Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Testes projetivos e expressivos grá�cos Prof.ª Clara Maria Matuque da Siva Rento Descrição Os testes gráficos expressivos e projetivos, seu histórico, objetivos e principais aplicações, bem como os cuidados éticos para sua integração no contexto da Avaliação Psicológica. Propósito O conhecimento dos testes gráficos, tanto os projetivos como os expressivos, bem como sua ampla gama de utilização no contexto da Avaliação Psicológica, além dos cuidados éticos na utilização dos mesmos, permite o uso consciente, ético e eficiente dessas ferramentas, e dos dados que delas se derivam. Preparação Para melhor compreensão de alguns conceitos que serão apresentados, sugerimos a utilização de algumas resoluções do Conselho Federal de Psicologia, como a Resolução que regulamenta a Avaliação Psicológica e o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI (CFP nº 09/2018), o Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP nº 010/05) e a lei que regulamenta a profissão do psicólogo (Lei 4119/1962). Objetivos Módulo 1 Testes grá�cos e suas aplicações Identificar os tipos de testes psicológicos projetivos, expressivos e gráficos, bem como limites em sua aplicação e regulação. Módulo 2 Teste do Desenho da Figura Humana e teste da Família Reconhecer os objetivos e características do Desenho da Figura Humana (DFH) e do Desenho da Família (DF). Módulo 3 Teste HTP – House, Tree, Person (Casa/Árvore/Pessoa) Reconhecer os objetivos e características do Teste HTP, bem como aspectos de sua utilização e regulação. Módulo 4 O Teste Palográ�co Reconhecer os objetivos e características do Teste Palográfico, bem como aspectos de sua utilização. Introdução Existe no imaginário de muitas pessoas a crença de que o psicólogo, ao olhar para alguém, já seria capaz de analisar sua personalidade e inclusive predizer seu comportamento, além de estar constantemente analisando a realidade ao redor. Entretanto, o psicólogo não possui uma “bola de cristal” e não é um “adivinhador” que somente ao se aproximar de uma pessoa poderia conhecer e decifrar seu mundo interior. No entanto, a partir de recursos técnicos e científicos, podemos investigar e avaliar traços e características referentes a aspectos específicos, tais como inteligência, raciocínio e a personalidade, se fundamentando em evidências empíricas e científicas. Dentre os diversos recursos existentes, temos os chamados de testes psicológicos. Em algum momento de sua vida você já foi submetido a um teste psicológico? Os testes psicológicos são instrumentos padronizados e sistemáticos que visam apreender amostras de comportamentos e, com isso, permitem inferir e predizer o comportamento humano, baseado na situação do teste. Eles são ferramentas de uso frequente e restrito somente ao profissional de psicologia. Ao longo deste material, você poderá compreender alguns tipos de testes psicológicos bem como sua utilização, nos mais diversos contextos, a fim de contribuir para iniciar o caminho de conhecimento do universo da avaliação psicológica e perceber o horizonte de possibilidades que podem ser alcançadas por meio dessa prática profissional em Psicologia. 1 - Testes grá�cos e suas aplicações Ao �nal deste módulo, você estará apto a identi�car os tipos de testes psicológicos projetivos, expressivos e grá�cos, bem como limites em sua aplicação e regulação. A Avaliação Psicológica e os desenhos Para início de conversa, é muito importante ressaltar que os testes psicológicos sempre precisam estar inseridos em um contexto específico de avaliação. É inviável a sua utilização de outra maneira, podendo oferecer, caso não se considere o contexto e outras técnicas psicológicas, um recorte reducionista e enviesado da realidade de uma pessoa. Por isso, o teste sempre precisa estar atrelado aos objetivos presentes em um processo de avaliação psicológica. A Avaliação Psicológica, de acordo com a Resolução 09/2018, resulta de um processo que visa à obtenção, análise e interpretação de informações psicológicas, resultantes de um conjunto de procedimentos confiáveis que permitem avaliar um comportamento (CFP,2018). Portanto, é imprescindível que seja levada em consideração a finalidade de uma investigação, a fim de saber que instrumentos podem vir a ser utilizados. Sendo assim, compreender os tipos de testes que existem torna-se muito relevante para uma avaliação mais adequada e eficaz. Exemplo Existem testes nos quais se é solicitado que a pessoa avaliada faça um desenho, outros nos quais é preciso desenhar uma série de traços dentro de um tempo determinado, e outros em que a pessoa responde a um inventário. Por isso, é importante compreender a tipologia dos testes para saber como, quando e em que situações aplicar. Dentre os mais diversos tipos de testes psicológicos, encontram-se os testes projetivos e expressivos gráficos. Mas de que forma podemos conhecer as características das pessoas por meio de seus desenhos? Para compreendermos melhor esse processo, é importante pensarmos sobre o uso de desenhos e gráficos na história da humanidade. Petróglifos representando dois caçadores montados a cavalo. Provavelmente você já viu aqueles famosos desenhos em cavernas que remontam a milhares de anos e são os primeiros registros das atividades humanas. A arte rupestre começou a ser feita há cerca de 40.000 anos, constituindo-se um registro de inestimável valor. Além disso, essa arte permite que conheçamos um pouco daqueles que nos antecederam na história desse planeta, bem como as vivências dos primeiros representantes da nossa espécie. Desenhar, portanto, foi uma das primeiras formas de comunicação do homem. Uma maneira de contar sua história, representar suas impressões e desafiar o tempo. Uma das primeiras formas do homem expressar sua representação do mundo, dos outros e de si mesmo. Mas o desenho não tem um valor apenas histórico-cultural, ele também é visto como muito importante na busca por compreender melhor os aspectos cognitivos, emocionais e da personalidade das pessoas, sendo uma técnica utilizada e aprimorada na Psicologia ao longo do desenvolvimento desta ciência. De fato, dentro do campo da Psicologia, a análise do desenho permite que possamos perceber a maneira como o inconsciente se revela por meio dos aspectos simbólicos presentes na expressão gráfica. Para Hammer (1991), ao realizar um desenho, o sujeito expõe o seu mundo interno, isto é, suas fantasias mais profundas, seus desejos, impulsos, medos, ansiedades e conflitos. Ao responder a uma técnica projetiva, o sujeito se utiliza do repertório de imagens e vivências registradas em sua experiência e revela as maneiras que desenvolveu para lidar com as situações de vida, exemplificando o modo como usa seus recursos e suas habilidades para enfrentar problemas. Paciente desenhando durante sua sessão de psicoterapia. Vamos, então, entender o quanto um simples desenho pode contribuir para melhor compreensão de diferentes aspectos da pessoa e como, de forma técnica, a análise do desenho humano pode ajudar na compreensão de crianças e adultos na Avaliação Psicológica. Testes grá�cos: aspectos gerais No campo da Psicologia, o desenho pode ser considerado um dos recursos que podem ser utilizados em processos de Avaliação Psicológica, servindo de base para diversos instrumentos devido à sua qualidade informativa, especialmente no que se refere à avaliação da personalidade. A partir da análise do desenho, na avaliação dos traços ou rabiscos, é possível levantar elementos referentes a aspectos do desenvolvimento infantil, tanto cognitivos quanto psicomotores, como também a respeito de características relacionadas à criatividade e estado emocional. Tal possibilidade se deve ao fato de que, a partir da construção e sistematização de normas e padrões, o desenho deixou de ser uma mera expressão para compor escalas, testes e técnicas psicológicas, com diferentes finalidades, sejam elas avaliativas, terapêuticas ou de pesquisa científica, servindode base para diversos instrumentos psicológicos. Os testes que utilizam o desenho como base para avaliação e aquisição de informações são conhecidos como instrumentos gráficos e podem ser avaliados com base em diferentes perspectivas teóricas. De um modo geral, os testes gráficos são aqueles em que a pessoa se utiliza do grafismo para sua execução, tais como desenho, pintura, rabiscos, traçados etc. Em um processo de avaliação psicológica, o teste gráfico pode ser executado de forma não estruturada e espontânea ou por meio de instruções direcionadas de acordo com o tipo de teste a ser realizado (ANASTASI, 2000). Comentário Podemos dizer que existem testes gráficos nos quais é solicitado que sejam realizados desenhos, mas não é especificado como devem ser