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CADERNO DE QUESTÕES: DIREITO DE FAMÍLIA FILIAÇÃO 1. Joaquim, de 5 anos, propôs em 2021, representado por sua mãe, uma Ação de Investigação de Paternidade contra Márcio. O juiz aplicou o art. 695 e 696 do CPC. Na audiência, o Réu (Márcio) se recusou a celebrar acordo, pois, em ação anterior, ajuizada em 2019 e definitivamente encerrada, da mesma natureza e mesmas partes, havia sido julgado improcedente o pedido, pois não fora provada a paternidade de Márcio. Na audiência desta segunda ação, o Ministério Público lembrou que naquela ação anterior não havia sido realizado um exame de DNA, já que o Autor não o requerera. O juiz apresentou o mesmo argumento e perguntou ao Réu se não seria o caso de um aceitar um acordo. O Réu, entretanto, se manteve irredutível e recusou todas as propostas de transação, e também não aceitou se submeter a um exame de DNA. Em seguida, no momento processual próprio, o Réu contestou o pedido integralmente. Em sua Contestação, ele arguiu, como preliminar, a coisa julgada constituída na demanda anterior. Em Réplica, o Autor alegou que o Réu, na primeira ação, o Réu não foi submetido a exame de DNA. Após essa Réplica, o juiz abriu prazo para as partes requererem provas. O Réu nada pleiteou; por sua vez, o Autor requereu a produção de prova pericial consistente no exame de DNA das partes e se dispôs a pagar por ele. Em seguida, o juiz entendeu que havia coisa julgada em favor do Réu e, consequentemente, indeferiu o pedido de exame e julgou improcedente o pedido do Autor formulado na inicial, extinguindo o processo. Explique ao Autor o que deve ser feito para que o pedido seja acatado e qual o fundamento desse seu parecer. O STJ entende que a coisa julgada pode ser relativizada caso o processo anterior não tenha sido instruído com um exame de DNA. Isso, segundo o STJ, têm relação com a busca pela verdade e o atendimento aos interesses da criança e seu direito de descobrir quem é seu verdadeiro pai. Assim, com base neste entendimento, é possível a interposição de um recurso de apelação, buscando a reforma da sentença. Como houve recusa do Réu em fazer o exame de DNA, presume-se que ele é o pai da criança (Súmula 301, STJ), de forma que a reforma implicaria em automático reconhecimento da paternidade do Réu e em sua consequente obrigação de prestar alimentos1. 2. A inseminação artificial caseira tem se multiplicado no país. Trata-se de um procedimento de baixo custo, sem nenhum amparo médico e extremamente arriscado, em que o esperma de um doador é introduzido na mulher (às vezes diretamente em seu útero, com um cateter). Maria da Penha e Maria Paula são casadas desde 2018 e queriam ter um filho registrado no nome das duas como mães da criança. Sem dinheiro, recorreram a uma inseminação caseira, o que acabou permitindo que Maria Paula engravidasse e desse à luz em 2022 a uma linda menininha. Ao tentar o registro, o Oficial decide que existe somente uma mãe, que é a ex-gestante e por isso registrará a criança apenas em nome dela (Maria Paula). Inconformadas, procuram você para obrigar o Oficial do Registro a registrar as duas como mães. O que fazer? A inseminação artificial caseira é um procedimento que vem sendo muito adotado, mas que não há qualquer regulamentação que disponha sobre as questões relacionadas à filiação neste caso. No entanto, a jurisprudência vêm se debruçando sobre o tema, e alguns tribunais já reconhecem a possibilidade de se reconhecer a dupla maternidade/paternidade nestes casos, sendo reconhecido o vínculo socioafetivo existente. Assim, é possível o ajuizamento de ação de reconhecimento de maternidade, no caso de Maria da Penha e de Maria Paula2. OBS.: Existe presunção de maternidade para quem gera a criança, razão pela qual o cartório registrou como mãe apenas Maria Paula e é necessário mandamento judicial para o registro da outra mãe. Outro ponto que é importante se atentar é que o STJ ainda não se manifestou sobre o caso. Por isso, também existem jurisprudências contrárias ao reconhecimento da dupla maternidade, as quais se fundam principalmente no fato de que inexiste qualquer regulamentação a respeito da inseminação artificial caseira. 