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CONCEITOS INICIAIS ANATÔMICOS Hérnia é um conteúdo abdominal insinuando-se por uma falha na parede. Acomete 5% da população e a hérnia inguinal é a mais comum (80%). Camadas que o bisturi acometerá até chegar à hérnia: pele, tecido celular subcutâneo, músculo oblíquo externo, músculo oblíquo interno, musculo transverso e peritônio. Músculo oblíquo externo: Ligamento poupart e orifício inguinal externo. Músculo oblíquo interno: Dá origem ao músculo cremáster, forma a parede da bolsa escrotal. Músculo transverso: Fáscia transversalis e orifício inguinal interno. Tendão Conjunto: Junção das aponeuroses do MOI e MT na borda lateral do reto abdominal. É um importante ponto de reparo cirúrgico. Ligamento Poupart/Inguinal: Hérnias que acontecem acima do ligamento inguinal, são as hérnias inguinais. As que surgem abaixo desse ligamento, são as hérnias femorais. Ligamento Lacunar Ligamento de Cooper Canal Inguinal: Estrutura tridimensional, que mede de 3-5 cm. Pelo orifício inguinal interno se insinuam as hérnias indiretas. O funículo espermático e o nervo íleo inguinal passam por dentro do canal inguinal. Funículo Espermático: Recoberto pelo músculo cremáster, ducto deferente, artérias e veias deferenciais, plexo pampiniforme e ramo genital do gênito-femoral. Triângulo de Hesselbach: Borda lateral do MRA, ligamento inguinal e vasos epigástricos inferiores. Posteriormente é recoberta pela fáscia transversalis, onde surgem as hérnias diretas. O sexo masculino tem maior incidência que o feminino. As hérnias inguinais são mais comuns à direita e as indiretas são mais comuns que as diretas. Hérnia Indireta: É a hérnia da infância, que encarcera. Vem pelo orifício inguinal interno. Hérnia Direta: Adquirida, por esforço, doença do colágeno, tabagismo e em idosos. Ocorre diretamente no triângulo de Hesselbach. CLÍNICA E DIAGNÓSTICO Queixa inespecífica, com sensação de peso e abaulamento, desconforto na região inguinal. Para melhor avaliação, solicitar posição de ortostatismo, com manobra de valsalva/landivar. O diagnóstico é clínico. Exames de imagem (USG e TC) para diagnóstico diferencial. CLASSIFICAÇÃO Hérnia Redutível: Se insinua através do orifício herniário e retorna pra região abdominal com manobra ou sozinha. Hérnia Não Redutível: Se insinua através do orifício herniário e não retorna para a região abdominal com manobras. Estrangulada: Com sofrimento vascular. Hiperemia, peritonite e flogose. Encarcerada: Sem sofrimento vascular. TRATAMENTO O tratamento não é sempre cirúrgico em homens, idosos, comorbidades, hérnias pequenas assintomáticas. Quando operar: Redutível: Eletiva. Encarcerada: Redução ou cirurgia de urgência. Estrangulada: Cirurgia. Tratamento cirúrgico: Bassini: Sutura do ligamento conjunto ao ligamento inguinal, tratando as hérnias diretas e indiretas. Alta tensão e, consequentemente, altas chances de recidiva. Técnica de Shouldice: Imbricação de 4 planos músculo-aponeuróticos. Apresenta alta tensão, com dor no pós-operatório e pouca recidiva. Técnica de Lichtenstein: É a grande técnica da atualidade, com menor índice de recidiva. Faz uso da tela de polipropileno. Tension free e, consequentemente, sem dor no pós- operatório. Trata a hérnia inguinal direta ou indireta. Não trata hérnia femoral. Técnica de Stoppa: Abordagem posterior. Boa para hérnias bilaterais e recidivadas. Técnicas laparoscópicas: Antes eram usadas para hérnias recidivadas e bilaterais. Atualmente, está se tornando a abordagem padrão. Utiliza-se tela de prolene. Recuperação mais rápida com menos complicações. TEP: Totalmente extra-peritoneal. TAPP: Transabdominal pré-peritoneal. Antibiótico nos ASA ≥ 3 ou idosos. Complicações gerais: Hematoma, seroma e infecção. Orquite isquêmica é uma complicação que apresenta lesão do plexo pampiniforme, com tratamento conservador. Lesões nervosas: Íleo inguinal, ramo genital do gênito-femoral e íleo-hipogástrico. A recidiva também é uma complicação bem menor pelo uso das telas. OUTROS TIPOS DE HÉRNIA Hérnia na Criança: Indireta é a mais comum, com maior tendência de bilateralidade. Tem alto risco de encarceramento. Cirurgia realizada