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02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 1/6 A Igreja Medieval AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 2/6 Antes de prosseguir, é necessário frisar que o Império Romano foi dividido em dois no ano 395 pelo Imperador Teodósio I: o Império do Ocidente com capital em Roma e o Império do Oriente com capital em Constantinopla. O Império Romano do Ocidente deixou de existir em 476, após as invasões bárbaras. Já o Império do Oriente perdurou por quase mais mil anos, tendo seu �m em 1453 com a tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos, o que transformou a capital milenar em Istambul. Apesar de cristão, Odoacro era ariano (que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus Pai), mas não impediu o culto católico ou perseguiu a Igreja Estatal. No entanto, a Igreja do ocidente não tinha mais a força de antes, quando o Império Romano Ocidental ainda existia. Desde o Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381, a capital do Império Romano do Oriente era uma das principais sedes do catolicismo e sua importância foi aumentando à medida em que as invasões bárbaras iam se acentuando. Por conta disso, o �m do Império do Ocidente não representou o �m do catolicismo. Apesar de muitos bárbaros terem deixado os cultos politeístas germânicos em que adoravam a Odin, Freia, Thor, Loki e a tantos outros deuses e aderido ao catolicismo, existe um marco importante na história da Igreja Católica medieval: a conversão de Clóvis, rei dos Francos. Como já mencionado, o �m do Império Romano do Ocidente está ligado às invasões dos bárbaros (nome dado à população que estava fora do Império Romano e que não falava latim – idioma o�cial do Império), que se iniciaram por volta do século II e se intensi�caram no século IV. Quando Odoacro, rei dos Hérulos – uma das tribos bárbaras germânicas – destituiu o último imperador romano Rômulo Augusto, um jovem de 15 anos, a Igreja Católica já estava disseminada entre os dois impérios e era a principal fé entre os romanos e até mesmo os bárbaros. 02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 3/6 Clóvis I, coroado em 496, foi o responsável pela uni�cação das tribos francas e é considerado o primeiro rei da França. Casado com Clotilde da Borgonha, uma católica fervorosa, Clóvis aderiu à fé da esposa por volta de 498. A partir da conversão do rei dos francos, a Igreja Católica Ocidental voltou a respirar, pois tinha o apoio do rei bárbaro mais importante de seu tempo. Posteriormente, no século VI, Recaredo, rei dos Visigodos – que dominavam a Península Ibérica - abandonou o arianismo e se converteu ao catolicismo. Como já visto em aulas anteriores, o islamismo surgiu no século VII e rapidamente expandiu seu poder pela Arábia, Pérsia e norte da África, e em 711, conquista a Península Ibérica. Uma vez que a pretensão muçulmana é proselitista – se Figura 1 - Clóvis I, Rei dos Francos, e Recaredo, Rei dos Visigodos Fonte: wikipédia. ATENÇÃO Vários reinos que ocupavam a extensão do antigo Império do Ocidente se tornaram católicos ao longo dos primeiros 200 anos após a queda de Roma. 02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 4/6 empenhava fortemente em converter os povos – como a cristã, os muçulmanos marcharam para a França a �m de fazer sucumbir o poderoso reino dos francos. Em 732 foi travada a famosa Batalha de Poitiers, onde os exércitos francos liderados pelo general e mordomo real Carlos Martel impetraram uma dura derrota ao exército muçulmano, impedindo, ou adiando, a expansão islâmica sobre a Europa central. Sob a bandeira do catolicismo, Carlos Martel se tornou um importante nome na Europa cristã. Ainda que não fosse um monarca de fato, visto que o poder real era exercido pela dinastia dos Merovíngios desde o reinado de Clóvis I, Carlos Martel era o Mordomo do Palácio, título dado aos responsáveis pelas questões políticas e militares do reino, e tinha sobre si o respeito e a autoridade entre os francos, ainda que não fosse o rei. Foi seu �lho mais novo, Pepino, o Breve, que veio de fato a assumir, além do cargo de Mordomo herdado do pai, o título de rei dos francos, depondo o último rei Merovíngio Quilderico III em 751. Pepino, o Breve, inaugurou a dinastia dos Carolíngios e expandiu as fronteiras do território franco durante o seu reinado, entrelaçando-se ainda mais ao Papa e doando, em 754, o território onde foi estabelecido o patrimônio de São Pedro e a cidade do Vaticano. Após esse feito inédito, o Papa deixava de ser apenas um líder religioso e passava a ser uma importante liderança político-estatal. Figura 2 - Pepino, o Breve, e Carlos Martel vencendo os muçulmanos no detalhe da tela “A Batalha de Poitiers” Fonte: wikipédia. 02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 5/6 O �lho de Pepino, o Breve, Carlos Magno, além de rei dos Francos, foi coroado Imperador dos Romanos. Aqui, “romanos” trazia mais o sentido histórico da vastidão e importância do Império do que propriamente o da Roma Antiga. Na noite de Natal do ano 800, na cidade de Roma, na antiga basílica de São Pedro, nascia a mais importante unidade política ocidental: o Império Carolíngio. Pepino, o Breve, inaugurou a dinastia dos Carolíngios e expandiu as fronteiras do território franco durante o seu reinado, entrelaçando-se ainda mais ao Papa e doando, em 754, o território onde foi estabelecido o patrimônio de São Pedro e a cidade do Vaticano. Após esse feito inédito, o Papa deixava de ser apenas um líder religioso e passava a ser uma importante liderança político-estatal. Carlos Magno Fonte: wikipédia. 02/05/2023, 08:32 A Igreja Medieval https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-medieval.html 6/6 O �lho de Pepino, o Breve, Carlos Magno, além de rei dos Francos, foi coroado Imperador dos Romanos. Aqui, “romanos” trazia mais o sentido histórico da vastidão e importância do Império do que propriamente o da Roma Antiga. Na noite de Natal do ano 800, na cidade de Roma, na antiga basílica de São Pedro, nascia a mais importante unidade política ocidental: o Império Carolíngio. Durante o feudalismo que se estabelece no território da Europa central entre os séculos X e XIII, a Igreja Católica se tornara ainda mais importante. Todo território denominado feudo, além do palácio dos nobres, habitação dos servos, moinhos, manso servil e manso senhorial, tinha uma igreja, que geralmente era gerida por um dos �lhos do senhor feudal que tinha sido “dado” à vida sacerdotal. A própria divisão social feudal previa três grupos: o clero (oratores), a nobreza (bellatores) e os servos (laboratores), sendo o clero constituído por membros da Igreja, a nobreza, pela família do senhor feudal e os servos, pelos que trabalhavam na terra e não tinham nenhum tipo de privilégio. Dentre esses, o grupo mais importante e com poder de decisão era formado pelo clero. Em período marcado pela falta de unidade política, a religião se tornou o maior elemento de coesão, e o Papa, o homem mais importante da Europa. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 1/7 A Igreja Primitiva AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 2/7 Na história do cristianismo, convencionou-se chamar o período entre a cruci�caçãode Cristo, por volta do ano 30 da era comum, e o Concílio Ecumênico de Nicéia em 325 de Igreja Primitiva. Esses três séculos foram marcados por grandes disputas teológicas e pela profusão de compreensões acerca do que seria a verdadeira fé cristã: debates envolvendo a deidade de Cristo, a santidade de Maria ou mesmo a natureza do Messias mostravam que esses temas ainda não estavam claros para os cristãos dos primeiros séculos. Carentes de um corpo de normas que pudessem seguir, os cristãos pautavam a sua vida nos ensinamentos dos “enviados” – nome dado aos líderes das comunidades locais –ou nas Cartas Paulinas, que circulavam ao menos desde a década de 50 d.C entre os crentes do século I. O próprio apóstolo Pedro, em uma de suas cartas escritas aos membros de cinco Igrejas que viviam na Ásia Menor, demonstra a importância dos escritos paulinos: [...] Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor signi�ca salvação, como também o nosso amado irmão Paulo escreveu a vocês, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles (BÍBLIA SAGRADA, 2020, II Pedro 3:15–16). Aqui vale também ressaltar a existência de dois tipos de escritos atribuídos ao apóstolo Paulo. Ao todo, existem 13 cartas paulinas. Dentre elas, as proto-paulinas, escritas pelo próprio punho de Paulo de Tarso, sendo elas Romanos, Gálatas, 1ª Tessalonicenses, 1ª e 2ª Coríntios, Filipenses e Filémon, e as deutoro-paulinas, provavelmente escritas pelos discípulos do apóstolo dos gentios: 1ª e 2ª Timóteo, Tito, Efésios, Colossenses e 2ª Tessalonicenses. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 3/7 Foram três as primeiras comunidades cristãs que surgiram logo após o Pentecostes, cerca de quarenta dias depois da ascensão de Cristo: as de Jerusalém, de Antioquia e da Ásia Menor/Grécia. Segundo a tradição cristã, foi na festa das colheitas (Pentecostes) que os discípulos receberam o Espírito Santo e de fato iniciaram seus ministérios. Jerusalém era, como esperado, a principal comunidade de crentes, ou Ekklesía, palavra grega de onde se origina o termo “Igreja”. Lá estavam aqueles que haviam convivido com Jesus e esta era liderada, em um primeiro momento, pelo Apóstolo Pedro, sendo sucedido por Tiago, o justo irmão de Jesus, que posteriormente foi substituído por Simão - outro irmão do Messias. A Igreja de Jerusalém era muito mais uma seita dentro do judaísmo do que uma nova corrente religiosa, pois seus membros continuavam com as práticas alimentares de puri�cação, faziam a circuncisão dos não-judeus que se convertiam, guardavam as festas e cerimônias do calendário hebreu, frequentavam o Templo e se reuniam no domingo, um dia depois do Shabbat (dia sagrado para os judeus). O processo de conversão era baseado, como já descrito, na circuncisão e no batismo, prática comum entre os judeus para com os prosélitos. Depois disso, eram convidados a fazer uma pro�ssão pública de fé em Cristo. As reuniões comunitárias eram marcadas por práticas judaicas, como rezas e bênçãos, além da partilha do pão, rememorado a última ceia. Figura 1 - Paulo escrevendo suas epístolas, tela de Bolougne Fonte: wikipédia. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 4/7 A Igreja de Jerusalém também �cou marcada pela ajuda às viúvas e aos órfãos, como escrito por Tiago: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (BÍBLIA SAGRADA, 2020, Tiago 1:27). A e�cácia da Igreja na vida cotidiana desagradou a elite religiosa judaica, que, marcada pela �gura do Sinédrio, mandou prender Pedro e João e posteriormente convenceu Heródoto Agripa, governador da Judeia, a mandar executar o apóstolo Tiago. A perseguição imposta pela liderança judaica fez parte da Igreja se dispersar. Após a destruição do Templo em 70 d.C., sobrou uma pequena parte da comunidade de Jerusalém que continuou �el aos preceitos do cristianismo nascente, mas a maior parte regressou ao judaísmo tradicional (BAUMGARTNER, 2000). É em Antioquia, a terceira maior cidade do Império Romano, que pela primeira vez é ouvida a expressão “cristão”, como se vê na passagem bíblica dos Atos dos Apóstolos: “E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (BÍBLIA SAGRADA, 2020, Atos 11:26). Tal Igreja, formada em grande parte por conversos que haviam fugido de Jerusalém após a morte de Estevão por volta do ano 36, foi o ponto de partida dos empreendimentos missionários de Paulo de Tarso e Barnabé, natural de Chipre, que também respondia pelo nome de José das Consolações. Diferentemente da Igreja de Jerusalém, em Antioquia a Igreja possuía muito mais um caráter universalista, pois grande parte de seus membros eram oriundos da cultura helênica, falavam o grego e conheciam os fundamentos básicos das �loso�as socrática, platônica e aristotélica. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 5/7 Os cristãos de Antioquia não eram circuncidados, nem guardavam as tradições alimentares e ritualísticas judaicas. No entanto, como forma de mudança de vida, eles passavam pelo batismo. A não observância da tradição judaica entre os cristãos de Antioquia foi o motivo da Conferência de Jerusalém, ocorrida por volta do ano 48. Os líderes da Igreja de Jerusalém pedem explicação aos líderes locais Paulo, Barnabé e Tito sobre os motivos pelos quais os conversos não seguiam a Lei de Moisés. Este debate foi descrita por Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos no capítulo 15, e depois das discussões, �cou estabelecido que os convertidos não judeus não precisariam passar pela circuncisão, mas deveriam se abster de alimentos impuros. Para falar da terceira comunidade cristã organizada, precisamos recorrer ao plural, porque foram várias as pequenas igrejas fundadas a partir das viagens missionárias de Paulo de Tarso. Nas comunidades da Ásia Menor e da Grécia, sendo as mais famosas as de Corinto, Tessalônica e Éfeso, o aspecto judaico não estava tão presente, sendo essas igrejas quase que compostas na sua totalidade por gentios. Diferentemente de Jerusalém e Antioquia, que eram cidades com Igrejas formadas por núcleos bem de�nidos, as congregações fundadas por Paulo encontravam-se em estágios de desenvolvimento distintos. Muitas delas tinham di�culdades de compreensão acerca dos rituais e crenças, motivo pelos quais o próprio apóstolo sempre estava enviando cartas admoestando a comunidade local. Para suprir as di�culdades quanto à maneira como se estruturava a religião, Paulo cria três ministérios: apóstolo ou missionário, profeta ou pregador, e doutor ou professor - cada um com um papel de�nido a �m de não haver con�itos de interesses e jurisdição. Muitas foram as di�culdades em se reunir esses cristãos em uma só linha de compreensão religiosa. A Igreja de Jerusalém, formada por judeus praticantes, exerceu in�uência e soberania sobre as outras. No entanto, principalmente depois da destruição do Templo e da propagação da fé cristã, em especial entre os romanos, os ditames da Igreja-mãe serão apenas uma lembrança na história do cristianismo. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 6/7 Conferir unidade de crença quando ainda não existia institucionalização, ou seja, um corpo de regras bem de�nidos, não foi tarefafácil, pois ao mesmo tempo em que querem se desvencilhar do judaísmo dos apóstolos, esses cristãos não podem se aliar ao paganismo do mundo greco-romano. Paulo de Tarso e, depois, seus discípulos diretos (como Timóteo) tiveram que advertir insistentemente os recém-convertidos que, por vezes, impulsionados pelo hábito, viam-se participando de cultos pagãos ou aproveitando os prazeres da vida carnal por acreditarem que logo seriam arrebatados. Patrística Havia uma necessidade premente de se estabelecer aquilo que seria considerado como a verdadeira conduta dos seguidores do cristianismo. É neste contexto que pensadores comprometidos com a expansão e compreensão do cristianismo estabelecem as bases doutrinárias e hermenêuticas – ensinamentos e interpretação – daquilo que seria chamado de fé cristã. Estes são conhecidos como os “Pais da Igreja”, e por isso a terminologia “Patrística”. Versados na cultura clássica dos três primeiros séculos da era comum, os Pais da Igreja transformaram o cristianismo de uma fé prática e pouco racional em uma �loso�a altamente complexa e combativa diante de outros pensamentos �losó�cos concorrentes na época, sendo até hoje estudada em cursos de Filoso�a em todo o mundo, pois foram esses pensamentos que forjaram as noções de ética no mundo ocidental. 02/05/2023, 08:33 A Igreja Primitiva https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-igreja-primitiva.html 7/7 São muitos os pensadores deste período, tanto que poderíamos ter uma disciplina apenas para estudar as suas ideias. Porém, como não temos espaço para tanto, citaremos alguns exemplos de pensadores deste período. Eusébio de Cesareia (vivido entre os séculos III e IV), autor do clássico História Eclesiástica; Jerônimo (vivido entre os séculos IV e V), que traduziu a Bíblia escrita em Hebraico e Aramaico (Antigo Testamento) e Grego (Novo Testamento) para o Latim, dando origem à Vulgata - que tornou as escrituras acessíveis aos habitantes do Império Romano; Orígenes (vivido entre os séculos II e III), autor de grandes tratados de apologia e comentários sobre livros da Bíblia e, apesar de tardiamente, o grande Agostinho de Hipona (vivido entre os séculos IV e V), autor de Cidade de Deus, obra essencial para a compreensão da doutrina da Igreja enquanto corpo místico de Cristo. Figura 3 - Eusébio, pai da história da Igreja | São Jerônimo, padroeiro dos tradutores | Teólogos Orígenes | Santo Agostinho de Hipona Fonte: wikipédia. 