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EMPREENDEDORISMO
Autoria: Rita de Cássia Marques Lima de Castro
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
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Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
C355e
Castro, Rita de Cássia Marques Lima de
Empreendedorismo. / Rita de Cássia Marques Lima de
Castro – Indaial: UNIASSELVI, 2022.
144 p.; il.
ISBN 978-65-999505-7-5
1. Empreendedorismo. - Brasil. II. Centro Universitário
Leonardo da Vinci.
CDD 650
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Empreendedorismo & Inovação –
Conceito, Fundamentos E Tendências ....................................... 7
CAPÍTULO 2
Desenvolvendo O Empreendedorismo Existente Em Você ... 49
CAPÍTULO 3
Empreendedorismo Na Prática .................................................. 95
APRESENTAÇÃO
Esta obra trata de um conjunto de assuntos importantes para o desenvolvi-
mento das nações e para o seu desenvolvimento, em particular. Seu tema central
é o empreendedorismo, atividade que envolve muito mais do que uma ação ad-
ministrativa ou o crescimento de um mercado. O empreendedorismo é uma fonte
preciosa para a inovação e esta, por sua vez, é uma exigência para evoluir. Uma
nação cresce e se desenvolve quando há nela o espírito empreendedor, aquele
espírito que leva as pessoas a arriscarem, de uma forma calculada, sim, mas
ousada, a buscarem novas formas de ofertar produtos e serviços, a buscarem
soluções para questões-problema, a anteciparem tendências... enfim, o nosso as-
sunto-mestre é instigante e essencial quando falamos de administração em sua
forma mais plena, abarcando, inclusive, a área pública. Sim, o Estado deve ser
empreendedor – ele é o modelo e o incentivo para as pessoas; a sinalização dada
pelo ente estatal funciona como um poderoso motor gerador da energia empreen-
dedora tão necessária para a mudança de patamar econômico e social.
Esse panorama geral apresentado estará distribuído nos seguintes assun-
tos, a serem desenvolvidos neste livro intitulado Empreendedorismo. No Capí-
tulo 1, que abarca Empreendedorismo & Inovação – conceito, fundamentos e
tendências, após a apresentação do que é empreendedorismo e quais são seus
fundamentos, teremos o histórico, que apresenta a você uma breve evolução da
atividade empreendedora. O próximo tema será a inovação e novos negócios,
momento em que a associação entre empreendedorismo e inovação ficará bas-
tante evidente. A seguir, outra temática relevante: avaliações de ambientes para
empreender – afinal, é preciso ter essa dimensão avaliativa para tomar as deci-
sões sobre empreendedorismo de forma mais assertiva; em seguida, um aporte
sobre tendências mundiais trará os elementos para robustecer a avaliação de am-
bientes e a escolha por empreender considerando contextos atuais e futuros.
O próximo tópico inicia o Capítulo 2 – Desenvolvendo o empreendedorismo exis-
tente em você. Neste capítulo, serão apresentados os tipos de empreendedores, per-
mitindo identificar a diversidade existente quando se trata de perfil empreendedor. O
tema seguinte é a criatividade, com foco em suas características e em como ela pode
ser estimulada e aproveitada no ambiente dos negócios. Na sequência, vamos para
mais um elemento de sua relação com o empreendedorismo, com a temática que
trata do desenvolvimento das habilidades empreendedoras e criativas.
Chegamos ao capítulo 3, cujo título é Empreendedorismo na prática. O pri-
meiro tópico deste capítulo é o Planejamento – atividade relevante para qualquer
ação empreendedora. Em seguida, temos a fase igualmente importante que en-
volve as ações de implementação da ideia. Continuando na prática, chegamos a
cases de sucesso para se conhecer, de fato, o que foi estudado sobre empreen-
dedorismo em sua aplicação no dia a dia – os frutos do empreendedorismo com-
preendidos sob as lentes dos casos reais. Por fim, você se acercará de mais uma
temática essencial para pôr a teoria em prática: falamos de formas de captação de
recursos e ferramentas para desenvolver o negócio. Dessa forma, concluímos o
ciclo de aprendizado que se iniciou com os fundamentos, passou pela sua relação
com o empreendedorismo e chegou à ação administrativa no tocante à atividade
empreendedora. Que você tenha uma excelente jornada no desenvolvimento de
tão instigante tema, de tão grande importância para o desenvolvimento pessoal,
das organizações e das nações!
CAPÍTULO 1
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO
– CONCEITO, FUNDAMENTOS E
TENDÊNCIAS
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:
Compreender o conceito de empreendedorismo, seu histórico e seus funda-
mentos.
Expressar a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento socio-
econômico das nações.
Compreender o que é inovação e qual a sua relação com o empreendedorismo.
Compreender as características dos ambientes para empreender e as estraté-
gias aplicadas nesses ambientes.
Identifi car as tendências mundiais no tocante ao empreendedorismo.
Discutir a ação empreendedora e seus impactos para a economia e para a mu-
dança de patamar de indivíduos e de países.
Articular o empreendedorismo e a inovação para o exercício do saber-fazer
empreendedor.
Avaliar os ambientes para empreender e selecionar os aplicáveis aos casos
estudados.
Refl etir sobre os ambientes para empreender e sobre os modelos de negócios
e estratégias para empreender.
Examinar as tendências mundiais para o empreendedorismo.
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Empreendedorismo
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Empreendedorismo. Palavra que remete a muitas ideias e perspectivas; até
de forma intuitiva, o verbo empreender nos remete à ação. Contudo, como em
qualquer área no mundo dos negócios, a ação sem conhecimento pode ser inefi -
ciente e inefi caz. Considerando a importância de compreender para poder otimizar
as ações, desenvolvemos este conteúdo que você irá estudar a seguir. Ao realizar
as leituras e atividades propostas, que foram elaboradas para propiciar refl exão,
análise, aprimoramento das ideias, busque associar a teoria com a sua prática;
recorde-se de situações em que a atividade empreendedora esteve presente e
resgate o que foi feito em uma retrospectiva que lhe permita notar os pontos em
que a ação foi ao encontro da teoria, e os pontos em que não houve esse match,
pontos esses que poderiam ser melhorados. Com essa atitude crítico-refl exiva,
você notará que aprendemos com o que não foi “perfeito’ e podemos aprimorar,
em ações futuras, aquelas ações que não alcançaram a otimização esperada.
Então, é com esse foco em compreender o empreendedorismo em seus fun-
damentos que este capítulo se inicia. Todos nós temos conceitos relacionais so-
bre empreendedorismo.
Se perguntassem a você o que é empreendedorismo, o que res-
ponderia? Refl ita sobre essa questão e anote o que pensou. Depois,
compare com o que está estudando sobre o assunto. Você compro-
vará que a ação empreendedora, em sua essência, tem característi-
cas que podemos reconhecer, de antemão, e que a teoria mostrará o
porquê dessas características e qual a sua importância para a ativi-
dade de empreender.
Após apresentar o conceito deempreendedorismo e quais são seus fundamen-
tos, chegamos ao histórico, que apresenta a você uma síntese do panorama evolutivo
do empreendedorismo, trazendo-lhe subsídios para compreender que as caracterís-
ticas centrais da atividade empreendedora trazem, em si, a capacidade de se autor-
reinventar, de se renovar, de quebrar paradigmas, o que evidenciará a importância
do empreendedorismo para o desenvolvimento socioeconômico das nações e para o
próprio desenvolvimento dos indivíduos e das organizações. O próximo tema será a
inovação e novos negócios, momento em que a associação entre empreendedorismo
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Empreendedorismo
e inovação fi cará bastante evidente para você e possibilitará a articulação entre em-
preendedorismo e a inovação para o exercício do saber-fazer empreendedor.
Chegaremos às avaliações de ambientes para empreender, o que lhe permi-
tirá compreender as características dos ambientes para empreender e as estraté-
gias aplicadas nesses ambientes, trazendo-lhe um espaço para refl exão sobre o
tema e sobre os modelos de negócios e estratégias para empreender, e, por fi m, a
discussão acerca de tendências mundiais lhe permitirá identifi cá-las e avaliá-las,
fortalecendo sua capacidade de avaliação de ambientes e de escolha por em-
preender considerando contextos atuais e futuros. Toda essa base é necessária
para desenvolver características empreendedoras existentes em você e aplicar
ações empreendedoras na prática. Antes de dizer: “ah, mas eu não quero ter meu
próprio negócio”, um importante recado: podemos empreender sem ter o nosso
negócio, podemos ser intraempreendedores. Empreender é atitude; atitude esta
esperada em ambientes dinâmicos e complexos como o mundo atual como condi-
ção para evolução e para a perenidade. Pense nisso!
2 EMPREENDEDORISMO
& INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS
Empreendedorismo. Palavra plena de conceitos. Para começar nosso pro-
cesso de compreensão e refl exão, vamos a alguns deles.
2.1 CONCEITOS, HISTÓRICO
E FUNDAMENTOS DO
EMPREENDEDORISMO
Um conceito consolidado e importante vem de Filion (1999, p. 19): “Um em-
preendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.” Um concei-
to com várias décadas e que se mostra absolutamente atual – e traz a primeira
palavra que você encontrará diversas vezes neste estudo: realização.
Dornelas (2008, p. 14) nos diz que empreendedora é a pessoa que “assume
riscos e começa algo novo”. O mesmo autor, em obra de 2001, citada por Rainho
(2008, p. 24) ainda nos conta que empreendedora é “pessoa que faz acontecer,
antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização”. O ato de empreen-
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
der envolve, em sua origem do termo, que é francesa (entrepreneur), a ideia de
realização, de fazer ou de executar algo. Hisrich, Peters e Sheperd (2009) apon-
tam que a etimologia dessa palavra leva à associação com a palavra intermediá-
rio, alguém que está “entre algo”, mas que está sempre associada, desde o início
de seu uso, a proposições de assumir riscos em empreendimentos, bem como
de alguém que “introduz mudanças, inovação e uma nova ordem” (HISRICH; PE-
TERS; SHEPERD, 2009, p. 29).
Essas abordagens iniciais nos remetem à compreensão de que empreendedo-
rismo traz concepções de ousadia, de proatividade, de antecipação a deman-
das, de inovação e, importante destacar, a ideia de realização de ideais, de vi-
sões . Em Administração, sabemos que transformar ideias em algo concreto e que se
mostre viável é um grande desafi o. Há pessoas que são criativas, que têm diversas
ideias, mas lhe faltam elementos de transformação dessas ideias em ações, lhes falta
o que podemos resumir como capacidade de execução. O empreendedor, em essên-
cia, é alguém que tem a visão e consegue torná-la ação, realização.
Acrescentemos a esses primeiros conceitos a defi nição clássica, mui-
to conhecida, que Dornelas (2008) traz do economista norte-americano Joseph
Schumpeter. É uma defi nição antiga, de 1949, mas atemporal – Schumpeter criou
o conceito de destruição criativa, que seria a eliminação de mercados e sua subs-
tituição por outros mercados, por meio da inovação. “Como assim?”, você poderia
se perguntar. DESTRUIÇÃO CRIATIVA seria algo bom? Sim, porque a ideia por
trás desse conceito é a de que a inovação permitirá o crescimento e a perenidade,
a inovação, ao “destruir” algo, não deixa esse algo “vazio”, e aqui está o ponto
principal de sua importância – não é o destruir por destruir, é o destruir para cons-
truir, para substituir imediatamente algo que existia por algo melhor. Assim foi, por
exemplo, na substituição de máquinas de escrever por computadores, na substi-
tuição de disquetes por pendrives, na substituição de telégrafos por telefones.
Qual a relação do conceito econômico de Schumpeter com o empreendedo-
rismo? Está no próprio conceito da atividade de empreender que o economista
norte-americano cunhou: empreendedora é a pessoa que destrói a ordem econô-
mica vigente mediante a criação e a introdução, no mercado, de novos produtos
e/ou serviços, de novos processos e de novas formas de explorar recursos para a
produção de produtos e/ou serviços.
Mais uma vez, encontramos a ideia de risco (porque inovar é quebrar pa-
radigmas e, de antemão, não podemos saber como será a receptividade dessa
inovação), de ousadia (destruir algo existente para trazer algo novo) e de ação
(introdução no mercado de produtos, serviços, processos).
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Empreendedorismo
Peter Drucker (2002) complementa a ideia de destruir para construir cha-
mando-a de administração empreendedora, citando que os economistas chamam
ao empreendedorismo como um evento metaeconômico, porque ele é algo que
ocorre fora do mundo econômico propriamente dito, contudo o impacta signifi ca-
tivamente. Colbari (2007, p. 78) assim afi rma quanto à atividade empreendedora:
ela “se refere a comportamentos e posturas que potencializam a efi ciência empre-
sarial”. A atividade empreendedora é vista como a forma de buscar o sucesso do
empreendimento, que se traduz por potencializar o que se conceitua como efi ci-
ência (otimização dos recursos) na ação administrativa.
Considerando, ainda, essas palavras-chave, pense que uma pessoa empre-
endedora tem de ter uma postura de sair dos limites que os paradigmas criam,
sair da caixa para poder vislumbrar o que se apresenta como novo, para verifi car
que há oportunidades de crescimento ainda não contempladas.
Pois bem, reservemos essas ideias, por enquanto, e sigamos com mais al-
guns conceitos:
Dornelas (2008, p. 22) afi rma que o empreendedorismo vai além do indiví-
duo; ele “é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam
à transformação de ideias em oportunidades ”. Note que, mais uma vez, a
passagem do ideal, do plano das ideias, para o plano da ação, é evidenciada na
ação empreendedora. Aqui, além de termos essa evidência, também se incorpora
um novo elemento – o empreendedor envolve pessoas e processos que atuam
para fazer essa passagem da ideia para a ação. Logo, o empreendedorismo está
presente no nível do indivíduo, bem como no nível da organização. Empreende-
dorismo é uma ação que vai envolver um importante aspecto social: a capacidade
de comunicar, de compartilhar a visão e envolver as pessoas para que essa visão
se concretize como fruto do trabalho conjunto de indivíduos. Isso posto, sigamos
com os primeiros elementos da construção do conceito de empreendedorismo.
Hashimoto (2006 , p. XX) afi rmava, já na ocasião de publicação de sua obra,
que o empreendedorismo estava se tornando “a principal mola propulsora da eco-
nomia dos países em desenvolvimento” e que o contexto, altamente competitivo,
exigente de criatividade, de aplicação de novas tecnologias, estava exigindo das
empresas ações que envolvessem inovação, criatividade e ousadia – em outras
palavras, exigiam uma atitude empreendedora dentroda própria organização. Se-
ria o que pode ser denominado empreendedorismo corporativo. O próprio autor
Hashimoto (2006) destaca que a compreensão desse termo é variável, havendo
ao menos quatro compreensões ou interpretações:
- Corporate Ventures ou Empreendimentos Corporativos: são os negócios
criados pelas organizações independentes das linhas de negócios já existentes
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
ou ofertados pela empresa. No início, eles são isolados do restante dos negócios
sendo, posteriormente, incorporados ao conjunto já existente;
- Intraempreendedorismo – é o empreendedorismo dentro do negócio, é a
atitude individual da pessoa que age criando, modifi cando processos, produtos ou
serviços. Seria o conceito de empreendedorismo em sua essência, mas feito no
ambiente organizacional.
- Empreendedorismo organizacional – é a ação empreendedora que é pau-
tada por uma cultura que apoia e estimula o desenvolvimento do empreendedo-
rismo e de ações inovadoras – cria-se uma ideia de que o funcionário deve se
comportar como se fosse o dono daquele negócio; a criação dessa cultura e des-
sa estrutura apresenta o cuidado de estimular essas ações empreendedoras em
consonância com os objetivos organizacionais.
- Alianças corporativas: é a busca do desenvolvimento da capacidade inova-
dora por meio de estruturar um relacionamento com outros negócios ou do mes-
mo ramo ou de setores que tenham alguma afi nidade.
Ademais, a mola de propulsão, ou alavancagem, que cita Hashimoto (2006),
alcança não somente a esfera privada, mas também a esfera pública. Mariana
Mazzucato (2014) é uma economista que defende a ação do Estado empreende-
dor, afi rmando que ele, o Estado, o ente governante, tem um papel essencial na
atividade empreendedora. Observe que o Estado é o espelho – dizer aos empre-
sários e às pessoas que empreendam, que ajam, que façam acontecer não sinali-
za confi ança; no entanto, quando o Estado executa, de fato, a ação de empreen-
der, quando ele se torna o agente empreendedor, ele sinaliza aos demais estratos
sociais que a atividade empreendedora é viável e será apoiada pelo Estado.
E por que isso ocorre? Porque o empreendedor compreende que não está
sozinho e que a ação empreendedora é valorizada pelo governo, reduzindo a per-
cepção de risco. Imagine uma ação empreendedora em tecnologias limpas. Você
já pensou no custo? E no risco? Quanto tempo demoraria para recuperar o inves-
timento em tecnologias limpas, que são onerosas no início, e depois nos trazem
benefícios de longo prazo em termos de mitigação da poluição dos processos pro-
dutivos? Exatamente nesse exemplo você já pode perceber que a ação empreen-
dedora ocorre em vários níveis da esfera social e econômica. Voltaremos a esse
ponto mais adiante, quando tocarmos em tendências. A fi gura a seguir sumariza
essa compreensão de que o empreendedorismo funciona como um elemento faci-
litador para as engrenagens se moverem de forma fl uida e em sincronia. Quando
as diferentes esferas sociais atuam com a visão empreendedora como foco, am-
plia-se o potencial de sucesso de uma transformação socioeconômica que melho-
re o patamar de vida das pessoas como um todo.
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Empreendedorismo
FIGURA 1 – DIMENSÕES DO EMPREENDEDORISMO
FONTE: A autora (2022)
Considere, pelo que estudamos até este momento, que é preciso uma ruptu-
ra na visão paradigmática de que empreender é algo na esfera individual e que só
pode ser feito por alguém que quer desenvolver seu próprio negócio.
Aqui, temos a primeira questão polêmica que queremos discutir
com você. Quantas vezes ouvimos dizer que para ser empreendedor
é preciso abrir um negócio? Isso não é uma assertiva verdadeira.
Ser empreendedor não signifi ca ter de abrir um negócio próprio.
Este ponto é muito importante. Precisamos romper com o conceito de que a
atividade empreendedora é restrita a uma ação individual de abertura de um ne-
gócio. Ela vai além; alcança várias esferas e se estrutura em três pilares:
1) a ação empreendedora envolve iniciativa para se criar ou modifi car algo
já existente (produto, processo, serviço);
2) essa ação ocorre mediante a aplicação de inovação e criatividade e re-
sulta em uma mudança no entorno, em uma destruição criativa;
3) por fi m, essa ação envolve a assunção de riscos, que são inerentes à
mudança, e embutem a possibilidade que há em toda ação que abarca
risco: podemos ter sucesso ou fracasso (DORNELAS, 2008).
Dando continuidade a esse conjunto de elementos para que se compreenda
a abrangência da ação empreendedora, vamos a sua importância do ponto de vis-
ta mais macro. Para tanto, façamos um breve histórico da evolução empreende-
dora, e logo você identifi cará como esses três pilares estão presentes na história
do empreendedorismo.
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
Hisrich, Peters e Sheperd (2009) começam a história do fascinante assunto,
como eles mesmos destacam, contando a aplicação da primeira defi nição relativa
ao termo empreendedorismo, que se refere à pessoa que é intermediária em algo. O
indivíduo utilizado para exemplifi car esse conceito é o grande navegador italiano Mar-
co Polo, que buscou estruturar rotas comerciais da Europa para o Extremo Oriente.
O que fazia Marco Polo? Ele era um intermediário entre a pessoa que tinha recursos
para bancar ações comerciais que envolviam risco e o mercado a ser alcançado.
Um contrato comum na época oferecia um empréstimo para o
comerciante aventureiro a uma taxa de 22,5%, incluindo segu-
ro. Enquanto o capitalista corria riscos passivamente, o comer-
ciante aventureiro assumia o papel ativo no negócio, suportan-
do todos os riscos físicos e emocionais (HISRICH; PETERS;
SHEPERD, 2009, p. 27).
O relato dos autores nos leva a imaginar a cena. Note como o risco está
presente na “aventura” da busca por novos mercados. Também atente para o fato
de que o indivíduo que assumia o risco era o que demonstrava ter ousadia para
enfrentar desafi os e perigos que a viagem proporcionaria. O resultado era incerto.
E o risco, será que valia a pena? Hisrich, Peters e Sheperd (2009) nos contam
que não. Se tudo desse certo, o comerciante receberia 25% dos lucros; os outros
75% seriam da pessoa que fi nanciou a viagem. Não é algo muito promissor, de
fato. Por que, então, os indivíduos aceitavam esse tipo de desafi o? Porque a ati-
vidade empreendedora se apresenta como algo que traz uma satisfação interna.
Ousamos afi rmar que o ser humano tem, em sua essência, um quê de buscar, de
ir além, de arriscar para conquistar novos patamares.
A evolução dos processos comerciais veio reforçar essa nossa teoria quan-
to à busca de horizontes e de quebrar os limites. Na Idade Média, o conceito de
empreendedor se ampliou e abarcou também os indivíduos que administravam
projetos, em geral de grande envergadura, como a construção de castelos, de
catedrais e de prédios públicos – fi gura essa que era mais comum ser a do padre,
que cuidava da administração e da execução desses negócios fi nanciados pelos
governos (DORNELAS, 2008; HISRICH; PETERS; SHEPERD, 2009).
No século XVII, temos uma guinada no retorno – se na época das grandes
navegações o empreendedor corria riscos e ganhava pouco, aqui se criou uma
modalidade de contrato fi xo de prestação de serviços que o empreendedor rea-
lizava com o ente governante – o que sobrava ou faltava da operação de “risco”
era por conta do empreendedor. Então, se o negócio gerasse sobra, a sobra era
toda para o empreendedor; se faltassem recursos, o prejuízo também era para o
empreendedor. Nesse século surge, em sua plenitude, esse conceito tão comum
para nós, hoje em dia, que é o do empreendedor como alguém que corre risco – o
criador desse conceito é um economista, Richard Cantillon (DORNELAS, 2008;
HISRICH; PETERS; SHEPERD, 2009).
16
Empreendedorismo
No séculoseguinte, o XVIII, temos a revolução industrial e, com ela, há vá-
rias quebras de paradigmas, no sentido mais pleno do termo revolução, como
uma transformação de caráter disruptivo, radical, em várias esferas da vida social.
No caso do empreendedorismo, a mudança mais importante de ser evidenciada
é a de que demonstra a separação entre o termo empreendedor e o termo inves-
tidor de risco. Este último é o que detém o capital e o empresta, a altas taxas de
retorno, para investir em ações que envolvem risco; e o empreendedor é o que
toma o dinheiro, por meio de um empréstimo, para desenvolver uma atividade que
também contém risco. Vale ressaltar que esse século é caracterizado por ser um
século de muitas invenções, e essas invenções requeriam investimentos.
Nos séculos XIX e XX, que veem a construção da administração e sua ma-
turação para chegar à categoria de ciência (MAXIMIANO, 2006), o empreendedo-
rismo fi ca bastante ligado a uma dimensão econômica que até levava a uma certa
confusão do conceito entre empreendedor e gerente, como nos lembram os auto-
res Hisrich, Peters e Sheperd (2009) – e no século XX se foca na concepção de
empreendedor como alguém que inova, que desenvolve algum produto, serviço
ou processo que se torna uma espécie de diferencial, único, que organiza novos
setores ou mercados por meio desse ato inovador. Do que você se recorda aqui?
Schumpeter e seu conceito de destruição criativa.
O conceito de inovação e novidade é uma parte inte-
grante do empreendorismo nessa defi nição. (...) Essa
capacidade de inovar pode ser observada no decorrer
da história, desde os egípcios que criaram e construíram
grandes pirâmides com blocos de pedra que pesavam
muitas toneladas, até o módulo lunar Apolo, a cirurgia a
laser, as comunicações sem fi o. Embora as ferramentas
tenham mudado com os avanços na ciência e na tecno-
logia, a capacidade de inovar está presente em todas
as civilizações . (HISRICH; PETERS; SHEPERD, 2009,
p. 29, grifos nossos).
O percurso histórico do empreendedorismo, embora apresentado de forma su-
cinta, já permite identifi car que a ação empreendedora modifi ca o ambiente. Ela traz
a inovação como padrão, a iniciativa e a visão que permite gerar a destruição criati-
va tão esperada como fonte para mudança e evolução. Por tudo isso, o empreende-
dorismo é considerado essencial, tanto em países de economias potentes, como a
norte-americana e a de vários países europeus e asiáticos, quanto em países com
economias emergentes, como boa parte dos países latino-americanos.
No site do Global Entrepreuship Monitor (GEM) – www.gemconsortium.org,
entidade formada por pesquisadores norte-americanos e ingleses (DORNELAS,
2008) que gera relatórios anuais e indicadores da atividade empreendedora no
mundo inteiro, pode-se evidenciar a importância do empreendedorismo ao se
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
constatar que seus resultados reduzem as desigualdades sociais, ao propiciar
que a pessoa que empreende se desenvolve, em termos de conhecimentos, ha-
bilidades, atitudes, se transforma e transforma seu meio, gera possibilidades de
renda e de emprego, aquece a economia, aumenta possibilidades de mudança no
padrão socioeconômico para melhor (BOSMA, 2020).
Alguns dados dos levantamentos realizados para o ano de 2021
permitem ilustrar a importância do empreendedorismo como ativida-
de que faz um país continuar o giro econômico, mesmo em tempos
de pandemia, e denotam seu crescimento no território brasileiro.
Além do próprio site do GEM, no site do governo federal (BRASIL,
2022), em Mapa de Empresas (https://www.gov.br/governodigital/pt-
-br/mapa-de-empresas), você pode encontrar dados atualizados so-
bre empreendedorismo e sempre estar em dia com a dinamicidade
e o crescimento desse segmento empreendedor, que se mostra, há
séculos, como uma atividade necessária para a evolução dos merca-
dos e, consequentemente, dos países.
FIGURA 2 – PORCENTUAL DE MICROEMPRESAS ABERTAS NO BRASIL EM
RELAÇÃO AO TOTAL DE EMPRESAS QUE INICIARAM SUAS ATIVIDADES EM 2021
FONTE: Adaptado de Agência Sebrae de Notícias (2022)
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Empreendedorismo
FIGURA 3 – EVOLUÇÃO NA ABERTURA DE
MICROEMPRESAS NO BRASIL – 2018 A 2020
FONTE: Adaptado de Agência Sebrae de Notícias (2022)
Nos dois gráfi cos apresentados, pode-se perceber que a atividade empreen-
dedora cresceu. Poder-se-ia argumentar que 15% é um porcentual não tão impac-
tante, mas nos referimos a nada mais, nada menos, do que quase 700 mil negó-
cios empreendedores abertos. Esse valor é relevante, sim, pois representa uma
quantidade signifi cativa de pessoas que estão fazendo a economia girar, em um
ano de pandemia! O gráfi co que mostra a abertura entre 2018 e 2020 demostra
que, mesmo no auge da pandemia, a atividade empreendedora ainda conseguiu
crescer e se manteve ligeiramente superior ao ano de 2019.
O empreendedorismo revoluciona, como estudamos. E como faz isso? Me-
diante a associação de projetos empreendedores que giram a roda econômica
– como afi rma Dornelas (2008), o empreendedorismo é uma atividade em que as
ideias são processadas e se tornam oportunidades. Oportunidades que se trans-
formam, na prática, em negócios que geram renda, emprego e melhoria na quali-
dade de vida – essa é a espiral positiva do empreendedorismo.
1 Comecemos esta refl exão com uma frase importante de Jeffry
Timmons (1990), citado por Dornelas (2008, p. 21): “O empreen-
dedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI
mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX “. Frase
importante para que se compreenda o quão o empreendedorismo
é impactante. Ao lê-la e relembrar os conceitos sobre empreende-
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EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
dorismo, que associação você faz entre esses conceitos e a impor-
tância do empreendedorismo, apresentada nessa frase?
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.
Após este recorrido que percorremos juntos, o que já podemos constatar?
Que o empreendedorismo se fundamenta na inovação e na tomada de riscos cal-
culados; que a pessoa que empreende tem um espírito visionário e trabalha acer-
ca das demandas futuras, buscando identifi cá-las e aprimorar seus processos in-
ternos para atender a essas demandas de forma otimizada. Também foi possível
constatar que o ato de empreender implica transformar as ideias em ação.
Terminamos este tópico com o que introduz o Capítulo 1 da obra de Marcos
Hashimoto (2006, p.1.) e o fazemos deliberadamente, com o propósito de levar à
refl exão e estimular seu interesse em se aprofundar no assunto: “A única defi ni-
ção que faz sentido é a que você cria a partir da sua própria compreensão”.
2.2 EMPREENDEDORISMO E
INOVAÇÃO
Considerando o que estudamos até o momento sobre empreendedorismo,
a ideia de inovação atrelada à função empreendedora não parece algo estranho,
não é mesmo? Ora, se levarmos em conta a inovação como uma capacidade
de fazer algo novo, seja esse novo um produto, um serviço, um processo, uma
maneira de agir, a inovação é parte integrante da ação empreendedora, como foi
estudado no tópico anterior.
Aprofundemo-nos no conceito de inovação que lhe foi apresentado. Capaci-
dade de fazer algo novo. Capacidade é um termo associado ao poder de execu-
tar – atente para essa expressão: poder de executar. Talvez encontremos muitas
pessoas que digam que inovação é algo para poucos, ou até nós mesmos pos-
samos pensar que inovação é algo muito trabalhoso, custoso, não é para todos...
Mais uma vez, queremos propor a você uma quebra de paradigmas. Vamos lá!
