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O CONTADOR E A ÉTICA PROFISSIONAL AULA 5 Prof.ª Daiane Lolatto 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão abordadas a ética do profissional da contabilidade quanto ao gerenciamento de resultados, fraudes e erros, as penalidades ao profissional contábil, as condutas irregulares comuns ao Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Depois de estudar as Normas Brasileiras de Contabilidade Profissional Geral (NBC PG 01), entende-se que os limites do exercício da profissão contábil já estão mais claros, como é o caso do gerenciamento de resultados. O assunto também será abordado com mais profundidade. Os erros são comuns na realização do trabalho, mas precisam ser evitados. Para isso, serão discutidos procedimentos de revisão das informações contábeis. A fraude, por sua vez, consiste em um ato ilícito que prejudica o meio social, de modo que “todos saem perdendo”. Enquanto o erro é involuntário, a fraude é intencional, e, em função disso, os proprietários, gestores e contadores são responsáveis solidários pela informação contábil prestada, respondendo em todas as instâncias, inclusive criminal e civilmente, por ela. Sendo assim, existem penalidades em casos de descumprimento do código de ética profissional que são observados por condutas irregulares na elaboração das demonstrações contábeis. CONTEXTUALIZANDO No Brasil, a expressão gerenciamento de resultados é mais utilizada que contabilidade criativa pelo fato de a maioria dos pesquisadores terem obtido sua formação em programas de pós-graduação com influência anglo-saxônica, norte-americana e não europeia. De maneira geral, autores brasileiros tendem a classificar gerenciamento de resultados não como fraude, mas como aproveitamento de desvios ou omissões de uma norma. De qualquer forma, tanto a contabilidade criativa como o gerenciamento de resultados se enquadram, no mínimo, como manipulação de resultados e, consequentemente, de informações aos usuários (Niyama; Rodrigues; Rodrigues, 2015, p. 72). Nesse sentido, quais seriam os principais motivos para a prática do gerenciamento de resultados? 3 Saiba mais Leia mais sobre contabilidade criativa no artigo de Niyama, Rodrigues e Rodrigues (2015) disponível em <https://proxy.furb.br/ojs/index.php/universocontabil/article/view/4775>. TEMA 1 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS O gerenciamento de resultados consiste na manipulação de informações contábeis para fins oportunistas, decorrente de uma ação discricionária, ou seja, uma liberdade de agir dos gestores nas informações contábeis e nas atividades reais da empresa (Healy; Wahlen, 1999, p. 368). Essa liberdade pode ser realizada de forma ética, por exemplo, quando o gestor escolhe o método de avaliação dos estoques com o objetivo de apurar lucros maiores. Dessa forma, entende-se que o gerenciamento de resultados está diretamente relacionado com a prática de julgamento do contador. Por exemplo, pode acontecer de os gestores exercerem seu poder sobre o profissional da contabilidade para que as perdas sejam manipuladas, pois reconhecer perdas em projetos de investimentos pode custar seu cargo na organização ou até mesmo sua parcela nos lucros. Logo, o gerenciamento de resultados pode estar relacionado ao fato de manipular (fraudar) e a um ato lícito (não fraudulento). Sugestão de filme Para pensar mais sobre fraude, assista ao filme A Lavanderia (2019). No Brasil, algumas pesquisas têm apresentado evidências de que as empresas gerenciam seus resultados mediante atividades reais e por meio de accruals discricionários. As atividades reais ocorrem quando as decisões tomadas pelos gestores estão abaixo dos ideais em questão de tempo e volume, então há o gerenciamento para apresentação de um melhor resultado, isto é, o gerenciamento das atividades de negócios reais da organização (Cupertino; Martinez; Costa Junior, 2016, p. 233). Isso acontece, por exemplo, quando os gestores suspendem os treinamentos de pessoal para diminuir os gastos e, assim, garantir maiores lucros. O gerenciamento de resultados por accruals discricionários compreende a manipulação dos resultados por meio da diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa operacional líquido. O gestor arbitrariamente aumenta 4 ou diminui os accruals com a finalidade de influenciar o lucro (Martinez, 2008, p. 8). Um exemplo: a fim de aumentar os accruals, a empresa reconhece um valor inferior de depreciação, o que resulta em um