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LEIS ESPECIAIS – CEFC 0 LEIS ESPECIAIS – CEFC 1 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Cláudio Bomfim de Castro e Silva Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Carlos Eduardo Sarmento da Costa Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Marcelo André Teixeira da Silva Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sra Coronel PM Simone Duque Romeu Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares LEIS ESPECIAIS – CEFC 2 APRESENTAÇÃO Prezados alunos, o Curso Especial de Formação de Cabos - CEFC é o primeiro curso de qualificação profissional do Praça Policial Militar após seu curso de ingresso na instituição – Curso de Formação de Soldados (CFSd). Deste modo, ao longo dos primeiros seis anos da atuação policial que se dá como Soldado PM (primeiro posto enquanto elemento de execução) o Policial Militar ascende ao posto de Cabo PM. Nesse período, muitos dos saberes construídos no CFSd foram postos em prática nas mais diversas funções que um soldado PM pode exercer na Instituição Polícia Militar. Nesta direção, sendo o Soldado PM elemento fundamental na execução da política de segurança pública do nosso Estado, o CEFC apresenta-se como um momento interessante para a retomada da sua qualificação, agora podendo compartilhar e aperfeiçoar sua experiência profissional. Não obstante, sendo o CEFC na modalidade de ensino a distância, o Cabo PM pode usufruir da flexibilidade oferecida por essa modalidade, podendo adequar sua rotina ao cronograma do curso. Desta forma, o Curso Especial de Formação de Cabos visa atender as necessidades da Corporação e busca o melhor rendimento do processo de ensino e aprendizagem dos Cabos Policiais Militares, utilizando os recursos instrucionais que a PMERJ disponibiliza para qualificar seu efetivo. Para tal, com o suporte do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o CEFC será desenvolvido no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio de sua Escola Virtual, inclusive, as avaliações das disciplinas correspondentes ao curso. Assim, é fundamental o seu empenho, prezado aluno, pois na modalidade de ensino a distância você terá autonomia para o período de estudos, mas também será necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do seu esforço individual. Convém destacar que na era da informação e da tecnologia, é necessário aprimoramento constante a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, permitindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. Por fim, desejamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos construídos ao longo do curso e busque uma reflexão acerca de suas funções diante da sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Bons estudos! Marcelo André Teixeira da Silva – Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Simone Duque Romeu – Cel PM Comandante do CFAP LEIS ESPECIAIS – CEFC 3 DESENVOLVEDORES CFAP Supervisão e Coordenação Pedagógica CAP PM Ped. Patrícia Kalife Paiva CAP PM Ped Priscila Medeiros Moura Lima CB PM Cíntia Andrade de Araújo CB PM Fernanda Belísio Oliveira dos Santos CB PM Layla Simões da Silva CB PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira Conteudista CAP PM Claúdio Cesar Peres Rodrigues Aguiar dos Santos CEADPM Supervisão Geral EAD MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira Equipe Técnica SUBTEN PM Willian Jardim de Souza 2º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos CB PM Lucas Almeida de Oliveira CB PM Diogo Ramalho Pereira CB PM Jorge Pereira Victorino Diagramação 2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira 3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira SD PM Daniel Moreira de Azevedo Júnior SD PM Alexandre Leite da Silva Design Instrucional 3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira Filmagem e Edição de Vídeo CB PM Renan Campos Barbosa SD PM Alexandre dos Reis Bispo Suporte ao Aluno 1º SGT PM Anderson Inácio de Oliveira CB PM Tainá Pereira de Pereira LEIS ESPECIAIS – CEFC 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................9 CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE ....................................................................................................................................10 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................................................10 OBJETIVIDADE JURÍDICA ......................................................................................................................................................11 DISPOSIÇÕES GERAIS ...........................................................................................................................................................11 DOS SUJEITOS DO CRIME .....................................................................................................................................................12 DA AÇÃO PENAL ....................................................................................................................................................................12 DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ...............................................................12 DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA ................................................................................................13 OS ARTIGOS 9º AO 38º ELENCAM AS CONDUTAS CONSIDERADAS CRIMES EM ESPÉCIE DE ABUSO DE AUTORIDADE: .........................................................................................................................................................................14 DOS CRIMES E DAS PENAS ..................................................................................................................................................14 COMPETÊNCIA ........................................................................................................................................................................18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................18 LEI DE CRIMES HEDIONDOS: LEI 8.072/90 ..........................................................................................................................19 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL ........................................................................................................................................19 DISPÕE SOBRE OS CRIMES HEDIONDOS, NOS TERMOS DO ART. 5º, XLIII, DA CRFB. ................................................20 CRITÉRIO LEGAL ....................................................................................................................................................................20 CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS ..............................................................................................................................20 ROL DE CRIMES HEDIONDOS ...............................................................................................................................................21CONSEQUÊNCIAS DO CARÁTER DE HEDIONDEZ..............................................................................................................21 REGIME INICIAL PARA O CUMPRIMENTO DA PENA ..........................................................................................................22 DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE ............................................................................................................................22 PRAZO DA PRISÃO TEMPORÁRIA ........................................................................................................................................22 ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E DELAÇÃO PREMIADA ..........................................................................................................22 CRIME DE TORTURA LEI Nº 9.455 DE 7 DE ABRIL DE 1997 ...............................................................................................23 PREVISÃO CONSTITUCIONAL ...............................................................................................................................................23 SUJEITO ATIVO / PASSIVO ....................................................................................................................................................23 CONCEITO E MODALIDADES DE TORTURA LEI Nº 9.455 DE 7 DE ABRIL DE 1997 ........................................................23 ART. 1º CONSTITUI CRIME DE TORTURA ............................................................................................................................24 OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE .................................................................................................................................24 TORTURA QUALIFICADA .......................................................................................................................................................25 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA .........................................................................................................................................25 EFEITO AUTOMÁTICO DA CONDENAÇÃO ...........................................................................................................................25 VEDAÇÃO A FIANÇA, GRAÇA OU ANISTIA .........................................................................................................................25 REGIME INICIAL PARA O CUMPRIMENTO DA PENA ..........................................................................................................26 EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI DE TORTURA..............................................................................................................26 LEI DE TORTURA E ECA ........................................................................................................................................................26 LEIS ESPECIAIS – CEFC 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................26 NORMA PENAL EM BRANCO ................................................................................................................................................27 CRIME PERMANENTE .............................................................................................................................................................28 O BEM JURÍDICO TUTELADO ................................................................................................................................................28 DOS CRIMES EM ESPÉCIE: ART. 28 – PORTE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL .............................................28 OS CRITÉRIOS DE DISTINÇÃO ..............................................................................................................................................29 ART. 33 – TRÁFICO DE DROGAS ..........................................................................................................................................29 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO CONSUMO DE DROGAS ..........................................................................30 OFERECIMENTO DE DROGA PARA CONSUMO EM CONJUNTO.......................................................................................30 CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA ........................................................................................................................................30 APARELHOS PARA O TRÁFICO DE DROGAS .....................................................................................................................31 ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO ...................................................................................................................................................31 FINANCIAMENTO AO TRÁFICO DE DROGAS ......................................................................................................................31 COLABORAÇÃO COM O TRÁFICO: “INFORMANTE COLABORADOR” ............................................................................32 PRESCRIÇÃO OU MINISTRAÇÃO CULPOSA DE DROGAS ................................................................................................32 CONDUÇÃO DE EMBARCAÇÃO OU AERONAVE SOB EFEITO DE DROGAS...................................................................32 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA .........................................................................................................................................33 COLABORAÇÃO PREMIADA .................................................................................................................................................33 VEDAÇÃO A FIANÇA, “SURSIS”, GRAÇA, INDULTO, ANISTIA E LIBERDADE PROVISÓRIA .........................................34 HIPÓTESE DE INIMPUTABILIDADE .......................................................................................................................................34 ETAPAS DA PRISÃO EM FLAGRANTE DO USUÁRIO DE DROGAS ILÍCITAS...................................................................34 ETAPAS DA PRISÃO EM FLAGRANTE DO TRAFICANTE ...................................................................................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................35 ESTATUTO DO DESARMAMENTO - LEI 10.826/03 ...............................................................................................................36 ARMAS DE BRINQUEDO, SIMULACROS DE ARMA DE FOGO ...........................................................................................36 CONCEITO DE ARMA DE FOGO ............................................................................................................................................37 CERTIFICADO PARA A POSSE ..............................................................................................................................................38 PORTE DE ARMA ....................................................................................................................................................................39 PORTE DE ARMA DE FOGO ...................................................................................................................................................40 COMPETÊNCIA ........................................................................................................................................................................41 POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO X PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO ..........................................................41 POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO.........................................................................................42 ELEMENTO NORMATIVO .......................................................................................................................................................42ELEMENTOS ESPACIAIS DO TIPO ........................................................................................................................................42 ARMA DE FOGO DEFEITUOSA ..............................................................................................................................................44 ARMA DE FOGO DESMUNICIADA .........................................................................................................................................44 ARMA DE BRINQUEDO ...........................................................................................................................................................44 NECESSIDADE DE PERÍCIA ...................................................................................................................................................45 ARMA DE FOGO OBSOLETA .................................................................................................................................................45 