20
Empreendedorismo
Capacidade é algo que podemos adquirir. Associada àcapacidade, temos a
palavra poder. Querer inovar é uma decisão que exige mais do que simplesmente
um desejo. Poder executar algo signifi ca trazer o campo das ideias para o campo
da ação. Novamente, temos a ação aqui, nos direcionando para a compreensão
que o empreender está intimamente relacionado ao fazer, ao executar, ao agir
impactando o seu entorno. Peter Drucker (2002) nos aponta que empreendimento
é algo prático, não é uma arte ou uma ciência. Isso nos diz muito. Como também
nos toca compreender que a inovação pode ser conceituada como “o poder de
redefi nir a indústria” (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007, p. 21). Compreenda
a indústria, nesse contexto, no seu sentido mais amplo, o de mercados em geral.
A prática signifi ca que precisamos aplicar algo para agir, e esse algo será o co-
nhecimento. Para inovar, é preciso conhecer, sim, e agir em busca de adquirir conhe-
cimento; este é considerado por Drucker (2002) como um meio que as pessoas preci-
sam ter para alcançar seus propósitos. Aqui entra um modus operandi para alcançar
a prática da inovação – o nosso primeiro passo é ir em busca de oportunidades ino-
vadoras de uma forma estratégica e consciente. Essa busca, no mundo atual, é con-
siderada questão de sobrevivência, como afi rmam os autores Bessant e Tidd (2009).
Não inovar é pôr em risco o futuro, a própria perenidade da organização.
Uma vez dado o primeiro passo, e tendo a consciência de que inovação é
prerrogativa para continuar competitivo, chegamos ao segundo passo, denomina-
do prática do empreendimento, que se refere a uma administração empreende-
dora para se alcançar a estratégia empreendedora, considerada o terceiro passo
que permitirá levar a inovação até o mercado com êxito (DRUCKER, 2002). Logo,
inovação é prática. Prática de gestão. Se nos recordarmos do histórico sobre a
evolução do empreendedorismo e nos reportarmos aos séculos XIX e XX, a mes-
cla de conceitos entre empreendedor e gerente até que nos traz alguns indícios
de por que essa “confusão” ocorreu – o empreendedor que não sabe gerir sua
criação corre um grave risco de não obter sucesso.
Davila, Epstein e Shelton (2007, p. 14) resumem: “Inovação não é discussão
de fórmulas secretas; ela trata essencialmente da boa gestão”.
A inovação é um processo de gestão administrativa, o qual exige, como ocorre em
todo e qualquer processo, o seguimento de etapas, a existência de disciplina, de regras
e de ferramentas para que o processo se desenvolva como previsto e se chegue ao re-
sultado esperado ou planejado (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007). Logo, inovação,
nesse contexto, vai ser o que esses três autores destacaram como um poder de redefi -
nir ou de infl uenciar os rumos do mercado em que a inovação acontece.
Assim como a inovação tem, por natureza, a mudança, a organização tam-
bém precisa estar com foco no que podemos chamar de dinamicidade natural –
21
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
poderíamos alegar que se a organização não for estável, ela não sobrevive, que
é impossível inovar continuamente. Aqui, temos mais um segredo da atividade
empreendedora – ela é dinâmica em sua composição porque está envolta em ver
adiante, em antecipar tendências, em compreender as demandas não atendidas
e pensar em processos, produtos ou serviços que, se não totalmente inovadores,
trarão um “quê” de diferente para atender a essas demandas.
Ao mesmo tempo em que ela tem esse dinamismo, a atividade empreendedo-
ra tem estabilidade – e ela deriva dos processos de gestão que a ação do empreen-
dedor exige. Desse modo, o que podemos concluir? Que a ação empreendedora é
uma ação que envolve o equilíbrio entre a solidez de uma base e a dinamicidade do
movimento das peças que constroem o que irá caracterizar o original.
Para que a organização que tem esse caráter empreendedor se mantenha
competitiva, será essencial que esse processo de inovação seja, como o próprio
nome nos remete, um processo; em outras palavras, algo ininterrupto, porque a
inovação não é estanque e não pode se ancorar no passado como garantia de
sucesso no futuro. A cada momento, algo novo pode aparecer, e a organização
empreendedora deve estar preparada para lidar com o novo, a antecipar-se a ele
e a compreendê-lo como algo essencial para o futuro.
Dado que a inovação se refere à boa gestão, como praticá-la? A sua prática
exige administração, de modo que a ação desenvolvida seja bem-sucedida em
seu propósito. Não foge do que afi rmaram os autores estudados sobre práticas de
gestão – essas sustentam a ação empreendedora.
A administração da inovação abarca todos os aspectos de uma gestão tradi-
cional, vai se relacionar a importantes questões que envolvem cultura, comprome-
timento, incentivo à cooperação e à troca, saber lidar com erros que são inerentes
ao processo inovativo. Inovação é uma ação deliberada e planejada que tem um
propósito evidente de trazer à vida organizacional o que estava no mundo das
ideias, impactando no negócio. Davila, Epstein e Shelton (2007, p. 25), citando
Peter Drucker em um artigo publicado na Harvard Business Review e intitulado
The discipline of innovation (1988), dizem que a inovação “ é o esforço para criar
mudanças objetivamente focadas no potencial econômico ou social de um em-
preendimento.” Já Drucker (2008), alguns anos mais tarde, conceitua a inovação
como um meio mediante o qual a pessoa que empreende, consciente de que a
mudança é uma oportunidade, atua em prol de explorá-la para conquistar um es-
paço no mundo dos negócios que a permita ser vista como inovadora, como ofer-
tante de um produto ou serviço distinto, singular, e que lhe traga mais condições
de crescer no longo prazo de forma lucrativa e robusta.
Há vários tipos de inovação, e se torna relevante compreender, de forma su-
22
Empreendedorismo
marizada, que tipos são esses, para quebrar outro paradigma acerca do conceito
de inovação. Esse é diferente de invenção; podemos dizer que toda invenção é
uma inovação, mas não podemos dizer o inverso. Sabe por quê? Porque a inven-
ção é um tipo de inovação que signifi ca, de fato, criar algo. Já a inovação pode ser
adaptar, melhorar, incrementar algo já existente, que não confi gura uma invenção,
mas, sim, um aprimoramento, uma inovação.
Ao destacarmos a relação da inovação com a ação empreendedora, essa
compreensão da diferenciação se torna importante porque, para a ação empreen-
dedora, tanto se aplica a invenção quanto a inovação que se volta ao aprimora-
mento de algo já existente, e aprimorar algo que já existe deve ser tão valorizado
quanto criar algo. Em suma, a inovação pode ocorrer de distintas maneiras e pode
ter diversos graus – desde algo incremental, isto é, algo que representa uma me-
lhora em algo existente, até algo radical, de fato, novidade, que é a invenção.
Considerando essas distintas maneiras da inovação, Bessant e Tidd (2009)
criam um termo interessante, fazendo analogia aos 4 Ps do Marketing, o qual cha-
mam de os 4 Ps da Inovação:
• Inovação do Produto – representa a modifi cação nos serviços ou produ-
tos que a organização oferece ao mercado. Vamos dizer que é, de todas,
a inovação mais incremental.
• Inovação do Processo – está relacionada a alterações no jeito em que o
produto ou serviço é criado e ofertado aos seus consumidores. Aqui, já
ampliamos a inovação, mas ela continua sendo incremental.
• Inovação de Posição – signifi ca uma mudança no contexto em que os
serviços e produtos estão inseridos e são ofertados. Podemos enquadrá-
-la como semirradical.
• Inovação de Paradigma – representa uma alteração no que os autores
chamam de modelos mentais – a base que estabelece o que a empresa
faz do jeito que faz. Essa seria uma inovação radical, visto que abala a
estrutura do sistema e traz mudanças signifi cativas.
O quadro a seguir sintetiza a compreensão dos tipos de inovação:
23
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOSE TENDÊNCIAS Capítulo 1
QUADRO 1 – TIPOS DE INOVAÇÃO E ALAVANCAGEM
CONFORME A NATUREZA DESSA INOVAÇÃO
FONTE: CASTRO (2017, p. 110-111)
24
Empreendedorismo
Uma vez que compreendemos que há vários tipos de inovação e que tam-
bém estudamos a importância da inovação na ação empreendedora, a pergunta
é: como ela ocorre na prática organizacional?
Drucker (2002) afi rma que a prática vem de alguma teoria, e que o empreen-
dedor é aquele que faz a destruição criativa, em busca de chegar a um patamar
melhor, que traga mais efi cácia no que concerne a processos e, por conseguinte,
que gere mais possibilidade de lucro. Schumpeter, o autor do conceito de destrui-
ção criativa, como já estudamos, defendia que a norma da economia que cresce
saudável é o desequilíbrio que é realizado por quem inova; dito de outra maneira:
a norma ou regra para o empreendedor é a mudança, e esta é vista não como
ameaça ou obstáculo, mas como oportunidade de criar riqueza.
Todos esses elementos acerca da compreensão da inovação como um pro-
cesso e uma prática de gestão nos levam à conclusão de que o processo de ino-
var precisa ter sistematização para que seja exitoso. O que isso quer dizer? Que
as organizações e seus administradores precisam buscá-la de maneira conscien-
te, organizada, e que tenha espaço para o desenvolvimento de uma visão crítica
das oportunidades que surgem e precisam ser analisadas com parcimônia e aten-
ção para se identifi car se são ou não possibilidades de inovação.
Para que se alcance esse intento, Drucker (2002) propõe o monitoramento de
sete elementos denominados fontes para a oportunidade inovadora, enquanto os au-
tores Davila; Epstein; Shelton (2007) trazem para os administradores empreendedo-
res a proposição de seguirem sete regras, que denominaram regras da inovação.
Propomos uma comparação dessas duas proposições, para que você con-
solide essas ideias centrais e compreenda a relação entre inovação e empre-
endedorismo. Após a primeira comparação, faça uma atividade de estudo para
que desenvolva ou aprimore a ação refl exiva que permite a comparação entre as
ideias. A seguir, continue sua aprendizagem comparando as proposições de Dru-
cker (2002) com as de Davila, Epstein e Shelton (2007).
QUADRO 2 – FONTES E REGRAS DA INOVAÇÃO
25
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
1. O inesperado – fonte interna da organização,
representa ou o sucesso, ou o fracasso, ou o
evento inesperado.
O inesperado é um elemento de grande impacto
no tocante ao sucesso de uma inovação - ele é o
elemento mais rico em matéria de inovação, mas
é, normalmente, ou rejeitado ou negligenciado, e
isso ocorre porque a organização se coloca em
uma postura que em administração se conside-
ra “míope”, ela não vê a realidade tal e qual se
apresenta como oportunidade e perde a capaci-
dade de empreender.
1. Exercício de liderança sólida sobre rumos e
decisões da organização. Ela é uma qualidade
que deve aparecer diariamente na organização,
expressada em comprometimento, decisões que
podem ser mensuradas e exemplo – em resumo,
em atitude, que leve a organização a alcançar o
que se propôs no cotidiano
2 O inesperado está diretamente associado a uma forma de com-
preender o que não está explicitamente apresentado aos senti-
dos, mas que pode ser captado quando a pessoa tem uma pers-
pectiva empreendedora, que sabe captar as demandas latentes
ou perceber os problemas que ainda não foram resolvidos. Naka-
gawa (2013) cita vários exemplos de pessoas empreendedoras
que perceberam o inesperado como uma realidade futura não
distante e se prepararam para atender a essa realidade com pio-
neirismo e inovação. Para ilustrar: George Eastman, criador da
máquina fotográfi ca portátil, percebeu a demanda não atendida
por máquinas mais fáceis de manusear (imagine como eram pe-
sadas, difíceis de manusear, as antigas máquinas fotográfi cas
de madeira e os fl ashs que explodiam e sujavam tudo à sua vol-
ta para fazer uma foto) e antecipou-se ao inesperado; Fred de
Luca fundou a Subway percebendo uma tendência crescente à
preferência por comidas mais saudáveis; Dietrich Mateschitz via-
jou para a Tailândia, onde experimentou uma bebida que comu-
nidades locais tomavam como energético para reduzir o cansaço,
tanto físico como o mental e, ao retornar ao seu país de origem,
a Áustria, criou nada menos do que a Red Bull. Refl etindo acerca
desses casos e sobre a atitude de liderança e o evento inespera-
do, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Não há relação entre evento inesperado e liderança, visto que
um é externo à gestão organizacional e outro é um fator interno.
b) ( ) A liderança sempre irá impactar positivamente o evento ines-
perado, qualquer que seja a origem desse evento.
26
Empreendedorismo
c) ( ) Há uma relação entre liderança inefi caz e negligência do
evento inesperado e entre uma liderança empreendedora efi caz e
o sucesso de um evento inesperado.
d) ( ) A liderança empreendedora terá resultados negativos ao se
deparar com o evento inesperado.
QUADRO 2 (cont.) – FONTES E REGRAS DA INOVAÇÃO
2. A incongruência – outra fonte interna da organi-
zação, representa a diferença entre o que consi-
deramos que é a realidade e o que de fato ela é.
Ela é um elemento qualitativo, uma oportunidade
que permite a inovação; um “sintoma de mudan-
ça” (DRUCKER, 2002, p. 78). Pode abranger:
a) realidades econômicas incongruentes – e ser
uma oportunidade para o pequeno empreendedor
que identifi ca antes dos players tradicionais de
mercado a mudança e está preparado para atender
à demanda que surge dessa mudança;
b) realidade e os pressupostos sobre tal reali-
dade – também oportunidade para os que con-
seguem perceber essa incongruência e atuam
para explorar o mercado;
c) valores e expectativas percebidos e valores e
expectativas concretas dos consumidores – em ge-
ral, essa incongruência passa mais despercebida
quanto maior for a arrogância dos administradores
em acharem que a vida é como eles a veem;
d) ritmo ou lógica de um processo – para esta
incongruência, Drucker (2002) observa que os
usuários a enxergam e dela têm consciência,
mas a empresa, muitas vezes, não a vê.
2. Integração da inovação à mentalidade do
negócio da organização.
Comparando essas quatro incongruências
ao que defendem Davila, Epstein e Sheldon
(2007), quanto à integração da inovação à
própria cultura organizacional, de modo que
ela fi que incorporada ao dia a dia das ações
empreendedoras, identifi camos que, se houver
a integração da inovação à mentalidade do ne-
gócio da organização, há grande probabilidade
de essas incongruências serem enxergadas
internamente e se tornarem oportunidades de
negócio. Não basta ter uma área de pesquisa e
desenvolvimento ou ter alguma área que ‘pen-
se’ inovação; é preciso associar a produção de
inovação à estratégia da organização, isto é,
ao modelo de negócios da organização. Per-
ceba que a atitude empreendedora, por trazer
como característica a visão para o futuro, tem
mais potencial para compreender as incongru-
ências em seus diferentes aspectos.
27
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
3. A inovação baseada na necessidade do pro-
cesso – também é uma fonte interna do organi-
zação e, como o próprio nome diz, está associa-
da ao processo organizacional.
A necessidade do processo começa com o tra-
balho ou tarefa que deve ser executada. Essa
necessidade “aperfeiçoa um processo que já
existe, substitui uma ligação que esteja fraca,
desenha um antigo processo a partir do conhe-
cimento existente.” (DRUCKER, 2002, p. 94-95).
Para que ela seja uma fonte de inovação, deve
ser compreendida, não somente sentida pela or-
ganização. Tal necessidade também precisa ter,
na organização, a contrapartida do conhecimen-
to exigido para resolvê-la enquanto tarefa e, por
fim, a solução encontrada tem de estar adapta-
da ao modo com que as pessoas que fazem a
tarefa querem fazê-la – essa última parte está
associada a valores e hábitos.
3. Alinhamento entre inovação e estratégia
da organização. O alinhamento sugerido por
Davila, Epstein e Sheldon (2007) demonstra
a associação que há entre alinhar estratégia e
inovação com a questão da observação, cons-
tatação e ação quando se tem uma necessida-
de do processo. Fica evidente, nessa compa-
ração entre fontes e regras da inovação, que
o empreendedor, em sua postura proativa, vai
aliar a ideia com a execução, conforme estuda-
do no tópico 1.
4. Mudanças na estrutura do setor em que a
organização atua – é a quarta fonte interna da
organização e está associada à modifi cação que
pega a todos de forma desprevenida.
Embora as estruturas que compõem cada se-
tor de atuação de organizações seja algo, em
geral, considerado durável no tempo, elas não
são imutáveis. Drucker (2002) observa que tais
estruturas apenas aparentam ser duráveis, mas
que são, na realidade, dotadas de grande fragi-
lidade.
4. Administração da tensão que naturalmente
aparece da relação entre criatividade e capta-
ção de valor.
Os autores destacam o quanto a inovação exi-
ge gestão de processos, estruturas e recursos
internos para administrar o desenvolvimento
de conceitos em realidades (produtos ou ser-
viços). Para tanto, é preciso saber combinar o
que os autores chamam de liberdade com dis-
ciplina. Para captar valor, é preciso observar,
sem pré-disposições, o que está acontecen-
do no mercado e ter a consciência de que a
aparente solidez traz fragilidade. A criatividade
não é algo que brota; ela é fruto de trabalho e
organização. Do que você se recorda? Do es-
tudado anteriormente, da compreensão de que
inovação é prática de gestão.
5. Mudanças demográfi cas – fonte externa à or-
ganização.
Drucker (2002) comenta o quanto as mudanças
demográfi cas são evidentes e o quanto as em-
presas não as enxergam ou se recusam a en-
xergá-las.
5. Ação para neutralizar os elementos contrá-
rios à mudança (anticorpos organizacionais).
Ao analisar a quinta regra de Davila, Epstein e
Sheldon (2007) e essa frase de Drucker (2002),
o que você percebe? Que a instituição que de-
seja ser inovadora precisa sair da cegueira e
entender a inovação como algo necessário ao
28
Empreendedorismo
dia a dia organizacional.
Se não houver uma cultura criada para a acei-
tação e o estímulo à mudança, as coisas vão
acontecer na frente da organização e ninguém
irá enxergá-las ou, se as enxergar, nada fará
para agir proativamente? A inovação como
cultura envolve a organização com o mundo
externo, facilita o contato extraorganizacional e
reforça a atitude empreendedora.
Refl ita sobre a frase a seguir:
“A síndrome da “não é invenção nossa” (NEIN) – que leva as empresas a rejeitarem ideias alheias
exclusivamente pelo fato de não terem sido criadas dentro delas – não passa de um sinal de uma
cultura arrogante. E o fato é que, onde existe arrogância, há também poderosos
anticorpos organizacionais .” (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007, p. 42).
6. Mudanças em percepção, ou na disposição
ou no signifi cado de serviços e produtos – fonte
externa à organização.
As organizações com mente empreendedora
percebem as mudanças sociais em tempo de
atender à demanda nova que surge.
6. Ação de cultivar uma rede de inovação que
vá além dos limites da própria organização.
Davila, Epstein e Sheldon (2007) vão ao en-
contro das ideias de Drucker (2002) ao pro-
porem que as organizações criem redes de
inovação que ultrapassem os limites da própria
organização – essas redes são fontes ricas e
importantes para que a organização se ante-
cipe às mudanças. A mente empreendedora
está atenta às mudanças e se antecipa a elas,
exatamente como estudado no tópico anterior.
7. Conhecimento novo, fonte externa à organização,
e que pode tanto ser de caráter científi co como não.
As inovações que derivam do conhecimento
trazem em seu bojo algumas diferenças das de-
mais inovações: primeiramente, elas demoram
mais para aparecer de forma aplicada. Exemplo:
entre a ideia de computador e seu surgimento
comercial há um hiato que vai desde a primeira
metade do século XIX até 1946. O tempo médio
calculado é de 30 anos...
Outro ponto de diferença é que essas inovações
derivam de diversos tipos de conhecimento, não
necessariamente científi cos. O próprio computador
derivou de cinco diferentes tipos de conhecimento.
Assim, já perceba que a inovação derivada do co-
nhecimento pode ter alta taxa de mortalidade, pois
o tempo de gestação é longo e cheio de percalços.
7. Criação de indicadores de desempenho e de
recompensas adequadas à inovação.
Davila, Epstein e Sheldon (2007), ao sugeri-
rem a criação de indicadores de desempenho,
destacam a importância da administração com
foco e estratégia para quebrar as barreiras
internas à inovação, representadas, muitas
vezes, pelas estruturas organizacionais. O
ambiente não avesso ao risco não signifi ca um
ambiente sem administração; ao contrário, a
inovação deve ocorrer em um ambiente estru-
turado para recebê-la, maturá-la e saber lidar
com os fracassos. De que você se lembra?
O empreendedor corre riscos e sabe que, em
qualquer empreendimento, sucesso e fracasso
podem ser resultados do ‘lance’ da moeda. O
empreendedor corre riscos calculados.
29
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
Para funcionar, essa inovação exige: análise
detalhada de fatores socioeconômicos e de per-
cepções; enfoque na estratégia – qual a posição
da empresa; o aprendizado e a prática da admi-
nistração empreendedora.
Drucker (2002) observa que praticamente 90% das inovações que são cha-
madas de efi cazes derivam da prática da inovação. A primeira conclusão que po-
demos tirar dessa observação é que sempre teremos uma margem de risco ao
inovar. Sim, é fato, mas constate que a inovação planejada e gerenciada permite
reduzir ou mitigar os riscos inerentes ao processo.
O que podemos fazer para garantir ou pelo menos tentar garantir que esses
90% estejam cobertos em um processo de inovação que é inerente à atividade
empreendedora? Peter Drucker (2002) afi rma que, se um empreendedor domi-
nar os princípios da inovação, esse conteúdo essencial para a atividade empre-
endedora estará contemplado. Davila, Epstein e Sheldon (2007) reforçam essa
afi rmação, ao comentarem que inovação não é um privilégio, mas, sim, como
estudamos, o resultado de um esforço de boa gestão. A inovação não deve ser
um processo “solto” na organização, o empreendedor que tem conhecimento e
domínio desses princípios da inovação aqui apresentados conseguirá, sem cer-
cear a inovação, estimulá-la para que fl oresça, mas seja captada e aproveitada
no processo organizacional. Em todos os princípios, a inovação é tratada como
um processo na organização, processo este que pode – e deve – ser gerido com
o foco em alcance de metas, otimização na aplicação dos recursos e visão de
futuro. Bessand e Tidd (2009, p. 20), por sua vez, reforçam que inovação é um
princípio tão importante que está presente nas declarações de missão de diversas
empresas bastante conhecidas, como, por exemplo, as declarações constantes
de empresas reconhecidas por sua dedicação à prática empreendedora e de ino-
vação: a Apple e a Microsoft. Analisemos as missões:
FIGURA 4 – A INOVAÇÃO NAS DECLARAÇÕES DE MISSÃO ORGANIZACIONAL
FONTE: Adaptado de Bessand e Tidd (2009, p. 20)
Essas declarações de missão organizacional representam a essência da ino-
vação como condição imperativa de permanência competitiva no mercado. Pode-se
argumentar que essas empresas são grandes, não são modelos de empreendedo-
30
Empreendedorismo
res. O que você responderia? Cuidado com as falácias – essas empresas nasceram
empreendedoras e suas características de nascimento foram sendo consolidadas,
ao longo dos anos,e se robusteceram, tornando-se grandes corporações, mas sem
perder o foco na inovação e na postura empreendedora. Recorda-se do que estu-
damos no Tópico 1? Intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo é
uma das categorias do empreendedorismo. Este é, de fato, uma atitude.
A atitude empreendedora necessita por atenção à gestão desse tão importante
elemento que é a inovação. Peter Drucker alerta quanto aos cuidados que se deve
ter ao gerenciar a inovação e defi ne suas recomendações em três passos.
QUADRO 3 – PASSOS PARA GERIR A INOVAÇÃO
Primeiro passo:
o que fazer
Segundo passo:
o que NÃO fazer
Terceiro passo:
o SABER essencial
Análise sistemática e organiza-
da das oportunidades de todas
as fontes de inovação que fo-
rem mapeadas.
Saída para fora da caixa – ir
a campo, descobrir se sua
análise com elementos quan-
titativos está de acordo com a
percepção que os elementos
qualitativos (os stakeholders -
clientes, o mercado, o governo,
a concorrência) lhe fornecem.
Adoção da simplicidade como
ponto-chave – a inovação deve
ser simples para que possa
funcionar. A complexidade não
signifi ca riqueza, ela pode ser
fonte de problemas – tudo o
que é novo e complexo em
demasia tem grandes riscos de
fracasso – é muito difícil geren-
ciar a complexidade.
Pequeno, não sem valor - ino-
vações que são efi cazes co-
meçam de forma específi ca e
elementar.
Liderança como meta – a ino-
vação deve ter por objetivo aju
Não busque ser o máximo da
genialidade. O que é engenho-
so e difícil demais tem grandes
chances de chegar a um fra-
casso.
Não diversifi que – em vez de
dispersão, busque foco e con-
centração.
Não vá muito além, buscando
a inovação para o futuro, mas
sim, busque a inovação para o
momento atual.
Não fi que introspectivo – as
mudanças batem à sua porta
e não adianta você fi ngir que
não está vendo – quando elas
acontecerem, será tarde de-
mais...
Não se fi e em suas compe-
tências essenciais como algo
imutável – elas poderão ser
sua pedra de tropeço no futu-
ro. Um bom exemplo é o de
Graham Bell, inventor do tele-
fone. A primeira empresa que
ele procurou, Western Union,
era à época a maior empresa
de comunicação do mundo e
Drucker (2002) recomenda que
as organizações empreende-
doras observem três pontos:
Inovação é trabalho – é preciso
que haja predisposição, talento
e engenho; o que signifi ca que
é preciso persistir, ser diligente
e ter um comportamento insis-
tente e focado.
Os pontos fortes devem ser
priorizados – um empreende-
dor consegue identifi car no
mercado as oportunidades
existentes e classifi cá-las, dan-
do ênfase ao que de melhor ele
faz e aos hábitos e valores or-
ganizacionais.
Inovação é algo que extrapola
a organização – ela é, no dizer
de Drucker (2002, p. 195), “um
efeito na economia e na so-
ciedade, mudança no compor-
tamento (...) das pessoas em
geral.” Resumindo, a inovação
deriva do mercado e por ele
deve ser guiada.
31
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
dar a organização a alcançar a
liderança. Para tanto, deve es-
tar na estratégia organizacio-
nal, a fi m de que se transforme
em algo útil e fator de sucesso,
não em uma armadilha para a
própria atividade empreende-
dora.
os executivos simplesmente
desprezaram a ideia de Bell,
considerando-a sem valor co-
mercial. Não precisamos nem
dizer o que aconteceu...
Não se apegue às velhas práti-
cas que lhe garantiram suces-
so no passado como garantia
de sucesso no presente, que
dirá, no futuro.
FONTE: Adaptado de Drucker (2002) e Bessant e Tidd (2009)
Finalizando este tópico, deixamos a você uma recomendação para comple-
mentar seu conhecimento no tema que, com você já constatou, traz inúmeras
perspectivas de caminhos.
O assunto inovação é muito amplo e pertinente para os tempos
que vivemos. Quer se aprofundar? Uma obra bem pertinente é esta:
BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e emprendedorismo. Tradução
Elizamari Rodrigues Becker; Gabriela Perizzolo e Patrícia Lessa Flo-
res da Cunhas. Porto Alegre: Bookman, 2009.
Como não poderia deixar de ser, dentro de nossa proposta de
lhe propiciar momentos de aprendizado que estimulem sua análise
crítica e o incitem a se aprofundar no conhecimento dos temas, tam-
bém lhe apresentamos um trecho para refl exão:
Devemos lembrar que não há algo mais difícil de planejar, mais
incerto quanto ao sucesso ou mais perigoso de gerenciar do
que a criação de um novo sistema, uma vez que seu iniciador
tem por inimigos todos aqueles que se benefi ciariam com a
preservação da velha instituição e por meros incentivadores
aqueles que ganhariam com a instauração de uma nova (MA-
QUIAVEL apud BESSANT; TIDD, 2009, p. 45)
32
Empreendedorismo
2.3 AVALIAÇÃO DE AMBIENTES PARA
EMPREENDER
.
Conforme você estudou nos tópicos anteriores, o empreendedorismo abran-
ge uma leitura de demandas, uma compreensão do ambiente de negócios para
mapear possíveis demandas e identifi car quais as de maior probabilidade de al-
cance, considerando o negócio que o empreendedor deseja montar e essas de-
mandas identifi cadas.
Antes de adentrar na questão central deste tópico, que trata da avaliação de
ambientes para empreender, lançamos um desafi o inicial: o que é uma ideia que
se transforma em oportunidade, que foi comentada anteriormente? Nesta breve
leitura , você encontrará pistas para sua resposta.
FIGURA 5 - COMO TRANSFORMAR UMA IDEIA
EM UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO
Fonte: Adaptado de Heise (2014, s.p.)
Deste trecho de artigo publicado na Revista Exame, o que você pode extrair?
Que as ideias são nossa matéria-prima, mas elas, por si sós, não signifi cam um
33
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
negócio. É preciso maturar as ideias, bem como mapear cenários para transfor-
mar ideias (pensamentos) em algo factível (realidade). Nesse texto, temos uma
frase fundamental, que resume o que vimos discutindo: “Ideias são como se-
mentes para a mudança, sem elas pouco se cria, mas apenas com elas nada
fazemos .” (HEISE, 2014, s.p.)
Você se recorda da análise SWOT, estudada em Administração, como uma
ferramenta simples na execução, mas poderosa em sua aplicação, que nos per-
mite compreender nossos pontos fortes, fracos e, olhando para o ambiente exter-
no, identifi car ameaças e oportunidades? E o que são as oportunidades, senão
demandas não atendidas, cenários que se avizinham como alvissareiros para
quem consegue ver além do que a própria realidade demonstra no curto prazo?