lucro líquido maior, aumentando a diferença entre o lucro líquido e o fluxo de caixa, uma vez que a depreciação ocorre pelo regime de competência. De acordo com Cupertino, Martinez e Costa Junior (2016, p. 235), independentemente do método escolhido para gerenciar o resultado, seja por meio de accruals ou decisões operacionais, a finalidade pode ou não ser a de persuadir as partes interessadas a uma falsa situação financeira da empresa. Watts e Zimmerman (1986), citados por Murcia et al. (2013), apresentam as seguintes motivações para as escolhas contábeis (Figura 1): Figura 1 – Motivações das escolhas contábeis Fonte: Watts e Zimmerman, 1986, citados por Murcia et al., 2013, p. 117. Essas motivações podem levar o gestor a agir de forma ética ou antiética. Quando, por exemplo, o gestor quer pagar menos impostos, faz-se necessário reduzir o lucro. A redução do lucro pode ser realizada por métodos legais, como aproveitar as lacunas da legislação. Uma possibilidade seria avaliar os estoques pela média ponderada móvel em detrimento do método PEPS (Primeiro que Entra, Primeiro que Sai), pois o lucro auferido pela média seria menor. Motivações das escolhas contábeis Diminuir o lucro para reduzir custo político perante a sociadade Aumentar o lucro para atender covenants estipulados pelos credores Aumentar ou diminuir o lucro para atingir o bônus Diminuir o lucro para evitar entradas de concorrentes Diminuir o lucro para pagar menos impostos Aumentar ou diminuir o lucro para atingir as projeções dos analistas 5 Nesse sentido, Martinez (2001) apresenta três modalidades de gerenciamento de resultados: i. Target Earning; ii. Income Smoothing; e iii. Big Bath Accounting (Figura 2): Figura 2 – Modalidades de gerenciamento de resultados Fonte: Martinez, 2001, p. 43. Logo, observa-se que o gerenciamento pode ter finalidades distintas, como gerenciar para aumentar ou diminuir os resultados contábeis (Target Earning), gerenciar para diminuir a variação dos resultados contábeis (Income Smoothing) e gerenciar para diminuir o lucro presente, a fim de aumentar o lucro futuro (Big Bath Accouting). O Target Earning pode ser utilizado no registro da depreciação. A empresa pode acelerar a depreciação para diminuir o resultado. No caso do Income Smoothing, o reconhecimento das receitas e despesas pode ser controlado, ou seja, a empresa pode postergar o faturamento de uma venda quando verificar que o resultado do mês foi alcançado, garantindo, assim, que a meta do mês seguinte também seja obtida e, consequentemente, que o resultado dos dois períodos seja suavizado. Por fim, o gerenciamento por Big Bath Accounting pode ser aplicado quando a empresa tem um projeto que irá alavancar o faturamento da empresa e espera para desenvolver em um momento futuro. Earnings Management Target Earning "Gerenciar" para aumentar (melhorar) ou diminuir (piorar) os resultados contábeis Income Smoothing "Gerenciar" para reduzir a variabilidade dos resultados contábeis Big Bath Accounting "Gerenciar" para reduzir o lucro corrente, de modo a aumentar o lucro futuro 6 Para garantir a fidedignidade das demonstrações contábeis, as empresas têm utilizado mecanismos de controle robustos, além de contar com as boas práticas de governança corporativa.1.1 Exemplo de uso de PECLD como prática de gerenciamento de resultado Para Nez et al. (2017, p. 64), as Perdas Estimadas em Créditos de Liquidação Duvidosa (PECLD) podem ser uma importante ferramenta de gerenciamento de resultados para os gestores, visto que sua aplicação pode interferir diretamente no resultado da empresa e, por conseguinte, no desempenho empresarial. “Em geral, os gestores estão interessados no crescimento dos lucros, pois, via de regra, sua remuneração está atrelada aos ganhos de sua organização.” (Nez et al., 2017, p. 66). Há, então, um conflito de interesses. De acordo com o CPC 48 (CPC, 2016), as PECLD devem ser reconhecidas com base no risco de inadimplência esperada, e não mais fundamentadas na análise histórica de perda. Entretanto, para fins tributários, conforme disposto no Regulamento do Imposto de Renda de 2018 – Decreto n. 9.580, de 22 de novembro de 2018 (Brasil, 2018) –, art. 347, existem limites para o registro das perdas: Art. 347 [...] § 1º Poderão ser registrados como perda os créditos: I - em relação aos quais tenha havido a declaração de insolvência do devedor, em sentença emanada do Poder Judiciário; II - sem garantia, de valor: a) até R$ 15.000,00 (quinze mil reais), por operação, vencidos