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HAM IV - ANAMNESE E EXAME FÍSICO DO IDOSO

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1 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ No Brasil, de 1960 a 2017, a esperança de vida 
aumentou 27,9 anos, passando de 48 para 75,9 anos. A 
previsão do IBGE é de que, no ano 2030, a expectativa 
de vida ao nascer chegue a 78,6 anos. 
↠ Esse processo, caracterizado por redução nas taxas 
de natalidade e aumento da expectativa de vida, é 
conhecido como transição demográfica e resulta no 
envelhecimento populacional. 
 Deve-se acrescentar a estas mudanças demográficas os 
pacientes centenários, os quais precisam ser estudados em seus 
aspectos biológicos - anatômicos, fisiológicos, bioquímicos, imunológicos 
- e psicossociais para serem adequadamente cuidados. Tais 
conhecimentos serão necessários para interpretar os resultados de 
exames laboratoriais e de imagem, além de indispensáveis para as 
propostas terapêuticas, clínicas ou cirúrgicas. 
↠ Com o envelhecimento populacional, verifica-se a 
transição entre as principais causas de morbidade e 
mortalidade (transição nosológica), de tal modo que as 
doenças não transmissíveis e as causas externas passam 
a predominar sobre as doenças transmissíveis, pois, à 
medida que as pessoas alcançam idades avançadas, 
aumenta o risco de que elas adquiram doenças crônicas 
e desenvolvam incapacidades, acarretando importante 
sobrecarga ao sistema de saúde. A esse fenômeno deu-
se o nome de transição epidemiológica. 
Processo de envelhecimento e conceito de idoso 
↠ Envelhecimento: É um termo aparentemente simples, 
que, a princípio, dispensa definição, uma vez que mesmo 
uma criança é capaz de diferenciar um jovem de um 
velho, ou até um velho saudável de outro frágil e doente. 
Em contrapartida, conceituar envelhecimento não é 
tarefa simples. É necessário incluir não apenas os 
aspectos biológicos, mas também os sociais, os 
psicológicos e os culturais. 
Do ponto de vista biológico, conceitua-se o envelhecimento como um 
processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações 
morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam 
perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, 
ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos 
patológicos que terminam por levá-lo à morte. 
Ninguém envelhece igual a outro da mesma espécie, mesmo que os 
seus genótipos sejam praticamente idênticos, como os gêmeos 
monozigóticos. 
↠ Idoso: É impossível estabelecer o momento exato em 
que um indivíduo se torna idoso. Na verdade, o processo 
de envelhecimento faz parte de um contínuo que se inicia 
com a concepção e só termina com a morte. 
 
↠ Como é necessário estabelecer limites cronológicos 
para estudos e planejamentos administrativos, a 
Organização das Nações Unidas (ONU) e também a 
Organização Mundial da Saúde (OMS), com base em 
fatores socioeconômicos, consideram idoso todo indivíduo 
com 60 anos ou mais. 
 No Brasil, do ponto de vista legal, idoso é toda pessoa maior de 
60 anos de idade (Lei n. 8.842, de janeiro de 1994, e Lei no 10.741, de 
outubro de 2003). 
↠ Existem enormes variações individuais, pois o processo 
de envelhecimento é muito heterogêneo e guarda pouca 
relação com a idade cronológica, sofrendo influência não 
só da passagem do tempo como também do estilo de 
vida e de fatores socioculturais, além dos fatores 
genéticos, que podem ser decisivos no processo de 
envelhecimento. 
Tanto a ONU como a OMS adotam os seguintes limites cronológicos: 
• Idosos em países de renda média ou baixa: 60 anos ou 
mais 
• Idosos em países de renda alta: 65 anos ou mais 
• Muito idosos: 80 anos ou mais. 
Modificações anatômicas e funcionais no processo de 
envelhecimento 
↠ Para realizar o exame clínico do paciente idoso, deve-
se ter em mente alguns conceitos relacionados com as 
características anatômicas e fisiológicas do processo de 
envelhecimento. 
Uma das principais preocupações sempre foi distinguir quais seriam as 
modificações estruturais e funcionais provocadas exclusivamente pelo 
processo do envelhecimento (senescência) daquelas causadas pelas 
doenças que podem acometer o idoso (senilidade). Na maioria das 
vezes, essa tarefa é impossível, pois há estreita relação entre esses 
dois fenômenos, o fisiológico e o patológico. 
Desse modo, o processo de envelhecimento modifica e é modificado 
pelas doenças. 
MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS 
↠ Dentre as modificações gerais ocasionadas pelo 
envelhecimento destacam-se as alterações da 
constituição corporal: 
• Diminuição da massa óssea; 
• Diminuição da massa muscular (sarcopenia); 
• Redução da água intracelular; 
• Aumento com redistribuição da gordura corporal, que se 
acumula nos omentos, lóbulos das orelhas, regiões 
paracardíaca e perirrenais; 
• Diminuição do tecido celular subcutâneo dos membros e 
aumento no tronco; 
HAM IV – SEMIOLOGIA DO IDOSO 
2 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
• Aumento dos diâmetros da caixa torácica e do crânio; 
• Diminuição da estatura em cerca de 1 cm por década a 
partir dos 40 anos, em decorrência da acentuação das 
curvaturas da coluna vertebral e do achatamento dos arcos 
dos pés e dos discos intervertebrais. 
 
↠ A taxa de metabolismo basal diminui cerca de 10 a 20% 
no idoso, o que reduz suas necessidades calóricas. Essas 
modificações devem ser valorizadas principalmente 
quando se avalia a perda de peso nos pacientes idosos. 
↠ Os pacientes idosos apresentam modificações no 
sistema de regulação da temperatura corporal que são 
responsáveis tanto pela frequente inexistência de febre 
ou pela febre mitigada, quando acometidos por doenças 
infecciosas, como também pelo maior risco de 
apresentarem hipotermia ou hipertermia em situações de 
frio ou calor extremo. 