Aqui, você já percebe que, para montar o quebra-cabeças, temos que compre-
ender o ambiente, pois fatores externos são altamente impactantes no mundo dos
negócios. Em um cenário complexo e dinâmico como é o atual, a ciência da adminis-
tração nos brinda com várias ferramentas para auxiliar na compreensão do entorno.
Além da já citada análise SWOT, temos a ferramenta PEST ou PEST(AL),
que representa as iniciais dos fatores que comumente estudamos para mapear o
entorno e analisar as oportunidades encontradas vis-à-vis, os fatores que podem
tanto ser facilitadores quanto obstáculos ao empreendimento. PEST(AL) signifi ca
fatores Políticos, Econômicos, Sociais, Tecnológicos, Ambientais e Legais, e os
Ambientais e Legais aparecem entre parênteses porque, em algumas literaturas,
esses dois fatores estão embutidos nos outros que caracterizam o acrônimo origi-
nal PEST. A seguir, você encontra um resumo do que são esses fatores que com-
põem a análise desses fatores externos ao negócio e que devem ser estudados
por conta de sua importância e de seu alcance nas ações empreendedoras.
34
Empreendedorismo
FIGURA 6 – ANÁLISE PEST(AL)
FONTE: Adaptado de Castro (2021), Maximiano (2012), Fontes Filho (2006)
Nakagawa (2013) explicita os elementos que nos permitem verifi car se uma
ideia é, de fato, uma oportunidade de negócio. Tenha em mente que toda oportu-
nidade de negócio derivou de umaideia, mas a recíproca não é verdadeira: nem
toda ideia é uma oportunidade de negócio. Não basta atender, em tese, a uma de-
manda não coberta ou resolver um problema para um conjunto de pessoas. Uma
ideia, para ser uma oportunidade de negócio, deve conter – e este é o verbo que
Nakagawa (2013) usa – quatro elementos essenciais:
1) Oferecer um benefício claro para o segmento de clientes que quer alcan-
çar – esse benefício deve ser tão evidente que o empreendedor não preci-
se explicá-lo – o cliente, ao ter contato com o produto ou serviço, percebe,
de imediato, que aquilo atende ao que ele deseja e soluciona seu proble-
ma. O exemplo dado no livro de Nakagawa (2013) é o de Steve Jobs, que
conseguia captar tão bem os desejos e demandas de seu público-alvo a
ponto de os clientes fazerem fi las para pré-lançamentos de produtos.
2) Alcançar uma fatia de mercado que seja sufi ciente (adequada) para o ne-
gócio ser tocado – é preciso ter escala. Tem-se que, à medida que o mer-
cado for maior, maior será a oportunidade; no entanto, a adequação do
tamanho desse mercado é algo que pode ser determinado pela própria
fi gura do empreendedor – a pessoa pode decidir se quer fazer algo mais
ou menos reduzido, em termos de abrangência. Há quem lance negócios
35
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
pensando em atender a uma demanda local – exemplo: vender docinhos
para comemorações e eventos no bairro; outros podem pensar em negó-
cios com mais escala, como uma Fedex, para ilustrar. Nakagawa (2013)
cita o Wal-Mart e a Magazine Luiza como empresas que começaram sua
atividade empreendedora em escala menor e depois se expandiram.
3) Ter viabilidade técnica e fi nanceira – a parte técnica demandará o conhe-
cimento (lembra-se de que este é a base para a inovação?) e este pode
ser adquirido e aprimorado. O que não se discute é seu papel essencial
para que a ideia se transforme em realidade. Alguns empreendedores têm,
e muito, o conhecimento técnico, mas necessitam de outro conhecimento
para gerir seu negócio – o conhecimento administrativo que lhe permitirá
analisar a viabilidade fi nanceira do produto – meus lucros previstos supe-
rarão meus custos? Como posso verifi car se minha ideia gerará fl uxo de
caixa positivo e, em caso afi rmativo, quando isso acontecerá? Você deve
ter se lembrado das ferramentas de análise fi nanceira que se aprende em
administração, como Taxa Interna de Retorno (TIR), Payback descontado,
Valor Presente Líquido (VPL), não é? Nakagawa (2013) lembra que o ide-
al é que esse retorno sobre o investimento ocorra o mais cedo possível.
Há uma relação positiva entre geração de fl uxo de caixa, taxa de retorno
e oportunidade de negócio – quanto mais cedo houver o retorno, quanto
maior ele for, maior será considerada a oportunidade.
4) Ter inovação em sua ideia que resulte em um produto ou serviço diferen-
ciado, algo que permita criar uma vantagem competitiva com relação aos
concorrentes que já atuam no mercado. Isso ocorre quando o cliente po-
tencial identifi ca no produto ou serviço ofertado um valor que compense,
sob a perspectiva desse cliente, o investimento naquele produto ou servi-
ço, ainda que o custo seja mais alto do que o da concorrência. Nakagawa
(2013) comenta que, quanto mais inovadora, maior será a oportunidade.
É possível constatar que, para avaliar ambientes para empreender, primeira-
mente, é preciso identifi car se o que temos são ideias ou oportunidades de negó-
cios; ao verifi car as condições que habilitam uma ideia a ser uma oportunidade de
negócio, já estamos avaliando o entorno, pois precisamos conhecer o mercado,
entender quem é a concorrência e o que ela oferece, quem é o público-alvo, qual
a perspectiva de demanda. Também realizamos a avaliação dos fatores externos
à organização, que são impactantes em qualquer modelo de negócio. Recorde-se
de que esses fatores macroambientais não somente revelam tendências como
podem ser importantes fontes para que reconheçamos futuras ameaças e tenha-
mos planos estratégicos para mitigá-las ou enfrentá-las.
Da mesma forma que avaliamos esses fatores políticos, econômicos, sociais,
tecnológicos, ambientais e legais, também precisamos conhecer em que sistema
estamos atuando – qual é o ecossistema de empreendedorismo e inovação, pois
36
Empreendedorismo
esse ecossistema infl uenciará em nossa ação empreendedora e poderá tanto ser
um facilitador, se for bem estruturado, rico em ligações entre os atores que com-
põem o sistema, quanto pode desfavorecer o empreendedorismo, se for menos
robusto ou muito burocrático.
Passemos, então, do ambiente de negócios mais macro para os ambientes
de inovação e de empreendedorismo, que são formados, no Brasil, pelo deno-
minado Sistema Nacional de Inovação. Para a atividade empreendedora, nos in-
teressará sobremaneira entender quatro elementos: Arranjos Produtivos Locais,
Parques Tecnológicos, Aceleradoras de Empresas e Incubadoras de Empresas.
Os Arranjos Produtivos Locais, conforme conceitua o Ministério da Economia
(BRASIL, 2021, s.p.)
São aglomerações de empresas e empreendimentos, localiza-
dos em um mesmo território, que apresentam especialização
produtiva, algum tipo de governança e mantêm vínculos de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e
com outros atores locais, tais como: governo, associações em-
presariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Arranjos Produtivos são um ótimo exemplo do que chamamos de elemen-
tos de um ecossistema de inovação. A ideia que envolve essas aglomerações ou
clusters de diversos atores em prol da inovação é a de que, em conjunto, se pos-
sa ter um desenvolvimento maior e mais robusto do conhecimento em uma socie-
dade. O ambiente empreendedor é benefi ciado e benefi cia o próprio ecossiste-
ma, pois as inter-relações entre centros de pesquisa e organizações, com ou sem
fi ns lucrativos, entre essas organizações e governos, entre governos e centros de
pesquisa permite que o sistema de inovação se robusteça e se retroalimente.
Para que você tenha uma ilustração da importância de existirem sistemas
robustos de inovação, países como Israel, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, os
países constituintes do Reino Unido, dentre outros, são os que apresentam mais
investimento, no que se refere ao PIB de cada país, em Ciência, Tecnologia e
Inovação (C, T & I) e são os que mais trazem frutos positivos, justamente porque
possuem um sistema de C,T & I integrado, que trabalha as competências e prio-
ridades de cada nação. Elementos comuns nesses sistemas são: um papel rele-
vante do Estado nas políticas de Pesquisa e Desenvolvimento, nas regras de jogo
consistentes e na forte articulação entre os atores que compõem o ecossistema
(MOREIRA, 2015; SANTA RITA et al., 2015; ZUCOLOTO; CASSIOLATO, 2014;
PABIS, 2016; KANTIS; ANGELELLI, 2020).
Parques tecnológicos também têm a função de promover o desenvolvimento
de C, T, & I, estimulando as empresas e os empreendedores a desenvolverem
37
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
suas ideias, transformando-as em oportunidades e materializando-as, exatamente
como vimos estudando neste capítulo. Esse estímulo é feito mediante a aproxi-
mação entre o setor produtivo e o setor de pesquisa e produção de conhecimento
(universidades, escolas, centros de pesquisa em geral) (SÃO PAULO, s.d.).
No que se refere às aceleradoras e incubadoras, ambas têm o objetivo cen-
tral de dar apoio às ações empreendedoras que estão começando sua jornada. O
Sebrae (2022) resume as diferenças entre elas.
Incubadoras dão apoio a pequenos empreendimentos, atendendo a necessida-
des regionais ou governamentais como, para ilustrar, dar apoio à abertura de empre-
endimentos de telecomunicações em áreas que precisam realizar ações de expansão
nesse ramo; já as aceleradoras focam em empreendimentos que apresentem alto po-
tencialde crescimento no curto prazo. Como o próprio nome já demonstra, as acele-
radoras investem no que chamamos de startups que são escaláveis (têm a perspecti-
va de crescimento muito rápido, com aplicação de poucos recursos). As incubadoras
atuam mais em sistema de consultoria tradicional, enquanto aceleradoras aplicam o
sistema de mentoria (aconselhamento ao empreendedor).
O sistema de gestão também é diferente: incubadoras têm como gestores
pessoas experientes nas ações de mediação entre poder público, empresas e
sistemas de geração de conhecimento, como as universidades. As aceleradoras
contam com a gestão de empreendedores ou de investidores experientes. As in-
cubadoras necessitam desenvolver modelos tradicionais de captação de recursos,
como planos de negócios, a fi m de alcançar recursos por parte governamental; as
aceleradoras, até pela busca de recursos em setores mais voltados ao risco, têm
menos passos burocráticos para a obtenção de recursos.
O que se pode constatar? Que esses elementos constituintes de um ecoss-
istema de inovação, o chamado sistema nacional de inovação, são oriundos de di-
versos setores sociais, com distintos objetivos, mas com algo em comum: a visão
de desenvolvimento e robustecimento das atividades produtivas e de gestão por
meio de C, T, & I. Na fi gura a seguir, é possível identifi car a intensa relação entre
os elementos desse ecossistema de inovação e como as diferentes atividades
que exercem devem ter sinergia para que se obtenha o êxito desejado.
38
Empreendedorismo
FIGURA 7 – ELEMENTOS CONSTITUINTES DO ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO
FONTE: Anpei (2014, p. 18)
Quanto aos ecossistemas de inovação no mundo, vale destacar alguns por
sua relevância no incentivo à colaboração entre diversos atores que fazem a roda
da inovação girar de forma coesa. O estímulo a relações colaborativas e conec-
tadas pela liga principal, que é a de gerar inovação, tem se mostrado impactante
não somente em termos de trazer à tona ideias de negócios que podem até ser
disruptivas, mas, principalmente, porque essa conexão com estrutura possibilita
que o sistema de inovação fi que robusto e tenha estabilidade (CONHEÇA, 2021).
A Câmera Americana de Comércio (AMCHAM – American Chamber of Com-
merce for Brazil) publicou um levantamento dos principais ecossistemas de inova-
ção, levando-se em conta o estímulo à colaboração e produção para que ocorra
inovação e se criem oportunidades de negócios, transformando o ambiente. Um
dos critérios para considerar um ecossistema de inovação como relevante está
no envolvimento de diversos atores, como já apresentado neste tópico. Perceba
como esses ecossistemas listados a seguir contam com entidades governamen-
tais, centros de pesquisa e universidades, incubadoras e aceleradoras, hubs de
inovação, empresas e intraempreendedores, parques tecnológicos, startups e co-
munidades de startups, investidores, todos fazendo a roda do empreendedorismo
girar de maneira harmônica e com as diversas conexões ilustradas pela Anpei
(2014). Os exemplos:
• América do Norte: Vale do Silício (EUA), bastante conhecido por juntar
geografi camente todo esse conjunto de atores, gerando diversas ideias
e negócios – só para lembrar: Adobe, Apple, HP, Intel, Oracle, Orange,
39
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
Twitter... todas essas empresas surgiram no Silicon Valley. Nessa região,
há a maior concentração de empresas de tecnologia em todo o mundo;
tendo o Vale do Silício o primeiro lugar no que se refere a criações ino-
vadoras que envolvem redes sociais, softwares e internet em geral. Além
do Vale do Silício, o levantamento traz Austin (que atua com foco em
indústria avançada e segurança cibernética; e Boston (biotecnologia).
• Europa: destacam-se a Suécia, considerado o segundo país com mais
inovação em todo o mundo, conforme o índice de inovação global (Glo-
bal Innovation Index) e o Reino Unido, que abrangem 37% das startups
europeias consideradas unicórnios (as que conseguem alcançar avalia-
ção de um bilhão de dólares antes de realizarem a abertura de capital
em bolsas de valores), e que envolvem setores como blockchain, fi nte-
chs e healthtechs.
• Ásia e Oriente Médio: destacam-se a China, voltada ao desenvolvimen-
to de inovação em Big data e inteligência artifi cial, e Israel, país conheci-
do como altamente inovador e com foco no desenvolvimento de startups
com foco além das fronteiras. Como aponta o site da Amcham, são “star-
tups que já nascem globais” (CONHEÇA, 2021, s.d.).
3 Sobre ideias e oportunidades de negócios e ambientes de ino-
vação e empreendedorismo, analise o caso a seguir: César Gui-
lherme pensa em empreender no setor de produção de toucas
de natação personalizadas porque, desde pequeno, tem mostra-
do interesse em esportes aquáticos. Pensando em alcançar um
valor de investimento rápido para começar, decide procurar uma
aceleradora, pois considerou que o negócio lhe parece promissor
e não há impedimentos legais para sua execução. A respeito dis-
so, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I César Guilherme, ao ter uma ideia que é oportunidade de negó-
cio, fez uma escolha correta ao optar por investimentos via acele-
radora
PORQUE
II Aceleradoras são menos burocráticas no processo de liberação
de recursos para negócios promissores.
a) ( ) As duas asserções são corretas e a segunda justifi ca a primeira.
40
Empreendedorismo
b) ( ) As duas asserções são corretas, mas a segunda não justifi ca a primeira .
c) ( ) A primeira asserção é verdadeira, e a segunda, falsa.
d) ( ) A primeira asserção é falsa, e a segunda, verdadeira.
Muito bem, agora que você já adquiriu esse arcabouço de conhecimentos so-
bre a atividade empreendedora, sua relação com a inovação e como essa ativida-
de se relaciona com o ecossistema de inovação, chegamos ao último tópico deste
capítulo – qual é o futuro? que tendências há para empreender? Vamos ao fecha-
mento deste primeiro grande círculo de conhecimento sobre empreendedorismo!
2.4 TENDÊNCIAS MUNDIAIS
Comecemos este tópico com uma leitura curta . Que tendências você
encontra aqui?
FIGURA 8 – TENDÊNCIAS NO EMPREENDEDORISMO NO MUNDO
FONTE: Adaptado de O Mundo (2017, s.p.)
Um dos eixos que sustentam as tendências em empreendedorismo está nas
tecnologias, o que evidencia a importância de cada um de nós compreender a força
da inovação e o quanto ela está amalgamada à atividade empreendedora. Observe
41
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
que o termo disruptivo, apresentado nessa breve notícia, nos remete à inovação ra-
dical, à destruição criativa, ao cenário que mais corresponde ao que a teoria defi ne
como o cenário da aplicação estratégica. A disrupção é o que dá o tom do século
XXI (GEM, 2022).
Nakagawa (2013) destaca que essa era em que vivemos é a era da econo-
mia criativa. Com base em diversos exemplos como a criação do Facebook, do
Instagram, da Estante Virtual, de consultorias das mais diversas, como a de ino-
vação consciente chamada Mandalah, o autor comenta que o foco é na inovação,
e essa inovação vem acompanhada do uso das mais diversas tecnologias.
Se levarmos em conta os fatores culturais elencados como exemplos no tópi-
co anterior, encontraremos diversas tendências que trazem várias possibilidades
para o empreendedor: tem aumentado o número de pessoas que buscam alimen-
tação mais saudável, que são adeptas do veganismo – quem deseja empreender
nesse ramo de alimentos pode, por exemplo, focar em um grupo de consumidores
que tem feito presença nas redes sociais e que é engajado em muitas atividades
de posicionamento a favor dos animais e do meio ambiente – a estratégia a ser
adotada vai além de simplesmente oferecer comidas especiais – note que há
uma cadeia de elementos que pode fi delizar clientes com esse posicionamento –
pacotes de serviçosdiferenciados, nos quais diversos fornecedores se unem para
criar uma oferta com maior valor agregado, são uma chave e uma tendência para
negócios empreendedores.
Tomando esse exemplo por base, teríamos possibilidades de criar um hotel
em que a comida é preparada com todas as exigências de quem é vegano, em
um espaço voltado à simbiose e à harmonia do ser humano com a natureza e à
troca de experiências de quem cria sites e é ativista no direito dos animais. Os
clientes retroalimentariam o sistema com divulgação de ações que foram exitosas
no tocante à proteção animal e do meio ambiente, poderiam criar espaços para o
registro de experiências quanto à adoção de ações de mitigação de danos cau-
sados por processos produtivos, divulgariam as vitórias de processos produtivos
com tecnologias limpas e assim sucessivamente, em uma cadeia de valor agre-
gado abrangendo diversos produtos, serviços e processos inovadores. Somente
neste parágrafo, já pudemos associar o conjunto de ideias estudadas nos tópicos
anteriores. Veja que potente é a tendência dos serviços agregados!
Agora, resgate a fala sobre a criação de ideias e a importância da troca entre
pessoas para maturar as propostas iniciais de negócio que você estudou no tópico
anterior (HEISE, 2014). O que se destaca não é uma nova forma de criar ofertas
de valor em que a colaboração dá a tônica, em vez da já propalada competição?
Dentro dessa ótica mais colaborativa, destaca-se outra tendência, a da busca por
soluções comuns a problemas comuns que a humanidade sofre em decorrência
42
Empreendedorismo
da exploração dos recursos naturais para a produção de bens. Considerando-se
essa tendência, a atividade empreendedora poderia abarcar encontros virtuais em
que se estimule a inovação na busca de soluções, fóruns de debate montados com
alcance mundial por meio de plataformas sociais – e aqui temos, mais uma vez, as
tecnologias como suportes essenciais na atividade de conexão e ação.
Outra tendência que queremos destacar aqui é quanto ao papel do Estado.
Poderíamos questionar se o Estado ser empreendedor seria uma tendência ou
apenas uma visão de determinados autores. Ousamos dizer que a resposta é a
de tendência porque a estrutura econômica do mundo exige uma ação que ultra-
passe limites organizacionais. Pensar que os desafi os atuais em termos de uso
de recursos naturais, os problemas advindos da atividade produtiva e seu impacto
no meio ambiente, as questões que ultrapassam fronteiras geográfi cas podem
ser resolvidas, com efi ciência, em um ambiente micro, é pensar de forma limita-
da. Há diversas publicações sobre a necessidade de termos governanças regio-
nais para resolver grandes problemas e desafi os que afetam os países como um
todo (BORTOT; SCAFF, 2020; YURISCH; SOTO; FUENZILDA, 2019; DOWDING;
FEIOCK, 2012). Nessa perspectiva de governança regional, diversos atores, de
diversos segmentos sociais, inclusive os entes públicos, agem em conjunto na
busca por soluções a essas questões que não respeitam limites territoriais.
Além do já citado problema quanto ao uso dos recursos naturais e o impac-
to da atividade produtiva no meio ambiente, temos os problemas da escassez de
água, da fome, de pandemias, de impactos nas relações sociais. Sim, e de que
forma tudo isso tem relação com a ação empreendedora? Tem relação na compre-
ensão de que é preciso ações inovadoras, coletivas, criativas, que saiam do lugar
comum, que ousem atuar com foco no futuro e conseguindo antecipar demandas.
Um estudo relevante é o do livro O Estado Empreendedor, de
Mariana Mazzucato. A economista italiana nos instiga a quebrar vá-
rios paradigmas. Dentre eles, a de que o Estado é um ator passivo
na arena econômica e que compete apenas às empresas a assun-
ção de riscos em novos negócios. Quer se aprofundar no assunto?
A referência de leitura completa é esta: MAZZUCATO, M. O estado
empreendedor: desmascarando o mito do setor público x setor pri-
vado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.
43
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
O primeiro ponto que defendemos para afi rmar que o Estado empreendedor
é uma tendência está no fato de que o esgotamento dos recursos naturais é uma
evidência mundial. Em decorrência desse esgotamento, as empresas buscam al-
ternativas produtivas, mas as opções criadas nas últimas décadas não estão miti-
gando o impacto ambiental, com exceção das inovações disruptivas, como a das
tecnologias limpas, que exigem alto investimento, que demandam tempo para dar
retorno, e que trazem alto grau de incerteza. Logo, em situações em que o Estado
se comporta como um agente passivo, aguardando que as empresas resolvam
os problemas que o processo produtivo causa, nota-se um atraso no desenvolvi-
mento da sociedade, como é o caso da maioria dos países latino-americanos que
sofrem com o uso de tecnologias atrasadas, inefi cientes, poluidoras.
Assumir seu papel empreendedor signifi ca ousar e antecipar-se a deman-
das. No caso dos processos produtivos, essa ação é materializada ao se “bancar”
o investimento inicial em tecnologias limpas e estimular, com esse investimento
feito pelo próprio Estado, os agentes empreendedores, nos níveis do indivíduo e
das organizações, que se sentirão estimulados a fazer a sua parte e investir em
processos menos poluidores, em pesquisas, criando um ciclo virtuoso em prol da
inovação e da atividade empreendedora.
Ademais, uma tendência encontrada em termos de empreendedorismo está
no fi nanciamento de startups que trabalham com tecnologia climática (PWC,
2021). O relatório da empresa de consultoria Price Waterhouse Coopers demons-
tra que os investimentos de capital de risco e de private equity em atividades em-
preendedoras de startups se ampliaram consideravelmente, havendo ao menos
um milhão de dólares em investimentos nesse setor.
Note que o Estado, quando assume o risco que envolve a inovação, quando
se torna um fi nanciador dessas inovações (MAZZUCATO, 2014), está empreen-
dendo e reforçando, para todas as esferas sociais, o compromisso com o futuro.
Por isso, defendemos que o Estado ter o papel empreendedor não é uma defesa
de ponto de vista de alguns autores; é uma tendência, e uma tendência que se
torna imperativa para que as nações alcancem outros patamares em termos de
desenvolvimento socioeconômico.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, você compreendeu o conceito de empreendedorismo e notou
que, em sua essência, ele abarca ousadia, proatividade, antecipação a demandas,
inovação e realização. A palavra realização lhe trouxe a conotação de que empreen-
der envolve a ideia de materialização de ideais, de visões que se transformam em
44
Empreendedorismo
novos processos, produtos, serviços e constroem um ciclo virtuoso de crescimento
e desenvolvimento. O empreendedor, portanto, é alguém que cria ou modifi ca algo
que já existe, transformando-o como fruto de inovação e criatividade; alterando,
também, o modo de ser e/ou de ver, compreender algo – modifi cando os valores.
Também observou que o empreendedorismo é uma atitude que abarca diver-
sas esferas sociais, desde o indivíduo, passando pelas organizações, até o Estado.
Justamente pensando nessas esferas distintas, notou que as características cen-
trais da atividade empreendedora trazem em seu bojo a capacidade de autorrein-
venção, renovação, quebra de paradigmas, evidenciando a importância do empre-
endedorismo desde o desenvolvimento individual até o desenvolvimento da nação.
Em inovação e novos negócios, você compreendeu que a associação entre
empreendedorismo e inovação está na própria atividade empreendedora – o foco
na mudança e a gestão da inovação são os pilares da atividade empreendedora
que busca ser efi caz. Fica evidente que a atividade empreendedora é uma ativi-
dade inovadora – é preciso a articulação entre empreendedorismo e a inovação
para o exercício do saber-fazer empreendedor.
No tocanteàs avaliações de ambientes para empreender, notou o quão impor-
tante é identifi car o que são ideias e o que são oportunidades. Em toda a atividade
empreendedora, constatou a importância de pesquisar, compreender o ambiente
em seus fatores políticos, econômicos, sociais, ambientais, legais, tecnológicos e
saber escolher as ideias que têm mais probabilidade de se transformarem em opor-
tunidades de sucesso. Ampliou seu conhecimento sobre o ecossistema de empre-
endedorismo e inovação e constatou a importância de ele ser forte, robustecido com
ligações entre atores públicos e privados, entre governos, setores do conhecimento
e organizações, a fi m de favorecer a atividade empreendedora e a inovação. Com
esse conhecimento, compreendeu as características dos ambientes para empreen-
der e as estratégias neles aplicadas, trazendo-lhe um espaço para refl exão sobre o
tema e sobre os modelos de negócios e estratégias a serem adotadas.
Nas tendências, percebeu que a criação de mais valor agregado em ofertas
de diversos serviços conjuntos que atendam a determinado público-alvo é uma
tendência das mais prementes e interessantes, dado seu potencial de agregação
e de estímulo à colaboração; notou o quanto as tecnologias estão presentes nas
ações empreendedoras do futuro, bem como compreendeu como o Estado tem
impacto na ação empreendedora e no estímulo real ao empreendedorismo.
Com esses conhecimentos adquiridos, você poderá discutir com mais em-
basamento acerca de tendências no empreendedorismo, fortalecendo sua capa-
cidade de avaliação de ambientes e de escolha por empreender considerando
contextos atuais e futuros.
45
EMPREENDEDORISMO & INOVAÇÃO – CONCEITO,
FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS Capítulo 1
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA SEBRAE de Notícias. Brasil alcança marca recorde de novos
negócios em 2021 [...] 18 fev. 2022. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.
com.br/economia/noticia/2022-02/quase-4-milhoes-de-novos-negocios-foram-
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CAPÍTULO 2
DESENVOLVENDO O
EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:
Compreender os tipos de empreendedores.
Conhecer as características da pessoa empreendedora.
Identifi car as estratégias para desenvolver as habilidades empreendedoras.
Identifi car o que é criatividade e quais as estratégias para desenvolvê-la.
Analisar os tipos de empreendedores, valorizando as distintas tipologias exis-
tentes.
Distinguir as características da pessoa empreendedora.
Analisar suas próprias características vis-à-vis as características da pessoa
empreendedora.
Esquematizar ações para desenvolver as habilidades para empreender e para
afl orar a criatividade.
50
Empreendedorismo
51
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Desenvolvendo o empreendedorismo existente em você. O título deste ca-
pítulo já nos remete a uma expectativa de tratarmos de algo prático e factível.
Ora, há quem argumente que nem todas as pessoas possuem características em-
preendedoras; logo, não seria ousado iniciar uma proposta de estudo com uma
afi rmação dessa natureza, que indica que ‘algo’ empreendedor já existe dentro de
nós? O que você responderia a essa questão?
Recordando alguns pontos centrais estudados no Capítulo 1, você deve ter
se lembrado de que a atitude empreendedora pode ocorrer dentro de uma orga-
nização com ou sem fi ns lucrativos, pode existir em nossa casa, na universidade,
no dia a dia, correto? Pois bem, aqui, já quebramos um paradigma importante,
aquele que afi rma que empreendedorismo está associado a ter um negócio pró-
prio, e nos voltamos para a essência da ação empreendedora.
Ela, por sua vez, está diretamente associada a algumas características que
as pessoas têm, sendo que, evidentemente, um conjunto dessas características
será o que resultará no perfi l empreendedor; mas esse conjunto poderá se mani-
festar de diversas maneiras, não necessariamente com a criação de um negócio
próprio; por isso, afi rmamos que todos nós temos, em diferentes intensidades e
combinações, características empreendedoras. Então, com essa refl exão inicial,
esperamos que você dê boas-vindas à descoberta das características que fazem
de você uma pessoa empreendedora e que mergulhe neste estudo com afi nco e
interesse em se aprofundar em tão importante tema.
Este capítulo está dividido em três seções: a primeira, denominada caracte-
rísticas e tipos de empreendedores, possibilitará a identifi cação das característi-
cas comuns aos empreendedores, mas também permitirá explicitar a diversidade
existente quando se trata de perfi l – ou perfi s – das pessoas empreendedoras;
essa diversidade também lhe propiciará momentos de refl exão e identifi cação
com suas próprias características, levando a um aprendizado autorrefl exivo bem
instigante. De forma prática, você analisará os tipos de empreendedores, valo-
rizando as distintas tipologias existentes e distinguirá essas características que
compõem o perfi l – ou perfi s – dos indivíduos empreendedores. Ao compreender
os tipos de empreendedores, conhecer as características da pessoa empreende-
dora e identifi car as estratégias para desenvolver as habilidades empreendedo-
ras, você poderá comparar seu perfi l e habilidades com o que estudou e elaborar
ações que lhe permitam aprimorar seu espírito empreendedor.
O tema seguinte, que constitui a seção 2, é a criatividade, conceito que
será desenvolvido neste capítulo com foco em suas características e em como
ela pode ser estimulada e aproveitada no ambiente dos negócios; ao estudar o
52
Empreendedorismo
conteúdo proposto e identifi car o que é criatividade e quais as estratégias para
desenvolvê-la, você solidifi cará seus conhecimentos sobre empreendedorismo e
ampliará as possibilidades de desenvolver estratégias robustas para seu próprio
aprimoramento pessoal e profi ssional.