1 MAIS SOBRE A QUESTÃO DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA: https://www.conjur.com.br/2016- ago-24/coisa-julgada-relativizada-nao-houve-exame- dna#:~:text=A%C3%A7%C3%A3o%20de%20paternidade&text=N%C3%A3o%20podem%20ser%20impostos%2 0limites,foi%20feito%20exame%20de%20DNA. 2 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-mg/1824815596 3. Julgue a afirmativa. O STF entende que a paternidade socioafetiva impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica. FALSO. Hoje, o STF defende o conceito de multiparentalidade, de forma que o reconhecimento da paternidade socioafetiva não impede o reconhecimento da paternidade biológica. Neste sentido, a criança teria o nome dos dois pais em seu registro civil, possuindo o estado de filho nos dois casos. Importante, no entanto, se atentar ao fato de que não se admite o reconhecimento da dupla paternidade para fins meramente patrimoniais/sucessórios. 4. Cada um dos itens a seguir apresenta uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada conforme as disposições do Código Civil e da jurisprudência do STJ em relação à proteção da pessoa dos filhos em situações de multiparentalidade. I - O pai biológico de Maria faleceu quando ela tinha apenas doze anos de idade. Dois anos depois, a mãe de Maria passou a viver em união estável com João. Desde então, João tomou para si o exercício da função paterna na vida de Maria, situação plenamente aceita por ela. Por essa razão, João e Maria decidiram tornar jurídica a situação fática então existente, para ser reconhecida a paternidade socioafetiva dele mediante sua inclusão no registro civil dela, sem exclusão do pai biológico falecido. Nessa situação hipotética, reconhecida a multiparentalidade em razão da ligação afetiva entre enteada e padrasto, Maria terá direitos patrimoniais e sucessórios em relação tanto ao pai falecido quanto a João. II - Regina namorava publicamente Adão e outros rapazes quando engravidou. Dois meses depois do nascimento de Felipe, fruto dessa gravidez, Adão o registrou e passou a tratá-lo publicamente como filho. Todavia, com dúvidas acerca da paternidade, Adão fez, extrajudicialmente, um exame de DNA e constatou que Felipe não era seu filho biológico. Nessa situação hipotética, a divergência entre a paternidade biológica e a declarada no registro de nascimento é suficiente para que Adão possa pleitear judicialmente a anulação do ato registral, mesmo configurada a paternidade socioafetiva. III - Daniel e Jonas convivem em união estável homoafetiva e resolveram ter um filho. Procuraram, então, uma clínica de fertilização na companhia de Marta, irmã de Jonas, para um programa de inseminação artificial. Daniel e Marta se submeteram ao ciclo de reprodução assistida, dando origem a Letícia. Marta foi somente a chamada barriga solidária. Nessa situação hipotética, o registro civil de Letícia deverá ser realizado pelo cartório, independentemente de prévia autorização judicial. IV - Quando Eva se casou com Ivo, já era mãe de Elias, fruto de um relacionamento anterior. Embora Elias seja filho biológico e registral de outro homem, perante a sociedade, o trabalho, os amigos e a escola, Ivo sempre o apresenta como seu filho, sem qualquer distinção. Nessa situação hipotética, depois do falecimento de Ivo, Elias poderá obter judicialmente o reconhecimento de Ivo como seu pai socioafetivo, incluindo-o no seu registro civil, sem a exclusão do pai biológico. Quais situações estão corretas? I - A primeira situação está correta. Em caso de falecimento de ambos os pais, uma vez que inexiste diferenciaçãoentre os filhos, Maria terá direito ao quinhão tanto do pai biológico quanto do pai socioafetivo. Na multiparentalidade deve ser reconhecida a equivalência de tratamento e de efeitos jurídicos entre as paternidades biológica e socioafetiva. O mesmo funcionaria caso a criança