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Teoria Geral dos Recursos A impugnação das decisões judiciais ● Razões: princípios do contraditório e ampla defesa, mecanismo de controle do exercício do poder jurisdicional, possibilidade de erro na decisão, aperfeiçoamento da atividade jurisdicional, inconformismo humano etc. Natureza jurídica dos recursos: ● São um direito fundamental exercitado em face do Estado-juiz com vistas à revisão, em sentido amplo, de uma dada decisão jurisdicional. ⤿ No plano dos recursos, não há novo pedido com vistas à concessão de tutela jurisdicional ou à sua negação. O que há, é um pedido para que o órgão jurisdicional competente aprecie, para anular, reformar ou integrar, uma decisão jurisdicional já proferida nos casos admitidos pelo sistema processual civil. Conceito de recurso: ● Recurso é remédio voluntário capaz de, dentro do mesmo processo, levar à reforma, à invalidação, à integração ou ao esclarecimento de uma decisão judicial. ⤿ Elementos importantes para a caracterização dos recursos: voluntariedade – é preciso que haja manifestação de vontade para recorrer –, a circunstância de o recurso desenvolver-se no mesmo processo – prolongamento da litispendência –, e suas finalidades: reformar, invalidar, esclarecer ou integrar decisões jurisdicionais. remédio técnica processual voluntário diferencia os recursos da remessa necessária dentro do mesmo processo diferencia os recursos da ação autônoma reforma ou invalidação impugnação da decisão integração ou esclarecimento embargos de declaração ● Taxatividade dos recursos: só é considerado recurso aquilo que a lei determina que o é: Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo de instrumento; III - agravo interno; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário; IX - embargos de divergência. ● Recursos vs. Ações autônomas vs. Sucedâneos recursais: ⤿ Os recursos não são os únicos mecanismos com a finalidade de impugnar decisões. ⤿ Os recursos permitem o questionamento de uma decisão judicial dentro do mesmo processo em que ela foi proferida. Já as ações autônomas, dão origem a um novo processo e uma nova relação processual, tratando-se de demanda distinta, com pedido, causa de pedir e partes próprias. Cita-se: a querela nullitatis insanabilis, o habeas corpus e o mandado de segurança contra ato judicial. Por fim, os sucedâneos recursais não são recursos ou ações autônomas, mas também permitem a impugnação de decisões judiciais, cita-se o pedido de reconsideração e a remessa necessária. Apelação Sentença e decisão interlocutória Agravo de instrumento Decisões interlocutórias Agravo interno Decisões monocráticas Embargos de declaração Qualquer decisão Recurso ordinário Acórdão Recurso especial Recurso extraordinário Agravo em recurso especial ou extraordinário Viabilizar o trânsito do recurso extraordinário ou especial inadmitido perante os Tribunais em que aqueles recursos são interpostos Embargos de divergência Viabilizar a uniformização da jurisprudência entre os órgãos fracionários que compõem o STF e o STJ Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos ● O direito ao recurso depende da análise de diversos elementos que têm como finalidade verificar não só a sua existência, mas também a regularidade de seu exercício ao longo do processo. ● Somente se preenchidos os pressupostos atinentes ao juízo de admissibilidade – reconhecendo-se, consequentemente, que o recorrente tem o direito de recorrer e que o exerceu e vem o exercendo devidamente – é que será possível passar ao juízo de mérito, voltado a saber se o recorrente tem, ou não, razão, isto é, se a decisão impugnada deve ou não prevalecer e em que medida. Juízo de admissibilidade: ● Reconhece-se a presença do direito de recorrer, se estão, ou não, presentes as exigências impostas pelo sistema processual civil para que o Estado-juiz possa examinar o inconformismo do recorrente. ● O órgão jurisdicional competente para o exercício do juízo de admissibilidade varia de acordo com a espécie recursal. ⤿ Recursos interpostos diretamente no juízo "ad quem": o juízo de admissibilidade é feito por ele. ⤿ Recursos interpostos no juízo "a quo": o juízo de admissibilidade pode ser feito pelo juízo ad quem ou pelo juízo a quo. ● Natureza declaratória do juízo de admissibilidade: a decisão que profere tem natureza eminentemente declaratória, reconhecendo estarem presentes (juízo positivo de admissibilidade: conhecimento do recurso) ou ausentes (juízo negativo de admissibilidade: não conhecimento do recurso) as exigências impostas pelo sistema processual civil. ⤿ Efeitos: ◦ Conhecimento do recurso→ substituição da decisão. Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso. ◦ Não conhecimento do recurso→ a decisão recorrida transita em julgado. ● Conteúdo: ⤿ Questões preliminares - a análise delas não integra o julgamento do mérito; permite ou não que o juízo de mérito seja realizado, podendo impedir o julgamento da questão dependente. ⤿ Questões de ordem pública - interesse público; podem ser reconhecidas de ofício e não estão sujeitas à preclusão. ● Classificação dos pressupostos de admissibilidade: não há unanimidade; José Carlos Barbosa Moreira divide-os em: requisitos intrínsecos – concernentes à existência do direito de recorrer: cabimento, legitimidade, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo – e requisitos extrínsecos – concernentes ao modo de exercício do direito de recorrer: tempestividade, regularidade formal e preparo. ● Pressupostos de admissibilidade: ⤿ Cabimento: recorribilidade da decisão + adequação. ◦ Princípio da unicidade recursal. ◦ Na medida em que o cabimento do recurso gerar dúvida doutrinária/jurisprudencial, deve ter incidência o princípio da fungibilidade. ⤿ Legitimidade: Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. ◦ Partes: mais que ser legitimada como um todo nos termos do art. 17, a legitimidade para recorrer depende que se trate da parte vencida. É necessário que haja prejuízo ocasionado pela decisão e que o recurso tenha aptidão para removê-lo. ⤿ Interesse: utilidade + necessidade. Prejuízo/gravame gerado pela decisão. ⤿ Tempestividade: observância ao prazo para interposição do recurso. ◦ Preclusão temporal: arts. 218 e 223. ◦ Prazo: 15 dias (ED - 5; RI - 10). ◦ Prazo em dobro: arts. 183, 186, 180, 229. ◦ Termo inicial do prazo: ciência inequívoca e intimação (art. 269), que pode ocorrer em audiência (art. 1003, § 1º), antes da citação (caso de liminar) (art. 1003, § 2º), por meio eletrônico (art. 270) ou pelo diário oficial (art. 272). Obs: conforme o art. 218, § 4º pode-se recorrer antes do início do prazo. ◦ Contagem dos prazos: dias úteis (art. 219); exclui-se o dia do começo (dia 0) (art. 224); Obs: feriados (art. 1003, § 6º). ⤿ Regularidade formal: todo recurso deve refletir concomitantemente o pedido do proferimento de nova decisão e estar estribado em razões pelas quais se pode verificar o porquê. ◦ Petição escrita, representada por advogado, fundamentada, com pedido etc. ⤿ Preparo: pagamento prévio e imediato a cargo do recorrente dos valores das custas processuais relativas ao processamento do recurso e, se for o caso, do porte de remessa e retorno dos autos. Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. § 2º A insuficiência no valor do preparo,inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias. § 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos. § 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção. § 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4º. § 6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. § 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias. ⤿ Inexistência de fato impeditivo ou extintivo: fatos externos ao recurso que, se presentes, tornam o recurso inadmissível (requisitos negativos). ◦ Renúncia: fato impeditivo do direito de recorrer; praticada antes da interposição do recurso; tradicionalmente, entende-se que a renúncia não pode ser prévia à decisão, pois é da decisão que surge o direito de recorrer (questão dos negócios jurídicos processuais – art. 190?). Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. ◦ Desistência: fato extintivo do direito de recorrer; manifestada após a interposição do recurso; a desistência pode ocorrer até o julgamento do recurso/proclamação do resultado (no caso de órgão colegiado); ato unilateral; não depende de homologação. Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. ◦ Aquiescência: ato impeditivo do direito de recorrer; aceitação da decisão; expressa ou tácita (exemplo de preclusão lógica; proibição do venire contra factum proprium) Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer. ⤿ Certificação da não interposição de recurso. Juízo de mérito: ● Deve ser entendido como o pedido que faz o recorrente ao órgão competente para julgamento do recurso. Verifica-se se o recorrente tem razão, se o seu inconformismo deve ou não ser acolhido, e, por isso, em que medida a decisão recorrida deve ser anulada, reformada ou integrada. ● O pedido recursal (a impugnação formulada no recurso interposto) formulado pelo recorrente é que provoca e delimita a atividade judicante do órgão ad quem. ● O exame do "mérito" que importa para o estudo dos recursos é a constatação do que o recorrente pretende com o seu recurso. Não sendo necessária a coincidência entre o "mérito recursal" e o "mérito do processo". ● São duas espécies de vícios que podem ensejar a interposição de um recurso: ⤿ Error in judicando: "vício de juízo"; o recorrente pretende que o órgão ad quem reexamine a decisão recorrida porque ela apreciou e aplicou mal o direito e/ou o fato no caso concreto. e essa circunstância enseja o proferimento de uma nova decisão, capaz de se impor à anterior, reformando-a. Em tais casos, o mérito do recurso é a obtenção de uma nova decisão a ser proferida, desde logo, pelo órgão competente para tanto, prevalecendo o entendimento do órgão ad quem sobre o tema, que a substitui. Reforma. ⤿ Error in procedendo: "vício de atividade"; significa que o recurso se volta a questionar não, propriamente, a decisão, em si mesma considerada, é dizer, a sua qualidade, mas o procedimento que foi observado até o seu proferimento; a decisão é, nesse sentido, formalmente e não materialmente errada. Anulação. ⤿ Nada há que impeça que o recorrente se volte a uma decisão questionando, ao mesmo tempo, vícios de atividade e de julgamento. Em tais casos, o exame dos errores in procedendo deve anteceder à avaliação dos errores in judicando porque aqueles, diferentemente destes, têm o condão de interferir na própria regularidade do processo e da subsistência formal da decisão recorrida. Se, contudo, rejeitadas as alegações do recorrente ou, a depender do vício levantado, caso seja possível, de imediato, a sua correção (arts. 932, parágrafo único, 933 e 938), o órgão ad quem passará ao exame dos demais vício, acolhendo-os ou rejeitando-os e, por conseguinte, reformando ou mantendo a decisão recorrida. ● Regra geral, a competência é o órgão ad quem. No entanto, em se tratando de juízo de retratação (agravo de instrumento, apelação - indeferimento da inicial, improcedência liminar do pedido e extinção sem resolução do mérito), a competência é do juízo a quo. Efeitos dos recursos Efeito devolutivo : ● Estudado a partir de dois ângulos: ⤿ Extensão (dimensão horizontal): relaciona-se com a ideia do que é e do que não é impugnado pelo recorrente. Trata-se da quantidade de matéria questionada em sede recursal e que será, consequentemente, apreciada pelo órgão ad quem→ tantum devolutum quantum appellatum: o objeto da "devolução" se vincula ao que foi objeto de impugnação pelo recorrente. Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso. Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. ◦ Exceção à regra geral: quando há relação de dependência entre os capítulos de uma decisão. Ainda que um capítulo não tenha sido impugnado, se entre ele e outro capítulo impugnado houver relação de dependência, haverá reanálise da matéria. ◦ Veda-se a reformatio in pejus. ◦ Só é devolvido ao tribunal aquilo que foi objeto da decisão, de modo que não se pode incluir no recurso um pedido não feito/julgado anteriormente. Exceção: decisão citra petita e teoria da causa madura. Art. 1.013. § 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485 ; II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. ⤿ Profundidade (dimensão vertical): diz respeito aos fundamentos e às questões que foram, ou não, analisados pela decisão recorrida e que viabilizam seu contraste em sede recursal, relacionando-se, assim, com a qualidade da matéria impugnada em sede de recurso e que poderá ser reapreciada pelo órgão ad quem. Art. 1.013. § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. ● Dimensão subjetiva: Quem é atingido pelo julgamento do recurso?→ temática relevante quando há litisconsórcio/intervenção de terceiros: Simples - vale apenas para quem recorreu X Unitário - "a todos aproveita". Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses. Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, orecurso interposto por um devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns. Obs: o parágrafo único é uma exceção à regra geral; no caso de solidariedade passiva aproveitará a todos, ainda que seja litisconsórcio simples. ● Fatos novos: em geral, não é possível alegar fatos novos em sede recursal (em razão de este ser um sistema de revisão; supressão de instância). Excepcionalmente: podem ser suscitadas se já existiam ao momento da propositura da ação, mas por motivo de força maior não puderam ser alegadas antes. Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Efeito suspensivo: ● A interposição do recurso pode impedir, por disposição legal ou por decisão judicial, o início da eficácia da decisão recorrida, prolongando seu estado de ineficácia, ou sustar, também por disposição legal ou por decisão judicial, a eficácia da decisão recorrida até então experimentada. ● Regra geral, o recurso não impede a eficácia da decisão. ● Concessão de efeito suspensivo: existe a possibilidade de o julgador conceder o efeito suspensivo frente à decisão que possuir risco de dano (periculum in mora) e probabilidade de provimento do recurso (fumus boni juris). Art. 995. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso. ● Efeito ativo: o efeito suspensivo tem não só o condão de suspender os efeitos da decisão recorrida, mas também pode ser entendido como técnica apta a conceder, de imediato, a providência negada pela decisão recorrida. Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; Classificação dos recursos Recursos totais ou parciais: ● Critério: leva em conta a extensão do inconformismo do recorrente quando comparado com a decisão que lhe é desfavorável. Art. 1.002. A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte. ● Conforme o art. 1.002: a primeira hipótese é a do recursos total; a segunda, do parcial. ● Importância da distinção: verificar se a decisão, ou parte dela, precluiu ou transitou em julgado, o que é relevante para fins de sua concretização, ou seja, para a verificação de qual regime jurídico dará supedâneo à realização prática de seus efeitos. Recursos de fundamentação livre ou vinculada: ● Critério: leva em conta os tipos de vícios que uma decisão possuiu e que desafiam seu contraste por recursos; classificação quanto aos fundamentos. ● Recursos de fundamentação livre: são aqueles em que o interesse do recorrente toma como base, apenas e tão somente, o gravame experimentado pela decisão. O seu mero inconformismo com a decisão, tal qual proferida, é suficiente para o cabimento do seu recurso. Qualquer vício da decisão. ● Recursos de fundamentação vinculada: impõem que o recorrente demonstre, além do (genérico) interesse recursal, um prejuízo específico, previamente valorado pelo legislador, sem o que não se abre a via recursal. São recursos que têm como finalidade a correção de específicos vícios de atividade ou de julgamento, os quais, se ausentes, não dão margem ao contraste da decisão. ⤿ Problemática: no que diz respeito ao cabimento, existe dificuldade em diferenciar o juízo de admissibilidade do juízo de mérito desses recursos → Se o recurso não é conhecido (juízo de admissibilidade), a decisão recorrida é a decisão que irá transitar em julgado, enquanto que, se o recurso não é provido (juízo de mérito), a decisão que transita em julgado é a decisão de mérito referente ao recurso. Logo, é relevante diferenciar o juízo de mérito e de admissibilidade para saber qual será o órgão competente para julgar a ação rescisória. STF. Súmula 249. É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida. ● De fundamentação vinculada são os recursos de embargos de declaração, o recurso extraordinário e o recurso especial; todos os demais são de fundamentação livre. Recursos ordinários ou extraordinários: ● Critério: distinguir os recursos que viabilizam o total e amplo reexame da causa, tanto em termos de quantidade como de qualidade de matéria versada pela decisão recorrida. Classificação quanto ao objetivo do recurso. ● Recursos ordinários: tratam da tutela do direito subjetivo do recorrente. São eles: apelação, agravo de instrumento, embargos de declaração, agravo interno e recurso ordinário. ● Recursos extraordinários: tratam da tutela do direito objetivo do recorrente; possuem hipótese de cabimento restritas (arts. 105, III e 102, III da CRFB). São eles: recurso especial e recurso extraordinário. ⤿ Interpretação do direito objetivo: ◦ Não permitem a reanálise de prova (rediscussão dos fatos): STJ: SÚMULA N.05 A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial. STJ: SÚMULA N.07 A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especiaL ◦ Prequestionamento; ◦ Repercussão geral (RExt – art. 102, § 3º da CRFB)) e relevância (REsp – art. 105, § 2º da CRFB). Recursos principal ou adesivo: ● Critério: forma de interposição do recurso. ● Recurso principal: é aquele interposto pelas partes e por eventuais terceiros tão logo tenham ciência da decisão, valendo-se, para tanto, do prazo pertinente. ● Recurso adesivo: é recurso interposto se a outra parte também prejudicada pela mesma decisão tiver manifestado seu inconformismo imediato contra ela, apresentando seu recurso no prazo que tiver para tanto. Trata-se de interposição do recurso diferida no tempo, a depender do comportamento da outra parte ou de um terceiro. A parte que não recorreu poderá, no prazo que dispõe para apresentar contrarrazões, interpor o seu próprio recurso. Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. § 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro. § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial; III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível. Princípios recursais ● Colegialidade: fundamento constitucional implícito; significa que o juiz natural das decisões proferidas no âmbito dos Tribunais componentes da organização judiciária brasileira é o órgão colegiado competente. ⤿ Órgão colegiado → acórdão. Obs: acórdão vs. decisão monocrática (art. 932, III, IV e V) - agravo interno (art. 1.021). ● Taxatividade: somente a Constituição ou a lei federal podem criar recursos no sistema processual civil brasileiro → matéria processual é de competência da União (art. 22, I da CRFB). ⤿ Não impede que existam outros mecanismos com características ou funcionamento semelhante ao dos recursos → ações autônomas e sucedâneos recursais. ● Singularidade: ⤿ 1º aspecto: para cada tipo de decisão há um único tipo de recurso cabível (exceção: embargos de declaração – podem ser interpostos contra qualquer decisão e ainda permite a interposição posterior de um recurso –, e acórdãos, contraos quais pode caber tanto REsp quanto RExt, inclusive de maneira simultânea). ⤿ 2º aspecto: não é permitido interpor dois ou mais recursos contra uma mesma decisão → preclusão consumativa. ● Fungibilidade: deriva diretamente do princípio da instrumentalidade das formas; traz a ideia de admitir um recurso inadequado. ⤿ Requisitos: dúvida objetiva (o sistema/a lei não é clara quanto ao recurso cabível) e inexistência de erro grosseiro no recurso. ⤿ Exemplos expressos em lei: arts. 1.024, § 3º e 1.032. ● Voluntariedade: necessidade de o recorrente (detentor da legitimidade e do interesse em recorrer) exteriorizar o seu inconformismo com vistas a afastar o prejuízo que a decisão lhe acarreta. ⤿ Essa característica diferencia os recursos da remessa necessária. ● Dialeticidade: necessidade de o recorrente demonstrar fundamentadamente as razões de seu inconformismo, revelando por que a decisão lhe traz algum gravame e por que a decisão deve ser anulada ou reformada; o recurso deve ser fundamentado de modo a demonstrar o erro da decisão, ou seja, impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida. ⤿ Exemplo expresso em lei: art. 932, III. ● Proibição da "reformatio in pejus": sem pedido do recorrente, o julgamento do recurso não pode ser modificado para prejudicar o recorrido. ⤿ Fundamentos: extensão do efeito devolutivo e falta de interesse. ⤿ Exceções: embargos de declaração, "teoria da causa madura" (art. 1.013, § 3º) e honorários de sucumbência. Julgamento dos recursos nos tribunais ● Legislação: art. 96, I, a da CRFB; arts. 929 a 946 do CPC; regimento interno dos tribunais. ● Poderes do relator: art. 932: Poder ordinatório Poder instrutório Poder decisório Inciso I - dirigir e ordenar Inciso VII - intimar MP § único - saneamento de Inciso I - Produção de prova Inciso I - homologar autocomposição Inciso II - tutela provisória vícios Incisos III, IV e V - julgar monocraticamente Inciso VI - incidente de desconsideração da personalidade jurídica Recursos em espécie Apelação Considerações iniciais: ● A apelação é tida como o recurso por excelência → é a partir dela que a própria teoria geral dos recursos foi e pode ser construída. Cabimento: ● É o recurso cabível de sentenças, independentemente de seu conteúdo. Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. ● O CPC 2015 também prevê a apelação (e, se for o caso, suas contrarrazões) como o recurso cabível para as decisões interlocutórias não agraváveis de instrumento, isto é, não sujeitas a revisão recursal imediata, que corresponde ao rol dos incisos do caput e das hipóteses previstas no parágrafo único do art. 1.015. Art. 1.009. § 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. § 2º Se as questões referidas no § 1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ; XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. ⤿ As decisões interlocutórias não passíveis de agravo de instrumento não ficam sujeitas à preclusão até o proferimento da sentença, cabendo à parte, se assim entender necessário, suscitá-las em preliminar de apelação ou em contrarrazões. Se o apelante ou, consoante o caso, o apelado não questionar aquelas decisões em suas razões ou contrarrazões de apelo, a decisão estará preclusa. ◦ Apelação → parte vencida na sentença e parte vencedora na sentença quando seu interesse recursal for autônomo. ◦ Contrarrazões de apelação → parte vencedora na sentença quando seu interesse recursal for condicionado. ⤿ Ainda que o apelante venha a desistir do recurso interposto ou se a apelação não superar o juízo positivo de admissibilidade por qualquer outro fundamento, as contrarrazões devem ser analisadas para controlar a higidez de eventuais interlocutórias nelas questionadas e julgadas se subsistente o interesse recursal daquele que as apresentou quanto ao ponto. Regularidade formal: Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau, conterá: I - os nomes e a qualificação das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV - o pedido de nova decisão. ● Apresentação de novos fatos: Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior. Procedimento: ● Juízo de interposição: é o mesmo juízo que proferiu a sentença. Art. 1.010.§ 1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. § 2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade. ● O juízo de admissibilidade da apelação será realizado uma única vez perante o Tribunal competente para julgá-la. Se houver algum óbice ao envio dos autos ao Tribunal competente tão logo superado os atos previstos no seus §§ 1º e 2º, cabe reclamação pelo interessado com fundamento no inciso I do art. 988 (usurpação de competência). Efeitos: ● Efeito suspensivo: o recurso de apelação tem efeito suspensivo ope legis, ou seja, a sentença é ineficaz desde seu proferimento, não surtindo efeitos senão depois de transcorrido in albis o prazo de apelo ou depois que ele for julgado. Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. ⤿ Hipóteses em que a apelação não tem efeito suspensivo: Art. 1.012. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta a interdição. ⤿ Atribuição "ope judicis" do efeito suspensivo: fumus boni juris e periculum in mora. Art. 1.012. § 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II - relator, se já distribuída a apelação. Art. 1.012. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. ⤿ Retirada "ope judicis" do efeito suspensivo: o apelado pode se dirigir ao Tribunal para requerer a retirada do efeito suspensivo da apelação naqueles casos em que a lei o prevê (caput). ● Efeito devolutivo: tantum devolutum quantum appellatum.Extensão (aspecto horizontal) Profundidade (aspecto vertical) Quais capítulos? Quais os fundamentos? Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Art. 1.013. § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. § 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. Decididos + impugnados → exceção: teoria da causa madura (art. 1.013, § 3º) - "condições de imediato julgamento) = não precisar de mais provas. Processamento no Tribunal: ● Chegando os autos ao Tribunal ou em se tratando de processo eletrônico, estando disponibilizado o recurso de apelação, deve-se proceder ao seu imediato registro (art. 930) e à sua imediata distribuição (art. 1.011). Sendo o caso de decisão monocrática, o relator proferirá, observando que, a propósito, dispõe o art. 932, inclusive com relação ao proferimento do juízo de admissibilidade recursal (art. 1.011, I). Se a hipótese não comportar o julgamento monocrático ou o relator não o realizar, cabe a ele elaborar o seu voto e tomar as providências administrativas cabíveis para o julgamento colegiado (art. 1.011, II), cabendo lembrar que o quórum de julgamento da apelação é de três Desembargadores (art. 944, § 2º) e que é possível a realização de sustentação oral (art. 937, I).
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