OMISSÃO DE CAUTELA .........................................................................................................................................................45 LEIS ESPECIAIS – CEFC 6 TIPO OBJETIVO .......................................................................................................................................................................46 OBJETO MATERIAL ................................................................................................................................................................46 PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO .................................................................................................46 NÚCLEOS TÍPICOS .................................................................................................................................................................47 DISPARO DE ARMA DE FOGO ...............................................................................................................................................48 POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO ...............................................................................49 FIGURAS EQUIPARADAS .......................................................................................................................................................50 ELEMENTO NORMATIVO .......................................................................................................................................................52 OBJETO MATERIAL ................................................................................................................................................................52 COMÉRCIO ILEGAL E TRÁFICO INTERNACIONAL .............................................................................................................52 ELEMENTO NORMATIVO .......................................................................................................................................................53 OBJETO MATERIAL ................................................................................................................................................................53 SUJEITO ATIVO .......................................................................................................................................................................53 TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO ................................................................................................................54 ELEMENTO NORMATIVO .......................................................................................................................................................54 OBJETO MATERIAL ................................................................................................................................................................54 AUMENTO DE PENA ...............................................................................................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................55 CRIMES DO ECA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) .................................................................................55 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL ........................................................................................................................................55 FUNDAMENTO LEGAL ............................................................................................................................................................56 ASPECTOS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS ...................................................................................................................56 PROCEDIMENTOS RELATIVOS A APREENSÃO DE ADOLESCENTE................................................................................57 UTILIZAÇÃO DE ALGEMAS EM ADOLESCENTE INFRATOR..............................................................................................58 ATO INFRACIONAL DE CRIANÇA .........................................................................................................................................58 ATO INFRACIONAL DE ADOLESCENTE ...............................................................................................................................59 DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE ..........................................................................59 DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE ..........................................................................60 TODOS OS CRIMES TIPIFICADOS NO ECA SÃO DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. ...............................61 POSSÍVEIS EFEITOS DA CONDENAÇÃO POR CRIME PREVISTO NO ECA ......................................................................61 CRIMES EM ESPÉCIE .............................................................................................................................................................61 CRIMES NO ECA - ART. 243 ...................................................................................................................................................66 CONSELHO TUTELAR ............................................................................................................................................................66 PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR PREVISTA NO ECA.....................................................................67 REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO .....................................................................................................................68 AUTORIDADE JUDICIÁRIA .....................................................................................................................................................68 VARAS DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE .............................................................................................................................69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................69 CRIME CONTRA O CONSUMIDOR – LEI Nº 8.078/90 ...........................................................................................................69 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................................................................................69 LEIS ESPECIAIS – CEFC 7 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL ........................................................................................................................................70 FUNDAMENTO LEGAL ............................................................................................................................................................70DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR ................................................................................................................................70 INFRAÇÕES PENAIS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ...................................................................................71 INFRAÇÕES PENAIS NO CDC ................................................................................................................................................71 CRIME DO ART. 64 DA LEI 8078/90 .......................................................................................................................................72 CRIME DO ART. 65 DA LEI 8078/90 .......................................................................................................................................73 CRIME DO ART. 66 DA LEI 8078/90 .......................................................................................................................................73 ART. 37. É PROIBIDA TODA PUBLICIDADE ENGANOSA OU ABUSIVA ............................................................................73 