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Linguística IIILinguística III AUTORIA Lucimari de Campos Monteiro Bem vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), este material é recheado de informações e conceitos acerca dos estudos da Linguística, e se você é um apaixonado pelo estudo da Língua precisa conhecê-la em seus mais variados aspectos. Proponho, junto a você, construir nosso conhecimento sobre a Linguística e suas atuais pesquisas, visto que se trata de uma ciência teoricamente nova, em comparação com o que já conhecemos hoje. Na unidade I vamos conhecer a análise da fala e da conversação, conceitos fundamentais para a análise da conversação e a estratégia de organização do diálogo. Além disso, veremos também a aquisição da linguagem, linguística e �lologia, linguística pragmática e linguística e lexicogra�a. Na unidade II vamos conhecer a Argumentação atrelados ao conhecimento de linguística e como ela funciona na prática. Além disso, veremos também os Estudos da Retórica da argumentação até chegar ao surgimento do ensino prescritivo e descritivo da língua portuguesa. Na unidade III vamos conhecer a teoria da informação e dos atos de fala. Também veremos sobre as máximas conversacionais e os conceitos básicos da análise do discurso, inclusive aplicada em textos. Aprenderemos ainda sobre as relações da linguística com a estilística e suas terminologias. Para encerrar, na unidade IV, vamos estudar os conceitos de Sujeito e discurso, veremos o sujeito na análise do discurso, além de exemplos de análises do discurso. O estilo de Linguagem também permeará nossa unidade e os estudos sobre Regionalismo e linguagem, Preconceito linguístico, Linguística histórica e as Principais escolas linguísticas também serão abordadas ainda nessa unidade. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e pro�ssional. Muito obrigada e bom estudo! Sumário Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da unidade, assista ao vídeo de considerações �nais. Unidade 1 Análise da fala e da conversação Unidade 2 Argumentação Unidade 3 Teoria da informação Unidade 4 Sujeito e discurso Análise da fala e da conversação AUTORIA Lucimari de Campos Monteiro Sumário Introdução 1 - Conceitos para a análise da conversação 2 - Estratégias de organização do diálogo 3 - A aquisição da linguagem 4 - A linguística Considerações Finais Introdução Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer a análise da fala e da conversação, conceitos fundamentais para a análise da conversação e a estratégia de organização do diálogo. Além disso, veremos também a aquisição da linguagem, linguística e �lologia, linguística pragmática e linguística e lexicogra�a. Esperamos que esta unidade seja imensamente proveitosa e venha a contribuir ainda mais para os estudos da língua. Bons estudos! Plano de Estudo: 1. Conceitos fundamentais para a análise da conversação 2. Estratégias de organização do diálogo 3. A aquisição da linguagem 4. Linguística e �lologia 5. Linguística pragmática 6. Linguística e lexicogra�a Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer os conceitos e características da conversação 2. Compreender as estratégias da organização da linguagem 3. Entender como se dá o processo de estudo da linguística pragmática, a �lologia e a lexicogra�a Conceitos para a análise da conversação A primeira questão que surge quando anunciamos a apresentação de conceitos fundamentais para a Análise da Conversação é se haveria realmente a necessidade de conceitos especí�cos para o estudo dessa modalidade de uso da língua. Para justi�car a necessidade de formulações teóricas e metodológicas especí�cas para o estudo da conversação é importante chamar a atenção para algumas propriedades do texto conversacional que o distinguem de outros tipos de texto. A especi�cidade da conversação, a propriedade mais evidente da conversação é que os interlocutores alternam-se nos papéis de falante e ouvinte. Assim, o estudo do texto conversacional deve necessariamente contemplar o estudo das formas de alternância dos papéis no diálogo e da atuação conjunta dos interlocutores para a construção de um texto coerente. Deve levar em conta também que a conversação, ao contrário de outros