há mais de seis meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento; b) acima de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) até R$ 100.000,00 (cem mil reais), por operação, vencidos há mais de um ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, mantida a cobrança administrativa; e c) superior a R$ 100.000,00 (cem mil reais), vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento; III - com garantia, vencidos há mais de dois anos, de valor: a) até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias; e b) superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias; e IV - contra devedor declarado falido ou pessoa jurídica em concordata ou recuperação judicial, relativamente à parcela que 7 exceder o valor que esta tenha se comprometido a pagar, observado o disposto no § 6º. (grifos nossos) Logo, percebe-se que o reconhecimento da perda pode variar, dependendo da norma seguida. Outros órgãos reguladores tratam do assunto e precisam ser consultados. Se a empresa utilizar os limites estabelecidos no Decreto n. 9.580/2018, poderá estar evidenciando de forma inapropriada suas perdas, impactando diretamente no resultado. O profissional da contabilidade deve, então, utilizar seu julgamento ético para reconhecer as PECLD no cumprimento dos princípios fundamentais. TEMA 2 – FRAUDES VERSUS ERROS Para Wuerges e Borba (2014, p. 466), “Fraudes nas demonstrações financeiras (FDF) custam caro para os investidores e podem prejudicar a credibilidade dos auditores. Para prevenir e detectar fraudes, é útil conhecer suas causas.”. De acordo com a NBC TI 01 (CFC, 2003), a diferença entre fraude e erro está na intenção do ato. Quando há intenção de omitir ou manipular uma informação, tem-se a fraude, como disposto a seguir: O termo “fraude” aplica-se a ato intencional de omissão e/ou manipulação de transações e operações, adulteração de documentos, registros, relatórios, informações e demonstrações contábeis, tanto em termos físicos quanto monetários. (CFC, 2003) Quando não existe o propósito de omitir uma informação, seja por desatenção ou desconhecimento do assunto, tem-se o erro: O termo “erro” aplica-se a ato não-intencional de omissão, desatenção, desconhecimento ou má interpretação de fatos na elaboração de registros, informações e demonstrações contábeis, bem como de transações e operações da entidade, tanto em termos físicos quanto monetários. (CFC, 2003). Crepaldi e Crepaldi (2019, p. 525) relatam que a fraude é um problema frequente nas empresas devido ao enfraquecimento dos valores éticos, morais e sociais e, sobretudo, da insuficiência dos sistemas de controle interno. Segundo os autores, as circunstâncias que induzem ao risco de fraude e erro são: a. estrutura ou atuação imprópria da administração; b. intimidações internas e externas; 8 c. operações que apresentem alguma anormalidade; d. problemas internos na execução dos trabalhos de auditoria; e. aspectos característicos de sistemas de informação computadorizados. Quanto ao exercício da profissão contábil e de seus auxiliares, o art. 1.177 do Código Civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Brasil, 2002) – estabelece que “[...] No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.”. O preposto é aquele que representa o titular, realiza o serviço e exerce a tarefa mediante delegação da pessoa do proponente (o contador, por exemplo). O proponente, por sua vez, é aquele que atribui as tarefas ao preposto (por exemplo, a empresa cliente). Nesse sentido, qualquer inconsistência que exista na contabilidade é responsabilidade do contador, que deve responder por todo erro ou fraude. Goto (2019, p. 74) menciona que o profissional responderá pelo dano causado ao titular do negócio, erro de má-fé ou omissão proposital do erro, por exemplo, quando houver lançamentos inapropriados ou ajustes em desacordo com o negócio. A responsabilidade do contador é solidária à do titular do negócio. Segundo Pereira e Nascimento (2005), fraudes e erros causam impactos na sociedade de forma geral. As fraudes praticadas por uma empresa estabelecida nos Estados Unidos, por exemplo, refletirão nos demais países em que a organização tiver aplicações. Nos Estados Unidos, a Comissão de Valores Mobiliários (em inglês, SEC) não consegue denunciar todos os casos de fraude por meio dos Comunicados de Execução Contábil e de Auditoria (AAERs, em inglês). As empresas envolvidas em fraudes nas demonstrações financeiras têm, a princípio, uma probabilidade de 1,43% de serem pegas (Wuerges; Borba, 2014, p. 478). No relatório apresentado pela Associação de Examinadores Certificados de Fraudes (em inglês, ACFE), foram detectados 112 casos de fraude na América Latina em 2016, 18 deles ocorridos no Brasil. 