falecesse. Uma vez reconhecida a multiparentalidade, se o descendente morrer, a herança será dividida em tantas linhas quanto sejam os genitores. A única hipótese em que não se poderiam obter benefícios sucessórios é no cenário em que o filho, de má-fé, busca o reconhecimento da paternidade apenas para fins de herança, o que obviamente não é o caso. II - A segunda situação está errada. Uma vez configurada a paternidade socioafetiva, o registro está correto e não poderá o genitor anular o registro, sobretudo porque era de conhecimento público o fato de que a mãe namorava outros rapazes. No mais, o exame negativo de paternidade, por si só, não é o bastante para desconstituir a paternidade socioafetiva. Sobre este ponto, importante ressaltar que ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade de registro. Isso ocorre porque o registro possui fé pública e consolida o estado de filiação. Isso não exclui, no entanto, o direito de o pai biológico reconhecer o filho, hipótese em que se configura a multiparentalidade. III - Segundo entendimento do STJ, é possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição3. No mais, a Resolução do CFM 2.168/2017 autoriza a cessão temporária de útero desde que exista empecilho da gestação ou se trate de união homoafetiva 3 INFORMATIVO STJ: https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=heterologa&operador=e&b=I NFJ&thesaurus=JURIDICO OU https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/0765933456f074d2c75bbbad63af95e6 https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=heterologa&operador=e&b=INFJ&thesaurus=JURIDICO https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=heterologa&operador=e&b=INFJ&thesaurus=JURIDICO ou pessoa solteira, devendo a cedente temporária pertencer à família de um dos parceiros, até o quarto grau (lembrando aqui: primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima) e não tenha qualquer caráter comercial (Ainda é proibida a barriga de aluguel. Neste caso, apenas a mãe biológica deve constar no registro da criança). IV - Sim. Trata-se de hipótese de multiparentalidade, aceita pela jurisprudência brasileira. A paternidade socioafetiva, inclusive, pode ser reconhecida após a morte. 5. Camila comparece ao seu escritório na intenção de elaborar um contrato de “barriga de aluguel”, onde vai ser a gestante do filho de Joana, amiga de sua prima. Camila diz que aceita realizar o ato sob a condição d e contraprestação de R$ 15.000,00, o que é aceito por Joana. Você como advogado de Camila, como procederia com o contrato? Eu não faria o contrato, uma vez que não condiz com as normas do direito brasileiro. A barriga de aluguel não é aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro. O que pode ser feito, na verdade, é a barriga solidária, a qual não necessita de qualquer contraprestação em dinheiro e já está regulamentada por resoluções do CFM, apenas sendo possível nos casos em que há sérias dificuldades com relação à gravidez ou nos casos de homoafetividade. In casu, a barriga de Camila ainda poderia ser emprestada, mas não poderia pedir qualquer contraprestação em troca. No mais, importante ressaltar que, para que o contrato seja válido, o objeto do mesmo deve ser lícito. Sob essa perspectiva, o contrato que tenha a barriga de aluguel como objeto, nos termos pretendidos por Camila, é inválido. 6. João comparece ao seu escritório informando que descobriu ser o genitor de Caio, hoje com 4 anos de idade. João teve relacionamento amoroso com Carla, genitora de Caio a aproximadamente 4 anos atrás, porém esta acreditou que seria filho de Daniel, seu atual companheiro. João realizou exame de DNA e confirmou que é pai de Caio, então João lhe procura com o objetivo de reconhecer Caio como filho e afastar a paternidade de Daniel, tendo em vista que este não é pai biológico. Você, como advogado de João, como o orientaria? O pai biológico da criança tem o direito de ter seu filho reconhecido como tal. Dessa forma, uma vez possuindo fundadas razões para acreditar que a Caio é