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PALESTRA - ABORTO

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1 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Objetivos 
1- Conhecer sobre a classificação e a epidemiologia 
do aborto. 
2- Investigar sobre a apresentação clínica do 
aborto (completo, retido, incompleto, infectado 
e inevitável). 
3- Compreender o tratamento farmacológico e 
mecânico do aborto. 
4- Discutir sobre a legislação do aborto. 
Abortamento 
↠ O abortamento é a expulsão de feto pesando menos 
de 500 g ou com menos de 20 semanas de gestação, 
podendo ser espontâneo ou provocado (MONTENEGRO; 
FILHO, 2017). 
 Aborto é o produto do abortamento (embrião ou feto e anexos) 
(CUNNINGHAM, 2021). 
 É considerado precoce ou de primeiro trimestre até 12 semanas 
e 6 dias (BRASIL, 2022). 
↠ Considera-se perda bioquímica o aborto que ocorre 
após um teste urinário ou beta-hCG positivo, mas sem 
diagnóstico ultrassonográfico ou histológico. O termo 
aborto clínico é utilizado quando a ultrassonografia ou a 
histologia confirmam que houve uma gravidez intrauterina 
(BRASIL, 2022). 
↠ Nas perdas gestacionais do primeiro trimestre, a morte 
do embrião ou do feto quase sempre ocorre antes da 
expulsão espontânea. Em geral, a morte é acompanhada 
de hemorragia dentro da decídua basal, seguido pela 
necrose dos tecidos adjacentes, que estimula as 
contrações uterinas e a expulsão. Um saco gestacional 
intacto costuma estar cheio de fluido (CUNNINGHAM, 
2021). 
• Um abortamento anembrionado não contém 
elementos embrionários identificáveis. Embora não 
seja tão preciso, pode-se utilizar o termo ovo cego. 
• Os casos restantes são abortamentos embrionados, 
que em geral apresentam alguma anormalidade do 
desenvolvimento do embrião, do feto, da vesícula 
vitelina ou, às vezes, da placenta. 
↠ Em contrapartida, nas perdas gestacionais mais tardias, 
o feto geralmente não morre antes da expulsão e, assim, 
outras razões para o abortamento devem ser 
investigadas (CUNNINGHAM, 2021). 
 
