguns segundos. — Arden reparou
em algo no pulso que só naquele momento eu notei ser um relógio; logo depois ele
levantou uma mão e segurou uma corda, entregando outra ao Drake.
— Por que não descemos assim antes?
— Porque um jato planando aqui chama atenção. — Ele mal terminou a
frase antes que mais guardas aparecessem.
Nem sequer tive tempo de pensar no que fazer antes de sentir os braços
firmes dele segurando a minha cintura.
— Eu te carrego e você se livra deles.
Assenti.
Assim como o ar, a água estava em todo lugar. Consegui reunir as
pequenas partículas nas nuvens e transformá-las em estacas de gelo para atirar
contra os guardas e impedi-los de se aproximarem. Havia muitos mais e foram
aparecendo de todas as direções, voando até nós enquanto subíamos para o jato
com a corda.
Derrubei cada um deles usando o elemento que deveria conhecer desde o
meu nascimento, até estarmos seguros no chão da aeronave. Com uma corrente de
ar, empurrei o último dos guardas para longe antes que a porta se fechasse conosco
dentro da aeronave.
Arden se afastou, soltando a minha cintura antes que eu dissesse algo, e
fiquei grata por isso, porque nos preveniu de tornar a situação ainda mais
constrangedora.
— Não acredito que vieram me salvar. — Karen estava emocionada e
aliviada.
— Sinto muito de verdade por ter passado tanto tempo aqui por minha
causa — lamentei com pesar.
— Não me arrependo. — Karen sorriu para mim.
— Meu palácio vai acabar pequeno — balbuciou Arden ao tirar a máscara.
Assim que Karen botou os olhos nele, ela recuou como se houvesse se
deparado com uma assombração medonha. De fato, eu poderia cogitar que fosse
exatamente assim que as pessoas das outras nações enxergavam Arden.
— O que ele faz aqui? — Karen gaguejou.
— De nada por ajudar a salvá-la. — Arden fingiu não se importar com o
horror nas feições dela; deveria estar bem acostumado a se deparar com essa
reação.
— Não imaginei que se aliaria a esse homem. — Encarou Drake.
— Eu não me aliei.
— Precisávamos da ajuda dele — aleguei, tentando amenizar a situação.
— Mari, por acaso você se esqueceu de que ele tentou manipulá-la e usá-la
para tentar vencer a guerra? O mundo só está desse jeito por causa desse homem.
— Karen apontou para Arden.
O tempo presa provavelmente fez com que ela parasse de se preocupar
com as consequências.
— Eu não me esqueci.
— Então por quê?
— Preciso aprender o fogo.
— Não com ele!
— Foi o que eu disse a ela — comentou Drake.
— Se preferirem, posso abrir a porta e deixar que pulem — provocou
Arden. — Honestamente, não me importo.
— Podemos deixar a hostilidade de lado por enquanto, por favor? —
Alternei o olhar entre os três e levou um momento para que assentissem.
— Ele não a convenceu novamente, não é? — Karen murmurou para
Drake, mas eu acabei escutando.
— Espero que não.
— Seus amigos não gostam muito de mim — comentou Arden, com um
sorriso provocativo, deixando claro que ele não se importava com essa opinião.
— Seria uma surpresa, se você não houvesse feito por merecer.
— Todos temos objetivos, Mari. Só que eu sou capaz de ir fundo na busca
pelos meus.
— A maioria não quer dominar o mundo.
— Ambição não deveria ser um pecado.
— Só quando as pessoas morrem por ela.
— Pessoas morrem todos os dias por diversos motivos.
Era uma verdade, mas isso não o isentava. Arden era um bárbaro e isso
nenhum de nós negava, nem mesmo ele.
Enquanto retornávamos ao palácio de Haddan, aproximei-me da Karen
para ver com mais calma como ela estava, ainda que eu não fosse médica e não
pudesse ajudar de fato. Entretanto, considerando o local onde ela passara os
últimos meses, continuava firme e me transmitiu a sensação de que se recuperaria
rápido. Ao menos eu estava torcendo por isso.
 
