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História das Religiões e Religiosidade

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02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 1/6
A Igreja Medieval
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval
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Antes de prosseguir, é necessário frisar que o Império Romano foi dividido em dois
no ano 395 pelo Imperador Teodósio I: o Império do Ocidente com capital em Roma
e o Império do Oriente com capital em Constantinopla. O Império Romano do
Ocidente deixou de existir em 476, após as invasões bárbaras. Já o Império do
Oriente perdurou por quase mais mil anos, tendo seu �m em 1453 com a tomada de
Constantinopla pelos Turcos Otomanos, o que transformou a capital milenar em
Istambul.
Apesar de cristão, Odoacro era ariano (que negava a existência da
consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai), mas não impediu o culto católico ou
perseguiu a Igreja Estatal. No entanto, a Igreja do ocidente não tinha mais a força de
antes, quando o Império Romano Ocidental ainda existia.
Desde o Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381, a capital do Império
Romano do Oriente era uma das principais sedes do catolicismo e sua importância
foi aumentando à medida em que as invasões bárbaras iam se acentuando. Por
conta disso, o �m do Império do Ocidente não representou o �m do catolicismo. 
Apesar de muitos bárbaros terem deixado os cultos politeístas germânicos em que
adoravam a Odin, Freia, Thor, Loki e a tantos outros deuses e aderido ao catolicismo,
existe um marco importante na história da Igreja Católica medieval: a conversão de
Clóvis, rei dos Francos.
Como já mencionado, o �m do
Império Romano do Ocidente está
ligado às invasões dos bárbaros
(nome dado à população que estava
fora do Império Romano e que não
falava latim – idioma o�cial do
Império), que se iniciaram por volta
do século II e se intensi�caram no
século IV. Quando Odoacro, rei dos
Hérulos – uma das tribos bárbaras
germânicas – destituiu o último
imperador romano Rômulo Augusto,
um jovem de 15 anos, a Igreja
Católica já estava disseminada entre
os dois impérios e era a principal fé
entre os romanos e até mesmo os
bárbaros. 
02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval
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Clóvis I, coroado em 496, foi o responsável pela uni�cação das tribos francas e é
considerado o primeiro rei da França. Casado com Clotilde da Borgonha, uma
católica fervorosa, Clóvis aderiu à fé da esposa por volta de 498. A partir da conversão
do rei dos francos, a Igreja Católica Ocidental voltou a respirar, pois tinha o apoio do
rei bárbaro mais importante de seu tempo. Posteriormente, no século VI, Recaredo,
rei dos Visigodos – que dominavam a Península Ibérica - abandonou o arianismo e
se converteu ao catolicismo.
Como já visto em aulas anteriores, o islamismo surgiu no século VII e rapidamente
expandiu seu poder pela Arábia, Pérsia e norte da África, e em 711, conquista a
Península Ibérica. Uma vez que a pretensão muçulmana é proselitista – se
Figura 1 - Clóvis I, Rei dos Francos, e Recaredo, Rei dos Visigodos
Fonte: wikipédia.
ATENÇÃO
Vários reinos que ocupavam a extensão do antigo Império do Ocidente
se tornaram católicos ao longo dos primeiros 200 anos após a queda de
Roma.
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empenhava fortemente em converter os povos – como a cristã, os muçulmanos
marcharam para a França a �m de fazer sucumbir o poderoso reino dos francos. Em
732 foi travada a famosa Batalha de Poitiers, onde os exércitos francos liderados pelo
general e mordomo real Carlos Martel impetraram uma dura derrota ao exército
muçulmano, impedindo, ou adiando, a expansão islâmica sobre a Europa central. 
Sob a bandeira do catolicismo, Carlos Martel se tornou um importante nome na
Europa cristã. Ainda que não fosse um monarca de fato, visto que o poder real era
exercido pela dinastia dos Merovíngios desde o reinado de Clóvis I, Carlos Martel era
o Mordomo do Palácio, título dado aos responsáveis pelas questões políticas e
militares do reino, e tinha sobre si o respeito e a autoridade entre os francos, ainda
que não fosse o rei. Foi seu �lho mais novo, Pepino, o Breve, que veio de fato a
assumir, além do cargo de Mordomo herdado do pai, o título de rei dos francos,
depondo o último rei Merovíngio Quilderico III em 751.
Pepino, o Breve, inaugurou a dinastia dos Carolíngios e expandiu as fronteiras do
território franco durante o seu reinado, entrelaçando-se ainda mais ao Papa e
doando, em 754, o território onde foi estabelecido o patrimônio de São Pedro e a
cidade do Vaticano. Após esse feito inédito, o Papa deixava de ser apenas um líder
religioso e passava a ser uma importante liderança político-estatal.
Figura 2 - Pepino, o Breve, e Carlos Martel vencendo os muçulmanos no detalhe
da tela “A Batalha de Poitiers”
Fonte: wikipédia.
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O �lho de Pepino, o Breve, Carlos Magno, além de rei dos Francos, foi coroado
Imperador dos Romanos. Aqui, “romanos” trazia mais o sentido histórico da vastidão
e importância do Império do que propriamente o da Roma Antiga. Na noite de Natal
do ano 800, na cidade de Roma, na antiga basílica de São Pedro, nascia a mais
importante unidade política ocidental: o Império Carolíngio.
Pepino, o Breve, inaugurou a dinastia dos Carolíngios e expandiu as fronteiras do
território franco durante o seu reinado, entrelaçando-se ainda mais ao Papa e
doando, em 754, o território onde foi estabelecido o patrimônio de São Pedro e a
cidade do Vaticano. Após esse feito inédito, o Papa deixava de ser apenas um líder
religioso e passava a ser uma importante liderança político-estatal.
Carlos Magno
Fonte: wikipédia.
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O �lho de Pepino, o Breve, Carlos Magno, além de rei dos Francos, foi coroado
Imperador dos Romanos. Aqui, “romanos” trazia mais o sentido histórico da vastidão
e importância do Império do que propriamente o da Roma Antiga. Na noite de Natal
do ano 800, na cidade de Roma, na antiga basílica de São Pedro, nascia a mais
importante unidade política ocidental: o Império Carolíngio.
Durante o feudalismo que se estabelece no território da Europa central entre os
séculos X e XIII, a Igreja Católica se tornara ainda mais importante. Todo território
denominado feudo, além do palácio dos nobres, habitação dos servos, moinhos,
manso servil e manso senhorial, tinha uma igreja, que geralmente era gerida por um
dos �lhos do senhor feudal que tinha sido “dado” à vida sacerdotal. 
A própria divisão social feudal previa três grupos: o clero (oratores), a nobreza
(bellatores) e os servos (laboratores), sendo o clero constituído por membros da
Igreja, a nobreza, pela família do senhor feudal e os servos, pelos que trabalhavam na
terra e não tinham nenhum tipo de privilégio. Dentre esses, o grupo mais
importante e com poder de decisão era formado pelo clero.
Em período marcado pela falta de unidade política, a religião se tornou o maior
elemento de coesão, e o Papa, o homem mais importante da Europa.
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A Igreja Primitiva
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Na história do cristianismo, convencionou-se chamar o período entre a cruci�caçãode Cristo, por volta do ano 30 da era comum, e o Concílio Ecumênico de Nicéia em 325
de Igreja Primitiva. Esses três séculos foram marcados por grandes disputas
teológicas e pela profusão de compreensões acerca do que seria a verdadeira fé cristã:
debates envolvendo a deidade de Cristo, a santidade de Maria ou mesmo a natureza
do Messias mostravam que esses temas ainda não estavam claros para os cristãos dos
primeiros séculos. 
Carentes de um corpo de normas que pudessem seguir, os cristãos pautavam a sua
vida nos ensinamentos dos “enviados” – nome dado aos líderes das comunidades
locais –ou nas Cartas Paulinas, que circulavam ao menos desde a década de 50 d.C
entre os crentes do século I. O próprio apóstolo Pedro, em uma de suas cartas escritas
aos membros de cinco Igrejas que viviam na Ásia Menor, demonstra a importância
dos escritos paulinos:
[...] Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor signi�ca
salvação, como também o nosso amado irmão Paulo escreveu a vocês,
com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em
todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm
algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis
torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria
destruição deles (BÍBLIA SAGRADA, 2020, II Pedro 3:15–16).
Aqui vale também ressaltar a existência de dois tipos de escritos atribuídos ao
apóstolo Paulo. Ao todo, existem 13 cartas paulinas. Dentre elas, as proto-paulinas,
escritas pelo próprio punho de Paulo de Tarso, sendo elas Romanos, Gálatas, 1ª
Tessalonicenses, 1ª e 2ª Coríntios, Filipenses e Filémon, e as deutoro-paulinas,
provavelmente escritas pelos discípulos do apóstolo dos gentios: 1ª e 2ª Timóteo, Tito,
Efésios, Colossenses e 2ª Tessalonicenses.