textos, é produzida sem um planejamento prévio. Mesmo que um dos interlocutores de�na antecipadamente o que pretende falar, há sempre a necessidade de rever seu planejamento a cada intervenção dos demais participantes, para que suas intervenções constituam uma sequência adequada às falas anteriores. O texto falado deixa transparecer o processo de sua construção, como explica Koch (2006, p. 45): [...] ao contrário do que acontece com o texto escrito, em cuja elaboração o produtor tem maior tempo de planejamento, podendo fazer rascunhos, proceder a revisões e correções, modi�car o plano previamente traçado, no texto falado planejamento e verbalização ocorrem simultaneamente, porque ele emerge no próprio momento da interação: ele é o seu próprio rascunho. Os turnos da fala Uma das maneiras de entender como a conversação é organizada é observar a alternância entre os participantes. Para isso, a análise da conversação incorporou e adaptou o conceito de turno que re�ita em uma situação que o indivíduo tenha um tempo para desempenhar determinada tarefa. Os turnos aplicam um método presente em todas as culturas: cada um fala de cada vez. O turno de fala é, portanto, aquilo que cada pessoa diz enquanto está com a palavra, havendo mesmo a possibilidade da pessoa �car em silêncio em alguns dos turnos. Existem casos de conversação simétricas e assimétricas. Quando ambos contribuem para o desenvolvimento do tópico conversacional são simétricos. Quando apenas um desenvolve o tópico e o outro somente segue o seu parceiro é assimétrico. Tópico Conversacional O tópico conversacional é quando você chega a uma roda de conversa e pergunta sobre o que estão falando para se integrar a conversa. A resposta será o tópico, ou seja, o assunto que o grupo está falando naquele momento. Favero (1995, p. 39) a�rma que o conceito de tópico conversacional é nuclear para compreensão de como os participantes de um evento interativo organizam, gerenciam suas intervenções no diálogo. O tópico é fundamental na organização da sequência de turnos de conversação. Jubran (2006, p. 89 - 90) destaca: [...] importa salientar inicialmente que a quase simultaneidade entre a elaboração e a manifestação verbal, característica das interações face a face, particularmente da conversação, não afasta o teor de organização de texto falado, então processado. Desenvolvida com com base em troca de turnos entre pelo menos duas pessoas, a conversação implica uma construção colaborativa, pela qual um turno não é simples sucessor temporal do outro, mas é produzido de alguma forma por referência ao anterior. Há, portanto, uma projeção de possibilidades que um elemento no turno antecedente desencadeia no turno seguinte. Sendo assim, a organização sequencial dos tópicos ao longo de um evento conversacional pode assumir con�gurações diversas, relacionadas a dois fenômenos básicos: a continuidade e a descontinuidade. Observa-se a continuidade quando os tópicos na conversação se organizam em uma sequência linear: cada tópico é iniciado, desenvolvido e concluído antes da introdução do tópico seguinte. Mas pode haver entre esses tópicos uma relação de descontinuidade. Pode acontecer, por exemplo, que um tópico seja anunciado na conversação, mas interrompido por alguma razão. Esse tópico pode retornar depois ou não. Pode acontecer uma interrupção pelo surgimento de outro tópico e mais tarde os participantes retomem o tópico inicial. Imagine o seguinte: vocês comecem falando do aniversário de W, mas alguém interrompe para falar do namoro de F. com M. Depois maistarde, vocês voltem falar sobre este tópico do aniversário. Pares adjacentes A produção do primeiro elemento por um interlocutor propicia a produção do segundo elemento por outro interlocutor, como uma regra social de conversação. Schegloff (1972, p. 346 - 348) denominou essas sequências de turnos de pares adjacentes, expressão incorporada aos estudos da conversação. Entre os pares adjacentes mais estudados e mais relevantes para construção conversacional estão o cumprimento -cumprimento, despedida-despedida e a pergunta-resposta. A Hesitação Em muitos eventos conversacionais, podemos perceber a presença de várias hesitações, que se distribuem de maneira