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Revista Piaui

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_ 200
maio
A virada dos patrões
A troca de guarda na Fiesp e o fl erte dos
industriais com o PT, por Ricardo Balthazar
O epicentro místico
Por que Santa Catarina fascina tanto
os neonazistas, por Felippe Aníbal
“Não passo ninguém pra trás” 
As negociatas do maior grileiro de terras
da Amazônia Legal, por Allan de Abreu
A longa espera
Como a Comissão de Anistia tenta se reerguer 
depois de Bolsonaro, por Luigi Mazza
Tarifa Zero já!
A utopia do transporte público gratuito começa
a se tornar realidade, por Roberto Andrés
E mais:
Mulheres de presos no TikTok, por João Batista Jr.
River Claure recria O Pequeno Príncipe nos Andes
Um conto inédito de Jeferson Tenório
Poemas de Ana Martins Marques
A morte de María Kodama, por Alejandro Chacoff
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EXTRA! EXTRA! EDIÇÃO 200
QUASE IGUAL À 199 E MUITO 
PARECIDA COM A FUTURA 201
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A S A B E D O R I A I N D Í G E NA A S A B E D O R I A I N D Í G E NA 
P O D E M U DA R O M U N D O P O D E M U DA R O M U N D O 
Conheça o livro obrigatório para quem deseja se 
reconectar com a natureza, animais e tradições milenares
Extraordinário, inteligente e transformador.
The GuardianThe Guardian
Um hino de amor para o mundo.
Elizabeth GilbertElizabeth Gilbert
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piauí_maio 3
Na oficina do Brics, de Caio Borges
Quem fez o quê na edição de maio 
imagens Caio Borges
ABRIL DESPEDAÇADO 
A CPI e a volta da extrema direita ao centro da política nacional 
Fernando de Barros e Silva + imagem Allan Sieber
Mulher-gorila expõe a crueldade do machismo em monólogo que “abusa” do público masculino; 
Haroldo Ferretti, baterista do Skank, abre seu coração; fósseis sugerem que a humanidade 
chegou mais cedo às Américas; o traje tradicional da ABL se adapta a tempos de crise; 
estilista monta coleção de barracos judiciais; a arte em argila de Caruaru está em perigo; 
atriz de Vidas Secas, Maria Ribeiro faz 100 anos
imagens Andrés Sandoval
O BAILE DA FIESP 
Como os industriais paulistas, após longo namoro com o bolsonarismo, se reaproximaram do PT 
Ricardo Balthazar + imagem Nelson Almeida
ELDORADO DO EXTREMISMO 
Santa Catarina e a multiplicação de células neonazistas 
Felippe Aníbal + imagem Vito Quintans
OS FILHOS DO DELÍRIO 
Como as crianças nascidas de um projeto genético de Hitler 
enfrentam a descoberta sombria de suas raízes 
Valentine Faure + imagem Robert Capa
O GRILEIRO-MOR 
Como Altino Masson se apossou de tanta terra pública na Amazônia 
Allan de Abreu + imagem Marizilda Cruppe
A FILA DA REPARAÇÃO 
Os enroscos da Comissão de Anistia, que tenta se reerguer após Bolsonaro 
Luigi Mazza
UM MENINO VEIO DO CÉU 
Fotógrafo boliviano reinventa O Pequeno Príncipe nos Andes, com indígenas aimarás 
River Claure + texto Diego Mondaca
LOOK DO DIA NO XILINDRÓ 
Mulheres de presidiários se transformam em estrelas do TikTok e do Instagram
João Batista Jr. + imagem Flavia Valsani
A VEZ DA TARIFA ZERO
Como o transporte público gratuito passou de utopia 
a realidade e ajudou a salvaguardar a democracia no Brasil 
Roberto Andrés + imagem Beto Nejme
O PRAZER DAS PALAVRAS 
Os etimólogos e o amplo dicionário que a língua portuguesa não tem 
Paula Alkmim + imagem Beto Nejme
NA COMPANHIA DE RUFUS 
Deve haver alguma beleza nessa vida fodida de merda 
Jeferson Tenório + imagem Robinho Santana
DE UMA A OUTRA ILHA 
E não parece estranho que o próprio mar não enlouqueça?
Ana Martins Marques + imagens Carla Caffé
A cigana mandou queimar a capa da revista no quintal pra não assustar as almas puras
A HERANÇA 
María Kodama administrou a obra de Borges como se precisasse defendê-la de todos. 
O que ocorrerá agora que ela se foi? 
Alejandro Chacoff + imagem Juan M. Espinosa
capa 
colaboradores_4
questões vultosas_6
esquina_8
questões patronais_14
capítulos do nazismo I_22
capítulos do nazismo II_28
crimes fundiários_34
anais da ditadura_38
portfólio_44
questões carcerárias_52
questões republicanas_58
questões vernaculares_64
ficção_70
poesia_76
cartas_78
despedida_80
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A Volta do Fuzileiro, de Norman Rockwell, 1945
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colaboradores_maio
Caio Borges [Capa] é artista gráfico. 
Ilustrou o livro De A a Z, Eróticas, 
de Sheila Hafez, pelo selo Laranja 
Original (Neotropica).
Fernando de Barros e Silva [Abril 
despedaçado, p. 6] é repórter da piauí 
e apresentador do podcast Foro de 
Teresina. Ilustração de Allan Sieber.
Ricardo Balthazar [O baile da Fiesp, 
p. 14] é jornalista. Foi repórter e editor 
da Folha de S.Paulo e correspondente do 
Valor Econômico nos Estados Unidos. 
Andrício de Souza [Cartuns a partir da p. 20], 
cartunista e roteirista, publicou o livro de 
quadrinhos O Intestino Eloquente (Espirro).
Felippe Aníbal [Eldorado do extremismo, 
p. 22] é jornalista. Ilustração de Vito Quintans. 
Valentine Faure [Os filhos do delírio, p. 28] é 
escritora baseada em Paris e colaboradora 
do jornal Le Monde. Texto originalmente 
publicado na revista The Atlantic. ©2023 The 
Atlantic Monthly Group, Inc. Todos os direitos 
reservados. Distribuído por Tribune Content 
Agency. Tradução de Rogério Galindo. 
Allan de Abreu [O grileiro-mor, p. 34], 
repórter da piauí, é autor dos livros 
O Delator, Cocaína: A Rota Caipira e Cabeça 
Branca (Record). Colaboraram Jean-Noël 
Konan, de Abidjan (Costa do Marfim), e Luiz 
Fernando Toledo. Foto de Marizilda Cruppe.
Luigi Mazza [A fila da reparação, p. 38] 
é repórter da piauí. 
River Claure [Um menino veio do céu, 
p. 44] é fotógrafo e designer boliviano. As 
fotos integram o livro Warawar Wawa (Raya 
Editorial). Apresentação de Diego Mondaca. 
Tradução de Rubia Goldoni e Sérgio Molina.
João Batista Jr. [Look do dia no xilindró, 
p. 52], repórter da piauí, publicou A Beleza 
da Vida: A Biografia de Marco Antonio de 
Biaggi (Abril). Foto de Flavia Valsani.
Roberto Andrés [A vez da tarifa zero, 
p. 58] é urbanista e professor da UFMG. 
Fundador da revista Piseagrama e da 
iniciativa Nossa América Verde. Trecho 
do livro A Razão dos Centavos: Crise 
Urbana, Vida Democrática e as Revoltas 
de 2013, a ser lançado em junho pela 
Zahar. Ilustração de Beto Nejme.
Paula Alkmim [O prazer das palavras, 
p. 64] é jornalista com especialização em 
comunicação pública da ciência pela UFMG. 
Foi coordenadora de jornalismo na Rádio 
UFMG Educativa. Ilustração de Beto Nejme.
Jeferson Tenório [Na companhia de Rufus, 
p. 70] é escritor e!doutor em letras,!autor,! 
entre outros, de!Estela Sem Deus!e! 
O Avesso da Pele, ganhador!do prêmio 
Jabuti em 2021!(ambos pela!Companhia 
da Letras).!Ilustração de Robinho Santana.
Ana Martins Marques [De uma a outra ilha, 
p. 76] é poeta e autora de O Livro das 
Semelhanças, da Companhia das Letras. 
Poemas extraídos da plaquete De Uma 
a Outra Ilha, a ser lançada em junho na 
coleção Círculo de Poemas, publicada 
pelas editoras Luna Parque e Fósforo. 
Ilustrações de Carla Caffé. 
Alejandro Chacoff [A herança, p. 80] é 
escritor, ensaísta e editor de literatura 
da piauí. Autor do romance Apátridas 
(Companhia das Letras). 
Desenhos em homenagem à 200ª edição 
da piauí: Adão Iturrusgarai, Allan Sieber, 
Andrício de Souza, Ari Hisae, Caco Galhardo, 
Caio Borges, Carla Caffé, Carol Ito, Edson 
Ikê, Faw Carvalho, Gidalti Moura Jr., João 
Pinheiro, Laerte, Leandro Assis, Pedro Franz, 
Reinaldo Figueiredo, Robinho Santana, Val 
Pires, Valentina Fraiz, Vito Quintans.
Ilustrações de Esquina por Andrés Sandoval.
A ação faz referência aos 
marcos de !" de maio e #$ 
de novembro, propondo 
diálogos sobre a condição 
social da população negra. 
Oficinas, bate-papos e 
apresentações pelas unidades 
e plataformas digitais.
DE MAIO A NOVEMBRO 
SESCSP.ORG.BR!DO"#AO$%
#DO"#AO$%
#NEGRITUDESESC
Paula Alkmim Ricardo Balthazar Luigi Mazza Jeferson TenórioAna Martins Marques Allan de Abreu
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#OBrasilVoltou
O Brasil voltou a cuidar da saúde,
da cultura, da sua natureza,
da sua gente. Voltou a combater
a fome, com programas e ações
para quem mais precisa. Voltou
a priorizar a educação e valorizar
os professores. Voltou a investir em
infraestrutura com a construção
de moradias e retomada de obras.
Voltou a respeitar o meio ambiente
e o seu povo e a ser respeitado
no exterior. E é só o começo,
vem muito mais por aí.
voltou.
Pra fazer mais
POR NOSSA GENTE. 
GOVERNO FEDERAL
100 DIAS DE
Confi ra as principais ações:
gov.br/obrasilvoltou
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fiscal à reforma tributária –, o que lhe 
confere hoje amplos poderes (além de 
uma paleta de cores bastante rica para 
que possa exercitar suas artes).
É dramático que a aquarela de Lula 3 
dependa nesse nível do pincel de um 
artista como Arthur Lira. A todo instan-
te, paira no ar a ameaça de que sua mão 
pesada (ou leve demais) venha danificar 
de forma indelével a paisagem. Mas 
Lira é um pintor que gosta de trabalhar 
sob encomenda. Cobra caro, e sabe de 
quem cobrar. Sua proeminência humi-
lha a cidadania, mas ele está longe de 
ser o pior dos problemas no momento. 
Logo depois do 8 de janeiro, o cientista social Marcos Nobre, autor do livro Limites da Democracia: De Junho de 
2013 ao Governo Bolsonaro, disse à Folha 
de S.Paulo que o país tinha uma chance 
histórica de isolar politicamente a ex-
trema direita. Vale citar: “Há uma oportu-
nidade sem igual para o sistema político, 
especialmente para o!governo Lula, en-
frentar e isolar essa extrema direita que 
quer o golpe já. É possível partir para uma 
defesa da democracia muito mais robusta 
do que a que foi feita até agora.” Menos 
de quatro meses depois, tem-se a sensa-
ção nítida de que essa oportunidade foi 
desperdiçada. Por várias razões.