9 2.1 Aplicação prática Suponha que o cliente do profissional contábil tenha realizado compras sem notas fiscais. Ele relata ao contador que forneceu todos os documentos pertinentes para o registro contábil. O profissional realmente recebeu todos os documentos, pois algumas operações foram realizadas sem a emissão de notas fiscais, mas não tinha conhecimento do fato. Nesse caso, o contador estaria cometendo um erro ou uma fraude diante das normas contábeis? O profissional foi induzido a um erro por má-fé do cliente, devendo, então, responder dentro do âmbito de sua responsabilidade. Presume-se que nessa relação entre cliente e contador haja confiança e o princípio da boa-fé, por isso o erro é considerado grave, podendo até ser classificado como fraude. O profissional contábil, mesmo não sendo informado das operações fraudulentas, poderia detectar por meio do levantamento do estoque físico, confrontando com as informações das demonstrações contábeis. O julgamento profissional mais uma vez é de suma importância no exercício da profissão, assim como a competência para a realização da análise das demonstrações e a detecção de fraudes. TEMA 3 – PENALIDADES AO PROFISSIONAL CONTÁBIL É importante pontuar que existem deveres e vedações do profissional contábil, assim como penalidades previstas no Código de Ética Profissional do Contador – NBC PG 01 (CFC, 2019). Algumas das condutas contabilistasque, ao serem praticadas, configuram infrações são: • descumprir os princípios de ética da contabilidade – princípio de integridade, objetividade, competência profissional e devido zelo, confidencialidade e comportamento profissional adequado; • atuar sem o devido registro no conselho; • manter conduta inapropriada na execução das tarefas; • incorrer sempre nos mesmos erros, o que demonstra incapacidade técnica; • apropriar-se de documentos dos clientes; • perder documentos que foram confiados ao profissional; 10 • adulterar os documentos; • envolver-se em fraudes aos cofres públicos; • produzir materiais de contabilidade divergentes dos fatos ocorridos. Sá (2009) aponta que a corrupção faz parte da história desde tempos antigos, mas que, nas últimas décadas do século XX, parece ser mais constante. Também registra que “[...] fraudes oferecem um quadro de deterioração universal, movida pela ambição do poder e da constituição da riqueza ilícita.” (Sá, 2009, p. 172). A fim de nortear a conduta dos contadores é que há o Código de Ética Profissional do Contador (CFC, 2019), prevendo penalidades aos profissionais que eventualmente venham a agir de má-fé na realização de suas atividades. Também se aplicam alguns artigos do Novo Código Civil (Brasil, 2002), especialmente o art. 1.177. Conforme o item 20 da NBC PG 01 (CFC, 2019), a aplicação das penalidades quanto à infração ética (descumprimento do Código de Ética Profissional do Contador) consiste em “(a) advertência reservada; (b) censura reservada; ou (c) censura pública”: a. Advertência reservada: ocorre quando o profissional é advertido por alguma imprudência cometida. Ele é comunicado de forma reservada, por exemplo, se deixar de escriturar nos livros de diário e razão documentos contábeis hábeis. b. Censura reservada: a advertência é realizada pelo conselho ao contador infrator, alertando-o do ato antiético e censurando-o reservadamente, por exemplo, se deixar de cumprir os serviços contábeis expressamente contratados. c. Censura pública: é uma forma de punição mais grave, sendo levada a público com a identificação do objeto, o nome do censurado e o motivo da censura. Acontece, por exemplo, quando há manipulação de informações para alcançar o resultado almejado. A advertência reservada, a censura reservada e a censura pública ocorrem nos casos previstos no Código de Ética Profissional do Contador. Entretanto, existem outras penalidades quanto a infrações disciplinares (descumprimentos da legislação que tratam das normas técnicas), que resultam em multa, suspensão do exercício da profissão e extinção do registro. 