diferenciada entre os participantes. Há aqueles que falam pausadamente, com várias hesitações na formulação, e há também os que revelam um grande controle sobre seu ritmo de fala e apresentam poucas hesitações. A questão que surge inicialmente é: a presença de hesitações na conversação seria um indício de um problema cognitivo ou interativo do falante? A análise da conversação dedica-se ao estudo dessa questão e conclui, conforme mostra Marcuschi (2006, p. 48), que “a hesitação é intrínseca à competência comunicativa em contextos interativos de natureza oral e não uma disfunção do falante.” A hesitação indica que o falante está organizando seu texto ao mesmo tempo em que o produz, é uma pista para o processo de planejamento que possibilita a organização do tópico conversacional. Ela se manifesta através das pausas, dos alongamentos vocálicos, de expressões típicas de hesitação (ah, ahn, é), de repetição de palavras. Por �m, a análise dos turnos e dos tópicos coloca em evidência o caráter de construção colaborativa típico da conversação. Os pares adjacentes revelam a importância das normas sociais que regem a participação dos falantes na conversação. A hesitação nos dá indícios importantes sobre o processamento da conversação, sobre a simultaneidade entre o planejamento e a produção da fala. Estratégias de organização do diálogo O diálogo também é composto por etapas: planejamento, execução e revisão. Na oralidade, o planejamento apresenta uma vaga ideia do que o orador quer dizer. Já a execução se dá praticamente simultaneamente ao planejamento. Existe uma revisão também. Esta também pode ser feita após a execução de forma simultânea. O falante pode indicar que a palavra que foi dita na verdade quis dizer (e pronuncia na sequência a palavra que quer substituir). Marcadores conversacionais O que acontece na oralidade é que as marcas do planejamento, execução e revisão não são apagadas como na escrita. Assim, �cam evidências que o orador foi refazendo seu planejamento à medida que foi reconstruindo sua fala. A análise do texto se preocupa com a identi�cação dessas marcas que revelam o processo de planejamento, revisão e produção do texto. A oralidade dispõe de certos elementos que correspondem aos sinais de pontuação e delimitação de escrita. São certas expressões que ajudam nas delimitações de parte do diálogo. Elas indicam introdução de informações novas, apresentação de informações que vão se contrapor, início de novos tópicos e/ou a mudança de interlocutor. Estratégias de reformulação A oralidade dispõe também de marcas de revisão, ou seja, o falante no momento que ele percebe que disse algo mas queria dizer outra coisa e poderia haver um correção, pode usar as estratégias de reformulação. A paráfrase e a correção Entre essas estratégias estão a paráfrase e a correção. Paráfrase é uma procedimento de reformulação textual que toma uma a�rmação apresentada anteriormente e a reelabora com outras palavras, mas tem o mesmo signi�cado, reiteração. A correção é uma reti�cação, uma reformulação do sentido original. A Repetição A repetição tem um papel de apoio ao planejamento. Em geral, a pessoa que está no seu turno de fala precisa de um certo tempo para pensar como vai articular a sua fala. Ele pode usar a repetição para manter seu turno de fala de não deixar que o outro avance no seu turno. Pode usar repetição também para dar ênfase em algo. Marcadores Conversacionais Desempenham um papel análogo ao da pontuação e da organização dos parágrafos na escrita. É uma função de delimitação de fala nas unidades, ou seja, indica o início da fala de alguém ou o �nal. Os marcadores também ajudam a gerenciar a participação dos interlocutores. Esse papel dos marcadores tem a ver com o gerenciamento dos turnos de fala. O falante vai usar os marcadores para indicar em que momento o seu interlocutor deve assumir o turno de fala. Os marcadores organizam o diálogo e sinalizam a interação entre os interlocutores. Os sequenciadores (dai, estão) e os interacionais (olha, né e veja). A aquisição da linguagem Quando paramos para entender a aquisição da linguagem signi�ca buscar entender como uma pessoa passa de não-falante a falante, ou seja, de sua língua materna ou de uma segunda