Por fi m, na sequência, vamos para a seção 3, com a temática que trata do
desenvolvimento das habilidades empreendedoras e criativas, completando um
conjunto de elementos que se associam, intrinsecamente, ao tema central des-
te livro, que trata de empreendedorismo e inovação. Note que ao analisar suas
próprias características vis-à-vis às características da pessoa empreendedora e
esquematizar ações para desenvolver as habilidades para empreender e para
afl orar a criatividade, você estará praticando o saber-fazer tão importante para
materializar a teoria em uma prática essencial para a perenidade organizacional e
para o próprio crescimento individual.
Assim, explore as potencialidades que este capítulo lhe oferece. Bons estu-
dos e vamos à “mão na massa”!
2 DESENVOLVENDO O
EMPREENDEDORISMO EXISTENTE
EM VOCÊ
Após iniciar sua jornada compreendendo o conceito de empreendedorismo, sua
importância e a relação com a inovação, chegamos ao segundo capítulo que, em
conexão com o anterior, traz para você um estudo sobre a pessoa que empreende.
2.1 CARACTERÍSTICAS E TIPOS DE
EMPREENDEDORES
Comecemos com um desafi o: leia um excerto da notícia “Sul e Sudeste im-
peram em ranking de cidades empreendedoras ” , que estimulamos que a conhe-
ça integralmente, visando encontrar, no texto completo, oportunidades para quem
quer empreender e, além disso, perceba, nas entrelinhas, as características de
quem empreende.
53
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Para Ronaldo Pereira Silva, empreendedor que atua nos seto-
res imobiliário e de educação na região Norte do país, o atual cenário
econômico apresentado para os micro e pequenos empresários no
Brasil é “bastante desafi ador, mas também com grandes oportunida-
des”, tendo as regiões Norte e Nordeste grande potencial para o de-
senvolvimento de novos negócios. “Temos um mercado consumidor
aquecido, o que nos favorece e traz um fortalecimento econômico
em meio a contramão das políticas econômicas e crises enfrentadas
no mercado mundial”, diz o gestor de pós-graduação do Centro Uni-
versitário Uningá, instituição de Ensino Superior que conta com uni-
dades no interior dos estados de Rondônia e Acre. (SUL, 2022, s/p.)
FONTE: SUL e Sudeste imperam em ranking de cidades empreendedoras.
Portal de Notícias SEGS, 23 abr. 2022. Disponível em: https://www.segs.com.br/
seguros/343310-sul-e-sudeste-imperam-em-ranking-de-cidades-empreendedoras.
Por que destacamos esse trecho? Porque ele já inicia nossa discussão sobre
características de quem empreende – observe que as palavras desafi adore oportu-
nidades estão lado a lado – o empreendedor não tem receio dos desafi os, ele não os
considera obstáculos, mas, sim, oportunidades. Para ter essa perspectiva de desafi os
como algo que permite alavancar uma ideia, que pode ser uma janela de oportunida-
de, o empreendedor deve ser ousado e ter a visão de futuro. Até este momento, você
pode pensar: sim, como já estudado no Capítulo 1, ousadia e visão de futuro são ine-
rentes à atividade empreendedora; mas não é apenas isso que conta.
Empreendedora é a pessoa que tem... curiosidade! Sim, como Nakagawa
(2013, p. 59) resume: “todo bom empreendedor é, antes de tudo, uma pessoa
curiosa”. A curiosidade, o desejo de descobrir e de criar, é o que move a humani-
dade – a curiosidade, mola mestra do passo inicial de qualquer ação inovadora,
é uma poderosa ferramenta para empreender. Muitas vezes um empreendedor
assim se descobre ao observar algo ou identifi car alguma demanda não atendida
e exercer o raciocínio curioso de pensar: por que não fazer algo ou fazer algo dife-
rente do que já vem sendo feito?
Uma frase emblemática é a do teatrólogo George Bernard Shaw, que nos
incita a refl etir sobre o espírito curioso e, por extensão, sobre a ação empreende-
dora: “Alguns homens veem as coisas como são e dizem ‘por quê?’ Eu so-
nho com as coisas que nunca foram e digo ‘por que não?’” (REIS; ARMOND,
2012, p. 13; TONTINI, 2013, p. 5) .
54
Empreendedorismo
Novamente, encontramos aqui a ideia de visão de futuro, aliada a essa ação
curiosa que incita à ação. As pessoas empreendedoras não temem sonhar e não
se limitam a parar e se acomodar com o que veem. É importante ressaltar que o ser
humano tem a capacidade de decidir enfrentar o desconhecido e quebrar os limites,
reais e/ou imaginários, que a própria zona de conforto lhe traz. Qualquer um de nós
busca, em tese, o equilíbrio, a estabilidade. Contudo, paradoxalmente, para evoluir,
precisamos do desequilíbrio, necessitamos da instabilidade, pois ela é que nos move.
Da curiosidade, migremos para a criatividade, a capacidade de inventar, de
inovar, de envolver a inteligência e o talento modifi cando ou criando processos,
produtos e serviços (certamente, você se lembrou da inovação, objeto de estudo
de nosso Capítulo 1). Iremos nos aprofundar nesse item ainda neste capítulo,
com uma abordagem que visa lhe mostrar como é possível desenvolver a criati-
vidade que há dentro de você. Pense na criatividade como a ferramenta que dá
vida, existência real, ao que foi idealizado por conta do espírito curioso.
Agora, chegamos a outro atributo que, talvez, não tenha passado por sua mente
em um primeiro momento, ao abordarmos características de uma pessoa empreen-
dedora, mas que é fundamental para o desenvolvimento da ação empreendedora:
humildade. Sim, humildade para reconhecer os limites e os erros que naturalmente
podem advir do processo de criação, assim como humildade de se reconstruir, sem
desistir. Podemos nos lembrar de inúmeros exemplos de empreendedores que erra-
ram, mas tiveram humildade e persistência para corrigir os erros e seguir adiante. Por
exemplo: Thomas Edison, um empreendedor, cientista, engenheiro que teve mais de
uma centena de patentes registradas e que não desistia quando errava; o erro o mo-
via para adiante e a perseverança era sua companheira diária. Para se ter uma ideia
de quanto Edison foi uma pessoa perseverante, ele fez 1200 (mil e duzentos!) testes
até conseguir acertar sua criação da lâmpada (PANCINI, 2021).
A humildade é uma característica tão importante que abarca, inclusive, o in-
traempreendedorismo. Hashimoto (2006) a inclui no conjunto que ele defi ne como
consciência de si – a humildade abrange, ainda, a atitude de querer aprender com
as outras pessoas, tendo a consciência do quanto isso será importante para o
aprimoramento próprio. O autor soma à humildade as palavras integridade (que
facilita o amálgama social e ainda contribui para expandir o conhecimento e a
visão da própria pessoa), tolerância (esta facilita a descoberta advinda do apren-
dizado que existe quando respeitamos, genuinamente, os outros e os tratamos
com respeito e dignidade); responsabilidade pelos erros e pelos acertos (que leva
ao aprendizado e gera confi ança, ao que acrescentamos parceria e colaboração);
desejo real de contribuir – “contribuir genuinamente e com sinceridade requer pai-
xão, iniciativa e dedicação” (HASHIMOTO, 2006, p. 108).
55
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
A fi gura a seguir sumariza esses elementos que estamos discutindo como
fundamentos da ação empreendedora, ou seja, as características da pessoa em-
preendedora que ilustram o que se pode denominar a tríade fundamental para a
atividade empreendedora e científi ca:
FIGURA 1 – A TRÍADE PARA FUNDAMENTAR A AÇÃO EMPREENDEDORA – CCH
Fonte: A autora (2022)
Na literatura sobre empreendedorismo, encontramos, além dessas caracte-
rísticas que reputamos como essenciais, muitas outras. Vamos a um compilado
delas para evidenciar a diversidade delas, mas também a sua unidade em termos
de perfi l de uma pessoa empreendedora – você identifi cará que, embora cada
indivíduo tenha suas peculiaridades, o conjunto permite que se sobressaiam ele-
mentos reforçadores do conteúdo que vimos estudando desde o capítulo 1. No
quadro, as características essenciais já apresentadas estão contempladas, nova-
mente, de forma resumida:
56
Empreendedorismo
QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES
Característica O que é Autores que a citam
Autonomia e independên-
cia (envolve a capacida-
de de assumir riscos, de
tomar decisões, se res-
ponsabilizar por elas e de
gerir seu destino e de a
pessoa ser dona de seus
processos)
A capacidade que uma pessoa tem para se
autogovernar; a independência, associada
à autonomia, traz a ideia de ter liberdade
para agir; ambas nos lembram o estudo do
capítulo 1 que remontava o empreendedor
à pessoa que assume riscos e enfrenta as
consequências dessa assunção de riscos. A
tomada de decisões está associada a estas
características de autonomia e independên-
cia por ser, em nosso entendimento, a mate-
rialização de tais características e o reforço
à autoestima e à confi ança. Observe que a
autonomia e a independência é que possi-
bilitam a tomada de decisão sem procrasti-
nar, sem retardamentos desnecessários e
inefi cientes e elas são a chave para que se
possa gerir o próprio destino.
10 características
(2021)
Dornelas (2008)
Maximiano (2015)
Souza; Glozan (2015)
Comunicação A habilidade de tornar comum algo, de ser
claro, assertivo, para envolver as pessoas
em seu projeto.
A habilidade de saber ouvir, de ter uma es-
cuta atenta e atenciosa, para obter insights a
partir das ideias dos outros.
Em suma, comunicar é transmitir, comparti-
lhar, trocar, tornando comum as ideias e re-
cebendo inputs para aprimoramentos
Lima (2002)
Rocha (2021)
Criatividade e inovação A capacidade de combinar talento, inteligên-
cia e propósito de forma inovadora, o que
pode ser disruptivo ou não, mas que tem o
mérito de resolver um problema ou atender
a uma demanda de forma criativa; é uma
qualidade que gera a busca de ideias ou
proposições para criar ou adaptar proces-
sos, produtos e serviços. Note que há uma
relação forte entre criatividade e inovação;
podemos dizer que a primeira gera a ideia e
a inovação é a materialização da ideia
Bessant e Tidd (2009)
Castro (2017)
Castro (2021)
Castro (2022)
Nakagawa (2013)
Trutmann (2012)
Curiosidade, busca por
informações e aprimora-
mento contínuo
Desejo de saber, de conhecer, advindo da
observação atenta e alegre, gerando a ação
de experimentar, testar, combinar elemen
10 características (2021)
Castro (2022)
Shaw (2022)
57
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
tos. A curiosidade também se associa ao-
contínuo aprendizado que, como destaca
Rocha (2021, s/p.), permite que as pessoasempreendedoras mantenham “seus negó-
cios sempre atualizados e competitivos”.
Rocha (2021)
Freitas (2020)
Dedicação, determinação
e comprometimento
A atitude de se entregar com empenho a
algo, é o que envolve, inclusive, a paixão
pelo que faz, o sacrifício pessoal (10 CA-
RACTERÍSTICAS, 2021) e se associa, ain-
da, à atitude de colaboração e de compro-
metimento, com as ideias e as pessoas.
10 características
(2021)
Dornelas (2008)
Hashimoto (2006)
Flexibilidade e dinamici-
dade
A capacidade de se adaptar e agir com rapi-
dez quando surge algum problema ou impre-
visto, a disposição de mudar se for preciso
e passar pelos obstáculos tendo planos e
rotas alternativas. A fl exibilidade pode ter,
como sinônimo, a dinamicidade que carac-
teriza a pessoa empreendedora, termo este
usado por Dornelas (2008) e a atitude de es-
tar aberto às mudanças (SOUZA; GLOZAN,
2015).
Dornelas (2008)
Rocha (2021)
Souza; Glozan (2015)
Foco e Planejamento A capacidade de pôr atenção em algo e
permanecer focado nas metas, objetivos,
insumos e recursos humanos para o alcance
dos propósitos. Alguns autores associam o
foco à busca por qualidade e melhoria con-
tínua (10 CARACTERÍSTICAS, 2021). O
planejamento está associado ao foco por se
reportar a uma questão essencial: o empre-
endedor corre riscos calculados, como estu-
dado no Capítulo 1, e essa aparentemente
simples afi rmação traz, em seu bojo, um
dos pontos centrais da pessoa
empreendedora: a capacidade de
calcular os riscos e planejar for-
mas de mitigá-los .
10 Características
(2021)
Maximiano (2015)
Souza; Glozan (2015)
Humildade O reconhecimento dos limites e dos erros –
estes como parte do processo. A habilidade
de se reconstruir e de aprender com as fa-
lhas e com os outros e dar o mérito a quem
o merece.
Hashimoto (2006)
Castro (2022)
58
Empreendedorismo
Iniciativa e proatividade A capacidade de se antecipar aos outros
para agir, de tomar decisões por si, e de
demonstrar energia, ânimo, atitude proativa.
10 Características
(2021)
Freitas (2020)
Hashimoto (2006)
Souza; Glozan (2015)
Integridade A postura que envolve ser ético e íntegro no
que se faz ou se fala; a atitude de ter va-
lores absolutos, que não se modifi cam para
“alcançar algum benefício”; os valores abso-
lutos são os valores mais importantes, que
norteiam a força de agir de uma pessoa. São
o que Souza e Glozan (2015, p. 21) chamam
de coerência, a atitude de agir “em sintonia
com valores e crenças”
Hashimoto (2006)
Souza; Glozan (2015)
Liderança A capacidade de envolver e inspirar as pes-
soas para o alcance da visão, delegando-
-lhes atividades, metas e gerando um clima
de confi ança e parceria.
Freitas (2020)
Rocha (2021)
Otimismo e paixão pelo
que faz
Classicamente, o otimismo é defi nido como
a capacidade que alguém tem de ver as situ-
ações sob uma perspectiva positiva, crendo
em um resultado favorável, independen-
temente do tamanho ou da complexidade
da situação. Dornelas (2008) associa este
otimismo com a paixão pelo que a pessoa
faz, trazendo-nos a dimensão do que é em-
preender em sua essência, pois envolve o
acreditar e o perseverar.
Dornelas (2008)
Maximiano (2012)
Maximiano (2015)
Nakagawa (2013)
Souza; Glozan (2015)
Ousadia/
coragem e resiliência ao
fracasso, fazendo a dife-
rença!
A capacidade de dar um passo adiante
quando se tem o feeling e um planejamento
com cálculo de riscos não é algo simples; a
pessoa empreendedora é a que vai além do
limite criado pela zona de conforto que nós
mesmos criamos e nos sentimos confortá-
veis; vindo o resultado não esperado, é parte
da ousadia essa resiliência ao fracasso e a
atitude de recomeçar. Acrescentamos, aqui,
a expressão ‘fazendo a diferença’ que Dor-
nelas (2008) usa mais no sentido de deter-
minar uma característica do empreendedor
de sucesso; contudo, em nossa perspectiva,
a associação da ousadia com a re-
siliência ao fracasso é que faz
Dornelas (2008)
Maximiano (2015)
Nakagawa (2013)
Souza; Glozan (2015)
59
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
com que os indivíduos “façam a
diferença” transformando o abstrato, a
ideia, em algo perceptível e que traz uma
mudança social e econômica, com novos
produtos, processos ou serviços, gerando a
destruição criativa que estudamos no Capí-
tulo 1.
Persistência e/ou deter-
minação
A capacidade de manter o propósito e a
ação em prol de alcançar o objetivo propos-
to, mesmo com os erros, os problemas e os
resultados negativos ou inesperados.
10 Características
(2021)
Maximiano (2012)
Maximiano (2015)
Pancini (2021)
Rocha (2021)
Persuasão A capacidade de convencer de modo doce;
de aplicar estratégias para tanto, de modo
respeitoso e ético. Há, também, quem as-
socia a persuasão à construção de uma
networking, ou rede de contatos, como algo
essencial à atividade empreendedora.
10 características
(2021)
Lima (2002)
Sentido de colaboração
e contribuição (solidarie-
dade)
A atitude de querer trazer uma contribuição
para a construção conjunta; o termo ‘senti-
do’ dá uma dimensão de que a atitude que a
pessoa tem é em prol de uma construção de
algo que envolve outros indivíduos; o oposto
disso seria o egoísmo, como ressaltam Sou-
za e Glozan (2015)
Hashimoto (2006)
10 características
(2021)
Souza; Glozan (2015)
Tolerância A capacidade de ter respeito pelos outros e
aceitar que os outros são diferentes de nós,
tendo condescendência para com as pes-
soas, que merecem um tratamento digno e
respeitoso.
Hashimoto (2006)
Visão de futuro A capacidade de antecipar demandas e,
como destaca Dornelas (2008), também
abrange a habilidade de realizar a imple-
mentação dessa visão ou do que o autor
chama de “sonhos”; tal implementação re-
sulta de saber explorar as oportunidades,
como estudado no Capítulo 1.
Dornelas (2008)
Nakagawa (2013)
Souza; Glozan (2015)
FONTE: A autora (2022)
Vamos propor a você, agora, uma atividade singular. Vamos iniciar fazendo uma
autoavaliação de seu perfi l empreendedor, com base em um modelo desenvolvido
por Dornelas (2008); com isso, você poderá analisar suas próprias características vis-
60
Empreendedorismo
-à-vis às características da pessoa empreendedora e aplicar o que aprendeu em uma
situação prática, real e importante: a sua atitude empreendedora. Vamos lá!
Meu perfi l empreendedor
Analise cada frase a seguir e escolha um conceito que mais se aproxima do
que você avalia quanto às suas características empreendedoras. Não há um certo
ou errado aqui, essa atividade é importante para que você se autoavalie e consi-
dere quais pontos julga que pode e quer desenvolver para se aprimorar, pessoal e
profi ssionalmente, levando em conta as características estudadas.
Ao avaliar os itens desta avaliação, perceba que Dornelas (2008), que é o
autor da proposta, subdivide algumas características estudadas; assim, avalie
cada uma com o foco na afi rmação que o autor apresenta.
Assinale o conceito que se aplica a você:
TABELA 1 – MINHA AUTOAVALIAÇÃO – CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS
Características do empreendedor
Excelente
5
Bom
4
Regular
3
Fraco
2
Insufi ciente
1
Comprometimento e determinação
1. Você é uma pessoa proativa na to-
mada de decisão
2. Você é uma pessoa tenaz/obstinada
3. Tem dedicação
4. É persistente ao resolver problemas
5. É disposta ao sacrifício para atingir
metas
6. É capaz de fazer uma imersão total
nas atividades que desenvolve
Obsessão pelas oportunidades
7. Procura ter conhecimento profundo
das necessidades de seu público-alvo
8. É uma pessoa dirigida pelo mercado
(market driven)
9. É uma pessoa obcecada pela criação
de valor que satisfaça seu público-alvo
61
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Tolerância ao risco, ambiguidade e incertezas
10. Corre riscos calculados
11. Procura minimizar os riscos
12. Tolera as incertezas
13. Tolera o estresse e os confl itos
14. É hábil em resolver problemas
Criatividade,autoconfi ança e habilidade de adaptação
15. É uma pessoa de cabeça aberta
16. Não se conforma com o status
quo
17. É hábil em se adaptar a novas si-
tuações
18. Não tem medo de falhar
19. É hábil em defi nir conceitos/deta-
lhar ideias
Motivação e superação
20. É uma pessoa orientada a metas/
resultados
21. É dirigida pela necessidade de
crescer
22. Não se preocupa com status e poder
23. Tem autoconfi ança
24. É ciente de seus limites, pontos for-
tes e fracos
25. Tem ânimo
Liderança
26. Tem iniciativa
27. Tem autocontrole
28. Transmite integridade e confi abili-
dade
29. É paciente e sabe ouvir
20. Sabe constituir e trabalhar em equipe
Total de pontos
FONTE: Adaptado de Dornelas (2008, p. 49-50)
62
Empreendedorismo
Analise o seu desempenho. Dornelas (2008, p. 51) propõe uma escala para
você refl etir sobre o tema:
120 a 150 pontos: Você provavelmente já é um empreendedor,
possui as características comuns aos empreendedores e tem
tudo para se diferenciar em sua organização.
90 a 119 pontos: Você possui muitas características empreen-
dedoras e às vezes se comporta como um, porém você pode
melhorar ainda mais se equilibrar os pontos ainda fracos com
os pontos já fortes.
60 a 89 pontos: Você ainda não é muito empreendedor e pro-
vavelmente se comporta, na maior parte do tempo, como um
administrador e não um “fazedor”. Para se diferenciar e co-
meçar a praticar atitudes empreendedoras procure analisar
os seus principais pontos fracos e defi nir estratégias pessoais
para eliminá-los.
Menos de 59 pontos: Você não é empreendedor e se conti-
nuar a agir como age difi cilmente será um. Isto não signifi ca
que você não tem qualidades, apenas que prefere seguir a ser
seguido. Se seu anseio é ser reconhecido como empreende-
dor, reavalie sua carreira e seus objetivos pessoais, bem como
suas ações para concretizar tais objetivos.
Caso você queira ampliar seus conhecimentos sobre em-
preendedorismo, consulte o site de acesso livre do prof. José
Dornelas, que é uma referência no tema, em: https://www.jose-
dornelas.com.br/. Acesso em 30 jun. 2022. E se quiser realizar o
teste original proposto por Dornelas (2008), ele é encontrado
em: https://www.josedornelas.com.br/wp-content/uploads/arquivos/
teste_perfi l1.pdf . Acesso em 30 jun. 2022
Bem, agora passemos para mais um tópico deste primeiro subcapítulo –
após compreender a imensidão das características da pessoa empreendedora,
estudaremos os tipos de empreendedores, ampliando a riqueza da temática.
Segundo Dornelas (2007), os empreendedores podem ser alocados em nove
tipos, conforme a categoria econômica e legal que o empreendimento apresenta. De
forma sucinta, temos desde o empreendedor no sentido clássico, aquele que é co-
nhecido como empresário, mas que começou, como todo empreendimento, da ideia
de assumir riscos calculados para oferecer algo diferente, atendendo a uma demanda
ou antecipando tendências, até as subdivisões dessa atividade empreendedora.
63
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
FIGURA 2 – TIPOS DE EMPREENDEDORES
64
Empreendedorismo
FONTE: Adaptado de Dornelas (2007)
Dornelas (2007) sintetiza essa tipologia reforçando algumas das caracterís-
ticas que estudamos no início deste capítulo. O autor comenta que as pessoas
empreendedoras, seja atuando em um negócio próprio, seja na área pública ou
como intraempreendedoras, buscam autorrealização, autonomia ou sustentação
fi nanceira, satisfação e orgulho com o que realizam e a busca de deixar um lega-
do ou marca que incentive outros a seguirem empreendendo. Vale lembrar que
esses modelos, como a atitude empreendedora, não é algo estático, mas traz o
dinamismo que é peculiar à atividade empreendedora.
Dornelas (2019) ainda faz uma distinção entre os tipos de empreendedores,
trazendo-nos, nas entrelinhas de sua análise, um ponto de infl exão sobre a ne-
cessidade de ter um aprimoramento contínuo e buscar estruturar o negócio
. A fi gura a seguir sumariza as ideias e foi desenvolvida com base na proposta de
representação gráfi ca do autor, constante da p. 24 do livro “Fazendo acontecer”:
65
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
FIGURA 3 – É POSSÍVEL MIGRAR DO EMPREENDIMENTO POR
NECESSIDADE PARA O EMPREENDIMENTO POR OPORTUNIDADE
FONTE: Adaptado de Dornelas (2019), Castro (2017) e Carvalho (2012)
Após o estudo de caso a seguir, você avaliará o que aprendeu em uma auto-
atividade. À medida que for lendo o caso, destaque as características do empreen-
dedor que vimos estudando e observe o tipo de empreendimento que é a “isaac”.
Estudo de caso – A educação transformando vidas
Esta é a história do empreendimento de David Peixoto e Ricardo Sales, fundado-
res da isaac (em homenagem ao físico Isaac Newton), O que é a isaac? Um projeto de
fi lantropia voltado à educação, que cuida do fl uxo fi nanceiro de mais de 400 escolas,
em pouco mais de um ano de inauguração. Assim nos conta Filgueiras (2021, s/p.):
O primeiro ano de operação da startup isaac foi tão discreto
quanto seus fundadores, mas não por isso menos acelerado.
Criada para gerir o fl uxo de caixa de escolas particulares e di-
gitalizar os processos fi nanceiros, garantindo o pagamento das
mensalidades aos colégios e se responsabilizando pelo vaivém
de boletos, a isaac já tem uma carteira com 350 escolas, que
somam 140 mil alunos e um fl uxo fi nanceiro de R$ 600 milhões.
66
Empreendedorismo
A Endeavor informa que David cresceu no Ceará sem “grandes exemplos de
empreendedorismo próximo. Achava que não era pra ele.”, porém, a educação
sempre esteve presente na vida da família, que a entendia como um meio de
mudança; “No Ceará, eu cresci com uma escassez de exemplos de empreen-
dedorismo (...) Mas, por outro lado, a educação sempre esteve presente. Pra
mim, era o único meio pelo qual eu transformaria a minha vida e das pessoas
ao meu redor”, conta David. (A HISTÓRIA, 2022, s.p.).
David, de forma corajosa e ousada, veio para São Paulo, em busca das me-
lhores escolas, e cursou Direito; viu o que os advogados e juristas de sucesso
tinham em comum e foi fazer pós-graduação nos EUA, buscou as melhores esco-
las de direito e escolheu uma tradicional e bastante exigente: a Yale Law School.
O detalhe é que:
David não falava inglês. Não tinha nível nem para entrar nas
turmas do preparatório do TOEFL. Foi pra casa e passou 75
dias estudando inglês. Eram 12 horas por dia. Contadas no
relógio. Três horas de escrita, três de leitura, mais três de es-
cuta e outras três de fala. Em menos de três meses, teve sua
aprovação no TOEFL. E na Escola de Direito de Yale. (A HIS-
TÓRIA, 2022, s.p.).
Ao voltar pra o Brasil, foi trabalhar em um banco, onde fi cou quatro anos. Seu
amigo de infância, o também cearense Ricardo Sales, o procurou para um desa-
fi o. Qual era seu propósito?:
(...) apoiar jovens de alto potencial de escolas públicas para
retribuir os privilégios que teve ao longo de sua trajetória. O
plano era doar seus bônus do trabalho para conceder bolsas
para esses jovens em escolas de qualidade. Foi assim que sur-
giu a Primeira Chance, uma ONG com a missão de oferecer
acesso ao ensino privado de qualidade assim como ajuda fi -
nanceira – para despesas como moradia e alimentação – para
adolescentes de baixa renda do ensino público. Com isso, con-
seguem trilhar um caminho na direção das universidades de
ponta do país e do exterior.
Daí surgiu o contato com um investidor que criou uma plataforma de educa-
ção - o Sistema Ari de Sá - alcançando escolas em todo o Brasil com oferta de
conteúdo e tecnologia. Dessa ideia, surgiu uma startup com grande potencial de
crescimento, que se tornou “o primeiro unicórnio de educação do Brasil que
fez IPO em Nova York.”. Dessa experiência, David aprendeu a “colocar o cliente
no centro” (...), “trabalhar com pessoas boas” (...) e “ter foco para lidar com os
desafi os e confi ar no timepara lidar com os problemas.” (A HISTÓRIA, 2022, s.p.)
67
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Unicórnios são “fi rmas nascentes que alcançam valor de merca-
do de 1 bilhão de dólares” (MAIA, 2019, p. 11), são startups cobiça-
das por seu valor e por seu crescimento rápido. O nome combina a
raridade aplicada ao unicórnio, um animal mítico com corpo de cava-
lo e cabeça com chifre, combinando a ideia de poder e capacidade
sem limites (MAIA, 2019).
IPO: vem do inglês Initial Public Offering e signifi ca uma oferta
inicial pública, que representa a primeira vez que uma empresa em-
preendedora ingressa na Bolsa de Valores, ofertando suas ações no
mercado para ter aporte de capital e receber novos sócios para o
empreendimento (O QUE É IPO, s.d.).
David e Ricardo fundaram a empresa isaac e ela vem crescendo de forma
acelerada. “Hoje, com 14 meses de vida, o isaac já impactou mais de 200 mil
estudantes.” (A HISTÓRIA, 2022, s.p.). O setor de educação é mal atendido e
apresenta muitas demandas latentes. Como disse David “A educação é um setor
com tanta dor para solucionar.” – a isaac vem atender a várias demandas e
reduzir a dor, trazendo inovação no setor de atendimento financeiro das es-
colas (...) Isso é uma inovação significativa para o setor de educação. Mas
ainda existe muita oportunidade aqui”, comenta.
“Eu quero que o isaac possa ajudar gestores de escolas em tudo que
precisam para crescer. Uma vez que, se as escolas do Brasil crescerem 30%,
imagina o impacto causado com o número de pessoas que passariam a ter
acesso à educação de qualidade”, conta. (A HISTÓRIA, 2022, s.p.)
Com 14 meses de empresa, a sensação é de que ainda esta-
mos no primeiro dia, ou melhor, nas primeiras horas do primei-
ro dia. Fizemos tão pouco, mas existe tanta coisa a ser feita
para melhorar o dia a dia das escolas. Ainda assim, eu aprendo
muito. Sobre mim. Sobre educação. Sobre como construir uma
empresa de base tecnológica. Eu sempre olho para os desa-
68
Empreendedorismo
fi os e lembro da minha mãe falando que nunca fi ca mais fácil,
mas fi ca melhor. É daí que tiro força, foco e resiliência para se-
guir em frente”, divide. A história do David prova que é preciso
ir em busca do desconforto. Seja empreendendo, estudando,
mudando de cidade ou de país. Seja tirando uma ideia do pa-
pel ou mudando o modo como as coisas já são feitas. É assim
que se muda o mundo. (A HISTÓRIA, 2022, s.p.)