 Para se prescreverem corretamente medicamentos é 
necessário conhecer as particularidades do metabolismo das pessoas 
idosas. Assim, substâncias lipossolúveis terão seu volume de 
distribuição aumentado, o que, associado a alterações renais, 
ocasionará aumento de sua meia-vida. Os medicamentos 
hidrossolúveis, por sua vez, terão volume reduzido com consequente 
aumento da concentração plasmática desses fármacos. Além disso, a 
albumina sérica pode diminuir em até 0,9 g/dℓ nos indivíduos idosos 
quando comparados a um jovem, o que deve ser levado em conta na 
prescrição de fármacos que se ligam às proteínas plasmáticas, os quais 
terão maior porcentagem de substância livre para exercer sua 
atividade. 
↠ A imunidade celular declina, e ocorrem alterações da 
imunidade humoral, com aumento na prevalência de 
neoplasias e infecções e redução da resposta vacinal. 
Paradoxalmente, há maior predisposição à formação de 
autoanticorpos, processo conhecido como 
imunossenescência. 
PELE, TELA SUBCUTÂNEA E FÂNEROS 
 Pode-se afirmar que é praticamente impossível determinar quais 
modificações da pele seriam provocadas exclusivamente pelo 
envelhecimento, sem a influência de fatores externos ao organismo, 
pois a pele é o órgão de contato do corpo com o ambiente. 
↠ Maior exposição aos raios solares antecipa e intensifica 
o envelhecimento da pele, por meio de um processo 
conhecido como fotoenvelhecimento, com diminuição da 
espessura e da elasticidade da epiderme e derme, em 
decorrência de alterações do colágeno e diminuição das 
fibras elásticas, de tal modo que, muitas vezes, a rede 
vascular torna-se mais visível. 
↠ Somadas à redução da espessura do tecido 
subcutâneo, principalmente da face e membros, essas 
alterações ocasionam as rugas. 
↠ A pele torna-se flácida, formando grandes pregas nos 
braços, coxas e abdome. Em contrapartida, em algumas 
áreas, é comum ocorrer aumento da espessura da pele 
com acentuação do seu quadriculado normal, alteração 
comum na nuca, denominada cútis romboidal. 
 
↠ Em razão da redução da quantidade e da atividade das 
glândulas sudoríparas e sebáceas, a pele torna-se rugosa 
e seca. 
 
↠ Os melanócitos diminuem em número e sofrem 
alterações funcionais, acarretando o aparecimentode 
manchas hipercrômicas, planas e lisas, principalmente na 
face e no dorso das mãos. Essas lesões, conhecidas como 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
melanose senil, não oferecem riscos; são apenas uma 
questão estética. 
 Nos homens‚ à exceção dos pelos do nariz, sobrancelhas e 
orelhas, os pelos do corpo diminuem. 
↠ Nas mulheres, em decorrência da deficiência de 
estrogênios, há aumento da quantidade e da espessura 
dos pelos do lábio superior e do mento e diminuição dos 
pelos das axilas, pernas e púbis. 
↠ Com o passar dos anos, a medula dos cabelos se 
enche de ar e o córtex perde o pigmento. Ocorre, então, 
a canície, que é o embranquecimento dos cabelos. 
Dependendo dos hormônios sexuais e da hereditariedade, 
a quantidade de bulbos capilares diminui no crânio, dando 
início à calvície. 
Sistemas osteoarticular e muscular 
↠ Nos homens, a partir dos 60 anos, e nas mulheres, 
imediatamente após a menopausa, começa a perda de 
tecido ósseo, com diminuição da espessura do osso 
compacto e redução das lâminas do osso trabecular. 
Observa-se anquilose das articulações costocondrais, fazendo com que 
a caixa torácica perca sua elasticidade e mobilidade. A espessura dos 
discos intervertebrais também diminui; com isso, acentuam-se as 
curvaturas da coluna vertebral, principalmente a torácica. As cartilagens 
articulares tornam-se mais delgadas e sofrem rachaduras superficiais. 
↠ Uma das mais importantes alterações que 
acompanham o processo do envelhecimento é a perda 
de 1 a 2% da massa muscular ao ano após a sexta década 
de vida. 
↠ À diminuição da massa e da força muscular, processo 
associado ao envelhecimento normal, mas cuja velocidade 
e intensidade dependem do estilo de vida, convencionou-
se chamar de sarcopenia. 
 
 A sarcopenia difere da atrofia muscular pelo desuso porque nela 
não ocorre somente redução da massa (tamanho das fibras) mas 
também do número de fibras musculares, principalmente as de 
contração rápida, resultando em diminuição progressiva da força 
muscular com a idade. 
Sistema nervoso 
↠ A velocidade de condução nervosa também diminui e, 
com isso, há atenuação dos reflexos tendinosos 
profundos, principalmente os patelares e os aquileus. 
↠ Os idosos apresentam redução do tempo total de 
sono em decorrência da diminuição da duração e da 
frequência da fase 4 do sono não REM (sono profundo); 
consequentemente, aumentam-se os despertares 
noturnos. 
ENVELHECIMENTO CEREBRAL 
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS, 
HISTOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS 
ALTERAÇÕES FUNCIONAIS 
Diminuição do peso e volumes 
cerebrais; 
Dificuldades de atenção, 
especialmente quando é 
necessário fazer várias tarefas; 
Diminuição do córtex e do 
número de neurônios; 
Diminuição da capacidade de 
recordar novas informações, 
principalmente visuais. 
Redução de 
neurotransmissores, 
principalmente acetilcolina e 
dopamina; 
Pequeno declínio de certas 
habilidades cognitivas em 
muitos, mas não em todos. 
Microangiopatia nos exames de 
imagem cerebral. 
 
 
ÓRGÃOS DOS SENTIDOS 
↠ Os pavilhões auriculares aumentam com a idade, 
principalmente os lóbulos, pelo acúmulo de gordura. 
↠ A audição diminui com a idade, principalmente para 
sons agudos, o que caracteriza a presbiacusia. 
↠ Observam-se, com frequência, hiperpigmentação e 
edema das pálpebras inferiores. As superiores podem 
perder músculo, causando ptose palpebral. Na maioria dos 
idosos, ocorre opacificação do cristalino, o que ocasiona a 
catarata, que causa importante dano à qualidade de vida 
dos idosos, pois pode levar à cegueira. 
↠ Os receptores olfatórios diminuem e as papilas 
gustatórias atrofiam-se, ocasionando diminuição do olfato 
e do paladar, principalmente para alimentos salgados. 