seu filho, João pode propor uma ação de investigação de paternidade, com este objetivo. No entanto, para a exclusão de Daniel do registro de Caio, o procedimento seria bem mais complexo. Isso porque, segundo o entendimento do STJ, a paternidade socioafetiva também deve constar no assentamento registral da criança (multiparentalidade). No mais, o registro apenas pode ser contestado caso seja comprovado o erro ou a fraude, o que não é o caso dos autos, uma vez que Carla acreditava que Caio era filho de Daniel. Dessa forma, a única maneira de se excluir dos registros a paternidade de Daniel seria comprovando a inexistência de paternidade socioafetiva, sendo uma hipótese de anulação aceita pelo STJ4. A ação a ser ajuizada, neste caso, é ação de reconhecimento de paternidade cumulada com anulação de registro de nascimento. 7. Camila e Caio é um casal que sonha em ter filhos, entretanto, devido a problemas de saúde, ela é incapaz de engravidar. Então o casal procura uma clínica especializada em reprodução assistida e questiona se é possível outra mulher gestar e a criança obter o DNA deles. Você como atendente da clínica, como os orientaria? O CFM prevê a possibilidade de gestação por meio de barriga solidária, hipótese em que os pais podem pedir para que um parente de até quarto grau faça a gestação da criança. Neste caso, não há óbice, portanto, à pretensão do casal, desde que ambos estejam de acordo e desde que sejam os requisitos estabelecidos pelo CFM seguidos. Trata-se, in casu, de inseminação artificial homóloga, prevista pelo CC como possível e como geradora de presunção da paternidade do pai caso este concorde com o procedimento. No caso da mãe, não haverá presunção, uma vez que a gestação foi feita por outra pessoa, mas o ordenamento jurídico brasileiro permite que, por meio de uma declaração da clínica responsável, seja a criança registrada em nome da mãe biológica, devendo ser comprovado em cartório a realização do procedimento e a adoção da barriga solidária. 8. José comparece ao seu escritório dizendo que descobriu que seu filho Caio de 10 meses com Joana na realidade não é seu, e sim de Diego, que mantinha um relacionamento extraconjugal com Joana. José pretende afastar a paternidade, retirando seu nome na certidão da criança, alegando que foi induzido a erro ao registrar um filho que não é seu. Como advogado de José, como o orientaria? José terá direito ao ajuizamento de ação negatória de paternidade cumulada com pedido de anulação do registro civil, hipótese em que seria afastada a paternidade registral. No entanto, é preciso que José comprove, além do fato de que Caio não é seu filho, o fato de que inexiste qualquer vínculo socioafetivo entre os dois. Isso porque, uma vez permitido o reconhecimento da paternidade socioafetiva, apenas o erro não é capaz de fazer nulo o ato registral. Assim, eu orientaria José no sentido de ajuizar a ação negatória de paternidade, bem como produzir provas no sentido de que inexiste vínculo afetivo com a criança. Neste ponto, ressalta-se que o STJ reconhece a possibilidade de reconhecimento concomitante da paternidade biológica e da paternidade socioafetiva, de maneira que seria possível a manutenção do registro dosdois pais. Outro ponto importante neste caso é que a paternidade do marido será presumida. Então apenas com prova de que o filho realmente não é dele poderá José deixar de ser considerado pai da criança. 9. Joana teve seu primeiro filho João recentemente, por mais que saiba quem é o pai, Daniel, se recusa a reconhecer voluntariamente a criança. Joana comparece ao seu escritório com o questionamento de como deve proceder para que seu filho tenha o nome 4 FONTE: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/17112021-Vicio-de-consentimento- e-ausencia-de-relacao-socioafetiva-autorizam-anulacao-do-registro-de-paternidade.aspx de seu genitor na certidão de nascimento. Você como advogado (a), como orientaria sua cliente? Nesta hipótese, Joana deve propor uma ação de investigação de paternidade, com o fim de comprovar a paternidade de Daniel, estando resguardados os seus direitos no que tange aos alimentos. 