1 – Levando em conta o caso relatado da startup “isaac” e o que
você estudou sobre características e tipos de empreendedores,
analise as afi rmativas a seguir:
I Há diversas características empreendedoras presentes no relato
da história de David, como coragem, ousadia, foco, determinação
e esforço.
II Fica evidente no texto que a isaac é uma empresa do tipo empre-
endimento social.
III Identifi ca-se, no relato, que tanto David quanto Ricardo souberam
explorar as oportunidades e identifi caram demandas latentes não
atendidas.
IV David apresenta as características de um típico empresário de
sucesso: foco primordial no ganho fi nanceiro para potencializar a
riqueza dos sócios.
V Evidencia-se, em vários pontos da história dos empreendedores,
otimismo, paixão pelo que faz, visão de futuro e valores absolutos
Assinale a alternativa CORRETA:
( ) As afi rmativas I e II estão corretas.
( ) As afi rmativas III e IV estão corretas.
( ) As afi rmativas I, II e IV estão corretas.
( ) As afi rmativas I, III e V.
( ) Somente a afi rmativa III está correta.
Considerando o que foi estudado, evidencia-se que a isaac é fruto de uma
visão de futuro em que estão presentes coragem, ousadia, foco, esforço, dedica-
ção, e determinação, como nas passagens em que se mostra como David supe-
rou obstáculos para alcançar suas metas de formação. Também se mostra, em
69
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
todo o texto, que se trata de um empreendimento que nasceu com as característi-
cas de negócio próprio, o que tem o padrão clássico de empreendimento, que é o
de busca de autonomia e construção do próprio destino, sim, mas com o foco em
uma ação que transforme a vida das pessoas, gerando orgulho, autorrealização.
Fica evidenciado no texto que David e Ricardo souberam explorar as oportuni-
dades e identifi caram demandas latentes não atendidas, como na passagem em
que falam da “dor” na educação. O otimismo e a paixão pelo que fazem estão em
várias passagens das falas e da busca por ajudar jovens carentes e retribuir os
privilégios recebidos, além das falas sobre valor da educação, que mostram os
valores absolutos no intertexto. A visão de futuro está tanto na abertura da isaac,
atendendo à demanda latente, quanto na abertura para o IPO como forma de es-
truturar a empresa e garantir sua perenidade.
A empresa não é um empreendimento do tipo social – a isaac tem fi ns
lucrativos, sim, e até já fez um IPO, como apontado anteriormente. Em momen-
to algum o caso evidencia foco do empreendimento no lucro fi nanceiro – David
apresenta frases em que evidencia o objetivo fundamental de ajudar os gestores
de escolas a crescer para impactar positivamente a vida de mais pessoas com
educação de qualidade. O fato de fazer um IPO não justifi ca a busca pelo lucro
em primeiro lugar; empreendedores fazem IPO para terem mais solidez em seus
negócios e poderem atuar com menos incerteza.
Bem, agora que você estudou sobre as características e os ti-
pos de empreendedores, e antes de adentrarmos no próximo tópi-
co deste capítulo, vamos ‘fechar’ este primeiro tópico com o assunto
que deu entrada à refl exão inicial: recorda-se da notícia de abertura
deste capítulo sobre cidades empreendedoras? Para se aprofundar
no assunto, recomendamos consultar o Índice de Cidades Empreen-
dedoras (ICE), que considera sete determinantes para classifi car as
cidades no tocante a empreendedorismo. São esses determinantes,
cada qual com indicadores próprios: acesso a capital, ambiente re-
gulatório, capital humano, cultura infraestrutura, mercado, inovação
(COMPARAÇÃO, 2022). Quer saber mais? Consulte o site: https://
ice.enap.gov.br/ .
70
Empreendedorismo
2.2 CRIATIVIDADE E ESTRATÉGIAS
PARA DESENVOLVÊ-LA
Vamos iniciar este tópico com uma questão polêmica.
Já deve ter deparado com frases como “nem todo mundo é cria-
tivo”; “criatividade é algo para poucos”; “não se pode ensinar alguém
a ser criativo, porque criatividade é um dom”; todas essas frases são
argumentos de pessoas ao nosso redor e, talvez, até mesmo nós
possamos ter tido, algum dia, um pensamento desses, não é verda-
de? Pois bem, todas essas frases fazem menção à questão central
– criatividade é um dom ou é algo inato?
Agora, vamos, juntos, elucidar essa questão e verifi car que não é bem assim,
como afi rmam muitas pessoas, quanto à criatividade ser algo restrito a alguns in-
divíduos; todos nós temos capacidade de criação – para reforçar essa afi rmação,
inclusive, destacamos que há defi nições de criatividade as quais nos remetem à
infância, ou seja, que nos dizem que o indivíduo nasce com a capacidade de
criar dentro de si. Crianças no início da vida escolar expressam essa criativida-
de de forma bastante espontânea, e sabe por quê? Porque seu pensamento ain-
da está livre, não se encontra limitado por algumas amarras que levam à inibição
da criatividade, como a busca de uma única resposta certa, a preocupação com o
resultado (= nota), mais do que com o aprendizado.
“Como essa aparente digressão está relacionada com o empreendedoris-
mo?”, você pode se perguntar. É simples: a criatividade, como componente do
ser humano, pode ser estimulada ou inibida pelo ambiente – assim como na
escola, nas organizações, nos governos, na família e em qualquer outro local em
que exista interação social, podemos ter espaços para que a criatividade fl oresça
ou não; por isso, a importância de compreender que a criatividadeé passível de
ser desenvolvida e que há estratégias para que o processo possa ocorrer com
êxito, justamente o tópico central deste tópico. Aprofundaremos essa afi rmação a
seguir, mas, antes, vamos a um desafi o refl exivo:
Iniciemos com uma leitura curta , que possibilitará uma importante refl exão
sobre criatividade e fortalecerá o nosso debate sobre a questão polêmica apre-
sentada na introdução deste tópico.
71
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
FIGURA 4 – CRIATIVIDADE E A NATUREZA DO SER HUMANO
FONTE: Adaptado de Valentim (2008)
No texto de Valentim (2008), fi ca evidenciada a ideia dos autores Torrance e
Torrance sobre o processo de criar como algo inato, no sentido de que o ser hu-
mano, desde que vem ao mundo, explora os elementos de seu contexto e avalia
possibilidades de atuar sobre tais elementos. Então, aqui, respondemos a uma
parte das questões polêmicas que foram trazidas à baila no início deste tópico.
Criatividade não é um dom, é um processo que, cognitivamente, o ser humano
possui para agir sobre o meio em que se encontra. Sigamos, agora, com a outra
parte da polêmica – podemos aprender a ser criativos?
Alencar e Fleith (2003), ao analisarem o modelo componencial de criativi-
dade da pesquisadora Amabile, que abarca elementos cognitivos, de motivação,
sociais e de personalidade, assim comentam:
Segundo Amabile (1996), traços de personalidade podem con-
tribuir para o desenvolvimento dos processos criativos relevan-
tes. Dentre os traços de personalidade que favorecem a produ-
ção criativa, podemos ressaltar a autodisciplina, persistência,
independência, tolerância por ambiguidades, não conformis-
mo, automotivação e desejo de correr riscos. Para Amabile,
esses estilos e traços podem ser desenvolvidos na infância e
mesmo na vida adulta (ALENCAR; FLEITH, 2003, p.5).
Perceba que aqui temos os traços que envolvem a criatividade e a afi rmação
de que a criatividade pode ser desenvolvida, sim, mesmo na vida adulta. Embora
existam pessoas mais criativas que outras, todos podem melhorar sua capacidade
de criar (BESSANT; TIDD, 2009). Logo, criatividade pode vir à tona quando o am-
biente favorece. Façamos uma pequena observação, ampliando o conhecimento
sobre a questão de haver um ambiente favorável ao desenvolvimento do potencial
criativo e, para tanto, usaremos Nonaka e Takeuchi (2008) – os autores trazem
um conceito de ambiente favorável à troca de conhecimento que denominam Ba.
Nonaka e Takeuchi (2008) usaram uma palavra japonesa pe-
quenina, mas muito rica em signifi cado, para ilustrar o que con-
72
Empreendedorismo
sideram o contexto em que ocorre a criação do conhecimento:
Ba, que signifi ca, em japonês, lugar. Agregaram ao seu signi-
fi cado a ideia de contexto, sendo esse “um contexto compar-
tilhado em movimento, no qual o conhecimento é partilhado,
criado e utilizado” (NONAKA; TAKEUCHI, 2008, p. 99). Cabe
ressaltar que o Ba não é apenas um lugar físico, um espaço;
ele envolve, também, dimensões mentais e virtuais (CARVA-
LHO, 2012) (CASTRO, 2017, p. 73)
Pois bem, o Ba abarca a ideia de interação e a criatividade. Cumpre ressal-
tar, é um processo que demanda interação – da pessoa com o ambiente, da pes-
soa com os elementos do ambiente, da pessoa com outras pessoas. A atividade
empreendedora, se observarmos atentamente o que está sendo estudado, traz
todos essas relações como estrutura e como continuidade da ação, em busca
de aprimoramento contínuo. Sem interação, não há compreensão das demandas
ou necessidades, não há possibilidade de aprofundar relações que gerarão ne-
tworking e insights para melhoria contínua, inexiste a possibilidade de aplicar boa
parte das características da pessoa empreendedora.
Então, pensemos o quanto é de nossa responsabilidade criar o Ba como sus-
tentação para a atividade empreendedora. Este é o desafi o que apresentamos a
você. Defendemos o Ba como suporte à criatividade que está profundamen-
te arraigada à atividade empreendedora. Pense sobre isso. Pode ser que esta
afi rmação lhe cause estranheza, em um primeiro momento, porque é uma propo-
sição que não é muito comum na literatura. Porém, um mergulho na temática da
criatividade e da gestão do conhecimento irá ampliar a compreensão dessa rica e
necessária relação. Inclusive, se você voltar às características empreendedoras,
notará que o sentido de colaboração e de contribuição, a comunicação e a lide-
rança, em especial, sofrerão o impacto do ambiente. Se ele for favorável à intera-
ção, à troca de conhecimento, propiciará o espaço para a criatividade afl orar.
Bessant e Tidd (2009, p. 60) contribuem para fortalecer essa argumentação
apresentada:
A criatividade é a criação e a comunicação de novas conexões
importantes que nos permitem pensar em muitas possibilidades,
experimentar formas variadas e utilizar diferentes pontos de vis-
ta; que nos permitem pensar em possibilidades novas e inco-
muns; e que nos leva a gerar e selecionar alternativas. Essas
novas conexões e possibilidades devem resultar em algo valioso
para o indivíduo e para o grupo, para a empresa ou sociedade.
73
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Um livro muito interessante que abrange, em parte, a criatividade
ao tratar da gestão do conhecimento é o clássico de Nonaka e Take-
uchi. Caso você deseje se aprofundar nessa temática relevante para
a atividade empreendedora, que é a gestão do conhecimento, vale a
pena ler essa obra. A referência completa é: NONAKA, I.; TAKEUCHI,
H. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2008.
No âmbito individual, vale relembrar, a criatividade afl ora de estímulos que
visam favorecer a expressão das ideias; a pessoa pode recorrer a cursos que
estimulam o livre pensar, pode realizar brainstormings (tempestades de ideias),
pode desenvolver outras habilidades e inteligências, como, por exemplo, aprender
artes, música, atividades físicas – todas essas ações fazem com que “saiamos
da caixa”, expressão muito usada no mundo da criatividade e da inovação. No
âmbito corporativo ou social, é imprescindível o contato com vários elementos
e pessoas, bem como é preciso que exista o espaço para o erro como parte do
aprendizado, como ressaltado anteriormente. Bessant e Tidd (2009) recomendam
que se compreenda essa questão da criatividade considerando o cenário, o con-
texto, a estrutura. Observe:
A produção criativa não surge (ou deixa de surgir) simplesmen-
te como consequência daquilo que está presente (ou ausente)
no indivíduo; ela é infl uenciada pelo tempo, por outras pesso-
as, lugares, cenários, conhecimentos de áreas específi cas e
estratégias que as pessoas podem utilizar individualmente ou
em grupos. Assim, ninguém é, de maneira absoluta, mais (ou
menos) criativo. É preciso perguntar: criativo em que quando,
como, por que e com quem. Não se pode buscar a criatividade
em algo fi xo e estático; ela vai e vem, de acordo com uma dada
combinação de fatores múltiplos. Portanto, o objetivo não é
perguntar: “Quão criativa é a pessoa?”, e sim “Como essa
pessoa é criativa?” . Essa pergunta ajuda a identifi car, para
uma tarefa ou objetivos específi cos, em um dado cenário e sob
certas circunstâncias, as forças e os talentos criativos de um
indivíduo, as melhores formas de explorá-los ou ativá-los, bem
como planos que nos permitam incorporar tais talentos em
uma experiência instrucional ou de treinamento signifi cativa e
efi caz. (BESSANT; TIDD, 2009, p. 63, grifo nosso)
Pensando nessa provocação sobre criatividade, que tal pesquisar como, na
prática, as organizações incentivam a criatividade e, consequentemente, potencia-
lizam a inovação em seus processos, produtos e serviços? Será que as organiza-
74
Empreendedorismo
ções que assim agem possuem algumas características em comum? Gostaria de
se aprofundar nesse assunto? Esse é um tema bastante importante, o incentivo à
criatividade e à inovaçãoé peça fundamental no cenário complexo e dinâmico do
século XXI. As organizações, sejam elas públicas ou privadas, que não se aper-
ceberem da relevância da criatividade, da inovação e da atitude empreendedora
para a perenidade, correrão riscos de não existirem em um breve espaço de tempo.
Você tem nosso incentivo e recomendação para aprofundar a pesquisa sobre esse
tema. Uma sugestão inicial é pesquisar as organizações e, com base nas informa-
ções de domínio público, desenvolver uma comparação com a teoria estudada so-
bre criatividade, inovação e empreendedorismo. Um bom desafi o, não?
Pode-se começar com este relatório aqui: ANG, C. Ranked: The
Most Innovative Companies in 2021. Visual Capitalist, 2021. Dispo-
nível em: https://www.visualcapitalist.com/ranked-the-most-innovati-
ve-companies-in-2021/). Acesso em: 1º jul. 2022.
Agora, note como criatividade, inovação e empreendedorismo caminham jun-
tos. A relação da criatividade e da inovação com o empreendedorismo é eviden-
ciada em Bessant e Tidd (2009), que nos mostram a coincidência entre o compor-
tamento empreendedor e o que são as habilidades que a pessoa deve ter para
que ocorra criatividade e gere inovação. Observe a relação:
FIGURA 5 – A UNIÃO DO EMPREENDEDORISMO
COM A CRIATIVIDADE E A INOVAÇÃO
FONTE: Adaptado de Bessant e Tidd (2009)
75
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Uma vez identifi cada essa relação entre criatividade, inovação e empreende-
dorismo e o papel do Ba para a promoção da criatividade e da troca de conheci-
mentos, fi ca mais evidente a importância de estabelecer estratégias que possam
desenvolver a criatividade, não é mesmo?.
Então, sigamos neste estudo com propostas de aplicações estratégicas que
visam ao alcance do desenvolvimento da criatividade e da inovação: Peter Dru-
cker (2002) recomenda que se gere a inovação mediante a aplicação de conceitos
e diretrizes de empreendedorismo. O primeiro passo é criar uma cultura que gere
novas atitudes em prol da criatividade – como fazer isso? com um espaço (o que
chamamos anteriormente de Ba) que permita a visão criativa, a abertura para re-
ceber ideias e não as cortar, por mais absurdas que possam parecer, mas deixá-
-las fl orescer e realizar uma discussão produtiva e respeitosa sobre proposições e
prós e contras de sua possível implementação. A literatura evidencia que a cultura
para a criatividade, inovação e para a atitude empreendedora é uma poderosa
ferramenta potencializadora para o alcance do sucesso em estratégias voltadas
ao desenvolvimento desses elementos. Nas palavras de Davila, Epstein e Shelton
(2007, p. 246): “em uma organização que realmente aproveita a criatividade,
os funcionários comemoram tudo aquilo que dela resulte. As pessoas tra-
tam a gestão adequada da criatividade com uma intensidade espiritual que é
em tudo semelhante a uma crença religiosa.”
Levando em conta a cultura como esse amálgama para o fl orescimento das
estratégias em prol da criatividade, da inovação e do empreendedorismo, apre-
sentamos, a seguir, uma compilação de estratégias para o estímulo à criatividade,
com base na pesquisa de Rocha (2009). O que nos chama a atenção é o foco na
solução criativa de situações, estimulando a busca, a descoberta, o erro, o uso
das múltiplas inteligências ou habilidades que as pessoas têm. Vamos conferir:
QUADRO 2 – ESTRATÉGIAS PARA O ESTÍMULO À CRIATIVIDADE
76
Empreendedorismo
77
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
78
Empreendedorismo
FONTE: Adaptado de Rocha (2009)
2 Leia o trecho a seguir:
Um estudo realizado com 800 gerentes seniores revelou que
havia diferenças signifi cativas entre os 25% mais qualifi cados
e os demais. Os mais bem-sucedidos tinham atingido seus ob-
jetivos em oito anos de carreira, e a maioria alcançara suas
posições seniores com pouco mais de trinta anos. As princi-
pais qualidades associadas aos gerentes mais bem-sucedidos
eram personalidade e cognição, especifi camente a amplitude
e a criatividade de seu pensamento e suas habilidades sociais.
No entanto, o estudo não concluía que pensamento criativo
e habilidades sociais eram traços inerentes da personalidade;
antes, eram disposições que podiam ser signifi cativamente de-
senvolvidas e aperfeiçoadas. (BESSANT; TIDD, 2009, p. 64).
Considerando o contexto e o que foi estudado até o momento, avalie
as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
79
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
I Pode-se estimular o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento da criativi-
dade adotando-se estratégias potencializadas quando o ambiente orga-
nizacional é favorável
PORQUE
II A criatividade não é inata a todo ser humano nem impacta seu sucesso.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As duas asserções são corretas e a segunda justifi ca a primeira.
b) ( ) As duas asserções são corretas, mas a segunda não justifi ca a primeira.
c) ( ) A primeira asserção é verdadeira e a segunda falsa.
d) ( ) A primeira asserção é falsa e a segunda asserção é verdadeira.
Observe que os resultados da pesquisa apontada no texto evidenciam o que
a teoria mostra sobre criatividade: que ela pode ser potencializada e aprimorada
em ambientes favoráveis ao seu fl orescimento ou aperfeiçoamento. Agora, aten-
ção: analise a segunda afi rmação: ela contém dois problemas: o texto apenas
destaca que o estudo feito não encontrou conclusões sobre pensamento criativo e
habilidades sociais como traços inerentes da personalidade; não é uma afi rmação
categórica nem generalizadora, ela nos mostra que há perfi s psicológicos em que
se encontram traços criativos mais evidentes; outros, não; logo, torna-se inade-
quado afi rmar que a criatividade não é inata; uma afi rmação possível – e correta
– seria dizer que nem todo gestor apresentou a criatividade desenvolvida; o outro
problema na afi rmação está em que ela atesta que a qualidade não é importante
para o sucesso, quando o texto evidencia o oposto: atente para o fato de que os
gestores mais bem-sucedidos tinham traços de criatividade em sua personalidade
que puderam ser identifi cados na pesquisa.
Após esse momento de refl exão e retomada de alguns pontos principais da
teoria sobre criatividade, inovação e empreendedorismo e depois de haver identi-
fi cado o que é criatividade e quais estratégias podem ser adotadas para desenvol-
vê-la, vamos para a “mão na massa” – no terceiro tópico, você fará um exercício
para afl orar a criatividade e suas habilidades empreendedoras.
80
Empreendedorismo
2.3 DESENVOLVIMENTO DAS
HABILIDADES EMPREENDEDORAS E
CRIATIVAS
Neste tópico, vamos inovar: comecemos com uma atividade prática, de estu-
do, em paralelo com a teoria. Um processo educativo inverso? Digamos que sim.
Vamos usar uma metodologia ativa e partiremos da prática para a teoria. Aceita o
desafi o?
Nakagawa (2013) afi rma que a criação de ideias ocorre em dois contextos: o
que abarca o perfi l pessoal e o que envolve a dinâmica do mercado. O perfi l pes-
soal está associado às características da pessoa que empreende, as quais foram
estudadas no primeiro tópico.
Iniciemos com o perfi l social, e a atividade consistirá em você pensar sobre si
mesmo ou sobre si mesma. O que gosta de fazer? O que você faz bem? Em que
acredita? Que conhecimentos domina?
Responda em algum lugar, físico ou virtual, a essas quatro perguntas na for-
ma de listas, com ao menos três opções em cada quadro desta matriz.
FIGURA 6 – PENSANDO EM SEU PERFIL PESSOAL
FONTE: Adaptado de Nakagawa (2013)
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DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Após essa primeira rodada de levantamentos sobre preferências, compe-
tências, crenças e conhecimentos, pense em possíveis negócios que você pode
criar, considerando seus gostos e competências, crenças e conhecimentos:
FIGURA 7 – POSSÍVEISNEGÓCIOS HOJE
FONTE: Adaptado de Nakagawa (2013)
Agora, mais um pouco de refl exão. Como você pensa em suas competências
daqui a dez anos? Que competências novas você terá adquirido? E quanto aos
conhecimentos, quais novos terá obtido? Considerando esse cenário futuro, le-
vando em conta seus gostos e suas competências, quais negócios poderia criar?
FIGURA 8 – POSSÍVEIS NEGÓCIOS DAQUI A DEZ ANOS
FONTE: Adaptado de Nakagawa (2013)
Parece simples? Pois acredite, de fato, é algo simples, sim, se aceitarmos
o “sair da caixa”. Nakagawa (2013) ilustra a factibilidade desse processo de criar
um negócio a partir de gostos, competências, crenças e conhecimentos com três
82
Empreendedorismo
nomes de peso: Thomas Edison, nosso já conhecido empreendedor e cientista,
altamente criativo e inovador; passa por Walt Disney e seu gosto por desenho, e
por Henry Ford, criador da fábrica de automóveis que leva seu mesmo nome, e
que era apaixonado por motores. Sobre Walt Disney, inclusive, vale lembrar uma
estratégia para criar que Disney adotava, a qual compreende pensar uma ideia
passando por três diferentes pontos de refl exão – esses três pontos consistiam
em se inspirar passando por três diferentes ambientes.
FIGURA 9 – ESTIMULANDO A CRIATIVIDADE
FONTE: Adaptado de Estratégias (2019, s/p.)
O que essa breve leitura lhe faz lembrar? O estudo sobre as estratégias para
desenvolver o pensamento criativo e a inovação? Perceba que a mudança de am-
bientes, o estímulo a outros sons, cores, sentidos, já ampliam a possibilidade de
pensarmos diferente, com criatividade; de termos normas perspectivas. É como a
técnica dos seis chapéus, nos coloquemos abertos a ter perspectivas diferentes.
Certo, mas você pode se perguntar: não está faltando algo aqui? O que es-
ses empreendedores fi zeram, além de pensar em ideias de empreendimento que
abarcassem seus gostos, competências, crenças e conhecimentos?
Sim, está faltando algo: nesse conjunto de ideias, o que pode ser, de verda-
de, uma oportunidade? Nakagawa (2013) nos propõe o seguinte esquema tático:
83
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
FIGURA 10 - COMO GERAR IDEIAS TOMANDO POR BASE O SEU PERFIL PESSOAL
FONTE: Adaptado de Nakagawa (2013)
Para encontrar o que seria a alternativa que atendesse à maior demanda de
mercado, o ideal é fazer pesquisas com amostras que sejam representativas da
população que caracteriza seu público-alvo, analisar relatórios setoriais publica-
dos, identifi car concorrentes, possíveis produtos ou serviços que são substitutos
para o que você pensa em ofertar. Enfi m, você precisará de informações, e saber
trabalhar com essas informações obtidas, e desenvolverá esse escopo no Capítu-
lo 3, quando abordarmos ferramentas para empreender.
A outra fonte de origem de ideias está na dinâmica de mercado. É quando
você se volta para o seu entorno e procura identifi car, segundo Nakagawa (2013):
• Que problemas enfrentam os consumidores atuais ou seu públi-
co-alvo? com essa pergunta, você pode pensar em desenvolver
ideias de negócios que minimizem ou eliminem esses problemas
– este foi o caso do fundador da Cacau Show, que identifi cou uma
demanda não atendida de presentear com chocolates.
• Você também pode observar se há negócios que estão em
um mercado e podem ser implantados em outros (neste caso,
o autor dá o exemplo dos supermercados Walmart e Carre-
four, que foram inaugurados no Brasil após seus fundadores,
empreendedores, perceberem que havia condições locais para
reproduzir o modelo já existente;
• A terceira pergunta é: quais as tendências de mercado? o
fundador do China in Box se fez essa pergunta e observou que
a entrega de comidas em caixinhas, por delivery, que já ocorria
nos Estados Unidos, era uma tendência de mercado que se
materializaria no Brasil. Assim, ao desembarcar dos Estados
Unidos, analisou o ambiente e lançou um negócio de sucesso
(NAKAGAWA, 2013).
84
Empreendedorismo
Há diversos exemplos de pessoas que foram criativas, inovadoras e criaram
produtos, processos ou serviços tomando por base essas perguntas direcionado-
ras para a criação de negócios, associando a atitude empreendedora à criativida-
de e à inovação. A tabela a seguir resume esses casos reais de sucesso:
TABELA 2 – CRIATIVIDADE NA GERAÇÃO DE IDEIAS
A PARTIR DA DINÂMICA DE MERCADO
Ideia já existente em outro local
ou contexto
Ideia como solução de um pro-
blema ou inefi ciência de produ-
to/serviço existente
Ideia a partir da percepção de
tendências
Kickante, plataforma digital que
arrecada fundos para diversos
tipos de projetos, é fruto da
experiência de Tahiana D’Eg-
mont, no exterior, onde conhe-
ceu “o modelo de crowdfun-
ding (fi nanciamento coletivo).
Então, ela resolveu apostar na
iniciativa aqui no Brasil. “Acre-
ditamos em sonhos e no poten-
cial criativo e empreendedor do
brasileiro de realizar projetos”,
afi rma Tahiana.” (4 IDEIAS,
2020, s.p.)
O Grameen Bank, de
Muhammad Yunus, surgiu para
atender a um público-alvo for-
mado de pessoas pobres (a
maioria, mulheres) que são
empreendedores em regiões
do planeta com bastante carên-
cia. “Dois fatos, porém, diferen-
ciam o Grameen Bank de ou-
tras instituições e Muhammad
Yunus de outros banqueiros.
O primeiro: o banco fi ca em
Bangladesh (Ásia), um dos
países mais pobres do mundo.
O segundo: são justamente os
pobres os principais clientes
do Grameen Bank ("banco da
aldeia", no idioma local)” (DIE-
GO, 2000, s.p.)
“Sônia Hess é fruto de uma
história de amor. Além dela, a
Dudalina, a marca de roupas
femininas, foi fundada pelo Seu
Duda, poeta, e Dona Lina, em-
preendedora, pais de 16 fi lhos.
Ao assumir a empresa, funda-
da em 1957, no ano de 2003,
a empreendedora, antecipan-
do tendências, transformou a
empresa na maior exportadora
brasileira de camisas. Isso só
foi possível porque aprendeu a
focar no trabalho com sua mãe
e a ter sensibilidade com seu
pai. ‘Minha mãe sempre falava:
trabalhe, trabalhe e trabalhe.
Vá sempre à procura do sim, o
não você já tem. Dessa forma,
procure sempre a solução no
mais simples’, conta Sônia.” (9
MULHERES, 2022, s.p.)
Constantino de Oliveira Júnior
traz a viação de baixo custo –
existente desde 1971 nos EUA
– para o Brasil, em 2001 – fun-
da a Gol.
Aplicativo como o “Eu Vô”, que
atende à terceira idade para
transporte e acompanhamento
a locais diversos, atendendo a
uma demanda que vem cres-
cendo e que ainda é pouco ex-
plorada, trazendo espaço para
ampliação e chegada de novos
concorrentes.
Fred de Luca pensou em op-
ção de alimento rápido e mais
saudável – pegou US$ mil em-
prestados e fundou a Subway,
em 1965.
85
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
Red Bull – nasceu de uma
viagem à Tailândia, em 1982 –
bebida para combater cansaço
físico e mental.
Isis Abud, fundadora da Arqui-
vei, “um negócio que nasceu
da percepção de que a rotina
fi scal e contábil das empresas
poderia ser facilitada e agili-
zada” (9 MULHERES, 2022,
s.p.). A percepção da CEO
Isis Abud foi tão acurada que
a empresa dela alcançou um
patamar de mais de 15 milhões
de notas fi scais em todo o país.
Ernest Haberkorn – empresas
iriam automatizar processos
administrativos. Fundou em
1974 a Siga – atualmente, To-
tvs.
Grendene – sandálias usadas
por pescadores franceses –
viagem de 1979.
George Eastman e os proces-
sos difíceis para fotografar -
cria câmara fotográfi ca portátil
e funda a Kodak, em 1878.
Rod Canion, Jim Harris e Bill
Murto observaram que as pes-
soas levavam computadores
para onde iam. Saem do em-
prego e criam a Compaq para
fabricar computadores portá-
teis, em 1982.
FONTE: A Autora (2022) com base nos autores citados
Em todos esses negócios, o que você percebe? A aplicação das característi-
cas do empreendedor, que estudamos no início deste capítulo, se destaca, não é?
Ter a visão de futuro, antecipar-se às demandas, sercurioso, criativo, ter tenacida-
de, buscar alternativas, ter paixão, amor pelo que faz, sonhar, criar legados, aplicar
seu feeling ou sua percepção, tudo está bem presente nessas histórias de sucesso.
