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PROJETO DE COMPONENTES MECÂNICOS AULA 2 Prof. Julio Almeida CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo(a) à nossa segunda aula de Projeto de Componentes Mecânicos. Nesta aula, veremos conceitos gerais de uma transmissão de potência entre dois eixos de transmissão distintos, dado que esse tipo de situação é bastante comum em diversos equipamentos e sistemas mecânicos em geral. As correias de transmissão ou, simplesmente, correias são dispositivos flexíveis normalmente utilizados de forma individual (correias planas ou correias sincronizadoras) ou agrupadas (correias trapezoidais) interligando duas rodas ou polias, acopladas diretamente entre eixos de transmissão distintos. As correntes de transmissão ou correntes de rolos são dispositivos formados por um conjunto de elementos metálicos que, de forma agrupada, fornecem a concepção final da corrente e que também interligam duas rodas dentadas distintas, as quais estão acopladas em seus eixos correspondentes. Para ambos os casos, a possibilidade de se trabalhar com distâncias entre eixos elevadas é fator preponderante na utilização destes dispositivos de transmissão. As correntes, ainda, por serem metálicas, se tornam mais viáveis em ambientes agressivos, com umidade e poeira. CONTEXTUALIZANDO Dificilmente você encontrará um sistema mecânico que não esteja vinculado a algum tipo de movimento e, consequentemente, de transmissão de potência. Uma simples bicicleta dispõe de um sistema de transmissão contemplando uma corrente. Ao parar num parque para tomar um caldo de cana, provavelmente você estará na presença de uma transmissão de potência a partir de uma correia plana. Sistemas mecânicos industriais e de maior porte trarão, evidentemente, sistemas similares, contemplando correias ou correntes de transmissão entre os seus eixos. As correias, por serem elementos elásticos, poderão vir a apresentar problemas de alongamento ao longo da sua vida útil, caracterizando a necessidade de um controle de tensão (ou esticamento) no transcorrer da sua utilização. Essas podem ser utilizadas de forma individualizada, como ocorre com uma correia plana, ou em jogos, como ocorre com as correias trapezoidais ou em V. 3 Para o caso das correntes, em decorrência de elas contemplarem partes metálicas, seu peso próprio poderá acarretar a necessidade de dispositivos adicionais caracterizados como esticadores de corrente. A vida útil de uma corrente, conforme dados disponibilizados pelos fabricantes, fica na faixa de 15.000 horas de funcionamento, podendo ainda apresentar variações em decorrência das próprias particularidades de cada transmissão. Dentro dessa perspectiva, cabe questionar: quando devo optar pela utilização de uma correia ou de uma corrente em determinada transmissão de potência? Que tipo de correia devo escolher? A lubrificação é necessária para esses tipos de transmissão? TEMA 1 – CORREIAS DE TRANSMISSÃO: GENERALIDADES Uma transmissão típica por correias contempla, além da(s) correia(s), duas polias e dois eixos de transmissão. Os eixos, normalmente paralelos entre si, apresentam uma distância entre centros (a), com a correia passando ao redor de cada polia ao longo de um ângulo de abraçamento (). O valor desse ângulo de abraçamento é importante fator de projeto, dado que esse tipo de transmissão ocorre através do atrito e, consequentemente, existe uma relação direta entre os esforços envolvidos sobre a correia e a sua condição de funcionamento. Tais esforços, designados como esforço no lado tenso da correia (T1) e esforço no lado bambo da correia (T2) devem apresentar uma relação compatível, de tal forma que não ocorra, quando em funcionamento, o chamado deslizamento da correia sobre a polia. Na prática, sugere-se: T1 = (4 a 8) T2. Figura 1 – Transmissão típica por correias com identificação da distância entre centros e dos ângulos de abraçamento correspondentes Fonte: Budynas; Nisbett, 2016. 