É verdade que num primeiro momen-
to os Poderes encenaram o teatro da insti-
tucionalidade, como manda o figurino. 
Lula reuniu os governadores; o Congres-
so e o Supremo desempenharam seus 
papéis – e esse mínimo foi importante 
para demarcar o terreno. Logo, no entan-
to, a “defesa mais robusta da democracia” 
cedeu espaço às acomodações de praxe. 
Lula esvaziou a criação de uma "#$ 
no calor dos acontecimentos, quando 
havia se formado na opinião pública 
um sentimento quase unânime de re-
púdio aos vândalos. Se fosse instalada 
em fevereiro, na abertura do ano legis-
lativo, num ambiente ainda aquecido, a 
comissão seria um instrumento eficaz 
contra o golpismo. Haveria como trans-
formá-la num desdobramento da frente 
ampla pela democracia. 
Lula também evitou contrariar os mi-
litares, muitos deles àquela altura compro-
metidos até o pescoço com a sabotagem 
do novo governo. Exonerou com duas 
semanas de atraso o comandante do Exér-
cito que havia impedido a prisão dos 
manifestantes na noite do 8 de janeiro, 
contrariando uma determinação do mi-
nistro da Justiça, Flávio Dino. Manteve, 
contudo, à frente da Defesa um conser-
vador pusilânime como José Múcio, es-
colhido a dedo justamente para não 
melindrar os fardados. E praticamente 
não mexeu no Gabinete de Segurança 
Institucional (%&$), que havia se transfor-
mado pelas mãos do general Augusto 
Heleno, golpista contumaz, num ser-
pentário bolsonarista. 
A reação temperada do governo ti-
nha justificativas razoáveis. Lula quis 
evitar que o golpe bolsonarista viesse 
ocupar o centro da pauta política, amea-
çando paralisar a gestão que então se 
iniciava. Havia escombros demais acu-
mulados ao longo dos últimos quatro 
anos, além daqueles produzidos em 
poucas horas pela malta verde-amarela. 
As prisões em massa, os indiciamentos, 
o encarceramento de Anderson Torres, 
elo civil mais evidente entre Bolsonaro e 
os delinquentes, tudo isso pareceu ser 
resposta suficiente ao golpe por alguns 
meses. À falta de uma “defesa mais ro-
busta da democracia”, o temperamento 
intempestivo de Alexandre de Moraes, no 
Supremo Tribunal Federal, e a firmeza 
atuante de Flávio Dino, um orador de ta-
lento incomum, satisfizeram durante cer-
to tempo a demanda por justiça, reparação, 
punição dos criminosos. Essa fase acabou.
A criação da "#$ mista, na esteira das 
imagens que flagraram o general Gon-
çalves Dias, então chefe do %&$ de Lula, 
perambulando atônito pelo Palácio do 
Planalto, sem oferecer nenhuma resis-
tência aos invasores, representa evidente 
revés para o governo. A família Bolsona-
ro terá seu microfone. Damares Alves, 
Magno Malta, esses digníssimos repre-
sentantes do povo, terão voz, plateia e 
holofotes para dizer que menina veste 
rosa, menino veste azul, que é Brasil 
acima de tudo, Deus acima de todos, 
que a culpa é do #', que Lula é ladrão.
Criar tumulto no país e fabricar ma-
terial fantasioso para alimentar seus se-
guidores pelas redes sociais – eis dois 
objetivos bastante palpáveis para a extre-
ma direita na "#$. As conversas razoáveis 
sobre assuntos sérios, as discussões sobre 
políticas públicas, o arcabouço fiscal, as 
emergências sociais – tudo agora terá 
que disputar espaço com a artilharia dos 
jagunços do capitão no Congresso. 
 A "#$ do Golpe é o retorno do re-
calcado. A vitória eleitoral de Lula não 
é igual à vitória política da democra-
cia. Essa disputa ainda não acabou, e 
a extrema direita, que estava acuada 
na retranca, acaba de marcar um gol 
de contra-ataque. Entre as tantas ur-
gências brasileiras, derrotar politica-
mente o obscurantismo talvez seja a 
principal delas. Sem isso, não haverá 
Amazônia viva, não haverá menos ar-
mas e mais livros, não haverá redução 
da desigualdade. 
Sabemos que a viabilidade do governo 
depende de algum sucesso na economia, 
sem o que o resto tende a desmoronar. 
Mas o sentido histórico deste mandato 
é outro. Ao contrário do que supõem os 
senhores da imprensa, que se comovem 
mais com a autonomia do Banco Cen-
tral do que com o 8 de janeiro, a ques-
tão ainda é a democracia. J
C
omo dos casamentos e dos 
jogos do São Paulo, das comis-
sões parlamentares de inqué-
rito ("#$s) também se diz que 
a gente sabe como começam, 
mas não sabe como terminam. Também 
é verdade que não costumam acabar 
bem, como os casamentos e os jogos... 
Deixemos as comparações para lá.
As circunstâncias que envolvem a 
Comissão Parlamentar Mista de Inqué-
rito criada nos últimos dias de abril são 
únicas. A começar por seu objeto, que 
não diz respeito a eventuais malfeitos do 
governo em curso, como costuma ocor-
rer, mas a uma tentativa de golpe de 
Estado perpetrada por apoiadores do 
governo anterior, financiados e catequi-
zados em acampamentos ilegais protegi-
dos pelo Exército por meses a fio. Foram, 
na verdade, anos de realejo, se lembrar-
mos da insistência quase ininterrupta 
com que Jair Bolsonaro girou a manivela 
golpista, com palavras e gestos, durante 
todo o seu mandato. O inventário dos 
crimes que cometeu no exercício da Pre-
sidência não caberia neste artigo. Mais 
importante é frisar que a impunidade 
que o ex-presidente desfruta até hoje diz 
muito sobre a saúde, ou a debilidade, 
das instituições do país. Augusto Aras e 
Arthur Lira, esses grandes prevaricado-
res da República, entendem do assunto. 
Lira volta a ser personagem decisivo 
para arbitrar os rumos da "#$. Fortalecido 
pelo bloco que formou em torno de si, 
com nove partidos e mais de 170 deputa-
dos, o presidente da Câmara tem o poder 
de definir o perfil da comissão parlamen-
tar – se mais amigável ou se mais hostil 
aos interesses do governo. Além da ascen-
dência sobre as nomeações de pelo me-
nos 5 dos 16 parlamentares da comissão, 
Lira, como ninguém mais, pode facilitar 
ou dificultar a tramitação da pauta eco-
nômica no Congresso – do novo regime 
questões vultosas
A CPI e a volta da extrema direita ao centro da política nacional 
FERNANDO DE BARROS E SILVA 
ABRIL DESPEDAÇADO 
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“ABRA OS PERNÕES, GOSTOSINHO!”
Mulher-gorila expõe acrueldade do machismo em monólogo que “abusa” do público masculino
absurdo! Por que você saiu de casa se 
não planejava mostrar o que interessa?!”
Cada vez mais afrontosa e destemida, 
a atriz sugere que os três homens fiquem 
de pé e se acariciem mutuamente. O de 
calça comprida não topa. Os de bermu-
da, ainda que embaraçados, aceitam 
compartilhar esfregadinhas nas costas. 
“Gosto quando vocês se pegam. Lindo, 
lindo!”, incentiva a artista. “Por que não 
se beijam?” Os rapazes, atônitos, suspen-
dem imediatamente os carinhos. A atriz 
se agarra à oportunidade e explica: “Mi-
nha peça acontece no limiar do cons-
trangimento e do terror. Mas apenas para 
metade da plateia... Para a outra metade, 
é só comédia, humor, curtição!”
Na verdade, o sarcasmo de King Kong 
Fran lava a alma de uns 80% do público. 
Desde a estreia, em novembro, as mulhe-
res ocuparam praticamente todos os as-
sentos dos teatros cariocas que receberam 
a montagem – o Ipanema, o Cesgranrio e 
o !" Investimentos, onde o monólogo es-
tará de novo neste mês, depois de passar 
por lá em março. Os poucos boys que 
ousam se defrontar com o espetáculo de 
setenta minutos dificilmente saem incólu-
mes da experiência. A protagonista inverte 
a ordem patriarcal e se transmuta em al-
goz dos “machos héteros” não somente 
porque assedia parte da audiência mascu-
lina. Ela também conta histórias reais de 
sexismo no showbiz, que desconcertam os 
marmanjos presentes. A intenção é fazê- 
los sentir empatia pelo sofrimento femini-
no. Claro que as espectadoras se entregam 
freneticamente à catarse e estimulam a 
artista o tempo inteiro, com uma profusão 
de gritos, assobios, gargalhadas e aplausos. 
Há, inclusive, as que antecipam certas fra-
ses da atriz, numa demonstração de que 
assistiram à peça mais de uma vez.
O boca a boca dentro e fora da inter-
net acabou tornando a encenação um 
inesperado sucesso. Dez mil pessoas já 
a prestigiaram – número elevadíssimo 
para os padrões brasileiros, sobretudo 
quando a produção é de baixo orçamen-
to. King Kong Fran custou 30 mil reais, 
garimpados numa vaquinha digital. 
E scrito e dirigido pela própria atriz e por Pedro Brício, o monólogo agrega várias linguagens: as do 
circo, do vaudeville, da performance e 
do cabaré burlesco. O espírito justi-
ceiro das redes sociais norteia to do o 
espetáculo, na medida em que a prota-
gonista adota um tom assertivo, lacra-
dor, e comanda um tribunal anár quico, 
onde nenhum homem goza da presun-
ção de inocência.
A montagem não tem exatamente 
uma trama. Em linhas gerais, apresenta 
a versão alongada de um velho quadro 
circense – o da Monga, mulher sen-
sual que vira gorila e ataca a plateia. Se 
a fera do passado apenas urrava, a do sé-
culo !!# fala pelos cotovelos e levanta 
sem trégua as bandeiras do feminismo. 
Curiosamente, quem se converte em 
gorila na peça é a palhaça Fran, alter 
ego de Rafaela Azevedo. A protagonis-
ta assume, portanto, duas facetas com-
plementares: a da macaca tagarela e a 
de uma clown tão mordaz quanto ego-
cêntrica, autoritária e perversa. Ela 
inicia a encenação numa jaula e rapi-
damente se liberta. Logo abaixo da 
cintura, exibe um dildo de 37 cm, ora 
utilizado como arremedo de microfo-
ne, ora como um simulacro de espada 
ou porrete. A música Dona do Prazer 
– adaptação de Toxic, sucesso de Brit-
ney Spears, gravada pelo grupo Forró 
na Veia – serve de trilha sonora. Um 
trechinho da letra: Bem que eu te avi-
sei/Para não me tocar/Cuidado, baby/
Você vai se queimar/É perigoso/Provar 
do meu amor. 