língua. Ingram (1989) divide os períodos de estudos sobre a aquisição da linguagem em três grandes momentos: o período dos estudos de diário (1876- 1926), o período dos estudos com amostras amplas (1926-1957) e o período atual, de estudos longitudinais (a partir de 1957). A Review of Skinner’s Verbal Behavior, publicado em 1959, Chomsky argumenta que a aquisição de uma língua não pode ser explicada simplesmente como resposta a estímulos, uma vez que as crianças manifestam palavras que não foram pronunciadas por seus pais ou pelas pessoas de seu meio social. Chomsky argumenta que o ser humano é dotado de uma faculdade especí�ca – a faculdade da linguagem –, situada na estrutura mente/cérebro, que possibilita a qualquer ser humano desenvolver linguagem, desde que exposto a um estímulo linguístico. Com a instauração da Teoria Gerativa, de Chomsky, e com o desenvolvimento de pesquisas em aquisição da linguagem, foram aprimorados os métodos de pesquisa e coleta de dados, e os estudos longitudinais, terceiro e atual momento dos estudos sobre aquisição da linguagem, passaram a ser os eleitos, já que, por meio desse tipo de pesquisa, é possível acompanhar o trajeto que a criança percorre até atingir o alvo – sua língua materna. Chomsky mostra a importância de os estudos contemplarem uma adequação descritiva e também explanatória, já que a descrição, por si, não explica um fenômeno, mas é o caminho para que isso seja feito. Assim, também os estudos em aquisição da linguagem passaram a buscar o rigor cientí�co-metodológico da tradição behaviorista, aliado ao embasamento teórico na explicação dos fenômenos evidenciados pelos dados. Para Piaget, a partir da observação de seus �lhos, propõe quatro estágios de desenvolvimento, e a aquisição da linguagem estaria incluída nesses estágios. De forma especial estão relacionados à aquisição da linguagem os períodos sensório- Além das considerações tecidas acerca do behaviorismo e do gerativismo, destacam-se também outras vertentes teóricas, como a linha construtivista. A linha construtivista, por sua vez, segue os preceitos do psicólogo suíço Piaget, que estudou a linguagem como parte do desenvolvimento cognitivo. motor (do nascimento ao segundo ano de vida), em que se dá a noção de permanência do objeto, e pré-operatório (dos dois aos sete anos), em que inicia a função simbólica e representativa, importante para a aquisição da linguagem. Em seguida, a criança passaria pelos estágios: operatório concreto e de operações formais, sendo que cada um deles abrange determinadas etapas do desenvolvimento cognitivo pelas quais todo ser humano passa. Para esse teórico, a criança desenvolve a linguagem em seu contato com o meio em que vive, e a constrói assim como constrói qualquer conhecimento – por meio dos mecanismos de assimilação e acomodação. A criança passa por um momento de fala egocêntrica, que corresponde pelo momento psicológico que está vivenciando, em que ainda não consegue enxergar-se como ser dissociado do mundo. Quando a criança cresce, essa fala egocêntrica desaparece. A linha mais atual de estudos sobre como a criançaadquire sua língua é a Teoria da Otimidade. Desenvolvida por Prince e Smolensky (1993), linguistas norte-americanos, essa teoria busca explicar a gramática das línguas naturais por meio do ranqueamento de restrições universais. Ancorada na tradição gerativa, embora alie a noção conexionista de análise em paralelo, a Teoria da Otimidade propõe uma noção de Gramática Universal que contém não mais princípios universais, mas restrições que são violáveis. Assim, candidatos a output efetivos de uma língua são avaliados por meio dessas restrições e escolhidos em função de serem mais harmônicos que outros, já que também os outputs considerados “ótimos” podem violar restrições. Essas restrições podem exigir �delidade entre forma de input e de output ou proibir estruturas marcadas nas línguas do mundo. As gramáticas das línguas diferem entre si devido ao ranqueamento dessas restrições universais. Sob essa perspectiva, adquirir uma língua signi�ca adquirir o correto ranqueamento de restrições para a língua em questão. Para isso, a teoria dispõe de algumas propostas de algoritmo, o qual prevê as restrições