Que estratégias essas pessoas que empreenderam usaram para desenvol-
ver suas habilidades? Que estratégias você pode usar para alcançar o mesmo
intento de ter suas habilidades empreendedoras em uma tendência de cres-
cimento e/ou aprimoramento?
Logo no início deste capítulo, você se voltou a refl etir sobre a necessidade que
as pessoas têm de buscarem contínuo aprimoramento – isso requer estudo, exige
ter propósito, metas, foco. Também estudou quanto à necessidade de se ter um
espaço – um Ba – que propicie a troca de conhecimentos e o crescimento. Em se-
guida, conheceu algumas estratégias para estimular a criatividade. A junção de tudo
isso é a macroestratégia, que permite desenvolver habilidades empreendedoras.
Se buscarmos na literatura, encontraremos diversas recomendações de como fazer
com que este desenvolvimento ocorra, na prática. Um resumo comum a tais abor-
dagens é o que defi ne a importância de ter essas habilidades para poder enfrentar
a dinamicidade do mundo moderno, e em qualquer dessas recomendações está a
palavra “estudo”. Estudar continuamente, realizar cursos que estimulem a criativida-
de e a inovação, desenvolver habilidades de comunicação e liderança...
86
Empreendedorismo
O que se pode concluir? Que o desenvolvimento da habilidade empreende-
dora não difere de outros aprimoramentos que o ser humano deseja fazer em
sua vida. Qual a primeira ação que tomamos quando identifi camos alguma carên-
cia ou necessidade de mudança? Nós refl etimos sobre onde estamos, que gaps
temos que preencher para chegar aonde queremos e, em seguida, planejamos
como agir, que recursos usar, quanto tempo demandar para alcançar a meta.
Volte à sua atividade de estudo que trata da autoavaliação – características
empreendedoras – e analise os pontos em que você concedeu conceitos meno-
res, e pense em como você poderia agir para aprimorá-los. São 30 características
distintas, abrangendo eixos como comprometimento e determinação; obsessão
pelas oportunidades; tolerância ao risco, ambiguidades e incertezas; criatividade,
autoconfi ança e habilidade de adaptação; motivação e superação; liderança. O
que recomendamos que leve em consideração ao fazer essa proposta de aprimo-
ramento individual?
1) Aprofundando a análise dos temas abordados neste capítulo, fi ca paten-
te que os empreendedores são singulares. Alguns têm determinadas ca-
racterísticas empreendedoras que se sobressaem mais do que outras;
há quem se torne inspiração para outros, modelos a serem seguidos
pela integridade, ética, pelo exemplo dado na vida etc. Outros serão lem-
brados por seu arrojo, determinação, tenacidade... Enfi m, você também
é singular, e é nessa singularidade que montará sua estratégia de desen-
volvimento das habilidades empreendedoras.
2) Ao montar sua própria estratégia de aprimoramento, recorde-se de que
as habilidades empreendedoras são necessárias, inclusive, para quem
não quer ter um negócio próprio - elas estão associadas à ideia de foco,
disciplina, persistência, aprimoramento contínuo, aprendizado constan-
te, evolução, capacidade de comunicação... tudo o que as organizações,
com ou sem fi ns lucrativos, públicas ou privadas, reputam como carac-
terísticas bem-vindas e desejadas para uma pessoa que almeja ter uma
carreira de sucesso, a contrapartida monetária que favoreça a dignidade
humana, autoestima, autorrealização.
Este capítulo é pleno de atividades “mão na massa”. Não poderíamos encer-
rar o terceiro tópico sem uma delas, bastante efi caz para o desenvolvimento de
sua própria estratégica em prol de potencializar suas habilidades empreendedo-
ras. Trata-se da análise SWOT, de forças, fraquezas, ameaças e oportunidades.
Recorde-se que os pontos fortes e os pontos fracos são aqueles sobre os
quais você tem ingerência; já as ameaças e as oportunidades são externas a
você, elas são forças sobre as quais não temos domínio, mas podemos identifi car
87
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
com antecedência para se planejar a fi m de, no caso das ameaças, mitigá-las, se
não for possível eliminá-las; e, no caso das oportunidades, saber aproveitá-las.
Você marcará ao menos três pontos fortes – as suas habilidades empreen-
dedoras que você mais pontuou; e identifi cará também os pontos fracos - as suas
habilidades empreendedoras que menos pontuou; em seguida, analise o merca-
do e identifi que oportunidades para quem tem habilidades empreendedoras – por
exemplo: tecnologias dominando o mercado (o que exigirá criatividade e inovação;
logo, é uma oportunidade para quem tem curiosidade e criatividade, como estuda-
do no início do capítulo); aumento do trabalho virtual e das interações virtuais (o
que exigirá habilidades de comunicação e trabalho em equipe virtual, habilidades
também estudadas nas características do empreendedor); agora, ameaças: au-
mento do índice de demissões; redução de postos de trabalho (esse cenário pode
levar à busca de empreender por necessidade, sem estrutura ou base; também
leva à precarização do trabalho, e quem não tem habilidades empreendedoras
desejadas pelas organizações poderá sofrer com a competição por buscas de
postos de trabalho ou por trabalhos com pagamento abaixo do devido).
FIGURA 11 – SUA ANÁLISE SWOT DAS HABILIDADES EMPREENDEDORAS
FONTE: A autora (2022)
Em seguida, monte, ao menos, três estratégias para reduzir pontos fracos
e/ou mitigar ameaças; ampliar seus pontos fortes e aproveitar oportunidades.
Exemplo: se uma pessoa identifi cou que sua capacidade empreendedora em co-
municação está defi ciente, ela irá inserir a expressão “comunicação defi ciente”
em pontos fracos e montará uma estratégia. Ilustrando: fazer um curso de oratória
88
Empreendedorismo
nos próximos três meses. Agora, se uma pessoa identifi cou como ponto forte a
integridade, poderá se aproveitar da busca que há no mercado por pessoas ínte-
gras e éticas e aumentar sua empregabilidade.
FIGURA 12 – ESTRATÉGIAS PARA DESENVOLVER
HABILIDADES EMPREENDEDORAS
FONTE: A autora (2022)
Esperamos que esta atividade lhe seja útil e crie espaço para a refl exão e a
ação. Da identifi cação de gaps, parta para reduzi-los ou eliminá-los; da existência
de pontos fortes, associe-os com as oportunidades e aprimore sua formação e
habilidades empreendedoras.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, você estudou as características que são mais comuns de se-
rem encontradas em pessoas que empreendem, bem como conheceu os tipos de
empreendedores. Ao ter conhecimento e saber identifi car as características comuns
aos empreendedores, você pôde perceber semelhanças e diversidade; com isso, é
capaz de explicitar a diversidade existente quando se trata de perfi l – ou perfi s – das
pessoas empreendedoras. Ao estudar tais características e realizar uma autoava-
liação, desenvolveu importantes momentos de refl exão e identifi cação com suas
próprias características, levando a um aprendizado autorrefl exivo bem instigante.
Ao analisar os tipos de empreendedores, compreendeu a importância de va-
lorizar as distintas tipologias existentes, bem como percebeu que é possível uma
migração de uma tipologia a outra, migração essa que representa uma evolução ou
89
DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
um aprimoramento na atividade empreendedora. Ao compreender os tipos de em-
preendedores, conhecer as características da pessoa empreendedora e identifi car
as estratégias para desenvolver as habilidades empreendedoras, você pôde com-
parar seu perfi l e habilidades com o que estudou e, dessa maneira, se capacitou
para desenvolver ações que lhe permitam aprimorar seu espírito empreendedor.
Em seu estudo sobre a criatividade, compreendeu seu conceitoe suas ca-
racterísticas, notou que todos temos potencial criativo, bem como pôde perceber
de que modo a criatividade pode ser estimulada e aproveitada no ambiente dos
negócios; ao estudar o conteúdo proposto e identifi car o que é criatividade e quais
as estratégias para desenvolvê-la, solidifi cou seus conhecimentos sobre empre-
endedorismo e ampliou as possibilidades de desenvolver estratégias robustas
para seu próprio aprimoramento pessoal e profi ssional.
Encerrando este capítulo, com a temática que trata do desenvolvimento das ha-
bilidades empreendedoras e criativas, agregou a seu conhecimento um conjunto de
elementos que se associam, intrinsecamente, ao tema central deste livro, que trata
de empreendedorismo e inovação. Assim, esperamos que, ao analisar suas próprias
características vis-à-vis às características da pessoa empreendedora e esquematizar
ações para desenvolver as habilidades para empreender e para afl orar a criatividade,
como a análise SWOT e a montagem de estratégias cruzadas, você tenha praticado
o saber-fazer essencial para materializar a teoria em uma prática imperativa para a
perenidade organizacional e para o próprio crescimento individual.
Agora, ampliando seu conhecimento sobre o tema, você poderá aprimorar
suas habilidades pessoais, identifi car pessoas com características empreendedo-
ras que estão ao seu redor e, com espírito colaborativo, desenvolver ações que
permitam à organização em que atua desenvolver espaços que favoreçam a troca
e o desenrolar de ações empreendedoras.
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Empreendedorismo
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DESENVOLVENDO O EMPREENDEDORISMO
EXISTENTE EM VOCÊ Capítulo 2
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94
Empreendedorismo
CAPÍTULO 3
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:
Compreender o conceito e as etapas de um planejamento para desenvolver
uma ideia empreendedora.
Identifi car as fases para implementar uma ideia empreendedora.
Conhecer casos de sucesso de empreendedorismo em vários segmentos.
Identifi car as formas de captação de recursos e ferramentas para desenvolver
o negócio.
Aplicar o planejamento para o desenvolvimento de uma atividade empreendedora
Examinar e comparar casos de sucesso, identifi cando características seme-
lhantes nos casos que evidenciam a teoria aprendida.
Comparar formas de captação de recursos e escolher as mais adequadas para
cada negócio empreendedor.
Aplicar ferramentas para desenvolver o negócio.
Produzir um plano de negócio e uma proposta de apresentação para investidores.
96
Empreendedorismo
97
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Empreendedorismo na prática é um capítulo muito interessante, porque nos
traz a possibilidade de constatar o impacto do empreendedorismo não somente na
vida das pessoas que decidem empreender, mas também em seu entorno. Também
é um capítulo desafi ador, visto que nos remete à associação da teoria com a prática
organizacional, e o desafi o está em compreender, de fato, a importância de aplicar
a teoria na prática empreendedora e saber aplicar essa teoria ao deparar com os
desafi os que fazem parte da ação de uma pessoa que empreende.
Antes de abordar o conteúdo específi co deste capítulo, refl ita sobre esta
questão que será o nosso ponto de partida: considerando o que já aprendeu so-
bre empreendedorismo e o perfi l da pessoa que empreende: em que a teoria da
administração, em especial a abordagem sobre planejamento, colabora para
a ação empreendedora? Pense nessa pergunta. Ela é instigadora e merece mo-
mentos de análise.
Ao retomar o que foi estudado, você recordará que o empreendedorismo re-
quer uma decisão para a ação, ele implica enfrentar a incerteza, sabendo que ela
faz parte da atividade de quem empreende; também se lembrará de que, embora
o perfi l empreendedor seja diverso, há pontos em comum entre as pessoas em-
preendedoras e, dentre esses pontos, a atitude de assumir riscos calculados está
presente, bem como buscar o aprimoramento contínuo e o aprendizado constan-
te, ter foco e disciplina e querer evoluir. Sim, e como esses pontos estudados no
Capítulo 1 e no Capítulo 2 se conectam com o empreendedorismo na prática?
Eles se associam, poderosamente, com o conceito de planejar. Sabe por quê?
Porque planejar é uma atividade na qual defi nimos metas, objetivos e formas de
alcançá-los, e essa atividade é parte integrante e constante em um empreendi-
mento. Ela não termina nunca, como não termina a busca pelo aprimoramento e o
enfrentamento de riscos.
Logo, note que o planejar é mais do que um verbo; ele é o que permite que
a ação empreendedora se fortaleça e possa enfrentar com menos incerteza a di-
namicidade e os desafi os do mercado. Portanto, após fazermos a ação refl exiva
sobre a pergunta sobre como o planejamento colabora para a ação empreende-
dora, e tendo em mente o papel do planejar para ligar a ação empreendedora e
o perfi l empreendedor de forma mais estratégica, potencializando as chances de
obtenção de resultados positivos, vamos aos conteúdos a serem estudados neste
capítulo, que está dividido em quatro seções.
A primeira seção trata do planejamento propriamente dito, atividade que,
como apontado anteriormente, é relevante para qualquer ação empreendedora.
98
Empreendedorismo
Com ela, você compreenderá o conceito e as etapas de um planejamento para
desenvolver uma ideia empreendedora e aplicará o planejamento para o desen-
volvimento de uma atividade empreendedora.
Na segunda seção, nos debruçaremos sobre as ações de implementação
da ideia, momento em que você identifi cará as fases para implementar uma ideia
empreendedora. Na terceira seção, a prática se torna realidade, com os cases de
sucesso que foram escolhidos para ilustrar a aplicação da teoria no dia a dia, e
esta será a ocasião em que você conhecerá casos de sucesso de empreendedo-
rismo em vários segmentos, e examinará e comparará esses casos, identifi cando
características semelhantes nos casos que evidenciam a teoria aprendida.
Na quarta seção, vamos para o fechamento com outra temática essencial
para pôr a teoria em prática: formas de captação de recursos e ferramentas para
desenvolver o negócio. Aqui, você identifi cará as formas de captação de recursos
e ferramentas para desenvolver o negócio, comparará formas de captação de re-
cursos e escolherá as mais adequadas para cada negócio empreendedor, bem
como aprenderá a aplicar ferramentas para desenvolver o negócio e produzir um
plano de negócio e uma proposta de apresentação para investidores.
Dessa forma, vamos à aplicação prática de todas esses importantes elemen-
tos. Mãos à obra!
2 PLANEJAMENTO – FAZENDO UMA
IMERSÃO NO CONCEITO
Planejamento, nas palavras de Hisrich, Peters e Shepard (2009, p. 218) “é um
processo que nunca termina [...]. Ele é extremamente importante nos estágios ini-
ciais de qualquer empreendimento, quando o empreendedor precisa preparar um
plano de negócios preliminar.” Segue-se o planejar enquanto a organização empre-
endedora vai evoluindo, sempre buscando melhorar suas atividades e, para tanto,
estabelecendo objetivos e metas, tanto de curto quanto de médio e de longo prazos.
O planejamento alcança todos os níveis do empreendimento: seja algum as-
pecto exclusivamente operacional, seja um aspecto estratégico, como a decisão
por oferecer um novo produto ou serviço ou adentrar em algum novo mercado, o
planejamento sempre estará presente. Assim concluem os autores sobre o obje-
tivo ou propósito: “oferecer direcionamento e estrutura para a administração em
um ambiente de mercado em rápida mutação” (HISRICH; PETERS; SHEPARD
(2009, p. 219). Observe como o planejamento se associa, intrinsecamente, à ativi-
99
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
dade empreendedora, em cuja essência está o lidar com a incerteza, em ambien-
tes dinâmicos e em constante evolução.
Como aponta Castro (2021), o planejamento é uma das funções clássicas
da administração, ele é considerado o guia, aquilo que norteia os caminhos
que se quer ir, de que forma se quer chegar, que estratégicas devem ser ado-
tadas para que uma atividade organizacional, seja ela no nível empreendedor
individual, seja em nível mais macro, permaneça sadia e sustentável tanto no
presente quanto no futuro.
Sobral e Peci (2008) destacam que planejar é a função base de toda a ação
administrativa, a primeira, aquela que possibilita à pessoa que administra um ne-
gócio, seja ele próprio ou não, estabelecer as demais funções e operações para
alcançar essa sustentabilidade em suas ações e a tão esperada perenidade. Ain-
da acrescentam os autores que o planejamento é a ação que permite que se al-
cancem vantagenscompetitivas sustentáveis.
Vantagens competitivas sustentáveis são aquelas que uma or-
ganização tem e seus concorrentes diretos não as possuem; ade-
mais, para adquiri-las, será necessário esforço e tempo desses con-
correntes; a perspectiva para que as alcancem, além de não ser algo
garantido, é de que ocorra no longo prazo; por isso, chamamos a
essas vantagens de sustentáveis.
Por que seria importante buscar o alcance de vantagens competitivas sus-
tentáveis na atividade empreendedora? Porque elas permitirão ao empreendedor
sustentar seu negócio por um longo tempo e, ainda, focar em aprimorar suas pró-
prias atividades, de modo a fazer sua ideia empreendedora que se tornou uma
oportunidade mais e mais fortalecida.
Planejar é, pois, uma atitude pensada, ou o que Lacombe e Heilborn (2015)
comentam ser uma determinação que a pessoa, conscientemente, toma como
necessária para ser seguida, visando alcançar um objetivo. Nakagawa (2013), por
sua vez, distingue planejar de planejamento, afi rmando ser o planejar uma atitude
de considerar o futuro para realizar alguma ação, sendo que essa consideração
pode ser formal ou informal; já o planejamento é formal, estruturado e pode ser re-
plicável no que se refere à tomada de decisão. O planejamento, pois, tem etapas,
conforme exposto na Figura 1 a seguir.
100
Empreendedorismo
FIGURA 1 – ETAPAS DO PLANEJAMENTO
FONTE: Adaptado de Castro (2021) e Sobral e Peci (2008)
Perceba que essas etapas constituem uma estrutura administrativa essencial
para qualquer empreendimento – para que se possa desenvolver, de forma sólida,
os passos de transformação de uma ideia em oportunidade, é preciso ter essa
visão de compreender e diagnosticar o entorno, pensar em estratégias para traba-
lhar sobre os pontos fortes e fracos encontrados, que são elementos internos que
podem ser gerenciados pelo empreendedor, e para utilizar suas potencialidades
para enfrentar ameaças ou aproveitar oportunidades que são elementos externos,
sobre os quais não se tem ingerência, mas se pode, minimamente, atuar nos ele-
mentos internos para potencializar os ganhos que o ambiente externo oferece ou
reduzir elementos que podem afetar negativamente o empreendimento.
101
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Talvez você já tenha encontrado pessoas que dizem que não há necessidade
de planejar, que fazer planos por escrito não garante o sucesso e que empreende-
dor precisa somente de feeling. É bem provável que essas pessoas afi rmam isso se
baseando em exemplos de pessoas que empreenderam sem planejar ou sem estru-
turar suas ideias seguindo essas etapas que a teoria nos traz. Em resposta a essa
argumentação, organismos que estudam a ação empreendedora procuraram com-
preender os elementos de sucesso e apontam que, para terem mais longevidade, as
organizações empreendedoras precisam se planejar. A falta de planejamento prévio
é a principal explicação para a baixa longevidade dos empreendimentos e, por outro
lado, a existência de um planejamento antecipado é um dos principais elementos que
explicam a sobrevivência das organizações empreendedoras após seus primeiros
cinco anos de funcionamento (DORNELAS, 2008; NAKAGAWA, 2013).
Vamos ilustrar essa questão com uma notícia publicada em
2021, intitulada: Três em cada 10 MEIs fecham as portas em até cin-
co anos de atividade no Brasil, aponta Sebrae , na qual se evidencia
o impacto negativo que causa não ter planejamento:
Pesquisa "Sobrevivência de Empresas" divulgada pelo Sebrae (Serviço Bra-
sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) nesta segunda-feira (14) aponta
que três em cada 10 microempreendedores individuais (MEIs) fecham as portas
em até cinco anos de atividade no Brasil. A taxa de mortalidade de negócios des-
se porte é de 29%. No mesmo período, as microempresas têm uma taxa de fa-
lência de 21,6%, enquanto as de pequeno porte, de 17%. De acordo com o presi-
dente do Sebrae, Carlos Melles, o estudo comprova que quanto maior o porte da
empresa, maior a sobrevivência do negócio, uma vez que o empresário tem um
preparo maior e, muitas vezes, opta por empreender por oportunidade e não por
necessidade. (TRÊS, 2021, s.p.)
No mesmo relatório da Sebrae, a capacidade de gestão é evidenciada como
fator positivo para a sobrevivência dos empreendimentos. Nas palavras do presi-
dente do Sebrae, em fala à Agência Brasil do governo: “a menor taxa de sobrevi-
vência entre os pequenos negócios está relacionada à capacidade de gestão, à
maior experiência e ao conhecimento do ramo” (GUERRA, 2021, s.p.).
Cumpre ressaltar, no entanto, que não é simples compreender a dinâmica
que leva à mortalidade das empresas. O Sebrae (2021) alerta que não se pode
102
Empreendedorismo
atribuir a causa de mortalidade de um empreendimento a um só fator, o que ocorre
é uma combinação de fatores, dentre os quais a falta de dinheiro para investimen-
to e manutenção é presente, assim como falta de clientes e de vendas, devido à
gestão inefi ciente e à falta de planejamento. Sem contar fatores externos, como
a pandemia, sobre os quais não há ingerência, apenas ações de prevenção, que
visam mitigar possíveis danos, e ações de monitoramento do mercado, para pre-
ver tendências e ameaças e identifi car oportunidades. Nas palavras do próprio
Sebrae (2021, p. 14), pouco preparo pessoal, mais planejamento defi ciente do
negócio, mais gestão defi ciente do negócio, mais problemas no ambiente (o que
envolve pandemia, falta de crédito, recessão) são os fatores que mais comumen-
temente levam uma organização empreendedora à falência.
Nesses parágrafos das duas notícias que serviram de ilustração, bem como
na sumarização executiva das causas da falência de empreendimentos realizada
pelo Sebrae (2021), é patente que o preparo se torna essencial para sobreviver
– o empreendimento por oportunidade, vale lembrar, é aquele em que o empreen-
dedor identifi ca uma oportunidade, uma demanda não alcançada ou uma neces-
sidade não atendida com a oferta de produtos e/ou serviços atuais, e se prepara,
realizando um diagnóstico do entorno, como estudado no capítulo 1, estruturando
sua ideia de negócio de uma forma estratégica e pensada. A gestão é, portanto,
fundamental para a sustentação do empreendimento, e o planejamento se apre-
senta como a estrutura dessa sustentação.
Cumpre ressaltar um ponto importante, que, inclusive, está na obra de Naka-
gawa (2013), como um alerta: o planejamento pode se utilizar de diversas ferra-
mentas administrativas, como estudaremos ainda neste capítulo, e várias dessas
ferramentas são robustas, desenvolvidas com um detalhamento que se aplica, na
maior parte das vezes, a grandes organizações, fazendo com que essas ferra-
mentas se tornem distantes da realidade dos pequenos e microempreendedores.
Há uma questão polêmica e uma dúvida na cabeça dos empre-
endedores que atuam em pequenos negócios: será que eu preciso
mesmo de planejamento? Para que serve tudo isso? Na prática da ati-
vidade empreendedora, o planejamento é necessário, e essas inade-
quações de aplicação de ferramentas podem afastar o empreendedor
dessa atividade tão essencial para a saúde da empresa. Para quebrar
essa visão negativa sobre o planejamento, é preciso conhecimento.
103
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Podemos, de fato, exercer a atividade formal de planejamento usufruindo de
diversas ferramentas administrativas que se tornam mais adequadas ao dia a dia e
aos desafi os de um pequeno empreendimento. Para tanto, é necessário conhecer
tais ferramentas e saber aplicá-las de forma estratégica e condizente com o tama-
nho da organização e do desafi o. E por sabermos, ao longo dos anos de experiên-
cia com o estudo do empreendedorismo, que esse conhecimento é fundamental
para que se possa escolher e aplicar adequadamente o ferramental teórico, este
capítulo foi elaborado com o foco na prática e na compreensão desses elementos.
1 Leia estetrecho: “O planejamento é defi nido como o ato ou pro-
cesso de estabelecer ou manter metas, políticas e procedimentos
para seu trabalho. Uma empresa sem planejamento pode levar
seu negócio ao fracasso devido às alterações que ocorrem durante
processo que não foram planejados. Habilidades de planejamento
são habilidades de sobrevivência para pessoas muito ocupadas,
dando condições de traçar um mapa esquemático do curso de pro-
jeto com sucesso, montando um passo a passo e, dessa forma,
servindo como um guia até sua conclusão. Focando nas oportu-
nidades que apareçam em seu caminho. O planejamento ajuda
você a realizar mais com menos. O empreendedor de sucesso é
aquele que melhor se adapta aos desafi os e sabe planejar. (COMO
O PLANEJAMENTO, 2017, s.p.). Considerando seu estudo sobre
planejamento e o que foi apresentado sobre planejamento, avalie
as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I O planejamento é a garantia de que um empreendedor não irá falir
PORQUE
II Ele ajuda uma organização a realizar mais atividades otimizando
recursos, o que gera efi ciência nas operações.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As duas asserções são corretas, e a segunda justifi ca a primeira.
b) ( ) As duas asserções são corretas, mas a segunda não justifi ca a
primeira.
c) ( ) A primeira asserção é verdadeira, e a segunda, falsa.
d) ( ) A primeira asserção é falsa, e a segunda asserção é verdadeira.
104
Empreendedorismo
O planejamento não é garantia de que um empreendimento perdurará; como
não há qualquer outro elemento que garanta isso; todo ambiente é de incerteza, e
o planejamento, embora sendo uma poderosa ferramenta, permite que o empre-
endedor atue com menos risco e mais possibilidade de acerto. O planejamento
nos permite fazer mais com menos. Com isso, otimizamos o uso dos recursos e
somos mais efi cientes.
Uma vez que você compreendeu o que é planejamento e qual sua importân-
cia para o sucesso de um empreendimento, passemos a outro assunto igualmen-
te importante: as fases para implementar uma ideia empreendedora.
3 FASES PARA IMPLEMENTAR UMA
IDEIA EMPREENDEDORA
O processo empreendedor tem várias metáforas que servem para enriquecer
a compreensão de sua importância. Uma delas é a do ciclo virtuoso, que traz a
proposição de um ciclo contínuo de análise de ideias, que tem início exatamente
com a ideia, passa por uma análise e seleção de oportunidades, chega-se a um
plano escrito de como tornar o negócio viável, há uma fase de obtenção e alo-
cação de recursos e chegamos ao gerenciamento do negócio, que começa uma
nova fase do ciclo, como aponta Dornelas (2008). Fazendo uma associação des-
sa ideia cíclica com as fases de implementação da ideia empreendedora, temos:
FIGURA 2 – O CICLO VIRTUOSO DO PROCESSO EMPREENDEDOR
FONTE: Adaptado de Dornelas (2008)
105
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Nas fases para implementar uma ideia empreendedora, Dornelas (2008) co-
menta acerca da importância de discernir as oportunidades, como apresentado
na fi gura anterior, alerta quanto à importância de o empreendedor realizar a de-
terminação e a captação dos recursos necessários para que o empreendimento
nasça e/ou se expanda. Há diversos atores no cenário que envolve recursos (des-
de recursos próprios, passando por familiares e/ou terceiros conhecidos, bancos
ou agências de fomento, microcréditos, bancos tracionais, investidores-anjo até
plataformas de captação). Esses atores/agentes e as vantagens e desvantagens
sobre captação de recursos serão abordados mais adiante. De igual forma, serão
objeto de aprofundamento as fases de gerenciamento da empresa criada, utilizan-
do os conhecimentos adquiridos ao longo deste curso, inclusive as ferramentas
que abrangem um plano de negócios. Dornelas (2008) afi rma que não é preciso
haver uma sequência preestabelecida dessas fases para que essa implementa-
ção ocorra, mas ressalta a importância de todas elas estarem presentes.
Vamos aprofundar, neste tópico, a questão do desenvolvimento da ideia com
uma proposta de aplicar uma ferramenta para estímulo à discussão de ideias de
negócio. Além das ferramentas que são consideradas clássicas e frequentes em
modelos de administração, como a já abordada análise SWOT e a PEST(AL), que
estudamos no Capítulo 1, há outras que são simples, inovadoras, práticas de usar
e que podem ser aplicadas por pessoas que querem empreender, tanto no nível
intraempreendedor quanto na busca de ter seu próprio negócio. Uma delas, esco-
lhida por todos esses motivos, é a Scamper.
Scamper é uma ferramenta que ajuda a pensar em como tornar a ideia de
negócio que tivemos algo diferente. Sua essência é a geração de uma tempesta-
de de ideias (a famosa técnica de brainstorming) para que, de posse da imagina-
ção e da criatividade, o empreendedor possa pensar em ideias que transformam o
negócio ou o potencializam (NAKAGAWA, 2013).
Como funciona, na prática? É simples.
O nome, Scamper é o que chamamos de acrônimo, sendo que cada letra re-
presenta um verbo, o qual, por sua vez, identifi ca qual a ação a ser tomada sobre
uma ideia. Observe:
Substituir (em inglês, Substitute).
Combinar (em inglês, Combine).
Adaptar (em inglês, Adapt).
Modifi car (em inglês, Modify).
106
Empreendedorismo
Pôr em outros usos (em inglês, Put to other uses) – também podemos usar o
verbo explorar.
Eliminar (em inglês, Eliminate).
Rearranjar (em inglês, Rearrange).
Agora, usando a técnica de brainstorming, vamos discutir uma ideia inicial,
procurando, com o grupo de pessoas participantes, desenvolver a criatividade
(novamente, um elemento essencial da atividade empreendedora está presente)
de modo a obter o maior número possível de sugestões para a ideia inicial. Pode
ser uma discussão e o empreendedor vai anotando as ideias que surgem ou as
pessoas podem pôr em papel tal ideia.
Pensando nessa ideia inicial que o empreendedor irá apresentar, a primeira
questão a ser lançada aos participantes é: o que podemos substituir aqui nesta
ideia? Se for um produto, por exemplo, o que podemos trocar/substituir? E se for
um serviço, o que podemos substituir?