Sistema cardiovascular 
↠ Em decorrência do aumento do colágeno, diminuição 
das fibras elásticas e depósitos de cálcio, as artérias, 
principalmente a aorta, as coronárias, as carótidas e as 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
renais, tornam-se enrijecidas e tortuosas. A aorta dilata-se 
na sua porção proximal. 
Ao contrário do que ocorre em outros órgãos, o peso do coração 
aumenta com a idade. No miocárdio, observa-se acúmulo de gordura 
nos átrios e no septo interventricular, além de fibrose, aumento do 
colágeno e diminuição da complacência do ventrículo esquerdo, o que 
predispõe à insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. 
O pericárdio e o endocárdio encontram-se espessados e as valvas, 
principalmente, a aórtica e a mitral, sofrem degeneração com 
espessamento, fibrose e calcificação. Essas alterações geralmente não 
causam estenose ou insuficiência valvar, mas podem atingir o feixe de 
His. Há acentuada redução da quantidade de células do nó sinusal e, 
ocasionalmente, do nó atrioventricular. A degeneração do sistema de 
condução predispõe ao aparecimento de arritmias, principalmente a 
doença do nó sinusal. 
Em repouso, o idoso não apresenta redução importante do débito 
cardíaco, mas, em situações de maior demanda, tanto fisiológicas 
(esforço físico) como patológicas (isquemia miocárdica), os 
mecanismos para a sua manutenção falham e ele pode apresentar 
sinais de isquemia dos órgãos. Paralelamente, ocorre aumento da 
resistência periférica e da pressão sistólica. A maior prevalência de 
hipertensão sistólica isolada está associada a um risco aumentado para 
doenças cerebrovasculares. 
SISTEMA RESPIRATÓRIO 
↠ Observam-se enrijecimento e calcificação das 
cartilagens traqueais e brônquicas. Os bronquíolos perdem 
a elasticidade por substituição da musculatura lisa por 
colágeno. No entanto, a elasticidade pulmonar diminui 
provavelmente por modificações na composição dessas 
fibras e das fibras conjuntivas. 
↠ A diminuição da elasticidade e da complacência 
pulmonar e a dilatação alveolar ocasionam o aumento do 
volume residual (VR); como a capacidade pulmonar total 
(CPT) não sofre modificações com a idade, a capacidade 
vital (CV) diminui com o aumento do VR. Como 
consequência, a relação ventilação/perfusão altera-se, e a 
pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2) diminui. A 
pressão parcial de dióxido de carbono (PaCO2) não se 
altera com a idade. 
 Os mecanismos de limpeza brônquica, assim como a velocidade 
dos batimentos ciliares, a produção de muco e a eficácia da tosse, 
também sofrem alterações com a idade, aumentando o risco de 
infecções. 
SISTEMA DIGESTÓRIO 
↠ Com o envelhecimento, observa-se perda de dentes, 
geralmente agravada pela má higiene e pela doença 
periodontal. 
↠ A mucosa oral perde a elasticidade e a resistência, 
tornando-se mais vulnerável aos traumas e às infecções, 
principalmente à candidíase. 
↠ É comum a queixa de glossodinia, ou queimor na 
língua, sem que se encontrem alterações que justifiquem 
esse sintoma. 
Ocorre diminuição das células secretoras das glândulas digestivas 
(salivares, mucosa gástrica, pâncreas). 
A túnica muscular de todo o tubo digestivo também se atrofia por 
substituição das fibras musculares por colágeno, e isso compromete 
a motilidade. 
O enfraquecimento da parede do intestino grosso facilita a formação 
de divertículos. O epitélio escamoso da parte distal do esôfago é 
gradualmente substituído por epitélio colunar, provavelmente como 
consequência da agressão repetida do suco gástrico refluído. 
↠ O peso do fígado e o número de hepatócitos 
diminuem. O volume da secreção biliar diminui e a vesícula 
tem tendência à discinesia. Em geral, essas alterações não 
comprometem a absorção de nutrientes, mas podem 
alterar a farmacocinética dos medicamentos e predispor 
os idosos aos seus efeitos adversos. 
SISTEMA URINÁRIO 
↠ O processo de envelhecimento provoca redução do 
tamanho e do peso dos rins. A perda da massa renal é 
principalmente cortical e está relacionada com as 
modificações vasculares. Observam-se espessamento da 
cápsula renal e depósito de tecido adiposo perirrenal. As 
musculaturas vesical e uretralatrofiam-se, diminuindo a 
capacidade vesical e a elasticidade uretral. 
↠ A partir da quarta década de vida, o fluxo plasmático 
renal e a filtração glomerular sofrem redução de 
aproximadamente 10% por década, o que resulta na 
redução da depuração (clearance) da creatinina de 8 a 10 
mλ/min/1,73 m2 por década. Contudo, essa redução, 
isoladamente, não causa insuficiência renal, mas, nas 
situações de maior demanda, o idoso facilmente entra em 
falência renal. 
A creatinina sérica mantém-se dentro da normalidade, pois ela é 
produzida pelos músculos, e eles diminuem com o envelhecimento. As 
alterações tubulares renais somadas à diminuição da síntese de 
aldosterona e ao aumento do hormônio antidiurético são responsáveis 
pela diminuição da capacidade de concentração e diluição da urina 
observada nos idosos em condições de restrição e sobrecarga 
hídricas, aumentando as chances de hiponatremia, hipernatremia e 
desidratação. 
 
5 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ A complacência da bexiga diminui e, 
consequentemente, observa-se aumento do volume 
residual pós-miccional, o que é agravado pela hipertrofia 
prostática, comum em homens idosos. 
SISTEMA ENDÓCRINO 
↠ Com o aumento da idade, a tireoide, a hipófise, as 
paratireoides e as suprarrenais apresentam atrofia, 
substituição do tecido glandular por tecido fibroso e 
depósito de gordura. 
Ocorre também tendência à formação de nódulos, principalmente na 
tireoide. 
A glândula pineal involui e calcifica-se, e a secreção de melatonina 
diminui com a idade. 
↠ Observam-se, também, resistência à insulina e 
diminuição da tolerância à glicose, o que dificulta o 
diagnóstico de diabetes nas faixas etárias mais elevadas. 