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Foram três as primeiras comunidades cristãs que surgiram logo após o Pentecostes,
cerca de quarenta dias depois da ascensão de Cristo: as de Jerusalém, de Antioquia e
da Ásia Menor/Grécia. Segundo a tradição cristã, foi na festa das colheitas
(Pentecostes) que os discípulos receberam o Espírito Santo e de fato iniciaram seus
ministérios.  
Jerusalém era, como esperado, a principal comunidade de crentes, ou Ekklesía,
palavra grega de onde se origina o termo “Igreja”. Lá estavam aqueles que haviam
convivido com Jesus e esta era liderada, em um primeiro momento, pelo Apóstolo
Pedro, sendo sucedido por Tiago, o justo irmão de Jesus, que posteriormente foi
substituído por Simão - outro irmão do Messias. A Igreja de Jerusalém era muito mais
uma seita dentro do judaísmo do que uma nova corrente religiosa, pois seus
membros continuavam com as práticas alimentares de puri�cação, faziam a
circuncisão dos não-judeus que se convertiam, guardavam as festas e cerimônias do
calendário hebreu, frequentavam o Templo e se reuniam no domingo, um dia depois
do Shabbat (dia sagrado para os judeus).
 O processo de conversão era baseado, como já descrito, na circuncisão e no batismo,
prática comum entre os judeus para com os prosélitos. Depois disso, eram convidados
a fazer uma pro�ssão pública de fé em Cristo. As reuniões comunitárias eram
marcadas por práticas judaicas, como rezas e bênçãos, além da partilha do pão,
rememorado a última ceia.
Figura 1 - Paulo escrevendo suas epístolas, tela de Bolougne
Fonte: wikipédia.
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A Igreja de Jerusalém também �cou marcada pela ajuda às viúvas e aos órfãos, como
escrito por Tiago: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (BÍBLIA
SAGRADA, 2020, Tiago 1:27). A e�cácia da Igreja na vida cotidiana desagradou a elite
religiosa judaica, que, marcada pela �gura do Sinédrio, mandou prender Pedro e João
e posteriormente convenceu Heródoto Agripa, governador da Judeia, a mandar
executar o apóstolo Tiago. A perseguição imposta pela liderança judaica fez parte da
Igreja se dispersar. Após a destruição do Templo em 70 d.C., sobrou uma pequena
parte da comunidade de Jerusalém que continuou �el aos preceitos do cristianismo
nascente, mas a maior parte regressou ao judaísmo tradicional (BAUMGARTNER,
2000).
É em Antioquia, a terceira maior cidade do Império Romano, que pela primeira vez é
ouvida a expressão “cristão”, como se vê na passagem bíblica dos Atos dos Apóstolos:
“E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e
em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (BÍBLIA
SAGRADA, 2020, Atos 11:26). Tal Igreja, formada em grande parte por conversos que
haviam fugido de Jerusalém após a morte de Estevão por volta do ano 36, foi o ponto
de partida dos empreendimentos missionários de Paulo de Tarso e Barnabé, natural
de Chipre, que também respondia pelo nome de José das Consolações.
Diferentemente da Igreja de Jerusalém, em Antioquia a Igreja possuía muito mais um
caráter universalista, pois grande parte de seus membros eram oriundos da cultura
helênica, falavam o grego e conheciam os fundamentos básicos das �loso�as
socrática, platônica e aristotélica.
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Os cristãos de Antioquia não eram circuncidados, nem guardavam as tradições
alimentares e ritualísticas judaicas. No entanto, como forma de mudança de vida, eles
passavam pelo batismo. A não observância da tradição judaica entre os cristãos de
Antioquia foi o motivo da Conferência de Jerusalém, ocorrida por volta do ano 48. Os
líderes da Igreja de Jerusalém pedem explicação aos líderes locais Paulo, Barnabé e
Tito sobre os motivos pelos quais os conversos não seguiam a Lei de Moisés. Este
debate foi descrita por Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos no capítulo 15, e depois
das discussões, �cou estabelecido que os convertidos não judeus não precisariam
passar pela circuncisão, mas deveriam se abster de alimentos impuros. 
Para falar da terceira comunidade cristã organizada, precisamos recorrer ao plural,
porque foram várias as pequenas igrejas fundadas a partir das viagens missionárias
de Paulo de Tarso. Nas comunidades da Ásia Menor e da Grécia, sendo as mais
famosas as de Corinto, Tessalônica e Éfeso, o aspecto judaico não estava tão presente,
sendo essas igrejas quase que compostas na sua totalidade por gentios. 
Diferentemente de Jerusalém e Antioquia, que eram cidades com Igrejas formadas
por núcleos bem de�nidos, as congregações fundadas por Paulo encontravam-se em
estágios de desenvolvimento distintos. Muitas delas tinham di�culdades de
compreensão acerca dos rituais e crenças, motivo pelos quais o próprio apóstolo
sempre estava enviando cartas admoestando a comunidade local. Para suprir as
di�culdades quanto à maneira como se estruturava a religião, Paulo cria três
ministérios: apóstolo ou missionário, profeta ou pregador, e doutor ou professor - cada
um com um papel de�nido a �m de não haver con�itos de interesses e jurisdição.
Muitas foram as di�culdades em se reunir esses cristãos em uma só linha de
compreensão religiosa. A Igreja de Jerusalém, formada por judeus praticantes,
exerceu in�uência e soberania sobre as outras. No entanto, principalmente depois da
destruição do Templo e da propagação da fé cristã, em especial entre os romanos, os
ditames da Igreja-mãe serão apenas uma lembrança na história do cristianismo. 
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Conferir unidade de crença quando ainda não existia institucionalização, ou seja, um
corpo de regras bem de�nidos, não foi tarefafácil, pois ao mesmo tempo em que
querem se desvencilhar do judaísmo dos apóstolos, esses cristãos não podem se aliar
ao paganismo do mundo greco-romano. 
Paulo de Tarso e, depois, seus discípulos diretos (como Timóteo) tiveram que advertir
insistentemente os recém-convertidos que, por vezes, impulsionados pelo hábito,
viam-se participando de cultos pagãos ou aproveitando os prazeres da vida carnal por
acreditarem que logo seriam arrebatados.
Patrística
Havia uma necessidade premente de se estabelecer aquilo que seria considerado
como a verdadeira conduta dos seguidores do cristianismo. É neste contexto que
pensadores comprometidos com a expansão e compreensão do cristianismo
estabelecem as bases doutrinárias e hermenêuticas – ensinamentos e interpretação –
daquilo que seria chamado de fé cristã. Estes são conhecidos como os “Pais da
Igreja”, e por isso a terminologia “Patrística”. 
Versados na cultura clássica dos três primeiros séculos da era comum, os Pais da
Igreja transformaram o cristianismo de uma fé prática e pouco racional em uma
�loso�a altamente complexa e combativa diante de outros pensamentos �losó�cos
concorrentes na época, sendo até hoje estudada em cursos de Filoso�a em todo o
mundo, pois foram esses pensamentos que forjaram as noções de ética no mundo
ocidental.
02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva
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São muitos os pensadores deste período, tanto que poderíamos ter uma disciplina
apenas para estudar as suas ideias. Porém, como não temos espaço para tanto,
citaremos alguns exemplos de pensadores deste período. Eusébio de Cesareia (vivido
entre os séculos III e IV), autor do clássico História Eclesiástica; Jerônimo (vivido entre
os séculos IV e V), que traduziu a Bíblia escrita em Hebraico e Aramaico (Antigo
Testamento) e Grego (Novo Testamento) para o Latim, dando origem à Vulgata - que
tornou as escrituras acessíveis aos habitantes do Império Romano; Orígenes (vivido
entre os séculos II e III), autor de grandes tratados de apologia e comentários sobre
livros da Bíblia e, apesar de tardiamente, o grande Agostinho de Hipona (vivido entre
os séculos IV e V), autor de Cidade de Deus, obra essencial para a compreensão da
doutrina da Igreja enquanto corpo místico de Cristo. 
Figura 3 - Eusébio, pai da história da Igreja | São Jerônimo, padroeiro dos tradutores
| Teólogos Orígenes | Santo Agostinho de Hipona
Fonte: wikipédia.
02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino
https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 1/5
A Perseguição no Império e
a Conversão de Constantino
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino
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Já no século II, o cristianismo, por seu caráter proselitista, ou seja, por fazer com que
outros se convertam às suas ideias, já tinha alcançado todas as regiões do Império
Romano e se tornado cada vez mais preocupante para as lideranças locais, que
temiam a grande inserção da nova fé como uma possibilidade de ruptura da unidade
do Estado.
Já no primeiro século, os cristãos foram perseguidos, como no caso do reinado de
Nero, que, ao atear fogo em Roma, culpabilizou-os pelo ocorrido. Mas foi a partir do
século III, com o início da decadência do Império, que houve uma intensi�cação na
repressão. No ano de 202, Sétimo Severo proíbe a conversão ao cristianismo, e em 205
Décio ordena o sacrifício geral de todos os cristãos. Valeriano, entre 253 e 260, ordena
que o clero cristão sacri�que suas próprias “ovelhas”, e aqueles que não seguissem
suas ordens seriam executados. Em 303, Diocleciano proíbe o culto cristão, demite-os
dos serviços públicos e determina que todos os habitantes do Império deveriam
prestar culto aos deuses romanos sob pena de morte caso a ordem não o �zessem
(BAUMGARTNER, 2000).