Em seguida, vamos combinar: como podemos combinar conceitos, ou mate-
riais, ou interesses para essa ideia inicial?
Passemos para o adaptar: o que podemos fazer para, em nossa ideia ini-
cial, resolver um problema ou atender a uma necessidade encontrada? Podemos
adaptar uma solução que já foi adotada em outro lugar ou em outro contexto?
Idem para modifi car: o que podemos fazer com relação à ideia inicial em termos
de modifi cações? Podemos modifi car cores? Texturas? Sabores? Tamanho? Pode-
mos modifi car ordens de etapas em um processo, formas de executar um serviço...
Pôr em outros usos ou explorar outros usos é a pergunta seguinte, a qual
exige, também, bastante criatividade – imaginar como podemos pensar em outros
usos para nossos produtos ou serviços.
Eliminar: aqui, a ideia é realmente a de reduzir componentes ou etapas de
um processo – o que não está agregando valor e pode ser eliminado? O que po-
demos reduzir, sem perder a essência da ideia original?
Rearranjar: como podemos pensar nossa organização para entregar um produto
ou ofertar um serviço ou, ainda, determinar as etapas de um processo? Podemos
rearranjar, por exemplo, os displays em que exibimos um produto. Nakagawa (2013)
exemplifi ca esse item com os quiosques da Chilli Beans para venda de óculos.
107
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Essa é a proposta – perguntar, deixar a imaginação e criatividade afl orarem,
anotar, e ir pensando em possibilidades. Scamper é uma ferramenta bem simples
de operacionalizar, não exige dispêndio de recursos para comprar materiais e traz
um resultado que pode ser muito rico. O espaço para o Scamper ideal é o Ba
(recorda-se do capítulo passado? Gestão do conhecimento, o espaço de troca de
ideias para transformar conhecimento tácito em explícito).Pois bem, uma vez trabalhadas ideias e oportunidades, o empreendedor
passa a materializar a oportunidade, por meio de ferramentas gerenciais – uma
delas é o já citado plano de negócios, que será abordado, de forma prática, mais
adiante. Conceituemos, neste tópico, alguns pontos mais teóricos e principais so-
bre o plano, para auxiliar sua compreensão sobre essa tão usada ferramenta.
O plano de negócios será fruto da escolha do empreendedor por estruturar
previamente o seu negócio no papel e essa é uma escolha deveras importante.
Um empreendedor pode querer seguir outro caminho, que é o de ir para a práti-
ca sem estruturar no papel a sua ideia – em geral, o empreendedor segue essa
prática quanto ainda não tem bem defi nido até onde quer chegar – que se defi ne
por uma ação mais próxima a uma ação de tentativa e erro, posterior acerto com
os ajustes e delimitação de teto de gastos para não incorrer em grandes perdas
(DORNELAS, 2008). No entanto a opção pelo registro e desenho da ideia antes
de ir para a parte prática tem se mostrado assertiva e recomendável, por tudo que
vimos discutindo – administrar um empreendimento é robustecê-lo e gerar raízes
que possibilitem enfrentar os desafi os do cotidiano.
Como ressalta Dornelas (2008, p. 96), o plano de negócios deve ser cons-
truído com essa compreensão de sua importância e de sua aplicabilidade – se
corretamente desenvolvido, sem ilusões ou exageros derivados do que o autor
chama de “entusiasmo”, o plano de negócios vai auxiliar a “todo e qualquer
empreendedor que queira transformar seu sonho em realidade, seguindo o
caminho lógico e racional que se espera de um bom administrador ”. Para
tanto, é preciso desenvolvê-lo com racionalidade, pesquisa, visão crítica das po-
tencialidades e dos riscos do negócio. Com isso, o empreendedor ampliará as
possibilidades de apresentar, com sucesso, sua ideia de negócio para um investi-
dor, mostrando elementos essenciais para a decisão desse investidor, como qual
a viabilidade do negócio e qual a probabilidade de obtenção de sucesso. Ade-
mais, também poderá simular o futuro do negócio, identifi cando ameaças, oportu-
nidades, fazendo uma análise macroambiental.
É notório que o desenhar da ideia facilita a defi nição de limites e, especifi ca-
mente, no caso dos recursos necessários, esse desenho se mostra fundamental.
Tanto na opção pelo modelo mais tradicional de desenvolver um plano de negó-
cios para gerir os recursos e os passos quanto na opção de ir mais para a prática,
108
Empreendedorismo
a parte monetária é essencial e deve ser abordada com precisão e aprofunda-
mento no levantamento dos custos. Em nosso ciclo virtuoso do processo empre-
endedor, note como a parte fi nanceira e a de gestão estão ligadas e o quanto esta
última irá determinar o sucesso – ou não – da quantifi cação (dimensão de gastos
e despesas) e na alocação de recursos.
Dornelas (2008) sugere que o empreendedor adote modelos e ferramentas
de gestão que mitiguem a tomada de decisão em ambientes de risco. Um deles é
o uso da ferramenta denominada Business Model Canvas para ilustrar, em uma
folha e de forma panorâmica, a proposição central do negócio e seus elementos
de valor que compõem essa proposta. A ferramenta será abordada em detalhes
mais adiante. De forma esquemática, os autores propõem que se gere uma ideia
e que esta seja objeto de discussão em brainstorming (uma opção seria a nossa
recomendação do uso do Scamper), em seguida, faz-se uma seleção de ideias
e se usa o Canvas para ilustrar; se possível, associar à ideia o resultado de pes-
quisa com o público-alvo; por fi m, desenha-se o plano de negócios para realizar
uma análise de viabilidade da proposta e estratégia para desenvolver o negócio.
Essa proposição visa tornar mais holística a perspectiva de quem empreende, de
modo que se possa conhecer os elementos centrais que trazem os pontos-chave
de uma organização, a saber:
FIGURA 3 – BUSINESS MODEL CANVAS
FONTE: adaptado de Dornelas (2008)
No centro do Canvas, tem-se o coração do negócio –qual é a proposta de
valor? Que valores serão entregues aos clientes? Que problemas ajudamos a re-
solver? Que necessidades satisfazemos? Que produtos ou serviços oferecemos?
Qual é o nosso mínimo produto viável?
À esquerda da proposta de valor, temos: Quem são os parceiros-chave para
o negócio? Quais as atividades-chave da proposta? Quais os recursos-chave?
Qual a estrutura de custos?
109
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
À direita da proposta de valor, tem-se: como será o relacionamento com os
clientes? Quais os canais para contato? Qual o segmento de clientes a ser atendi-
do? Qual a fonte de receitas?
É importante ressaltar que o Canvas permite que se tenha essa visão
panorâmica do negócio, e tal visão favorece a estruturação de um plano mais de-
talhado, elaborado, sobre cada um desses pontos, que será, justamente, o objeto
de estudo do Tópico 5, mais adiante.
Passemos, a seguir, para a prática do empreendedorismo, com exemplos de
casos reais de empreendedores de sucesso.
4 CASOS DE SUCESSO
Neste tópico, e dentro da proposta de prática, abordaremos alguns casos de
sucesso no empreendedorismo. Você poderia se perguntar por que quase sempre
as publicações sobre o tema trazem exemplos quando o assunto é empreende-
dorismo, e por que, nas histórias dos empreendedores, há sempre muitos pontos
em comum, como visão de oportunidades, persistência, resiliência, foco, paixão
pelo que fazem... Isso ocorre porque a realidade permite que aquela pessoa que
pensa em empreender consiga perceber a teoria na prática e note o quanto é im-
portante que essa compreensão se torne uma prática por meio de algumas ações
como estas que estudamos neste capítulo e nos dois capítulos anteriores. Uma
delas, indubitavelmente, é a ação de compreender o entorno, pesquisá-lo e cons-
truir um planejamento para enfrentar os riscos calculados da proposta idealizada.
Considerando essa premissa essencial de compreender e aplicar, o grupo de
casos de sucesso foi composto por diversidade. Essa possibilita que você:
• constate o quanto o empreendedorismo está em toda parte;
• perceba as distintas estratégias possíveis para empreender;
• evidencie as características dos empreendedores; e
• identifi que que o empreendedorismo com planejamento tem mais poten-
cial de sucesso.
110
Empreendedorismo
QUADRO 1 – CASOS DE SUCESSO NO EMPREENDEDORISMO –
PLURALIDADE, DIVERSIDADE E CONEXÕES TEORIA-PRÁTICA
Quem? O quê? Conexão teoria-prática
Adriana Barbosa,
brasileira
Fundadora da Feira Preta,
considerada o maior evento
de empreendedorismo negro
e de cultura na região latino-
-americana. Busca ir além do
empreender, que gerar a con-
quista de espaço e de pontes
para as lideranças negras em
vários segmentos de mercado.
Derivado desse proposta, há
o Marketplace Feira Preta,
que é um espaço virtual que
tem por objetivo reunir pessoas
empreendedoras para troca de
experiências empreendedoras,
e “oportunidade de evidenciar
suas potências por meio de
produtos e serviços e, em con-
trapartida, possibilitam um diá-
logo voltado para a valorização
da criatividade, inventividade,
identidade e cultura preta.” (5
EMPREENDEDORAS, 2021,
s.p.). Com o fortalecimento
das capacidades empreen-
dedoras, quebra o limite do
empreendimento por necessi-
dade e estimula os negócios a
um crescimento mais robusto,
além de buscar quebrar para-
digmas e estereótipos (grifos
nossos).
Características da empreen-
dedora: capacidade de perce-
ber demandas não atendidas
e propor soluções criativas,
disruptiva, busca por deixar
legado.
Explorar pontos positivos e
oportunidades de mercado,
gerando o fortalecimento de
capacidades competitivas.
Daniel Asare-Kyei,
ganense
Fundador da Esoko Networks,
com sede em Gana, na África.
Empreendedor social, visa,
com seu negócio, gerar empo-
deramento para pequenas co-
munidades rurais, e essa ação
ocorre mediante duasverten
Características do empreen-
dedor: visionário, busca para
deixar legado.
Criação de redes de relaciona-
mento e estímulo ao empreen-
dedorismo próprio das pesso-
as, gerando ciclo virtuoso.
111
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
tes: propiciar transformação di-
gital na comunidade e inclusão
fi nanceira. “Graças às interven-
ções, mais de 3,7 milhões de
africanos rurais passaram a ter
uma “pegada digital” e estão
inscritos em vários programas
de proteção social. Além disso,
mais de um milhão de agricul-
tores já foram capacitados com
informações de preços de mer-
cado, conselhos agronômicos
e atualizações climáticas inte-
ligentes.” (CONHEÇA, 2022,
s.p.) (grifos nossos).
Planejamento para capacita-
ção.
Dipesh Sutariya e Shan-
ti Raghavan, indianos
Fundadores da Enable India–
organização sem fi ns lucrativos
cuja ação foca na independên-
cia econômica e na dignidade
de pessoas com defi ciência. “A
iniciativa oferece experiência
profi ssional e preparação para
o trabalho em indústrias, além
fazer a ligação desses profi s-
sionais com empresas, com o
objetivo de aumentar a contrata-
ção de pessoas com defi ciência
e derrubar preconceitos” (CO-
NHEÇA, 2022, s.p.). Seu lema
é Diversidade é a nossa força;
a organização é composta por
44% dos funcionários com algu-
ma defi ciência: “Pessoas com
defi ciência visual, baixa visão,
defi ciência auditiva, defi ciência
física, paralisia cerebral, doença
mental e difi culdade de apren-
dizagem” (tradução própria de
ENABLE India, 2022, s.p.)
Características dos empreen-
dedores: visionários, percep-
ção de necessidade não aten-
dida, busca por gerar legado;
revolução e quebra de para-
digmas
Jack Ma,
chinês
Fundador da multinacional Ali-
baba. Esse grupo é conside-
rado a maior rede mundial de
e-commerce.
Características do empreende-
dor: percepção da demanda,
paixão pelo que faz, dedicação
112
Empreendedorismo
“Com uma trajetória de con-
quistas, o empresário afi rma
que é preciso dedicação, tem-
po e esforço para estabelecer
um negócio bem-sucedido,
além de planejamento, racio-
cínio cautelar e amor pelo que
faz.” (SILVA, 2015, s.p.). O
empreendedor afi rma que é
preciso dedicação (bastante) e
planejamento para que se pos-
sa empreender com sucesso.
(grifos nossos)
Planejamento como necessário
para se desenvolver com mais
chance de sucesso
Luakan Anambé,
brasileira
Criadora das bonecas Anaty,
que resgatam a cultura indí-
gena e geram oportunidades
de desenvolver nas crianças a
compreensão e a valorização de
diferentes culturas (EMPREEN-
DEDORA, 2021). “A história de
Luakam é de luta e superação,
bem diferente da delicadeza de
suas bonecas. Ela sofreu muito
preconceito por ser indígena (...)”
A história da empreendedora é
de luta, resiliência, transforma-
ção de sonho em oportunidade.
“Quando pequena, ela se sepa-
rou de sua mãe, que não tinha
condições de cuidar dos 11 fi -
lhos. Com apenas sete anos, a
menina foi obrigada a morar com
uma família de fazendeiros e tra-
balhar como empregada domés-
tica. Na época, ela só queria ter
uma boneca e poder brincar com
ela, mas ainda por cima foi proi-
bida pela esposa do fazendeiro.”
(SOMMA, 2021, s.p.). A em-
preendedora mudou-se do Pará
para o Rio de Janeiro, trabalhou
em confecção durante muitos
anos. Adquiriu experiência
Característica da empreendedo-
ra: resiliência, persistência, visão
de oportunidade.
113
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
costurando roupas para os fi lhos
usarem em festas escolares;
trabalhou em empresas grandes
de costuras. Com o fi m do vín-
culo empregatício, criou a marca
“Arte Papa Xibé”, que signifi ca
farinha com água, aquela que
mata a fome do caboclo do Pará
(EMPREENDEDORA, 2021).
“Quando começou a frequentar
feiras de artesanato indígena
acompanhada da neta, Anaty,
uma situação inusitada virou re-
corrente: a menina estava sem-
pre acompanhada da própria bo-
neca, feita pela avó, e chamava
atenção de quem cruzava com
elas. Nascia ali a ideia do futuro
negócio, fruto de um presente de
uma avó para sua neta e da lem-
brança do seu próprio sonho de
menina de ter a própria boneca.”
(SOMMA, 2021, s.p.). O resu-
mo da trajetória e da proposta
de desenvolver bonecas indíge-
nas, cujo nome, Anaty, signifi ca
‘menina’, na língua tupi-guarani,
fi ca com a empreendedora: “Eu
sempre quis ser reconhecida e
mostrar para o mundo que nós
existimos", diz a artesã” (SOM-
MA, 2021, s.p.) (grifos nossos).
Luiza Helena Trajano,
brasileira
Fundadora do Magazine Luiza.
Conseguiu consolidar uma em-
presa de varejo, que atua em
ambiente muito competitivo e
que adota um planejamento fo-
cado em estratégia de liderança
em custos, com foco na estraté-
gia, na inovação e em uma atua-
ção voltada à inclusão e diversi-
dade. “Luiza ganhou notoriedade
por ser inovadora, moderna e
Características do empreende-
dor: humildade, honestidade,
pioneirismo, resiliência, lide-
rança. Visão de construção de
algo que vai além do fi nanceiro,
busca gerar exemplo e deixar
legado.
Planejamento e estratégia bem
delineada.
114
Empreendedorismo
manter a proximidade de clien-
tes e funcionários. É pioneira na
criação de lojas virtuais para faci-
litar o acesso e as compras dos
consumidores. Com a humildade
e poder de decisão característi-
cos, ela afi rma que “começamos
a solucionar nossos problemas
quando resolvemos parar de
reclamar”. (SILVA, 2015, s.p.).
Em Mulheres (2022), outras ca-
racterísticas de Luíza Trajano
como honestidade, interesse em
terceiros e em fazer algo mais
social, também são ressaltadas.
Capacidade de liderança e resi-
liência são características ressal-
tadas no artigo publicado no site
da Endeavor (9 MULHERES,
2015) (grifos nossos).
Muhammad Yunus,
indiano
Criador do Grameen Bank, o
banco da aldeia Empreendedor
Social é a primeira expressão
que se encontra associada ao
nome de Yunus, que inclusive
ganhou, em 2006. Essa relação
decorre de ele ser considerado
a pessoa que incentivou uma
mudança social e econômica
em seu país, ao criar o Grameen
Bank indiano, um banco que con-
cede crédito a pessoas pobres,
que buscam sobreviver com um
negócio próprio, em geral, bem
simples, mesmo, pessoas que
empreendem por necessidade.
Com a concessão do microcré-
dito, Yunus atuou combatendo
a pobreza em seu país e causou
o que se denomina revolução no
mecanismo de concessão de
crédito. (CARVALHO, 2021).
Características do empreende-
dor: visionário, revolucionário,
planejador, busca de uma ação
empreendedora que deixe um
legado.
Opção pelo diálogo, aprendiza-
do, troca de experiências, em
uma espécie de combinação de
banco de fomento, microcrédito
e investidor anjo.
115
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
“Desde o início, havia uma pecu-
liaridade no modo de operação
do Graamen Bank. A maioria es-
magadora dos benefi ciários dos
empréstimos eram (e ainda são)
mulheres.” (CARVALHO, 2021,
s.p.). Em dados de 2021, em
torno de 97% do total dos clien-
tes do banco eram mulheres. O
banco não impõe regras para
o empréstimo nem dita regras,
diferentemente do que ocorre
com alguns tipos tradicionais de
empréstimos. “O que existe é um
sistema de apoio e diálogo em
relação aos empreendimentos
em cada uma das aldeias nas
quais o Grameen atua. Outro
ponto que chama atenção é a
baixíssima inadimplência históri-
ca que o banco registra. Nesse
sentido, não existe um sistema
tradicional de garantias. No en-
tanto, apesar disso, a inadim-
plência é de apenas 1% sobre o
total de empréstimos realizados.”
(CARVALHO, 2021, s.p.) (grifos
nossos).
Robinson Shiba,
brasileiro
Fundador da rede de fast food
conhecida pelo nome de China
in Box, que se mantém como
líder em delivery de comidas.
“Uma das características mais
relevantes foi enxergar além do
seu tempo e perceber que as
oportunidades são determinan-
tes para o sucesso ou fracassode um empreendimento — tudo
depende de saber aproveitar.”
(SILVA, 2015, s.p.) (grifos nos-
sos). Nakagawa (2013,. p. 76)
destaca o quanto o empreende-
dor acreditou e “apostou”, deu
Características do empreende-
dor: Visionário, capaz de identifi -
car as demandas, ter o timming
para fazer a ideia se tornar opor-
tunidades. Capacidade de correr
riscos calculados.
Geração de ideias a partir de ten-
dência de mercado.
Planejamento do empreendi-
mento e das etapas de implan-
tação.
116
Empreendedorismo
crédito à sua percepção sobre
tendênciasde mercado, como a
crescente diminuição do tempo
das pessoas para se dedicarem
à atividade de cozinhar. Vale
lembrar que, quando Robinson
Shiba lançou a ideia do China in
Box no Brasil, a única entrega de
comida que ocorria no País era a
de pizza, nos anos 1990.
Rosalba Reynoso, mexi-
cana
Fundadora da Blue Trail Softwa-
re, uma empresa de desenvolvi-
mento de software sediada em
São Francisco, Califórnia, com
escritórios em vários países la-
tino-americanos e de língua es-
panhola: Argentina, Bolívia, Mé-
xico, Peru, Espanha e Uruguai.
Reynoso iniciou sua busca de
trabalho nos EUA, aos 18 anos
– como não falava inglês, foi de
porta em porta e conquistou em-
prego de faxineira, mas como a
contratante teve difi culdade para
explicar o que queria que Rey-
noso fi zesse, decidiu ensinar-lhe
inglês, uma hora por dia. “Seu
negócio como faxineira autôno-
ma começou a crescer graças ao
boca-a-boca, já que cada cliente
conquistado indicava os serviços
de Reynoso para amigos. Foi
quando o tino de Reynoso para
os negócios e a habilidade em
capacitar e criar oportunidades
não apenas para si, mas tam-
bém para os outros, afl oraram:
a demanda por faxina era tanta
que ela decidiu chamar algumas
amigas que também estavam
em busca de oportunidades e
montou uma espécie de rede de
colaboradoras para dar conta
Características da empreen-
dedora: Visionária, persistente,
lutadora, habilidade de criar
oportunidades e formar redes de
relacionamento.
Planejamento e áreas críticas:
operações, fi nanças, pessoas!
117
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
da lista crescente de clientes.”
(SIMONDS, 2022, s.p.). Com
o tempo, para reduzir suas dívi-
das contraídas com um divórcio,
expandiu seu negócio “incluiu
serviços de catering, serviços de
limpeza comercial e até mesmo
de pet sitter.” Sempre buscando
oportunidades, Reynoso fundou,
com seu marido, um também
empreendedor francês, a Blue
Trail Software.” Enquanto ela
passou os primeiros cinco anos
focada em construir equipes na
América Latina e atrair e reter
talentos. ele se concentrou na
construção da visão, negócios e
fi nanças da empresa.” “Reyno-
so, que se defi ne como uma so-
nhadora, acreditava que poderia
usar o que aprendeu construindo
o seu negócio de serviços do-
mésticos no desenvolvimento de
um software.” (SIMONDS, 2022,
s.p.).” Adota, em seu sonho que
transformou em realidade, a po-
lítica de desenvolver pessoas,
tendo 30% de seu plantel forma-
do por mulheres latinas, no ramo
da tecnologia” (grifos nossos).
Steve Jobs,
norte-americano
Fundador da Apple, uma das em-
presas de tecnologia mais valori-
zadas no mundo. “Pensar com
a cabeça do cliente talvez seja
um dos mais importantes pontos
da carreira de Steve Jobs que,
ao elaborar um produto sempre
imaginava como o usuário seria
benefi ciado. Apesar das diversas
difi culdades encontradas, Jobs
sempre surpreendia com uma
inovação.” (SILVA, 2015, s.p.)
Nakagawa (2013) destaca
Características do empreende-
dor: visionário, inovador, sabe
compartilhar a visão.
Ao ler os comentários sobre
Jobs, você não se lembrou da
frase de George Bernard Shaw
que estudamos? Em essência,
algumas pessoas veem as coi-
sas que já existem, aquelas que
já são, e perguntam por quê?
Mas outras, como Shaw e Jobs,
sonham com as coisas que não
118
Empreendedorismo
a capacidade de criar, de agir,
de enfrentar um problema – que
o autor chama de ‘incômodo’ e
ver nele uma oportunidade. Nas
palavras de Nakagawa (2013, p.
166): “(...) talvez nenhum outro
empreendedor tenha utilizado
seu incômodo pessoal tão bem
quanto Steve Jobs. Seu con-
tínuo incômodo em relação a
como as coisas são feitas torna-
ram a Apple e a Pixar empresas
lendárias, que já entraram para
a história por mostrarem que
sempre é possível melhorar algo
que aparentement4e é perfeito”
(grifos nossos).
são, que nunca foram, e se per-
guntam: Por que não?
Zica Assis,
brasileira
Fundadora do Beleza Natural,
um negócio especializado em
embelezamento de cabelos
crespos e ondulados, que já
dura 25 anos e tem salões espa-
lhados pelo Brasil.
“Marcada por uma infância difícil
e começando a trabalhar aos
9 anos como babá, Zica Assis
iniciou a sua carreira em salões
de beleza aos 21 anos de idade.
No início, sua intenção não era
seguir nessa área, na verdade,
ela só queria aprender a cuidar
das suas próprias madeixas.”
(MULHERES, 2022, s.p.). No
entanto, a empreendedora se
encantou com o setor da bele-
za e procurou tornar realidade o
que lhe parecia um sonho, como
aponta o site Mulheres – “abrir o
seu negócio especializado em
cabelos crespos e ondulados.
Isso porque ela enxergou no pró-
prio problema a oportunidade de
ajudar outras mulheres. Com a
Características da pessoa em-
preendedora: pioneirismo, per-
sistência, dedicação, visão de
futuro, identifi cação de necessi-
dade não atendida.
119
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
falta de produtos especializados
para esses tipos de fi os, ela foi
em busca da solução, tornan-
do-se pioneira na área.” (grifos
nossos).
FONTE: A autora (2022)
Sumarizando esse quadro, o que você encontra em comum, na riqueza de
experiências e na diversidade de relatos? Refl ita um momento sobre isto. Anote o
que concluiu.
Provavelmente, você deve ter notado que é patente que a visão empreende-
dora, quando estruturada em mais do que um desejo de transformar uma ideia ou
um sonho em oportunidade, tem mais chances de fl orescer, crescer e fortifi car-se.
Fazendo uma analogia com uma planta, uma oportunidade de negócios precisa
de raízes, e tais raízes que fi rmam o negócio são construídas com fundamentos
teóricos que envolvem planejamento, organização, saber lidar com os fatores crí-
ticos de sucesso ou planejamentos críticos que autores como Dornelas (2008) e
Nakagawa (2013), por exemplo, destacam, e que foram evidenciados nos casos
de sucesso aqui apresentados. Agora, vamos fechar esta parte de nossos estu-
dos com uma atividade de análise de um caso real.
2 Leia o trecho a seguir, extraído de um caso real de empreendedo-
rismo:
“Edenilson Dias Delgado tem 25 anos. De pai de etnia terena e
mãe negra, o afro-indígena frequentou recentemente o sonho de
abrir o próprio ateliê, que o acompanhava desde a adolescência.
“Sou apaixonado por moda e a ideia de criar o ateliê veio aos
meus 14 anos de idade, quando eu passava horas e horas de-
senhando e criando looks”, conta o artista. Dos primeiros croquis
feitos por Edenilson, veio a primeira decepção. Em 2012, uma
pessoa disse que iria ajudá-lo a montar sua própria marca. “Com-
prei os materiais, canetas profi ssionais, montei meu portfólio com
os croquis de modelos, investi e desenhei minhas inspirações, e
essa pessoa sumiu com meu trabalho. Aí desisti”, explica. (...) Em
2019, a vontade de seguir no ramo da moda falou mais alto. Ele
voltou a desenhar e aproveitou o talento, passado pela avó, para
costurar também. No fi nal de 2020, em plena pandemia, Edenil-
120
Empreendedorismo
son investiu em seu sonho e abriu o Ateliê Terena . “Minha mãe
Ana Raquel e minha avó Tereza viram meu trabalho e resolveram
me apoiar fi nanceiramente para abrir a marca.” Quando lança-
das como primeiras peças femininas, em fevereiro de 2021, ele
queria mostrar que todos podem usar como roupas com grafi s-
mo terena. “Cada grafi smo tem seusignifi cado. Eu sempre co-
loco nas peças de roupa a explicação de cada um. E quero que
todos usem, sem medo de ferir a nossa cultura. O intuito foi levar
a visibilidade do meu povo, da minha etnia e das demais das de-
mais através da moda”. O trabalho está a todo o vapor. Edenilson
desenha, costura e tira como fotos de divulgação das peças. “Eu
sempre falo que nada vem fácil, ainda mais para nós indígenas.
Eu sempre corri atrás de tudo e não vou parar. E para o futuro, eu
quero que minha marca seja reconhecida no mundo inteiro, para
que as pessoas conheçam meu trabalho e o meu povo”, fi naliza.”
(EMPREENDEDORISMO, 2021, s.p.).
Agora, analise as sentenças a seguir:
I O caso evidencia algumas características do empreendedor
como: busca de tornar realidade um sonho, resiliência, esforço
para alcançar os objetivos, paixão pelo que faz.
II O caso apresenta um exemplo típico de empreendimento por ne-
cessidade, em que houve um planejamento evidenciado das ativi-
dades.
III O fato de Edenilson Dias Delgado ter desistido de seu sonho ini-
cial demonstra sua inadequação à atividade empreendedora.
IV Uma das metas de Edenilson, ao querer levar a cultura de seu
povo a outras culturas, pode ser considerada como uma busca
por deixar um legado em sua atividade empreendedora.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
121
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Observe que a busca por tornar realidade um sonho fi ca evidenciada no tex-
to, logo no início, quando se mostra que o empreendedor sonhava, desde ado-
lescente, em ter um ateliê. A resiliência perpassa o relato, pois mesmo sofrendo
quedas, sumiço de materiais, o empreendedor não desistiu e lutou para conseguir
a materialização de seu sonho; como verbaliza: “nada vem fácil”. A paixão pelo
que faz está explícita no texto, “sou apaixonado pela moda”.
Por fi m, ao evidenciar sua preocupação em divulgar a cultura de seus ante-
passados em suas peças, e ao verbalizar que deseja tornar essa cultura conheci-
da e respeitada, nota-se que há, conforme estudado pela teoria, a busca por gerar
um legado que vai além da atividade empreendedora em si.
O empreendedor tinha um sonho, identifi cou espaço para promover sua cul-
tura e buscou fazê-lo se tornar real, buscando um apoio que foi um fracasso (a
pessoa sumiu com o material por ele desenhado); logo, não há como afi rmar que se
trata de empreendedorismo por necessidade, tampouco que houve planejamento.
O texto mostra que Edenilson desistiu na primeira frustração, mas foi uma
desistência momentânea, porque logo retomou a ideia inicial; depois, essa de-
sistência não é uma evidência de inadequação à atividade empreendedora; pelo
contrário, a atividade empreendedora traz, de forma geral, muita luta, fracassos e
recomeços, resiliência, como vimos estudando, e busca por concretizar o sonho,
como fez o empreendedor ao receber apoio monetário familiar.
Falando sobre apoio monetário, vamos, agora, para o tópico seguinte, que
vai tratar deste importante assunto e de ferramentas para desenvolver o negócio
empreendedor.