10. Joana comparece sozinha ao cartório de registro civil para registrar seu filho portando apenas seus documentos. Ela não é casada e busca registrar a criança em seu nome e no nome do genitor. Você como oficial do cartório, procederia com o registro da criança? Justifique. Não. In casu, a mulher apenas pode registrar a criança sozinha em cartório caso seja casada, uma vez que, neste caso, existe a presunção da paternidade do marido, bastando a apresentação da certidão de casamento. Quando a mulher é solteira, ela não pode registrar sozinha a criança, uma vez que não se presume paternidade. Isso apenas poderia ocorrer mediante instrumento público, com reconhecimento de firma, por meio do qual o pai reconhece a criança e permite o registro da mesma. Fora deste cenário, é necessário que a mãe esteja acompanhada do pai da criança, ou busque meios judiciais para a investigação da paternidade. 11. Leonardo e Paula tiveram um relacionamento amoroso passageiro. Em 2004, Paula descobriu estar grávida e comunicou a Leonardo. Diante da fragilidade emocional de Paula, Leonardo resolveu ir morar com ela. Após o nascimento, convencido por Paula de que a criança era sua filha, Leonardo realizou o registro declarando a paternidade. No entanto, passado um ano após o nascimento, Leonardo, não aguentando os ataques de ciúmes de Paula, resolve sair de casa. Comunicada-a decisão, Paula afirma que a criança não era sua filha, mas sim, de outro homem. Leonardo, então, propõem em 2008 ação anulatória de declaração de paternidade, apresentando como provas: a) a confissão da mãe; b) o fato de não ter vínculo afetivo com a criança desde que saiu de casa; e c) que foi emocionalmente coagido pela mãe da criança a reconhecer a paternidade. Ante a tudo isso, a paternidade pode ser desconstituída? A paternidade pode ser desconstituída sob a comprovação através da ação de anulação de registro civil, devido a erro substancial quanto a pessoa. somente a confissão da mãe não é prova o suficiente. Tendo sido comprovada a ausência de vínculo socioafetivo, tendo em vista que ele conviveu com a criança por apenas um ano, logo ele tem pressupostos legítimos para ser desconstituída a paternidade. 12. Joana tem 15 anos e comparece ao seu escritório dizendo que seu pai está tentando reconhecê-la como filha. Ocorre que por diversos motivos ela não quer ser reconhecida por ele. Você como advogado como orientaria sua cliente? Há possibilidade de Joana negar esse reconhecimento? Justifique. Joana pode impugnar o reconhecimento, nos termos do art. 1.614, do CC, dentro dos quatros anos que sucederam sua maioridade ou antes. OBS.: Não é possível a impugnação da paternidade quando a criança ainda não atingiu a maioridade, pois a manifestação de discordância é personalíssima, não podendo ser substituída pela manifestação do representante5. 13. Alfredo namorava Raquel e durante o relacionamento nasceu Fernando. Alfredo acreditou que Fernando era seu filho então procedeu com o registro da criança. Três anos depois o relacionamento chegou ao fim e Raquel confessou que mantinha relacionamento extraconjugal com Diego, afirmando que este é pai de Fernando. Então Diego ingressou com uma ação de investigação de paternidade cumulado com pedido de alteração no registro civil para retirar o sobrenome de Alfredo na certidão de Fernando. Logo quando chega a carta de citação na casa de Alfredo, ele te procura desesperado para saber como deve proceder, tendo em vista que por mais que não haja vínculo biológico, ama a criança como fosse seu filho, afinal acompanhou a gravidez e fez papel de pai por três anos, não desejando “perder” seu filho. Você como advogado de Alfredo, como o aconselharia? Neste caso, ante a existência de paternidade socioafetiva, é possível manter o registro de Alfredo na identificação civil da criança. Dessa forma, deve Alfredo contestar a ação proposta, suscitando a existência de paternidade socioafetiva e impugnando o pedido de alteração no registro civil. Nada obsta, no entanto, a existência de ambos os pais no registro da criança. 