↠ A secreção do hormônio do crescimento sofre 
alterações importantes durante todo o ciclo de vida. Em 
idosos saudáveis, ela reduz cerca de 50%, com 
diminuição tanto de suas concentrações basais como na 
resposta a estímulos. Essa redução com o 
envelhecimento seria um dos fatores responsáveis pelas 
mudanças da constituição corporal, com aumento da 
gordura e redução da massa magra tecidual. 
Sistema genital feminino 
↠ Os órgãos genitais femininos, principalmente os 
ovários, atrofiam-se, e as mulheres tornam-se estéreis 
após a menopausa, fato que ocorre geralmente a partir 
dos 50 anos. 
↠ As mamas tornam-se flácidas e pendentes, e o tecido 
glandular é substituído por tecido fibroso. 
↠ A vagina diminui em comprimento e largura, a sua 
mucosa atrofia-se e torna-se ressecada. O útero perde 
peso, e os ligamentos que o mantêm em posição 
afrouxam-se, favorecendo a ptose do órgão. 
Sistema genital masculino 
↠ Observa-se diminuição dos testículos, das vesículas 
seminais e das dimensões do pênis, que perde sua 
elasticidade. 
↠ O volume prostático aumenta na grande maioria dos 
homens idosos, mas as suas glândulas atrofiam-se. 
↠ A capacidade reprodutiva diminui com a idade, mas, 
geralmente, o homem idoso não é estéril. 
Exame Clínico 
↠ Não se pode desconhecer, contudo, algumas 
singularidades próprias dessa faixa etária, decorrentes da 
interação do processo fisiológico do envelhecimento, as 
doenças e as condições socioculturais do paciente. 
PRINCÍPIOS BÁSICOS 
↠ Ao examinar um paciente idoso, o médico precisa ter 
em mente os seguintes princípios: 
• A idade cronológica guarda pouca relação com as 
condições clínicas e com o prognóstico do paciente. 
• Quanto maior é a idade, maior é o risco de fragilidade e 
incapacidade. Contudo, existe uma enorme variabilidade 
entre os idosos. Indivíduos em idades muito avançadas 
podem estar em melhores condições que idosos mais 
jovens. 
• Existem muitos estereótipos e preconceitos em relação à 
velhice, chamados no inglês de ageism (sem tradução para 
o português), tais como o de que os idosos são 
poliqueixosos, pessimistas, ranzinzas e pouco comunicativos. 
Na verdade, esses comportamentos são consequência de 
uma doença de base, orgânica ou psíquica, e não do 
processo de envelhecimento. 
• Muitos idosos têm seus próprios preconceitos em relação 
à sua idade, como o de que seus sintomas são sempre 
consequência do envelhecimento e não têm tratamento, 
não havendo, portanto, razão para procurar o médico. 
• Envelhecer não é tornar-se criança novamente. A 
tendência de infantilizar o idoso causa graves prejuízos na 
relação médico-paciente. O idoso deve ser sempre tratado 
como um indivíduo capaz e dono de suas vontades. O 
tratamento correto é “senhor” e “senhora”, e não “vô(ó)”, 
“vozinho(a)”, “tio(a)”. O diminutivo ‘velhinho(a)”, mesmo que 
usado para demonstrar carinho, deve ser sempre evitado. 
• Quase sempre o médico é muito mais jovem do que seu 
paciente, e isso pode dificultar o estabelecimento de uma 
relação de confiança entre os dois. Uma postura digna e 
um tratamento respeitoso por parte do médico, desde o 
início, evitam esse problema. 
• Os idosos de hoje nasceram em meados do século XX. O 
médico deve estar sempre ciente de que os valores em 
que eles foram educados são muito diferentes dos de hoje. 
• As mudanças sociais e tecnológicas aconteceram com 
tanta rapidez que muitos idosos estão tendo dificuldades 
para se adaptar. É preciso pensar nisso antes de chamá-
los de reacionários, retrógrados e tentar mudá-los. O 
médico deve respeitar as opiniões dos seus pacientes, por 
mais que sejam contrárias às suas. 
• O processo de envelhecimento caracteriza-se por perda 
progressiva da reserva funcional e, em consequência, o 
idoso é mais propenso a ter múltiplas doenças crônicas. 
• Na maioria das vezes, os sintomas apresentados pelo 
paciente idoso não são explicados por uma única doença. 
A possibilidade de diagnósticos múltiplos é maior nesse 
6 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
grupo etário e as manifestações clínicas podem confundir 
o examinador. 
• Queixas múltiplas e mal caracterizadas são frequentes 
nesses pacientes; deixar de levar qualquer uma delas em 
consideração pode induzir a erros graves, com sérias 
consequências. 
• No momento de apresentar o plano terapêutico, o médico 
deve incluir um familiar ou o cuidador (pessoa que presta 
auxílio à outra em suas atividades da vida diária, que pode 
ser um familiar, amigo ou alguém contratado para essa 
finalidade) na discussão, mas a vontade do paciente deve 
ser soberana. 
ANAMNESE 
↠ A anamnese é e sempre será a base para o cuidado 
dos pacientes, principalmente do idoso. Algumas vezes, a 
entrevista por si só pode ser terapêutica. 
DIFICULDADES DA ANAMNESE DE PACIENTES IDOSOS 
O paciente informa pouco 
sobre sua doença 
A doença é considerada uma 
consequência natural do 
processo de envelhecimento; 
O paciente nega que esteja 
doente; 
Doenças com apresentação 
atípica 
Limiar aumentado para dor faz 
parte do processo de 
envelhecimento. 
Apresentação inespecífica das 
doenças agudas 
Infecções, insuficiência cardíaca 
manifestando-se somente com 
confusão mental ou queda. 
Barreiras de comunicação Desconforto, problemas de 
linguagem. 
História extensa e queixas mal 
caracterizadas 
Múltiplas doenças interagindo 
entre si. 
 
↠ Em primeiro lugar, é preciso assegurar-se da 
confiabilidade dos dados fornecidos pelo paciente. Muitos 
idosos são portadores de doenças que comprometem a memória e 
causam distúrbios de comportamento. Os pacientes com distúrbios 
mentais graves são facilmente reconhecidos e deve-se requisitar a 
ajuda do familiar ou cuidador para completar as informações. O 
problema reside nos casos mais leves, os quais 
geralmente não são reconhecidos de imediato pelo 
médico. 