Carioca de Honório Gurgel, bairro 
periférico onde também nasceu a can-
tora Anitta, a atriz de 31 anos criou 
Fran em 2013, durante uma oficina 
de palhaçaria. Inspirou-se na mãe, que 
já morreu e padecia de uma doença 
mental grave, o transtorno de persona-
lidade limítrofe. “Ela não separava a 
fantasia da realidade. Dizia que iria 
telefonar para um galã de novela, por 
exemplo, e acreditava naquilo. Con-
versava horas pelo celular com absolu-
tamente ninguém. Era triste, singelo 
e engraçado. Tudo junto”, relembra 
a artista. “Minha mãe fazia coisas em 
casa que muitos atores não conseguem 
fazer em cena.”
Diferentemente dos palhaços tradi-
cionais, Fran evita pintar a face. Usa 
apenas uns cílios postiços enormes, 
uma peruca chanel preta e um batom 
vermelho, sempre borrado. Esforça-se 
para bancar a gata do pedaço, mas fre-
quentemente naufraga e soa desajeita-
da, excessiva ou ridícula. Entre 2018 e 
2019, a personagem estrelou o solo Fran 
World Tour, em que tentava executar 
diversos números de circo e fracassava.
 
Um terrível acontecimento está por trás do espetáculo que Rafaela Azevedo encabeça agora. Quan-
do tinha 21 anos, a atriz sofreu um es-
tupro. Ela se tratava com um osteopata, 
que a violentou durante uma consulta. 
“No momento da agressão, uma dúvida 
me atormentava: ‘Será que dei motivo 
para o cara se comportar assim? Será 
que agi de maneira inadequada?’ Eu 
me culpei... Por isso, não o denunciei.”
O ataque lhe deixou marcas profundas. 
“Meu útero adoeceu, parei de menstruar 
e senti cólicas horrorosas. Os sintomas 
me assombraram por um bom tempo.” 
Não bastasse, a moça se fechou para as 
relações amorosas. “Eu me enxergava 
como o problema. Então, pensava: qual-
quer homem que me atrair vai abusar de 
mim, já que sou fácil demais.”
Graças à psicoterapia e à leitura de 
ensaios feministas, a atriz reinterpretou 
o episódio. “Compreendi que posso rea-
gir. Os agredidos têm direito à violên-
cia. Por que nem cogitei esmurrar o 
médico na hora do estupro? Não seria 
impossível. Faço ginástica, cultivo os 
músculos, exercito minha agilidade. Só 
que, em vez de peitar o agressor, aceitei 
o papel de vítima como inerente à mu-
lher.” Uma década depois do ocorrido, 
com King Kong Fran, a artista final-
mente reagiu. J
Armando Antenore
 esquina
Inicialmente, a impressão é de que a atriz Rafaela Azevedo está fazendo um simples pedido. “Você... Sim, você 
mesmo. Por gentileza, poderia trocar de 
lugar com aquela moça?”, indaga a prota-
gonista do monólogo King Kong Fran 
para um jovem da plateia, num teatro do 
Rio de Janeiro. Surpreso, o rapaz de barba 
concorda sem reclamar. Ele usa camisa e 
bermuda claras. A atriz, posicionada no 
canto direito do palco, mira outro jovem 
e repete o apelo. Dessa vez, o alvo resiste. 
Também de bermuda, o homem não pre-
tende trocar de poltrona com mulher ne-
nhuma. “Ah, prefere continuar aí?”, 
certifica-se a artista. “Beleza. Mas você 
vai se arrepender...” Num piscar de olhos, 
o rapaz entende que não se trata de um 
pedido. É uma ordem, e só lhe resta ce-
der. “Método Paulo Freire... Funciona, 
viu?”, zomba a atriz.
O espetáculo mal começou e a estrela 
da noite já tem o público nas mãos. Ela 
desce languidamente do palco. Enver-
ga uma fantasia de gorila, bem peluda. 
A máscara do primata, no entanto, não 
lhe oculta o rosto. Repousa sobre a cabe-
ça da artista, como um boné. Os dois ra-
pazes estão, agora, em poltronas vizinhas, 
perto de um terceiro jovem, que traja 
uma elegante calça comprida. A atriz ca-
minha até o trio, equilibrando-se num 
salto plataforma de 10 cm, que a deixa 
com 1,80 metro de altura. Impetuosa, en-
cara um dos homens de bermuda: “Per-
não de fora, hein? E a camisa? Aberta 
no peito... Por que você se vestiu assim? 
É um código, né? Você deseja que a mu-
lherada avance. Confessa! Que tal dar 
uma levantadinha para todo mundo admi-
rar o material?” Completamente sem jeito, 
o jovem obedece. “Hmmmm... Resolveu 
meter o tímido, é?”, provoca a artista.
Ela aborda, então, o segundo rapaz 
de bermuda. “Outro gostosinho aqui. 
Você se incomodaria de abrir as pernas? 
Quero checar um negócio: a sua mala 
está marcando?”, pergunta com voz qua-
se ingênua, enquanto aponta o pênis do 
jovem. “Está marcando ou não? Preciso 
saber... Abra os pernões! Não está?! Que 
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BAQUETAS NA MESA
Haroldo Ferretti, baterista 
do Skank,abre seu coração
“Toda banda um dia acaba, me-nos os Rolling Stones.” Haroldo Ferretti dizia isso para si mes-
mo havia muito tempo. Mesmo assim, o 
baterista sentiu um baque forte quando 
seu companheiro de banda, o guitarrista 
e vocalista Samuel Rosa, avisou que pre-
tendia começar uma carreira solo, com 
novos parceiros e novas formas de com-
por. O anúncio foi feito em uma reunião 
de trabalho corriqueira, em uma tarde de 
agosto de 2019. Além de Ferretti e Rosa, 
estavam presentes o baixista Lelo Zaneti 
e o tecladista Henrique Portugal. O quar-
teto formava o Skank, uma das bandas de 
maior sucesso do pop rock brasileiro. 
Com o fim iminente do grupo, Fer-
retti passou a viver um “furacão de emo-
ções”. “Quando chega a hora, dá um 
vazio, uma coisa esquisita”, diz ele à 
piauí. A hora chegou em 26 de março 
passado, quando o Skank fez seu último 
show, no Estádio Mineirão, em Belo 
Horizonte, cidade onde a banda foi for-
mada, em 1991. Um público estimado 
em 50 mil pessoas acompanhou as três 
horas de apresentação. Em um misto de 
euforia e melancolia, os fãs ouviram hits 
como Te Ver, É uma Partida de Futebol, 
Jackie Tequila e Resposta. 
O baterista imaginava que, depois de 
uma noite como aquela, o quarteto se 
encontraria no camarim para lembrar 
seus êxitos e talvez até “estourar um 
champanhe e tocar a música do Ayrton 
Senna para comemorar”. Não foi o que 
aconteceu. “Brindamos com uma cerve-
jinha e falamos: ‘Pô, gente, valeu.’” Em 
retrospectiva, Ferretti acha que essa des-
pedida morna foi até adequada: “Você 
não solta foguete no velório de ninguém.”
Nos dias seguintes ao show final, o 
grupo de WhatsApp da banda silenciou. 
“A sensação que tenho é que todo mun-
do está com esse nó ainda na garganta”, 
diz Ferretti, que poucos dias depois da 
apresentação embarcou com a família 
para Londres. “Estou curioso para saber 
como vai estar meu coração, minha vida, 
minha cabeça daqui a um tempo.”
O coração, a vida e a cabeça de Fer-retti oscilaram entre a tristeza e a gratidão nos meses que antecede-
ram o show de despedida. Ele ainda ten-
tava superar o impacto provocado pela 
decisão de Samuel Rosa, principal com-
positor do Skank. Também se esforçava 
para “compreender as razões do outro” 
– e constatar, enfim, que não compreen-
dia nem mesmo suas próprias razões. 
Ele admite que manter a harmonia do 
quarteto depois da decisão do vocalista 
de encerrar a banda exigiu muito esforço. 
Recorrendo à incontornável analogia 
com o casamento, o baterista avalia que 
durante esse período os membros do 
Skank já estavam separados, embora vi-
vessem ainda na mesma casa. “Eu me 
policiei para não perder uma coerência 
que sempre tive em relação aos meus só-
cios, e para não ligar o foda-se”, afirma.!
Quando Samuel Rosa anunciou o 
fim do Skank, em 2019, a ideia era 
manter a banda em atividade ainda por 
um ano, para uma turnê de despedida. 
O prazo foi calculado também para 
cumprir os passos contratuais necessá-
rios à dissolução do grupo e para não 
deixar a equipe técnica do Skank sem 
emprego de uma hora para outra. Mas 
então a Covid adiou a turnê de 2020. 
Durante a pausa imposta pela pande-
mia, Ferretti se deu conta de que estava 
fazendo um “ensaio do que seria a vida 
depois, sem o compromisso do Skank”. 
Ele diz que foi “obrigado a entender que 
iria acordar na segunda-feira e não ia 
receber a programação do fim de sema-
na, não ia ter que pegar um avião ou um 
carro para ir a tal ou tal cidade”. Resul-
tado: “Na marra, aprendi, me acostumei 
com aquela ideia do fim.” 
Em março de 2022, quando a turnê 
de despedida finalmente teve início, as 
coisas se mostraram mais complexas do 
que ele pensou. “Parecia que cada show 
era o último. Era sempre carregado de 
uma emoção muito diferente da que a 
gente estava acostumado a sentir. E isso, 
sinceramente, me trazia uma sensação 
que, por Deus do céu, não era normal.” 
A decisão de Rosa tornou-se ainda 
mais incompreensível para Ferretti. “O 
Skank era tão produtivo e, porra, não é 
comum ver uma banda que consiga ser 
tão versátil.” Ele foi aceitando a ideia do 
fim do Skank à medida que a turnê pro-
gredia, mas teve uma recaída na virada 
do ano, quando se aproximava a despedi-
da no Mineirão. “A partir de janeiro, co-
mecei a sentir uma angústia gigante, um 
vazio. Foi péssimo”, diz. “Tentei achar as 
minhas formas de lidar com essa situação 
para não cair numa vala que pudesse ser 
prejudicial não só a mim, mas a todo 
mundo. Fiquei com medo de adoecer, 
entrei numa paranoia, mas seguimos.”
O dia 26 de março de 2023 chegou 
mais rápido do que ele esperava. Aos 
53 anos, Ferretti teve a sensação de que 
“os 32 anos de Skank haviam passado mui-
to rápido, de que a vida havia passado rá-
pido, de que a vida é mesmo um sopro”. 
Descrever o que sentiu no palco, em 
Belo Horizonte, não é fácil para ele. 
“Na hora em que sentei na bateria... Não 
sei se consigo explicar...”, diz, hesitante, 
para então se entusiasmar com a lem-
brança do público mineiro: “É clichê, 
mas parecia que cada um estava ali 
para nos dar um presente. Não era uma 
massa cinzenta de pessoas. Foi uma ca-
tarse, um negócio muito diferente. Só 
estando dentro do meu coração para 
sentir o que eu estava sentindo.”
O s ex-companheiros de banda pre-tendem se arriscar na carreira solo, mas Ferretti descarta essa possibili-
dade. Ele não fez planos detalhados para 
a vida pós-Skank. “Não vou ter pique de 
montar uma nova banda para tentar fa-
zer sucesso de novo. Não sou cantor, não 
sou compositor, não sou líder de banda. 
Minha posição é diferente, sempre tive 
consciência disso. É o lugar que eu quis: 
adoro ficar ali quietinho, nos bastidores.”