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................74 LEI Nº 10.741/ 2003 ESTATUTO DO IDOSO...........................................................................................................................75 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................................................................................................75 ABANDONO DE PESSOA IDOSA TIPIFICAÇÃO LEGAL ......................................................................................................77 MAUS-TRATOS À PESSOA IDOSA TIPIFICAÇÃO LEGAL ...................................................................................................77 OUTROS DELITOS CONTRA PESSOA IDOSA TIPIFICAÇÃO LEGAL.................................................................................77 ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO PENAL ..............................................................................................................................77 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA .........................................................................................................................78 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................78 LEI Nº 13.146/2015 CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. ...........................................78 DISCRIMINAÇÃO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA ..............................................................................................................78 APROPRIAÇÃO INDÉBITA OU DESVIO DE BENS CONTRA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ..............................................79 ABANDONO OU DESAMPARO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA .......................................................................................79 RETENÇÃO OU UTILIZAÇÃO DE MEIOS PARA A OBTENÇÃO DE PROVENTOS DESTINADO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA ...........................................................................................................................................................................80 LEI nº 7.716/1989- LEI DOS CRIMES DE PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL ....................................................80 ABRANGÊNCIA DA LEI ...........................................................................................................................................................80 DISCRIMINAÇÃO X PRECONCEITO ......................................................................................................................................81 INTRODUÇÃO AOS CRIMES PREVISTOS NA LEI 7.716/89 .................................................................................................81 CRIMES EM ESPÉCIE: INJÚRIA RACIAL (ART. 2º-A) ..........................................................................................................82 DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO (ARTS. 3º, 4º E 13) .........................................................................................................83 DISCRIMINAÇÃO NA EDUCAÇÃO (ART. 6º) .........................................................................................................................83 DISCRIMINAÇÃO NO COMÉRCIO (ARTS. 5º, 7º AO 10) .......................................................................................................84 DISCRIMINAÇÃO NA VIDA SOCIAL (ART. 11, 12 E 14) .......................................................................................................84 DISCRIMINAÇÃO GENÉTICA (ART. 20) .................................................................................................................................85 PROPAGANDA NAZISTA ........................................................................................................................................................85 EFEITOS DA CONDENAÇÃO ..................................................................................................................................................86 NOVAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA E OUTROS ASPECTOS RELEVANTES..........................................................86 LEI DE CRIMES AMBIENTAIS: TIPOS E PENAS PREVISTAS NA LEI 9605/98 ..................................................................86 DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL .....................................................................................................................................87 DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE E DOS CRIMES CONTRA A FAUNA .............................................................87 LEIS ESPECIAIS – CEFC 8 DOS CRIMES CONTRA A FLORA ..........................................................................................................................................89 DA POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS ...............................................................................................................92 DOS CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E O PATRIMÔNIO CULTURAL .....................................................93 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................94 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO) - Lei 9.099/95 ..................................95 LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995. LEI DOS JUIZADOS CÍVEIS E CRIMINAIS ................................................95 PREVISÃO CONSTITUCIONAL ...............................................................................................................................................95 TERMO CIRCUNSTANCIADO .................................................................................................................................................96 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................................96 CONCLUSÃO ...........................................................................................................................................................................97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................................................................................98 LEIS ESPECIAIS – CEFC 9 INTRODUÇÃO Ao Iniciar os estudos deste Curso Especial de Formação de Cabos, vejamos o que pode se entender por Legislação Penal Especial. Vejamos a seguir: As leis penais especiais, também chamadas de leis penais extravagantes, compreendem assuntos não tratados diretamente pelo legislador no Código Penal, mas que, também possui extrema relevância na proteção de bens jurídicos, consideradosem sua forma individual ou coletiva, em nível de prevenção geral ou especial, como: a vida, a integridade física e a saúde pública. A presente disciplina pretende construir para o Cabo da Polícia Militar um estudo prático das leis penais especiais, com ênfase na reflexão e análise crítica das legislações penais especiais elencadas, focando no exercício da atividade policial militar. O pleno conhecimento da normatização e procedimentos previstos na Lei do Abuso de Autoridade (Lei n°13.869/19), Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), Lei de Tortura (Lei n. 9.455/97), Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/03), Lei de Drogas (Lei n° 11.343/2006), Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98) entre outras leis penais extravagantes, são de extrema relevância para que o Cabo policial Militar possa corretamente, dentro da sua esfera de atribuições, iniciar a solução do conflito surgido no cenário social agindo em conformidade com a lei, efetuando o procedimento adequado nas ocorrências, encaminhando com eficiência a presença das autoridades policiais competentes os fatos e para isso, é necessário que o graduado tenha uma base jurídica que lhe permita agir conscientemente, de maneira que, utilizando adequadamente a técnica jurídica e o perfeito embasamento legal vai reverberar em uma ação de resposta mais conveniente ao caso concreto. LEIS ESPECIAIS – CEFC 