↠ Os pacientes idosos geralmente costumam apresentar 
de múltiplas afecções crônicas e tendem a apresentá-las 
de maneira atípica. Portanto, o princípio de iniciar a 
anamnese com uma queixa principal pode não ser de 
grande valia nesses pacientes. É comum o paciente dizer 
que tem tantos problemas que não sabe por onde 
começar. Peça a ele que relate aquilo que maiso 
incomoda. 
↠ Muitas vezes, a queixa principal já é um diagnóstico 
(exemplos: depressão, reumatismo), por isso é bem mais 
fácil compreender as condições do paciente começando 
por elucidar a história médica pregressa imediatamente 
após perguntar a queixa principal e antes de obter 
informações mais precisas sobre ela. 
Em muitas situações, a queixa principal do paciente difere totalmente 
daquela informada pelos familiares. Na verdade, o que incomoda o idoso 
pode não ser exatamente o mesmo problema que preocupa os seus 
familiares ou cuidadores. Nesse caso, é importante valorizar as duas 
informações, mesmo quando o paciente for portador de distúrbio 
cognitivo, não sendo, portanto, capaz de compreender o que se passa. 
Mesmo que a família insista ser o seu maior problema com o paciente 
idoso a confusão mental, a queixa de dor abdominal do paciente 
também deve ser valorizada. 
TESTE DA SACOLA DE REMÉDIOS 
Os medicamentos que estão sendo usados e aqueles que foram 
utilizados recentemente pelo paciente merecem atenção especial. Os 
pacientes devem ser encorajados a levar os medicamentos ou, pelo 
menos, uma lista por escrito. Deve-se perguntar insistentemente sobre 
automedicação. 
 
ASPECTOS ESPECIAIS DO INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO 
DO PACIENTE IDOSO 
Diminuição da memória 
Queixa frequente entre as pessoas idosas, muitas vezes 
erroneamente atribuída ao processo de envelhecimento, 
embora o normal seja envelhecer lúcido. 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 
Pode existir uma diminuição da memória para fatos recentes e 
da memória visual, mas nunca de intensidade suficiente para 
perturbar as atividades do paciente e sua relação com os 
familiares. Quando isso ocorre, a queixa precisa ser valorizada e 
bem avaliada. As causas vão desde problemas potencialmente 
reversíveis, como hipotireoidismo e deficiência de algumas 
vitaminas, até doenças neurodegenerativas, como a doença de 
Alzheimer, que irá levar o paciente a uma situação de extrema 
dependência, sobrecarregando os seus familiares. 
Distúrbios de comportamento e deambulação compulsiva 
Em consequência das modificações cerebrais e da redução dos 
neurotransmissores que ocorrem com o envelhecimento, o 
idoso é propenso a apresentar distúrbios de comportamento, 
mesmo que não haja doenças neuropsiquiátricas. Alucinações 
e delírios, assim como agitação psicomotora, podem ocorrer 
em qualquer paciente idoso na vigência de um problema agudo, 
como infecções, arritmias cardíacas e efeitos adversos de 
medicamentos e isso chama-se delirium. 
A deambulação compulsiva ou perambulação é um sintoma 
relativamente comum nas demências, principalmente na 
doença de Alzheimer, mas pode ser decorrente de efeito de 
medicamentos, principalmente os antipsicóticos. Nesse caso, 
configura acatisia, palavra derivada do grego que significa 
impossibilidade de permanecer sentado. 
Tonturas, alterações da marcha e quedas 
Nem sempre a tontura (ou tonteira) relatada pelo idoso é 
vertigem, e o paciente pode estar referindo-se a um quadro 
de lipotimia, síncope, convulsão, alteração do equilíbrio ou outro 
mal-estar mal definido. 
Esses sintomas podem ser causados por doenças neurológicas, 
cardiovasculares e distúrbios metabólicos, como a 
descompensação diabética. No entanto, a tendência é sempre 
os atribuir a uma “labirintite” e iniciar a medicação sem fazer 
uma investigação clínica criteriosa. Isso pode ser muito deletério, 
não só porque se deixa de diagnosticar problemas graves, 
como também porque algumas medicações usadas para tratar 
a suposta labirintite podem provocar efeitos adversos 
importantes nos idosos, tais como instabilidade postural e 
quedas, depressão e parkinsonismo. 
Perdas sensoriais 
 A surdez é um importante problema entre os idosos, 
estimando-se que 50% dos pacientes com 80 anos ou mais 
tenham audição diminuída. 
A causa mais comum é a presbiacusia, na qual a perda da 
audição para sons agudos é maior. 
Outras causas são representadas por infecções, cerume e 
doenças neurológicas. Quando evolui para graus avançados, 
pode se tornar extremamente incapacitante, contribuindo para 
o isolamento, maior risco de quedas, depressão e deficiências 
cognitivas. 
A perda visual deve ser sempre inquirida, pois muitos pacientes 
idosos, por não exercerem atividades que necessitem de 
acuidade visual apurada, não valorizam a perda, e o diagnóstico 
de uma doença que pode causar cegueira será tardio. É 
importante lembrar da catarata, da degeneração macular senil, 
da retinopatia diabética e do glaucoma, que é insidioso e pode 
ser agravado por alguns medicamentos. 
Condições dos dentes e da boca 
 Perguntar sobre os dentes e as condições de mastigação é 
muito importante, pois muitas vezes a desnutrição de um 
paciente idoso pode ser corrigida após uma avaliação 
odontológica e a correção de eventuais problemas. 
Perda de peso 
O ser humano ganha peso dos 25 até por volta dos 60 anos; 
depois disso, o peso corporal tende a reduzir-se por perda de 
massa óssea e muscular. Sabendo que, normalmente, ocorre 
perda de peso com o envelhecimento, a maior dificuldade do 
médico é como valorizar essa queixa. 
No geral, deve-se ficar atento para emagrecimento acentuado 
em curto período. 
O idoso pode perder peso em consequência das mesmas 
doenças que acometem os jovens (tuberculose, AIDS, 
neoplasias malignas, hipertireoidismo, diabetes, doenças 
gastrintestinais). 
