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FERTILIZAÇÃO E NIDAÇÃO A Blastocele é a cavidade do Blastocisto; O trofoblasto origina a placenta e as membranas ovulares (amniocoriais); e o Embrioblasto origina o embrião PLACENTA A placenta a termo tem, em geral, forma discoide; o peso varia em função de diversos fatores, sendo em torno de 430 a 650 g, tomado após a retirada do excesso de sangue, das membranas e do cordão umbilical. O ponto de inserção do cordão é, na maioria das vezes, levemente excêntrico ou central, na superfície fetal, a qual é vermelho-escura, lisa e revestida pelas duas membranas – âmnio e córion –, que se refletem nas margens da placenta para formar as membranas ovulares. Na placenta normal, o âmnio é fino, liso e transparente, deixando ver os vasos coriônicos, ramos dos vasos umbilicais que partem do ponto de inserção do cordão. A superfície materna, que fica em contato com o leito de implantação no útero durante a gestação, tem coloração vermelho-vinhosa e é muitas vezes dividida em lobos ou cotilédones, separados por sulcos que se continuam em septos no parênquima viloso. A superfície de corte tem coloração vermelho-escura e textura esponjosa, podendo-se notar o desenho dos lóbulos fetais, áreas arredondadas sem demarcação completa, cujo centro frequentemente tem aspecto amolecido, mais rarefeito, correspondendo à região de maior afluxo de sangue materno. O cordão umbilical, cujo comprimento médio é de cerca de 50 a 60 cm, contém normalmente duas artérias e uma veia A parte mais importante do parênquima placentário é a placa vilosa, constituída pelos vilos ou vilosidades coriônicas, ramificações arboriformes de troncos vilosos que partem do córion e que, por isso, são chamados em conjunto de córion viloso ou frondoso. O aspecto histológico e o grau de complexidade dos vilos modificam-se durante a gestação. Assim, no 1 o trimestre são grandes, constituídos por estroma frouxo, contendo vasos de luz estreita PATOLOGIA DA PLACENTA E DA GESTAÇÃO em posição central e revestidos por duas camadas de trofoblasto (produzem B-HCG): a interna, contínua, de citotrofoblasto; e a externa, o sinciciotrofoblasto. As vilosidades coriônicas e os troncos vilosos são componentes fetais da placenta, assim como o âmnio e o córion, que formam a face fetal do órgão. Na superfície materna, encontra-se a decídua basal, localizada na base de inserção da placenta, formada por endométrio modificado (decidualizado) que contém duas camadas de fibrina, constituindo a única porção de origem materna. A deposição desta é indício de degeneração da placenta. Na decídua, podem ser observadas as arteríolas espiraladas modificadas pela invasão trofoblástica prévia e que se abrem no espaço interviloso. As membranas fetais, que formam a bolsa que contém o feto, são também chamadas córion leve ou liso, em oposição ao córion frondoso ou viloso, por não apresentarem vilos, a não ser no primeiro trimestre gestacional, sofrendo posteriormente atrofia progressiva. As membranas fetais são formadas por âmnio, córion e a chamada decídua capsular, endométrio decidualizado que reveste as outras áreas da cavidade uterina e que adere às membranas fetais durante o crescimento do concepto. Na imagem, o aglomerado de células trofoblásticas, indicado pela seta menor, é presente em placenta madura, assim como a fibrina, marcada em rosa. A visualização de hemácias maternas é importante pela possível sugestão de traço falcêmico, caso em aspecto de foice CIRCULAÇÃO PLACENTÁRIA O sangue desoxigenado entra na placenta pelas artérias umbilicais, que se ramificam e originam as artérias coriônicas. Estas, por sua vez, se ramificam e entram nas vilosidades Nas vilosidades, forma-se extenso sistema capilar, com grande proximidade do sangue materno/fetal. Agora, este sangue oxigenado volta para o feto pela veia umbilical GRAVIDEZ ECTÓPICA O termo ectópica refere-se à gravidez que se desenvolve fora da sua localização normal, ou seja, a cavidade uterina. Na grande maioria dos casos (98%), ocorre na tuba uterina, principalmente nos terços médio e distal; mais raramente, desenvolve-se nas fímbrias ou na porção intersticial (intrauterina) da tuba. Ainda mais raras são a gravidez abdominal, a ovariana ou a do canal cervical. FATORES DE RISCO DIP prévia (salpingite crônica); cicatriz e aderência peritubária (apendicite, endometriose, cirurgia); uso de DIU CAUSAS Os fatores etiológicos mais apontados são os que causam retardo na passagem do ovo pela tuba: (a) componente