14. Caio reside no Rio de Janeiro e comparece ao cartório de registro civil das pessoas naturais de sua cidade com o objetivo de dar início ao procedimento para indicação de seu suposto pai, residente em São Paulo. No decorrer da conversa com o oficial do cartório, Caio diz que ajuizou ação de investigação de paternidade, porém quer gozar das facilidades do provimento 16/2012 do CNJ, pois acredita que será mais rápido que o processo judicial. Você, como oficial do cartório de registro civil, como orientaria Caio? Neste caso, Caio precisa que o seu suposto pai concorde com a paternidade e faça o reconhecimento voluntário, algo que é requisito para que seja o Provimento indicado utilizado. 15. Caio ajuizou ação de investigação de paternidade contra seu suposto pai, que nega reconhecê-lo de forma voluntária. Entretanto, Caio também gostaria de ser reconhecido como filho socioafetivo de João, que o criou desde a infância. Então comparece ao cartório de registro civil das pessoas naturais para dar início ao procedimento do provimento 63/2017 do CNJ. Você, como oficial do cartório, procederia com o pedido de Caio? 5 https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2798839/Sarnir_Jose_Caetano_Martins.pdf Sim, desde que sejam seguidos os requisitos previstos pelo Provimento n. 83 do CNJ, bem como seja o reconhecimento feito de forma voluntária e com o consentimento do pai6. Isso pode ocorrer em razão do entendimento do STJ de que existe a possibilidade de reconhecimento do pai biológico e do pai socioafetivo ao mesmo tempo no registro do filho (multiparentalidade). 16. Maurício, 35 anos, é filho de Mauro e Emília. Ou, ao menos, era o que Maurício pensava até o mês passado, quando, após ter ajudado sua filha com a tarefa escolar, percebeu que a sua característica de queixo partido só era possível se sua mãe ou seu pai também a possuíssem. No entanto, Mauro nem Emília a possuem. Há duas semanas, aproveitando uma reunião familiar, reparou nos queixos de seus irmãos e percebeu que eram semelhantes aos de seus pais. Ao final da festa, perguntou aos pais se havia sido adotado, e, apesar de encontrar resistência, descobriu que era fruto de uma relação de uma noite de sua mãe, anterior ao casamento com seu pai, mas que, apesar disso, havia sido e sempre seria considerado filho de Mauro, afinal, este registrara-o e o criara. Maurício te procura para saber se é possível descobrir e ser reconhecida sua filiação biológica sem que deixe de constar em seu registro Mauro como seu pai. O que você aconselharia a Maurício? Sim, é possível, pois o STJ reconhece a possibilidade de multiparentalidade. 17. Fabiana, 55 anos, procura você, advogado especialista em Direito de Família, para uma consulta, pois acha não ser filha biológica de sua mãe.Sempre que tenta tocar no assunto, a mãe se recusa a conversar. O pai, morto há anos, nunca mencionou o assunto. Fabiana tinha dois irmãos que costumavam dizer que a tinham achado abandonada em uma lixeira, no fundo do quintal, quando era bebê, e, por terem ficado com dó da criança, pediram aos pais para a criarem. Fabiana deseja saber sua origem biológica, mas não deseja envolver a sua mãe em processo judicial, uma vez que está bem doente e ficaria chateada com o assunto. O que você recomendaria à sua cliente? Explique fundamentadamente É impossível o ajuizamento de ação para investigação da maternidade sem que sua mãe socioafetiva figure no polo passivo da demanda, uma vez que é seu nome que consta no registro. 18. Marcela, de 1 ano, foi registrada apenas por sua mãe, Naira. Sua mãe teve relações com Marcos no período em que engravidou e este não quis assumir a paternidade. Marcela, representada por Naira, ingressa com ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos em face de Marcos. Para provar a filiação, pediu apenas perícia médica com o exame de DNA. O réu recusou-se a fazer o exame. Naira, sua cliente, desesperada, liga para seu escritório pedindo explicações sobre os próximos passos a serem tomados no processo. Como você a aconselharia? 