Modificações do sono 
A insônia e a sonolência são queixas comuns entre os idosos 
e, frequentemente, são causa de iatrogenia, pois, muitas vezes, 
sem avaliação adequada, esses pacientes são medicados com 
hipnóticos que podem causar desde alterações leves da 
memória até estados confusionais. 
O uso desses medicamentos é um dos principais fatores que 
contribuem para quedas nos idosos. 
O padrão do sono torna-se um pouco desorganizado, com 
vários despertares; o sono noturno sofre um encurtamento, 
enquanto aumentam os períodos de sonolência diurna. Ao lado 
dessas alterações fisiológicas existem problemas sociais e 
orgânicos, que aumentam a prevalência de insônia na velhice. 
A ansiedade e a depressão são causas importantes de insônia. 
Não se deve esquecer de situações que levam ao despertar 
noturno, tais como dispneia, nictúria, dor, hipoglicemia e a 
síndrome da apneia do sono. 
 
 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Fadiga 
É uma queixa comum no idoso e, tal como nos pacientes 
jovens, pode ser um sintoma de doença orgânica ou psíquica. 
A depressão é uma das causas mais comuns de fadiga nessa 
faixa etária e pode ser sua única manifestação. Não é raro que 
a fadiga seja considerada algo normal nesses pacientes. 
Incontinência urinária e/ou fecal 
São problemas complexos, muito comuns nos idosos, 
extremamente incapacitantes e geralmente de causa 
multifatorial. Sua avaliação demanda tempo e seu tratamento é 
complicado, além do que, não raro, são considerados como um 
fenômeno normal do envelhecimento. 
Na avaliação da mulher idosa com incontinência urinária, deve-
se sempre ter em mente a possibilidade de incontinência de 
esforço por frouxidão da musculatura pélvica e, no homem 
idoso, a incontinência por transbordamento na hipertrofia 
prostática. 
Há ainda as causas transitórias de incontinência, mais comuns 
nos idosos por terem uma reserva funcional vesical e uretral 
menor, como as infecções, uretrite atrófica (deficiência 
estrogênica da mulher idosa), estados confusionais, 
medicamentos, imobilidade e impactação fecal (fecaloma). Daí a 
necessidade de indagar sobre esses problemas na anamnese 
do paciente idoso incontinente. 
A incontinência fecal é menos prevalente e geralmente 
acompanha a urinária. Deve ser sempre pesquisada, pois, se os 
pacientes tendem a esconder a incontinência urinária, quanto 
mais a fecal. 
Sexualidade 
Sexualidade é a maneira como uma pessoa vivencia e expressa 
o seu sexo e, frequentemente,é confundida com a relação 
sexual, que, por sua vez, não está restrita ao ato da penetração, 
mas engloba também a troca de sons, cheiros, olhares, toques 
e carícias. 
Pode-se dizer que existe o mito da velhice assexuada, 
principalmente na família. Os filhos e os netos são os primeiros 
a negar a sexualidade dos pais e/ou dos avós. Não raro, 
interpretam o seu interesse sexual como um desvio ou sinal de 
demência. 
A sexualidade deve ser abordada de maneira franca e 
respeitosa na anamnese do paciente idoso. Problemas que eles 
não revelam espontaneamente podem ser importantes para o 
diagnóstico de diversas enfermidades, como a diminuição da 
libido na depressão, a dispareunia na deficiência estrogênica e 
a disfunção erétil no diabetes. 
 
 
Ansiedade e/ou depressão 
A depressão e a ansiedade são os problemas psiquiátricos mais 
comuns em idosos e, geralmente, apresentam-se de maneira 
atípica, com deficiência de memória e distúrbios da percepção, 
incluindo alucinações e delírios. 
Febre 
Cumpre lembrar que os idosos podem apresentar infecções 
sem resposta febril. Com mais frequência, apresentam 
confusão mental, delírios e alucinações quando têm elevação 
da temperatura. 
Dor 
Com o envelhecimento, o limiar de dor aumenta e, 
consequentemente, os pacientes idosos podem apresentar 
problemas graves de saúde sem que a dor seja um sinal de 
alarme. Exemplos clássicos são os infartos e as doenças 
abdominais agudas que evoluem sem dor nesses pacientes. 
Paradoxalmente, quando têm dor, os idosos podem apresentar 
um nível de tolerância menor e uma reação bem mais 
acentuada. Muitas vezes, as manifestações dolorosas são 
atípicas e mal localizadas (p. ex., infarto com dor abdominal ou 
no dorso é mais frequente nessa faixa etária). 
Queixas relacionadas com as mudanças no ciclo da vida 
Não é raro os idosos procurarem assistência médica por 
apresentarem queixas relacionadas com vários eventos vitais, 
ou serem levados por seus familiares por temerem que esses 
eventos sejam a causa ou agravante de doenças. 
Os eventos e as mudanças no ciclo de vida que comumente 
podem afetar a saúde e a capacidade funcional dos idosos são 
menopausa, aposentadoria, doença e morte do cônjuge e/ou 
de filhos, diagnóstico de uma doença incapacitante ou terminal 
e síndrome do “ninho vazio”, ou seja, a saída dos filhos da casa 
dos pais. Como é o caso da depressão desencadeada pelo luto 
ou do etilismo desencadeado pela incapacidade para preencher 
o tempo livre após a aposentadoria. 
Uma situação especial é a do paciente portador de uma doença 
sem perspectiva de cura e ameaçadora de sua vida, que pode 
acontecer em qualquer faixa etária, mas é mais comum na 
velhice. Atualmente, só em situações muito especiais um 
paciente adulto não é informado sobre o seu diagnóstico e 
sobre o seu prognóstico, por mais grave que ele seja. Esse 
paciente passa por estágios de negação, raiva, barganha e 
introspecção, até a fase final de aceitação. Durante todas essas 
fases, o paciente tem medo, desespero, angústia, depressão. 
Lidar com essa situação talvez seja um dos maiores desafios 
da “arte de cuidar”. Esses pacientes sem perspectivas de cura 
não podem ter o tratamento de seus sintomas esquecidos ou 
negligenciados. 