Sem pressa para se reorganizar profis-
sionalmente, ele se considera “pra lá do 
sucesso”, por tudo que o Skank alcançou. 
“Além disso, consegui ganhar grana”, 
acrescenta. “Não tenho uma corda no 
pescoço de ter que arrumar um emprego 
rápido para sobreviver.” Seus dois filhos 
– Júlia, de 23 anos, e João, de 20 – já têm, 
segundo o pai, “a vida deles”. “Agora, eu 
e minha mulher temos liberdade, a gente 
pode cuidar da gente”, afirma. 
Depois da viagem à Europa, o bate-
rista quer estudar produção musical e 
técnicas de gravação, para melhor uti-
lizar o estúdio que mantém em casa. 
“Sempre fui muito da prática e nunca 
tive tempo de parar para estudar. Sei 
que vou amar estudar isso.” 
Bem mais que o tempo/que nós perde-
mos,/ficou pra trás também o que nos 
juntou, diz a canção Resposta, do Skank. 
O tempo em que Ferretti esteve junto de 
Rosa, Zaneti e Portugal ficou para trás, 
e ele vai se permitir um período de des-
canso. “Vou sentir muita saudade”, diz. 
“Agora é dar o peso adequado para cada 
um desses sentimentos, para que isso 
não seja um problema para mim.” J
Silvana Arantes
A MARCA DA PREGUIÇA
Fósseis sugerem que a humanidade 
chegou mais cedo às Américas
C omo tem feito praticamente todos os verões nos últimos doze anos, o paleontólogo uruguaio Richard 
Fariña passou duas semanas, em feverei-
ro deste ano, escavando o sítio do Arroyo 
del Vizcaíno, nos arredores do município 
de Sauce, quase 40 km ao Norte de Mon-
tevidéu, no Uruguai. Milhares de fósseis 
de grandes mamíferos extintos já apare-
ceram ali desde 1997, quando os primei-
ros ossos vieram à tona em consequência 
de uma grande seca.
O sítio paleontológico fica embaixo do 
riacho (ou arroio) que lhe dá nome. A cada 
temporada, os pesquisadores precisam 
construir uma pequena barragem e des-
viar o curso do riacho, para que possam 
enfim abrir a escavação. Neste ano, eles 
eram aproximadamente quinze, entre co-
laboradores e alunos de Fariña na Univer-
sidade da República. Ficaram acampados 
nas imediações do sítio, e o paleontólogo 
era quem cozinhava para o grupo.
Quando apareceram os primeiros fós-
seis, os moradores locais estranharam. 
“Isso não é de boi”, disse um senhor ao se 
deparar com um osso comprido. E não 
era mesmo: pertencia a uma Lestodon, 
uma preguiça-gigante que podia medir 
quase 5 metros de comprimentoe pesar 
4 toneladas ou mais. O animal viveu na 
América do Sul durante a última Era 
Glacial e desapareceu por volta de 11,5 mil 
anos atrás, com outros mamíferos gigan-
tes que ficaram conhecidos como a me-
gafauna extinta. 
No Arroyo del Vizcaíno, foram en-
contrados vários desses animais. Vive-
ram naquela região o gliptodonte, um 
bicho que lembra um tatu de 1 tonelada 
com uma cauda pontuda; o mastodon-
te, um primo extinto do elefante; e o 
dentes-de-sabre, um felino de 2 metros 
de comprimento cujos caninos podiam 
medir mais de 20 cm. 
Quando os pesquisadores dataram o 
material, descobriram que os fósseis ti-
nham cerca de 30 mil anos. Até aí, nada 
de surpreendente. Mas algo notável se 
revelou quando um colaborador de Fa-
riña examinou de perto a clavícula de 
uma preguiça e encontrou marcas que, 
na sua avaliação, só podiam ter sido feitas 
por ferramentas de pedra fabricadas por 
humanos. Marcas similares apareceram 
também numa costela da Lestodon e em 
dezenas de outros ossos. Seriam um indí-
cio de que ali viveram humanos que tal-
vez comessem carne de preguiça-gigante. 
Não fosse por um detalhe: para boa parte 
dos arqueólogos, os primeiros humanos 
só chegaram ao continente americano 
entre 16 mil e 20 mil anos atrás – ou seja, 
muitos milênios depois da época em que 
aqueles ossos foram talhados.
Aos 65 anos, Richard Fariña é um ho-mem corpulento de farta cabeleira e barba grisalha. O cientista recebeu a 
piauí no começo de março num saguão 
da Universidade da República onde havia 
o esqueleto de uma preguiça-gigante e a 
carapaça de um gliptodonte descobertos 
no Uruguai. Falou em português fluente 
e com direito a mesóclise. Aprendeu a lín-
gua no final dos anos 1980, quando morou 
em Porto Alegre e fez mestrado na Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fariña explicou que as ferramentas de 
pedra costumam deixar marcas mais reti-
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líneas e em forma de !. Quando causadas 
por dentes de um animal, as marcas são 
irregulares e em forma de ". “Como a 
pedra é bem mais dura que o osso, a inci-
são é profunda e deixa uma deformação 
nas bordas” disse o paleontólogo. “O osso 
se comporta como se fosse plástico.”
As marcas misteriosas até poderiam 
ter outras causas. Os ossos talvez tenham 
sido pisoteados por outros animais. O de-
safio dos pesquisadores é descartar essa 
possibilidade acima de qualquer suspei-
ta. O uruguaio já calculou a probabilida-
de de todas as marcas identificadas nos 
ossos terem causas naturais, e concluiu 
que é baixíssima – um número que co-
meça com 0 e tem outros 43 zeros depois 
da vírgula e antes do 6, o último algaris-
mo. Num estudo de 2021, seu grupo re-
correu à inteligência artificial para 
interpretar a origem das marcas e, mais 
uma vez, concluiu que elas foram produ-
zidas por ferramentas de pedra. 
Alguns colegas não se convenceram. 
Desde 2014, quando o grupo de Fariña 
publicou seus achados numa revista bri-
tânica, várias refutações ao trabalho fo-
ram veiculadas na literatura especializada. 
Na crítica mais recente, publicada no ano 
passado na revista PaleoAmerica, oito 
cientistas de universidades norte-ameri-
canas apontaram fragilidades no estudo 
uruguaio. Para eles, trata-se do exemplo 
típico de um sítio formado por proces-
sos naturais, e não pela ação humana. 
Fariña e seus colegas publicaram na 
mesma revista uma réplica em tom 
meio desaforado, que fala de rigor na 
ciência e honestidade intelectual.
A vida dos uruguaios seria bem mais 
fácil se eles achassem no sítio as ferra-
mentas que produziram aquelas mar-
cas. Já apareceu ali uma peça que tem 
jeito de ser um raspador, mas nada pare-
cido com as facas de pedra que devem 
ter sido usadas para deixar aquelas mar-
cas, quem sabe tirando a carne dos os-
sos. Algumas peças notáveis apareceram 
nas escavações deste ano, mas é cedo 
para cravar que eram ferramentas. “Ain-
da estão sendo analisadas”, disse Fariña.
O Arroyo del Vizcaíno se junta a ou-tras ocupações de idade parecida espalhadas pelo continente ameri-
cano. Na Serra da Capivara, no Sul do 
Piauí, há vários sítios com mais de 20 mil 
anos de idade, sendo que um deles passa 
dos 40 mil. Em Santa Elina, em Mato 
Grosso, há indícios da presença humana 
com até 27 mil anos – incluindo ossos de 
preguiça-gigante modificados por ferra-
mentas. Em Chiquihuite, no Norte do 
México, há uma caverna a 2,7 mil metros 
de altitude que pode ter sido povoada há 
30 mil anos. Em comum, esses sítios têm 
também o fato de serem todos contesta-
dos por parte da comunidade científica. 
Enquanto não aparecer uma prova mais 
firme da presença humana no Arroyo del 
Vizcaíno, a situação não deve mudar. 
Fariña não se incomoda com as críti-
cas nem faz questão de convencer os 
incrédulos. Só não abre mão de ver as 
marcas de ossos tratadas com seriedade 
pelos seus pares. O paleontólogo gosta 
das controvérsias e acha que elas abrem 
espaço para a circulação de novas ideias. 
“Na ciência é bom deixar abertas todas 
as portas, porque tu não sabe por qual 
delas vai ter que atravessar”, disse Fariña. 
E a porta da chegada humana ao conti-
nente há mais de 25 mil anos, segundo 
ele, “está ficando escancarada”. J
Bernardo Esteves
REVOLUÇÃO NO FARDÃO!
O traje tradicional da ABL se 
adapta a tempos de crise
#
D iógenes Cardoso retira da caixa os fios de ouro, dispostos em um ar-ranjo que lembra um rabo de ca-
valo. “Olha só o peso”, diz o alfaiate de 
82 anos, ao passar o conjunto para as 
mãos do interlocutor. A cena traz um 
toque de melancolia: em 2018, o profis-
sional veterano perdeu a exclusividade 
que mantinha desde 2005 de confeccio-
nar os fardões dos integrantes da Acade-
mia Brasileira de Letras ($%&). #
A quebra do monopólio representou 
também o rompimento de uma tradição: 
não há mais ouro nos fardões. O que re-
luz no peito dos recém-chegados à $%& 
são paetês aplicados sobre o bordado. 
“Não tem ouro”, sentencia Cardoso ao ver 
fotos do novo modelo. Dependendo da 
incidência da luz, os fios produzem refle-
xos vermelhos ou verdes, mas não doura-
dos. O alfaiate também usava paetês, mas 
dava o acabamento com fios de ouro.
O fim da “era do ouro” começou com 
a posse do poeta e compositor Antonio 
Cicero, que optou por uma solução casei-
ra e mais barata. O novo fardão saiu do 
ateliê de seu marido, o figurinista Marce-
lo Pies, que há mais de vinte anos atua no 
cinema e no teatro. Fernanda Montene-
gro, Gilberto Gil, Godofredo de Oliveira 
Neto e Ruy Castro também entraram na 
academia com o modelo de Pies.
A mudança foi impulsionada pelo fim de outra tradição: há menos de dez anos, depois de alguns questiona-
mentos sobre o uso de verbas públicas, 
governos estaduais e prefeituras deixa-
ram de doar o traje de seus filhos torna-
dos imortais – um gasto público que não 
é mais aceitável em tempos de austerida-
de fiscal. Atas de sessões realizadas em 
2017 mostram que os acadêmicos discu-
tiram novos meios para financiar a roupa 
coruscante dos colegas novatos. As pro-
postas não avançaram. Como argumen-
tou na época o jornalista Cícero Sandroni, 
o problema é do acadêmico, não da aca-
demia. Desde então, alguns eleitos banca-
ram o traje com recursos próprios; outros 
o receberam de amigos, empresas ou en-
tidades profissionais.#
A diferença de preços entre os fardões 
de Cardoso e de Pies é grande. O novo 
sai por 30 mil reais. O de fios de ouro por 
quase o dobro e chegou a custar 78 mil 
reais na época do mecenato oficial – o 
alfaiate alega que os governos atrasavam 
o pagamento e exigiam custosas certi-
dões. Pies não respondeu aos pedidos de 
entrevista feitos pela piauí. Um amigo do 
estilista que o consultou sobre o tema 
confirma que os bordados de seu fardão 
são feitos com fios metalizados, mas res-
salvou que a falta do ouro não justifica a 
diferença de preço (segundo Cardoso, 
na sua última compra, cada grama do 
metal custou 3,8 mil reais). 