que serão demovidas, promovidas, que dividirão estratos nas gramáticas que a criança constrói até chegar à gramática-alvo. Correntes teóricas ligadas à neurociência, tal como o Neuroconstrutivismo (KARMILOFF-SMITH, 1998, 2006, 2009, 2010), que aproveita noções do construtivismo como o papel ativo da criança na sua aprendizagem e o fato de que as estruturas cognitivas são emergentes, e não inatamente especi�cadas, a�rmam que a Atualmente também a neurociência traz grandes contribuições para a relação entre linguagem e cérebro, a qual poderá explicar, com base no processamento cerebral, como de fato acontece a aquisição da linguagem. linguagem não é lateralizada desde o nascimento, mas torna-se especializada e localizada com o tempo. Um estudo de Mills, Coffey-Corins e Neville (1997) indica que a compreensão de palavras vai do processamento. Teoria da Argumentação A Teoria da Argumentação da Língua proposta por Oswald Ducrot tem como seus alicerces a teoria de Saussure e a teoria de Benveniste. Na teoria saussureana, Ducrot busca as noções de língua, fala e valor. Saussure criou a linguística a partir dos conceitos de linguagem, língua e fala. A linguagem, para ele, está no âmbito antropológico, ou seja, seria a capacidade do ser humano de se comunicar; nela, estaria a língua e a fala. Língua, para Saussure (1969), é uma instituição social, uma convenção, um sistema compartilhado por todos; a fala é o uso da língua, considerada individual. Assim, Saussure, que precisava ter um objeto de estudo de�nido e bem delimitado para conseguir tentar fundar sua ciência, elegeu como seu objeto de estudo a língua (o que não o faz descartar a fala). Por valor (linguístico), entende-se o sentido que deriva das relações entre as palavras, isto é, relações associativas e sintagmáticas. Os valores correspondem a conceitos puramente diferenciais, os quais são de�nidos negativamente por suas relações. Isso signi�ca que uma coisa só é por sua negatividade, ou seja, que uma coisa só é o que outra não é. Com relação à teoria proposta por Benveniste, dois conceitos importantes para Ducrot são o locutor e o interlocutor, representados pelo eu e o tu. Para Benveniste (1989), não há possibilidade de haver um discurso sem a presença de um eu e de um tu, já que o sentido só é criado pela participação dos dois. Além disso, o locutor sempre aparece no enunciado, visto que é o centro de referência interno, isto é, do sentido, e deixa marcas linguísticas em sua fala. No entanto, esse locutor não traz somente marcas referentes ao eu, mas também traz referentes ao tu, a quem direciona sua fala. Outra noção importante envolvendo essas duas pessoas do discurso é a reversibilidade, pois toda vez que alguém toma a palavra, este se transforma em um eu e a quem se dirige um tu; porém, quando um tu toma a palavra, deixa de ser tu e passa a ser um eu (são os turnos conversacionais). Teoria da Informação É uma teoria matemática que trata de três conceitos básicos: a medida da informação, a capacidade de um canal de comunicação transferir a informação e a codi�cação, como meio de utilizar os canais com toda a sua capacidade. Esses três conceitos, estão ligados pelo teorema fundamental da teoria da informação (de Shannon). Dada uma fonte de informação e um canal de comunicação, existe uma técnica de codi�cação tal que a informação pode ser transmitida através do canal e com uma frequência de erros arbitrariamente pequena apesar da presença do ruído. Veremos mais detalhes sobre essa teoria na unidade III deste material. Teoria dos atos da fala A teoria dos atos de fala foi elaborada inicialmente por John L. Austin (1911-1960) e desenvolvida posteriormente por J.R. Searle. Austin parte da teoria pragmática de Wittgenstein de que é o uso das palavras em diferentes interações linguísticas que determina o seu sentido. Esse sentido, porém, não se reduz apenas ao das proposições declarativas do tipo: "a parede é azul". @freepik A Teoria da Argumentação na Língua, com a proposta atual da Teoria dos Blocos Semânticos, propõe, antes de tudo, a noção de que o discurso é o único portador de sentido 2, sendo este organizado pelos encadeamentos argumentativos, estabelecendo entre eles relações semânticas. A ideia