6 REQUISITOS: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/reconhecimento-extrajudicial-da-filiacao- socioafetiva/1424464502 Aconselharia Naira a esperar a sentença. Uma vez que recusou a realização do procedimento de exame, será presumida a paternidade de Marcos (Súmula 311, STJ). 19. Ronaldo (24 anos), filho de Ivani (mãe biológica) e Marcelo (pai biológico), foi criado por sua mãe e por seu segundo marido Domingos. Em seu registro de nascimento, consta como seu pai, Marcelo. Ronaldo te procura para saber se pode entrar com ação de investigação de paternidade em face de Domingos, seu pai de criação. Como você o aconselharia? Sim. Possibilidade de reconhecimento multiparental de pai socioafetivo, devendo, neste caso, ser comprovada a posse do estado de filho. 20. Mariana, funcionária pública, de 35 anos, passa por um procedimento de reprodução assistida em uma clínica bastante conceituada, utilizando, para tanto, material genético próprio e do seu marido. Após o nascimento de sua filha Carolina, percebe que a criança não possui nenhuma característica compatível com o seu fenótipo, razão pela qual realiza um exame de DNA e descobre que a criança não é filha biológica do casal. Sabendo que Mariana não criou qualquer vínculo com a criança, qual ação ela poderia propor para que a filiação fosse desconstituída? Neste caso, poderia ser proposta ação negatória de paternidade ou maternidade, com o fim de desconstituir a filiação e afastar a presunção existente (fora a ação indenizatória contra a clínica responsável). 21. Isabela casou-se com Eduardo, tendo o casal tido 3 filhos. Após 10 anos de casamento, descobrem que são irmãos unilaterais, incidindo em uma das hipóteses de nulidade do casamento, conforme disposto no artigo 1.521, inciso IV, do Código Civil. Diante dessa descoberta e da nulidade do casamento, pode-se alegar que a filiação em razão dos filhos do casal será, também, nula? Fundamente sua resposta. A filiação não será considerada nula, nos termos do art. 1.617 do CC. O casamento, no entanto, o será. 22. Bettina tinha um namorado chamado Bruno. Após 1 ano de relacionamento ficou grávida. Ao contar sobre a gravidez, o seu namorado achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”, não deixando paradeiro conhecido. Três meses depois, Carla decide se reconciliar com Felipe, seu antigo noivo, que promete à amada que irá se casar com ela e “assumir” o nascituro Benjamin. Benjamin foi criado e educado por Felipe com todo amor e carinho e, perante a família e amigos, Benjamin é conhecido como filho de Felipe, sendo poucos os que sabem que não existe vínculo biológico entre eles. Quando o rapaz completou 21 anos, Bettina decide contar a ele que Felipe não é seu pai biológico, mas sim Bruno, narrando toda a história vivenciada. Benjamin procura você, advogado especialista em Direito de Família, explica a situação, afirma que deseja ser reconhecido como filho de Bruno, ter todos os direitos inerentes a essa condição, mas, ao mesmo tempo, ama muito Felipe e não quer deixar de ser seu filho. O pedido pretendido por Benjamin encontra respaldo jurídico n o direito civil brasileiro? É possível o reconhecimento da multiparentalidade? Sim. Questões de multiparentalidade. 23. Camila é uma recém empossada no cartório de registro civil de pessoas naturais e recebe Bento que quer reconhecer a paternidade socioafetiva do filho de sua companheira Maria, pela via extrajudicial. A registradora verifica que não há provas suficientes sobre a posse do estado de filho, capaz de conceder o pedido. Diante desse fato, qual providência Camila deve adotar? Para o reconhecimento da paternidade socioafetiva, é preciso que seja comprovada a posse do estado de filho. Dessa forma, Camila deve orientar Bento a apresentar essas comprovações, sem as quais não é possível a formalização do registro. Caso não sejam as comprovações apresentadas, o caso deve ser levado ao Poder Judiciário. 