4 Sendo: Onde: = ângulo de abraçamento da polia menor (motora) = ângulo de abraçamento da polia maior (movida) d= diâmetro da polia menor D = diâmetro da polia maior a = distância entre centros L = comprimento da correia F1 = esforço no lado tenso da correia F2 = esforço no lado bambo da correia Ft = força tangencial e = base dos logaritmos neperianos (2,7118) f = coeficiente de atrito entre polia e correia T1 = torque transmitido pela polia motora O torque transmitido, no caso pela polia motora, depende da potência transmitida e da rotação do eixo correspondente. Na prática, tem-se: ou, a partir da relação de transmissão: i = relação de transmissão f1= frequência da polia motora (rps = Hz) N = potência transmitida (W) n1 = rotação da polia motora (rpm) n2 = rotação da polia movida (rpm) As correias, em geral, correspondem ao tipo de transmissão de potência mais barata, caracterizando com isso uma menor expectativa em termos de vida útil. Apresentam também o problema do escorregamento, decorrente de 5 pequeno movimento relativo da correia quando da sua passagem em torno das polias, caracterizando uma variação de 1 a 3% na velocidade tangencial medida entre as polias motora e movida. São ainda transmissões suaves e silenciosas. Figura 2 – Exemplo de transmissão por correias Fonte: www.forbo.com TEMA 2 – CORREIAS PLANAS E SINCRONIZADORAS As correias de transmissão são diferenciadas basicamente pelo tipo da sua secção transversal. Uma correia plana corresponde a um tipo de correia que apresenta uma secção transversal: largura (b) x espessura (t), enquanto uma correia sincronizadora corresponde a um tipo que apresenta dentes ao longo do seu comprimento. Evidentemente, devido à presença desses dentes, uma transmissão por correias sincronizadoras difere um pouco da concepção de uma transmissão por correias convencional, em decorrência de não ocorrer o movimento relativo da correia quando da sua passagem pela polia, caracterizando assim uma transmissão que mais se aproxima de uma transmissão por correntes de rolos. As polias para essas duas situações são também diferenciadas, sendo que, no caso das sincronizadoras, sugere-se que no mínimo 7 (sete) dentes estejam sempre encaixados na polia quando o sistema estiver em movimento. Figura 3 – Perfis de correias: plana e sincronizadora 6 Fonte: Budynas; Nisbett, 2016. Figura 4 – Exemplos de polias: plana e sincronizadora Fonte: Belt Technologies. Fonte: Soluções Industriais – Merati. Em termos do projeto desse tipo de transmissão, normalmente trabalha- se com ábacos de fabricantes que permitem a seleção direta do tipo de correia mais recomendado para cada aplicação prática. Parâmetros de entrada, como potência a ser transmitida, rotação dos eixos motor e movido e diâmetro da polia motora, entre outros, são, assim, fundamentais para o início do projeto. 7 Figura 5 – Exemplo de um ábaco de seleção de correia sincronizadora Fonte: Technical Manual – Optibelt. TEMA 3 – CORREIAS TRAPEZOIDAIS Diferentemente da transmissão por correias planas ou sincronizadoras, na qual se trabalha com uma única correia, uma transmissão por correias trapezoidais ou em V trabalha a partir de um conjunto (ou jogo) de correias com secção transversal similar a um trapézio. Normalmente se faz a especificação dessa secção transversal a partir de letras, do tipo A, B, C, D e E, sendo que, quanto maior a secção transversal, maior será a capacidade de transmissão de potência. Com isso, em havendo uma comparação direta entre os perfis B e C, por exemplo, pode-se afirmar que, para um mesmo nível de potência, o número de correias será maior para o primeiro caso. 8 Figura 6 – Perfis A, B, C, D e E de correias trapezoidais Fonte: Juvinall, 2007.Similarmente ao caso das correias planas e sincronizadoras, existem ábacos ou gráficos de seleção válidos também para as correias trapezoidais. Nessas circunstâncias, define-se inicialmente o perfil da correia a ser considerada para posteriormente se efetivar e definir o número de correias que irão compor o conjunto de transmissão. Deve-se observar, ainda, que, no caso de uma eventual manutenção ou substituição dessas correias, torna-se necessária a substituição completa de todo o jogo de correias e não apenas de alguma eventual correia independente. Figura 7 – Transmissão por correias trapezoidais Fonte: Eurocorreias. 