 
EPIDEMIOLOGIA 
↠ Mais de 80% dos abortamentos espontâneos 
ocorrem nas primeiras 12 semanas de gestação 
(CUNNINGHAM, 2021). 
↠ A magnitude do abortamento no mundo é 
desconhecida, uma vez que em diversos países ocorre 
ilegalidade parcial ou total para a realização do mesmo. Os 
dados epidemiológicos acerca do aborto são subclínicos 
devido a muitas vezes acontecerem sem que a mulher 
reconheça que está abortando ao confundir a expulsão 
do concepto com um sangramento menstrual, já os 
clinicamente reconhecidos chegam a incidência de 10-15%, 
destes, 80% ocorrem antes das 12 semanas (SANARFLIX). 
 Aborto no Brasil: o que dizem os dados oficiais? (CARDOSO 
et al., 2020). 
Segundo um estudo com base em estimativas da Organização Mundial 
da Saúde (OMS), aproximadamente 55 milhões de abortos ocorreram 
entre 2010 e 2014 no mundo, sendo 45% destes considerados abortos 
inseguros. África, Ásia e América Latina concentram 97% dos abortos 
inseguros. O estudo mostrou ainda que leis restritivas aumentam a 
ocorrência desses. A ilegalidade, contudo, não impede a prática, 
estando relacionada à desigualdade social e permanecendo como um 
problema de ordem global. 
A OMS define aborto inseguro como um procedimento para o 
término da gestação, realizado por pessoas sem a habilidade 
necessária ou em um ambiente sem padronização para a realização 
de procedimentos médicos, ou a conjunção dos dois fatores. Apesar 
dos avanços científicos capazes de proporcionar um abortamento 
seguro para a mulher, abortos inseguros continuam a ocorrer, 
causando aumento dos custos ao sistema de saúde, complicações e 
mortes maternas. 
A análise do SIM mostrou que, entre 2006 e 2015, foram registrados 
no Brasil 770 óbitos com causa básica aborto. 
Entre 2006 e 2015, os óbitos por aborto foram mais frequentes na 
faixa etária de 20-29 anos no Brasil. Apenas no ano de 2007 a faixa 
de 30-39 anos registrou um número maior de óbitos. Todas as regiões 
também apresentaram o maior volume de óbitos na faixa de 20-29 
anos no conjunto dos anos analisados. 
ETIOLOGIA 
↠ O aborto espontâneo único decorre, muitas vezes, de 
alterações cromossômicas. Entretanto, em várias 
ocasiões, não é possível esclarecer a causa da perda 
(BRASIL, 2022). 
FATORES FETAIS 
↠ Os fatores fetais são representados, principalmente, 
pelas aneuploidias, e 75% das perdas por anormalidades 
cromossômicas ocorrem em até 8 semanas. A taxa de 
2 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
aborto e de aneuploidias diminui com o avançar da idade 
gestacional (BRASIL, 2022). 
 A monossomia do X (45, X) é a anormalidade cromossômica 
específica isolada mais frequente. Ela é chamada síndrome de Turner, 
a qual em geral resulta em abortamento, embora existam casos 
descritos de fetos vivos do sexo feminino. Por outro lado, a 
monossomia autossômica é rara e incompatível com a vida 
(CUNNINGHAM, 2021). 
FATORES MATERNOS 
 Os mais comuns fatores de risco identificados em mulheres com 
abortamento precoce são a idade materna avançada e a história de 
perda anterior (MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
 Os abortos de gestações euploides são mais tardios que as 
aneuploides. Ou seja, a taxa de abortamento euploides atinge um pico 
em torno de 13 semanas. Além disso, a incidência de abortamento 
euploides aumenta acentuadamente depois da idade materna de 35 
anos (CUNNINGHAM, 2021). 
↠ Qualquer doença materna grave, traumatismo ou 
intoxicação, além de inúmeras infecções, podem levar ao 
abortamento (MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
Infecções 
↠ Alguns vírus, bactérias e parasitas comuns que invadem o 
ser humano normal podem infectar a unidade fetoplacentária 
por transmissão pelo sangue. Outros podem causar infecções 
localizadas depois de colonização ou infecção geniturinária. 
Entretanto, apesar das diversas infecções adquiridas na 
gravidez, esta não é uma causa comum de abortamento 
precoce (CUNNINGHAM, 2021). 
Doenças clínicas 
↠ Há riscos importantes associados com diabetes melito mal 
controlado, obesidade, doença da tireoide e lúpus eritematoso 
sistêmico. Nestes e em outros casos, os mediadores 
inflamatórios podem ser um problema subjacente 
(CUNNINGHAM, 2021). 
Câncer 
↠ Doses terapêuticas de radiação sem dúvida causam abortos. 
As doses exatas que causam aborto não são conhecidas. Da 
mesma forma, os efeitos da exposição à quimioterapia na 
etiologia do abortamento não estão bem definidos. São 
particularmente preocupantes os casos de gestações em 
andamento após exposição inicial ao metotrexato 
(CUNNINGHAM, 2021). 
Fatores sociais e comportamentais 
↠ As escolhas de estilo de vida supostamente associadas ao 
aumento dos riscos de abortamento espontâneo costumam 
estar mais relacionadas ao uso crônico e principalmente ao uso 
em grande quantidade de substâncias legalizadas. A droga mais 