24. Paulo e Gabriela estão casados há 10 anos e não conseguem engravidar de forma natural, razão pela qual pretendem utilizar uma das técnicas de reprodução assistida. Como são leigos no assunto, vão até escritório de advocacia e questionam quais orientações deverão seguir para que haja a presunção de paternidade? O Código Civil prevê a possibilidade de presunção de paternidade nos casos de reprodução assistida, nos termos do art. 1. 597. Cada caso, no entanto, será diferente. Caso o casal opte pela reprodução artificial homóloga, a presunção ocorre automaticamente, podendo apenas ser afastada caso comprovado o erro. Já nos casos em que se opta pela inseminação artificial heteróloga, apenas se presume a paternidade caso o marido tenha consentido com o procedimento. 25. Um casal se utiliza da técnica de reprodução assistida. Contudo, em razão da estimulação hormonal, o casal conseguiu 8 embriões, sendo que apenas 2 foram implantados, gerando a gravidez de uma única criança. Após 3 anos, eles pretendem utilizar mais 4 embriões, no intuito de terem gêmeos. Diante dessa narrativa, pergunta- se: a) O que se entende por embriões excedentários? São embriões cuja fecundação se deu fora do útero da mãe biológica, como ocorre na fertilização in vitro. b) Haverá a necessidade de novo consentimento para que os embriões sejam implantados no útero da mulher? Sim, pois não se sabe se o casal ainda estará junto no momento da nova implantação. Neste caso, o pai deverá consentir para que incida a presunção da paternidade. 26. Benjamin autorizou em 2015 que sua companheira Beatriz realizasse uma inseminação artificial heteróloga, ante a incompatibilidade que o casal possuía. Passados 10 (dez) anos, Benjamin pretende afastar a presunção de paternidade sob a alegação de que o casal se separou e que o seu filho, Carlos, não possui o mesmo material genético que ele. Assiste razão a Benjamim? Fundamente sua resposta. Não. Uma vez consentindo com a realização do procedimento, incide a presunção de paternidade. Lembrando que, passados 10 anos, provavelmente a criança já nasceu e já possui registro de nascimento, o qual apenas poderá ser modificado se comprovado o erro ou a fraude, o que logicamente não é o caso. Dessa forma, não conseguirá Benjamim afastar a presunção. 27. Henrique foi concebido através da técnica de inseminação artificial heteróloga, sendo que os seus pais escolheram o material genético masculino e feminino em um banco de dados de uma clínica de reprodução assistida. Ocorre que Henrique foi diagnosticado comleucemia e quer saber sua origem genética para que tenha maiores chances no transplante de medula. Quais devem ser os fundamentos jurídicos para que Henrique descubra sua origem genética e a clínica de reprodução ofereça a identidade do seu doador? Os fundamentos legais para essa demanda devem ser pautados na necessidade de conhecimento da origem genética, o que está previsto pelo art. 227, caput e §6º, da CF, bem como nos artigos 27 e 42, do ECRIAD. Neste caso, o fato de a doação ser anônima não poderia (ao meu ver) ser motivo para negar a Henrique o conhecimento de sua genética, uma vez que se trata de situação excepcional, na qual deve se priorizar a vida e as chances de cura do mesmo. Isso apenas ocorreria, no entanto, por meio de ação judicial (exibição de documentos, talvez), que obrigue a clínica a apresentar a documentação dos pais biológicos de Henrique. 28. Camila, casada há 8 anos, tentou todos o s métodos disponíveis na medicina para engravidar. Contudo, nunca conseguiu levar a termo. Sabendo da existência de uma Resolução do CFM que trata sobre a barriga de aluguel, procura um advogado para descobrir se sua amiga poderá gerar o seu filho. Diante dessa narrativa e conforme a Resolução do CFM, qual resposta você daria a Camila? Sim, poderá, desde que tenha autorização prévia do CFM e desde que não tenha nenhuma relação econômica vinculada à obtenção da barriga solidária.
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