 
Capítulo sete
 
 
Assim que entrei no quarto, Isqueiro veio correndo e escalou a perna da
minha calça, cravando as pequenas garrinhas na minha camisa e inclinando a
cabeça de um jeito que me fazia encará-lo. Tive certeza de que, se fosse capaz de
falar, estaria brigando comigo.
— Sinto muito por ter desaparecido, não era a minha intenção deixar você
sozinho, mas tenho certeza de que não iria querer me acompanhar até onde fui.
Sua pequena cabecinha pegou fogo.
— Você não iria querer, amiguinho, acredite em mim. Para começar,
pulamos de um avião em movimento sem paraquedas.
Ele se apagou.
— Viu? Eu disse que você não iria gostar.
O sol já estava nascendo no horizonte e serpenteando para o interior do
cômodo, mas eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a necessidade
de dormir. Estava completamente exausta quando me joguei na cama e Isqueiro
pulou do meu peito, acomodando-se ao meu lado, onde era mais seguro.
Drake e Karen estavam acomodados no palácio e presumi que Arden não
fosse machucá-los, ao menos não enquanto pensava que eu poderia odiá-lo por
isso.
Quandoconheci a Karen, eu já havia presumido que ela e o Drake tinham
um passado, mas percebi que era bem mais intenso do que eu imaginava quando
eles se reencontraram. Eu poderia ter me sentido incomodada e até mesmo
ciumenta quando Arden debochou de mim, mas era egoísta da minha parte reagir
de forma negativa considerando que não estava com Drake.
De fato, nunca demos um nome para o nosso envolvimento; por mais que o
meu período com ele me houvesse feito sentir segurança e algo calmo e doce que
provavelmente jamais voltasse a sentir, no fundo, queria que ele ficasse feliz.
Já havia chegado à conclusão de que envolvimentos amorosos não eram
algo com que eu devesse me preocupar, principalmente após o que havia
acontecido com Arden.
Mantenha o foco!
Fique firme!
Eu tinha poderes que faziam de mim uma lenda, pessoas como a Karen
haviam pagado só por tentar me proteger e, por mais que vivessem acusando
Arden disso e não fosse uma mentira, a Nação do Fogo não era a única que
desejava me usar ao seu benefício. Caso contrário as demais não estariam tão
ávidas por me capturar.
Em um momento em que era tão difícil confiar nas pessoas, entregar o meu
coração para alguém novamente poderia ser a maior estupidez que eu cometeria.
Estava tão exausta que o sono veio logo, nocauteando-me antes que me
desse ao trabalho de trocar de roupa. Só acordei um tempo depois sem saber
quantas horas eram, se já havia passado do meio-dia ou se ainda estávamos na
manhã.
Meu desjejum havia sido posto em uma bandeja na pequena mesa redonda
de sempre, fiquei grata ao Brad por não ter me acordado. Sem dúvidas a principal
vantagem de retornar ao palácio do Arden era todo o conforto que poderia
facilmente me convencer de que estava tudo bem, ainda que no fundo eu soubesse
não ser verdade.
Tateei o espaço ao meu lado na cama à procura do meu amiguinho, até que
dei um grito quando o senti abocanhar o meu dedo.
— Ai! Não precisava me morder. — Sentei-me para encará-lo. — Só
queria ter certeza de que você estava aqui. Desse jeito, como posso defendê-lo
quando o chamam de monstrinho ameaçador?
Ele afunilou os olhos, pegando fogo.
— Nem vem com essa! Sabe que estou falando a verdade. — Levantei-me
e fui até a bandeja com a refeição, mas Isqueiro foi mais rápido do que eu e quase
mergulhou no meu suco. — Não queria mesmo.
Peguei algumas bolachinhas e joguei na boca, mastigando tudo de uma vez
enquanto reparava no horizonte. O sol ainda estava alto e presumi que pudesse ser
algo entre dez da manhã e duas da tarde, mas era apenas um palpite.
Após dividir meu café da manhã com a temperamental salamandra de
fogo, eu troquei de roupa, ajeitei os cabelos e fui procurar pelo Drake e a Karen,
queria garantir por mim mesma que, além de bem acomodados, eles estavam em
segurança.
Daquela vez a porta do aposento onde o general da Terra estava havia sido
fechada e eu precisei bater para que ele abrisse, mas, para a minha surpresa, ou
talvez nem devesse estar surpreendida, quem me recepcionou foi a Karen.
— Mari!
— Oi. — Forcei um sorriso tentando não parecer sem graça, mas cruzei os
braços atrás do corpo, o que deve ter me denunciado. — Como você está? —
tentei desviar o assunto para que o clima não ficasse ainda mais estranho.
— Eu dormi como não fazia há meses. Muito obrigada por terem ido atrás
de mim.
— Nem deveria ter sido presa. Sinto muito por isso ter acontecido só
porque você se arriscou a me ajudar.