Presidente da $%&, o jornalista Merval 
Pereira não vê problemas na mudança. 
“O fardão mudoucom o tempo”, diz. Ele 
lembra que o escritor Ariano Suassuna 
encomendou seu traje a uma costureira 
e a uma bordadeira do Recife.#Machado 
de Assis, primeiro presidente da $%&, 
nunca vestiu fardão. O traje só foi intro-
duzido na instituição em 1910 – dois 
anos depois da morte de Machado –, na 
posse do escritor e jornalista Paulo Barre-
to, o João do Rio. Tornou-se obrigatório 
desde então, embora as normas para sua 
confecção só tenham sido oficializadas 
no regimento de 1964: deveria ter “bor-
dados a ouro, imitando louros”. 
As normas foram sendo relaxadas com 
o passar dos anos, como se pode constatar 
comparando três trajes mantidos no acer-
vo da $%&. Nos fardões do poeta e filólogo 
Amadeu Amaral (empossado em 1919) e 
do jurista, historiador e político Afonso 
Arinos de Melo Franco (cuja posse foi em 
1958), os louros são feitos inteiramente 
com fios de ouro. Já o#fardão do jornalista 
e escritor Carlos Heitor Cony, empossado 
em 2000, tem fios do metal apenas nos 
acabamentos, tal como faz#Cardoso.#
Houve acadêmicos que propuseram a extinção do fardão, como o poeta e deputado Afonso Celso, que acha-
va o traje pouco adequado ao nosso clima. 
Em 1928, o antropólogo Roquette-Pinto 
tentou, e não conseguiu, assumir sua ca-
deira sem envergar o uniforme. O poeta 
Manuel Bandeira, que não gostava do 
fardão, só o usou na sua posse. Em 1997, 
durante uma reunião da $%&, o também 
poeta Lêdo Ivo revelou que Bandeira 
usara um traje emprestado. Depois de 
ganhar alguns quilos, o romancista João 
Ubaldo Ribeiro deixou de ir às posses de 
acadêmicos e contribuiu para o anedotá-
rio em torno do uniforme. “Dizia que o 
fardão ficou tão apertado que ele se sen-
tia um queijo provolone quando o abotoa-
va”, conta a escritora e acadêmica Ana 
Maria Machado.#
A adoção da roupa com louros doura-
dos foi iniciativa do jornalista e escritor 
Medeiros e Albuquerque, com o propósi-
to de deixar a $%& mais parecida com seu 
modelo, a Academia Francesa. Em mais 
uma inconfidência nas sessões da acade-
mia brasileira, o romancista Josué Mon-
tello contou aos colegas, em 1993, que 
Medeiros e Albuquerque tinha razões 
ocultas para imitar os franceses: funcio-
nários da alfândega brasileira confun-
diam o fardão com o traje de gala usado 
por diplomatas e assim liberavam o ilustre 
passageiro sem revista de bagagem. “As 
coisas dele passavam tranquilamente”, 
disse Montello. Até onde se sabe, não ha-
via tesouros das arábias entre essas coisas.#
Em 1977, com a eleição de Rachel de 
Queiroz, primeira mulher a entrar na 
$%&, foi necessário criar uma versão femi-
nina do fardão. Foi adotado um vesti-
do longo com bordado em torno da gola. 
O modelo seria substituído, em 2010, por 
um parecido com o dos homens, dese-
nhado pelo estilista Guilherme Guima-
rães. A troca não foi pacífica. “Fui voto 
vencido”, lamenta Ana Maria Machado, 
que considera o vestido mais leve e fres-
co.#Novos imortais elogiam o traje assina-
do por Pies. Gilberto Gil afirmou que o 
considera elegante; Ruy Castro disse que 
ele é “muito confortável”. Para o roman-
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cista Godofredo de Oliveira Neto, o traje 
é “supercaprichado e bem cortado”.
Em seu ateliê com vista para a !"# – 
fica a 120 passos do Petit Trianon, sede 
da instituição, no Centro do Rio –, cer-
cado de ternos em produção e de fotos 
ao lado de acadêmicos, Diógenes Car-
doso admite ter ficado surpreso – mas 
não magoado – com a adoção do mode-
lo concorrente. Faz questão de lembrar 
que, no ano passado, foi dele a roupa que 
o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho 
vestiu na posse. Numa das prateleiras de 
seu local de trabalho, repousam três pe-
ças de gabardine verde-escuras, material 
para a confecção de três fardões. “Se eles 
vierem...”, suspira o alfaiate, sonhando 
com os próximos imortais. J
Fernando Molica
MODA, CÓPIA E TRETA
Estilista monta coleção 
de barracos judiciais
Nati Vozza é um fenômeno. Paulista de Campinas, ela foi uma pioneira dos blogs de moda, com o Glam-
4You. Linda e bem articulada, tornou-se 
uma das primeiras influenciadoras a 
criar a própria grife, em parceria com 
Antonio Junqueira, seu marido na épo-
ca. Lançada em 2012 como by$% e hoje 
chamada apenas $%, a marca faz roupas 
para mulheres ricas. Em 2020, foi adqui-
rida por 210 milhões de reais pelo Grupo 
Soma, um dos maiores conglomerados 
de moda do Brasil – Animale, Farm e 
Hering estão em seu portfólio. 
Hoje divorciados, Vozza e Junqueira 
seguem no comando da $%, que alcançou 
uma receita bruta de 381,4 milhões de 
reais em 2022, um crescimento de 38,1% 
em relação ao ano anterior. A grife tem 
dezesseis lojas próprias, vende suas peças 
online e está nas prateleiras de noventa 
lojas multimarcas em todo o Brasil.
Enquanto isso, com 1,4 milhões de 
seguidores no Instagram e 320 mil no 
TikTok, a criadora da $% suscita contro-
vérsia nas redes. Suas brigas com outras 
influenciadoras foram parar no Judiciá-
rio, em três processos rumorosos. 
Num recente vídeo promocional da $%, a influenciadora Mônica Salga-do ironizou grifes que recorrem ao 
“ativismo” para “se legitimar”. Pegou 
mal: o Grupo Soma vangloria-se de plan-
tar mil árvores por dia. Na surdina, a em-
presa fez a peça publicitária com Salgado 
sumir das redes sociais. Uma diretora do 
Soma disse no Instagram que o vídeo 
“não reflete os valores do grupo”. 
Vozza engoliu a reprimenda em silên-
cio, o que não é do seu feitio – como 
bem sabe a publicitária Camila Toledo, 
da conta “Camila Fashion Tips”, com 
66 mil seguidores no Instagram. Em 
março, Toledo cotejou vestidos do esti-
lista Reinaldo Lourenço com peças pa-
recidas do norte-americano LaQuan 
Smith e da marca italiana Bottega Vene-
ta. Antes disso, apontou cópias de outras 
grifes estrangeiras feitas pelas brasileiras 
Skazi, Agilitá, Iorane – e $%. “Ela come-
çou copiando muito a Cris Barros, grife 
que também faz parte do Grupo Soma”, 
diz Toledo, sobre Vozza. “Mas adora Isa-
bel Marant, Courrèges, Givenchy...” 
Em 2020, Vozza entrou na Justiça 
com um pedido para que Toledo não 
mais citasse o seu nome e sua grife. O juiz 
Guilherme Ferreira da Cruz acatou as 
acusações, afirmando que houve “uso in-
devido do nome, da imagem e da voz” da 
estilista. A decisão foi reformada em uma 
instância superior, mas ficou mantido o 
veto à citação do nome de Vozza e de sua 
marca. Para driblar a ordem judicial, To-
ledo se refere à $% como byXerox. 
A disputa aguarda julgamento de re-
curso pelo &'(. “Uma influenciadora 
com milhões de seguidores, que faz da 
exposição de sua vida uma forma de 
gerar valor de mercado para a sua em-
presa, pode não querer ser alvo de críti-
cas?”, questiona a advogada Letícia 
Soster Arrosi, que representa Toledo. 
A defesa de Vozza diz que Toledo abu-
sou da liberdade de expressão. “Camila 
chegou a fazer 84 postagens em dois 
meses contra a marca e a pessoa física 
da Nati, usando termos pejorativos, 
como Raivozza e Trevozza”, diz a advo-
gada Priscila Cortez de Carvalho.
Formada em farmácia, Priscilla Re-
zende chacoalhou a internet entre os 
anos de 2011 e 2013, depois que criou o 
blog Blogueira Shame para revelar os bas-
tidores de uma profissão que ainda estava 
no berçário: a de influenciadora. “As me-
ninas faturavam alto com publicidade, 
fingindo estar dando dicas de amigas para 
as suas seguidoras”, conta Rezende, que 
na época não revelava a sua identidade.
O Blogueira Shame atingia entre 2 e 
3 milhões de visualizações por mês. Ta-
manha repercussão fez com que fosse 
responsável pela primeira autuação do 
Conselho de Autorregulamentação Pu-
blicitária (Conar) sobre publicidade di-
gital no Brasil, em 2012. Revelou que a 
Sephora tinha contratado as blogueiras 
Lala Rudge, Mariah Bernardes e Thás-
sia Naves para fazerem anúncio velado 
de um delineador da Yves Saint Lau-
rent. O caso ficou conhecido ironica-
mente como “mensalão da moda”. 
Rezende interrompeu o blog algum 
tempo depois,mas em 2020, quando es-
tava em quarentena no sítio de sua famí-
lia em Minas Gerais, resolveu criar uma 
conta no Instagram chamada “Desin.
Fluencer”, abordando o universo das in-
fluenciadoras. A fim de fazer uma grana, 
ela passou a cobrar de seguidores que 
quisessem fazer parte de seus “melhores 
amigos”, recurso do Instagram Stories 
para mostrar postagens a pessoas selecio-
nadas. Só que publicou ali intimidades 
sobre o divórcio de Vozza, usando termos 
chulos, e a mensagem vazou do grupo 
exclusivo. “Eu estava nervosa com a pan-
demia”, justifica-se Rezende. A criadora 
do $% apelou à Justiça, e Rezende foi 
condenada a pagar 40 mil reais (em valo-
res atuais). No fim de 2021, o Instagram 
tirou o “Desin.Fluencer” do ar, por su-
postamente infringir suas regras. Rezen-
de briga na Justiça para reativar o perfil.
Jéssica Belcost, mais uma influencia-
dora do Instagram, com 592 mil seguido-
res, comprou por 3 mil reais uma calça de 
couro da $% e desconfiou do material 
depois que um passante do cinto se sol-
tou. Resolveu falar disso na rede e acabou 
processada por Vozza. 
Uma perícia judicial atestou que a par-
te externa da calça era feita de couro, mas 
a interna, de elastano. Pelo uso da palavra 
“falso” em uma postagem sobre a calça, 
Belcost foi condenada a pagar 5 mil reais 
de indenização. O caso aguarda julga-
mento em segunda instância. Em contra-
partida, Toledo e Belcost processaram 
Vozza por danos morais, mas perderam. 
No Reclame Aqui, plataforma criada 
para consumidores relatarem problemas, 
a $% consta na categoria “não recomen-
dada”. De quarenta reclamações entre 
outubro de 2022 e março deste ano, ne-
nhuma foi respondida pela grife.