feitos, ficando a critério de cada pessoa como ela vai desenhar e, com isso, projetar por meio do desenho o seu mundo interior e percepção. Em outros testes gráficos, para sua realização, o examinador solicita uma determinada tarefa, de acordo com um grafismo específico a ser aplicado, onde a pessoa fará traçados ou desenhos seguindo um modelo preestabelecido. Vemos então que existem alguns tipos de testes gráficos diferentes, que podem ser categorizados conforme a forma de execução, como pode ser exemplificado a seguir: Primeiro grupo Caracteriza-se pela cópia de determinados modelos, como no caso dos testes: Bender, Palográfico, Figuras Complexas de Rey. Denomina-se como o completamento de desenhos, linhas ou pontos, como no caso do teste Wartegg (liberado apenas para fins de estudo até o presente momento – desfavorável para aplicações pelo SATEPSI). É composto por aqueles que se baseiam nas realizações gráficas sobre um tema específico proposto ou por desenhos temáticos sem modelo, como, por exemplo, os testes DFH (Desenho da Figura Humana) e o teste HTP (Casa-Árvore- Pessoa). O teste HTP (Casa-Árvore-Pessoa), mencionado no terceiro grupo, refere-se aos Desenhos Livres, nos quais não há um estímulo específico. Além desse conjunto de técnicas gráficas, existem outras que envolvem a realização de traçados simples e a análise da escrita (GOMES, 2015). No Brasil, os instrumentos psicológicos gráficos de maior destaque são o Desenho da Figura Humana (DFH) e o House- Tree-Person (HTP). Atualmente, entre esses, apenas a técnica projetiva gráfica Casa-Árvore-Pessoa – Técnica Projetiva do Desenho (HTP), baseada em Buck (2003) e voltada à avaliação da personalidade, a escala DFH – Escala Sisto (SISTO, 2005), voltada à avaliação da inteligência, e o teste gráfico DFH IV – Avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil (WECHSLER, 2018), apresentam parecer favorável na lista do SATEPSI e estão aprovados para uso pelos psicólogos brasileiros. Contudo, os instrumentos que constam dessa lista devem ser revisados periodicamente. Você pode perceber que nas categorias acima já foram exemplificados alguns testes gráficos que são utilizados e até o momento considerados favoráveis. Para saber qual teste se encontra favorável, no Brasil, você precisa sempre consultar o sistema que regulamenta e fiscaliza os estudos de validação de teste, chamado SATEPSI. O SATEPSI (Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos) foi desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em 2001 e atualmente está regulamentado por meio da Resolução CFP nº 09/2018 (CFP, 2018). O objetivo desse Sistema é o de avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos e testes psicológicos para serem usados na prática profissional do psicólogo e periodicamente os psicólogos brasileiros devem acessar essa plataforma a fim de verificar, de forma regular, os testes que se encontram com parecer favorável para uso. No que se refere aos testes gráficos, além de compreender e buscar verificar quais os instrumentos que se encontram aptos para uso com fins de avaliação, também é importante compreender que os testes gráficos se dividem de forma ampla em expressivos e projetivos. Vamos agora abordar um pouco dessas duas categorias. Segundo grupo Terceiro grupo Testes projetivos grá�cos Profissional fazendo anotações, com testes projetivos na mesa. Os testes projetivos podem ser identificados como um conjunto de ferramentas que visam revelar atributos a respeito de uma pessoa, permitindo a projeção de uma série de informações sobre seu funcionamento mental, como os padrões de funcionamento e características de sua personalidade. De acordo com Villemor (2009), os testes projetivos permitem obter informações complementares sobre a dinâmica de personalidade do avaliado, além de contribuir para revelar traços e problemas dos quais as pessoas não estão plenamente conscientes. Desse modo, um dos contextos em que os testes projetivos são mais utilizados é na avaliação da personalidade, uma vez que permitem verificar traços que muitas vezes não são conscientes e autorrelatados por alguém. Uma pequena curiosidade a respeito do termo projetivo está relacionada ao que Hutz (2018, p. 410) afirma. Segundo este autor, “as respostas das pessoas a determinados estímulos, em determinadas tarefas, trazem uma marca de algo que não se observa diretamente”. E é exatamente essa a ideia que está inserida dentro desse tipo de avaliação. Existem diferentes testes projetivos e cada um apresenta uma demanda específica para a pessoa avaliada. Podemos considerar que os testes projetivos permitem que a pessoa externalize sua própria estrutura e características de personalidade, por meio do desenho ou outro estímulo específico. No contexto da avaliação psicológica, no que se refere à sua aplicabilidade, os testes projetivos gráficos podem ser analisados por meio da atribuição de qualidades às situações ou aos objetos, que podem ser constatadas pelo conteúdo e pela maneira de tratar o tema. Baseados em conceitos psicanalíticos, autores como Machover (1949), Hammer (1991) e Van Kolck (1984), acreditam que a folha em branco favorece a projeção, à medida que serve de estímulo para a produção subjetiva da pessoa. Assim, os desenhos tendem a refletir a configuração geral da personalidade, contendo ansiedades, inseguranças, desejos, necessidades, entre outros aspectos, daquele que desenha, e, com isso, possibilitam a identificação de suas necessidades afetivas e terapêuticas (HUTZ et col. 2018). Desse modo, os autores consideram que a pessoa consegue expor do seu inconsciente a história não dita, projetando no desenho esse significado. Assim, o desenho ‒ como os sonhos, as atitudes e a linguagem – passa a ser fonte de informação do mundo interno da pessoa avaliada. Profissional e paciente conversando sobre desenho. Esse tipo de instrumental é bastante utilizado na avaliação psicológica de crianças e de indivíduos com dificuldade de expressão verbal, mostrando-se importante para a captação de informações. Saiba mais O termo projetivo vem sendo cada vez mais substituído pela nomenclatura “Medidas de Desempenho Típico”, visando cada vez mais diferenciar e categorizar essa forma de teste gráfico. Testes expressivos grá�cos Os testes expressivos gráficos estão relacionados ao estilo peculiar do sujeito, que se revela por meio das qualidades propriamente gráficas, as quais dizem mais respeito à forma. Ou seja, a partir do estilo de resposta da pessoa ao estímulo proposto, podemos inferir as suas características peculiares, facilitando a capacidade da pessoa de expressar sentimentos, emoções e significados associados às suas experiências vividas. Para compreender melhor, vejamos um exemplo. Você conhece alguém que escreve exatamente igual a você? Possivelmente a resposta a essa pergunta seja que sim, mas se prestarmos bastante atenção, até mesmo uma pessoa que escreva semelhante a você tem seu estilo próprio de realizar algum traçado, demonstrando, então, que cada pessoa se expressa de forma particular, embora a tarefa de escrever seja a mesma. Assim, as particularidades da nossa escrita expressam características individuais que, quando estudadas cientificamente,permitem descobrir informações de cada um. Em relação ao traçado, inclusive considerando a força que exercemos no papel, existem diversos estudos que demonstram que essa condição na nossa produção gráfica está fortemente associada a traços da nossa personalidade. De acordo com Hutz (HUTZ apud HAMMER, 2018, p. 435), “os músculos de um indivíduo são honestos”, ou seja, podemos até esconder o que pensamos ou sentimos, entretanto, nosso corpo tende a se expressar de modo a não esconder nossas características. Nesse sentido, podemos dizer que os testes expressivos gráficos possibilitam uma execução mais livre, uma vez que existam tarefas específicas a serem realizadas, e cada pessoa impõe um estilo diferente de responder, convertendo em um resultado particular e, por meio dele, é possível analisar e observar aspectos referentes à personalidade de uma pessoa. Os testes projetivos, os testes projetivos grá�cos e os testes expressivos grá�cos O vídeo a seguir explica e diferencia, com a ajuda de exemplos, os testes projetivos, os testes projetivos gráficos e os testes expressivos gráficos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Quanto aos testes projetivos gráficos, podemos dizer que os mesmos Parabéns! A alternativa A está correta. Os testes projetivos gráficos têm como aspecto importante o estímulo, para que haja a manifestação do inconsciente e de informações não facilmente verbalizadas pelas pessoas. Dessa forma, os testes projetivos gráficos não são facilmente A favorecem que a pessoa projete no desenho seus aspectos