02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 1/5 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 2/5 Já no século II, o cristianismo, por seu caráter proselitista, ou seja, por fazer com que outros se convertam às suas ideias, já tinha alcançado todas as regiões do Império Romano e se tornado cada vez mais preocupante para as lideranças locais, que temiam a grande inserção da nova fé como uma possibilidade de ruptura da unidade do Estado. Já no primeiro século, os cristãos foram perseguidos, como no caso do reinado de Nero, que, ao atear fogo em Roma, culpabilizou-os pelo ocorrido. Mas foi a partir do século III, com o início da decadência do Império, que houve uma intensi�cação na repressão. No ano de 202, Sétimo Severo proíbe a conversão ao cristianismo, e em 205 Décio ordena o sacrifício geral de todos os cristãos. Valeriano, entre 253 e 260, ordena que o clero cristão sacri�que suas próprias “ovelhas”, e aqueles que não seguissem suas ordens seriam executados. Em 303, Diocleciano proíbe o culto cristão, demite-os dos serviços públicos e determina que todos os habitantes do Império deveriam prestar culto aos deuses romanos sob pena de morte caso a ordem não o �zessem (BAUMGARTNER, 2000). As perseguições cessaram com o reinado de Constantino a partir de 306. A história sobre este imperador é de extrema importância para o desenrolar desta aula. Segundo a tradição, em 28 de outubro de 312, antes da batalha contra o usurpador do trono Magêncio, o Imperador teria tido um sonho e visto uma cruz. Em seu interior, estava escrito em latim “in hoc signo vinces”, traduzindo-se para “com este sinal, vencerás”. Ao acordar, Constantino teria mandado pintar uma cruz nos escudos dos combatentes e venceu a batalha, garantindo sua soberania. Esse episódio marca a conversão do Imperador, que já em 313 tornou o culto cristão legalizado em todo o Império com o Edito de Milão. Existe também uma versão que atribui a conversão de Constantino à forte in�uência de sua mãe, Helena de Constantinopla, uma cristã da Ásia Menor hoje venerada como Santa. Figura 1 - Mosaico bizantino representando Constantino, na Itália | Túmulo de Santa Helena de Constantinopla, no Vaticano 02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 3/5 Fonte: wikipédia. A Institucionalização do Cristianismo O Edito de Milão de 313 é lembrado como o marco da institucionalização do cristianismo e, portanto, do nascimento da Igreja Católica Apostólica Romana como a conhecemos, tendo Silvestre I como o seu primeiro Papa. Contudo, historiadores católicos recusam essa a�rmação, sendo que para eles a Igreja foi fundada por Jesus Cristo, logo, Pedro seria o primeiro Papa. Compreendendo que essa discussão é extremamente complexa, não nos deteremos nela, mas aqui é importante esclarecer que pela primeira vez na história o cristianismo foi reconhecido como religião e seus seguidores tiveram os mesmos direitos e liberdades que os pagãos, além de serem ressarcidos dos bens que haviam sido con�scados anteriormente. Em 325, a �m de uni�car a doutrina cristã, Constantino convoca para a cidade de Niceia um Concílio Ecumênico, ou seja, que englobava bispos de todas as regiões do mundo conhecido na época. O Concílio Ecumênico de Niceia é um marco na história da Igreja cristã, pois foi nessa reunião com duração de quase um mês entre 20 de maio e 19 de junho, que foram estabelecidas questões como a dos livros que viriam a compor o Novo Testamento e a do distanciamento das práticas judaicas, principalmente aquelas ligadas à Páscoa, que passa a ter sua centralidade em Cristo, uma vez que antes era comemorada, principalmente pela Igreja do Oriente, como a festa ligada à saída do Egito. Estabelece-se, assim, a doutrina da Trindade, na qual o 02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 4/5 Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo, são o mesmo, são promulgadas as leis canônicas e constitui-se o Credo Niceno, seguido por grande parte do cristianismo atual. Voltado a institucionalizar e criar regras para normatizar e dar unicidade aos eventos, um dos propósitos do Concílio de Niceia era resolver os problemas da Igreja de Alexandria, no Egito, onde um presbítero de nome Ário desenvolveu uma complexa e interessante explicação para a natureza de Cristo. Segundo o Arianismo, Cristo não era um com o pai, mas um homem comum que teria sido adotado por Deus. Dessa forma, não existia consubstancialidade (ou seja, o conceito da santíssima Trindade), fazendo de Jesus realmente o Messias, Salvador, Cristo, morto e ressurreto ao terceiro dia, mas não o próprio Deus. Essa doutrina, conhecida como não trinitarista, foi amplamente debatida no Concílio e acabou sendo vencida. Ário foi excomungado,tanto que no Credo Niceno �ca de�nido que o Cristo foi gerado de “uma só substância com o Pai”. O Arianismo ainda continuou forte entre alguns grupos cristãos nos séculos seguintes, tanto que muitos reinos bárbaros foram primeiro cristãos arianos e posteriormente católicos. 02/05/2023, 08:33 A Perseguição no Império e a Conversão de Constantino https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-perseguicao-no-imperio-e-a-conversao-de-constantino.html 5/5 Em 380, no Concílio de Tessalônica, o Imperador Teodósio tornou o catolicismo a religião o�cial do Império Romano, proibindo os cultos pagãos. Apesar de o termo “católico” ser utilizado desde o século II, neste momento o nome “Igreja Católica Apostólica Romana” passou a ser o�cial. 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 1/9 A Reforma Protestante AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 2/9 Olá a todos! Para compreender a reforma cristã empreendida no século XVI, é necessário analisar o cenário político e social europeu no alvorecer do renascimento cultural. Com início no século XIV e alcançando amadurecimento entre meados do século XV e início do XVI, o movimento conhecido como Renascimento Cultural objetivava ressuscitar a cultura greco-romana, que, segundo seus próprios membros, havia se perdido ao longo dos quase mil anos do período medieval, também chamado de Idade das Trevas. Mais do que postular aspectos vinculados à arte, como noções de realismo e proporção tanto na pintura quanto nas esculturas, o Renascimento colocou o homem como a medida de todas as coisas (antropocentrismo), uma atitude diferente do que previa a Igreja, grande detentora do saber durante a Idade Média, que colocava Deus como o centro dos interesses e a medida de todas as coisas (teocentrismo). Filoso�a clássica, política, observação astronômica, literatura e tantas outras áreas do conhecimento se popularizaram na Europa. Em um primeiro momento, o movimento esteve restrito à Península Itálica, mas logo se expandiu para o restante do continente. Foi nesse contexto que grandes obras da literatura universal foram compostas, como “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, dentre tantas outras. No plano político, o fortalecimento das monarquias absolutistas colocava em xeque os interesses religiosos. Os reis fundadores dos Estados Modernos objetivavam colocar a Igreja sob seus desígnios e não o contrário como os líderes eclesiásticos pensavam. Os poderes reais passaram a competir com o poder papal. SAIBA MAIS Ao propor o antropocentrismo, os renascentistas não deixavam de acreditar na existência divina, mas apenas traziam o debate acerca da existência para a esfera terrena, a esfera dos interesses humanos. 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 3/9 A Reforma Os movimentos de contestação da Igreja Católica só puderam obter êxito no século XVI por conta das transformações sócio-políticas pelas quais a Europa estava passando. A reforma luterana não foi a primeira tentativa de reparo das instituições religiosas. Nos séculos XII, XIII, XIV e XV, vários movimentos, como o dos Cátaros, dos Valdenses, de John Wycliffe e Jan Hus, foram fortemente reprimidos pela Igreja Católica e condenados como heresias pela Inquisição. Em 31 de outubro de 1517, um monge da ordem dos agostinianos chamado Martinho Lutero, diante da extensiva cobrança de indulgências do Papa Leão X para a construção de uma nova basílica de São Pedro, pregou 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, na Saxônia, atual território alemão. Seguem-se quatro teses de destaque: 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 4/9 Convidado a se retratar diante de seus superiores, Lutero manteve-se �rme em seus posicionamentos e não os negou. Em 3 de janeiro de 1521, o Papa Leão X excomungou Lutero através da Bula Decet Romanum Ponti�cem. Mas por qual motivo Lutero não foi preso e julgado como herege pela Inquisição romana? A resposta para essa pergunta é fácil: a pregação do ex-monge agostiniano interessava à nobreza cansada da dominação católica, e por isso Lutero foi protegido pelo príncipe Frederico III da Saxônia e nunca foi julgado formalmente por Roma. 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 5/9 Na esteira da pregação luterana, Henrique VIII, soberano da Inglaterra, ao ter seu pedido de suspensão matrimonial negado pelo Papa, decidiu romper com a Igreja Romana e criou, por meio do Ato de Supremacia, a sua própria Igreja - a Igreja Nacional Inglesa. A Igreja Anglicana, como é mais conhecida, tem como autoridade máxima o monarca em exercício, seja este um rei ou rainha, e como autoridade religiosa, o arcebispo da Cantuária. Na prática, a con�ssão anglicana mescla dogmas católicos com a teologia luterana. O francês João Calvino foi outro grande nome da reforma religiosa na Europa do século XVI. Autor da obra “Instituição da Religião Cristã”, também conhecida como Institutas, Calvino formou uma grande comunidade de crentes na cidade suíça de Genebra. Sua pregação condenava a idolatria católica, o consumo de bebidas alcoólicas, a jogatina, a troca pública de carícias e proibia a utilização de instrumentos musicais nas celebrações cúlticas. Sobre a não-utilização de instrumentos musicais, o historiador Geoffrey Blainey (2012) escreveu: 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 6/9 [...] a ideia parece severa demais, mas os visitantes estrangeiros que entravam na ampla igreja de Genebra e ouviam centenas de pessoas cantando juntas �cavam pasmos, ao perceber tanta força e sinceridade (p. 198). O grande diferencial da teologia calvinista quando comparada a outras reformas é a predestinação, segundo a qual se atribuem as ações da vida no mundo à total e absoluta vontade de Deus. O criador predestinou parte da humanidade à salvação e parte à condenação, e nós, humanos, nunca saberemos de fato qual será o nosso �m, mas a justeza e a integridade de nossas ações nos dão pistas. Muitos burgueses aderiram aos ideais calvinistas, pois ao contrário da Igreja Católica, que condenava o lucro, para Calvino, quando este é obtido de maneira incorruptível, é benção de Deus e uma pista da sua salvação. 