mecânico, como processos inflamatórios ou cirurgias prévias (salpingoptripsia); (b) condições que aumentam a receptividade tubária, como endometriose; (c) distúrbios funcionais; (d) fatores relacionados com a própria motilidade do ovo. CLÍNICA Dor abdominal moderada a grave, amenorreia e sangramento vaginal 6 a 8 semanas após o último período menstrual (mulher em idade reprodutiva e sexualmente ativa) EVOLUÇÃO Na gravidez ectópica, a placenta é acreta, ou seja, implantada em leito desprovido de decídua. A ruptura da tuba, principal complicação nessa localização, ocorre quando o trofoblasto se infiltra na parede tubária até a serosa. A principal consequência é hemorragia, que pode resultar em quadro de abdome agudo e choque, constituindo emergência cirúrgica das mais graves e importante causa de morte materna PROPEDÊUTICA I: USG Pélvica Vê-se um útero vazio e o anexo com aumento de volume II: Beta-HCG Aumentado ABORTAMENTO Conceitua-se como aborto a perda do concepto antes de sua viabilidade, isto é, antes de ser capaz de sobreviver fora do ambiente intrauterino. A Organização Mundial da Saúde, em 1977, denominou aborto espontâneo a “expulsão ou extração de embrião ou feto pesando 500 g ou menos” As perdas gestacionais antes da viabilidade são divididas de acordo com as duas grandes fases do desenvolvimento, ou seja: (a) abortos precoces, os que ocorrem no período embrionário – portanto, da fertilização até o final da 8 semana, quando se finaliza o desenvolvimento estrutural dos órgãos; (b) abortos tardios, aqueles que acontecem no período fetal pré-viável, que vai do início da 9 até a 18 semana de desenvolvimento ou 20 semana gestacional (ou pós-menstrual). A etiologia do aborto espontâneo está relacionada com dois fatores: (a) genéticos, importantes nos abortos precoces; (b) ambientais, resultado de eventos anormais na implantação, na morfogênese e no desenvolvimento de conceptos normais, em geral mais relacionados com perdas tardias As condições mais associadas ao aborto são: I: Alterações cromossômicas II: Infecções III: Doenças ou condições maternas OBS: IIC: Incompetência istmo-cervical IV: Fatores imunitários OBS: Higroma: Edema cístico em torno do pescoço DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Grupo de condições inter-relacionadas, embora constituam entidades independentes e de diferentes origens, que têm características clínicas e anatomopatológicas em comum. Entre as características clínicas, sobressai o achado de níveis sanguíneos elevados de gonadotrofina coriônica humana e a proliferação de tecido placentário MOLA HIDATIFORME MOLA HIDATIFORME COMPLETA A mola hidatiforme completa (MHC) resulta de erro da fertilização em que um óvulo “vazio”, desprovido de genoma (perdido durante a meiose), é fecundado por um espermatozoide haploide 23 X que duplica subsequentemente o seu conjunto de cromossomos. Em 20 a 25% dos casos, a fertilização pode ser dispérmica (óvulo fecundado por dois espermatozoides), resultando em molas com cariótipo 46 XX ou, mais raramente, 46 XY Assim, a mola completa é um produto da concepção de constituição androgenética ou diândrica, ou seja, possui cromossomosderivados apenas do lado paterno. O embrião regride precocemente e a placenta sofre transformação progressiva, difusa e característica, na qual as vilosidades coriônicas mostram: (a) edema do estroma, com acúmulo de líquido e formação de vesículas; (b) desaparecimento dos vasos sanguíneos; (c) proliferação trofoblástica apolar, de grau variável, com atipias nucleares acentuadas. A MHC é a condição mais frequente no grupo da doença trofoblástica gestacional Macroscopia e Microscopia Macroscopicamente, quando plenamente desenvolvida, a MHC tem o aspecto clássico de “cacho de uva”, massa composta de vesículas de parede delicada e conteúdo líquido claro, ligadas entre si por troncos vilosos delgados; nessa massa não se identificam embrião ou feto, cordão umbilical ou membranas. O exame microscópico mostra proliferação trofoblástica de intensidade variável em vilos edemaciados e avasculares ou contendo poucos vasos sanguíneos. O intenso edema do estroma forma cavitações centrais (cisternas) nos vilos (Figura 21.24 B), transformando- os nas vesículas vistas à macroscopia. O edema se forma basicamente em virtude da ausência de vascularização e, portanto, de drenagem do conteúdo líquido do estroma Quadro Clínico O quadro clínico caracteriza-se por hemorragia vaginal, distensão anormal do útero e, não raramente, eliminação de vesículas