inconscientes, favorecendo a aquisição de informações de seu mundo interior. B são facilmente manipuláveis pela desejabilidade social do avaliado. C Se concentram nos aspectos conscientes da pessoa, sobretudo os conflitos perceptíveis na linguagem verbal. D não têm boa capacidade para aquisição de conteúdos inconscientes. E são pouco utilizados com indivíduos que possuem dificuldades no âmbito da expressão verbal. manipuláveis. Sendo muito utilizados especialmente para avaliar pessoas com dificuldade de expressão verbal, como crianças. Questão 2 Qual das resoluções abaixo regulamentou o SATEPSI, Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos do Conselho Federal de Psicologia? Parabéns! A alternativa B está correta. A Resolução 09/2018 regulamenta o SATEPSI, embora o mesmo tenha sido desenvolvido desde 2001. A Resolução 06/2019 B Resolução 09/2018 C Resolução 03/2005 D Resolução 09/2001 E Resolução 06/2001 2 - Teste do Desenho da Figura Humana e teste da Família Ao �nal deste módulo, você estará apto a reconhecer os objetivos e características do Desenho da Figura Humana (DFH) e do Desenho da Família (DF). Aspectos históricos relacionados ao DFH e Desenho da Família Desenhar é uma das primeiras formas de expressão de uma criança, muitas vezes antecedendo a própria escrita e leitura. É uma maneira simples e divertida de se expressar, bem como comunicar, sendo que o desenho da figura humana aparece de forma espontânea e frequente nas atividades infantis. Por isso mesmo, o interesse pela análise e estudo do desenho da figura humana (DFH) feito por crianças se apresenta desde os primórdios da Psicologia como ciência. Corrado Ricci, segundo Wechsler, Martinez e Comparini (2018), foi um dos primeiros a se debruçar sobre o desenho da figura humana feito por crianças, tendo publicado uma coletânea de ilustrações realizadas por crianças de escolas italianas. Ricci se interessou por aspectos estéticos e possíveis contribuições para compreensão do estágio de evolução nos desenhos colhidos. Wechsler e Schelini (2002) citam que Lamprecht, em 1906, também realizou um trabalho importante por meio do estudo do desenho de crianças de diferentes países, buscando encontrar aspectos comuns nos traços dos referidos desenhos. Entretanto, os primeiros estudos sistematizados do desenho da figura humana foram realizados por Florence Goodenough, em 1926. A importância desse estudo foi a busca por uma padronização com o intuito de realizar uma avaliação cognitiva a partir do desenho. Conforme apontam Wechsler, Martinez e Comparini (2018, p. 124): O DFH poderia ser utilizado como uma forma de avaliar o desenvolvimento intelectual de uma criança, uma vez que esse tipo de desenho é familiar a todas as crianças e apresenta, em seus aspectos essenciais, a menor variabilidade possível. (WECHSLER; MARTINEZ; COMPARINI, 2018, p. 124) Aqui, podemos já perceber algo importante. O DFH teve em seu marco de desenvolvimento uma utilização para revelar aspectos cognitivos da criança e não somente a personalidade. Embora o trabalho de Goodenough tenha sido criticado posteriormente, sobretudo pelo fato de que somente um desenho não deveria ser considerado suficiente para a avaliação da inteligência de uma criança, seu pioneirismo é reconhecido como um marco para posteriores desenvolvimentos relacionados à análise do DFH. Entretanto, o DFH não é somente uma forma de avaliação de aspectos cognitivos, sendo seu uso múltiplo. Campos (1986) aponta que a psicologia vê no desenho infantil diversos aspectos, dentre eles: psicopatologia, noção do espaço, papel da forma, motricidade etc. Essa aproximação é confirmada por outros autores que veem no DFH diferentes formas de avaliação. Wechsler, Martinez e Comparini (2018) citam ao menos 4: A primeira seria a avaliação cognitiva. A segunda seria da compreensão do desenho como uma medida projetiva, que revela características da personalidade, tendo como base a teoria psicanalista. A terceira seria utilização do DFH como medida de avaliação emocional. A quarta seria a utilização do DFH como uma medida indicativa de criatividade. Elizabeth Koppitz foi um outro nome importante no campo de estudos do DFH por sistematizar os desenhos, dividindo-os por faixa etária, bem como classificando os itens que aparecem no desenho em comuns, incomuns, esperados e excepcionais (KOPPITZ, 1973). Essa sistematização permitiu avaliar uma criança levando em consideração as características de seu desenho, como os itens que a mesma desenhou, as partes do corpo, mas sem desconsiderar sua faixa etária. Os sistemas de Goodenough e Koppitz foram bastante usados no Brasil. Notem que a avaliação do desenho é algo fruto de estudos e pesquisas criteriosas. Ela não é um olhar sem critério, buscando associar de forma subjetiva e acidental a qualidade do desenho (se é bonito ou não) com a capacidade da criança, mas sim uma busca por uma abordagem científica de tal atividade humana, na qual os desenhos são avaliados dentro de sistemas compreensivos, buscando identificar os aspectos do desenho que apontam características mediante a observação de um grupo (amostra da população) estudado anteriormente. Os sistemas de Koppitz e Goodenough se destacam por serem os primeiros esforços por essa sistematização. Atualmente, o DFH continua sendo uma técnica muito utilizada no Brasil e fora dele, sendo no Brasil o segundo instrumento mais conhecido e utilizado por psicólogos e estudantes. A facilidade para sua execução e o baixo custo contribuem para tal status. O Desenho da Família (DF) também tem um histórico que remonta ao início do século XX. Ortega (1981) afirma que desde a década de 1930 já se utiliza o DF para o estudo da personalidade de crianças no contexto clínico. No entanto, o aumento geral de tal técnica se deu nos anos 1950, ainda que faltasse uma padronização para interpretação do DF. De certa forma, o DF era utilizado principalmente para compreender melhor a dinâmica e conflitos familiares. Visto seu contexto de desenvolvimento, quase todas as crianças tinham uma família que poderia ser chamada tradicional (no sentido de ser comum à época). O Desenho da Família, feito por uma criança. O DF é um teste projetivo que se baseia em três premissas importantes conforme pontua Ortega (1981) citando o trabalho de Monique Morval: Primeira Estabelece que a família possui um papel designificativa importância na constituição da personalidade da pessoa. Segunda Sugere que, pelo DF, é possível avaliar a projeção da criança (de sentimentos e comportamentos) em relação à própria família. Terceira Indica que é possível conhecer essas atitudes e sentimentos, interpretando os signos presentes no Desenho da Família. Ortega descreve a técnica do Desenho da Família proposta por Porot em 1952 (ORTEGA, 1981, p. 74): A instrução consiste em se pedir à criança: "Desenhe sua família", caracterizando dessa maneira a família verdadeira. O material empregado é uma folha de papel e um lápis preto. Para ele, é necessário observar a criança enquanto desenha: anotar a ordem de aparecimento dos personagens, os eventuais retornos, as rasuras, as hesitações etc. Durante e após a execução do desenho, anotam-se os comentários e principalmente a denominação que a criança dá a seus personagens (...) Assim, Porot enfatiza três aspectos na análise do Desenho da Família: a) a composição da família; b) as valorizações e desvalorizações dos diferentes elementos constituintes; c) a situação na qual o sujeito se coloca em relação aos seus. (ORTEGA, 1981, p. 74) Pode-se perceber que a análise do DF é complexa, envolvendo múltiplos fatores e tendo um roteiro importante de ser seguido, sendo que ao longo do tempo tais roteiros foram sendo adaptados e modificados. Posteriormente, houve uma ampliação da técnica para o chamado Desenho Cinético da Família. Essa técnica foi criada por Burns e Kaufman (KLUMPP et al., 2020) na década de 1970. A orientação dada era para que a criança desenhasse a família fazendo algo. Os pontos principais avaliados eram a ação (movimentos individuais entre as figuras desenhadas ou entre estes e objetos), o estilo e os símbolos, havendo uma base psicanalítica para a interpretação dos resultados. DFH e DF na Avaliação Psicológica Como já dito anteriormente, o DFH e, em parte, o DF, avaliam diferentes aspectos da pessoa, sendo que o psicólogo que utiliza essa técnica deve ter claro qual é o seu objetivo na avaliação para, assim, escolher o melhor teste e as melhores padronizações, evitando-se a adoção de testes de forma aleatória. Todos esses critérios permitem adequar a técnica aos objetivos e à pessoa que está sendo avaliada. Desenho feito por criança. O DFH é um tipo de teste particularmente interessante por ser de fácil compreensão para uma criança, mesmo as não