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 7/9 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 8/9 Assim, pontuo que não seria possível escrever aqui a história total do Cristianismo, pois isso requerer tempo e muito trabalho, tanto que existem cursos especí�cos destinados apenas a essa temática. Nosso objetivo aqui é apresentar conceitos basilares da história das religiões e religiosidades. 02/05/2023, 08:33 A Reforma Protestante https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/a-reforma-protestante.html 9/9 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 1/8 Compreendendo o Outro AUTORIA Saulo HenriqueJustiniano Silva 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 2/8 Olá, alunos, sejam bem-vindos à primeira aula de História das Religiões e Religiosidades. Neste primeiro momento, trabalharemos conceitos básicos sobre o estudo da História das Religiões e das Religiosidades. Antes de começar, vale a pena dizer que, enquanto historiadores em formação, devemos ter claro que apesar de ambas serem parte da grande área das Ciências Humanas, a ciência histórica é diferente da ciência teológica. Essa colocação serve para nos atentarmos quanto às especi�cidades das subáreas. O historiador romeno-americano Mircea Eliade (1907 – 1986), talvez o maior nome da História das Religiões e Religiosidades, escreveu no prefácio de História das Crenças e das Ideias Religiosas, volume I, que: [...] para o historiador das religiões, toda manifestação do sagrado é importante; todo rito, mito, crença ou �gura divina re�ete a experiência do sagrado e por conseguinte implica as noções de ser, de signi�cação e de verdade (ELIADE, 2010, p. 13). Historiogra�a das Religiões 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 3/8 É difícil estabelecer o momento em que surgiu a História das Religiões e Religiosidades como uma área do conhecimento histórico. O que se sabe é que os primeiros historiadores das religiões não eram necessariamente historiadores, mas antropólogos e sociólogos. Antes de prosseguir com a conceitualização aqui apresentada, é necessário compreender que a própria ideia da “História” enquanto disciplina surgiu entre �nais do século XIX e início do século XX. Em grande medida, a estruturação que de�niu as áreas das ciências esteve vinculada ao estabelecimento de limites dos campos de conhecimento que surgiram com o Positivismo. O antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832 – 1917) foi um dos primeiros cientistas a se debruçar sobre as questões dos aspectos religiosos de um determinado povo. Em sua obra Primitive Culture, de 1871, Tylor de�niu que a manifestação religiosa mais primitiva foi o animismo, crença que considera dotada de alma toda a natureza. O autor, in�uenciado pelo Evolucionismo de Charles Darwin e pelo Positivismo de Comte, legitima a ideia de que a evolução das religiões se desenvolveria para o politeísmo e posteriormente para o monoteísmo, manifestação religiosa que demonstra total abstração da crença, certi�cando o auge da evolução mental do Homo Sapiens. 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 4/8 O grande sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917), em seu clássico As formas elementares da vida religiosa, de 1912, analisou a vida religiosa dos aborígenes australianos. Ao observar o sistema religioso totêmico, no qual um animal, vegetal ou qualquer outro objeto é considerado como ancestral ou símbolo de uma coletividade (tribo, clã), “sendo seu protetor e objeto de tabus e deveres particulares” (HERMANN, 2011, p. 318), o sociólogo acreditou ter encontrado a forma primordial das crenças religiosas. [...] Base original da vida social, o totemismo seria a representação primordial do homem sobre o mundo e reuniria as características essenciais de todas as religiões: a distinção entre os objetos sagrados e profanos; a noção de alma e espírito; de personalidade mítica e divindade nacional; ritos de oblação e de comunhão; ritos comemorativos; ritos de expiação (DURKHEIM, 1978 apud HERMANN, 2011, p.318). Com As formas elementares da vida religiosa, Émile Durkheim tornou-se um dos primeiros autores a traçar as bases teórico-metodológicas para analisar os sistemas religiosos. Logo depois de Durkheim, outro grande nome da sociologia, o alemão Max Weber, em sua obra Economia e Sociedade, de 1922, especi�camente no capítulo V do livro I, intitulado “Sociologia da Religião: Tipos de relações comunitárias religiosas”, 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 5/8 desenvolveu uma regra geral para a compreensão das práticas religiosas. Enquanto em �nais do século XIX e início do século XX sociólogos e antropólogos buscavam a compreensão de uma forma elementar para a compreensão dos aspectos religiosos, historiadores se detinham em elencar grandes nomes e acontecimentos políticos da formação dos países. Se a História era a ciência que estuda o passado, cabia ao historiador encontrar documentos escritos que coroavam o passado glorioso, sem dúvida uma história feita de cima para baixo. Nessa perspectiva, não fazia sentido ao historiador estudar religiões, até porque desde o século XVI, e rati�cado no século XIX, existia um processo de dessacralização da ciência e resistência aos fenômenos religiosos fortemente marcado pelo crescente ateísmo. Se os positivistas não tinham interesse no estudo das religiões, os marxistas também não. Para estes, a religião deve ser compreendida no contexto das lutas de classe como um instrumento de manipulação das elites dominantes para justi�car as desigualdades. A questão econômica, portanto, materialista, era a infraestrutura que deveria ser atacada e revolucionada, para que só assim fossem transformados os aspectos da superestrutura onde residia a religião, a cultura e a política. O materialismo histórico-dialético, como �cou conhecida a teoria desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, pouco colaborou para a compreensão da História das Religiões e Religiosidades. 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 6/8 O romeno-americano Mircea Eliade foi um dos pioneiros no estudo fenomenológico da História das Religiões. Apesar de ter escrito o “Tratado de História das Religiões” em 1949, a obra O sagrado e o profano - a essência das religiões, de 1957, rompeu de�nitivamente com a Sociologia Religiosa, que buscava um modelo geral para as religiões. Eliade buscou compreender a essência do homem religioso, marcando as experiências que as pessoas têm quando se encontram com o sagrado, motivo esse pelo qual, para o autor, era mais importante encontrar o homo religiosus – a completude do sagrado e suas práticas na vida social, do que as formas elementares da vida religiosa. [...] o sagrado é um elemento na estrutura da consciência, e não uma fase na história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Em outras palavras, ser – ou, antes, tornar-se um homem signi�ca ser “religioso” (ELIADE, 2010, p. 13). A Contribuição dos Annales Em 1929, a publicação dos Annales d'histoire économique et sociale (Anais de história econômica e social), dirigida pelos professores e historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre da Universidade de Estrasburgo na França, revolucionou de�nitivamente a historiogra�a ocidental. A geração de Annales, também conhecida como Escola dos Annales, ampliou signi�cativamente a compreensão de História. 