Propedêutica A ultrassonografia é importante no diagnóstico, assim como a dosagem periódica do β-hCG, cujos níveis tendem a cair dentro de algumas semanas após a evacuação do conteúdo uterino. OBS: No USG, pode-se realizar curetagem e mandar à patologia, em vista do diagnóstico e da ajuda à terapêutica Complicações A principal complicação da MHC é a malignização para coriocarcinoma.. Outra complicação é a penetração de tecido molar na parede uterina e na corrente sanguínea, através da qual atinge vários órgãos, especialmente os pulmões. OBS: Tem associação e risco aumentado à mola invasiva MOLA HIDATIFORME PARCIAL Mola hidatiforme parcial (MHP) surge nos casos de triploidia, que resulta de erro de fertilização por mecanismos diferentes: dispermia (fertilização de um óvulo por dois espermatozoides), o mais comum; fertilização de um óvulo haploide por um espermatozoide diploide; fertilização de um óvulo diploide por um espermatozoide haploide. Nos dois primeiros casos, ocorre diandria (predomínio do genoma paterno) e, no terceiro, diginia (predomínio do genoma materno). Macroscopia e Microscopia Na MHP a placenta é volumosa e apresenta vesículas de parede fina e conteúdo claro, semelhantes às observadas na mola hidatiforme completa. A mola parcial pode ser distinguida morfologicamente da mola completa pelos seguintes elementos: (a) embrião ou feto geralmente presente, com anomalias diversas e alguns aspectos característicos, como membros finos e sindactilia entre o terceiro e o quarto quirodáctilos; (b) placenta com vesículas, embora não tão evidentes como na mola completa, de distribuição focal ou difusa; (c) vilos com hidropisia variável, de contornos irregulares, com vasos e frequentes pseudoinclusões trofoblásticas estromais; (d) alguns vilos aparentemente normais; (e) proliferação trofoblástica mais discreta e sem atipias MOLA INVASORA É lesão com alto poder invasivo, formada por vilosidades de tipo molar e trofoblasto infiltrante, sendo considerada o equivalente molar da placenta increta; tende a invadir profundamente a parede uterina e pode causar hemorragia grave e até perfuração do órgão. Suspeita-se do diagnóstico quando persistem hemorragia e aumento do volume uterino e dos níveis séricos de gonadotrofina coriônica após curetagem de mola hidatiforme. Como seu potencial maligno é relativamente baixo, em geral a terapêutica é conservadora. O diagnóstico histológico é confirmado pela presença de trofoblasto proliferado e de vilosidades coriônicas na intimidade do miométrio, elementos que a distinguem do coriocarcinoma (neste não se encontram vilos) e de outras formas de doença trofoblástica residual. CORIOCARCINOMA É a neoplasia maligna constituída pela proliferação de sincício e citotrofoblasto que se origina em mola hidatiforme, aborto, gravidez normal ou ectópica Caracteristicamente, apresenta-se como tumor sólido, infiltrante ou polipoide, friável, necro-hemorrágico, com grande tendência a invasão vascular. À microscopia, é típico o dimorfismo celular (histologia bifásica), ou seja, a presença constante de cito e de sinciciotrofoblasto, com pleomorfismo e figuras atípicas de mitose. De forma característica e ao contrário da mola hidatiforme e da mola invasora, não se encontram vilosidades coriônica O coriocarcinoma manifesta-se por hemorragia vaginal poucos dias ou semanas após a expulsão do concepto. As gonadotrofinas coriônicas encontram-se elevadas, em níveis habitualmente maiores do que na mola hidatiforme DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA Consiste na separação parcial da placenta antes do trabalho de parto PATOGÊNESE E MORFOLOGIA Provavelmente, inicia-se com a ruptura de uma artéria espiralada uterina, que leva a um hematoma retroplacentário. Este aparece como coágulo de volume variável, aderente à superfície materna e, os mais antigos, quando removidos, deixam uma área de depressão, com infarto viloso adjacente OBS: Ocorre no fim da gestação e tem indicação de cesárea FATORES PREDISPONENTES I: Idade materna > 40 anos II: Pré-Eclâmpsia III: Hipertensão IV: Usuárias de cocaína V: Tabagismo VI: Leiomiomas Uterinos VII: Trauma QUADRO CLÍNICO Dor abdominal de início súbito; Sangramento uterino contínuo (vermelho escuro); Hiperssensibilidade e Hipertonia uterina EMERGÊNCIA Sofrimento fetal agudo e complicações maternas (choque hipovolêmico, coagulopatia de consumo, útero de Couvelaire, lesão renal aguda e síndrome de Sheehan) PLACENTA PRÉVIA Placenta prévia refere-se à placenta de implantação