As perseguições cessaram com o reinado de Constantino a partir de 306. A história
sobre este imperador é de extrema importância para o desenrolar desta aula.
Segundo a tradição, em 28 de outubro de 312, antes da batalha contra o usurpador do
trono Magêncio, o Imperador teria tido um sonho e visto uma cruz. Em seu interior,
estava escrito em latim “in hoc signo vinces”, traduzindo-se para “com este sinal,
vencerás”. Ao acordar, Constantino teria mandado pintar uma cruz nos escudos dos
combatentes e venceu a batalha, garantindo sua soberania. 
Esse episódio marca a conversão do Imperador, que já em 313 tornou o culto cristão
legalizado em todo o Império com o Edito de Milão. Existe também uma versão que
atribui a conversão de Constantino à forte in�uência de sua mãe, Helena de
Constantinopla, uma cristã da Ásia Menor hoje venerada como Santa.
Figura 1 - Mosaico bizantino representando Constantino, na Itália | Túmulo de Santa
Helena de Constantinopla, no Vaticano
02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino
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Fonte: wikipédia.
A Institucionalização do
Cristianismo
O Edito de Milão de 313 é lembrado como o marco da institucionalização do
cristianismo e, portanto, do nascimento da Igreja Católica Apostólica Romana como a
conhecemos, tendo Silvestre I como o seu primeiro Papa. Contudo, historiadores
católicos recusam essa a�rmação, sendo que para eles a Igreja foi fundada por Jesus
Cristo, logo, Pedro seria o primeiro Papa. Compreendendo que essa discussão é
extremamente complexa, não nos deteremos nela, mas aqui é importante esclarecer
que pela primeira vez na história o cristianismo foi reconhecido como religião e
seus seguidores tiveram os mesmos direitos e liberdades que os pagãos, além de
serem ressarcidos dos bens que haviam sido con�scados anteriormente.
Em 325, a �m de uni�car a doutrina cristã, Constantino convoca para a cidade de
Niceia um Concílio Ecumênico, ou seja, que englobava bispos de todas as regiões do
mundo conhecido na época. O Concílio Ecumênico de Niceia é um marco na história
da Igreja cristã, pois foi nessa reunião com duração de quase um mês entre 20 de
maio e 19 de junho, que foram estabelecidas questões como a dos livros que viriam a
compor o Novo Testamento e a do distanciamento das práticas judaicas,
principalmente aquelas ligadas à Páscoa, que passa a ter sua centralidade em Cristo,
uma vez que antes era comemorada, principalmente pela Igreja do Oriente, como a
festa ligada à saída do Egito. Estabelece-se, assim, a doutrina da Trindade, na qual o
02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino
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Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo, são o mesmo, são promulgadas as leis
canônicas e constitui-se o Credo Niceno, seguido por grande parte do cristianismo
atual.
Voltado a institucionalizar e criar regras para normatizar e dar unicidade aos eventos,
um dos propósitos do Concílio de Niceia era resolver os problemas da Igreja de
Alexandria, no Egito, onde um presbítero de nome Ário desenvolveu uma complexa e
interessante explicação para a natureza de Cristo. Segundo o Arianismo, Cristo não era
um com o pai, mas um homem comum que teria sido adotado por Deus. Dessa
forma, não existia consubstancialidade (ou seja, o conceito da santíssima Trindade),
fazendo de Jesus realmente o Messias, Salvador, Cristo, morto e ressurreto ao terceiro
dia, mas não o próprio Deus. 
Essa doutrina, conhecida como não trinitarista, foi amplamente debatida no Concílio
e acabou sendo vencida. Ário foi excomungado,tanto que no Credo Niceno �ca
de�nido que o Cristo foi gerado de “uma só substância com o Pai”. O Arianismo ainda
continuou forte entre alguns grupos cristãos nos séculos seguintes, tanto que muitos
reinos bárbaros foram primeiro cristãos arianos e posteriormente católicos.
02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino
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Em 380, no Concílio de Tessalônica, o Imperador Teodósio tornou o catolicismo a
religião o�cial do Império Romano, proibindo os cultos pagãos. Apesar de o termo
“católico” ser utilizado desde o século II, neste momento o nome “Igreja Católica
Apostólica Romana” passou a ser o�cial.
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A Reforma Protestante
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Olá a todos!
Para compreender a reforma cristã empreendida no século XVI, é necessário analisar
o cenário político e social europeu no alvorecer do renascimento cultural.
Com início no século XIV e alcançando amadurecimento entre meados do século XV
e início do XVI, o movimento conhecido como Renascimento Cultural objetivava
ressuscitar a cultura greco-romana, que, segundo seus próprios membros, havia se
perdido ao longo dos quase mil anos do período medieval, também chamado de
Idade das Trevas.
Mais do que postular aspectos vinculados à arte, como noções de realismo e
proporção tanto na pintura quanto nas esculturas, o Renascimento colocou o
homem como a medida de todas as coisas (antropocentrismo), uma atitude
diferente do que previa a Igreja, grande detentora do saber durante a Idade Média,
que colocava Deus como o centro dos interesses e a medida de todas as coisas
(teocentrismo).
Filoso�a clássica, política, observação astronômica, literatura e tantas outras áreas do
conhecimento se popularizaram na Europa. Em um primeiro momento, o
movimento esteve restrito à Península Itálica, mas logo se expandiu para o restante
do continente. Foi nesse contexto que grandes obras da literatura universal foram
compostas, como “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, “O Príncipe”, de
Nicolau Maquiavel, “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, “A Divina Comédia”, de
Dante Alighieri, “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, dentre tantas
outras.
No plano político, o fortalecimento das monarquias absolutistas colocava em xeque
os interesses religiosos. Os reis fundadores dos Estados Modernos objetivavam
colocar a Igreja sob seus desígnios e não o contrário como os líderes eclesiásticos
pensavam. Os poderes reais passaram a competir com o poder papal.
SAIBA MAIS
Ao propor o antropocentrismo, os renascentistas não deixavam de
acreditar na existência divina, mas apenas traziam o debate acerca da
existência para a esfera terrena, a esfera dos interesses humanos.
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A Reforma 
Os movimentos de contestação da Igreja Católica só puderam obter êxito no século
XVI por conta das transformações sócio-políticas pelas quais a Europa estava
passando. A reforma luterana não foi a primeira tentativa de reparo das instituições
religiosas. Nos séculos XII, XIII, XIV e XV, vários movimentos, como o dos Cátaros, dos
Valdenses, de John Wycliffe e Jan Hus, foram fortemente reprimidos pela Igreja
Católica e condenados como heresias pela Inquisição.
Em 31 de outubro de 1517, um monge da ordem dos agostinianos chamado Martinho
Lutero, diante da extensiva cobrança de indulgências do Papa Leão X para a
construção de uma nova basílica de São Pedro, pregou 95 teses na porta da Igreja
de Wittenberg, na Saxônia, atual território alemão. Seguem-se quatro teses de
destaque:
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Convidado a se retratar diante de seus superiores, Lutero manteve-se �rme em seus
posicionamentos e não os negou. Em 3 de janeiro de 1521, o Papa Leão X
excomungou Lutero através da Bula Decet Romanum Ponti�cem. Mas por qual
motivo Lutero não foi preso e julgado como herege pela Inquisição romana? A
resposta para essa pergunta é fácil: a pregação do ex-monge agostiniano interessava
à nobreza cansada da dominação católica, e por isso Lutero foi protegido pelo
príncipe Frederico III da Saxônia e nunca foi julgado formalmente por Roma.
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Na esteira da pregação luterana, Henrique VIII, soberano da Inglaterra, ao ter seu
pedido de suspensão matrimonial negado pelo Papa, decidiu romper com a Igreja
Romana e criou, por meio do Ato de Supremacia, a sua própria Igreja - a Igreja
Nacional Inglesa. A Igreja Anglicana, como é mais conhecida, tem como autoridade
máxima o monarca em exercício, seja este um rei ou rainha, e como autoridade
religiosa, o arcebispo da Cantuária. Na prática, a con�ssão anglicana mescla dogmas
católicos com a teologia luterana. 
O francês João Calvino foi outro grande nome da reforma religiosa na Europa do
século XVI. Autor da obra “Instituição da Religião Cristã”, também conhecida como
Institutas, Calvino formou uma grande comunidade de crentes na cidade suíça de
Genebra. Sua pregação condenava a idolatria católica, o consumo de bebidas
alcoólicas, a jogatina, a troca pública de carícias e proibia a utilização de
instrumentos musicais nas celebrações cúlticas. Sobre a não-utilização de
instrumentos musicais, o historiador Geoffrey Blainey (2012) escreveu:
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[...] a ideia parece severa demais, mas os visitantes estrangeiros que
entravam na ampla igreja de Genebra e ouviam centenas de pessoas
cantando juntas �cavam pasmos, ao perceber tanta força e sinceridade
(p. 198).