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 7/8 Para os Annales, a História deixou de ser “a ciência do passado”, como sugeriam os positivistas, e passou a ser vista como “a Ciência dos homens no tempo e no espaço” (BLOCH, 2001, p.55). Nessa perspectiva, houve uma ampliação nos objetos de análise da história, pois a História passou a estudar o homem em desenvolvimento, e não mais um tempo vago e impreciso como o “passado”. O historiador inglês Peter Burke (2010) chamou a Escola dos Annales de “a revoluçãofrancesa da historiogra�a”, pois esta de fato foi um marco na história da historiogra�a. Na busca de uma “história total”, terminologia utilizada por Marc Bloch na obra editada postumamente Apologia da História ou o Ofício do Historiador, o historiador passa a validar tudo como fonte histórica, desde as escritas, como proposto pelos positivistas, até as orais, vestimentas, aspectos culturais etc. Também se passou a legitimar a interdisciplinaridade para a compreensão dos fatos históricos: mais que saber história, o historiador precisa dominar outros saberes, como geogra�a, química, línguas, matemática etc., para uma análise total dos fatos. Os historiadores da Escola dos Annales passaram a compreender a religião como uma dimensão da vida humana, sem a qual seria impossível compreender a totalidade das relações em que o sujeito histórico está inserido. Um caso bastante emblemático nesse sentido foi a obra O problema da incredulidade no século XVI: a religião de Rabelais, de 1942, escrita por Lucien Febvre. Nela, o fundador da Escola dos Annales rebate o também historiador Abel Lefranc, que havia escrito anos antes que o escritor renascentista François Rabelais era ateu. Lefranc havia chegado a essa conclusão após encontrar no texto de Rabelais diversas críticas à Igreja Católica. Febvre, por sua vez, a�rma que o literato não era ateu, porque no século XVI não existia ateísmo segundo o conceito moderno do termo e, apesar de crítico da Igreja, Rabelais “fora moldado a partir de um ‘instrumental intelectual’ (outillage mental) que não permitia a descrença” (HERMANN, 2011, p.327). Apesar das contribuições dos Annales no campo de uma História totalizante em que as questões religiosas não podem ser deixadas de lado, Jacqueline Hermann (2011) orienta-nos, fazendo referência ao historiador inglês Stuart Clark, que grande parte da historiogra�a francesa e os Annales não podem ser deixados de lado, pois muitas vezes essa tendência “mergulhou a religião no irracionalismo, sem atentar para a estrutura de organização e signi�cados culturais, do ‘outro’, do desconhecido” (p.327). De fato, essa é uma das questões mais preocupantes no trato da História das Religiões e Religiosidades: vencer a barreira do etnocentrismo – a visão de mundo a partir da perspectiva particular do povo e da cultura a que se pertence, considerando-os mais socialmente importante do que os demais – e da arrogância intelectual. Ao tratar do fenômeno religioso, não devemos nivelar por baixo, como se algumas delas fossem melhores do que outras, e por isso devemos sempre estar vigilantes para não incorrer nesses erros. 02/05/2023, 08:34 Compreendendo o Outro https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/compreendendo-o-outro.html 8/8 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 1/9 Islamismo AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 2/9 Nesta aula, vamos abordar aspectos importantes da religião islâmica. De origem monoteísta, é a segunda maior vertente religiosa do mundo e a que mais cresce atualmente no planeta. Por isso, antes mesmo de iniciar a apresentação sobre o islamismo, é necessário que você, futuro historiador, abandone possíveis preconceitos quando se trata do assunto. É verdade que existem grupos islâmicos que atuam na cepa do terrorismo, principalmente no Oriente Médio, mas essa realidade não representa a totalidade da religião. Para dizer a verdade, trata-se de uma parcela bem pequena dos membros dessa corrente religiosa, mas que ocupam grande parte dos noticiários internacionais. Algo importante a ser ressaltado é a distinção entre etnia e religião. Podemos entender “etnia” como um grupo de humanos que se reconhecem a partir de um mesmo idioma, de características raciais análogas, de uma ancestralidade comum, organizados junto a um determinado limite territorial, e de questões socioculturais similares. Desta forma, podemos a�rmar que os árabes são um grupo étnico. Quanto à questão religiosa, apesar da questão étnica in�uenciar aspectos da cultura religiosa, a religião tem a ver com um corpo de crenças comum e um corpo de normas e regras obedecidas e seguidas por seus membros. Essa distinção apresentada é para elucidar que, apesar de o Islã ter surgido na Arábia no século VII, nem todo árabe é islâmico e nem todo islâmico é árabe. O exemplo que melhor corrobora essa matéria é que o país com o maior número de muçulmanos no mundo não está na Península Arábica, mas no sudeste asiático: trata-se da Indonésia, com cerca de 207 milhões de adeptos. Feitos esses importantes apontamentos, iniciaremos a narrativa sobre o nascimento da religião islâmica e suas principais características. Vamos começar com o cenário onde se deu a revelação de Deus (Alá) ao Profeta em 610. ATENÇÃO Outra questão é: se todos os islâmicos agissem a partir da perspectiva fundamentalista, o mundo estaria imerso em uma imensa Jihad (Guerra Santa), visto que o número total de seus praticantes representa cerca de 1,6 bilhões de habitantes, número superior ao de católicos – hoje, cerca de 1,3 bilhões de pessoas ao redor do globo. 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 3/9 O Cenário Localizada no Oriente Médio, a Península Arábica, palco do surgimento do Islã, foi durante séculos ocupada por populações nômades, dentre as quais tiveram uma relevância especial os beduínos, que se movimentavam pelo clima desértico e semiárido em busca de alimento para si e seus pequenos rebanhos de ovelhas. Parte da população vivia em regiões de oásis e era marcada pela formação de cidades, das quais Meca e Yatrib eram as mais desenvolvidas. Essas regiões tinham como principal fonte de renda e subsistência o comércio, visto que a agricultura de larga produção era pouco viável por conta das questões climáticas. 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 4/9 Figura 1 - Meca atualmente | Yatrib, atual Medina Fonte: wikipédia. O comércio na Península Arábica era abastecido por dois grandes impérios vizinhos – o Império Bizantino, cuja capital, Constantinopla, foi ao longo de muitos séculos um importante entreposto comercial entre a Ásia, o norte da África e a Europa, e o Império Sassânida, uma evolução do Império Persa, localizado a nordeste da Península. Não havia unidade política entre os árabes, tampouco religiosa. A organização social estava em grande medida vinculada aos clãs, grupos unidos por meio de certo grau de parentesco, e dentro dos clãs estavam as linhagens, como se fossem famílias em que um patriarca tivesse vários �lhos e cada �lho dessa origem a uma nova pequena família e assim por diante. Na Península Arábica, existiam alguns clãs de judeus da diáspora e outros de cristãos, mas a maioria da população era politeísta e o centro da devoção desses politeístas era a cidade de Meca. Localizada a cerca de 80 quilômetros do litoral do Mar Vermelho, Meca era uma cidade marcada pelo aspecto religioso e pela já citada característica comercial. Na cidade, estava e ainda está a Caaba: estrutura cúbica onde estavam guardados todos os deuses adorados na Península e a Pedra Negra, um meteorito que, segundo a tradição, teria chegado branco, mas empretecido com o pecado da humanidade. Meca recebia visitas constantes de devotos, o que era bem-visto pelo comércio local, que estava sempre aquecido. O Nascimento da Religião Foi em Meca que nasceu, por volta de 570, Abū al-Qāsim Muḥammad ibn ʿAbd Allāh ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim, ou apenas Muhammad, ou ainda Maomé, o Profeta do Islã. Era membro do poderoso clã dos Quraysh (coraixitas), da linhagem dos Hashemitas,um ramo menos rico do clã. Maomé não conheceu o pai Abdulah bin Abdu L’Muttalib, que morreu quando ele ainda estava no ventre de sua mãe. Posteriormente, aos seis anos de idade, perdeu a mãe Aminah. A partir de então, foi criado pelo avô paterno Abdu L’Muttalib, guardião da Caaba, que, por sua vez, viria a falecer dois anos depois, tendo Maomé �cado desde 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 5/9 então aos cuidados de Abu Talib, seu tio paterno. Com o tio aprendeu a pro�ssão de mercador e aos 12 anos fez sua primeira caravana à Síria e, desde então, várias outras para Bizâncio e a Pérsia. Com 25 anos, passou a trabalhar para Khadija, uma rica viúva comerciante da cidade de Meca e com ela viria a se casar e ter seis �lhos: dois meninos que morreram ainda na infância e quatro meninas - Zainab, Ruqayya, Umm Qulsum e Fatima. Além dos �lhos, Maomé também criou seu primo Ali, �lho de Abu Talib, que passou a morar em sua casa com apenas seis anos de idade. Aos 40 anos, retirado para meditação na caverna de Hira no monte Jabal al-Nour (hoje um local de peregrinação), Maomé recebeu a primeira visita do Arcanjo Jibril (Gabriel), que o mandou recitar os seguintes versos: Lê em nome de teu Senhor que tudo criou; criou o homem de um coágulo de sangue. Lê que teu Senhor é generoso, que ensinou o uso do cálamo, ensinou ao homem o que este não sabia (Sura, 96, 1 - 5). Essas foram – e ainda são consideradas – as mais antigas palavras da revelação de Deus ao Profeta. Assustado com a visão, ele explicou à esposa o que acontecera, esta o acalmou e acreditou no ocorrido, e por isso Kadija é considerada a primeira islâmica. Logo depois, seu primo Ali acreditou, e seu ex-escravo que vivia em sua casa como �lho, Zaid, também acreditou. Seu melhor amigo, Abu Bakr, legitimou-lhe como um escolhido de Alá (tradução árabe de “Deus”). 