 
N ati Vozza ainda encontra tempo para cultivar haters com posta-gens descalibradas, devido ao seu 
comportamento. Ao elogiar a eficácia 
de um bronzeador, ela afirmou ter mu-
dado de “raça”. Durante a pandemia, 
questionou a rapidez com que foi cria-
da a vacina contra a Covid e disse que 
o lockdown iria “matar mais do que o ví-
rus”. Também precisou pedir desculpas 
por ter relacionado marcas que esta-
riam copiando as suas peças com “fá-
bricas de chão sujo” do bairro do Bom 
Retiro, em São Paulo.
Para a advogada de Vozza, não con-
cordar com determinado posiciona-
mento político não dá direito a ninguém 
de fazer ataques pessoais. “O argumen-
to de que, por ser uma pessoa pública, 
pode ser xingada não tem cabimento.” 
Vozza em nenhum processo contes-
tou o fato de ser acusada de copiar esti-
listas estrangeiros. “Esse não é o objeto 
dos processos. Coincidências podem 
acontecer, e a moda está cheia disso”, 
diz a advogada. Camila Toledo rebate: 
“Qual é a diferença entre as roupas 
vendidas pela Shein e as dela [Vozza], 
que faz peças parecidas, só que custan-
do 1 mil reais?” J
João Batista Jr.
OUTRO OURO NEGRO
A arte em argila de Caruaru 
está em perigo
N o princípio era o barro. Foi graças ao solo rico que o Alto do Moura, bairro de Caruaru, ci-
dade do agreste pernambucano, come-
çou a ser povoado. Por volta de 1900, 
agricultores de regiões vizinhas foram 
atraídos por sua terra fértil banhada pelo 
Rio Ipojuca. O local abrigava também 
uma abundante jazida da argila e, com o 
tempo, esse material levou os moradores 
a trocarem a agricultura pelo artesanato. 
O amontoado de ruas ficou conhecido 
como “Terra dos Ceramistas” e foi lá que 
viveram os mestres Vitalino (1909-63) e 
Galdino (1929-96), precursores das artes 
figurativas em barro no Brasil. 
Logo na entrada do bairro, um por-
tal exibe o seu título principal, conferi-
do pe la Unesco: “Bem-vindo ao Alto do 
Moura, o maior centro de artes figura-
tivas das Américas.” As ruas calmas são 
repletas de ateliês. Pelas portas e janelas 
abertas se vê as mais diversas figuras de 
cerâmica dispostas em mesas, cadeiras 
e pranchas: casinhas e igrejas, bois e cães, 
lavradores, músicos e trabalhadores com 
roupas de padrões geométricos multico-
loridos. De acordo com a Associação 
dos Artesãos em Barro e Moradores do 
Alto do Moura (Abmam), cerca de oito-
centos ceramistas vivem atualmente da 
tradição do barro, passada de geração 
a geração. 
Para a modelagem de peças nas mais variadas dimensões –)desde figuras minúsculas cujos detalhes só se en-
xerga com lupa até figuras humanas em 
tamanho natural –, o barro precisa ter 
características específicas, como as en-
contradas nas margens do Rio Ipojuca. 
Essas jazidas locais, porém, estão quase 
esgotadas, de acordo com uma análise do 
geógrafo Laudenor Pereira da Silva.
Não foi o artesanato que as exauriu: 
olarias da área utilizam a argila dos ter-
renos para produzir telhas e tijolos des-
de os anos 1950. Houve épocas em que 
essas empresas até proibiram os arte-
sãos de terem acesso a sua matéria-pri-
ma – que devido à cor escura, recebeu 
o epíteto de “ouro negro” (normalmen-
te associado ao petróleo).
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Proveniente de fenômenos geológicos 
que duram milhares de anos, o barro só 
pode ser encontrado em partes da mar-
gem do rio. Até hoje, três reservas foram 
utilizadas pelos moradores do Alto do 
Moura. A primeira, comprada pelo gover-
no do estado, foi cedida para a comunida-
de de artesãos em 1981. O esgotamento da 
área ocorreu rapidamente, antes da libera-
ção da segunda jazida, adquirida em 1985 
e que acabou por volta de 2007. No mes-
mo ano, o governo comprou a atual reser-
va, de 4 hectares, também doada aos 
artesãos. Contudo, segundo relatos dos 
moradores, não há nenhuma proteção da 
jazida. Como sua porteira e suas cercas 
estão quebradas, qualquer um consegue 
ter acesso ao local, inclusive as olarias. 
Acredita-se que a argila dessa terceira 
jazida vá durar pouco mais de vinte anos 
– o que precisa ser confirmado por novos 
estudos geológicos. Mas os artesãos di-
zem que a situação é pior.!“Se retirásse-
mos só da área que pertence à associação, 
o barro já tinha acabado há muito tem-
po”, diz o artesão Helton Rodrigues, presi-
dente da Abmam. “Hoje em dia, tiramos 
só 10% do que utilizamos dessa jazida. 
Os outros 90% vêm de terrenos particu-
lares [à beira do Rio Ipojuca], mas a qua-
lidade é duvidosa.” A falta de estudos 
sobre o solo da região dificulta a desco-
berta de outras reservas que podem exis-
tir nos 320 km de percurso do rio.
Atendendo à reivindicação dos mora-
dores e da associação, a Prefeitura de 
Caruaru anunciou, no ano passado, a 
compra de um terreno que seria destina-
do à extração do barro. Mas até agora só 
existe a promessa da então prefeita Ra-
quel Lyra ("#$%), hoje governadora de 
Pernambuco. A doação ainda não foi 
oficializada, e os oitocentos artesãos, 
cuja renda depende inteiramente do 
barro, estão entregues à própria sorte.
Discípula e afilhada de Mestre Galdi-no, Cleonice Otília, de 65 anos, não acredita na sorte. Conhecida como 
Nicinha, a artesã começou a moldar o bar-
ro ainda criança, para ajudar no apertado 
orçamento da família. Foi graças ao barro 
que pôde comprar sua casa e sustentar seu 
filho após a morte precoce do marido. 
“O diploma que eu tenho é o bolo de 
barro. O meu ouro negro. A minha caneta 
sem bico”, recita Nicinha, que estudou até 
a quarta série e é poeta. No ano de 2021, 
ela teve um poema publicado pela primei-
ra vez, em uma coletânea intitulada Asas 
da Palavra do País de Caruaru. Agora está 
trabalhando em seu próprio livro. “Não 
aprendi a ler na escola, mas, através da 
arte do barro, até poesia eu faço”, diz. Suas 
esculturas de formas alongadas e imagina-
tivas quase sempre vêm acompanhadas de 
poemas que as explicam e reinventam.!
Mestre Galdino, Edvard Munch e Fri-
da Kahlo são alguns dos artistas que inspi-
ram Nicinha, além, é claro, de suas 
companheiras artesãs do Alto do Moura. 
Líder nata, ela fundou o grupo de mulhe-
res Flor do Barro, que realiza cursos e ofi-
cinas sobre a arte ceramista para as novas 
gerações. O grupo já recebeu importantes 
distinções estaduais, como o Prêmio Aria-
no Suassuna de Cultura Popular e Dra-
maturgia, em 2019, e o PrêmioCulturas 
Populares, em 2018. Na luta pelo reco-
nhecimento do trabalho feminino, o Flor 
do Barro protesta contra o fato de, quase 
sempre, somente homens serem reconhe-
cidos pelo título de mestre artesão. 
Tudo o que Nicinha construiu até 
hoje veio da intimidade entre suas mãos 
e o “ouro negro”. “A gente sobrevive da 
arte do barro. Precisamos saber quanto 
tempo ainda temos, e precisamos princi-
palmente de uma nova jazida, com estu-
dos que comprovem se ela é boa ou não”, 
diz. “Para que nossa arte não morra, pre-
cisamos ter o que deixar para as próximas 
gerações.” Esse é o único momento em 
que o rosto de Nicinha, cheio de peque-
nas rugas que atestam suas muitas risa-
das, deixa a tristeza transparecer. J
Maria Júlia Vieira
UM SÉCULO SOB O SOL
Atriz de Vidas Secas, 
Maria Ribeiro faz 100 anos
Aquela mulher que se arrasta pelo ser-tão no filme Vidas Secas, carregando o filho mais novo e com um baú de 
folha na cabeça, completou cem voltas ao 
redor do Sol no último dia 25 de março. 
Ela hoje mora em Genebra, na Suíça, mas 
nasceu cercada pela Caatinga, paisagem 
do livro de Graciliano Ramos e do filme 
homônimo de Nelson Pereira dos Santos. 
Seu povoado natal, Boqueirão, no municí-
pio baiano de Sento Sé, foi inundado nos 
anos 1970 para a criação do lago da barra-
gem de Sobradinho. No lugarejo hoje sub-
merso, começou o enredo singular que é 
a vida centenária da atriz Maria Ribeiro 
(no registro civil, Maria Ramos da Silva). 
Caçula de uma família de sete ir-
mãos, Ribeiro conta que tinha só 3 anos 
quando deixou Boqueirão, onde os pais 
eram trabalhadores rurais. Foi viver em 
Juazeiro, na Bahia, e depois em Pirapo-
ra, em Minas Gerais, com um casal de 
tios mineiros que cuidaria dela até a ida-
de adulta. Quando tinha 15 anos, mu-
dou-se com eles para o Rio de Janeiro. 
No Rio, trabalhou em fábricas e tipo-
grafias, até se fixar na Líder Cine La-
boratórios, onde chegou a chefe de 
expedição. A empresa fazia revelação de 
filmes e tinha entre seus clientes os jo-
vens diretores que criariam o Cinema 
Novo. “Eles me entregavam o filme para 
revelar, e eu entregava o copião. Tinham 
mais contato comigo do que com o dono 
do laboratório”, lembra Ribeiro. 
Ela nunca pensara em ser atriz, mas, 
aproximando-se dos 40 anos no início dos 
anos 1960, foi convidada por Pereira do 
Santos, durante um intervalo de almoço 
na Líder, para interpretar Sinha Vitória em 
Vidas Secas, o quinto longa-metragem do 
diretor (a tendência de buscar amadores 
para papéis centrais ganhou força no Ci-
nema Novo). “Nelson, peça tudo, menos 
isso”, disse ela. Mas ele estava convicto de 
ter encontrado nos traços e na firmeza da 
funcionária os atributos ideais para a com-
panheira do retirante Fabiano, persona-
gem de Átila Iório, ator já experiente. 
Ela cedeu à insistência do diretor. Os 
quatro sócios da Líder relutaram em libe-
rar sua funcionária, mas foram convenci-
dos por um dos produtores do filme, 
Herbert Richers, cliente assíduo do labora-
tório. Para não confundirem o sobrenome 
Ramos de Maria com o do escritor Graci-
liano, o dela foi mudado para Ribeiro. 
A s filmagens em Palmeira dos Ín-dios, no agreste alagoano, cidade onde Graciliano Ramos foi prefei-
to, duraram quatro meses. A equipe mo-
rou em um alojamento improvisado. 
“Como o filme era muito pobre, não 
tinha uma tenda no set para proteger do 
Sol”, conta Ribeiro à piauí, por telefone. 
“Eu me cobria com uma toalha de ba-
nho e ficava acocorada embaixo de um 
pé de catingueira esperando a minha 
vez de entrar em cena.” 