5 FORMAS DE CAPTAÇÃO DE
RECURSOS E FERRAMENTAS PARA
DESENVOLVER O NEGÓCIO
Dornelas (2008) já nos alertou quanto à necessidade de se ter recurso fi nan-
ceiro para a abertura de um negócio (lembra-se de que uma das fases de levar
à frente a atividade empreendedora é buscar recursos?). Todo empreendimento
precisa de um capital inicial e, mesmo que seja com um valor pequeno, ele será
a alavanca para o desenvolvimento das atividades. Pense, por exemplo, em uma
pessoa que decida empreender fabricando docinhos caseiros. Minimamente, essa
pessoa precisa estimar quantos docinhos precisará fazer para iniciar sua venda e
quanto precisará de capital inicial para a compra dos ingredientes necessários para
122
Empreendedorismo
fazer tais docinhos e demais equipamentos ou materiais para fazê-los. Se vão ao
fogo, por exemplo, precisará calcular o gasto com gás, forminhas ou outras emba-
lagens, enfi m, é notório que o capital inicial é o pontapé para a ação da produção
dessa proposta empreendedora. A pergunta é: como obter esse capital inicial?
É possível, evidentemente, que o empreendedor tenha recursos que foi eco-
nomizando ao longo do tempo. Esse tipo de capital inicial, que é um recurso pró-
prio, também é conhecido pelo nome de bootstrapping. Mas, de fato, o que é
bootstrapping?
“O termo é difícil de traduzir, mas é fácil de entender e muito im-
portante para empreendedores de startups. Bootstrap signifi ca criar
sua startup usando somente recursos próprios, apertando os cintos do
time e não recorrendo a investidores externos. Se há alguma entrada
de capital, ela vem dos primeiros clientes. A tradução literal de boots-
trap é alça de bota – aquele pedaço de couro ou tecido que fi ca atrás
da bota e acima do calcanhar, facilitando puxá-la com as mãos na hora
de calçar. O termo "levantar a si próprio pelas alças da bota" era usado
desde o século XIX para ilustrar tarefas impossíveis, como pular uma
cerca alta puxando suas próprias botas com as mãos. A metáfora de
fazer o boostrapping da sua startup indica justamente esse processo
autossustentável de alavancar a si próprio (Respondido por Yuri Gi-
tahy, profi ssional especialista em startup)” (MOREIRA, 2011, s.p.).
Há prós e contras em empreender com recursos próprios, assim como há
pontos positivos e negativos em se conseguir recursos por outras fontes. A fi gura
a seguir sumariza os principais tipos de captação de recursos, bem como os pon-
tos favoráveis e desfavoráveis para que se possa compreender, de uma forma
mais estratégica, as opções que um empreendedor pode ter:
123
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
FIGURA 4 – CAPTAÇÃO DE RECURSOS – O QUE ESCOLHER?
PONTOS FAVORÁVEIS E DESFAVORÁVEIS
124
Empreendedorismo
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EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
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Empreendedorismo
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EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
FONTE: Adaptado de Dornelas (2008), Gitahy (2014), Maximiano
(2015), Santille (2016), Sartorelli (2017) e Bill (2020)
3 Florence é uma jovem de 23 anos muito dedicada aos estudos
de microbiologia; ela nunca trabalhou em empresa, faz estágio
no laboratório da universidade em que estuda. Ela é inovadora,
criativa, e está desenvolvendo um estudo que irá revolucionar
a área de sua atuação. Pensa em desenvolver um negócio pró-
prio na área para atender a um público carente, que é formado
por pessoas de baixa renda, as quais, atualmente, não conse-
guiriam ter acesso aos estudos de ponta na área devido ao alto
custo de um exame que utiliza os mais modernos equipamentos
para a investigação não somente de doenças, mas também de
carências nutricionais. Esses exames tornam-se importantes, em
especial, em regiões mais carentes, como a latino-americana,
porque diversos estudos realizados ao redor do mundo mostram
que carência nutricional impacta o desenvolvimento das crianças,
principalmente na primeira infância, de uma maneira irremediá-
vel no futuro. Na primeira infância, são formadas as sinapses, ou
as conexões entre os neurônios, e a nutrição exerce um papel
fundamental na construção do que chamamos de “cimentos” ce-
rebrais. Então, sempre com essa inquietação em mente, Floren-
ce buscava alternativas para ver como aumentar o atendimento
128
Empreendedorismo
a crianças carentes e realizar estudos nutricionais, e conseguiu
descobrir uma forma de realizar exames que medem a carência
nutricional com um custo bem menor do que os exames tradicio-
nais, e com efi ciência de 96%, contra 97% dos métodos atuais.
Ao realizar uma capacitação sobre a atividade empreendedora e
empreendedorismo social, Florence vislumbrou possibilidades de
fazerseu sonho de, por meio de sua profi ssão, fazer algo que
benefi ciasse pessoas, tornar-se real. Empolgada, Florence fez
um levantamento dos custos iniciais para comprar equipamento
e alugar uma sala onde pudesse montar seu laboratório de estu-
dos de nutrição. Chegou aos seguintes valores: investimento ini-
cial: R$ 450 mil; tempo médio de retorno do investimento: 5 anos.
Considerando o que aprendeu sobre captação de recursos, o que
Florence deveria fazer?
a) ( ) Procurar um banco tradicional e solicitar um empréstimo,
pois o que ela realmente precisa agora é dinheiro.
b) ( ) Procurar um banco de microcrédito e solicitar um empréstimo
a juros mais baixos do que os cobrados pelos bancos tradicionais.
c) ( ) Procurar um investidor anjo e apresentar sua proposta para
obter um aporte e ainda contar com o apoio na gestão do negó-
cio, visto que seu projeto é disruptivo e ela ainda não tem experi-
ência como empreendedora.
d) ( ) Procurar uma plataforma coletiva, peer to peer lending, para
obter uma vaquinha virtual e investir no desenvolvimento de seu
método revolucionário e disruptivo de realizar exames nutricionais.
Pelo que estudamos, a busca de aporte com o investidor anjo se apresenta
como a alternativa mais adequada, visto que o negócio que Florence se propõe
a abrir é de risco, por ser disruptivo, apresentar altas probabilidades de suces-
so (em geral, são negócios que tratam de processos disruptivos, inovadores, em
mercados dinâmicos e muito competitivos) e ela precisa mais do que somente um
aporte monetário, ela necessita de apoio à gestão. Note, ainda, que o valor inicial
é alto. Difi cilmente ela conseguiria um aporte de um banco de microcrédito; em
bancos tradicionais, além de ter juros mais altos, tampouco teria muitas chances
de sucesso; em P2P Lending, além de não ter muitas oportunidades de concorrer
com mais outros projetos, não se benefi ciaria, em nenhum dos três casos, de um
apoio que só o investidor anjo pode lhe proporcionar, que é o apoio na troca de
experiências, no acompanhamento das ações da jovem empreendedora.
129
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Agora, tendo a compreensão do que é planejamento, de como ele é estrutu-
rado e de qual é a sua importância para a sobrevivência das organizações, bem
como tendo entendido as fases do desenvolvimento do processo empreendedor,
a importância de buscar os recursos de maneira adequada e conhecido vários
casos de sucesso, vamos à prática empreendedora do planejamento usando uma
ferramenta clássica: o plano de negócio.
Ferramenta para desenvolver o negócio
O plano de negócio é um documento escrito, em que a pessoa empreende-
dora apresenta tanto seus elementos internos quanto os externos que constam do
planejamento que elaborou e que são relevantes para que se possa começar o
novo empreendimento (HISRICH; PETERS; SHEPERD, 2009).
Nakagawa (2013) destaca três elementos constitutivos de um plano de negó-
cios, evidenciando a importância de o empreendedor compreender o propósito de
escrever esse plano e esses elementos constitutivos buscam responder a um con-
junto de seis perguntas-chave. A fi gura a seguir ilustra os elementos que serão de-
talhados na sequência e quais as perguntas que devem ser por eles respondidas:
FIGURA 5 – ELEMENTOS E PERGUNTAS-CHAVE DE UM PLANO DE NEGÓCIOS
FONTE: Adaptado de Nakagawa (2013)
130
Empreendedorismo
O plano de negócios deve conter uma apresentação com uma exposi-
ção clara, objetiva e que, de fato, comunique a essência ao seu interlocutor .
Novamente, remetemos ao que foi estudado no Capítulo 2 – você se recorda que
comunicar é tornar comum (LIMA, 2002), correto? Pois bem, tenha sempre em
mente isso ao elaborar um plano de negócio para um empreendimento que esteja
conduzindo – seja de seu próprio negócio, seja dentro de uma organização. O seu
plano deve comunicar, isto é, tornar comum a sua ideia ou proposição a quem
será seu interlocutor.
No plano de negócios, a perspectiva de tornar comum a ideia é fundamental:
ao se elaborar um plano dessa natureza, o empreendedor deve elaborar, com
atenção e cuidado, sua apresentação – deve ser voltada ao interlocutor e eviden-
ciar, segundo Nakagawa (2013), a oportunidade que a ideia oferece, o que faz a
diferença na sua proposta e qual o produto ou serviço que se deseja apresentar
para o mercado.
Além da apresentação, o plano de negócios deve conter análises do públi-
co-alvo ou mercado consumidor e da concorrência – aqui, você se recordou de
nossa análise PEST(AL) que realizamos no Capítulo 1, correto? Pois bem, nes-
sa parte, o empreendedor terá a oportunidade de mostrar, de forma sucinta, os
principais elementos constitutivos de sua análise, tanto da já citada SWOT, que
é evidenciada na primeira etapa do planejamento, quanto da própria análise dos
elementos que constituem o macroambiente, como os aspectos políticos, econô-
micos, sociais, tecnológicos, ambientais e legais.
Hisrich, Peters e Sheperd (2009) ilustram o processo de avaliação ambiental
com o desenho de uma planilha invertida, facilitando a compreensão de como o
empreendedor pode agir para realizar essa importante avaliação.
FIGURA 6 – PIRÂMIDE INVERTIDA DA AVALIAÇÃO DO AMBIENTE
FONTE: Hisrich, Peters e Sheperd (2009, p. 225)
131
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Por fi m, chegamos a outro bloco que constitui o plano de negócios, e que
Nakagawa (2013) denomina planejamentos (atente para esta palavra – nova-
mente, o planejamento está presente como uma das atividades essenciais na
ação empreendedora). Nesse bloco, é preciso apresentar os objetivos e o que
chamamos plano de ação, que evidenciará como atingir os objetivos planejados.
No plano de negócios, “o objetivo é realizar a oportunidade” – esta só existirá “se
for confi rmada nas conclusões das análises do mercado consumidor e da concor-
rência”. Os planejamentos cumprirão a função de explicar como a oportunidade
será alcançada (NAKAGAWA, 2013, p.172). O mesmo autor alerta que o empre-
endedor deve dar muita atenção aos planejamentos que envolvem a produção
ou as operações. A parte de marketing e vendas, os recursos humanos e a parte
fi nanceira são, na visão de Nakagawa (2013), os mais críticos.
De fato, se pensarmos na atividade empreendedora e na importância de ter-
mos um planejamento estruturado das atividades, podemos constatar que o cora-
ção de uma organização, qualquer que seja o seu porte, envolve as pessoas, as
operações de produção e oferta do produto e/ou serviço e os recursos fi nanceiros.
Como estudado no início deste capítulo, as pesquisas sobre as causas da mor-
talidade das organizações de pequeno porte sempre apontam falta de gestão,
má gestão fi nanceira, falta de planejamento como as principais causas dessa fa-
lência que podemos, inclusive, denominar precoce. Um empreendimento é feito
para durar e o empreendedor o cria com essa intenção de perenidade. Contudo,
a intenção não sustenta uma organização, é preciso sustentar as atividades com
fundamentos administrativos que permitem, se não eliminar, ao menos reduzir so-
bremaneira os riscos que podem levar à falência.
Para aumentar sua compreensão sobre planos de negócios de
uma forma prática e ilustrada, uma recomendação de leitura é o livro
de José Dornelas, Adriana Bim, Gustavo Freitas e Rafaela Ushikubo
denominado Plano de Negócios com o modelo Canvas . Guia Prá-
tico de avaliação de ideias de negócio a partir de exemplos. 1 ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2015.
Aplicando o plano de negócios
Apliquemos essa teoria na prática, e o faremos mediante o desenvolvimento
de um plano de negócios. Ferramenta mais do que tradicional, como já apontado,
132
Empreendedorismo
o plano de negócios tem se tornado um dos principais elementos de aprendizado
e aplicação em cursos de pós-graduação que abordam a atividade empreendedo-
ra, e isso ocorre porque, de fato, o plano de negócios é uma ferramenta de gestãoque pode ser usada por quem quer empreender, não importando o tamanho do
negócio a ser criado. Sua estrutura básica é:
Sumário executivo: apresentamos, em uma ou duas páginas, os principais
elementos do plano de negócio – quem somos, qual nossa missão, o que é ou
será o negócio? O que vendemos? Para quem? Qual a oportunidade de negócios
identifi cada? O que temos de diferente em relação ao mercado? Quais são nos-
sas vantagens competitivas? Quanto precisamos e o que faremos com o dinheiro
arrecadado? Quando e qual será o retorno sobre o investimento (estimativa)?
Em seguida, vem cada seção do plano de negócio (COMO FAZER,
2021):
1. Defi nição do negócio e dos diferenciais competitivos. Ramo de ativi-
dade, local de atuação, produtos e/ou serviços - como eles se diferen-
ciam dos demais, quais características eles têm que possam atrair os
consumidores e fi delizá-los?
2. Análise de mercado (análise do setor e do negócio). Quais as tendên-
cias? Que fatores impactam as projeções e cenários? Por que o merca-
do que nos propomos atuar é promissor? Qual o tamanho do mercado
(número de possíveis clientes, competidores, valores monetários circu-
lando nesse mercado) Qual a estrutura e a segmentação de mercado?
Quais as oportunidades e as ameaças ou riscos?.
3. Plano de Marketing. Defi nir os 4Ps do Marketing (Produto/Serviços, Pre-
ço, Praça e Promoção). Atenção à precifi cação do produto – ela irá di-
recionar a forma de operar, como comunicar ao público-alvo, com que
frequência etc.
4. Plano Operacional. “Hora de listar como as coisas devem funcionar para
que o negócio aconteça!” (COMO FAZER, 2021, s.p.). Informar locali-
zação geográfi ca da empresa e qual a estrutura física, além de estimar
capacidade de produção, quantidade de funcionários etc.
5. Plano Financeiro. Inserir: “estimativas referentes a: custos iniciais, des-
pesas e receitas, além de capital de giro, fl uxo de caixa e [...] de lucros.”
(COMO FAZER, 2021, s.p.).
6. Análise de Cenários e Análise Estratégica. Para prever situações exter-
133
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
nas que possam impactar as atividades e elaborar plano de ação estraté-
gica para mitigar problemas/ameaças e ampliar oportunidades.
7. Avaliação do Plano de Negócio. Revisão de cada seção. Realizá-la pe-
riodicamente.
Um site bem completo com modelos de planos de negócios é
o do Sebrae, que também traz um guia para elaborar plano de ne-
gócios. Como elaborar um plano de negócios. SEBRAE: Brasília,
2013. O endereço é: https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20
Sebrae/Anexos/COMO%20ELABORAR%20UM%20PLANO_baixa.
pdf. Acesso em: 10 jul. 2022.
A seguir, apresentamos um exemplo de um Sumário Executivo, extraído, com
algumas adaptações e supressões, de Dornelas (2008, p. 76-79). Para efeitos di-
dáticos, deixamos à esquerda as seções a que cada parte do texto corresponde:
FIGURA 7 – SUMÁRIO EXECUTIVO – RESTAURANTE TEMÁTICO
Conceito de negócio
e oportunidade
Somos um restaurante temático que propõe uma experiência de imersão cul-
tural que vai além da gastronomia e de souvenires e produtos locais. Por
causa do elevado número de estrangeiros que, inclusive, vem crescendo na
cidade de São Paulo, identifi camos uma oportunidade de proporcionar uma
experiência que permita vivenciar e conhecer algumas das principais carac-
terísticas das regiões brasileiras em um único local. Este é o nosso rincão,
que oferece gastronomia, paisagens típicas, souvenires e produtos locais,
atendimento bilíngue (português/inglês), comodidade e segurança.
Mercado e competi-
dores
O mercado de entretenimento em São Paulo apresenta grande potencial.
Pesquisas realizadas mostram que, dentre as alternativas existentes, as pes-
soas buscam restaurantes como principal escolha. Pesquisa direcionada e
primária realizada confi rma que 70% dos 4000 entrevistados vão a restau-
rantes mais de uma vez por mês. A ideia de um lugar temático que explore a
cultura brasileira despertou o interesse de 87% dos 4000 entrevistados. As-
sim, infere-se que a experiência proposta agregará valor ao empreendimento.
134
Empreendedorismo
Equipe de gestão
O negócio será gerenciado por quatro pessoas, todas diretoras de mer-
cado, com participação igualitária. São profi ssionais experientes com co-
nhecimento de 20 anos, em média, em gestão de negócios nos setores
de entretenimento e gastronomia, sendo que a menor experiência é de 10
anos, e a maior, de 30 anos. Além dos sócios, a empresa contará com um
conselho consultivo especializado em administrar restaurantes e nutrição,
contribuindo para a operação e para as estratégias de negócio.
Produtos/serviços e
vantagens competi-
tivas
Nossos serviços e produtos se diferem dos já existentes no mercado por
conta de trazerem a possibilidade de o cliente vivenciar particularidades
de cada região brasileira por meio de cenários de paisagens típicas, pelo
conhecimento e degustação de comidas típicas, elaboradas por pessoas
de cada região, que aprenderam os segredos dos temperos com seus as-
cendentes. O espaço também é o único a oferecer serviços de pratos típi-
cos de todas as regiões brasileiras. O tempo de espera para a mesa será
preenchido com exposições locais de artesanato, performances musicais e
de teatro, completando a experiência única para nossos clientes.
Estrutura e opera-
ções
Localização: bairro de Moema, cidade de São Paulo, com acesso amplo
por várias avenidas e ruas. Os processos relacionados à área de alimenta-
ção estão desenvolvidos com base em restaurantes modelo internacionais,
avaliados pela qualidade e consistência em suas operações. Para os sou-
venires, a operação adota o modelo norte-americano de parques temáti-
cos, e teremos produtos com marca própria, visando fi delizar os clientes.
Inicialmente, serão 35 funcionários que sustentarão a base de excelência
do negócio, em conjunto com a estrutura temática inédita no Brasil. No
quinto ano, teremos 94 funcionários.
Marketing e Projeção
de vendas
A estratégia de marketing adotada busca obter clientes atraídos por pes-
quisas em sites de busca especializados em turismo e gastronomia. Uma
iniciativa muito importante para atrair turistas estrangeiros é a divulgação
em revistas de bordo das principais companhias de voos internacionais.
Para o turista brasileiro, a opção é revista e rádios paulistas. Com essas
ações, busca-se promover e introduzir um novo conceito no mercado,
resultando em 108 mil clientes no primeiro ano e ultrapassando 340 mil
clientes no quinto ano de operação, gerando receita substancial advinda
de alimentação e venda de souvenires. Estima-se faturamento de R$ 4,1
milhões no primeiro ano, chegando a mais de R$ 31 milhões no quinto ano
da operação.
Finanças
O investimento necessário para operacionalizar o negócio é de R$
5.300.400,70, e o primeiro fl uxo de caixa positivo ocorrerá no mês 11. O
negócio terá equilíbrio fi nanceiro entre os meses 38 e 39. O VPL é de R$
4;346.134,30 para uma taxa de desconto de 9%, e a TIR, após cinco anos,
é de 48%. O valor investido será usado para ampliar as instalações de
paisagens típicas e para atrair mais clientes, aplicando em pacotes dire-
cionados de veiculação de publicidade em revistas de bordo das principais
135
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
companhias de voo internacionais, revistas brasileiras e rádios paulistas,
alcançando ao público-alvo.
Condições para
aportes de recursos,
necessidades e con-
trapartidas
Aos investidores interessados, oferecemos 45% de participação nos negó-
cios pelo aporte de R$ 5.300.400,70 ao longo dos 11 primeiros meses do
negócio. Os valores de pre-money e post-money valuation são de
R$ 4.346.134,30 e de R$ 11.764.592,92, respectivamente.
FONTE: Adaptado de Dornelas (2008)
Na mesma perspectiva do desenvolvimento de um plano de negócios para
pôr no papel as ideias, temos o modelo Canvas, citado anteriormente, que seria
quase um plano de negócios sumarizadoem uma única folha, possibilitando ao
investidor ou a quem o empreendedor deseja apresentar seu negócio desenvolver
uma visão geral do que é a essência do negócio: a proposta de valor que a ideia
embute, bem como quais são os elementos-chave que comporão o negócio que
busca um aporte de investimentos ou um apoio gerencial para ser implantado.
FIGURA 8 – PARQUE TEMÁTICO NO MODELO CANVAS
FONTE: Dornelas (2008, p. 47)
(*) Em recursos-chave, “pode haver risco. O alto custo dos terrenos mais a
limitação de aproveitamento: lei de zoneamento pode tornar inviável o negócio”
(DORNELAS et al., 2008, p. 47).
136
Empreendedorismo
(**) Estrutura de custos: “o alto custo de infraestrutura devido aos requisitos
de segurança exigidos para a manutenção dos brinquedos pode ser outro fator de
risco para a manutenção do parque” (DORNELAS, 2008, p. 47).
(***) O público-alvo é promissor, segundo levantamentos realizados no ano
da proposta.
Ainda pensando no Plano de Negócios como uma importante ferramenta
para auxiliar a pessoa que empreende a comunicar seu negócio, é oportuno res-
saltar a relevância de preparar bem a apresentação para um futuro investidor ou
para o gestor que precisará “comprar a ideia” contida no plano. Para tanto, pode-
-se preparar um pitch.
Pitch é uma apresentação que dura em torno de três a cinco
minutos sobre a ideia principal do empreendedor, visando atrair a
pessoa que vai tomar a decisão de lhe apoiar no negócio (pode ser
o investidor anjo, um gestor ou até mesmo um cliente para quem a
pessoa quer “vender a ideia”. (VOCÊ, 2019; SPINA, 2022).
Como o tempo é reduzido, torna-se de fundamental importância pensar no
que falar, para trazer as informações principais sobre o negócio a ser proposto,
aquilo que gera a diferença na proposta apresentada em relação ao que já existe
no mercado, bem como treinar a apresentação, de modo a aprimorar a comunica-
ção. Pense assim: por que a pessoa que está ouvindo sua apresentação deveria
investir em seu negócio ou “comprar a sua ideia”? Com base nessas perguntas,
é possível construir um bom pitch de negócio. Spina (2022) resume os elementos
que devem estar em um pitch: o empreendedor deve trazer:
FIGURA 9 – ELEMENTOS DE UM PITCH
FONTE: A autora (2022)
137
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Spina (2022) comenta que esse pitch pode ser apresentado apenas na forma
oral ou o empreendedor pode preparar uma apresentação contendo em torno de
três a cinco slides. No modelo proposto, os slides conteriam:
FIGURA 10 – MODELO DE APRESENTAÇÃO DE UM PITCH
FONTE: A autora (2022)
Você encontrará, também, o termo elevator pitch, que, traduzindo do inglês,
signifi ca um discurso de elevador e, como próprio nome já evidencia, representa
uma abordagem de comunicação de uma ideia em um pequeno intervalo de tempo,
em geral, o tempo que demora um elevador para ir de um andar ao outro. Você
pode questionar: 30 segundos? menos de um minuto? Sim, a ideia do elevator pi-
tch é essa, é uma proposta ousada e muito bem estruturada que o empreendedor
constrói – como se fosse a frase que contém a essência de seu negócio e que, se
adequadamente comunicada, irá atrair o investidor/tomador de decisão a seu favor.
138
Empreendedorismo
4 – Analise o trecho de sumário executivo a seguir:
Conceito do negócio
Brinque Mais será um site de aluguel de brinquedos voltado para
os pais de família que possuem uma vida agitada devido à roti-
na de trabalho. Devido ao rápido desinteresse pelo brinquedo por
parte da criança, identifi cou-se uma grande oportunidade de ofe-
recer um serviço de aluguel de brinquedos que contribuem para
o desenvolvimento físico, intelectual e motor da criança, além de
contribuir com o meio ambiente por meio do consumo consciente.
Proporciona aos pais economia de espaço, tempo e dinheiro, ofe-
recendo um serviço prático e pontual.
Mercado e Competidores
A partir de 2009, houve crescimento no setor de brinquedos por
meio do crescente faturamento, quantidade de empregos gera-
dos e número de fábricas no Brasil. Atualmente, identifi cam-se
três players no segmento de aluguel de brinquedos domésticos:
Clube do Brinquedo, Joanninha e BBZUM. Os dois primeiros são
websites, e o último, uma loja física que oferece os serviços de
aluguel de brinquedos e acessórios para crianças e bebês, outlet
de brinquedos e higienização de brinquedos e acessórios. (BRIN-
QUE MAIS, s.d.; s.p.)
Analisando o trecho do Sumário Executivo apresentado, e consi-
derando o que você aprendeu sobre empreendedorismo e plano
de negócios, avalie as asserções a seguir e a relação proposta
entre elas:
I A Empresa Brinque Mais apresentou adequadamente ao investi-
dor o que é sua proposta de valor
PORQUE
II Evidenciou o que é o conceito de negócio e oportunidade que
identifi cou no mercado, sustentando seu argumento com um pa-
norama da concorrência.
139
EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As duas asserções são corretas e a segunda justifi ca a primeira.
b) ( ) As duas asserções são corretas, mas a segunda não justifi ca
a primeira.
c) ( ) A primeira asserção é verdadeira e a segunda falsa.
d) ( ) A primeira asserção é falsa e a segunda asserção é verdadeira.
Conforme estudado sobre plano de negócios, na primeira parte da apresen-
tação do sumário executivo,, a empresa Brinque Mais evidencia uma oportunida-
de encontrada – crianças se desinteressam rapidamente por brinquedos e há um
nicho inexplorado – oferta de brinquedos que desenvolvem a ludicidade, mas tam-
bém contribuem para o “desenvolvimento físico, intelectual e motor da criança,
além de contribuir com o meio ambiente por meio do consumo consciente. Pro-
porciona aos pais economia de espaço, tempo e dinheiro oferecendo um serviço
prático. A empresa destaca os principais elementos que constituem sua proposta
de valor. As pontuações que a empresa faz sobre as oportunidades encontradas e
o panorama concorrencial constituem as evidências que sustentam o argumento
e tornam adequada a exposição da proposta de valor.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, cujo foco essencial está na prática do empreendedorismo,
você estudou planejamento, uma atividade relevante para qualquer organização
e para a ação empreendedora. Com relação ao planejamento, você compreendeu
que esta ação é essencial para sustentar o negócio empreendedor com raízes
sólidas e fortes, que permitam ao negócio enfrentar ameaças e aproveitar oportu-
nidades que se apresentam no mercado.
Logo a seguir, chegamos a uma fase igualmente importante para empreen-
der, que é a fase de implementar a ideia. Nela, você compreendeu a importância
de a atividade empreendedora ter etapas como a avaliação ideias e das oportu-
nidades e sua seleção, aprendeu a usar o Scamper como ferramenta para apri-
morar oportunidades, seguiu no processo empreendedor, compreendendo que há
formas de quantifi car e captar recursos, estudou a importância de registrar tudo
em um plano de negócios ou em um Business Model Canvas e estudou como ge-
renciar essas relações do ciclo virtuoso do processo empreendedor.
140
Empreendedorismo
Continuando na prática, abordamos cases de sucesso para se conhecer, de
fato, o que foi estudado sobre empreendedorismo em sua aplicação no dia a dia.
Com os casos estudados, você pôde constatar o que defi nimos como os frutos
do empreendedorismo compreendidos sob as lentes dos casos reais. Também
identifi cou que a oportunidade de negócio deve estar enraizada em solo fi rme que
são os fundamentos teóricos da administração, os quais sustentarão a visão em-
preendedora em prol de ela se transformar em realidade e se robustecer ao longo
das fases de crescimento de um empreendimento.
Por fi m, você se acercou de mais uma temática essencial para transformar
teoria em prática: aprendeu as principais formas de captar recursos e algumas
ferramentas para desenvolvero negócio empreendedor, como o Plano de Negó-
cios e suas seções, na prática, e conheceu um Modelo Canvas aplicado.
Com esse conjunto de tópicos, concluiu o ciclo de aprendizado que se ini-
ciou com os fundamentos, passou pela sua relação com o empreendedorismo e
chegou à ação administrativa no tocante à atividade empreendedora. Ao fi nalizar
esse estudo, você conquistou conhecimentos valiosos, que irão lhe auxiliar a ob-
ter uma excelente jornada no desenvolvimento sobre o empreendedorismo, tema
não somente instigante, desafi ador, mas de grande importância para o desenvol-
vimento pessoal, das organizações e das nações, como destacado no início desta
jornada ao mundo do empreendedorismo.
Com esses elementos aprendidos, você tem um conjunto completo de co-
nhecimentos e aplicações para o desenvolvimento da atividade empreendedora,
caso se decida por levar uma oportunidade à ação, ou para a compreensão da
atividade empreendedora em sua essência e impacto no dia a dia organizacional,
caso se decida por ser ou se manter uma pessoa intraempreendedora em sua
área de atuação, seja em uma organização privada, seja em uma organização
pública ou em uma de terceiro setor. Lembre-se de que o empreendedorismo está
em toda a parte e alcança todas as instâncias. Ele é parte, pois, da vida organiza-
cional, e é um poderoso elemento para potencializar a perenidade do que, um dia,
foi um sonho, uma visão de futuro que se tornou realidade.
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EMPREENDEDORISMO NA PRÁTICA Capítulo 3
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