alfabetizadas. As diretrizes fáceis permitem inclusive que crianças estrangeiras possam, dependendo do sistema de avaliação, realizar o teste. No contexto da Avaliação Psicológica, o DFH foi utilizado tanto para a avaliação dos aspectos cognitivos como de personalidade, sendo que, nesse segundo caso, várias são as interpretações para as características apresentadas no desenho. Cohen, Swerdlik e Sturman (2014, p. 463) afirmam que o teste do desenho humano é uma prova projetiva da personalidade e, na busca pela interpretação dos resultados, dar-se-á ênfase a fatores como "tempo requerido para completar o desenho, colocação das figuras e tamanho da figura, pressão do lápis usada, simetria, qualidade da linha, sombreamento, a presença de rasuras, expressões faciais, postura, roupas e aparência geral". No Brasil há duas padronizações do DFH reconhecidas pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia): o DFH escala Sisto e o DFH- IV, sendo que ambas avaliam o desenvolvimento cognitivo infantil. Vejamos suas definições: DFH escala Sisto Baseia-se nos sistemas de Goodenough e Koppitz. Seu principal objetivo é a avaliação do desenvolvimento cognitivo não verbal. A pesquisa inicial de Sisto para a padronização do teste compreendeu 2750 crianças com idade entre 5 e 10 anos, de ambos os sexos e de escolas públicas e particulares. DFH-IV Foi desenvolvido por Weschler, estando agora na sua quarta versão. Ele é específico para a população brasileira, baseado em mais de 22 anos de pesquisa, demonstrando ser um teste robusto para a avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil. Embora o DFH e o DF sejam muito utilizados no campo clínico da investigação sobre a personalidade e dinâmicas familiares, existem grandes críticas a essas formas de avaliação. Por exemplo, o sistema de avaliação proposto por Burns e Kaufman para o Desenho Cinético da Família era definido como primário com normatização inadequada. No caso do Brasil, o DFH clínico em adultos e o DFH para avaliação emocional, no momento, encontram-se desfavoráveis para uso segundo o CFP por meio do SATEPSI (2022). De qualquer forma, é sempre importante considerar que a utilização da figura humana na Avaliação Psicológica deve ser acompanhada de outros instrumentos, sejam testes psicológicos, sejam entrevistas que contribuam para corroborar as hipóteses que nascem da interpretação do desenho. DFH E DF: aplicação e interpretação Tendo já apresentado o histórico, os objetivos e as ponderações críticas sobre o DFH e o DF, vamos agora apresentar os aspectos relacionados à aplicação e interpretação do DFH escala Sisto, do DFH-IV, do DFH livre (utilizado na avaliação da personalidade) e do DF. Crianças realizando o DFH escala Sisto coletivamente. O DFH escala Sisto pode ser aplicado em crianças de 5 a 12 anos. Para aplicar o procedimento, o profissional solicita à criança que desenhe uma pessoa com o maior número de detalhes (no manual do teste você encontra detalhada a forma de solicitar o desenho à criança, lembrando que esse procedimento deve ser seguido de forma fiel ao que manual exige). É possível utilizar borracha e, caso a criança rasgue a folha, pode-se dar outra para ela. Esse detalhe é importante, pois pode denotar características específicas da forma como essa criança lida com ela e o meio. É possível aplicar esse teste tanto de forma individual quanto coletivamente, mas, nesse último caso, deve-se atentar para a idade das crianças, podendo ser necessário mais de um aplicador no ambiente para ajudar com alguma dificuldade com o teste ou comportamental das crianças no grupo. Uma vantagem da avaliação individual é que o avaliador pode registrar com mais detalhe todo o comportamento da criança ao longo da produção, não considerando apenas o desenho final. É importante um local adequado. Sobretudo, deve-se observar se não existe a presença de estímulos (como desenhos de pessoas em livros, ou bonecos na sala) que possam ser copiados. Geralmente o tempo de aplicação não supera os 15 minutos. O critério para a avaliação do desenho se divide em duas partes: Itens imprescindíveis Como itens imprescindíveis, temos cabeça, pernas e braços. Itens para pontuação Os itens para pontuação envolvem boca, nariz, roupa, pescoço etc., compreendendo 30 itens. Nesse sentido, por exemplo, um desenho que apresente nariz recebe pontuação em detrimento de um que não apresente. As pontuações permitem chegar a um índice de percentil comparado à idade e sexo da amostra pesquisada. O DFH Sisto é considerado uma medida de inteligência relacionado ao fator g, ou seja, contribui para a avaliação de um índice geral de inteligência. O DFH-IV é utilizado para crianças de 5 a 12 anos, levando entre 20 a 30 minutos para sua execução. É solicitado que a criança faça dois desenhos da figura humana, um de cada sexo. As normas do DFH-IV levam em consideração a idade da criança, o sexo da mesma, o sexo da figura, também considerando as diferentes regiões do Brasil. O DFH-IV leva em consideração também a frequência de aparecimento de itens no desenho, classificando-os em esperados, comuns, incomuns e excepcionais. Foto de desenho com duas figuras humanas. No DF (desenho da família), as instruções são semelhantes às do DFH Escala Sisto, mas pede-se, nesse caso, que a criança desenhe sua família. O uso de borracha é optativo e a criança receberá um lápis e uma folha em branco na posição vertical. Depois do desenho, deve-se inquirir a criança sobre quem é cada figura desenhada e sua idade. A análise deve ser feita levando em consideração cada figurae diferentes aspectos, como se a figura está em negrito, se possui transparências etc. O DF é utilizado tanto no contexto clínico como no psicopedagógico, contribuindo para melhor compreensão de algumas dinâmicas da família, bem como a representação que a criança tem da mesma e seu lugar nesse contexto. Profissional orientando realização do teste DFH. O DFH, utilizado de forma livre, busca compreender aspectos da personalidade do avaliado, sendo utilizado em crianças e adultos. Geralmente, o examinado recebe uma folha e lápis, sendo instruído a desenhar uma pessoa. Após o término do primeiro desenho, lhe é entregue uma nova folha e pedido para desenhar uma pessoa do sexo oposto ao desenhado anteriormente. Perguntas sobre o desenho podem ser feitas pelo avaliador, ajudando na formulação de hipóteses sobre aspectos da personalidade da pessoa avaliada. Geralmente, dar-se-á atenção para a colocação das figuras na folha, entendida por algumas interpretações como o ambiente e como a pessoa se vê no mesmo. Comentário Muitas das interpretações do DFH de forma livre se baseiam em uma perspectiva psicanalista. Como já dissemos anteriormente, tais interpretações geram polarizações na Psicologia, em que alguns psicólogos são a favor e utilizam de forma sistemática enquanto outros são resistentes ao uso da técnica, sendo partidários por outras formas de avaliação. Vale destacar que durante o procedimento de avaliação psicológica, o profissional deve levar em consideração a faixa etária do indivíduo. Vejamos por quê: Crianças Quando avalia crianças, o psicólogo pode optar pelo uso de desenhos num primeiro momento, pois o desenho costuma ser uma atividade familiar para elas. Adultos Já no caso de adultos, os desenhos podem ser utilizados após o uso de outras técnicas, isso porque adultos não se sentem tão confortáveis desenhando como as crianças, pelo contrário. Além de não se sentirem confortáveis para desenhar, os adultos podem ainda apresentar uma certa resistência e uma alta autocrítica, expressando normalmente que não sabem desenhar. DFH E DF: padronizações, aplicação e interpretação Você conhece as padronizações, os princípios básicos de aplicação e principais critérios de avaliação e interpretação? O vídeo a seguir explica cada um desses aspectos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 No que diz respeito ao Desenho da Figura Humana, analise as afirmativas abaixo: I - Desenhar é um ato natural do ser humano, mas difícil para a criança antes de seus 8 anos, sendo necessário certo estágio de desenvolvimento cognitivo para que se possa avaliar o mesmo. II - O Desenho da Figura Humana pode ser utilizado tanto para a avaliação de aspectos cognitivos como da personalidade. III - O Desenho da Figura Humana é um teste psicométrico. É correto o que se afirma em: Parabéns! A alternativa E está correta. A criança desde seus primeiros anos já é capaz de se expressar por meio do desenho. O Desenho da Figura Humana é um teste projetivo. O desenho da figura humana é tanto utilizado na avaliação de aspectos cognitivos como de personalidade. A Somente nas afirmativas I e II. B Somente nas afirmativas II e III. C Somente nas afirmativas III e I. D Somente I. E Somente II. Questão 2 O DFH possui diferentes formas de avaliação, uma delas seria a de características de personalidade. Essa forma de avaliação geralmente está baseada na matriz de pensamento Parabéns! A alternativa D está correta. A matriz de interpretação dos desenhos geralmente tem como base a teoria psicanalista. A humanista. B existencial. C cognitivo-comportamental. D psicanalista. E comportamentalista. 