Houve outros desafios. Um deles foi a 
cena em que Sinha Vitória mata o papa-
gaio de estimação para comer. Ribeiro 
relembrou certa vez como a sequência foi 
feita: “Eu, os meninos e Fabiano comendo 
raiz seca com um restinho de farinha. E o 
papagaio em cima do baú, zanzando pra 
lá e pra cá. Quando Nelson disse: ‘Cena!’, 
eu fiquei tão assombrada que peguei o 
papagaio pelo pescoço e apertei, torcendo 
e não torcendo ao mesmo tempo para não 
matar. Nelson ficou apavorado e disse: 
‘Corta!’ Joguei o papagaio pra lá e ele caiu 
se debatendo. Pegaram, molharam e o 
descarado viveu. Ficou um dia tristinho, 
mas depois caiu na malandragem.” 
Lançado em 1963, Vidas Secas foi 
exibido no ano seguinte no Festival de 
Cannes, onde ganhou o prêmio da Orga-
nização Católica Internacional do Cine-
ma (Ocic). Lá, despertou preocupação 
com outro animal: uma condessa italiana 
acionou a Sociedade Protetora dos Ani-
mais para protestar contra o sacrifício da 
cadela Baleia. A reclamação foi tão vee-
mente que a Air France se dispôs a levar 
Baleia a Cannes, para provar que sua 
morte fora só encenação. Ao que consta, 
a cadelinha desfilou no festival toda facei-
ra, com um traje de gala azul- marinho e 
uma camélia branca. “Eu não fui a Can-
nes, mas Baleia foi”, diz Ribeiro. 
Em 1965, a agora atriz profissional iria 
a Cannes com A Hora e a Vez de Augusto 
Matraga, de Roberto Santos, no qual ela 
fez o papel de Dionóra. A essa altura, já 
havia deixado o emprego no laboratório. 
Na sequência, trabalhou em Os Herdeiros 
(1970), de Cacá Diegues; Soledade – A Ba-
gaceira (1976), de Paulo Thiago; Perdida 
(1974), de Carlos Alberto Prates Correa, e 
As Tranças de Maria (2003), de Pedro Car-
los Rovai. Ela conta que teve ainda uma 
curta passagem pela tevê, em O Rei do 
Gado (1996), da Rede Globo, mas suas 
cenas teriam sido cortadas na edição final. 
Com Nelson Pereira dos Santos, fez 
mais dois filmes: O Amuleto de Ogum 
(1974) e A Terceira Margem do Rio (1994). 
“Meu relacionamento com ele era mara-
vilhoso e vinha do laboratório, quando 
apresentou os primeiros filmes, sempre 
muito tímido, acanhado. Senti muito a 
morte dele”, diz. O diretor de Vidas Se-
cas morreu em abril de 2018. 
M aria Ribeiro vive em Genebra desde 2010. Foi sua filha única, Wilma Lindomar da Silva, que 
mora na Suíça há quase quarenta anos, 
quem a convenceu a se mudar para a 
cidade. A atriz sofreu um acidente vas-
cular cerebral (&'() em 2020. Com vi-
são e locomoção prejudicadas, ela hoje 
reside em uma casa de repouso para 
idosos, a Résidence Poterie. 
Foi lá que a Prefeitura de Genebra ce-
lebrou o centenário de Ribeiro, com a 
apresentação de um casal de dançarinos 
brasileiros e a entrega de um buquê de flo-
res amarelas. Em abril, a família estava 
organizando uma breve viagem da atriz ao 
Brasil, entre o final deste mês e o início de 
junho. Ela desejava rever seus familiares.
Forte como as personagens que costu-
mava interpretar, Ribeiro diz que a morte 
não a assusta. “Já comprei minha mortalha 
tem mais de 25 anos, em Roma. De vez 
em quando tem que lavar, porque vai ama-
relando”, conta. Ela até já planejou como 
será sua lápide no cemitério de Sobradi-
nho, no interior da Bahia. Haverá uma foto 
sua, com chapéu de palha e sorriso radian-
te, perto deste epitáfio: “Maria Ribeiro: 
atriz da tevê e do cinema brasileiro.” J
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Já nas livrarias
todavialivros.com.br 
O novo romance de 
Itamar Vieira Junior, 
autor de Torto Arado
Prepare-se para uma 
nova incursão na alma 
do povo brasileiro.
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fez 60 anos em janeiro, e Gomes comple-
tará a mesma idade em dezembro.
Feito o gracejo, o empresário foi à 
substância do seu discurso. Lamentou o 
declínio da indústria brasileira, reclamou 
dos impostos e criticou as taxas de juros. 
Segundo seu diagnóstico, o setor perdeu 
relevância econômica porque sucessivos 
governos adotaram políticas que extraem 
com tributos a maior parte da riqueza 
produzida pelas fábricas e encarecem 
excessivamente os custos de financia-
mento, a tal ponto que inviabilizam in-
vestimentos na produção. “O Brasil foi 
criando condições extremamente inóspi-
tas para o desenvolvimento da atividade 
da indústria de transformação”, disse.
A seguir, tratou da reforma tributária. 
As indústrias acreditam que as propostas 
em discussão no Congresso podem be-
neficiar seus negócios,e Gomes expres-
sou simpatia por elas. Como a votação 
ainda deve demorar, ele aproveitou a 
visita de Haddad para adiantar dois pe-
didos. Primeiro, criar um benefício es-
pecial que permita às indústrias deduzir 
mais rapidamente dos seus lucros gastos 
com máquinas e investimentos em no-
vas instalações, abatendo assim os im-
postos que são calculados sobre seus 
ganhos. Depois, zerar imediatamente o 
Imposto sobre Produtos Industrializados 
(!"!), principal tributo federal incidente 
sobre as vendas do setor. 
Vários produtos, inclusive do setor têx-
til, já têm o !"! zerado atualmente. O ou-
tro incentivo sugerido por Gomes já existe 
para certas despesas, como os investi-
mentos das indústrias em pesquisa e de-
senvolvimento tecnológico. Ampliar esses 
benefícios significaria perda imediata de 
arrecadação para o governo, sem garantia 
de compensação no futuro. Imaginando a 
resposta do ministro aos pedidos, Gomes 
encerrou sua fala com uma mensagem 
tranquilizadora: “Pode ter certeza que a 
indústria de transformação vai responder. 
Todas as experiências de redução de tribu-
tos para a indústria resultaram, na verda-
de, num aumento de arrecadação.”
Ao tomar a palavra, Haddad ignorou 
os dois pedidos de Gomes. Preferiu des-
tacar os pilares da sua estratégia para tirar 
a economia do marasmo: uma reforma 
tributária ampla, nos moldes das propos-
tas que o Congresso começou a debater 
em 2019, e um plano para equilibrar as 
contas do governo nos próximos anos, 
projeto que àquela altura ainda era obje-
to de estudo. O ministro estava entusias-
mado com os encontros que tivera no 
convescote anual do Fórum Econômico 
Mundial, em Davos, na Suíça, dias antes. 
Contou aos empresários ter notado gran-
de interesse dos investidores estrangei-
ros pelo Brasil e previu o surgimento, em 
breve, de oportunidades vantajosas para 
o país e suas indústrias.
Os microfones foram então abertos 
para os empresários na plateia. A primei-
ra alfinetada veio de Pedro Evangelinos, 
presidente do Sindicato da Indústria de 
Refrigeração, Aquecimento e Tratamen-
to de Ar do Estado de São Paulo. O em-
presário criticou a sugestão feita por 
Gomes. Como somente 2% das indús-
trias brasileiras têm ganhos tributados 
conforme o lucro contábil, apenas elas, 
as maiores empresas do país, poderiam 
aproveitar o benefício proposto pelo pre-
sidente da Fiesp. “Seria importante pen-
sar naquilo que pode ajudar os outros”, 
disse Evangelinos. Segundo a Receita 
Federal, 93% das indústrias brasileiras 
são de pequeno porte e se enquadram 
nas regras do Simples, e por isso não te-
riam como aproveitar o incentivo. 
Evangelinos é filho de um imigrante 
grego que veio para o Brasil após a Se-
gunda Guerra Mundial e começou a 
produzir componentes para aparelhos de 
refrigeração em São Paulo na década 
de 1970. O negócio prosperou até que, 
no ano 2000, um concorrente norte- 
americano comprou a empresa da famí-
lia e fechou a fábrica no Brasil. Cinco 
anos depois, Pedro e o irmão, Yanis, 
decidiram retomar as atividades. Cons-
tataram que não poderiam competir se 
produzissem no país e resolveram então 
se associar a um fabricante na China, de 
onde importam os produtos quase pron-
Q
uando o empresário Josué 
Christiano Gomes da Silva 
chegou ao salão nobre da Fe-
deração das Indústrias do Esta-
do de São Paulo, em 30 de 
janeiro, o local já estava lotado. No cami-
nho até a mesa principal, o presidente da 
Fiesp foi cercado por dirigentes de sindi-
catos associados à entidade, que faziam 
questão de cumprimentá-lo. Assim que 
os salamaleques terminaram, Gomes se 
aproximou da mesa, onde o esperavam 
de pé o ministro da Fazenda, Fernando 
Haddad, e outros convidados. Todos sen-
taram nos lugares indicados com seus 
nomes, e Gomes deu início aos trabalhos 
da última reunião da diretoria da Fiesp 
prevista no calendário de janeiro.
Ele começou contando como conhe-
ceu o ministro, empossado havia quatro 
semanas apenas. O encontro ocorreu dé-
cadas atrás, quando Gomes visitou a loja 
do pai de Haddad, cliente da indústria 
têxtil de sua família, a Companhia de Te-
cidos Norte de Minas (Coteminas). Khalil 
Haddad tinha negócios numa área de co-
mércio popular no Centro de São Paulo, 
a cujos lojistas o pai do empresário, José 
Alencar Gomes da Silva, vendia tecidos. 
Do jovem Fernando Haddad, o presidente 
da Fiesp guardou a lembrança de um ne-
gociador difícil: “Como comprador, ele 
judiava da gente brutalmente, porque 
sempre queria pagar mais baixo.” Haddad 
questões patronais
Como os industriais paulistas, após longo namoro com o bolsonarismo, se reaproximaram do PT
RICARDO BALTHAZAR
 
O BAILE DA FIESP
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tos para vender no mercado nacional 
com a marca !"# Brasil. Os irmãos tra-
zem uma fatia equivalente a apenas 6% 
da produção da fábrica chinesa. 
Na reunião da Fiesp, o ministro da 
Fazenda ouviu mais uma dúzia de per-
guntas e desviou das cascas de banana até 
o fim, mantendo o foco nas suas priorida-
des. Acrescentou que não tem planos de 
mexer agora nas regras do Simples, o pro-
grama que reduz impostos para empresas 
de pequeno porte, mas sugeriu que pode-
rá ser reavaliado no futuro. “A reforma 
tributária pode ajudar muito, muito”, in-
sistiu. Antes de encerrar o encontro, Go-
mes disse que as primeiras iniciativas do 
ministro mereciam aplausos e ofereceu 
seu apoio. “Conte com a indústria do Bra-
sil, com a indústria de São Paulo, e acre-
dite na indústria”, disse. E convidou todos 
para almoçar no restaurante no topo do 
edifício da Fiesp.