O grande diferencial da teologia calvinista quando comparada a outras reformas é
a predestinação, segundo a qual se atribuem as ações da vida no mundo à total e
absoluta vontade de Deus. O criador predestinou parte da humanidade à salvação e
parte à condenação, e nós, humanos, nunca saberemos de fato qual será o nosso
�m, mas a justeza e a integridade de nossas ações nos dão pistas. Muitos burgueses
aderiram aos ideais calvinistas, pois ao contrário da Igreja Católica, que condenava o
lucro, para Calvino, quando este é obtido de maneira incorruptível, é benção de Deus
e uma pista da sua salvação.
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Assim, pontuo que não seria possível escrever aqui a história total do Cristianismo,
pois isso requerer tempo e muito trabalho, tanto que existem cursos especí�cos
destinados apenas a essa temática. Nosso objetivo aqui é apresentar conceitos
basilares da história das religiões e religiosidades.
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Compreendendo o Outro
AUTORIA
Saulo HenriqueJustiniano Silva
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Olá, alunos, sejam bem-vindos à primeira aula de História das Religiões e
Religiosidades. Neste primeiro momento, trabalharemos conceitos básicos sobre o
estudo da História das Religiões e das Religiosidades.
Antes de começar, vale a pena dizer que, enquanto historiadores em formação,
devemos ter claro que apesar de ambas serem parte da grande área das Ciências
Humanas, a ciência histórica é diferente da ciência teológica. Essa colocação serve
para nos atentarmos quanto às especi�cidades das subáreas. 
O historiador romeno-americano Mircea Eliade (1907 – 1986), talvez o maior nome da
História das Religiões e Religiosidades, escreveu no prefácio de História das Crenças
e das Ideias Religiosas, volume I, que:
[...] para o historiador das religiões, toda manifestação do sagrado é
importante; todo rito, mito, crença ou �gura divina re�ete a experiência
do sagrado e por conseguinte implica as noções de ser, de signi�cação
e de verdade (ELIADE, 2010, p. 13).
Historiogra�a das Religiões
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É difícil estabelecer o momento em que surgiu a História das Religiões e
Religiosidades como uma área do conhecimento histórico. O que se sabe é que os
primeiros historiadores das religiões não eram necessariamente historiadores, mas
antropólogos e sociólogos. 
Antes de prosseguir com a conceitualização aqui apresentada, é necessário
compreender que a própria ideia da “História” enquanto disciplina surgiu entre �nais
do século XIX e início do século XX. Em grande medida, a estruturação que de�niu as
áreas das ciências esteve vinculada ao estabelecimento de limites dos campos de
conhecimento que surgiram com o Positivismo.
O antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) foi um dos primeiros
cientistas a se debruçar sobre as questões dos aspectos religiosos de um
determinado povo. Em sua obra Primitive Culture, de 1871, Tylor de�niu que a
manifestação religiosa mais primitiva foi o animismo, crença que considera dotada
de alma toda a natureza. O autor, in�uenciado pelo Evolucionismo de Charles
Darwin e pelo Positivismo de Comte, legitima a ideia de que a evolução das religiões
se desenvolveria para o politeísmo e posteriormente para o monoteísmo,
manifestação religiosa que demonstra total abstração da crença, certi�cando o auge
da evolução mental do Homo Sapiens.
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O grande sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917), em seu clássico As formas
elementares da vida religiosa, de 1912, analisou a vida religiosa dos aborígenes
australianos. Ao observar o sistema religioso totêmico, no qual um animal, vegetal
ou qualquer outro objeto é considerado como ancestral ou símbolo de uma
coletividade (tribo, clã), “sendo seu protetor e objeto de tabus e deveres particulares”
(HERMANN, 2011, p. 318), o sociólogo acreditou ter encontrado a forma primordial das
crenças religiosas. 
[...] Base original da vida social, o totemismo seria a representação
primordial do homem sobre o mundo e reuniria as características
essenciais de todas as religiões: a distinção entre os objetos sagrados e
profanos; a noção de alma e espírito; de personalidade mítica e
divindade nacional; ritos de oblação e de comunhão; ritos
comemorativos; ritos de expiação (DURKHEIM, 1978 apud HERMANN,
2011, p.318). 
Com As formas elementares da vida religiosa, Émile Durkheim tornou-se um dos
primeiros autores a traçar as bases teórico-metodológicas para analisar os sistemas
religiosos. 
Logo depois de Durkheim, outro grande nome da sociologia, o alemão Max Weber,
em sua obra Economia e Sociedade, de 1922, especi�camente no capítulo V do livro
I, intitulado “Sociologia da Religião: Tipos de relações comunitárias religiosas”,
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desenvolveu uma regra geral para a compreensão das práticas religiosas.
Enquanto em �nais do século XIX e início do século XX sociólogos e antropólogos
buscavam a compreensão de uma forma elementar para a compreensão dos
aspectos religiosos, historiadores se detinham em elencar grandes nomes e
acontecimentos políticos da formação dos países. Se a História era a ciência que
estuda o passado, cabia ao historiador encontrar documentos escritos que coroavam
o passado glorioso, sem dúvida uma história feita de cima para baixo. 
Nessa perspectiva, não fazia sentido ao historiador estudar religiões, até porque
desde o século XVI, e rati�cado no século XIX, existia um processo de dessacralização
da ciência e resistência aos fenômenos religiosos fortemente marcado pelo
crescente ateísmo.
Se os positivistas não tinham interesse no estudo das religiões, os marxistas também
não. Para estes, a religião deve ser compreendida no contexto das lutas de classe
como um instrumento de manipulação das elites dominantes para justi�car as
desigualdades. A questão econômica, portanto, materialista, era a infraestrutura que
deveria ser atacada e revolucionada, para que só assim fossem transformados os
aspectos da superestrutura onde residia a religião, a cultura e a política. O
materialismo histórico-dialético, como �cou conhecida a teoria desenvolvida por Karl
Marx e Friedrich Engels, pouco colaborou para a compreensão da História das
Religiões e Religiosidades. 
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O romeno-americano Mircea Eliade foi um dos pioneiros no estudo fenomenológico
da História das Religiões. Apesar de ter escrito o “Tratado de História das Religiões”
em 1949, a obra O sagrado e o profano - a essência das religiões, de 1957, rompeu
de�nitivamente com a Sociologia Religiosa, que buscava um modelo geral para as
religiões. Eliade buscou compreender a essência do homem religioso, marcando as
experiências que as pessoas têm quando se encontram com o sagrado, motivo esse
pelo qual, para o autor, era mais importante encontrar o homo religiosus – a
completude do sagrado e suas práticas na vida social, do que as formas elementares
da vida religiosa. 
[...] o sagrado é um elemento na estrutura da consciência, e não uma
fase na história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura,
viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a
vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Em outras palavras,
ser – ou, antes, tornar-se um homem signi�ca ser “religioso” (ELIADE,
2010, p. 13).
A Contribuição dos Annales
Em 1929, a publicação dos Annales d'histoire économique et sociale (Anais de
história econômica e social), dirigida pelos professores e historiadores Marc Bloch e
Lucien Febvre da Universidade de Estrasburgo na França, revolucionou
de�nitivamente a historiogra�a ocidental. A geração de Annales, também conhecida
como Escola dos Annales, ampliou signi�cativamente a compreensão de História.
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Para os Annales, a História deixou de ser “a ciência do passado”, como sugeriam os
positivistas, e passou a ser vista como “a Ciência dos homens no tempo e no espaço”
(BLOCH, 2001, p.55). Nessa perspectiva, houve uma ampliação nos objetos de análise
da história, pois a História passou a estudar o homem em desenvolvimento, e não
mais um tempo vago e impreciso como o “passado”.
O historiador inglês Peter Burke (2010) chamou a Escola dos Annales de “a revoluçãofrancesa da historiogra�a”, pois esta de fato foi um marco na história da
historiogra�a. Na busca de uma “história total”, terminologia utilizada por Marc
Bloch na obra editada postumamente Apologia da História ou o Ofício do
Historiador, o historiador passa a validar tudo como fonte histórica, desde as escritas,
como proposto pelos positivistas, até as orais, vestimentas, aspectos culturais etc.
Também se passou a legitimar a interdisciplinaridade para a compreensão dos fatos
históricos: mais que saber história, o historiador precisa dominar outros saberes,
como geogra�a, química, línguas, matemática etc., para uma análise total dos fatos.
Os historiadores da Escola dos Annales passaram a compreender a religião como
uma dimensão da vida humana, sem a qual seria impossível compreender a
totalidade das relações em que o sujeito histórico está inserido. Um caso bastante
emblemático nesse sentido foi a obra O problema da incredulidade no século XVI: a
religião de Rabelais, de 1942, escrita por Lucien Febvre. Nela, o fundador da Escola
dos Annales rebate o também historiador Abel Lefranc, que havia escrito anos antes
que o escritor renascentista François Rabelais era ateu. Lefranc havia chegado a essa
conclusão após encontrar no texto de Rabelais diversas críticas à Igreja Católica.