11 3.1 Penalidades disciplinares e éticas O Decreto-Lei n. 9.295, de 27 de maio de 1946 (Brasil, 1946), alterado pela Lei n. 12.249, de 11 de junho de 2010 (Brasil, 2010), art. 27, estabelece as seguintes penalidades disciplinares aos contadores (Quadro 1): Quadro 1 – Infrações e penalidades Infração Penalidade • Exercer a profissão sem concluir o curso de Bacharelado em Ciências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional de Contabilidade a que estiver sujeito. • Atuar como perito sem ser diplomado em contador. Multa de 1 (uma) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade do exercício em curso. • Executar os respectivos serviços sem provar aos Conselhos de Contabilidade que os encarregados da parte técnica são exclusivamente profissionais habilitados e registrados na forma da lei. • Todo aquele que se propuser, seja por meio de anúncios, placas, cartões comerciais ou outros meios, a exercer o serviço sem ser habilitado ao exercício da profissão. Multa de 1 (uma) a 10 (dez) vezes aos profissionais e de 2 (duas) a 20 (vinte) vezes o valor da anuidade do exercício em curso às empresas ou a quaisquer organizações contábeis. • Aos infratores de dispositivos não mencionados anteriormente ou para os quais não haja indicação de penalidade especial. Multa de 1 (uma) a 5 (cinco) vezes o valor da anuidade do exercício em curso. • Falsidade de documentos e erros de escrituração praticados com objetivo de fraudar as rendas públicas. Suspensão do exercício da profissão pelo período de até 2 (dois) anos. • Incapacidade técnica no exercício de suas funções, a critério do CRC a que estiver submetido, concedida a mais ampla defesa. Suspensão do exercício da profissão pelo prazo de 6 (seis) meses a 1 (um) ano. • Incapacidade técnica de natureza grave, crime contra a ordem econômica e tributária, produção de falsa prova de quaisquer dos requisitos para registro profissional e apropriação indevida de valores de clientes confiados a sua guarda, desde que homologada por 2/3 (dois terços) do Plenário do Tribunal Superior de Ética e Disciplina. Cassação do exercício profissional. • Casos previstos no Código de Ética Profissional dos Contabilistas. Advertência reservada, censura reservada e censura pública. Fonte: Adaptado de Brasil, 2010. TEMA 4 – CONDUTAS IRREGULARES COMUNS À DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO As condutas irregulares comuns à Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) dependem dos objetivos que se quer atingir. Entre os vários métodos utilizados pelos fraudadores na elaboração da DRE, tem-se: • Manipular gastos: empresas podem ocultar gastos para divulgar uma lucratividade maior e, assim, aumentar os preços de suas ações. 12 • Inflar receitas: empresas podem gerenciar os ganhos com o objetivo de apresentar uma imagem melhor do que realmente têm. Com as receitas maiores do que são, pode haver maior interesse dos investidores, os acionistas ficam felizes, os gestores atendem aos orçamentos e até ganham bonificações. Essas condutas irregulares ou fraudentas são as mais comuns relacionadas à DRE. 4.1 Caso prático Imagine que a empresa Delta esteja apurando resultados desfavoráveis. Em uma reunião com os gestores da empresa, essa situação foi discutida e se decidiu que era de extrema necessidade reverter o resultado, pois havia uma probabilidade alta de perder investidores. Chegou-se à conclusão de que os gastos com manutenção deveriam ser ocultados e lançados em momento oportuno. A decisão tomada se refere a uma conduta regular ou irregular? A ocultação de gastos faz com que o resultado da empresa fique maior e garanta os investimentos, mas é uma conduta irregular, pois a ocultação de informações é uma atitude antiética prevista no Código de Ética Profissional do Contador. Agora, suponha que a empresa tenha realizado a venda de um terreno para obter recursos. Em negociação com o comprador, propõe a emissão do documento de venda por um valor superior, pois precisa aumentar seu lucro a qualquer custo para transparecer aos investidores que a situação financeira é favorável. O comprador, incialmente, não concorda com essa operação, mas a empresa garante que assume os custos que excederem o valor real negociado. Assim, o negócio é fechado. Nesse caso, pode-se dizer que o gerenciamento foi lícito? Novamente, a conduta da empresa é irregular, ilícita, pois está aumentando o resultado por meio de uma prática fraudulenta, simulando uma situação que não aconteceu. Vale dizer que é possível gerenciar o resultado sem que a conduta seja considerada irregular, conforme apontam autores como Favoretto et al. (2017, p. 119). Em caso de medidas conservadoras, tem-se o reconhecimento maior de provisões e a aceleração da depreciação, por