3 - Teste HTP – House, Tree, Person (Casa/Árvore/Pessoa) Ao �nal deste módulo, você estará apto a reconhecer os objetivos e características do Teste HTP, bem como aspectos de sua utilização e regulação. Caracterização e contexto histórico Desenho Casa-Árvore-Pessoa. O HTP (House, Tree, Person), na tradução para o português, Casa-Árvore-Pessoa, é um dos testes mais utilizados no contexto brasileiro para avaliação da personalidade (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018). Trata-se de um teste projetivo que tem como objetivo investigar características e traços de personalidade, externalizando o mundo interior da pessoa por meio do desenho. De acordo com Hutz, Bandeira & Trentini (2018, p. 410), o HTP “visa obter informações acerca da sensibilidade, maturidade e da integração da personalidade do indivíduo, bem como da sua forma de interagir com as pessoas e com o ambiente”. Sendo assim, a premissa é de que o HTP pode contribuir para que, por meio do desenho, a pessoa consiga comunicar situações de sua dinâmica pessoal, características psicológicas e contexto de conflitos vivenciados nos ambientes dos quais faz parte. Por ser um instrumento projetivo, é possível observar indicadores psicológicos não verbalizados pela pessoa, ainda que esta não perceba que está transmitindo tais indicadores, sendo uma expressão da sua realidade psíquica. O HTP também pode ser considerado um instrumento tanto gráfico (uma vez que utiliza do grafismo ‒ desenho ‒ para sua execução), quanto expressivo, caracterizado pelo estilo pessoal do examinado a partir da resposta ao estímulo que é solicitado a ele. O HTP foi criado em 1948 por John N. Buck oriundo da prática clínica, visando inicialmente ao levantamento de elementos para serem trabalhados dentro do processo terapêutico. Atualmente, sua utilização perpassa essa área, podendo ser aplicado em diversos contextos, como avaliação de problemas de aprendizagem, recrutamento e seleção, entre outros. Curiosidade Proveniente da sistematização de pesquisas que estavam sendo realizadas com testes gráficos, o HTP foi elaborado a partir da percepção de que Casa, Árvore e Pessoa seriam conceitos familiares, independentemente da idade e classe socioeconômica da pessoa avaliada. Sendo assim, essas figuras poderiam ser mais facilmente aceitas e desenhadas, representando, a partir do grafismo, o próprio indivíduo. Já a folha de papel representaria o seu contexto de vida e ambiente. A sequência no desenho é justamente pelo fato de que desenhar uma casa acaba sendo mais facilmente aceito por qualquer pessoa, independentemente da idade, e desenhar uma pessoa ou figura humana sempre apresenta uma certa associação com a autoimagem e autopercepção, sendo o desenho em que podemos encontrar maior resistência. Assim, ao pedir o desenho da pessoa no final, o avaliado se encontra mais adaptado à situação de desenhar (RETONDO, 2000). Sendo assim, a partir da produção gráfica, o HTP estimula a projeção de elementos da personalidade de áreas de conflitos que podem estar sendo vivenciadas por uma pessoa, bem como indicadores mentais de capacidades cognitivas, memória e inteligência. Inicialmente o HTP foi idealizado por Buck apenas em sua versão acromática, entretanto, posteriormente, Emmanuel Hammer introduziu o HTP cromático, visando, por meio do uso das cores, investigar a personalidade em um nível mais profundo do que o possibilitado pela versão acromática. No que se refere a marcos históricos do HTP, não existem muitas referências acerca da trajetória do desenvolvimento da técnica. Entretanto, a corrente teórica que muitos autores apresentaram ao longo dos anos por meio de diferentes estudos, foi o conceito de projeção a partir da teoria psicodinâmica da personalidade (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018). O HTP e a Avaliação Psicológica Quando pensamos em utilizar um teste psicológico, antes de mais nada, é necessário compreender a finalidade de cada instrumento e os objetivos da avaliação a ser feita, além de estarmos capacitados para poder interpretar todos os elementos obtidos por meio dos diversos instrumentos utilizados. Outro ponto relevante a ser considerado é o fato de que não existe teste que seja suficiente para ser utilizado de forma isolada numa Avaliação Psicológica. Assim, o HTP não pode ser utilizadocomo um único instrumento em um processo diagnóstico que vise avaliar os aspectos da personalidade de uma pessoa. De acordo com Buck (2003), um erro frequente é o movimento de avaliar os resultados do HTP isoladamente, sem agregar informações adicionais e sem considerar a necessidade de um conhecimento mais profundo sobre o sujeito. A Avaliação Psicológica representa um processo complexo que utiliza diferentes ferramentas para a coleta de informações. Sendo assim, uma recomendação para avaliação da personalidade seria a utilização de diferentes instrumentos (escalas, inventários, testes), a fim de obter maiores dados acerca dos elementos da personalidade, não devendo considerar o HTP como uma ferramenta única em um processo de Avaliação Psicológica. Vejamos agora em quais cenários esse instrumento pode ser utilizado: O processo terapêutico é justamente o contexto originário do HTP. Dentro da prática clínica, a aplicação desse teste torna-se um facilitador para levantar questões referentes à personalidade que não são trazidas à tona pelo paciente durante as sessões, seja por uma dificuldade na comunicação, seja pela vivência de algum conflito e consequente Prática clínica dificuldade em verbalizá-lo, permitindo então que o psicólogo adquira informações importantes a respeito dos aspectos básicos da personalidade, especificamente no que se refere a forças e fraquezas da pessoa e sua interação com o ambiente, a fim de melhor serem identificados e elaborados durante a psicoterapia. De acordo com Buck (2003), o HTP estimula a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito dentro da situação terapêutica e proporciona uma compreensão dinâmica das características e do funcionamento do indivíduo. No contexto jurídico/forense, a utilização desse teste também tem se mostrado relevante, por exemplo, na realização de perícia, em que ocasionalmente existe uma avaliação compulsória (contra a vontade da pessoa), na qual geralmente é esperada uma recusa em verbalizar temas que podem vir a ser prejudiciais para algum interesse particular. De tal forma, a aplicação do HTP favorece o acesso a traços e características da personalidade que podem ser omitidas pelo autorrelato. Outra área em que o HTP vem sendo cada vez mais utilizado é no que se refere à avaliação em caso de suspeita de abuso sexual. Nesse caso, embora não exista um teste específico que confirme se uma pessoa foi vítima de violência sexual, a utilização do HTP permite avaliar elementos que têm demonstrado a possibilidade de identificação de casos de abuso sexual a partir dos desenhos (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018). Lembrando especialmente nesses casos que um único teste não é capaz de responder de forma completa a uma realidade, sendo necessárias outras intervenções. No que diz respeito ao campo organizacional, o HTP é frequentemente utilizado em processos seletivos, possibilitando analisar, a partir da avaliação da personalidade e de forma não verbal, o candidato que melhor se adequa à organização dentre aqueles recrutados, bem como identificar pontos da personalidade do candidato conforme as competências do cargo avaliado. No processo de orientação vocacional, o HTP também se apresenta como um instrumento enriquecedor, uma vez que, ao avaliar características da personalidade do orientando, dentro de outros aspectos, tais como os próprios interesses vocacionais, associado a seu interesse declarado ou descoberto durante a orientação vocacional, possibilita esclarecer possíveis profissões nas quais o candidato se encaixaria de forma mais promissora. De fato, existe um campo muito variado onde o HTP pode ser aplicado, uma vez que, sendo um teste de personalidade, a partir da demanda de cada contexto, ele pode ser inserido a fim de corroborar o processo no qual está destinado a avaliar. Para tanto, além de se compreender onde esse teste pode ser empregado, é de grande importância conhecer e preparar o ambiente e contexto de aplicação, bem como o público para o qual