Febvre, por sua vez, a�rma que o literato não era ateu, porque no século XVI não
existia ateísmo segundo o conceito moderno do termo e, apesar de crítico da Igreja,
Rabelais “fora moldado a partir de um ‘instrumental intelectual’ (outillage mental)
que não permitia a descrença” (HERMANN, 2011, p.327).
Apesar das contribuições dos Annales no campo de uma História totalizante em que
as questões religiosas não podem ser deixadas de lado, Jacqueline Hermann (2011)
orienta-nos, fazendo referência ao historiador inglês Stuart Clark, que grande parte
da historiogra�a francesa e os Annales não podem ser deixados de lado, pois muitas
vezes essa tendência “mergulhou a religião no irracionalismo, sem atentar para a
estrutura de organização e signi�cados culturais, do ‘outro’, do desconhecido”
(p.327). 
De fato, essa é uma das questões mais preocupantes no trato da História das
Religiões e Religiosidades: vencer a barreira do etnocentrismo – a visão de mundo
a partir da perspectiva particular do povo e da cultura a que se pertence,
considerando-os mais socialmente importante do que os demais – e da arrogância
intelectual. Ao tratar do fenômeno religioso, não devemos nivelar por baixo, como se
algumas delas fossem melhores do que outras, e por isso devemos sempre estar
vigilantes para não incorrer nesses erros.  
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02/05/2023, 08:34 Islamismo
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Islamismo
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Nesta aula, vamos abordar aspectos importantes da religião islâmica. 
De origem monoteísta, é a segunda maior vertente religiosa do mundo e a que mais
cresce atualmente no planeta. Por isso, antes mesmo de iniciar a apresentação sobre
o islamismo, é necessário que você, futuro historiador, abandone possíveis
preconceitos quando se trata do assunto. 
É verdade que existem grupos islâmicos que atuam na cepa do terrorismo,
principalmente no Oriente Médio, mas essa realidade não representa a totalidade da
religião. Para dizer a verdade, trata-se de uma parcela bem pequena dos membros
dessa corrente religiosa, mas que ocupam grande parte dos noticiários internacionais.
Algo importante a ser ressaltado é a distinção entre etnia e religião. Podemos
entender “etnia” como um grupo de humanos que se reconhecem a partir de um
mesmo idioma, de características raciais análogas, de uma ancestralidade comum,
organizados junto a um determinado limite territorial, e de questões socioculturais
similares. Desta forma, podemos a�rmar que os árabes são um grupo étnico. 
Quanto à questão religiosa, apesar da questão étnica in�uenciar aspectos da cultura
religiosa, a religião tem a ver com um corpo de crenças comum e um corpo de
normas e regras obedecidas e seguidas por seus membros. Essa distinção
apresentada é para elucidar que, apesar de o Islã ter surgido na Arábia no século VII,
nem todo árabe é islâmico e nem todo islâmico é árabe. O exemplo que melhor
corrobora essa matéria é que o país com o maior número de muçulmanos no mundo
não está na Península Arábica, mas no sudeste asiático: trata-se da Indonésia, com
cerca de 207 milhões de adeptos. 
Feitos esses importantes apontamentos, iniciaremos a narrativa sobre o nascimento
da religião islâmica e suas principais características. Vamos começar com o cenário
onde se deu a revelação de Deus (Alá) ao Profeta em 610.
ATENÇÃO
Outra questão é: se todos os islâmicos agissem a partir da perspectiva
fundamentalista, o mundo estaria imerso em uma imensa Jihad (Guerra
Santa), visto que o número total de seus praticantes representa cerca de
1,6 bilhões de habitantes, número superior ao de católicos – hoje, cerca de
1,3 bilhões de pessoas ao redor do globo.
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O Cenário
Localizada no Oriente Médio, a Península Arábica, palco do surgimento do Islã, foi
durante séculos ocupada por populações nômades, dentre as quais tiveram uma
relevância especial os beduínos, que se movimentavam pelo clima desértico e
semiárido em busca de alimento para si e seus pequenos rebanhos de ovelhas.
Parte da população vivia em regiões de oásis e era marcada pela formação de
cidades, das quais Meca e Yatrib eram as mais desenvolvidas. Essas regiões tinham
como principal fonte de renda e subsistência o comércio, visto que a agricultura de
larga produção era pouco viável por conta das questões climáticas.
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Figura 1 - Meca atualmente | Yatrib, atual Medina
Fonte: wikipédia.
O comércio na Península Arábica era abastecido por dois grandes impérios vizinhos –
o Império Bizantino, cuja capital, Constantinopla, foi ao longo de muitos séculos um
importante entreposto comercial entre a Ásia, o norte da África e a Europa, e o
Império Sassânida, uma evolução do Império Persa, localizado a nordeste da
Península. 
Não havia unidade política entre os árabes, tampouco religiosa. A organização social
estava em grande medida vinculada aos clãs, grupos unidos por meio de certo grau
de parentesco, e dentro dos clãs estavam as linhagens, como se fossem famílias em
que um patriarca tivesse vários �lhos e cada �lho dessa origem a uma nova pequena
família e assim por diante. Na Península Arábica, existiam alguns clãs de judeus da
diáspora e outros de cristãos, mas a maioria da população era politeísta e o centro da
devoção desses politeístas era a cidade de Meca. 
Localizada a cerca de 80 quilômetros do litoral do Mar Vermelho, Meca era uma
cidade marcada pelo aspecto religioso e pela já citada característica comercial. Na
cidade, estava e ainda está a Caaba: estrutura cúbica onde estavam guardados todos
os deuses adorados na Península e a Pedra Negra, um meteorito que, segundo a
tradição, teria chegado branco, mas empretecido com o pecado da humanidade.
Meca recebia visitas constantes de devotos, o que era bem-visto pelo comércio local,
que estava sempre aquecido. 
O Nascimento da Religião
Foi em Meca que nasceu, por volta de 570, Abū al-Qāsim Muḥammad ibn ʿAbd Allāh
ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim, ou apenas Muhammad, ou ainda Maomé, o Profeta
do Islã. Era membro do poderoso clã dos Quraysh (coraixitas), da linhagem dos
Hashemitas,um ramo menos rico do clã. 
Maomé não conheceu o pai Abdulah bin Abdu L’Muttalib, que morreu quando ele
ainda estava no ventre de sua mãe. Posteriormente, aos seis anos de idade, perdeu a
mãe Aminah. A partir de então, foi criado pelo avô paterno Abdu L’Muttalib, guardião
da Caaba, que, por sua vez, viria a falecer dois anos depois, tendo Maomé �cado desde
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então aos cuidados de Abu Talib, seu tio paterno. Com o tio aprendeu a pro�ssão de
mercador e aos 12 anos fez sua primeira caravana à Síria e, desde então, várias outras
para Bizâncio e a Pérsia. 
Com 25 anos, passou a trabalhar para Khadija, uma rica viúva comerciante da cidade
de Meca e com ela viria a se casar e ter seis �lhos: dois meninos que morreram ainda
na infância e quatro meninas - Zainab, Ruqayya, Umm Qulsum e Fatima. Além dos
�lhos, Maomé também criou seu primo Ali, �lho de Abu Talib, que passou a morar em
sua casa com apenas seis anos de idade.
Aos 40 anos, retirado para meditação na caverna de Hira no monte Jabal al-Nour (hoje
um local de peregrinação), Maomé recebeu a primeira visita do Arcanjo Jibril (Gabriel),
que o mandou recitar os seguintes versos:
Lê em nome de teu Senhor que tudo criou; criou o homem de um
coágulo de sangue. Lê que teu Senhor é generoso, que ensinou o uso do
cálamo, ensinou ao homem o que este não sabia (Sura, 96, 1 - 5).
Essas foram – e ainda são consideradas – as mais antigas palavras da revelação de
Deus ao Profeta. Assustado com a visão, ele explicou à esposa o que acontecera, esta
o acalmou e acreditou no ocorrido, e por isso Kadija é considerada a primeira islâmica.
Logo depois, seu primo Ali acreditou, e seu ex-escravo que vivia em sua casa como
�lho, Zaid, também acreditou. Seu melhor amigo, Abu Bakr, legitimou-lhe como um
escolhido de Alá (tradução árabe de “Deus”). 
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As revelações se seguiram por toda a vida de Maomé. Em síntese, elas falavam de um
Deus único (Alá) ao qual todos os seres humanos deveriam se submeter. Inclusive,
essa é a origem do nome da religião, Islam, traduzido como “Submissão a Alá”. 
Desde a primeira aparição do arcanjo Jibril, Maomé iniciou suas pregações e,
consequentemente, o número de �éis começou a crescer. A principal mensagem
contida em seus sermões era a necessidade de reconhecer Alá como Deus único e
retirar as imagens dos deuses de dentro da Caaba. Essas duras palavras do Profeta
não foram bem recebidas pela elite de Meca, que temia perder a clientela cativa caso
a Caaba fosse limpa. 