10 CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE INTRODUÇÃO Antes da nova lei de abuso de autoridade, a lei até então em vigor havia sido promulgada em 1965, ou seja, trata-se de legislação antiga e, como qualquer lei penal com décadas de idade atrás da Constituição Federal de 1988, era facilmente possível apontar em seu corpo pontos frágeis merecedores de reformas contundentes, sendo a lei 4.898 de 09 de dezembro de 1965, revogada expressamente. Crimes de abuso de autoridade merecem maior reprovação. Isso porque estamos diante de, no mínimo, dupla violação: bens jurídicos das vítimas diretas, bem como a moralidade, probidade, dentre outros princípios caríssimos que norteiam a Administração Pública. A Lei nº 13.869 de 05 de setembro de 2019, impõem um novo marco jurídico no enfrentamento aos abusos praticados por autoridades e agentes públicos. Diante da complexidade, analisaremos em detalhes, sem perder, todavia, a objetividade e clareza necessárias para o estudo voltado à atividade policial. Mandado constitucional de criminização – artigo 5º inciso LXIII CF/88XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; LEIS ESPECIAIS – CEFC 11 OBJETIVIDADE JURÍDICA O legislador objetivou sancionar o excesso e o desvio de poder, protegendo o correto comportamento dos agentes públicos em suas funções. Quando este agente, investido de função pública com parcela de poder a ele investido pelo Estado, desvia ou extrapola o exercício da sua função, ocorre a quebra de confiança que a sociedade depositou, bem como viola de que foi investido por delegação. DISPOSIÇÕES GERAIS “Art. 1º. Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído. § 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. § 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade”. O “caput” antecipa a ideia de que os crimes previstos nesta lei podem ser praticados por agentes públicos, servidores ou não. O §1º, ao exigir “finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal” como ânimo do agente na prática do crime de abuso de autoridade, deixa claro que nesta lei não há crimes culposos, bem como se afasta a possibilidade até mesmo de figuras motivadas por dolo eventual. O Doutor e professor Fernando Capez, nos ensina: “O crime de abuso de autoridade é uma espécie de crime de intenção ou delito de tendência transcendente, consubstanciado pela necessidade de um agir com ânimo ou finalidade de obter um resultado adicional de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro ou ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”. Podemos concluir que eventual conduta culposa praticada pelo agente público poderá ser caracterizador de, no máximo, ilícito civil e/ou administrativo, afastando-se, portanto, a ocorrência de crime. Ademais, no caso concreto, esse especial fim de agir deverá constar na peça acusatória (denúncia), sob pena de tornar-se inepta e, portanto, ser passível de rejeição (art. 395, inciso I, do Código de Processo Penal). No § 2º do artigo 1º, objetivou evitar que a presente lei seja instrumento de perseguição de autoridades e agentes públicos indiscriminadamente. Evita-se a acusação de agentes públicos apenas com base em juízos de valores em casos concretos divergentes com outros posicionamentos. Portanto, a mera divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas termina por afastar o dolo específico do agente público em eventual prática de crime de abuso de autoridade, ou seja, trata-se de causa excludente do fato típico. LEIS ESPECIAIS – CEFC 12 DOS SUJEITOS DO CRIME Art. 2º. “É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: I. servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II. membros do Poder Legislativo; III. membros do Poder Executivo; IV. membros do Poder Judiciário; V. membros do Ministério Público; VI. membros dos tribunais ou conselhos de contas”. Parágrafo único. “Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangido pelo caput deste artigo”. Apesar da redação extensa acima, fica claro, por meio da expressão “mas não se limitando a”, que o art. 2º da presente lei repete, em outras palavras, o teor do art. 327 do Código Penal (conceito de funcionário público para fins penais). Isso fica ainda mais claro com a redação do parágrafo único. Os incisos acima representam mero rol exemplificativo. O sujeito passivo imediato e direto será a pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, vítima do abuso de poder. E o sujeito passivo mediato ou indireto será o Estado, titular da Administração Pública. Quanto ao bem jurídico tutelado, podemos dizer que são vários, dependendo da conduta praticada, tais como a liberdade, a privacidade, a intimidade, a incolumidade física e outros. DA AÇÃO PENAL “Art. 3º. “Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada”. § 1º “Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. § 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses,contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia”. O Artigo 3º apenas reforça o que já está determinado e estampado como regra na Constituição Federal, Código Penal e Código de Processo Penal, ou seja, os crimes aqui previstos serão processados mediante ação penal pública incondicionada e, em caso de inércia do órgão acusador, a previsão de exceção constitucional, qual seja a ação penal privada subsidiária da pública. DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS LEIS ESPECIAIS – CEFC 13 “Art. 4º. São efeitos da condenação: I. tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; II. a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; III. a perda do cargo, do mandato ou da função pública. Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença”. DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA “Art. 6º. As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis. Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração”. “Art. 7º. As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido decididas no juízo criminal”. “Art. 8º. Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”. A nova lei de abuso de autoridade reforça e impõe o princípio da independência das instâncias, em que cada esfera (cível, criminal e administrativas) são independentes – a decisão de uma, em regra, não vinculará à outra. Todavia, com razão agora essa independência é expressamente relativa. Isso porque, com a redação do art. 7º, em que pese as decisões nos âmbitos cível e administrativo não estarem vinculadas às decisões criminais, ao menos em relação à existência do fato (prova/decisão de que o fato existiu) e autoria (identificação/decisão sobre quem praticou o abuso), as esferas cível e administrativa estarão atreladas às decisões proferidas no âmbito criminal, evitando decisões conflitantes sobre questões objetivas. Outras exceções sobre o vínculo necessário entre as decisões criminal, cível e administrativa recai sobre a existência de excludentes de ilicitude devidamente reconhecida por decisão judicial (art. 8º). Cabe ressaltar que o parágrafo único do art. 6º determina que todo fato será comunicado à autoridade competente. A intenção é que seja também instaurado, se for o caso, o PAD - Processo Administrativo Disciplinar, (Averiguação/ Sindicância/ IPM/ CRD/ CD / CJ), visando a aplicação das sanções administrativas pelo órgão Competente. Observação importante: Qualquer pessoa, que se sentir vítima de abuso de poder poderá direta, pessoalmente e sem necessidade de advogado encaminhar sua representação a Autoridade LEIS ESPECIAIS – CEFC 14 competente para apuração e responsabilização dos agentes infratores. É importante registrar que os crimes aqui tratados são de ação penal pública incondicionada, o que quer dizer que a Autoridade ao receber a notícia do crime supostamente praticado deve agir para apurar por dever de oficio, sendo certo que a inércia da autoridade ou desídia em apurar, poderá acarretar em responsabilidade administrativa e penal. OS ARTIGOS 9º AO 38º ELENCAM AS CONDUTAS CONSIDERADAS CRIMES EM ESPÉCIE DE ABUSO DE AUTORIDADE: DOS CRIMES E DAS PENAS “Art. 9º. Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária (Magistrados) que, dentro de prazo razoável, deixar de: I. relaxar a prisão manifestamente ilegal; II. substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III. deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível”. O Artigo 9º impõe pena ao agente público que indiscutivelmente decreta a prisão de alguém. Importante registrar que o “caput” não se restringe ao juiz, já que há a prisão em flagrante que pode ser decretada por qualquer agente público (ou qualquer do povo, porém o particular não estará sujeito aos rigores desta lei). Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. “Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: I. exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; II. submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; III. produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência”. Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado: são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a integridade física, imagem, honra e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer autoridade com a obrigação para custodiar o preso ou detento. LEIS ESPECIAIS – CEFC 15 Sujeito Passivo: qualquer pessoa (crime comum). Conduta: apesar de as condutas serem autoexplicativas, é importante destacar que tal crime é extremamente assemelhado a uma das modalidades do delito de tortura. Caberá ao juiz, no caso concreto, realizar a devida distinção. “Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu patrono”. A pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que constrange o sujeito ouvido ou interrogado. Sujeito Passivo: qualquer pessoa que tenha por ofício o sigilo profissional, a exemplo do advogado, o padre, etc. “Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função”. Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da Lei nº 9.099/95. Diante da pena mínima, admite-seo benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a liberdade e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que proceda à prisão ou interrogatório e que oculte a própria identidade ou a revele de forma falsa. Sujeito Passivo: qualquer pessoa detida ou interrogada (crime comum). “Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente”). Diante da pena admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. LEIS ESPECIAIS – CEFC 16 O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a dignidade da pessoa humana bem como é protegida em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha por atribuição cuidar da manutenção dos presos. Sujeito Passivo: qualquer pessoa presa ou detida. Este artigo objetiva punir qualquer ato de violação no sentido de colocar no mesmo ambiente carcerário personagens que, por lei, possuem o direito de confinamento separado de outros, como as separações entre homens e mulheres; maiores e menores, etc. “Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem: I. coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; II. (VETADO); III. cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). § 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre”. Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a inviolabilidade do domicílio e a dignidade da pessoa humana, bem como em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que venha a invadir imóvel ou suas dependências fora das hipóteses permitidas em lei. Sujeito Passivo: qualquer pessoa possuidora do imóvel. Conduta: trata-se de modalidade especial do delito de violação de domicílio previsto no art. 150 do Código Penal, com a diferença de que aqui o sujeito ativo é funcionário público, valendo-se da função e com ao menos uma das finalidades destacadas no §1º, do art. 1º desta lei. O inciso I aponta hipótese em que o agente público forja o consentimento do ofendido. Já o inciso III inova ao fixar os horários limites para o cometimento do crime, porém apenas quando do cumprimento de mandado de busca e apreensão. Exemplo: Agentes policiais, impacientes em aguardar o raiar do sol para cumprimento de mandado de prisão preventiva (mero capricho ou satisfação pessoal), invadem domicílio às 3 horas da madrugada. LEIS ESPECIAIS – CEFC 17 “Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência”. Diante da pena mínima (1 ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo constrangido, especialmente a dignidade da pessoa humana bem como em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade, sendo que claramente o legislador visou prescrever esse delito para o agente de segurança pública. Sujeito Passivo: qualquer pessoa prejudicada. Observação: É necessário que o agente público conheça a condição de morto do paciente, pois, caso acredite que está socorrendo vítima até o pronto socorro mais próximo, não tendo detectado o óbito, o dolo estará afastado. Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da Lei nº 9.099/95. Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a dignidade da pessoa humana, bem como em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha a obrigação de prestar esclarecimentos em procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo. Sujeito Passivo: qualquer pessoa prejudicada. É comum na atividade policial a obrigação de prestar esclarecimentos sobre casos concretos em que atuaram. Cuida-se aqui de hipótese de falsidade ideológica especial, em que o agente público apresenta informação falsa contra alguém. Exemplo: Policial militar, em sede de Juízo, figurando como condutor de uma pessoa presa em flagrante de delito, sabendo da ilegalidade, presta falsos esclarecimentos com o fim de prejudicar ainda mais o preso. “Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido”. Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da Lei nº 9.099/95. Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal. LEIS ESPECIAIS – CEFC 18 O bem jurídico tutelado são os direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente a dignidade da pessoa humana, bem como em sentido amplo a Administração Pública. Sujeito Ativo: qualquer agente público. Sujeito Passivo: qualquer pessoa constrangida pela recusa indevida Exemplo: Policial Militar que, visando obter privilégio sobre os demais torcedores que adentram ao estádio de futebol, invoca o status de sua função para não ser revistado. Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). COMPETÊNCIA Para a verificação da competência de processamento de julgamento dos delitos no âmbito da lei de abuso de autoridade, preliminarmente é necessário analisar se o investigado/réu/ acusado possui foro por prerrogativa de função,ou seja, verificar se a Constituição federal determina tal prerrogativa ao agente público que praticou o crime. Em se tratando de autoridade que detém foro por prerrogativa de função, este deverá ser julgado pelo respectivo Tribunal, conforme disposição Constitucional. Em se tratando de competência de juízo singular, a competência para julgar os crimes de abuso de autoridade, via de regra, será determinada pela esfera á qual pertence o agente público autor do delito. Em regra, se o agente público for federal no exercício da função pública e cometer abuso de autoridade ele será processado e julgado na justiça federal e no caso de agente público Estadual ou Municipal a competência será da justiça Estadual. Observação importante: O crime de abuso de autoridade pode ser julgado pela Justiça Militar? Sim, a Justiça Militar possui competência para julgar crime de abuso de autoridade. A lei nº 13.491 de 2017, alterou o Código Penal Militar, ao dispor que os crimes militares podem estar previstos no CPM ou na legislação penal comum, ou seja, mesmo não previsto no CPM, o crime de abuso de autoridade, quando praticado por militar no exercício da função ou em razão do cargo será considerado crime militar sendo processado e julgado pela Justiça Castrense competente de acordo com que está preconizado no art. 9º, II do CPM. CONSIDERAÇÕES FINAIS A autoridade precisa seguir estritamente os limites legais e, consciente disso, o ultrapassa, sai da esfera da discricionariedade, que é lícita, e entra na esfera da arbitrariedade, irá responder pelo excesso, pelo abuso, seja na esfera cível, administrativa e criminal, de forma independente, e http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4898.