o mesmo é padronizado além da sua interpretação. Contexto jurídico/forense Recrutamento e seleção Orientação vocacional O HTP – processo de aplicação e interpretação Como já vimos, no que se refere ao HTP, podemos considerar que ele é um instrumento versátil, sendo uma ferramenta amplamente utilizada em diversos contextos, como o organizacional, jurídico, clínico, hospitalar, avaliação em contextos escolares, para procedimentos cirúrgicos, aquisição de porte de armas de fogo etc. Essa versatilidade também se deve a dois outros aspectos: poder ser aplicado a partir da faixa etária de 8 anos em diante, ampliando o campo de atuação, e ser um teste de baixo custo. Didaticamente, a administração do HTP é dividida em duas partes, sendo elas: Acromática Na parte acromática (fase obrigatória), o examinador solicita que sejam realizados de forma sequencial os desenhos da casa, árvore e pessoa. De acordo com Buck (2003), essa fase de aplicação é não verbal, criativa e quase completamente não estruturada. Em seguida, após o término do desenho, é conduzido um inquérito com o objetivo de explorar as características e as descrições de cada um dos desenhos. Esse inquérito é guiado por um protocolo de perguntas contidas no manual do teste, sendo uma fase em que o examinando verbaliza sua percepção acerca dos desenhos produzidos. Para a realização do teste na parte acromática, é necessária a utilização de papel A4, lápis preto nº2, borracha e cronômetro. Embora o teste não seja cronometrado, é importante observar o tempo entre o início e fim de cada desenho. Cromática A parte cromática (fase facultativa), segue as mesmas diretrizes da parte acromática, tanto na sequência dos desenhos quanto no inquérito. Entretanto, para aplicação dessa parte, é necessário além das folhas A4 o uso de giz de cera nas cores vermelho, laranja, amarelo, azul, violeta, marrom e preto. Além das cores, também pode ser utilizada a borracha. A fase de interpretação do HTP inicia-se junto com o processo da aplicação, uma vez que, de acordo com Hutz, Bandeira e Trentini (2018, p. 413): A observação do comportamento do indivíduo durante a realização dos desenhos é parte fundamental do processo de aplicação do HTP. Assim, pode-se dizer que a interpretação do HTP, tal qual proposta no manual, é realizada por informações obtidas por uma tríade de fontes: elementos gráficos produzidos pelo indivíduo (desenhos); conteúdo verbal (oriundo do inquérito) e observação (comportamento do indivíduo ao longo da aplicação). (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018, p. 413) De fato, essa tríade de fontes precisa ser levada em consideração no momento da interpretação do HTP, e por ser um teste projetivo, esse instrumento engloba a utilização de estímulos ambíguos. Ou seja, um único estímulo pode gerar diferentes interpretações, possibilitando que a resposta seja livre e personalizada e improvável de saber a maneira como a resposta a esse estímulo será interpretada pelo examinador (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018). Sendo assim, a interpretação do HTP precisa ser realizada a partir de uma análise global do desenho, baseada no protocolo de inquérito e lista de conceitos interpretativos para cada desenho, facilitando a maneira como é corrigido e diminuindo a possibilidade de uma interpretação subjetiva. O protocolo de interpretação se apresenta então como uma tentativa de sistematizar a aplicação e criar critérios para a interpretação dos desenhos, pois, de acordo com o manual, o teste se configura como um recurso útil para a apreensão das características relevantes para a demanda para a qual ele está sendo utilizado. Isso significa que não é possível avaliar traços da personalidade apenas analisando um único desenho, ou um único item. Para Hammer (1991), nenhum item sozinho é capaz de definir qualquer força ou fraqueza do sujeito e poucos itens têm um único significado, por isso nenhum deles pode ser visto isoladamente. Além disso, o processo de interpretaçãodeve estar atrelado com a história de vida da pessoa a ser avaliada e dados oriundos de outras fontes, como, por exemplo, a utilização de outros instrumentos padronizados, dados de entrevistas prévias, considerando sempre a finalidade da avaliação (BUCK, 2003). HTP: processo de aplicação e interpretação A seguir, assista ao vídeo com a explicação sobre a padronização e elementos básicos do processo de aplicação e interpretação do HTP. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 De acordo com o contexto histórico do teste HTP (House-Tree-Person), podemos afirmar que Parabéns! A alternativa B está correta. A o HTP é proveniente da prática clínica e só pode ser utilizado dentro do contexto clínico. B o HTP é proveniente da prática clínica e pode ser utilizado em outros contextos de avaliação psicológica. C o HTP surgiu no contexto da psicologia organizacional, por isso ele pode ser utilizado somente para avaliação de recrutamento e seleção. D o HTP é oriundo do contexto organizacional, podendo ser utilizado para avaliação psicológica em outras áreas. E o HTP é um teste que pode ser utilizado para avaliação da personalidade por vários profissionais, incluindo psicólogos. O HTP foi desenvolvido por J. Buck, proveniente do contexto clínico, visando inicialmente ao levantamento de elementos para serem trabalhados dentro do processo terapêutico, mas depois seu uso foi estendido para outras áreas de atuação, tais como orientação vocacional, recrutamento e seleção, avaliação para porte de arma, cirurgia bariátrica, área da psicologia hospitalar etc. Questão 2 A Resolução 009/2018, no que diz respeito à definição de Avaliação Psicológica, afirma que Parabéns! A alternativa D está correta. A Avaliação Psicológica não é somente aplicação de testes, pois o teste é uma das ferramentas. Assim, a Avaliação Psicológica é realizada por um processo estruturado de investigação composto por instrumentos técnico-científicos, e não pela opinião subjetiva de um profissional. Além do mais, a Avaliação Psicológica é uma atribuição privativa do psicólogo de acordo com a Lei nº 4119/62. Esse processo não determina um futuro, pois trata-se de um processo de investigação e levantamento de dados visando uma tomada de decisão. A a Avaliação Psicológica é o processo de aplicação de testes para uma finalidade específica. B a Avaliação Psicológica é um processo que visa investigar um fenômeno psicológico por meio da opinião do psicólogo. C a Avaliação Psicológica é um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos que pode ser realizado tanto por psicólogos quanto por médicos. D a Avaliação Psicológica é um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão. E a Avaliação Psicológica é um processo que visa determinar quem uma pessoa deve ser. 4 - O teste Palográ�co Ao �nal deste módulo, você estará apto a reconhecer os objetivos e características do teste Palográ�co, bem como aspectos de sua utilização. Contexto histórico e aspectos gerais Em algum momento da sua vida, se você já fez parte de algum processo seletivo ou exame psicotécnico, pode ter se deparado com este teste, conhecido vulgarmente como o famoso “teste dos pauzinhos” ou, como é correto chamá-lo, Palográfico. No Brasil, por exemplo, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2006) apontou o teste Palográfico como o instrumento mais comumente utilizado para avaliação da personalidade dos candidatos a adquirir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), sendo também amplamente utilizado em diversos contextos de avaliação. Curiosidade O teste Palográfico foi desenvolvido na Espanha, pelo psicólogo Salvador E. Milá, e trazido para o contexto brasileiro em 1976 por Agostinho Minicucci, tendo passado por algumas edições até chegar à versão mais atualizada, no ano de 2019, encontrando-se atualmente em sua 3ª edição (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2018). O teste Palográfico é considerado um instrumento expressivo gráfico de avaliação da personalidade, o que significa que, a partir das instruções que o examinado precisa seguir para a execução do teste, é possível observar padrões de comportamento a partir da forma como cada pessoa se expressa dentro de sua individualidade. De acordo com Alves (2019), a proposta teórica do Palográfico está sustentada a partir da relação entre o comportamento expressivo e aspectos grafológicos. Sendo assim, a partir da avaliação do comportamento expressivo, seria possível verificar o estilo de resposta que cada pessoa expressa, visando identificar a relação entre a maneira como cada pessoa se expressa e as características e traços de sua personalidade. Exemplo Pense no seguinte exemplo: você está caminhando na rua e, de repente, se vê diante de um assalto. Um