Nesse contexto, Maomé foi perseguido e, temendo por sua própria vida, fugiu no ano
622 de Meca para Yatrib, cidade a cerca de 300 quilômetros ao norte. Esse episódio,
conhecido como Hégira (imigração), é o marco zero do calendário muçulmano, que
começa a ser contado a partir de então.
Pouco antes do episódio da Hégira, por volta de 621, Maomé teria feito a Viagem
Noturna (Al-Isra) e a Ascensão (Al Mi’raj). Na Viagem Noturna, montado no cavalo
alado Buraq e ao lado do arcanjo, teria passado pelos principais locais sagrados do Islã
com ponto �nal em Jerusalém. Em Jerusalém, do Domo da Rocha, onde hoje está a
Mesquita Al-Aqsa na esplanada do antigo Templo de Salomão, também teria
ascendido aos sete céus. Em cada um deles estariam outros importantes profetas:
Adão no primeiro, João Batista e Jesus no segundo, José do Egito no terceiro, Enoch
no quarto, Aarão no quinto, Moisés no sexto e Abraão no sétimo.
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Por �m, Maomé teria entrado na Morada do Criador, onde o próprio Alá teria pedido
para que os �éis rezassem cinco vezes ao dia. Essa suposta viagem coloca Jerusalém
como uma das três cidades sagradas do Islã e liga a religião à tradição monoteísta
judaica e cristã. É bem provável que em suas viagens como mercador, Maomé teria
tido contato com judeus e cristãos. Por isso, seu repertório fazia alusão aos
personagens bíblicos. É importante dizer que, após a viagem, Maomé regressou à
Terra. 
Em Yatrib, Maomé organizou a primeira comunidade muçulmana: termo árabe para
aqueles que se submetem à vontade de Deus, e, além de um líder religioso, elevou-se
a um chefe político e militar. Posteriormente, a cidade de Yatrib passou a ser
chamada de Medina a Nabil, traduzindo-se em “Cidade do Profeta”. Medina, como é
popularmente conhecida, é o segundo lugar mais sagrado da religião islâmica e o
local onde se encontra a primeira mesquita, conhecida como a “Mesquita do Profeta”.
Maomé, por sua vez, também está enterrado lá. 
Em Medina, Maomé organizou a Jihad – que signi�ca “empenho”, “luta” – , a Guerra
Santa contra os inimigos da religião. Por cerca de 8 anos, o exército muçulmano
sofreu com investidas de Coraixitas da cidade de Meca. Em alguns casos, o general
Maomé saiu vitorioso, em outros, derrotado, mas com a força da fé e alianças com
outras tribos árabes, por volta de 630, Maomé toma a cidade de Meca, destrói as
imagens dos deuses de dentro da Caaba, mantém a Pedra Negra - símbolo máximo
da presença de Deus na terra - e puri�ca o local. A partir de então, Meca se torna o
centro das atenções dos muçulmanos, local de peregrinação ao qual se vai ao menos
uma vez na vida. 
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Aos 62 anos de Idade, Maomé caiu enfermo e veio a falecer em 8 de junho de 632 na
cidade de Medina. Na data de sua morte, quase toda a Arábia já era muçulmana e
menos de 100 anos após a primeira revelação do arcanjo Jibril, o império islâmico se
estendia da Arábia, passando pela Pérsia a leste, pelo norte da África a oeste e
chegando até a Península Ibérica. Sem sombra de dúvida, o Islã tornou-se o elemento
uni�cador da história árabe.
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Judaísmo – Tempos
Bíblicos I
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Judaísmo
Nesta e nas próximas aulas, nos deteremos na apresentação de uma breve história
do judaísmo. Longe de esgotar o assunto sobre a religião, apresentaremos as suas
principais características históricas e religiosas. Na primeira aula sobre a temática,
trataremos dos aspectos históricos e bíblicos, e na próxima nos ocuparemos com
questões relativas aos ritos da fé judaica.
É ponto pací�co entre historiadores das religiões que existiram outras manifestações
monoteístas antes da revelação de YHWH ao patriarca Abrão, posteriormente
chamado de Abraão. No antigo Egito, por exemplo, durante o reinado de Amenó�s
IV (posteriormente chamado Aquenáton), foi estabelecido o culto exclusivo ao deus
Áton, abandonando-se mesmo que temporariamente – no caso egípcio, por
exemplo, após a morte do faraó em questão, os seguintes retomaram o culto às
divindades que haviam sido deixadas de lado – a tradição politeísta egípcia. Isso se
deu por volta do século XIV a.C. Mas o judaísmo é sem sombra de dúvida a mais
antiga tradição monoteísta ininterrupta do mundo: suas bases histórico-religiosas
in�uenciaram eticamente o cristianismo e o islamismo, as maiores vertentes
religiosas do globo. 
É difícil falar sobre as crenças judaicas sem fazer um retrospecto da história dos
hebreus, pois foram os acontecimentos ao longo da história deste povo que
conformaram as bases religiosasdo judaísmo. É importante esclarecer que os
aspectos históricos que serão apresentados aqui estão vinculados à tradição da
maneira como os judeus compreendem a origem da religião.
A história hebraica tem seu início por volta do século XIX a.C., quando Abrão, �lho de
Terá, um escultor de ídolos de Ur dos Caldeus, recebeu o chamado de Deus: 
[...] Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e
da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti um
grande povo, eu te abençoarei e engrandecerei o teu nome; sê uma
bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem. Por ti serão benditos todos os clãs da terra (BÍBLIA DE
JERUSALÉM, Gênesis 12: 1 – 3).  
Este episódio, conhecido como a “Revelação de Iahweh”, marcou o início da história
da religião hebraica. Com o chamado de Deus, Abrão saiu de sua terra, do meio dos
seus, transferiu-se geogra�camente de região e deixou os deuses de seus ancestrais.
Diferentemente de outros povos do Médio Oriente, dos quais desconhecemos a
origem primeva, no caso dos hebreus, Abrão – pai excelso, ou pai ilustre
(posteriormente tornado Abraão, “pai das nações, ou pai de muitos”), é considerado
o primeiro hebreu.
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Não cabe neste curto espaço que aqui temos um relato literal dos acontecimentos
descritos nos capítulos iniciais do Pentateuco. Porém, vale a pena compreender
alguns aspectos que julgamos importantes para assimilarmos as características da
cultura hebraica. 
Abraão e sua esposa Sara, que tinha 90 anos, receberam a dádiva de se tornarem
pais de Isaque, que, traduzindo, seria algo como “risos”, ou “�lho da minha alegria”.
Isaac era o único �lho de Sara, mas não de Abraão, que também era pai de Ismael
(Deus escutou). Ismael, que posteriormente será relembrado na história do
islamismo, era �lho do patriarca com a concubina Hagar, que havia sido dada como
genitora por Sara, para que Abraão pudesse cumprir a vontade de Deus, que havia
prometido abençoar toda a sua semente e suas gerações.
Foi com Ismael que Abraão cumpriu a Brit Milá, ou aliança da circuncisão, o pacto de
Deus com seu povo. Além do �lho, foram circuncidados todos os servos do patriarca: 
E circuncidarei a carne de vosso prepúcio, e será por sinal de aliança
entre mim e vós. E com idade de oito dias será circuncidado, entre vós,
todo varão, nas vossas gerações: o escravo nascido em casa, e
comprado por prata, de todo �lho de estrangeiro, que não seja de tua
semente. Tem de ser circuncidado o escravo nascido em tua casa, e
comprado por tua prata; e será minha aliança em vossa carne, para
uma aliança eterna. E o varão incircunciso que não circuncidar a carne
de seu prepúcio, essa alma será cortada de seu povo; minha aliança
quebrou (TORÁ, Bereshit 17: 11 – 14).  
Até os dias atuais, a observância da Brit Milá, a circuncisão do homem no oitavo dia
de nascimento, é feita pelos judeus ao redor do mundo. 
Apesar de Ismael ser o primogênito de Abraão, a promessa de Deus se cumpriria em
Isaac. Ismael e sua mãe foram expulsos por Sara com anuência do próprio Deus, e
estes habitaram no deserto de Parã, ao sul da Terra Santa.
Ao longo de seus 175 anos de vida, um episódio foi especialmente marcante para
Abraão. Deus teria pedido para que o patriarca sacri�casse seu próprio �lho Isaac
como prova de amor e devoção. 
“Abraão se levantou cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de
seus servos e seu �lho Isaac. Ele rachou a lenha do holocausto e pôs a
caminho para o lugar que Deus lhe havia indicado” (BÍBLIA DE
JERUSALÉM, Gênesis 22:3). 
Abraão seguiu exatamente o mandamento de Deus, por mais que isso pudesse
representar o “ato mais hediondo imaginável por um ser humano” (AMÂNCIO, 2010,
p.14). Quando está a ponto de chegar às vias de fato, o patriarca ouve a voz de Deus
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através de um anjo, que lhe diz: 
“Não estendas a tua mão contra o rapaz!” − ordenou o Anjo “Não lhe faças nada!