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 6/9 As revelações se seguiram por toda a vida de Maomé. Em síntese, elas falavam de um Deus único (Alá) ao qual todos os seres humanos deveriam se submeter. Inclusive, essa é a origem do nome da religião, Islam, traduzido como “Submissão a Alá”. Desde a primeira aparição do arcanjo Jibril, Maomé iniciou suas pregações e, consequentemente, o número de �éis começou a crescer. A principal mensagem contida em seus sermões era a necessidade de reconhecer Alá como Deus único e retirar as imagens dos deuses de dentro da Caaba. Essas duras palavras do Profeta não foram bem recebidas pela elite de Meca, que temia perder a clientela cativa caso a Caaba fosse limpa. Nesse contexto, Maomé foi perseguido e, temendo por sua própria vida, fugiu no ano 622 de Meca para Yatrib, cidade a cerca de 300 quilômetros ao norte. Esse episódio, conhecido como Hégira (imigração), é o marco zero do calendário muçulmano, que começa a ser contado a partir de então. Pouco antes do episódio da Hégira, por volta de 621, Maomé teria feito a Viagem Noturna (Al-Isra) e a Ascensão (Al Mi’raj). Na Viagem Noturna, montado no cavalo alado Buraq e ao lado do arcanjo, teria passado pelos principais locais sagrados do Islã com ponto �nal em Jerusalém. Em Jerusalém, do Domo da Rocha, onde hoje está a Mesquita Al-Aqsa na esplanada do antigo Templo de Salomão, também teria ascendido aos sete céus. Em cada um deles estariam outros importantes profetas: Adão no primeiro, João Batista e Jesus no segundo, José do Egito no terceiro, Enoch no quarto, Aarão no quinto, Moisés no sexto e Abraão no sétimo. 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 7/9 Por �m, Maomé teria entrado na Morada do Criador, onde o próprio Alá teria pedido para que os �éis rezassem cinco vezes ao dia. Essa suposta viagem coloca Jerusalém como uma das três cidades sagradas do Islã e liga a religião à tradição monoteísta judaica e cristã. É bem provável que em suas viagens como mercador, Maomé teria tido contato com judeus e cristãos. Por isso, seu repertório fazia alusão aos personagens bíblicos. É importante dizer que, após a viagem, Maomé regressou à Terra. Em Yatrib, Maomé organizou a primeira comunidade muçulmana: termo árabe para aqueles que se submetem à vontade de Deus, e, além de um líder religioso, elevou-se a um chefe político e militar. Posteriormente, a cidade de Yatrib passou a ser chamada de Medina a Nabil, traduzindo-se em “Cidade do Profeta”. Medina, como é popularmente conhecida, é o segundo lugar mais sagrado da religião islâmica e o local onde se encontra a primeira mesquita, conhecida como a “Mesquita do Profeta”. Maomé, por sua vez, também está enterrado lá. Em Medina, Maomé organizou a Jihad – que signi�ca “empenho”, “luta” – , a Guerra Santa contra os inimigos da religião. Por cerca de 8 anos, o exército muçulmano sofreu com investidas de Coraixitas da cidade de Meca. Em alguns casos, o general Maomé saiu vitorioso, em outros, derrotado, mas com a força da fé e alianças com outras tribos árabes, por volta de 630, Maomé toma a cidade de Meca, destrói as imagens dos deuses de dentro da Caaba, mantém a Pedra Negra - símbolo máximo da presença de Deus na terra - e puri�ca o local. A partir de então, Meca se torna o centro das atenções dos muçulmanos, local de peregrinação ao qual se vai ao menos uma vez na vida. 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 8/9 Aos 62 anos de Idade, Maomé caiu enfermo e veio a falecer em 8 de junho de 632 na cidade de Medina. Na data de sua morte, quase toda a Arábia já era muçulmana e menos de 100 anos após a primeira revelação do arcanjo Jibril, o império islâmico se estendia da Arábia, passando pela Pérsia a leste, pelo norte da África a oeste e chegando até a Península Ibérica. Sem sombra de dúvida, o Islã tornou-se o elemento uni�cador da história árabe. 02/05/2023, 08:34 Islamismo https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/islamismo.html 9/9 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 1/8 Judaísmo – Tempos Bíblicos I AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 2/8 Judaísmo Nesta e nas próximas aulas, nos deteremos na apresentação de uma breve história do judaísmo. Longe de esgotar o assunto sobre a religião, apresentaremos as suas principais características históricas e religiosas. Na primeira aula sobre a temática, trataremos dos aspectos históricos e bíblicos, e na próxima nos ocuparemos com questões relativas aos ritos da fé judaica. É ponto pací�co entre historiadores das religiões que existiram outras manifestações monoteístas antes da revelação de YHWH ao patriarca Abrão, posteriormente chamado de Abraão. No antigo Egito, por exemplo, durante o reinado de Amenó�s IV (posteriormente chamado Aquenáton), foi estabelecido o culto exclusivo ao deus Áton, abandonando-se mesmo que temporariamente – no caso egípcio, por exemplo, após a morte do faraó em questão, os seguintes retomaram o culto às divindades que haviam sido deixadas de lado – a tradição politeísta egípcia. Isso se deu por volta do século XIV a.C. Mas o judaísmo é sem sombra de dúvida a mais antiga tradição monoteísta ininterrupta do mundo: suas bases histórico-religiosas in�uenciaram eticamente o cristianismo e o islamismo, as maiores vertentes religiosas do globo. É difícil falar sobre as crenças judaicas sem fazer um retrospecto da história dos hebreus, pois foram os acontecimentos ao longo da história deste povo que conformaram as bases religiosasdo judaísmo. É importante esclarecer que os aspectos históricos que serão apresentados aqui estão vinculados à tradição da maneira como os judeus compreendem a origem da religião. A história hebraica tem seu início por volta do século XIX a.C., quando Abrão, �lho de Terá, um escultor de ídolos de Ur dos Caldeus, recebeu o chamado de Deus: [...] Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei e engrandecerei o teu nome; sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditos todos os clãs da terra (BÍBLIA DE JERUSALÉM, Gênesis 12: 1 – 3). Este episódio, conhecido como a “Revelação de Iahweh”, marcou o início da história da religião hebraica. Com o chamado de Deus, Abrão saiu de sua terra, do meio dos seus, transferiu-se geogra�camente de região e deixou os deuses de seus ancestrais. Diferentemente de outros povos do Médio Oriente, dos quais desconhecemos a origem primeva, no caso dos hebreus, Abrão – pai excelso, ou pai ilustre (posteriormente tornado Abraão, “pai das nações, ou pai de muitos”), é considerado o primeiro hebreu. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 3/8 Não cabe neste curto espaço que aqui temos um relato literal dos acontecimentos descritos nos capítulos iniciais do Pentateuco. Porém, vale a pena compreender alguns aspectos que julgamos importantes para assimilarmos as características da cultura hebraica. Abraão e sua esposa Sara, que tinha 90 anos, receberam a dádiva de se tornarem pais de Isaque, que, traduzindo, seria algo como “risos”, ou “�lho da minha alegria”. Isaac era o único �lho de Sara, mas não de Abraão, que também era pai de Ismael (Deus escutou). Ismael, que posteriormente será relembrado na história do islamismo, era �lho do patriarca com a concubina Hagar, que havia sido dada como genitora por Sara, para que Abraão pudesse cumprir a vontade de Deus, que havia prometido abençoar toda a sua semente e suas gerações. Foi com Ismael que Abraão cumpriu a Brit Milá, ou aliança da circuncisão, o pacto de Deus com seu povo. Além do �lho, foram circuncidados todos os servos do patriarca: E circuncidarei a carne de vosso prepúcio, e será por sinal de aliança entre mim e vós. E com idade de oito dias será circuncidado, entre vós, todo varão, nas vossas gerações: o escravo nascido em casa, e comprado por prata, de todo �lho de estrangeiro, que não seja de tua semente. Tem de ser circuncidado o escravo nascido em tua casa, e comprado por tua prata; e será minha aliança em vossa carne, para uma aliança eterna. E o varão incircunciso que não circuncidar a carne de seu prepúcio, essa alma será cortada de seu povo; minha aliança quebrou (TORÁ, Bereshit 17: 11 – 14). Até os dias atuais, a observância da Brit Milá, a circuncisão do homem no oitavo dia de nascimento, é feita pelos judeus ao redor do mundo. Apesar de Ismael ser o primogênito de Abraão, a promessa de Deus se cumpriria em Isaac. Ismael e sua mãe foram expulsos por Sara com anuência do próprio Deus, e estes habitaram no deserto de Parã, ao sul da Terra Santa. Ao longo de seus 175 anos de vida, um episódio foi especialmente marcante para Abraão. Deus teria pedido para que o patriarca sacri�casse seu próprio �lho Isaac como prova de amor e devoção. “Abraão se levantou cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de seus servos e seu �lho Isaac. Ele rachou a lenha do holocausto e pôs a caminho para o lugar que Deus lhe havia indicado” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, Gênesis 22:3). Abraão seguiu exatamente o mandamento de Deus, por mais que isso pudesse representar o “ato mais hediondo imaginável por um ser humano” (AMÂNCIO, 2010, p.14). Quando está a ponto de chegar às vias de fato, o patriarca ouve a