baixa, no segmento inferior do corpo ou sobre o óstio interno do canal cervical, e “prévia” em relação à apresentação fetal; Associa-se a multiparidade, idade materna avançada, abortos prévios e gravidez múltipla. É a principal causa de sangramento no 3º trimestre, porém este vem sem dor, dada a leves contrações que levam a separação parcial da placenta da porção inferior do útero e cérvice OBS: A falta de dor a diferencia do descolamento prévio de placenta De acordo com sua posição em relação ao óstio, é dividida em CENTRAL OU TOTAL Quando recobre inteiramente o óstio interno; LATERAL OU MARGINAL Quando a margem da placenta situa- se próximo ao óstio, sem ocluí-lo; PARCIAL Quando oclui parte do óstio. O primeiro tipo representa a forma mais grave e requer diagnóstico precoce. ACRETISMO PLACENTÁRIO Placenta acreta consiste na ausência de parte ou de toda a decídua basal, ficando as vilosidades coriônicas aderidas diretamente ao miométrio, o que impede a separação e a eliminação natural da placenta após a expulsão do feto. Ao que tudo indica, é devida a falha na transformação decidual por endométrio deficiente. Placenta acreta ocorre também quando o ovo se implanta em locais onde não há endométrio para formar decídua Condições predisponentes mais comuns são: cesarianas e curetagens uterinas prévias, implantação cornual, cicatrizes uterinas, leiomiomas e multiparidade. Placenta acreta é classificada em três tipos, de acordo com o grau de penetração dos vilos na parede uterina: ACRETA Quando as vilosidades invadem superficialmente o miométrio; INCRETA Quando penetram mais profundamente; PERCRETA Quando atravessam toda a parede do útero, o que resulta muitas vezes em ruptura do mesmo. As principais consequênciasresultam da retenção da placenta inteira, sendo necessária remoção manual ou histerectomia (increta ou percreta) OBS: O leiomioma subseroso pode interferir nesta condição OBS: É o principal diagnóstico diferencial de placenta prévia INFECÇÕES PLACENTÁRIAS Mais comumente, as infecções se dão por via ascendente (através do canal endocervical) ou por via hematogênica (através do sangue materno) INFECÇÕES ASCENDENTES Infecções ascendentes são comuns e quase sempre estão associadas a ruptura precoce das membranas, parto prematuro e aborto espontâneo no segundo trimestre de gestação. A infecção pode ser tanto a causa como resultar da ruptura precoce das membranas e de parto prematuro, pela produção e liberação de prostaglandinas no âmnio infectado, o que leva a contrações uterinas. Os agentes etiológicos predominantes são bactérias, especialmente Escherichia coli e estreptococos A expressão morfológica principal das infecções placentárias é inflamação aguda das membranas (córion e âmnio), ou seja, corioamnionite. Macroscopicamente, esta caracteriza- se por opacificação e espessamento das membranas da superfície fetal do disco placentário e do córion leve, cuja intensidade varia com a gravidade do processo. Nos casos típicos, a placenta tem odor fétido e apresenta exsudato purulento sob oâmnio. Microscopicamente, o exsudato é constituído predominantemente por neutrófilos, que, no início, infiltram-se na fibrina subcoriônica a partir do sangue materno e posteriormente no conjuntivo do córion e no mesoderma amniótico, onde se dispõe em faixa Em alguns casos de corioamnionite, o cordão umbilical é também frequentemente atingido, observando- se inflamação aguda na parede dos vasos (flebite ou arterite umbilical), a qual pode ser percebida à macroscopia como espessamento da parede dos vasos INFECÇÕES HEMATOGÊNICAS São transmitidas por meio do sangue materno e têm como principal característica morfológica a vilosite, ou seja, inflamação das vilosidades coriônicas, de extensão e intensidade variáveis. Em certas infecções, a inflamação pode ser muito discreta ou mesmo ausente. Da mesma forma, o aspecto macroscópico é variável, encontrando-se desde placentas hidrópicas, com palidez e friabilidade dos cotilédones, até placentas de aspecto macroscópico normal. De modo geral, as infecções hematogênicas são causa de aborto, prematuridade, retardo do crescimento intrauterino, morbidade e mortalidade no período neonatal; às vezes, manifestam-se na vida pós- natal. Podem resultar também em lesões graves do sistema nervoso central e, em certos casos, em malformações de diferentes órgãos. Os agentes etiológicos são variados e incluem vírus, bactérias, protozoários e, raramente, fungos e helmintos.
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