Agora bem sei que temes a Deus, porquanto não me negaste teu amado �lho, teu
único �lho!” Em seguida, tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro
preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em
holocausto, em lugar de seu �lho (BÍBLIA KING JAMES, Gênesis 22: 12 – 13).
A fé de Abraão neste episódio também foi tema do livro Temor e Tremor, do
existencialista dinamarquês Søren Kierkegaard, que se dedica “exclusivamente a
examinar o episódio e designa Abraão, pela sua dedicação incondicional a Deus,
comprovada no caso do sacrifício, como o cavaleiro da Fé por excelência” (AMÂNCIO,
2010, p.15).
Abraão morreu em Hebrom e foi sepultado no túmulo com sua esposa, em
Machpelá, a terra que, segundo a tradição, ele teria comprado dos Hititas.
Abraão gerou Isaac e este gerou Jacó, que, apesar de não ser o �lho da promessa,
posto que não era o primogênito, assumiu-se como tal após enganar seu pai e seu
irmão Esaú em conluio com sua mãe Rebeca.
Exilado na terra de seu tio Labão, Jacó teria contraído casamento com suas primas
Lia e Raquel. Destes casamentos, e de suas relações com duas concubinas,
nasceram doze �lhos. Apesar de rico, Jacó se via perseguido por seu irmão por
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motivos óbvios e por seu tio-sogro, que alegava ter sido enganado por ele. De fato,
segundo a tradição, Jacó é a tradução para “enganador”.
Foi em um episódio no Vau de Jaboque que a sorte de Jacó mudou. Após lutar com
um Homem durante a noite e a madrugada toda, ele teve seu nome mudado para
Israel: “aquele que lutou com Deus e com os homens e prevaleceu”. Dos �lhos de
Israel, entre eles Judá, de onde vem o nome de “judeus”, é que teremos as doze
tribos de Israel. Também aqui se passa a utilizar a expressão israelitas, �lhos de Israel,
para se referir aos hebreus. 
É difícil apontar aqui essas histórias como reais, pois não existem vestígios
arqueológicos sobre tais acontecimentos. Mas o que é importante é compreender
essas narrativas como base para a interpretação religiosa dos judeus em relação ao
mundo. 
As histórias dos patriarcas, título pelo qual é conhecido o período em que se dão
esses acontecimentos, são narradas por Moisés - um hebreu que viveu entre a
realeza egípcia e que se ergueu como um libertador de seu povo durante o período
em que estes viviam como escravos no Egito.
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Judaísmo – Tempos
Bíblicos II
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Judaísmo II
Após a libertação liderada por Moisés e Josué, os hebreus voltaram a se estabelecer
em Canaã, região no Oriente Próximo correspondente a Israel e, atualmente, ao
Líbano. Por volta do século XIII a.C., a região havia sido dividida entre as tribos de
Israel. Um detalhe importante é o fato da tribo deLevi não ter recebido terras e da
tribo de José ter se dividido em duas: Efraim e Manassés, totalizando 12 tribos. 
O período em que os israelitas retornaram a Canaã e se estrati�caram em diversos
grupos é conhecido como período dos juízes. Diferentemente dos povos vizinhos,
Israel, como era conhecida a união das tribos, não optou pela monarquia. 
A organização tribal era um pouco confusa - cada tribo tinha seu ancião e em
momentos de instabilidade política e bélica, eles elegiam um juiz entre as tribos. O
cargo de juiz não era vitalício e assim que as coisas se normalizavam, a função
vagava. 
O período dos juízes é relativamente curto na história hebraica, não chegando a 300
anos. Este período é marcado pela disputa de poder entre israelitas e �listeus na
região, que, apesar de não ser tão fértil, se apresentava como um importante
entreposto comercial entre Europa, Ásia e África. 
Por volta de 1020 a.C., os Israelitas elegem Saul, �lho de Quis, da tribo de Benjamin,
como o primeiro rei de Israel, iniciando o período dos reis. Os quase 20 anos de
reinado do beijamita foram uma extensão do período dos juízes. O período foi
marcado por lutas encarniçadas contra os �listeus, dentre as quais a mais famosa foi
entre o jovem Davi e o gigante Golias, e também pela di�culdade de uni�car as
tribos diante do seu poder.
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Saul foi sucedido por volta do ano 1000 a.C. por Davi, da tribo de Judá. O reinado de
Davi é conhecido como a Era de Ouro dos hebreus. Foi durante seu domínio que
houve a tomada da cidade de Jerusalém, que pertencia aos Jebuseus, o que a
tornou capital do reino, e a vitória sobre as pretensões �listeias e fenícias quanto à
região. Davi também deu um formato uni�cador para as diversas tribos israelitas.
Após 49 anos de reinado, o legado de Davi é continuado por seu �lho Salomão,
também da Tribo de Judá. Longe de ser um monarca guerreiro, como foram seus
antecessores, Salomão, conhecido como “o sábio”, utilizou-se das alianças
matrimoniais para fortalecer sua in�uência na região, chegando a ter, segundo a
narrativa bíblica, 700 esposas e 300 concubinas (BÍBLIA SAGRADA, I Reis 11: 3).
A marca fundamental do reinado de Salomão foi a construção do Templo Sagrado
ao Deus dos Hebreus. A personi�cação da presença de um Deus que não poderia
ser representado eram as Tábuas dos Mandamentos e a Arca da Aliança, que, até a
construção do Templo, �cavam no Tabernáculo - um santuário portátil que
Figura 1 - “Davi e a cabeça de Golias”, tela de Caravaggio
Fonte: wikipédia.
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acompanhava os reis e sacerdotes hebreus. O Templo, que entrou para a história
como Templo de Salomão, foi uma imensa estrutura, como podemos ver na
narrativa do livro de I Reis:
Quatrocentos e oitenta anos depois que os israelitas saíram do Egito, no
quarto ano do reinado de Salomão em Israel, no mês de zive, o segundo
mês, ele começou a construir o templo do Senhor. O templo que o rei
Salomão construiu para o Senhor media vinte e sete metros de
comprimento, nove metros de largura e treze metros e meio de altura.
O pórtico da entrada do santuário tinha a largura do templo, que era de
nove metros, e avançava quatro metros e meio à frente do templo. [...] O
andar inferior tinha dois metros e vinte e cinco centímetros de largura,
o andar intermediário tinha dois metros e setenta centímetros e o
terceiro andar tinha três metros e quinze centímetros. Ele fez saliências
de apoio nas paredes externas do templo, de modo que não houve
necessidade de perfurar as paredes. Na construção do templo só foram
usados blocos lavrados nas pedreiras, e não se ouviu no templo
nenhum barulho de martelo, nem de talhadeira, nem de qualquer
outra ferramenta de ferro durante a sua construção [...]. O santuário
interno tinha nove metros de comprimento, nove de largura e nove de
altura. Ele revestiu o interior de ouro puro, e revestiu de ouro o altar de
cedro. Salomão cobriu o interior do templo de ouro puro, e estendeu
correntes de ouro em frente do santuário interno, que também foi
revestido de ouro. Assim, revestiu de ouro todo o interior do templo e o
altar que pertencia ao santuário interno. No santuário interno ele
esculpiu dois querubins de madeira de oliveira, cada um com quatro
metros e meio de altura (BÍBLIA SAGRADA, I Reis 6: 1 – 23).
A construção do Templo, que contou com ouro, cedro do Líbano, grandes pedras e o
trabalho de centenas de milhares de assalariados e escravos, saiu caro para Salomão,
que deixou dividendos para Roboão, seu �lho e sucessor.
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Roboão assumiu o trono após quase meio século de reinado de seu pai.
Bene�ciando as tribos nobres de Judá e Benjamin, teria cobrado altos impostos das
demais, o que acarretou grandes problemas que desembocaram na divisão do reino
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de Israel em dois. Ao Norte, �cou Israel, com dez tribos e governado em um primeiro
momento pelo efraimita Jeroboão. Ao Sul, �cou o reino de Judá, governado pelos
herdeiros de Davi - com duas tribos. A sede do reino do Norte inicialmente foi a
cidade de Siquém, e posteriormente Samaria; a do reino de Judá continuou sendo
Jerusalém. 
Divididos, os pequenos reinos hebreus eram presas fáceis para os interesses dos
impérios expansionistas da região. Em 721 a.C., as dez tribos sucumbiram à invasão
assíria, que, além de se apossar da região, levou cativa boa parte da população e
trouxe para a região povos de outras partes do vasto Império. Dessa devastação
surgiram os Samaritanos, hebreus racialmente miscigenados com costumes e
tradições divergentes do que os judeus compreendiam como a verdadeira religião
abraâmica.