utilizada é o álcool, que produz efeitos teratogênicos graves. 
Ainda assim, observa-se risco aumentado de abortamento 
espontâneo apenas com o uso regular ou em grandes 
quantidades (CUNNINGHAM, 2021). 
↠ O consumo excessivo de cafeína – ainda não bem definido 
– foi associado a aumento do risco de abortamento. Alguns 
relatos associaram a ingestão de cerca de cinco xícaras de café 
por dia – cerca de 500 mg de cafeína – a um ligeiro aumento 
no risco de abortamento (CUNNINGHAM, 2021). 
Fatores ocupacionais e ambientais 
↠ Foi sugerido que algumas toxinas ambientais tenham uma 
possível associação com abortos espontâneos, incluindo 
bisfenol A, ftalatos, bifenilas policloradas e 
diclorodifeniltricloroetano (DDT). Alguns poucos estudos 
implicam as exposições ocupacionais (CUNNINGHAM, 2021). 
Fatores paternos 
↠ O aumento da idade paterna está significativamente 
associado a maior risco de aborto. No Jerusalem Perinatal 
Study, esse risco foi menor antes dos 25 anos de idade, 
mas depois aumentava progressivamente a intervalos de 
5 anos. A etiologia dessa associação não foi bem 
estudada, mas pode estar relacionada com anormalidades 
cromossômicas nos espermatozoides (CUNNINGHAM, 
2021).CLASSIFICAÇÃO 
Precoce ou tardio 
↠ O abortamento é considerado precoce se ocorre até 
a 12ª semana e tardio se ocorre entre a 13ª e 20ª semana 
(SANARFLLIX). 
ESPONTÂNEO OU PROVOCADO 
↠ O espontâneo ocorre sem nenhum tipo de 
intervenção externa, podendo ser causado por doenças 
da mãe ou anormalidades do feto (SANARFLLIX). 
↠ O provocado decorre de uma interrupção externa e 
intencional que acarreta na interrupção da gestação. Esta 
representa custos altos para o Sistema Único de Saúde 
em consequência das suas complicações, principalmente, 
quando há evolução para aborto infectado (SANARFLLIX). 
ESPORÁDICO OU HABITUAL 
↠ A separação em aborto esporádico e habitual nos 
auxilia na melhor compreensão das etiologias do 
abortamento (SANARFLLIX). 
3 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ Os abortamentos esporádicos têm como principal 
causa as anormalidades cromossômicas que chegam a 
abranger 50-80% dos abortamentos esporádicos, sendo 
as aneuploidias aquelas que representam maior frequência 
seguidas das triploidias e tetraploidias. Dentre as aneuploidias, a 
trissomia autossômica possui 52% de frequência e 19% de síndrome 
de Turner (SANARFLLIX). 
↠ Chama-se abortamento habitual aquele que ocorre 3 
vezes ou mais na mesma gestante, neste caso, as 
principais causas são: incompetência istmo cervical e 
síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF) 
(SANARFLLIX). 
Seguro ou inseguro 
↠ A OMS costuma designar como seguros aqueles 
realizados por um médico bem treinado, com materiais e 
ambiente adequados representando risco menor para a 
saúde da mulher. E, inseguro é aquele aborto realizado 
sem os recursos médicos mínimos e/ou sem pessoa 
capacitada para realizá-lo (SANARFLLIX). 
APRESENTAÇÃO CLÍNICA DO ABORTO 
 Toda gestante com sangramento vaginal no 1º 
trimestre deve ser submetida a exame abdominal, exame 
especular e toque vaginal. Com isso, e associada à coleta de 
uma boa anamnese, é possível diagnosticar e classificar a 
mesma dentro de uma das apresentações clínicas a seguir 
(SANARFLIX). 
↠ O aborto espontâneo é tradicionalmente classificado 
como ameaça de aborto ou aborto evitável, inevitável, 
incompleto, completo e retido, com base na história e nos 
achados clínicos, laboratoriais e de imagem. Além disso, há 
o aborto terapêutico e o aborto infectado ou séptico 
(BRASIL, 2022). 
AMEAÇA DE ABORTAMENTO 
↠ A ameaça de aborto, ou aborto evitável, diz respeito 
à situação na qual a paciente apresenta sangramento 
vaginal, mas o orifício interno do colo uterino permanece 
impérvio e a vitalidade embrionária está preservada 
(BRASIL, 2022). 
↠ Consiste, fundamentalmente, em hemorragia, que 
traduz anomalia decidual e/ou descolamento do ovo, e 
dor, sinal de contração uterina (MONTENEGRO; FILHO, 
2017). 
↠ Um quarto das mulheres desenvolve sangramento na 
gestação inicial, que pode ser acompanhado por 
desconforto suprapúbico, cólicas moderadas, pressão 
pélvica ou dor lombar persistente (BRASIL, 2022). 
 Na avaliação inicial, deve-se atentar para a necessidade de 
diagnóstico diferencial com gravidez ectópica, seja única ou 
concomitante à presença da gravidez intrauterina, quando é chamada 
de heterotópica (BRASIL, 2022). 
 Ao exame especular pode-se notar 
sangramento ativo e na USG transvaginal é possível notar 
hematoma retroplacentário. A conduta é expectante mesmo 
na presença de hematoma e, prescrição de sintomáticos se 
necessário. É importante orientar a paciente a evitar relações 
sexuais em caso de perda sanguínea e retornar ao serviço de 
saúde em caso de aumento do sangramento (SANARFLLIX). 
 