com a técnica de MARCY (estreitamento do anel), não com o uso de tela. Abordagem contralateral: grande divergência – meninas, independente da idade, abordar o lado oposto. Meninos até 1 ano, abordar o lado oposto. Hérnias Femorais: Mais comum no sexo feminino, 5%, e é a que mais encarcera. Está localizada no canal femoral. Técnica cirúrgica MCVAY (tendão conjunto ao COOPER – chance de recidiva alta). Dar preferência ao uso de tela. Hérnia Umbilical: No adulto, é adquirida (aumento de pressão) – operar se grande ou sintomática. Na criança é congênita, com tendência ao fechamento espontâneo. Mais comum no sexo feminino. A técnica é MAYO ou tela (>3 cm). Hérnia obturatória: Comum no sexo feminino. Está localizada no forâmen obturatório. Sinal de Howship- Romberg, caracterizada por dor na face interna da coxa – trajeto do obturador. Hérnia de Spiegel: Entre a borda lateral do MRA e a linha semilunar. De difícil diagnóstico. USG e TC ajudam. Sutura ou tela é a técnica cirúrgica. Hérnia de Amyand: Hérnia inguinal contendo apêndice. Hérnia de Garengeot: Hérnia femoral contendo apêndice. Hérnia de Littré: Hérnia inguinal contendo divertículo de Meckel. Quadro Clínico: Náuseas, isquemia, ausência de flatos, vômitos, distensão, ausência de fezes, sepse e distúrbios eletrolíticos. Dor abdominal e diarreia paradoxal fazem parte do quadro. Vômitos: Biliosos (obstrução proximal) ou fecaloides (distal). Distensão abdominal: Leve x Pronunciada (obstrução mais baixa) Parada de eliminação de fezes e flatos: Tardia na obstrução alta x precoce na obstrução baixa. CLASSIFICAÇÃO Mecânica x Funcional: Barreira física x alteração função motora. Delgado x Cólon: Válvula ileocecal é o ponto anatômico. Anterior à válvula ileocecal é obstrução alta, posterior à válvula ileocecal é baixa. Alça Fechada: Volvo e hérnia – Dois pontos de obstrução no mesmo segmento. São obstruções mais graves. Suboclusão x Oclusão: Permite passagem de gás x fechamento completo (urgência absoluta). Simples x Estrangulada: Comprometimento vascular. DIAGNÓSTICO Hemograma e ionograma, raio-x de tórax e abdome (ortostatismo e decúbito dorsal) e TC de abdome (avalia local, causa e complicações). Obstrução alta: Alcalose metabólica, hipocloremia e hipocalemica. Raio-X: Empilhamento de moedas, distensão central, haustrações colônicas, distensão periférica, níveis hidroaéreos e distensão central. TRATAMENTO BÁSICO INICIAL (TBI) Dieta zero; Sonda nasogástrica aberta; Evitar opioides; Correção de distúrbios; Deambulação; Obstrução completa – cirurgia; CAUSAS DE OBSTRUÇÃO Bridas (aderências): É a principal causa de obstrução intestinal. As laparotomias tendem a perpetuar maior incidência que nas laparoscopias. A complicação mais temida é a oclusão e apresenta clínica clássica com dor abdominal, ausência de eliminação de fezes e flatos, distensão, vômitos, etc. Tratamento: Se peritonite ou complicações: Cirurgia. Se estável ou sem complicações: Tratamento básico inicial. Sem resposta ou com complicações: Cirurgia. Íleo biliar: Oclusão por impactação de cálculo biliar. Mais comum em idosos e mulheres. Pode ocorrer por fístula colecistoduodenal e o local mais comum é proximal à válvula ileocecal. Tríade de Rigler: Dilatação + cálculo + pneumobilia. Tratamento: Cirúrgico (colecistectomia + retirada de cálculo + correção da fístula). Bouveret: Obstrução alta (piloro/duodeno). Volvo: Torção sobreo próprio eixo. Ocorre no sigmoide e ceco. A clínica é baseada numa oclusão em alça fechada. O diagnóstico é realizado por exame de imagem (Raio-x) e, na prova, pode cair como “U” invertido ou grão-de-café. Tratamento: Desfazer a torção e evitar recidivas. Sigmoide: Colonoscopia + cirurgia. Ceco: Cirurgia: Íleo Adinâmico: Inibição da atividade motora intestinal. Tem como etiologia distúrbios hidro-eletrolíticos, drogas e cirurgias. A clínica é baseada em vômitos, distensão, dor abdominal e ausência de flatos. Tratamento: Tratamento básico inicial. Síndrome de Ogilvie (Íleo Adnâmico do cólon): Pseudo-oclusão colônica. A clínica é baseada na clássica de oclusão. Os achados em exames de imagem são distensão do cólon direito e do transverso. Tratamento: Neostigmina.