— Está tudo bem. Ainda nem consigo acreditar que convenceu o
Imperador do Fogo a ajudar, nem que estamos aqui… debaixo do teto dele.
— Vocês vão ficar seguros.
— Jamais confiaria nele, mas confio em você.
— É um bom começo.
Karen inclinou-se na minha direção novamente e me deu outro abraço.
— Obrigada de verdade.
— Sou eu quem deve agradecer por tudo.
Ficamos assim por alguns instantes até que eu levantei a cabeça e vi, por
cima do ombro da Karen, o Drake se aproximar de nós.
Ele carregava uma expressão séria e um tanto desconcertada. Ainda que
não fosse a primeira noite que ele passava naquele palácio, não poderia julgá-los
por não se sentirem à vontade, afinal estavam na casa do maior inimigo de todas
as nações.
— Conseguiu descansar? — perguntou a mim.
— Sim.
— Dormi bem. Vocês comeram alguma coisa?
— Perto do que eu vinha comendo, foi um banquete digno de um
imperador. — Karen deu uma risadinha.
— Fico contente.
Nós três nos entreolhamos por alguns instantes até que Karen voltou a
falar.
— Quando vamos sair daqui?
— Eu preciso ficar um pouco mais. Quando finalmente dominar o fogo…
— E você é tola o bastante para achar que ele vai deixá-la partir? — o tom
ríspido do Drake ao fazer aquele questionamento me pegou de surpresa.
— Ei, pega leve com ela — Karen interveio.
— Leve? — Drake cruzou os braços em uma postura ainda mais ofensiva.
— Aquele cara é o responsável pelas maiores atrocidades que aconteceram
no mundo na última década. Acha que podemos fingir que está tudo bem e que
somos amigos? Ele não vai ajudá-la sem ter um plano. Ou acha que o Senhor do
Fogo se tornou caridoso do dia para a noite?
— Eu não acho.
— Então vamos embora daqui o quanto antes, Mari.
— Você está cega, se deixando levar pelos sentimentos que tem por ele. —
Assim que Drake disse isso em voz alta, Karen deu um passo relutante para trás e
a minha vontade foi voltar pelo corredor.
Embora eu não quisesse discutir com ele, estufei o peito e encarei os olhos
castanhos do general. Tínhamos uma história, mas era muito mais complicado do
que isso.
— Não tem nada a ver com os meus sentimentos.
— Está tentando se enganar.
— Não acha que quem deve saber o que eu estou sentindo ou não sou eu?
Não estou aqui para voltar a ter o que quer que seja com Arden, mas para dominar
o fogo. Se não pode lidar com isso, volta para o fronte de batalha e me deixa em
paz.
— Todos estaremos mortos se você ficar do lado dele.
— Eu nunca machucaria você… — murmurei com pesar, triste só por algo
assim ter passado pela mente dele.
— Não vamos a lugar algum, não é mesmo, Drake? — Karen o encarou
com um olhar sério. — Ficaremos ao seu lado. E a seguiremos aonde for, não é?
Drake acabou assentindo com um movimento de cabeça.
— Vocês não precisam…
— Já fizemos essa escolha quando abandonamos nossos reis — Karen me
interrompeu. — Estamos ao seu lado e seguiremos fiéis a você.
— Karen está certa — Drake acabou concordando. — Eu vim para cá por
você, não vou embora e deixá-la.
— Obrigada.
— Depois que dominar o fogo, decidiremos o que fazer.
Balancei a cabeça assentindo.
Queria que fosse mais fácil lidar com aquela situação, mas no fundo eu
compreendia a reação do Drake; Arden ainda era exatamente o mesmo homem de
quando eu fora embora e não poderia me esquecer disso.
Ele não estava me ajudando sem segundas intenções e eu precisava não me
deixar levar por sentimentos ou qualquer outra coisa que acreditasse.
— Voltarei para o meu quarto. Se precisarem de qualquer coisa, é só irem
até lá.
— Quer que eu vá com você? — Karen se ofereceu.
Balancei a cabeça em negativa.
— Preciso de um momento sozinha.
— Sabe onde nos encontrar.
Assenti e girei o corpo, retomando o caminho para o corredor.
 
 
Capítulo oito
 
 
Fechei os olhos, inspirando profundamente enquanto me isolava do que
havia ao meu redor, para me conectar com algo além de tudo, um santuário feito
para aqueles que vieram antes de mim.
A verdade era que me descobrir tão poderosa tornava a minha vida tão
solitária quanto era quando eu não tinha qualquer habilidade, porque não era como
as pessoas a minha volta e todos criavam expectativas sobre mim que eu não sabia
se seria capaz de suprir.
Soltei o ar com força, depois inspirei profundamente quando senti uma
brisa fresca com cheiro de primavera tocar o meu rosto.
— Amber? — Olhei em volta, observando a relva verde e o ambiente
acolhedor daquela montanha espiritual, mas o local parecia vazio.
Pensar que não havia ninguém ali para me responder foi me deixando

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