ABORTAMENTO INEVITÁVEL 
↠ É considerado aborto inevitável aquele em que a 
mulher, além de sangramento vaginal abundante e cólicas 
uterinas, apresenta colo pérvio e não há possibilidade de 
salvar a gravidez (BRASIL, 2022). 
 Nas amenorreias de curta duração em que o ovo é pequeno, o 
processo pode ser confundido com menstruação, diferenciando-se 
dela pela maior quantidade de sangue pela presença de embrião e 
decídua ao exame do material eliminado (MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
 Como o feto ainda não foi expulso da cavidade 
uterina, a conduta é com Misoprostol + curetagem. Além disso, 
é importante internar a paciente para estabilização e cuidados 
com a mesma (SANARFLIX). 
↠ A conduta depende da idade da gravidez. 
(MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
 
 
4 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Abortamento precoce (até 12 semanas) 
↠ Seguimos as recomendações do ACOG (2015), que 
divide as opções do tratamento em: expectante, médico 
ou cirúrgico (MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
• Tratamento expectante: está reservado ao 1º 
trimestre da gestação. Com o tempo adequado (até 
8 semanas) o tratamento expectante é exitoso em 
conseguir a expulsão completa em 
aproximadamente 80% das mulheres. As pacientes 
habitualmente se queixam de sangramento 
moderado/grave e cólicas. Critério comumente 
utilizado para atestar a expulsão completa é a 
ausência de SG e a espessura do endométrio < 30 
mm. 
• Tratamento médico: Para pacientes que querem 
encurtar o tempo da expulsão, mas preferem evitar 
o esvaziamento cirúrgico, o tratamento com o 
misoprostol, um análogo da prostaglandina E1, está 
indicado. O tratamento inicial utiliza 800 μg de 
misoprostol vaginal, podendo ser repetida a dose, se 
necessário. A paciente deve ser aconselhada de que 
o sangramento é mais intenso que o menstrual, 
potencialmente acompanhado de cólicas, e que a 
cirurgia poderá estar indicada se a expulsão não for 
completa. 
• Tratamento cirúrgico: Mulheres que se apresentam 
com hemorragia, instabilidade hemodinâmica ou 
infecção devem ser tratadas urgentemente pelo 
esvaziamento uterino. O esvaziamento cirúrgico 
também tem preferência em outras situações, 
incluindo a presença de complicações médicas, tais 
como anemia grave, desordens da coagulação e 
doença cardiovascular. 
Abortamento tardio (após 12 semanas) 
↠ O ovo está muito desenvolvido, e a cavidade uterina, 
volumosa. Por serem suas paredes finas e moles, o 
esvaziamento instrumental torna-se perigoso. A expulsão 
é acelerada pela administração de ocitocina em grandes 
doses: perfusão venosa de solução de 10 unidades em 
500 mℓ de lactato de Ringer ou misoprostol, por via 
vaginal, 400 μg a cada 4 h. Eliminado o ovo, e se a 
expulsão não foi completa, o remanescente é extraído 
com pinça adequada (MONTENEGRO; FILHO, 2017). 
ABORTAMENTO COMPLETO 
↠ O aborto completo ocorre quando há eliminação 
completa do produto conceptual. A cavidade uterina se 
apresenta vazia após gestação anteriormente 
documentada. A ultrassonografia é o exame que 
demonstra ausência da gestação (BRASIL, 2022). 
↠ A paciente relata história de sangramento importante, 
cólicas e eliminação de tecidos. O orifício interno do colo 
uterino tende a se fechar depois da expulsão completa 
do material intra-uterino (BRASIL, 2022). 
 