exemplo. Em casos de 13 medidas mais agressivas, pode-se evitar ou diminuir o montante de provisões, reduzir as cotas de depreciação e reconhecer as receitas durante o processo produtivo. TEMA 5 – CONDUTAS IRREGULARES COMUNS AO BALANÇO PATRIMONIAL As condutas irregulares comuns ao Balanço Patrimonial também dependem dos objetivos que se quer atingir. Entre as váriaspráticas usadas por fraudadores que podem ser citadas como exemplos, estão: • Falsificação de contratos, lançamentos e outros documentos: reconhecimento de ativos e passivos sem documento comprobatório. Nesse caso, há exemplos como a reavaliação de ativos e o reconhecimento de perdas com crédito de liquidação duvidosa de forma subjetiva. Quando há a reavaliação de ativos no Balanço Patrimonial por um valor maior, o interesse pode estar em demonstrar aos usuários que a empresa tem bens e direitos suficientes para cumprir com suas obrigações. Quando o fraudador subestima o valor das perdas com crédito de liquidação duvidosa, o índice de liquidez tende a ser maior, pois o saldo de direitos aumenta a liquidez da empresa e o interesse pode estar em apresentar condições suficientes para a obtenção de novos empréstimos. • Falta de reconhecimento de contas patrimoniais: empresas deixam de reconhecer ativos e passivos, como é o caso daquelas que têm risco eminente e não reconhecem provisões contingenciais. A empresa, por exemplo, desenvolve atividades com alto risco de contaminação do solo e não reconhece a provável saída de recursos para a recuperação do meio ambiente. A falta de reconhecimento dessa informação distorce as informações contábeis, pois, se não há uma obrigação reconhecida no passivo, entende-se que a empresa tem um índice de endividamento menor. Logo, é considerada uma conduta irregular. Existem ainda outras condutas irregulares que podem afetar o Balanço Patrimonial, mas essas são as mais comuns. 14 TROCANDO IDEIAS Santos e Grateron (2003, p. 11) afirmam que “[...] qualquer manipulação da informação contábil que contenha uma distorção na conformação correta desta deve ser entendida como uma espécie de fraude”. Entretanto, Martinez (2001, p. 13) considera que o gerenciamento dos resultados não é fraude contábil, pois as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o gestor que realiza suas escolhas. Sendo assim, pode-se afirmar que o gerenciamento é uma fraude contábil? NA PRÁTICA O gerenciamento de resultados é uma prática comum nas empresas e tem sido objeto de estudo de várias pesquisas científicas. Pergunta-se: o gerenciamento é uma prática legal ou fraudulenta? * * A resolução dessa proposição está disponível na seção Respostas. FINALIZANDO O gerenciamento de resultados tem sido utilizado devido à existência de diversas estimativas permitidas por lei, subjetividade na aplicação das normas, valores éticos e culturais relativos a cada indivíduo, entre outros motivos. Entretanto, as práticas de gerenciamento devem ser cuidadosamente aplicadas. A Figura 3 resume os limites estabelecidos para o gerenciamento de resultados: Figura 3 – Limite entre gerenciamento de resultados e fraude contábil Fonte: Zendersky, 2005, p. 31. 15 Observa-se que há limites estabelecidos quanto ao gerenciamento de resultados. Se esse gerenciamento estiver de acordo com as normas éticas e disciplinares, não é considerado uma fraude contábil. As atitudes fraudulentas, por sua vez, são penalizadas. A fraude, portanto, é um ato intencional ilegal. O erro pode ocorrer, mas não é intencional e deve ser corrigido e justificado assim que identificado. As condutas irregulares resultam em penalidades. 16 REFERÊNCIAS A LAVANDERIA. Direção: Steven Soderbergh. EUA: Netflix, 2019. 96 min. BORGES, S. R. P.; ANDRADE, M. E. M. C. Empresas listadas na B3 vs. Processos sancionadores da CVM: em qual setor você aposta? RMC – Revista Mineira de Contabilidade, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 63-75, 2019. Disponível em: <https://revista.crcmg.org.br/index.php?journal=rmc&page=article&op=view&pat h%5B%5D=864&path%5B%5D=577622>. Acesso em: 14 abr. 2020. BRASIL. Decreto-Lei n. 9.295, de 27 de maio de 1946. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 maio 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del9295.htm>. Acesso em: 14 abr. 2020. _____. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 14 abr. 2020. _____. Lei n. 12.249, de 11 de junho de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 jun. 2010. 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