A presença de Haddad na sede da Fiesp teve significado especial pa-ra Gomes. Poucos dias antes, o 
salão nobre da entidade servira de palco 
para cenas de opereta, no auge de uma 
crise interna que deixara o empresário 
pendurado por um fio no comando da 
federação. A visita da maior autoridade 
econômica do país era uma maneira de 
demonstrar o prestígio político de Go-
mes e sua capacidade de diálogo com o 
novo governo, neutralizando assim os 
dissidentes que haviam tentado derru-
bá-lo. Para oferecer solidariedade a ele, 
dirigentes das federações industriais do 
Rio de Janeiro, de Minas Gerais e da 
Bahia também se deslocaram até São 
Paulo para a reunião de 30 de janeiro.
Com o mesmo objetivo, o vice-presi-
dente Geraldo Alckmin, que acumula as 
funções de ministro do Desenvolvimen-
to, Indústria, Comércio e Serviços, havia 
visitado a Fiesp dias antes, em 16 de ja-
neiro. Recém-empossado, ele ainda não 
completara a montagem de sua equipe e 
não tinha anúncio algum a fazer aos in-
dustriais. Entreteve a plateia com anedo-
tas de seus tempos como governador do 
estado de São Paulo e prefeito de Pinda-
monhangaba e disse que estava na Fiesp 
para colher sugestões. Ficou para o al-
moço e ouviu várias. Segundo um dos 
empresários que passaram pela mesa do 
vice-presidente, ele anotava os pedidos 
dos industriais no verso dos cartões de 
visita que lhe entregavam.
Um dos que conseguiram reter a 
atenção de Alckmin foi o presidente exe-
cutivo da Associação Nacional da Indús-
tria de Pneumáticos, Klaus Curt Müller. 
Ele queria reclamar de uma medida 
tomada no início de 2021 pelo governo 
Jair Bolsonaro, que zerou as tarifas de 
importação de pneus para cargas pesa-
das, com a alegação de que havia escas-
sez do produto no mercado nacional. 
Pneus feitos na China, no Vietnã e em 
outros países asiáticos passaram a entrar 
no Brasil livres da taxa de 16% que pa-
gavam antes, e as vendas das indústrias 
brasileiras despencaram. O vice-presi-
dente ouviu, anotou e ficou de analisar.
Assim que Alckmin foi embora, teve 
início uma assembleia convocada a pe-
dido dos desafetos de Gomes com o ob-
jetivo de destituir o empresário da 
presidência da entidade. Foram horas de 
tumulto, que terminaram no início da 
noite com a deposição de Gomes, apro-
vada por 47 representantes dos 131 sindi-
catos que compõem a Fiesp. Seguiram-se 
dias de indefinição sobre o futuro da 
organização patronal, até que osgrupos 
em conflito resolveram se encontrar 
para negociar um acordo. Celebrada a 
paz, anunciada por notas oficiais lacôni-
cas, Gomes pôde voltar a ocupar sua sala 
na Fiesp sem medo de ser despejado.
A aproximação com o novo governo 
ajudou o industrial a vencer a oposição 
interna. Pragmáticos, os industriais não 
têm interesse em criar uma relação 
conflituosa com os petistas, o que po-
deria obstruir seu acesso aos corredores 
de Brasília onde suas reivindicações são 
discutidas. No entorno de Lula tam-
bém não há ninguém interessado em 
ter no comando da Fiesp um adversário 
do governo, ainda que a entidade tenha 
perdido muito da influência de outros 
tempos. Dois dias após a destituição de 
Gomes, o presidente Luiz Inácio Lula 
da Silva fez questão de telefonar ao em-
presário para se solidarizar.
Gomes logo se posicionou como fiel 
escudeiro de Lula. No auge do confronto 
do presidente da República com o presi-
dente do Banco Central ($#), Roberto 
Campos Neto, por causa das altas taxas de 
juros, o industrial não hesitou. Em março, 
o governador de São Paulo, Tarcísio de 
Freitas, ex-ministro de Bolsonaro, disse na 
Fiesp que a gritaria contra os juros era 
contraproducente, por criar instabilidade 
nos mercados. Gomes respondeu que as 
taxas elevadas eram injustificáveis. Dias 
depois, ele ajudou a transformar um semi-
nário do Banco Nacional de Desenvolvi-
mento Econômico e Social ($%&'() em 
palco para os críticos da política monetá-
ria e ganhou aplausos ao classificar as ta-
xas fixadas pelo $# como “pornográficas”.
O Banco Central ignorou as pressões 
do governo e manteve a taxa básica de ju-
ros em 13,75%, nível em que está estacio-
nada desde agosto. É a taxa mais alta do 
mundo em termos reais, descontada a in-
flação. O $# diz que segurá-la nesse pata-
mar ajuda a conter os preços e que só vai 
afrouxar o torniquete quando o governo 
tiver um plano consistente para equilibrar 
suas contas. Gomes juntou-se aos que 
pensam que o $# e os tubarões do merca-
Lula e Josué Gomes, presidente da Fiesp: o caldo de insatisfação que borbulhava na entidade desde a posse do empresário transbordou quando ele aderiu à campanha em prol da democracia
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do financeiro exageram ao apontar o des-
controle orçamentário do governo como 
raiz das dificuldades que a economia atra-
vessa. Na sua concepção, qualquer esforço 
para reanimar a indústria e os negócios 
será inócuo se os juros não diminuírem.
Em 31 de março, Haddad chamou Go-
mes para lhe mostrar um esboço do seu 
plano fiscal, que tinha sido apresentado a 
jornalistas dias antes. A proposta cria re-
gras para conter o crescimento das despe-
sas do governo e evitar que continuem 
aumentando mais rapidamente do que as 
receitas. Na primeira reunião de diretoria 
da Fiesp em abril, Gomes sacou um peda-
ço de papel do bolso do paletó e disse que 
estavam registrados ali quatro compromis-
sos assumidos pelo ministro no encontro 
de fim de março. O empresário contou 
que Haddad prometeu implementar o be-
nefício fiscal defendido em janeiro pela 
Fiesp e lançar um programa de financia-
mentos subsidiados para a indústria, além 
de trabalhar pela reforma tributária e pela 
baixa dos juros. “Esse documento foi ini-
ciativa dele”, ressaltou Gomes, agitando o 
papel no ar. “Ele escreveu e ele assinou.” 
A distância, eram visíveis na folha de pa-
pel quatro linhas rabiscadas à mão e a as-
sinatura de Haddad. 
Gomes está no comando dos negó-cios de sua família desde que o pai se afastou das empresas para se 
dedicar à política. José Alencar foi sena-
dor por Minas Gerais, vice-presidente da 
República nos dois primeiros governos 
de Lula e ministro da Defesa por um 
breve período, entre 2004 e 2006. Mor-
reu em 2011, três meses após encerrar 
seu segundo mandato na Vice-Presidên-
cia. Alencar fundou a Coteminas em 
1967, em Montes Claros, e mais tarde 
expandiu suas atividades por fábricas no 
Rio Grande do Norte, na Paraíba e em 
Santa Catarina. A empresa produz len-
çóis, toalhas e outros artigos de cama, 
mesa e banho, além de fios e tecidos. No 
varejo, vende com três marcas próprias: 
Artex, mmartan e Casa Moysés. 
Em 2006, Gomes deu sua grande ta-
cada empresarial ao concluir uma fusão 
com a norte-americana Springs. A união 
resultou na formação da Springs Global, 
que é controlada pela Coteminas e ad-
ministra todas as atividades do grupo, 
incluindo nove fábricas no Brasil e uma 
na Argentina. Unidades industriais que 
funcionavam nos Estados Unidos foram 
fechadas, e suas máquinas transferidas 
para instalações no Brasil. A transação 
deu à Coteminas acesso a cadeias de va-
rejo no mercado norte-americano e for-
taleceu a musculatura da empresa 
brasileira para enfrentar o crescimento 
da avassaladora concorrência chinesa. 
Nos últimos anos, porém, a compa-
nhia vem acumulando prejuízos. Em 
2022, as perdas registradas até setembro 
somaram 466 milhões de reais, para re-
ceitas operacionais de 1,3 bilhão de reais, 
segundo as informações mais recentes da 
Coteminas. Seus custos subiram com os 
preços do algodão e do poliéster em alta. 
As vendas, que tinham aumentado du-
rante o isolamento imposto pelo combate 
à Covid, quando as pessoas passaram 
mais tempo dentro de casa, caíram quan-
do elas voltaram às ruas. A subida dos ju-
ros agravou a situação, fazendo estrago no 
balanço da empresa, que se endividou 
nos últimos tempos para desenvolver 
uma rede própria de varejo. “Uma tem-
pestade perfeita”, resumiu Gomes em 
agosto, em teleconferência 
com analistas do mercado. As 
ações da Coteminas despen-
caram, mas voltaram a desper-
tar interesse dos investidores 
no fim de abril, quando fechou um acor-
do com a varejista chinesa Shein que po-
derá ampliar o mercado para os seus 
produtos. Embora a Coteminas não te-
nha fábricas em São Paulo, ela mantém 
seus escritórios comerciais na capital pau-
lista há décadas e é filiada ao sindicato da 
indústria têxtil do estado.
Mineiro de Ubá, Gomes assumiu a 
presidência da Fiesp em janeiro de 2022, 
após vencer uma eleição em que sua cha-
pa era a única concorrente. O seu nome 
foi uma escolha pessoal do empresário 
Paulo Skaf, de 67 anos, que dirigiu a Fiesp 
por dezessete anos. Nesse longo domínio, 
Skaf promoveu sucessivas alterações nos 
estatutos da entidade para se manter no 
cargo e cogitou fazê-lo mais uma vez an-
tes de comunicar aos correligionários, no 
segundo semestre de 2020, que planejava 
sair. Não deu muitas explicações, dizendo 
apenas que queria encerrar o ciclo e se 
dedicar a negócios particulares. Mas sa-
bia-se que ele sonhava disputar as eleições 
para governador de São Paulo e apostava 
no apoio de Jair Bolsonaro para realizar 
suas ambições políticas e superar a frustra-
ção de três tentativas fracassadas de che-
gar ao Executivo do estado. 
Como outros dirigentes da federa-
ção, Skaf é um sem fábrica. Ele desati-
vou a tecelagem da família no início 
dos anos 2000, se desfez do maquinário 
e transformou as instalações num con-
domínio empresarial, alugando o espa-
ço para pequenas empresas. Pôde assim 
se dedicar exclusivamente à política 
empresarial, primeiro como presidente 
da Associação Brasileira da Indústria 
Têxtil e de Confecção (Abit) e, depois, 
da Fiesp. José Alencar foi um dos patro-
cinadores de sua candidatura à presi-
dência da federação, em 2004. Outros 
medalhões da indústria, como o presi-
dente da Companhia Siderúrgica Na-
cional, Benjamin Steinbruch, também 
apoiaram seus planos.
Em 2022, Skaf ajudou a montar a 
chapa de Gomes e organizou vários jan-
tares para apresentá-lo aos dirigentes dos 
sindicatos. Apesar de bem relacionado 
no meio, o dono da Coteminas conhecia 
poucos deles. O presidente da Associa-
ção Brasileira da Indústria do Plástico, 
José Ricardo Roriz Coelho, um ex-aliado 
de Skaf que se distanciou do dirigente com 
o tempo, organizou uma candidatura 
alternativa, mas falhas na documenta-
ção de dois apoiadores acabaram

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