Em 587 a.C., foi a vez da dominação babilônica sobre o reino do Sul. Nabucodonosor,
rei da Babilônia entre 605 a.C. e 562 a.C., destruiu o Templo de Jerusalém e levou a
elite política e religiosa de Judá para o cativeiro babilônico. Passaram-se 70 anos até
que os judeus voltassem para Jerusalém. Isso se deu quando Ciro, Imperador Persa,
decretou o retorno dos judeus para a sua terra em 538 a.C. 
Foi o levita Esdras que se tornou responsável por reestabelecer a lei de Moisés como
a legislação o�cial do povo judeu. Lembrado como um grande Legislador e estando,
para muitos, à altura de Moisés, Esdras, outrora um escriba da casa real persa, lutou
contra os matrimônios mistos e fortaleceu a ideia de que os Judeus eram o único
povo eleito de Deus. 
Empreendida em 458 a.C., as reformas feitas pelo levita são consideradas o marco
inicial de uma religião propriamente judaica, pois até então o que existia era um
corpo de crenças e leis fortemente marcado pela tradição do Oriente Próximo. O
retorno dos judeus do cativeiro babilônico trouxe consigo muitas características que
outrora não eram observadas, ou muito pouco, na tradição hebraica. A ideia do
Messias Salvador, um sujeito que reúne em si as esperanças políticas contra a
dominação estrangeira, é uma delas; ou, ainda, a �gura do mal personi�cado em
uma entidade: Satã. No caso da �gura do mal, percebe-se a in�uência da religião
Mazdaísta, praticada pelos persas. Nela, acreditava-se no dualismo, representado
pelo deus do bem, Ahura Mazda, e o do mal, Arimã.
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Enquanto historiadores das religiões, é necessário compreendera circularidade do
processo religioso. Sendo organismos vivos, seres humanos se transformam e
modi�cam a maneira de compreender a existência, e isso se re�ete diretamente nas
crenças e instituições. Obviamente, para um crente a fé é imutável, os fatos ocorrem
da maneira como ditam as narrativas nos livros sagrados. Contudo, como cientistas,
devemos compreender a impossibilidade da imutabilidade tendo como ponto da
partida as características humanas. Possivelmente, a religião praticada pelos
hebreus do tempo dos Patriarcas pouco teria a ver com a praticada em uma
sinagoga de uma cidade no interior paulista, por exemplo.
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O templo foi reconstruído em 522 a.C. e embelezado pelo rei Herodes no século I a.C.
Em 63 a.C., os romanos passaram a dominar a região e a cobrar impostos dos judeus,
e isso trouxe grande agitação. A�nal, como poderia uma nação terrena cobrar por
algo dado ao patriarca Abraão pelo próprio Deus? Muitas foram as revoltas,
principalmente lideradas pelos zelotas contra os romanos e, nesse contexto,
surgiram diversos messias que encarnavam o desejo de libertação do jugo
estrangeiro.
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Judaísmo – Tempos Pós-
bíblicos
AUTORIA
Saulo Henrique Justiniano Silva
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Em 70 d.C., a mando do Imperador Vespasiano e sob o comando do general Tito, o
Templo de Jerusalém foi novamente destruído, sobrando apenas o muro de arrimo
que sustentava a estrutura, conhecido como “Muro das Lamentações”. A destruição
do Templo foi o marco inicial para a diáspora (dispersão) judaica pelo mundo.
Figura 1 - Panorama do Muro das Lamentações (Jerusalém) | Judeu orando junto ao
Muro das Lamentações
Fonte: wikipédia.
Expulsos da terra de seus ancestrais, os judeus se estabeleceram em diversas regiões
do mundo, do leste asiático à Europa Ocidental, da África à Rússia. Na galut, termo
hebraico para “exílio”, eles mantiveram suas crenças religiosas e transformaram a
religião vinculada ao Templo e aos sacerdotes em uma religião domiciliar onde as
mulheres adotaram o papel fundamental de transmissoras da tradição. Sem o
Templo, as sinagogas que já existiam desde o tempo do exílio babilônico passaram a
ter fundamental importância como casa de oração e encontro da comunidade. Os
sacrifícios de animais foram substituídos por preces e bênçãos, e o Templo tornou-se
uma lembrança recôndita com sentido mais alegórico do que literal.
Sem Templo, sem sacerdotes. Os sacerdotes foram paulatinamente substituídos por
Rabinos, intérpretes da Lei formados nas Yeshiva, onde aprendiam ritos funerários,
rituais de abate de animais e a condução da vida em comunidade. 
Como se acredita com base na cultura religiosa judaica, Moisés recebeu de Deus a Lei
e esta foi escrita na Torá, mas muitos pontos da cultura relacionados à interpretação
das escrituras e à tradição oral se perpetuaram através dos profetas e mestres do
judaísmo, que mantiveram a tradição viva por vários séculos. Na iminência da
destruição da cultura judaica diante da dominação romana, entre os séculos II e III
d.C., o rabi Judá, conhecido como “o Príncipe”, esforçou-se para compilar o conjunto
das interpretações orais em um único livro de normas, pois desta forma a tradição
ancestral nortearia as comunidades da diáspora. Esse conjunto de normas recebeu o
nome de Michna, do hebraico “repetição”.
02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos
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Com a publicação da Michna, iniciou-se o período dos amorarim, rabinos intérpretes
da norma. Por sua vez, os amorarim desenvolveram textos escritos com os
comentários da Michna, a Guemara. O conjunto das normas (Michna) e das
interpretações das normas (Guemara) recebeu o nome de Talmude, do hebraico
“ensinamento”. 
Existem duas versões do Talmude: uma escrita na Palestina entre 220 e 400 d.C.,
conhecida como “Talmude de Jerusalém”, e outra escrita entre 200 e 650 d.C.,
compilada por judeus em exílio na Babilônia e conhecida como “Talmude de
Babilônia”. Esta última foi mais profícua, com 8.774 páginas. Segundo Mircea Eliade
(2011),
O Talmude de Babilônia exerceu uma função decisiva na história do
povo judeu: mostrou como o judaísmo devia adaptar-se aos diferentes
meios sociopolíticos da diáspora. Já no século III, um mestre de Babilônia
enunciara este princípio fundamental: a legislação do governo regular
constitui a única lei legítima e deve ser respeitada pelos judeus (p. 152).
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No exílio, surgiram algumas vertentes judaicas. Judeus do Sul e do Norte da África, da
Europa Central, da Península Ibérica e do Leste Asiático tinham em comum o fato de
se considerarem herdeiros da tradição religiosa abraâmica, realizarem a Brit Milá e
utilizarem o hebraico como língua ritual. Mas, na prática diária, tinham características
etnicamente distintas. Falaremos de duas vertentes, os Ashkenazitas e Sefarditas.
“Ashkenazitas” é o nome dado aos judeus oriundos do Centro e do Leste Europeu. Na
tradição judaica, Ashkenaz é o termo utilizado para designar as “terras do Reno, onde
atualmente se encontra a Alemanha”. Os Ashkenazitas desenvolveram um idioma
especí�co denominado iídiche, uma combinação entre o hebraico, o alemão e
idiomas do leste europeu. Os Ashkenazitas representam a maior parte dos judeus
exterminados pelo holocausto nazista entre 1933 e 1945. 
Já o nome “Sefarditas” vem de Sefarad, termo hebraico para “Espanha”. Por isso, os
judeus vindos do norte da África e da Península Ibérica são reconhecidos como tais.
Falantes do ladino, uma fusão entre hebraico e espanhol, os Sefarditas foram os
judeus expulsos da Espanha em 1492 e convertidos à força em Portugal em 1497,
perseguidos pela Inquisição ibérica entre os séculos XV e XIX.
O Misticismo Judaico Durante o
Exílio
02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos
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A importante corrente mística da diáspora foi a Cabala. Do hebraico “tradição”, a
Cabala é uma tendência mística surgida em meados do século XII no sul da França.
Mircea Eliade a�rma que “a cabala contribuiu para fortalecer, direta ou indiretamente,
a resistência espiritual das comunidades judaicas da dispersão” (ELIADE, 2011, p.161). 
Ao que se sabe, o primeiro escrito cabalista foi o Bahir, do hebraico “claro”. Datado de
1180, o texto traz as dez emanações divinas, chamadas se�rot, as quais demonstravam
os atributos divinos. O mestre cabalista Abraão Abulá�a “desenvolveu uma técnica de
meditação a partir do estudo aprofundado do Bahir que possibilitava ao adepto,
através da ciência combinatória das letras do alfabeto hebraico, chegar à
contemplação mística e à visão profética do mundo” (SILVA, 2019, p.86). 
Apesar de o Bahir representar o início dos estudos cabalistas, foi o livro Zohar, do
hebraico “esplendor”, que in�uenciou signi�cativamente os judeus europeus da Baixa
Idade Média. Escrito por Moisés de Leon, mas atribuído ao rabi Simeão do primeiro
século da Era Cristã, a obra complexa descortina as obras misteriosas da divindade. A
historiadora Lúcia Liba Mucznik (2009) de�ne o Zohar da seguinte forma: 
[...] organiza-se em torno de cinco mitos centrais: o processo
cosmogônico e a elaboração inicial das dez emanações ou

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