ABORTAMENTO INCOMPLETO 
↠ O aborto incompleto é definido pela presença 
intrauterina dos produtos da concepção, após a expulsão 
parcial do tecido gestacional (BRASIL, 2022). 
↠ O diagnóstico ultrassonográfico é difícil e não existe 
consenso quanto aos melhores critérios. Vários estudos 
utilizaram parâmetros de espessura endometrial entre 5 
mm e 25 mm com aspecto hiperecogênico do material 
(BRASIL, 2022). 
 
↠ A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia 
e Obstetrícia (FEBRASGO), em seu Protocolo sobre 
Aborto de 2018, recomenda que a conduta em caso de 
< 12 semanas seja a realização de Misoprostol ou AMIU, 
se > 12 semanas orienta a realização da curetagem. Vale 
5 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
ressaltar, que a paciente deve ser internada para 
estabilização e realização dos procedimentos citados 
(SANARFLIX) 
 O melhor tratamento para o abortamento incompleto é o 
esvaziamento cirúrgico, e nesse particular, a aspiração a vácuo. O 
tratamento expectante não é o mais indicado(MONTENEGRO; FILHO, 
2017). 
ABORTAMENTO RETIDO 
↠ O aborto retido é aquele no qual há ausência de 
batimentos cardíacos fetais ou do embrião (gravidez 
anembrionada), mas não ocorre a expulsão espontânea 
do conteúdo intrauterino (BRASIL, 2022). 
↠ Os produtos da concepção podem permanecer 
retidos por dias ou semanas, com o orifício interno do 
colo uterino impérvio. Classicamente é definido como a 
não eliminação do produto conceptual por um período 
de 30 dias (BRASIL, 2022). 
↠ Inicialmente, a conduta é expectante se o mesmo 
ocorre de forma precoce dentro do 1º trimestre, pois até 
3 semanas após o abortamento o ovo costuma ser 
expulso. No entanto, é possível nesses casos proceder 
com esvaziamento uterino por meio da aspiração manual 
intrauterina (AMIU) ou farmacologicamente com uso do 
Misoprostol. Sendo a retenção maior do que 4 semanas 
é necessário realizar o coagulograma antes de iniciar 
qualquer terapêutica. No abortamento retido tardio (no 2º 
trimestre ou > 12 semanas), a melhor conduta é expulsão 
imediata do feto com uso de Misoprostol e, em seguida, 
complementação com curetagem uterina (SANARFLIX) 
ABORTAMENTO HABITUAL 
↠ O abortamento habitual ou recorrente é definido como 
a perda de duas ou mais gestações. Esse conceito é 
considerado inovador, haja vista que a maioria dos autores 
continua definindo abortamento habitual como a perda de 
três ou mais gestações consecutivas (MONTENEGRO; 
FILHO, 2017). 
 O conceito clássico de aborto espontâneo de 
repetição (AER) é de três ou mais perdas gestacionais 
espontâneas e consecutivas. No entanto, atualmente 
recomenda-se a pesquisa da causa das perdas em casais com 
dois ou mais abortamentos, desde que tenham sido gestações 
clínicas e intrauterinas (ou seja, quando há sinais clínicos ou 
ultrassonográficos de gestação, e não apenas detecção do 
beta-hCG), principalmente quando a mulher tem 35 anos ou 
mais ou tem história de infertilidade prévia (BRASIL, 2022). 
 
ABORTAMENTO SÉPTICO OU INFECTADO 
↠ Esse abortamento resulta da tentativa de esvaziar o 
útero com uso de instrumentos inadequados e técnicas 
inseguras, o que leva a infecções polimicrobianas 
compreendendo microrganismos da flora genital e 
intestinal. Com isso, a anamnese tem uma importância 
ainda maior por ser capaz de identificar o episódio 
causador (SANARFLIX). 
↠ O sangramento costuma ter odor fétido e os demais 
sintomas variam de acordo com o grau e local de 
acometimento: (SANARFLIX). 
• Endométrio e miométrio: cólicas intermitentes, febre 
38ºC, dor à mobilização do colo e à palpação 
abdominal. 
• Peritônio pélvico: febre 39ºC, dor mais intensa, 
comprometimento do estado geral, colo aberto com 
saída de conteúdo purulento, sinais de peritonite que 
difi cultam inclusive a tentativa de mobilização do colo 
uterino. 
↠ O leucograma apresenta perfil de infecção e, na USG 
em alguns casos nota-se abscesso em fundo de saco. O 
tratamento consiste no uso de antibióticos (ATB) e na 
remoção do foco infeccioso. O esquema de ATB que 
deve ser usado é: (SANARFLIX). 
 