9 Figura 8 – Exemplo de polia trapezoidal ou em V Fonte: www.rolitubo.pt TEMA 4 – CORRENTES DE TRANSMISSÃO: GENERALIDADES Uma transmissão típica por correntes contempla, além da corrente, duas rodas dentadas e dois eixos de transmissão. Os eixos, obrigatoriamente paralelos entre si, são unidos pela corrente, que pode ser do tipo simples, dupla, tripla ou até mesmo quádrupla, dependendo do nível de potência a ser transmitido. Dos diversos tipos de correntes de transmissão, destacam-se as correntes de rolos ou de roletes, que são confeccionadas a partir da repetição de elementos metálicos unidos entre si a partir de pinos, buchas, rolos e placas (internas e externas). Por contemplar um conjunto de componentes metálicos, pode-se afirmar que esse tipo de transmissão é normalmente mais ruidoso que o caso das correias, bem como apresenta um nível de desgaste relativamente acentuado. Um sistema de lubrificação adequado se torna, assim, fundamental para a otimização da expectativa de vida da transmissão. Em termos de custos, pode- se considerar que uma transmissão por correntes de rolos fica numa condição intermediária entre os custos de uma transmissão por correias e uma transmissão por engrenagens de dentes retos, para uma mesma faixa de potência. TEMA 5 – CORRENTES DE ROLOS As correntes de rolos, conforme descrito anteriormente, correspondem ao principal tipo de corrente comumente utilizado em sistemas de transmissão 10 por correntes. Essas correntes são caracterizadas a partir do seu passo (p), ou seja, da distância consecutiva entre cada par de pinos. Figura 9 – Correntes de rolos (corrente dupla) com identificação do passo da corrente Fonte: Budynas; Nisbett, 2016. Em termos de concepção de projeto, deve-se iniciar os cálculos ou o dimensionamento considerando a premissa de uma corrente simples. Ao final, caso se verifique alguma eventual inconsistência para a corrente preliminarmente selecionada, torna-se possível considerar uma corrente dupla ou tripla, se for o caso. Matematicamente, para o caso de correntes de rolos, tem-se: Onde: v= velocidade tangencial da corrente (m/s) p = passo da corrente (mm) L = comprimento da corrente (m) 11 z1 = número de dentes da roda dentada motora z2 = número de dentes da roda dentada movida X = número de elos da corrente dp = diâmetro primitivo da roda dentada n = rotação da roda considerada (rpm) Como premissas de projeto e no contexto do aumento da expectativa de vida da transmissão, fabricantes em geral recomendam: a. roda dentada motora – mínimo de 19 dentes; b. roda dentada movida – máximo de 120 dentes; c. rodas dentadas – número de dentes preferencialmente ímpar; d. número de elos da corrente – preferencialmente par; e. distância entre eixos – compreendida na faixa de (30 a 80) vezes o passo da corrente. Figura 10 – Exemplo de transmissão por correntes de rolos Fonte: www.bestriders.com.br. Figura 11 – Exemplo de roda dentada Fonte: Induscor. 12 FINALIZANDO Em síntese, em nossa segunda aula vimos importantes conceitos no contexto das transmissões de potência mediante a utilização de elementos flexíveis, ou, mais especificamente, correias e correntes. Ambas as propostas têm como premissa principal o uso em grandes distâncias entre centros, além de uma expectativa de custos mais favorável no contexto do projeto global. Pequenos problemas, em termos do escorregamento para as correias e do funcionamento ruidoso para as correntes, tornam-se até mesmo irrelevantes mediante os ganhos que se pode obter com a utilização dessas transmissões. Após esta aula, o aluno será capaz de reconhecer e identificar as principais características de uma transmissão de potência por correias e correntes, bem como avaliar critérios de projeto que venham a melhorar e otimizar o processo da transmissão correspondente. 13 REFERÊNCIAS BEST RIDERS. Disponível em: <http://www.bestriders.com.br>. Acesso em: 14 nov. 2017. BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. São Paulo: McGraw Hill, 2016. FORBO. Disponível em: <http://www.forbo.com>. Acesso em 14 nov. 2017. JUVINALL, R. Fundamentos do Projeto de Componentes de Máquinas. São Paulo: LTC, 2007. MOTT, R. Elementos de máquinas em projetos mecânicos. São Paulo: Pearson, 2005. ROLITUBO. Disponível em: <http://www.rolitubo.pt>. Acesso em 14 nov. 2017. SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS. Projeto de engenharia mecânica. São Paulo: Bookman, 2010.
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