sentimento de medo possivelmente tomará conta de você, e diante dele, a reação de lutar ou fugir pode vir à tona, a fim de se ver livre dessa situação e se manter em segurança. Entretanto, pode ser que você reaja se abaixando, correndo para se esconder, ou até mesmo lutando com o assaltante, algo que em outro momento talvez jamais passasse pela sua cabeça. Essas reações ocorrem de forma involuntária e muito rápida, como se você acionasse o “piloto automático”, mas que de uma certa maneira, já estão presentes em você e, a partir de um estímulo específico, você se expressa e reage de forma particular. De certa maneira, essa expressividade a partir de um estímulo específico é o que o Palográfico vai buscar suscitar na pessoa que está sendo avaliada. Segundo Allport (1974, apud ALVES; ESTEVES, 2019), no Palográfico, o comportamento expressivo é avaliado no transcorrer do teste, iniciando de uma forma mais consciente e adaptativa, para, posteriormente, ser mais espontâneo e abaixo do limiar da consciência. Isso quer dizer que, na fase de treino do Palográfico, são avaliados mais aspectos adaptativos, pois, no início da atividade, a pessoa avaliada vai trabalhar tentando se adequar às instruções recebidas. Entretanto, à medida que o teste continua, vai se tornando uma tarefa mais espontânea, menos controlada e revelando mais aspectos expressivos, que podem ser observados a partir do próprio movimento corporal, da musculatura empregada na execução do teste, em que a pessoa vai expressando a “força do impulso psíquico, que pode se manifestar de diversas formas, como a amplificação do movimento, a aceleração da velocidade, o reforçamento do traço ou a intensificação da pressão sobre o lápis” (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, p. 434). Outro aspecto relevante a respeito do comportamento expressivo seria o de que ele geralmente ocorre de forma espontânea, inconsciente, sendo apenas a forma de expressão de uma pessoa, como, por exemplo, a maneira de gesticular, ou manifestar a alegria ou raiva, ou como sorri. Além disso, o comportamento expressivo se manifesta por meio da resposta corporal. Tal como afirma Hammer (1958 apud HUTZ, 2018), os músculos de um indivíduo não mentem, no sentido de afirmar que pode até ser possível uma pessoa esconder sua opinião, ou o sentimento por alguém, mas o seu corpo, musculatura facial, postura corporal não conseguem esconder da mesma forma. Por isso, os testes expressivos e, de modo particular, o Palográfico, podem contribuir de forma enriquecedora qualquer processo de avaliação psicológica. O teste Palográ�co e a Avaliação Psicológica O Palográfico é um dos instrumentos disponíveis atualmente para os psicólogos em relação à avaliação da personalidade, sendo o mesmo um teste expressivo gráfico. Dito isso, é necessário compreender quais aspectos o teste avalia e em quais contextos ele melhor pode ser utilizado. A tarefa do instrumento, de um modo geral, é a reprodução de traçados simples dentro de uma determinada sequência de tempo, seguindo um estímulo inicial e sendo sua premissa a que cada pessoa execute essatarefa de maneira peculiar, imprimindo, ao realizar o teste, seu estilo individual de resposta, o que possibilita estabelecer uma relação entre os traçados e as suas características de personalidade (ALVES; ESTEVES, 2019). Esse instrumento pode ser utilizado em diversos contextos, entretanto, nas áreas de recrutamento e seleção, avaliação para aquisição de carteira de habilitação e porte de armas, esse teste vem sendo aplicado com mais frequência. Os aspectos que são avaliados por meio do Palográfico correspondem à produtividade, autoconfiança, autoestima, ânimo, humor, relacionamento interpessoal, agressão, organização, impulsividade, aspectos depressivos e outras características. Também avalia o máximo de rendimento e o mínimo de esforço, nível de organização, estabilidade e domínio de si (ALVES; ESTEVES, 2019). Nos contextos de avaliação citados anteriormente, em que são necessários critérios para contratar um candidato, ou para considerar apta uma pessoa a dirigir ou a portar uma arma, os aspectos avaliados no Palográfico podem corroborar para a obtenção de elementos esclarecedores para o psicólogo avaliador. Cabe ressaltar aqui que a avaliação psicológica e o uso de testes são atribuições privativas ao psicólogo, sendo este o profissional qualificado para administrar e interpretar esse instrumento, tomando sempre o cuidado de não divulgar ou emprestar essa ferramenta para profissionais que não sejam psicólogos. Precisamos também estar atentos ao que atualmente vem ocorrendo através das redes sociais no que se refere à aplicação de testes, incluindo o Palográfico: a tentativa de burlá-los. De forma cada vez mais frequente, vem sendo divulgados na Internet vídeos e sites que visam ensinar as pessoas a conhecerem os testes psicológicos para “auxiliá-las” a terem um bom desempenho. Porém, essa prática é totalmente contrária ao que diz o código de ética profissional do psicólogo quando afirma, nos deveres fundamentais do psicólogo, a importância de zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam feitas somente para profissionais da Psicologia (CFP, 2005). Para que você exerça a Psicologia de forma ética e coerente, é necessário levar em consideração o que preconiza esse Código. Precisamos também contribuir para desconstruir a ideia existente no senso comum de que os testes psicológicos reprovam ou aprovam alguém, levando à busca de adquirir um “bom desempenho” nos mesmos. Independentemente da finalidade da avaliação psicológica, o objetivo do teste psicológico não é aprovar ou reprovar ninguém, mas somente identificar, descrever, qualificar e mensurar características psicológicas, por meio de procedimentos sistemáticos de observação e descrição do comportamento humano (CFP, 2018). Comentário Outro ponto relevante para considerar, no que se refere ao Palográfico, é que até o presente momento ele está com parecer favorável para uso de acordo com o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI (o SATEPSI é o sistema que regulamenta e fiscaliza os testes no Brasil). Quando um teste está favorável no SATEPSI para ser utilizado, significa que ele passou por uma série de pesquisas nas quais foram avaliados seus aspectos quantitativos e qualitativos, demonstrando a fidedignidade, validade e rigor nos aspectos que podem ser obtidos por meio da administração e interpretação desse instrumento. Aplicação e interpretação O Palográfico é um teste que pode ser aplicado tanto em adolescentes quanto em adultos, correspondendo à faixa etária dos 16 aos 60 anos, podendo ser aplicado de forma individual ou coletiva. Sendo um teste rápido e de fácil manejo, são necessários para sua execução o manual com as instruções para aplicação, avaliação e interpretação, bem como a folha padronizada de testagem. A execução do teste consiste em reproduzir traços verticais (os chamados “palos” ou, como diz o senso comum, “palitinhos”) de acordo com o modelo previamente impresso na folha de aplicação, devendo ser executado com rapidez e qualidade, buscando imitar o tamanho e a distância entre os traços. Existem duas etapas de aplicação, que são realizadas dentro de um tempo cronometrado. São elas: Treino Na etapa do treino, a duração é de 2 minutos e 30 segundos, divididos por 5 tempos de 30 segundos. Teste Na etapa do teste propriamente, a duração é de 5 minutos, divididos em 5 tempos de 1 minuto. Esse processo consiste em avaliar como funciona o mundo interno da pessoa a partir de uma expressão do traçado, sendo inicialmente uma etapa mais consciente e adaptativa (treino), e logo em seguida, um traçado mais espontâneo (teste propriamente dito), permitindo por meio dessa técnica que o psicólogo identifique as características pessoais da pessoa avaliada (ALVES, 2019). A interpretação do Palográfico apresenta duas etapas, sendo elas quantitativa e qualitativa. A avaliação quantitativa está relacionada com a verificação de aspectos como: ritmo de trabalho, produtividade, distância e tamanho entre os traços, tamanho das margens, inclinação e direção dos traços, e posteriormente esses itens são comparados com uma tabela normativa. Também são verificados na avaliação quantitativa o número de traços realizados (em cada tempo separadamente e no total do teste), assim como a presença de ganchos nos traços (que são indicadores de emotividade e impulsividade). Para a tarefa de avaliar quantitativamente, é necessário, por parte do psicólogo, empenho e dedicação, sendo recomendado medir os traços com uma régua e transferidor, a fim de obter dados fidedignos e precisos. Entretanto, recentemente, existem sistemas para correção automática que visam auxiliar nesse processo. No teste Palográfico, o