voz de Deus 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 4/8 através de um anjo, que lhe diz: “Não estendas a tua mão contra o rapaz!” − ordenou o Anjo “Não lhe faças nada! Agora bem sei que temes a Deus, porquanto não me negaste teu amado �lho, teu único �lho!” Em seguida, tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu �lho (BÍBLIA KING JAMES, Gênesis 22: 12 – 13). A fé de Abraão neste episódio também foi tema do livro Temor e Tremor, do existencialista dinamarquês Søren Kierkegaard, que se dedica “exclusivamente a examinar o episódio e designa Abraão, pela sua dedicação incondicional a Deus, comprovada no caso do sacrifício, como o cavaleiro da Fé por excelência” (AMÂNCIO, 2010, p.15). Abraão morreu em Hebrom e foi sepultado no túmulo com sua esposa, em Machpelá, a terra que, segundo a tradição, ele teria comprado dos Hititas. Abraão gerou Isaac e este gerou Jacó, que, apesar de não ser o �lho da promessa, posto que não era o primogênito, assumiu-se como tal após enganar seu pai e seu irmão Esaú em conluio com sua mãe Rebeca. Exilado na terra de seu tio Labão, Jacó teria contraído casamento com suas primas Lia e Raquel. Destes casamentos, e de suas relações com duas concubinas, nasceram doze �lhos. Apesar de rico, Jacó se via perseguido por seu irmão por 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 5/8 motivos óbvios e por seu tio-sogro, que alegava ter sido enganado por ele. De fato, segundo a tradição, Jacó é a tradução para “enganador”. Foi em um episódio no Vau de Jaboque que a sorte de Jacó mudou. Após lutar com um Homem durante a noite e a madrugada toda, ele teve seu nome mudado para Israel: “aquele que lutou com Deus e com os homens e prevaleceu”. Dos �lhos de Israel, entre eles Judá, de onde vem o nome de “judeus”, é que teremos as doze tribos de Israel. Também aqui se passa a utilizar a expressão israelitas, �lhos de Israel, para se referir aos hebreus. É difícil apontar aqui essas histórias como reais, pois não existem vestígios arqueológicos sobre tais acontecimentos. Mas o que é importante é compreender essas narrativas como base para a interpretação religiosa dos judeus em relação ao mundo. As histórias dos patriarcas, título pelo qual é conhecido o período em que se dão esses acontecimentos, são narradas por Moisés - um hebreu que viveu entre a realeza egípcia e que se ergueu como um libertador de seu povo durante o período em que estes viviam como escravos no Egito. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 6/8 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 7/8 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos I https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-i.html 8/8 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 1/8 Judaísmo – Tempos Bíblicos II AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 2/8 Judaísmo II Após a libertação liderada por Moisés e Josué, os hebreus voltaram a se estabelecer em Canaã, região no Oriente Próximo correspondente a Israel e, atualmente, ao Líbano. Por volta do século XIII a.C., a região havia sido dividida entre as tribos de Israel. Um detalhe importante é o fato da tribo deLevi não ter recebido terras e da tribo de José ter se dividido em duas: Efraim e Manassés, totalizando 12 tribos. O período em que os israelitas retornaram a Canaã e se estrati�caram em diversos grupos é conhecido como período dos juízes. Diferentemente dos povos vizinhos, Israel, como era conhecida a união das tribos, não optou pela monarquia. A organização tribal era um pouco confusa - cada tribo tinha seu ancião e em momentos de instabilidade política e bélica, eles elegiam um juiz entre as tribos. O cargo de juiz não era vitalício e assim que as coisas se normalizavam, a função vagava. O período dos juízes é relativamente curto na história hebraica, não chegando a 300 anos. Este período é marcado pela disputa de poder entre israelitas e �listeus na região, que, apesar de não ser tão fértil, se apresentava como um importante entreposto comercial entre Europa, Ásia e África. Por volta de 1020 a.C., os Israelitas elegem Saul, �lho de Quis, da tribo de Benjamin, como o primeiro rei de Israel, iniciando o período dos reis. Os quase 20 anos de reinado do beijamita foram uma extensão do período dos juízes. O período foi marcado por lutas encarniçadas contra os �listeus, dentre as quais a mais famosa foi entre o jovem Davi e o gigante Golias, e também pela di�culdade de uni�car as tribos diante do seu poder. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 3/8 Saul foi sucedido por volta do ano 1000 a.C. por Davi, da tribo de Judá. O reinado de Davi é conhecido como a Era de Ouro dos hebreus. Foi durante seu domínio que houve a tomada da cidade de Jerusalém, que pertencia aos Jebuseus, o que a tornou capital do reino, e a vitória sobre as pretensões �listeias e fenícias quanto à região. Davi também deu um formato uni�cador para as diversas tribos israelitas. Após 49 anos de reinado, o legado de Davi é continuado por seu �lho Salomão, também da Tribo de Judá. Longe de ser um monarca guerreiro, como foram seus antecessores, Salomão, conhecido como “o sábio”, utilizou-se das alianças matrimoniais para fortalecer sua in�uência na região, chegando a ter, segundo a narrativa bíblica, 700 esposas e 300 concubinas (BÍBLIA SAGRADA, I Reis 11: 3). A marca fundamental do reinado de Salomão foi a construção do Templo Sagrado ao Deus dos Hebreus. A personi�cação da presença de um Deus que não poderia ser representado eram as Tábuas dos Mandamentos e a Arca da Aliança, que, até a construção do Templo, �cavam no Tabernáculo - um santuário portátil que Figura 1 - “Davi e a cabeça de Golias”, tela de Caravaggio Fonte: wikipédia. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 4/8 acompanhava os reis e sacerdotes hebreus. O Templo, que entrou para a história como Templo de Salomão, foi uma imensa estrutura, como podemos ver na narrativa do livro de I Reis: Quatrocentos e oitenta anos depois que os israelitas saíram do Egito, no quarto ano do reinado de Salomão em Israel, no mês de zive, o segundo mês, ele começou a construir o templo do Senhor. O templo que o rei Salomão construiu para o Senhor media vinte e sete metros de comprimento, nove metros de largura e treze metros e meio de altura. O pórtico da entrada do santuário tinha a largura do templo, que era de nove metros, e avançava quatro metros e meio à frente do templo. [...] O andar inferior tinha dois metros e vinte e cinco centímetros de largura, o andar intermediário tinha dois metros e setenta centímetros e o terceiro andar tinha três metros e quinze centímetros. Ele fez saliências de apoio nas paredes externas do templo, de modo que não houve necessidade de perfurar as paredes. Na construção do templo só foram usados blocos lavrados nas pedreiras, e não se ouviu no templo nenhum barulho de martelo, nem de talhadeira, nem de qualquer outra ferramenta de ferro durante a sua construção [...]. O santuário interno tinha nove metros de comprimento, nove de largura e nove de altura. Ele revestiu o interior de ouro puro, e revestiu de ouro o altar de cedro. Salomão cobriu o interior do templo de ouro puro, e estendeu correntes de ouro em frente do santuário interno, que também foi revestido de ouro. Assim, revestiu de ouro todo o interior do templo e o altar que pertencia ao santuário interno. No santuário interno ele esculpiu dois querubins de madeira de oliveira, cada um com quatro metros e meio de altura (BÍBLIA SAGRADA, I Reis 6: 1 – 23). A construção do Templo, que contou com ouro, cedro do Líbano, grandes pedras e o trabalho de centenas de milhares de assalariados e escravos, saiu caro para Salomão, que deixou dividendos para Roboão, seu �lho e sucessor. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 5/8 Roboão assumiu o trono após quase meio século de reinado de seu pai. Bene�ciando as tribos nobres de Judá e Benjamin, teria cobrado altos impostos das demais, o que acarretou grandes problemas que desembocaram na divisão do reino 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 6/8 de Israel em dois. Ao Norte, �cou Israel, com dez tribos e governado em um primeiro momento pelo efraimita Jeroboão. Ao Sul, �cou o reino de Judá, governado pelos herdeiros de Davi - com duas tribos. A sede do reino do Norte inicialmente foi a cidade de Siquém, e posteriormente Samaria; a do reino de Judá continuou sendo Jerusalém. Divididos, os pequenos reinos hebreus eram presas fáceis para os interesses dos impérios expansionistas da região. Em 721 a.C., as dez tribos sucumbiram à invasão assíria, que, além de se apossar da região, levou cativa boa parte da população e trouxe para a região povos de outras partes do vasto Império. Dessa devastação surgiram os Samaritanos, hebreus racialmente miscigenados com costumes e tradições divergentes do que os judeus compreendiam como a verdadeira religião abraâmica. Em 587 a.C., foi a vez da dominação babilônica sobre o reino do Sul. Nabucodonosor, rei da Babilônia entre 605 a.C. e 562 a.C., destruiu o Templo de Jerusalém e levou a elite política e religiosa de Judá para o cativeiro babilônico. Passaram-se 70 anos até que os judeus voltassem para Jerusalém. Isso se deu quando Ciro, Imperador Persa, decretou o retorno dos judeus para a sua terra em 538 a.C. Foi o levita Esdras que se tornou responsável por reestabelecer a lei de Moisés como a legislação o�cial do povo judeu. Lembrado como um grande Legislador e estando, para muitos, à altura de Moisés, Esdras, outrora um escriba da casa real persa, lutou contra os matrimônios mistos e fortaleceu a ideia de que os Judeus eram o único povo eleito de Deus. Empreendida em 458 a.C., as reformas feitas pelo levita são consideradas o marco inicial de uma religião propriamente judaica, pois até então o que existia era um corpo de crenças e leis fortemente marcado pela tradição do Oriente Próximo. O retorno dos judeus do cativeiro babilônico trouxe consigo muitas características que outrora não eram observadas, ou muito pouco, na tradição hebraica. A ideia do Messias Salvador, um sujeito que reúne em si as esperanças políticas contra a dominação estrangeira, é uma delas; ou, ainda, a �gura do mal personi�cado em uma entidade: Satã. No caso da �gura do mal, percebe-se a in�uência da religião Mazdaísta, praticada pelos persas. Nela, acreditava-se no dualismo, representado pelo deus do bem, Ahura Mazda, e o do mal, Arimã. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 7/8 Enquanto historiadores das religiões, é necessário compreendera circularidade do processo religioso. Sendo organismos vivos, seres humanos se transformam e modi�cam a maneira de compreender a existência, e isso se re�ete diretamente nas crenças e instituições. Obviamente, para um crente a fé é imutável, os fatos ocorrem da maneira como ditam as narrativas nos livros sagrados. Contudo, como cientistas, devemos compreender a impossibilidade da imutabilidade tendo como ponto da partida as características humanas. Possivelmente, a religião praticada pelos hebreus do tempo dos Patriarcas pouco teria a ver com a praticada em uma sinagoga de uma cidade no interior paulista, por exemplo. 02/05/2023, 08:34 Judaísmo – Tempos Bíblicos II https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-biblicos-ii.html 8/8 O templo foi reconstruído em 522 a.C. e embelezado pelo rei Herodes no século I a.C. Em 63 a.C., os romanos passaram a dominar a região e a cobrar impostos dos judeus, e isso trouxe grande agitação. A�nal, como poderia uma nação terrena cobrar por algo dado ao patriarca Abraão pelo próprio Deus? Muitas foram as revoltas, principalmente lideradas pelos zelotas contra os romanos e, nesse contexto, surgiram diversos messias que encarnavam o desejo de libertação do jugo estrangeiro. 02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-pos-biblicos.html 1/9 Judaísmo – Tempos Pós- bíblicos AUTORIA Saulo Henrique Justiniano Silva 02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-pos-biblicos.html 2/9 Em 70 d.C., a mando do Imperador Vespasiano e sob o comando do general Tito, o Templo de Jerusalém foi novamente destruído, sobrando apenas o muro de arrimo que sustentava a estrutura, conhecido como “Muro das Lamentações”. A destruição do Templo foi o marco inicial para a diáspora (dispersão) judaica pelo mundo. Figura 1 - Panorama do Muro das Lamentações (Jerusalém) | Judeu orando junto ao Muro das Lamentações Fonte: wikipédia. Expulsos da terra de seus ancestrais, os judeus se estabeleceram em diversas regiões do mundo, do leste asiático à Europa Ocidental, da África à Rússia. Na galut, termo hebraico para “exílio”, eles mantiveram suas crenças religiosas e transformaram a religião vinculada ao Templo e aos sacerdotes em uma religião domiciliar onde as mulheres adotaram o papel fundamental de transmissoras da tradição. Sem o Templo, as sinagogas que já existiam desde o tempo do exílio babilônico passaram a ter fundamental importância como casa de oração e encontro da comunidade. Os sacrifícios de animais foram substituídos por preces e bênçãos, e o Templo tornou-se uma lembrança recôndita com sentido mais alegórico do que literal. Sem Templo, sem sacerdotes. Os sacerdotes foram paulatinamente substituídos por Rabinos, intérpretes da Lei formados nas Yeshiva, onde aprendiam ritos funerários, rituais de abate de animais e a condução da vida em comunidade. Como se acredita com base na cultura religiosa judaica, Moisés recebeu de Deus a Lei e esta foi escrita na Torá, mas muitos pontos da cultura relacionados à interpretação das escrituras e à tradição oral se perpetuaram através dos profetas e mestres do judaísmo, que mantiveram a tradição viva por vários séculos. Na iminência da destruição da cultura judaica diante da dominação romana, entre os séculos II e III d.C., o rabi Judá, conhecido como “o Príncipe”, esforçou-se para compilar o conjunto das interpretações orais em um único livro de normas, pois desta forma a tradição ancestral nortearia as comunidades da diáspora. Esse conjunto de normas recebeu o nome de Michna, do hebraico “repetição”. 02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-pos-biblicos.html 3/9 Com a publicação da Michna, iniciou-se o período dos amorarim, rabinos intérpretes da norma. Por sua vez, os amorarim desenvolveram textos escritos com os comentários da Michna, a Guemara. O conjunto das normas (Michna) e das interpretações das normas (Guemara) recebeu o nome de Talmude, do hebraico “ensinamento”. Existem duas versões do Talmude: uma escrita na Palestina entre 220 e 400 d.C., conhecida como “Talmude de Jerusalém”, e outra escrita entre 200 e 650 d.C., compilada por judeus em exílio na Babilônia e conhecida como “Talmude de Babilônia”. Esta última foi mais profícua, com 8.774 páginas. Segundo Mircea Eliade (2011), O Talmude de Babilônia exerceu uma função decisiva na história do povo judeu: mostrou como o judaísmo devia adaptar-se aos diferentes meios sociopolíticos da diáspora. Já no século III, um mestre de Babilônia enunciara este princípio fundamental: a legislação do governo regular constitui a única lei legítima e deve ser respeitada pelos judeus (p. 152). 02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-pos-biblicos.html 4/9 No exílio, surgiram algumas vertentes judaicas. Judeus do Sul e do Norte da África, da Europa Central, da Península Ibérica e do Leste Asiático tinham em comum o fato de se considerarem herdeiros da tradição religiosa abraâmica, realizarem a Brit Milá e utilizarem o hebraico como língua ritual. Mas, na prática diária, tinham características etnicamente distintas. Falaremos de duas vertentes, os Ashkenazitas e Sefarditas. “Ashkenazitas” é o nome dado aos judeus oriundos do Centro e do Leste Europeu. Na tradição judaica, Ashkenaz é o termo utilizado para designar as “terras do Reno, onde atualmente se encontra a Alemanha”. Os Ashkenazitas desenvolveram um idioma especí�co denominado iídiche, uma combinação entre o hebraico, o alemão e idiomas do leste europeu. Os Ashkenazitas representam a maior parte dos judeus exterminados pelo holocausto nazista entre 1933 e 1945. Já o nome “Sefarditas” vem de Sefarad, termo hebraico para “Espanha”. Por isso, os judeus vindos do norte da África e da Península Ibérica são reconhecidos como tais. Falantes do ladino, uma fusão entre hebraico e espanhol, os Sefarditas foram os judeus expulsos da Espanha em 1492 e convertidos à força em Portugal em 1497, perseguidos pela Inquisição ibérica entre os séculos XV e XIX. O Misticismo Judaico Durante o Exílio 02/05/2023, 08:35 Judaísmo – Tempos Pós-bíblicos https://moodle.ead.unifcv.edu.br/pluginfile.php/816439/mod_resource/content/1/book/judaismo-tempos-pos-biblicos.html 5/9 A importante corrente mística da diáspora foi a Cabala. Do hebraico “tradição”, a Cabala é uma tendência mística surgida em meados do século XII no sul da França. Mircea Eliade a�rma que “a cabala contribuiu para fortalecer, direta ou indiretamente, a resistência espiritual das comunidades judaicas da dispersão” (ELIADE, 2011, p.161). Ao que se sabe, o primeiro escrito cabalista foi o Bahir, do hebraico “claro”. Datado de 1180, o texto traz as dez emanações divinas, chamadas se�rot, as quais demonstravam os atributos divinos. O mestre cabalista Abraão Abulá�a “desenvolveu uma técnica de meditação a partir do estudo aprofundado do Bahir que possibilitava ao adepto, através da ciência combinatória das letras do alfabeto hebraico, chegar à contemplação mística e à visão profética do mundo” (SILVA, 2019, p.86). Apesar de o Bahir representar o início dos estudos cabalistas, foi o livro Zohar, do hebraico “esplendor”, que in�uenciou signi�cativamente os judeus europeus da Baixa Idade Média. Escrito por Moisés de Leon, mas atribuído ao rabi Simeão do primeiro século da Era Cristã, a obra complexa descortina as obras misteriosas da divindade. A historiadora Lúcia Liba Mucznik (2009) de�ne o Zohar da seguinte forma: [...] organiza-se em torno de cinco mitos centrais: o processo cosmogônico e a elaboração inicial das dez emanações ou
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