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm LEIS ESPECIAIS – CEFC 19 poderá ser cominada apenas a sanção de uma área, das duas ou das três, conforme a circunstância fática e todo o conjunto probatório. O policial militar deverá conhecer bem os ditames da lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019 que substituiu a Lei nº 4.898/65, bem como de toda a legislação penal, a fim de que possa se conduzir na observância dos limites impostos, sob pena de ser responsabilizado por crime de Abuso de Autoridade LEI DE CRIMES HEDIONDOS: LEI 8.072/90 Conceito: Crimes hediondos são aqueles considerados de extrema gravidade, entendidos pelo Legislador como os que merecem maior reprovação por parte do Estado, recebendo, conforme a Lei nº 8.072/90, tratamento diferenciado dos demais. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL –– LEI N.º 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990 Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências Federal, e determina outras providências LEIS ESPECIAIS – CEFC 20 DISPÕE SOBRE OS CRIMES HEDIONDOS, NOS TERMOS DO ART. 5º, XLIII, DA CRFB. CRITÉRIO LEGAL Adotou-se, portanto, o critério legal, isto é, é hediondo o crime que estiver no rol taxativo do art. 1º da lei 8.072/90, que será analisado de forma pormenorizada adiante. Observação importante: Como a Lei nº 8.072/90 faz menção ao nomen iuris de cada crime considerado hediondo, com a respectiva menção aos artigos do CP e lei própria, conclui-se que os crimes militares (CPM) – especificamente aqueles assemelhados com o CP comum previstos na lei de crimes hediondos, não são considerados hediondos. Dessa forma, não se adotou o critério judicial, tampouco o critério misto, no qual a lei estabeleceria alguns delitos e o juiz também teria a liberdade de apontar como hediondas determinadas condutas. CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS Os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e terrorismo não são crimes hediondos, mas sim crimes equiparados. Tal conclusão se extrai da redação do mencionado Art. 5º (...)XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Diante Do Mandamento constitucional, além dos crimes de tráfico de entorpecentes, do terrorismo e da tortura, o legislador adotou um CRITÉRIO LEGAL PARA A DEFINIÇÃO DOS CRIMES HEDIONDOS. Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:(…) LEIS ESPECIAIS – CEFC 21 inciso XLIII do art. 5º da CF, bem como do art. 2º da Lei dos Crimes Hediondos: “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de [...]” A tortura, o tráfico e o terrorismo são crimes equiparados a hediondos pela própria Constituição Federal. Esse diploma determinou que o legislador elaborasse um elenco dos crimes que seriam considerados hediondos. ROL DE CRIMES HEDIONDOS Homicídio: por grupo de extermínio ou qualificado; Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima e lesão corporal seguida de morte: quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; Roubo com privação da liberdade da vítima; com emprego de arma de fogo de uso permitido, restrito ou proibido; Latrocínio; Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, pela lesão corporal ou pela morte; Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada; Estupro, Estupro de vulnerável; Epidemia com resultado morte; Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável; Genocídio; Posse ou Porte ilegal de arma de fogo de uso proibido; comércio ilegal de arma de fogo; tráfico internacional de arma de fogo, munição ou acessório; Crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. CONSEQUÊNCIAS DO CARÁTER DE HEDIONDEZ “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto. II - fiança”. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO: Segundo o inciso II do art. 107 do CP, anistia, graça e indulto são causas extintivas da punibilidade. São formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir. LEIS ESPECIAIS – CEFC 22 Na anistia o Estado, por meio de lei penal, devidamente discutida no Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República, por razões de clemência, política, social, etc., esquece um fato criminoso, apagando seus efeitos penais (principais e secundários). Os efeitos extrapenais, no entanto, são mantidos (ex: obrigação de indenizar). A graça e o indulto são concedidos pelo Presidente da República, via decreto presidencial, podendo ser delegada a atribuição aos Ministros de Estado. Ambas atingem apenas os efeitos executórios penais da condenação, subsistindo o crime, a condenação irrecorrível e seus efeitos secundários (penais e extrapenais). REGIME INICIAL PARA O CUMPRIMENTO DA PENA “§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado”. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007) Antes da Lei 11.464/07, o regime era integralmente fechado. Por violar oprincípio da individualização da pena, o STF julgou incidentalmente inconstitucional tal dispositivo e hoje temos a redação acima. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE A Lei nº 11.646/07 também fez constar a possibilidade do condenado em primeira instância recorrer em liberdade: “§ 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade”. PRAZO DA PRISÃO TEMPORÁRIA “§4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade”. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E DELAÇÃO PREMIADA O crime de associação criminosa está previsto no art. 288 do CP da seguinte forma: “Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos”. Não obstante, a Lei de Crimes Hediondos confere tratamento diferenciado à associação criminosa quando se tratar de crimes hediondos ou equiparados: “Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços”. LEIS ESPECIAIS – CEFC 23 CRIME DE TORTURA LEI Nº 9.455 DE 7 DE ABRIL DE 1997 PREVISÃO CONSTITUCIONAL O bem jurídico tutelado pela Lei de Tortura é a dignidade da pessoa humana, protegendo a integridade física e mental, e a vida da vítima. A Constituição Federal prevê a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Além disso, o Brasil se obrigou a reprimir a tortura através de tratados internacionais. “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana”. “Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] II - prevalência dos direitos humanos”. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...] XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. “Art. 5º [...] XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. SUJEITO ATIVO / PASSIVO Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, não se trata de crime próprio, já que o legislador não restringiu sua prática apenas a funcionários públicos, prevendo o tipo penal a prática de tortura também por particulares. Sujeito passivo: Qualquer pessoa exigindo a lei, entretanto, em outras oportunidades, alguma qualidade especial da vítima (exemplo: pessoa presa ou sujeita a medida de segurança; algum sob sua guarda; poder ou autoridade) CONCEITO E MODALIDADES DE TORTURA LEI Nº 9.455 DE 7 DE ABRIL DE 1997 “Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; LEIS ESPECIAIS – CEFC 24 b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos”. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal”. ART. 1º CONSTITUI CRIME DE TORTURA I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; (Tortura Confissão ou Tortura prova) Crime comum, praticado por qualquer pessoa e não somente pelo agente policial. O objetivo dessa modalidade de tortura é obter declaração ou confissão de qualquer pessoa como meio de prova. b) Para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; (Tortura Crime ou Tortura crime para prática de crime) Finalidade da tortura é conseguir do torturado um comportamento criminoso. Na verdade, teremos três pessoas que participam dessa espécie de crime: o agente que tortura; a pessoa que é torturada para cometer o crime; e uma terceira pessoa, contra a qual o crime é praticado. c) em razão de discriminação racial ou religiosa; (Tortura discriminatória): crime comum, porque praticado por qualquer pessoa. ocorre quando o sofrimento físico ou mental é produzido em razão de preconceito ou discriminação de raça ou religião. Conforme art. 1º da Lei de Tortura haverá crime de tortura com o constrangimento sobre a vítima, mediante o emprego de violência ou grave ameaça, com a ocorrência de sofrimento físico ou mental, sendo imprescindível que esteja presente as finalidades previstas nos incisos I e II, pois, do contrário, estaremos diante de crimes comuns de lesão corporal ou ameaça. Além disso, o sofrimento físico ou mental deverá ser intenso, o que demandará juízo de valor sobre o caso concreto. O §1º do artigo 1º da lei de tortura visou coibir, de forma específica, a tortura praticada dentro do sistema prisional (penitenciárias, CDP’s e medidas de segurança), pois, segundo estatísticas, eram os locais com maior incidência deste delito. OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE “§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitálas ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”. LEIS ESPECIAIS – CEFC 25 O §2º do art. 1º da lei de tortura, revela que o legislador resolveu dar tratamento diferenciado (privilegiado) ao garantidor omisso. Segundo o CP, quando a omissão é penalmente relevante (omissão imprópria ou crime omissivo por comissão), ou seja, nas hipóteses dos chamados garantidores, aquele que se omite responde pelo resultado criminoso (mesmas penas de quem praticou a conduta). No caso da Lei de tortura, o garantidor omisso terá pena menor, sendo o único delito desta Lei que prevê pena de detenção. TORTURA QUALIFICADA “§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”. § 3º do art. 1º da lei de tortura, elenca hipóteses de crimes agravados pelo resultado, ou seja, crimes preterdolosos. Com isso, o resultado mais grave deverá ser alcançado culposamente, pois, se doloso, haverá concurso de crime de tortura e os crimes de lesão corporal grave ou gravíssima, ou homicídio. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA “§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro”. O §4º do art. 1º da lei de tortura apresenta hipóteses de aumento de pena na torturafuncional, punindo-se com maior rigor o funcionário que se vale da condição de agente público para empregar a tortura; quando a vítima apresenta maior vulnerabilidade (criança, gestante, deficiente, adolescente ou idoso); ou, se o modus operandi se der por meio de sequestro. EFEITO AUTOMÁTICO DA CONDENAÇÃO “§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”. O § 5º do art. 1º da lei de tortura, diferentemente da Lei que pune o crime de Abuso de Autoridade, onde a perda do cargo é hipótese facultativa de sanção administrativa e penal (depende de fundamentação), na Lei de Tortura constitui efeito automático da condenação (não depende de fundamentação) a perda do cargo, função ou emprego público, bem como a proibição para o exercício de qualquer função pública pelo dobro da pena aplicada. VEDAÇÃO A FIANÇA, GRAÇA OU ANISTIA “§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia”. LEIS ESPECIAIS – CEFC 26 § 6º do art. 1º da lei de tortura proíbe a liberdade provisória mediante o pagamento de fiança (mas não proíbe a liberdade sem fiança). Além disso, veda-se a concessão das causas extintivas da punibilidade graça e anistia (valendo as mesmas considerações feitas quando do estudo da Lei nº 8.072/90). REGIME INICIAL PARA O CUMPRIMENTO DA PENA “§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado” Segundo o § 7º do art. 1º da lei de Tortura, o condenado pelo crime de tortura deverá iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, com exceção do condenado por “tortura omissiva” (§2º do art, 1º da Lei de Totura). EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI DE TORTURA “Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira”. O art. 2º da lei de Tortura prevê nova modalidade de extraterritorialidade incondicionada (aplicação da Lei Brasileira para fatos praticados no estrangeiro, sem nenhuma condição). A Lei de Tortura será aplicada a fatos praticados no estrangeiro quando a vítima for brasileira, ou, mesmo quando praticado contra estrangeiro ou brasileiro, o agente encontrar-se em local sob a jurisdição brasileira (ex: torturador que fugiu para o Brasil). LEI DE TORTURA E ECA “Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente”. O artigo 233 do ECA foi revogado por força do artigo 4º, sendo certo que todo e qualquer crime de tortura contra criança e adolescente a lei nº9.455/1997 que será observada para processar e julgar o criminoso. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Lei nº 9.455/1997, chamada lei de Tortura tem fundamento Constitucional. Crime equiparado a hediondo. A ação penal será publica incondicionada. O início de cumprimento de pena será em regime fechado, exceto para o crime de omissão em face à tortura punido com pena de detenção. A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público, pois o efeito é automático. O crime de tortura é insuscetível de graça ou anistia, não sendo admitida a fiança em caso de prisão em flagrante, e se aplica também aos crimes cometidos fora do território nacional, desde que a LEIS ESPECIAIS – CEFC 27 vítima seja brasileira ou que o autor da tortura esteja em local em que a legislação pátria seja aplicável. LEI DE COMBATE ÀS DROGAS - Lei n° 11.343/2006 “Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”. “Art. 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso”. Parágrafo único. “Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas”. A Lei nº 11.343/2006 não define o que seria “droga”, deixando tal tarefa para o Poder Executivo, através de Portaria do Ministério da Saúde. Tem-se típico caso de “norma penal em branco”. A Portaria da ANVISA Nº 344, atualiza periodicamente a lista dos produtos considerados drogas. NORMA PENAL EM BRANCO Dentre as diversas classificações da lei penal, destaca-se a classificação quanto ao conteúdo. A norma Penal, quanto ao conteúdo, divide-se em completa e incompleta: a) Completa: é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma). Ex: art. 121 do CP (homicídio). b) Incompleta: é aquela que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou normativo (norma penal em branco). Norma Penal em Branco Própria (Heterogênea): o complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. Ex: A Lei nº 11.343/2006 (editada pelo Poder Legislativo) disciplina os crimes relacionados com o comércio de “drogas”, porém, a aplicabilidade dos tipos penais depende de complemento encontrado em portaria do Ministério da Saúde – Portaria nº 344/2008 (editada pelo Poder Executivo). LEIS ESPECIAIS – CEFC 28 CRIME PERMANENTE Algumas condutas da lei nº 11.343/2006 de Combate às Drogas são consideradas crimes permanentes. Ocorre quando a consumação se prolonga no tempo, permitindo a prisão em flagrante enquanto não cessar a permanência. Quem guarda droga em casa está em estado de flagrância permanente, podendo ser preso a qualquer momento do dia ou da noite, independentemente de mandado judicial, pois as condutas de guardar ou ter em depósito estão sempre se consumando, não cessando a permanência. O BEM JURÍDICO TUTELADO É a saúde pública e por isso o que se pune é a circulação de drogas ilícitas. O material que confirma o crime é a droga periciada, ou seja, se não tivermos o material para confirmação pericial o fato de observar o uso ou Tráfico não concretizará em crime. NÃO É CRIME O MERO ATO DE CONSUMIR DROGAS DOS CRIMES EM ESPÉCIE: ART. 28 – PORTE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL “Art. 28. Quem adquirir guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica”. Como identificar se a conduta será de porte para consumo pessoal (art. 28) ou tráfico de drogas (art. 33), já que todos os verbos presentes no art. 28 também estão presentes no art. 33? Resposta: O §2º do art. 28 da Lei de Combate às Drogas apresenta os critérios de distinção a serem aquilatados pelo juiz diante do caso concreto: “§ 2º Para determinar se a droga destinava- se a consumo
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