 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
ANTECEDENTES E HÁBITOS DE VIDA 
↠ No que se refere aos antecedentes pessoais do 
paciente, pode não ter utilidade saber as condições de 
nascimento e doenças da infância, mas a história de 
tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis e 
intervenções cirúrgicas é de extrema importância. Nas 
mulheres, a época da menarca não é tão relevante 
quanto a época e as condições da menopausa. 
↠ O número de filhos e a história de morte de algum 
deles devem ser sempre indagados, mesmo para os 
homens. O luto pela perda de um filho pode ter grandes 
implicações no estado de saúde de um idoso. 
↠ A história familiar pode ser também uma oportunidade 
para explorar as experiências, expectativas e atitudes do 
paciente com relação às doenças e à morte. Por exemplo, 
ele pode dizer “eu tenho medo de ficar ‘esclerosado’ como a minha 
mãe” ou “eu não gostaria de terminar a minha vida em um asilo como 
o meu pai”. 
↠ As condições e os hábitos de vida são muito 
importantes e incluem partes da Avaliação Geriátrica 
Ampla. Devem-se investigar minuciosamente os hábitos 
alimentares, as condições de trabalho, a prática de 
atividade física e os vícios, principalmente o consumo de 
bebidas alcoólicas, que tende a ser ocultado pelo paciente. 
Outra condição esquecida é o consumo de drogas ilícitas, 
pois é comum acreditar que nessa faixa etária isso não 
acontece. 
CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS 
↠ O tipo de habitação, a existência de escadas, a 
localização dos banheiros são informações importantes, 
principalmente nos casos de quedas. 
↠ Saber se o paciente reside sozinho ou com familiares, 
conhecer suas condições financeiras e quem administra 
as finanças é necessário para o planejamento terapêutico. 
 A informação sobre a saúde daqueles que dão apoio aos idosos, 
principalmente aos dependentes, é essencial. Não é raro descobrir que 
as pessoas que cuidam de familiares idosos frequentemente não os 
deixam sozinhos e se dedicam integralmente ao seu cuidado. Isso pode 
levar a exaustão, depressão, maus-tratos e internação precoce em 
asilos. 
EXAME FÍSICO 
↠ O exame físico do idoso deve ser completo e 
minucioso. Contudo, muitas vezes as condições clínicas e 
a fragilidade do paciente dificultam sua realização e 
demandam maior paciência e disposição por parte do 
médico. 
 O exame físico começa a ser realizado no momento em que o 
paciente entra no consultório, ou o médico entra no ambiente onde 
ele está (consultório, hospital, domicílio, asilo). 
↠ Observam-se postura, fácies, deambulação, gestos, 
modo de sentar e levantar, como ele se despe e 
acomoda-se na mesa para exame. Muitas vezes, o 
médico ou o(s) acompanhante(s), ao perceberem as 
dificuldades do paciente, apressam-se em ajudá-lo. O 
médico deve conter o seu ímpeto e simplesmente 
observar, pois o seu objetivo é estabelecer um 
diagnóstico preciso dessas dificuldades para poder 
amenizá-las. No entanto, deve manter-se próximo e 
vigilante, já que as quedas também podem ocorrer 
dentro de um hospital ou de um consultório. 
É importante que o examinador se lembre de elevar a cabeceira da 
mesa de exame, pois são frequentes, nessa faixa etária, afecções que 
causam dispneia de decúbito. É necessário dispor de um pequeno 
travesseiro, porque muitos são portadores de artrose cervical ou de 
doença de Parkinson, que causam rigidez e dificultam o apoio da 
cabeça no mesmo plano do dorso. 
Postura e marcha 
 Algumas alterações na postura podem ser consideradas típicas 
da velhice, mas variam a época e a velocidade em que essas 
modificações irão ocorrer e até que ponto elas serão influenciadas por 
enfermidades, medicamentos e sequelas de doenças. 
↠ Devemos lembrar que, com o avançar da idade, a 
cabeça desloca-se para frente e ocorre diminuição da 
lordose lombar normal. 
 
↠ Com o envelhecimento, a marcha pode modificar-se, 
mesmo que não haja qualquer doença. A marcha senil 
caracteriza-se por aumento da flexão dos cotovelos, 
cintura e quadril. Diminui também o balanço dos braços, o 
levantamento dos pés e o comprimento dos passos 
(marcha de pequenos passos). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 Antes de rotular a marcha do paciente como marcha 
senil, é preciso afastar todas as doenças que podem alterá-la. Uma 
maneira simples e eficiente de avaliar a marcha do paciente idoso é 
executar o teste de “levantar e andar” (Get up and go test). 
FÁCIES 
↠ Algumas expressões fisionômicas que caracterizam 
fácies típicas de algumas doenças, como o 
hipotireoidismo, hipertireoidismo, depressão, e mesmo da 
síndrome parkinsoniana, podem não ser observadas nos 
idosos.Peso e altura 
↠ O peso nem tanto, mas a altura é um parâmetro quase 
sempre negligenciado no exame físico do paciente idoso. 
Quando se determina a estatura, deve-se ter em mente 
que ela é provavelmente menor do que a que o paciente 
alcançou ao final de sua fase de crescimento. Isso resulta 
do encurtamento da coluna vertebral por redução da 
altura dos corpos vertebrais e dos discos intervertebrais, 
além do aumento de todas as suas curvaturas. Em 
algumas doenças, como a osteoporose, esse fenômeno 
acentua-se ainda mais. 
↠ O peso corporal modifica-se ao longo dos anos, em 
decorrência das alterações constitucionais próprias do 
envelhecimento. Há aumento ponderal até por volta dos 
60 anos e, em seguida, redução lenta e gradual. O idoso 
deve ser pesado em toda consulta médica e seu índice 
de massa corporal calculado. 
HIDRATAÇÃO 
↠ As alterações da pele (diminuição do turgor), da 
mucosa oral e da língua (menos umedecidas por 
diminuição da produção de saliva) e das conjuntivas 
(diminuição da secreção lacrimal) que ocorrem com o 
envelhecimento dificultam a avaliação do estado de 
hidratação do paciente idoso. No entanto, mesmo com 
tantas dificuldades, essa avaliação deve ser sempre feita, 
já que os distúrbios hidreletrolíticos ocorrem com mais 
frequência e são mais graves nessa faixa etária. 