↠ Em seguida, realiza-se curetagem para remoção do 
foco infeccioso. Porém, se as medidas acima não forem 
suficientes ou se houver suspeita de perfuração uterina/ 
abscesso pélvico/lesão de alça, deve-se proceder para 
laparotomia seguida de retirada do foco, inclusive 
histerectomia se for o caso (SANARFLIX). 
↠ Recomenda-se profilaxia com antitetânica naqueles 
casos em que para indução do aborto foram utilizados 
instrumentos metálicos ou possivelmente suspeitos de 
levar à infecção com tétano (SANARFLIX). 
 
 
 
6 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
QUADRO CLÍNICO 
↠ No aborto não complicado, a paciente encontra-se 
hemodinamicamente estável e sem evidências de 
infecção. Ocorre redução ou desaparecimento dos 
sintomas gestacionais, como mastalgia, náuseas e vômitos. 
O volume do sangramento varia bastante, e as pacientes 
podem referir eliminação de coágulos ou membranas, 
mas a perda gestacional não pode ser confirmada sem 
outras avaliações, principalmente a ultrassonografia 
transvaginal. As cólicas abdominais podem variar de leves 
a severas, especialmente durante a passagem do tecido 
gestacional (BRASIL, 2022). 
↠ No aborto complicado por hemorragia, a paciente 
apresenta sangramento vaginal maciço com alteração de 
sinais vitais, anemia e taquicardia, levando à necessidade 
de transfusão sanguínea e esvaziamento uterino cirúrgico 
(BRASIL, 2022). 
↠ No aborto complicado por infecção, a paciente pode 
apresentar dor abdominal ou pélvica, sensibilidade uterina, 
secreção purulenta, febre, taquicardia e hipotensão, 
requerendo avaliação e tratamento de emergência 
(BRASIL, 2022). 
DIAGNÓSTICO 
↠ No diagnóstico de aborto, o exame físico e os exames 
laboratoriais são especialmente importantes para 
diferenciar os casos que necessitam de atendimento de 
urgência. O exame especular permite a avaliação do 
sangramento, de sua origem e quantidade, e de sinais de 
infecção. O toque vaginal bimanual permite a 
determinação da dilatação cervical e pode auxiliar na 
estimativa da idade gestacional (BRASIL, 2022). 
↠ Os exames laboratoriais devem incluir o tipo sanguíneo 
ABO e Rh, para que seja possível prevenir a 
aloimunização fetal e no caso de necessidade de 
transfusões sanguíneas. A dosagem da fração beta da 
gonadotrofina coriônica (beta-hCG) está sujeita a 
variações na gravidez, e um exame pode não ser 
suficiente para fazer o diagnóstico de perda gestacional. 
Entretanto, a queda superior a 25% é altamente 
sugestiva de abortamento. Em dosagem única de beta-
hCG, sabe-se que, com valores de 3510 mUI/mL, o saco 
gestacional intrauterino deve ser visualizado (BRASIL, 
2022). 
↠ Os batimentos cardíacos fetais são detectados por 
volta de seis semanas, quando o embrião mede entre 1 
mm e 5 mm, e o diâmetro médio do saco gestacional 
varia de 13 mm a 18 mm. A ultrassonografia transvaginal é 
o exame-padrão para mulheres com complicações na 
gestação inicial. Quando a gravidez foi anteriormente 
identificada, o diagnóstico de aborto é feito pela não 
visualização da gravidez em exame posterior ou pela 
ausência de atividade cardíaca fetal (BRASIL, 2022). 
TRATAMENTO 
↠ A ênfase em cirurgia de urgência migrou para 
tratamento individualizado e escolha da paciente entre 
conduta expectante, medicamentosa ou cirúrgica. Assim, 
devem ser considerados os valores e as preferências da 
mulher para que sejam discutidas as várias opções de 
tratamento (BRASIL, 2022). 
EXPECTANTE 
↠ Consiste em aguardar a eliminação espontânea do 
produto conceptual. As mulheres são geralmente 
orientadas a esperar duas semanas para que o aborto se 
complete, mas a conduta pode ser mantida por mais 
tempo se não houver sinais de infecção (BRASIL, 2022). 
↠ É necessária a observação da paciente a cada uma 
ou duas semanas, até o completo esvaziamento uterino, 
que pode ser confirmado por sinais clínicos e 
ultrassonografia transvaginal (BRASIL, 2022). 
↠ As principais complicações da conduta expectante são 
esvaziamento uterino incompleto, a hemorragia e 
infecção (BRASIL, 2022). 
MEDICAMENTOSA 
↠ A droga mais comumente utilizada é o misoprostol; o 
seu uso a cada seis horas mostra elevada taxa de sucesso. 
No Brasil, o misprostol é uma medicação de uso exclusivo 
hospitalar (BRASIL, 2022). 
 