psicólogo deve usar cronômetro, régua e transferidor. A avaliação qualitativa, por sua vez, visa verificar alguns aspectos, como a pressão empregada no lápis, a qualidade e o tipo do traçado, como é executada a tarefa, se houve algum tipo de correção. Em seguida, os dados da avaliação qualitativa e quantitativa são integrados para fazer uma sondagem de maneira eficaz (ALVES apud HUTZ, 2018). Você percebeu quantos detalhes perpassam a aplicação, correção e interpretação do Palográfico? É muito importante que o psicólogo que vai utilizar esse teste tenha não apenas preparo e conhecimento, mas também experiência para interpretar. O código de ética profissional do psicólogo afirma, no artigo 1º, que é dever fundamental do psicólogo “assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente” (CFP, 2010). Sendo assim, somente quem está devidamente familiarizado com a técnica pode definir as características dos traços e como cada um deles se relaciona com a personalidade do candidato a ser avaliado. Cabe considerar aqui novamente que os testes psicológicos são de uso privativo do psicólogo, de acordo com a Lei nº 4119/62, não devendo ser xerocado e compartilhado com profissionais que não sejam da área de Psicologia. Além disso, significa que as folhas de aplicação do teste devem sempre ser originais. Quantitativa Qualitativa Processo de aplicação e interpretações do Palográ�co Você sabe identificar as diferentes etapas no processo de aplicação e as diferentes avaliações do teste Palográfico? O vídeo a seguir vai te ajudar a entender melhor esses processos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Dentro de um processo de avaliação psicológica, A psicóloga Maria decidiu aplicar o teste Palográfico para candidatos que estavam concorrendo a uma vaga de uma empresa. Entretanto, ela havia acabado de comprar o Palográfico, portanto, nunca o aplicou e não estava preparada. De acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, podemos dizer que a atitude de Maria Parabéns! A alternativa C está correta. A foi correta, pois se ela percebeu que poderia aplicar o teste,o fato de ela não dominar a prática não afetaria em nada o processo de avaliação e interpretação do teste. B foi correta, pois em todo processo seletivo, o teste Palográfico deve ser aplicado, por isso ela não teve outra escolha. C foi errada, pois é dever fundamental do psicólogo assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente. D foi errada, pois ela deveria ter buscado de forma rápida na Internet algum vídeo que ensinasse como burlar o teste Palográfico para já saber aplicar. E foi correta, pois se ela acreditou que poderia ser capaz de aplicar o teste mesmo sem preparo, a opinião do profissional é mais importante do que a busca contínua de capacitação e conhecimento do teste. Embora o teste Palográfico seja utilizado no contexto organizacional, isso não é uma regra prevista em nenhuma resolução até o momento e o psicólogo tem a autonomia para escolher qual instrumento usar. Em adição, o psicólogo não pode ser conivente com nenhum tipo de situação em que a Psicologia seja aviltada, e vídeos que ensinam a burlar o teste são contrários ao código de ética. Questão 2 A respeito do teste Palográfico, avalie as afirmativas a seguir: I - O constructo de normatização é de 16 até 60 anos. II - O constructo de normatização é de 06 até 70 anos. III - O Palográfico é um teste gráfico de personalidade. IV - O Palográfico é um teste gráfico de inteligência. Parabéns! A alternativa A está correta. A idade de aplicação é de 16 até 60 anos, e o Palográfico é um teste de personalidade, podendo ser aplicado de forma individual ou coletiva. Não é um teste com função de aprovação e reprovação, porém é um elemento importante para auxiliar o psicólogo no conhecimento do paciente. A I, III B I, IV C II, III D II, IV E IV apenas Considerações �nais Ao longo deste percurso, foi possível conhecer alguns dos testes gráficos mais usados no Brasil, bem como aprender a identificar e diferenciar os testes projetivos e expressivos gráficos. Além disso, foi possível reconhecer o SATEPSI, órgão que regulamenta e fiscaliza a utilização de testes, apresentando os instrumentos que podem ser usados na avaliação psicológica, atividade restrita ao psicólogo. É importante que os testes psicológicos sempre sejam utilizados, levando-se em consideração a complexidade dos processos de avaliação psicológica, não os considerando individualmente como única fonte de informação. Com isso, esperamos que você continue a descobrir o universo da avaliação psicológica e as inúmeras possibilidades de contextos possíveis onde os testes podem ser inseridos, a fim de contribuir cada vez mais para a eficácia da prática profissional. Podcast Para concluir este estudo, o podcast aborda assuntos como: a caracterização dos testes projetivos expressivos gráficos, a importância do desenho na Avaliação Psicológica, as características, aplicações, procedimentos de administração e interpretação dos testes DFH, HTP, DF, Palográfico e aspectos éticos da profissão. Referências ALVES, I. C. B.; ESTEVES, C. O teste Palográfico na avaliação da personalidade. 3. ed. São Paulo: Vetor Editora, 2019. ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psicológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. BUCK, J. N. H-T-P: Casa-Árvore-Pessoa. Técnica Projetiva de Desenho: Manual e Guia de Interpretação. São Paulo: Vetor, 2003. CAMPOS, D. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade. In: CAMPOS, D. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 98-98. COHEN, R. J.; SWERDLIK, M. E.; STURMAN, E. D. Testagem e Avaliação Psicológica: Introdução a Testes e Medidas. Porto Alegre: AMGH, 2014. GOMES, H. A. R. A aprendizagem cooperativa como ferramenta para a inclusão. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação – Especialização em Educação Especial, Domínio, Cognição e Multideficiência) – Instituto Politécnico de Lisboa, 2015. HAMMER, E. F. (Org.). Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. Rio de Janeiro: Interamericana, 1991. HUTZ, C. S.; BANDEIRA, D. R.; TRENTINI, C. M. Avaliação Psicológica da Inteligência e da Personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2018. KLUMPP, C. F. B.; VILAR, M.; PEREIRA, M.; ANDRADE, M. S. D. Estudos de Fidedignidade para o Desenho da Família Cinética. Avaliação Psicológica, 19(1), 48-55, 2020. KOPPITZ, E. M. El dibujo de la figura humana en los niños. Buenos Aires: Editorial Guadalupe, 1973. LIMA, F. F. de et al. Estudo de ampliação da faixa etária para o teste palográfico. Bol. psicol, São Paulo, v. 67, n. 146, pp. 83-99, jan. 2017. Consultado na Internet em: 10 fev. 2022. ORTEGA, A. C. O Desenho da Família como técnica objetiva de investigação psicológica. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 33, n. 3, p. 73-81, 1981. RETONDO, M. F. Manual prático de avaliação do HTP (Casa-Árvore-Pessoa) e Família. Rio de Janeiro: Casa do Psicólogo, 2000. VILLEMOR-AMARAL, A. E. Métodos projetivos em avaliações compulsórias: indicadores e perfis. In: HUTZ, C. S. (Org.). Avanços e polêmicas em avaliação psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. WECHSLER, S. M.; MARTINE, C. M. B.; COMPARINI, I. P. O Desenho da Figura Humana: Avaliação Cognitiva e Criativa Infantil. In: HUTZ, C. S. et al. (Orgs.). Avaliação psicológica da inteligência e da personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2018. WECHSLER, S.; SCHELINI, P. W. Validade do desenho da figura humana para avaliação cognitiva infantil. Avaliação Psicológica: Interamerican Journal of Psychological Assessment, v. 1, n. 1, p. 29-38, 2002. Explore + Você quer conhecer mais sobre testes psicológicos? Uma dica é assistir a este diálogo promovido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), intitulado Diálogo Digital do CFP discute testes psicológicos, disponível no YouTube. Faça uma busca na Internet para compreender melhor sobre o SATEPSI (Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos), incluindo seu website. Existem algumas resoluções do Conselho Federal de Psicologia que são indispensáveis para o psicólogo que atua no campo da Avaliação Psicológica. A seguir, colocamos uma delas e sugerimos a sua leitura. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº 008/2019. Estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI e revoga as Resoluções nº 002/2003, nº 006/2004 e nº 005/2012 e Notas Técnicas nº 01/2017 e 02/2017. Também recomendamos algumas referências técnicas importantes sobre testes psicológicos: Nota Técnica CFP nº 02/2017 – Orientação de Atualização de Testes Psicológicos. Nota Orientativa sobre uso de testes psicológicos informatizados/computadorizados e/ou de aplicação remota/on-line.
Compartilhar