Pele 
↠ A pele senil apresenta diminuição da elasticidade, do 
turgor, da espessura, das secreções sudorípara e 
sebácea pela ação ambiental principalmente dos raios 
ultravioletas (podem ocorrer zonas de hipo e 
hiperpigmentação e de hiperqueratinização), além das 
afecções que frequentemente acometem os idosos 
(neoplasias, micoses). 
↠ Devem-se buscar sinais de carências nutricionais, 
principalmente vitamínicas, pois elas são mais comuns nos 
idosos, destacando-se as alterações tegumentares da 
pelagra e do escorbuto. 
↠ Durante o exame da pele, deve-se pesquisar a 
existência de lesões sugestivas de maus-tratos 
(equimoses), de úlceras por pressão e as condições de 
higiene do paciente. 
PRESSÃO ARTERIAL 
↠ A medida da pressão arterial é um dado que não pode 
ser esquecido durante o exame físico do idoso. Com o 
envelhecimento, a pressão arterial sistólica eleva-se 
(hipertensão sistólica isolada do idoso), o que constitui um 
fator de risco para as doenças cerebrovasculares, além 
do fato de que, entre esses pacientes, a prevalência da 
hipertensão arterial essencial também é maior. 
↠ O envelhecimento altera os mecanismos de controle 
da homeostase e pode predispor à hipotensão postural, 
como sensibilidade dos barorreceptores, capacidade de 
reter sal, resposta de elevação da frequência cardíaca e 
enchimento ventricular. 
 É reconhecida quando ocorre uma redução de 20 mmHg ou 
mais na pressão sistólica e/ou 10 mmHg ou mais na diastólica ao passar-
se da posição deitada para a posição de pé. 
EXAME DA CABEÇA E DO PESCOÇO 
↠ Nos pacientes idosos é importante observar alterações 
no tamanho do crânio, pois ele pode aumentar na doença 
de Paget dos ossos, que acomete quase exclusivamente 
indivíduos de faixas etárias mais avançadas. 
↠ Devem-se observar as condições dos dentes e das 
próteses, e estas devem ser retiradas para exame, pois 
elas podem ocultar lesões, inclusive malignas. 
EXAME DO TÓRAX 
↠ À inspeção do tórax, são frequentes a cifose torácica 
e o alargamento do diâmetro anteroposterior, situações 
que podem ser consideradas consequências do 
envelhecimento normal, mas que se acentuam em 
algumas doenças comuns nessa faixa etária (DPOC, 
osteoporose). 
Nas mulheres, as mamas devem ser sempre examinadas, pois o 
câncer de mama também é comum nas idosas. 
À ausculta, as bulhas cardíacas podem ser hipofonéticas. Até a quarta 
década de vida, a segunda bulha cardíaca (B2) é mais audível no 
segundo espaço intercostal esquerdo do que no direito. Com o 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
envelhecimento, essa relação inverte-se, em virtude de modificações 
na posição da aorta e da artéria pulmonar. 
Os idosos são mais propensos a apresentar doenças que causam 
modificações na ausculta das bulhas, como miocardiopatias e arritmias. 
A quarta bulha pode surgir sem significado patológico, como 
consequência da redução da complacência do ventrículo esquerdo 
que acompanha o processo de envelhecimento. A quarta bulha pode 
ser detectada em idosos, independentemente de haver ou não 
cardiopatia. 
Exame do abdome 
↠ É importante lembrar a necessidade de palpar e 
auscultar o trajeto da aorta abdominal, pois dilatações 
aneurismáticas e estenoses de seus ramos (renais, por 
exemplo) são mais comuns em idades avançadas. 
↠ A palpação da região suprapúbica também é 
importante nos casos de diminuição do volume urinário 
ou incontinência, sob pena de deixar passar uma bexiga 
distendida. O toque retal deve completar o exame, pois 
as doenças prostáticas, os fecalomas e as neoplasias do 
reto são frequentes nessa faixa etária. 
Exame das extremidades 
↠ Examinam-se os membros em busca de doenças 
osteoarticulares, as quais são a principal causa de 
incapacidade nesse grupo de indivíduos. 
↠ Avalia-se o trofismo muscular. 
↠ Os pulsos devem ser rotineiramente palpados, pois a 
insuficiência vascular é mais comum nesses pacientes, 
consequência de doenças crônicas, como a hipertensão 
e o diabetes, e do tabagismo. 
↠ O edema sempre deve ser pesquisado, sem se 
esquecer de que ele pode ser causado pela estase 
venosa em decorrência da imobilidade. Veias varicosas 
contribuem para agravar essa situação. 
EXAME NEUROLÓGICO 
↠ Deve ser realizado em todos os idosos, 
independentemente da queixa do paciente, pois muitas 
doenças neurológicas podem manifestar-se com sintomas 
inespecíficos, como é o caso da doença de Parkinson, 
que pode ocorrer sem tremor e o paciente procurar o 
médico por depressão e/ou quedas. 
O diagnóstico será estabelecido pelo encontro, ao exame físico, de 
outros sinais extrapiramidais, como bradicinesia e rigidez. 
↠ Examinam-se os nervos cranianos e, principalmente, a 
movimentação ocular. Quando comparados com os 
jovens, os idosos apresentam maior dificuldade com o 
olhar vertical, principalmente para cima. É importante 
ressaltar que cerca de 30 a 40% dos idosos têm rigidez 
de nuca decorrente de osteoartrite da coluna cervical, 
tornando esse sinal pouco específico para o diagnóstico 
de irritação meníngea. 
↠ A força e o trofismo muscular devem ser avaliados e 
os reflexos profundos, testados. O envelhecimento pode 
diminuí-los, principalmente os patelares e aquileus. Sinais 
de comprometimento piramidal (sinal de Babinski, hiper-
reflexia) e extrapiramidal (rigidez, tremores, coreia, 
bradicinesia) devem ser pesquisados, pois as doenças 
neurodegenerativas que acometem os idosos podem 
afetar esses sistemas. 
↠ Avalia-se também a sensibilidade tátil, dolorosa, 
vibratória e proprioceptiva. 
Referências 
PORTO, Celmo C. Semiologia Médica, 8ª edição. Grupo 
GEN, 2019.

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