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Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 1 DEFINIÇÃO A esquizofrenia corresponde a uma doença envolvida com os mecanismos de desenvolvimento neuropsicomotor que resultam em transtornos psicóticos com a mudança do comportamento, pensamento, alterações sensopercepção. Tais sintomas alteram o funcionamento psicossocial do indivíduo. EPIDEMIOLOGIA Cerca de 1% da população apresentam esquizofrenia ao longo da vida, apresentando uma taxa de incidência de 15/100.000 em homens e 10/100.00 em mulheres. A faixa etária mais acometida pela doença corresponde ao final da adolescência com o início da vida adulta entre os 15 e 25 anos, apresentando um início tardio em mulheres. Pacientes com a doença apresentam uma expectativa de vida menor e uma taxa mortalidade maior que 2x em relação a população geral. Isso se deve ao fato das mortes por suicídio na fase inicial da doença e pelas complicações cardiometabólicas na fase mais tardia da evolução. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 2 MECANISMOS ENVOLVIDOS NA FISIOPATOLOGIA FATORES GENÉTICOS Os fatores genéticos estão envolvidos em todos os transtornos psicológicos. Observa-se uma taxa de concordância entre gêmeos monozigóticos de 50% para desenvolvimento. FATORES AMBIENTAIS Os impactos ambientais negativos sobre o neurodesenvolvimento preoce no período pré e perinatal estão relacionados ao desenvolvimento da doença. São eles: estresse, infecções maternas, deficiência nutricional, restrição de crescimento e complicação na gestação. Um dado importante é que a idade paterna avança é um fator importante descrito na literatura. Hábitos de vida podem influenciar na manifestação da doença como abuso de substância. Substâncias estimulantes (anfetaminas e cocaínas), bem como uso de canabidioides com alto índice de THC podem desencadear episódios psicóticos em populações de alto risco genético. Embora encontramos na literatura a relação entre a cannabis com o desenvolvimento da esquizofrenia muitos estudos apontam a mesma como uma opção terapêutica, principalmente através do extrato de CBD. NEUROFISIOLOIGA O impacto de fatores genéticos e ambientais resultam em prejuízo do neurodesenvolvimento. Estudos apontam para alteração na maturação neural, normalmente realizada na segunda e terceira década de vida, resultando em uma desorganização sináptica cortical. Além disso, processos inflamatórios e distúrbios que aumentem o estresse oxidativo influencial em tal maturação. No desenvolvimento da doença observamos alteração nas vias de neurotransmissão ligadas à dopamina, glutamato e GABA. A teoria mais explicativa seria a “teoria dopaminérgica” a qual tem íntima relação com o tratamento farmacológico dos antipsicóticos. Atribuímos o surgimento da doença a uma disfunção ao mecanismo de ação da dopamina. É sabido que a mesma se encontra relacionadas a diversas vias cerebrais, apresentando Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 3 características distintas entre elas. Tais vias são: (1) mesocortical (aumento da atividade dopaminérgica, sendo responsável pelo aparecimento dos sintomas positivos), (2)mesolímbica (redução da atividade dopaminérgica, sendo responsável pelos sintomas negativos), (3) nigroestrital (sem relação direta para os sintomas de esquizofrenia, mas com a administração dos antipsicóticos, observamos disfunção com o comprometimento no sistema motor, semelhante ao Parkinson) e (4) tuberoinfundibular (sem relação direta com a esquizofrenia, mas com a administração de antipsicóticos observamos disfunção com o comprometimento da inibição da secreção de prolactina, resultando em ginecomastia e galatorreia). A atividade glutamatérgica também está presente no desenvolvimento da esquizofrenia, bem como a gabaérgica através de conexões interneuronais que podem contribuir para o aumento de dopamina em algumas vias e diminuição em outras. Tal fato pode justificar a ineficácia terapêutica em alguns pacientes. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico é caracterizado por sintomas ricos que podem ser identificados através de uma anamnese padrão. Os sinais e sintomas apresentam relação direta com o prejuízo no pensamento, percepção, emoção, movimento e comportamento que pode acometer de forma heterogênea cada pacientes, caracterizando como uma perda do contato com a realidade. Os sintomas positivos são caracterizados pelas alterações da percepção, alucinações, pensamento (delírios), linguagem (discurso desorganizado), comportamento (bizarro). Os sintomas positivos eles são sintomas que somam ao comportamento do indivíduo, sendo facilmente identificados durante a história clínica. Por outro lado, sintomas negativos consistem na diminuição das funções de fluência e discurso do pensamento (alogia), na expressão emocional (embotamento afetivo), na volição e no impulso (abulia) e na capacidade hedônica (anedonia). Tais sintomas causa prejuízo no desempenho da vida cotidiana, com redução da cognição e má resposta ao tratamento. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é fenomenológico caracterizado pela observação de sinais e sintomas por um período de tempo, sendo caracterizados e validados através do DSM 5 e CID 10. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 4 Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 5 Um padrão pré-mórbido de sintomas pode ser a primeira evidência da doença. Às vezes, só os reconhecemos de maneira retrospectiva. Começam na adolescência e são seguidos pelo desenvolvimento de sintomas prodrômicos em um intervalo de dias a alguns meses. Por vezes, alterações sociais ou ambientais, como mudanças para cursar universidade em outra cidade, o uso de substâncias psicoativas ou a morte de um parente, podem precipitar os sintomas perturbadores. Assim, a síndrome prodrômica pode durar 1 ano ou mais antes do início de sintomas psicóticos manifestos. O curso clássico da esquizofrenia é de exacerbações e remissões. Após o primeiro episódio psicótico, o paciente recupera-se gradualmente e funciona de modo relativamente normal por um longo tempo. As recaídas são comuns, e o padrão da doença durante os primeiros 5 anos após o diagnóstico indica o curso da doença no paciente. A deterioração do funcionamento basal é cada vez maior após cada recaída da psicose. A vulnerabilidade do paciente com esquizofrenia ao estresse costuma se manter por toda a vida.39 Os sintomas positivos tendem a tornar-se menos graves com o tempo, mas a gravidade dos sintomas negativos ou deficitários socialmente debilitantes pode piorar. De todos os indivíduos com esquizofrenia, 1/3 tem alguma existência social, ainda que marginal ou integrada. A maioria tem vida caracterizada por falta de objetivos, inatividade, por vezes com hospitalizações frequentes. No contexto urbano, ocorrem falta de moradia e pobreza, se não houver auxílio dos familiares. TRATAMENTO A abordagem do paciente esquizofrênico consiste na mesma de um paciente com problemas mentais: há uma necessidade de acompanhamento multiprofissional para cuidados. Para tanto, no SUS dispomos do CAPS como entidade principal para acompanhamento desse doente, bem como na sua inserção na sociedade. O tratamento farmacológico consiste na administração de antipsicóticos que apresentam mecanismo de ação nas vias dopaminérgicas. Essa classe medicamentosa apresenta 02 gerações: os típicos e os atípicos. Ambas apresentam medicações com baixo e alto nível terapêutico, sendo mais observados à medida que alcança a dose terapêutica. Os antipsicóticos típicos são medicações antagonistas dos receptores D2 que bloqueiam a ação desse neurotransmissor em todas suas vias. Por isso, observamos o aumento de efeitos adversos e presençade síndromes extrapiramidal quando pacientes faz uso dessa classe. Os antipsicóticos atípicos atuam tanto nas vias dopaminérgicas, quanto na via serotoninérgica sendo mais bem tolerados e causando menos efeitos adversos como síndrome extrapiramidal. Sem exceção, as recomendações indicam o uso de AP em monoterapia como tratamento de primeira linha, embora não estabeleçam um fármaco específico de preferência. Algumas diretrizes recomendam que se tente, de início, um AP de segunda geração, se possível. É necessário um período variando de 4 a 8 semanas para avaliar a resposta terapêutica. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 6 Contudo, alguns estudos mais recentes sugerem que esse tempo pode ser mais curto, de até 2 semanas. É consenso entre as diretrizes reservar o uso da clozapina para pacientes identificados como resistentes ou refratários a tratamentos anteriormente ensaiados com outros AP (típicos e atípicos). A falha de duas tentativas com AP em monoterapia, por tempo suficiente e em doses apropriadas, se possível com 1 deles sendo de segunda geração, geralmente define esquizofrenia refratária e indica o uso da clozapina. Vale esclarecer que o conceito de esquizofrenia refratária está associado ao conceito de resposta, e não de remissão. A associação de mais de um AP em um mesmo esquema, a rigor, deve ser restrita para casos resistentes e é uma decisão clínica a ser ponderada pelo especialista em uma avaliação individualizada. Também é possível tentar a potencialização do AP com outra classe farmacológica, como a combinação de clozapina e lamotrigina em pacientes super- refratários, ou seja, que não respondem à clozapina. A ação dos AP limita-se, sobretudo, ao controle dos sintomas positivos. Embora existam evidências de que algumas medicações de segunda geração tenham um melhor perfil de ação sobre os sintomas cognitivos ou negativos, ou de pelo menos não os agravarem, esse efeito não é robusto ou consistente o suficiente para guiar a tomada de decisão quanto à farmacoterapia. Um ponto importante a ser considerado na escolha é o perfil de efeitos colaterais, principalmente sintomas motores extrapiramidais, mais frequentes nos fármacos de primeira geração; e o de cardiometabólicos, predominante nos de segunda geração. Outras terapias somáticas, como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a eletroconvulsoterapia (ECT), podem ser indicadas em alguns casos específicos, em que a farmacoterapia oral ou injetável tenha falhado ou por intensa gravidade dos casos, como na catatonia. Elas também compõem o arsenal terapêutico atual. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 7 Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Rodízio de Saúde Mental e do Idoso) 8
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