 
7 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
CIRÚRGICA 
↠ O esvaziamento uterino cirúrgico é a escolha para 
mulheres com sangramento excessivo, instabilidade 
hemodinâmica, sinais de infecção, comorbidades 
cardiovasculares ou hematológicas. No caso de mulheres 
clinicamente estáveis, a cirurgia pode ser oferecida para 
aquelas que preferem resolver o quadro rapidamente ou 
cujo tratamento conservador não foi bem-sucedido. A 
conduta cirúrgica inclui a aspiração manual ou elétrica, 
com ou sem dilatação cervical, e a curetagem uterina 
(BRASIL, 2022). 
↠ A AMIUé realizada por um vácuo manual produzido 
por uma seringa, mas é possível realizar a aspiração a 
vácuo elétrica por meio de uma bomba, técnica esta 
abreviada como AVE (SANARFLIX). 
 Quando o colo encontra-se fechado, recomenda-se o uso de 
Misoprostol 400 mcg, via vaginal, 3 horas antes do procedimento 
como forma de facilitar a realização do mesmo (SANARFLIX). 
 
 
↠ A curetagem consiste inicialmente na dilatação da 
cérvix e uso de uma cureta metálica para raspar as 
paredes do útero. A cureta, por seu material de aço e 
diâmetro variável, pode ocasionar acidentes como 
perfuração uterina. A indicação é para abortamentos 
incompletos do 2º trimestre, com abortamentos retidos 
> 12 semanas e inevitáveis após uso do Misoprostol 
(SANARFLIX). 
LEGISLAÇÃO DO ABORTO 
↠ Vale ressaltar que, no Brasil, o aborto é considerado 
crime salvo em 3 situações específicas: (SANARFLIX). 
• quando a gravidez representa risco de vida para 
a gestante; 
• quando a gravidez é resultado de um estupro; 
• quando o feto for anencéfalo. 
↠ Logo, diante de uma situação de aborto, é importante 
que os profissionais de saúde tenham uma prática 
destituída de julgamentos arbitrários e rotulações 
(SANARFLIX). 
A Lei no 12.845/2013 refere que o atendimento da pessoa em 
situação de violência nos serviços de saúde dispensa a 
apresentação de Boletim de Ocorrência (BO). E, a realização 
de abortamento não se condiciona à decisão judicial que 
sentencie se ocorreu estupro ou violência sexual (SANARFLIX). 
De modo que, a Lei Penal brasileira não exige a apresentação 
de nenhum documento (alvará/autorização judicial, BO etc.) 
para a realização de abortamento em caso de gravidez 
decorrente de violência sexual. Logo, não há sustentação legal 
para que os serviços de saúde neguem o procedimento caso 
a mulher não possa apresentar documentos comprobatórios 
(SANARFLIX). 
 
 
Referências 
CUNNINGHAM, F G. Obstetrícia de Williams. Grupo A, 
2021. 
MONTENEGRO, Carlos Antonio B.; FILHO, Jorge de 
R. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Grupo 
GEN, 2017. 
BRASIL. Manual de gestação de alto risco [recurso 
eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção 
Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. 
– Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 
CARDOSO et al. Aborto no Brasil: o que dizem os dados 
oficiais? Cadernos de Saúde Pública, 2020.

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