central é a de que o sentido próprio de uma expressão seja dado pelos discursos argumentativos que podem ser encadeados a partir dessa expressão. A argumentação seria, portanto, o que constitui o sentido, não o que se agrega ao sentido. Veremos mais detalhes sobre essa teoria na unidade III deste material. Diferentes tipos de atos de fala Chamamos de ato de fala, portanto, a toda ação que é realizada através do dizer. As ações que se realizam através dos atos de fala podem ser muito diferentes. Daí a necessidade de distinguir as diversas dimensões que um ato de fala possui. Falamos em dimensões porque em uma única locução podemos realizar diferentes atos de fala. Por exemplo, na frase: "o senhor está pisando no meu pé", realizo ao mesmo tempo três atos de fala. O primeiro deles é o ato locucionário, ou seja, o ato de dizer a frase. O segundo ato é o que Austin chama de ilocucionário, o ato executado na fala, ou seja, ao proferir um ato locucionário. Nesse caso, ao dizer "o senhor está pisando no meu pé" não tive a simples intenção de constatar uma situação, mas a de protestar ou advertir para que a outra pessoa parasse de pisar no meu pé. Por �m, há ainda um terceiro ato, chamado de perlocucionário, que é o de provocar um efeito em outra pessoa através da minha locução, in�uenciando em seus sentimentos ou pensamentos. Na situação descrita, para que o outro tire o pé de cima do meu. Temos assim o ato locucionário de dizer algo, o ato ilocucionário que realiza uma ação ao ser dito e o perlocucionário quando há a intenção de provocar nos ouvintes certos efeitos (convencer, levar a uma decisão etc.). É claro que nem todas as expressões são dotadas dessas três dimensões, pois isso depende da força ilocucionária de um ato de fala. A força ilocucionária é algo bem diferente do signi�cado puro e simples da frase, pois ela está diretamente ligada às interações sociais que se estabelecem entre os falantes, relações que podem ser de autoridade, cooperação etc. Veremos mais detalhes sobre essa teoria na unidade III deste material. Tipos de expressão Destacamos no estudo cinco grupos de expressões classi�cadas por Austin de acordo com a força ilocucionária de cada uma delas. 1) Expressões veridictivas: que dão um veredicto sobre determinado assunto, podem ser feitas por um juiz, um médico falando sobre uma doença, ou mesmo em situações cotidianas em que sustentamos algo com base em valores ou provas. 2) Expressões exercitivas: consistem em tomar uma decisão a favor ou contra determinado comportamento. Diferenciam-se da situação anterior por não serem apenas juízo, mas decisão. Exemplos: proibir, estimar, con�ar, prescrever, conceder, exigir,propor etc. 3) Expressões comissivas: aquelas que comprometem o falante com o cumprimento de algo. Exemplos: jurar, garantir, provar, combinar etc. 4) Expressões conductivas: trata-se de uma reação em relação ao destino ou conduta de outros. Exemplos: felicitar, criticar, saudar, desejar, lamentar, queixar-se etc. 5) Expressões expositivas: sua intenção é tornar claro como a expressão do falante deve ser considerada para permanecer �el ao seu pensamento. Exemplos: comunicar, relatar, testemunhar, reconhecer, corrigir etc. A linguística Primeiro vamos falar da linguística e da �lologia. Filologia Vejamos o que Melo (1984, p. 7) aponta: A Linguística é o estudo da linguagem articulada ou a aplicação de seu método e de suas conclusões a uma língua particular, a um dialeto ou a uma família de línguas, enquanto a Filologia se preocupa com a �xação do texto �dedigno, sua explicação e com comentários de variadas naturezas que lhe atribuirão o sentido exato. Segundo Melo (1984, p. 8), a Filologia é uma ciência aplicada, a sua �nalidade especí�ca é �xar, interpretar e comentar os textos. Ao passo que a Linguística (ou Glotologia) é uma ciência especulativa. O seu objeto formal é a língua em si mesma, a língua como fato social da linguagem. O dicionário Houaiss (2001) da Língua Portuguesa de�ne �lologia como “o estudo cientí�co do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p.ex., �lologia latina, �lologia germânica etc.); gramática histórica”. Apesar disso, o enfoque cientí�co no estudo do desenvolvimento de determinada língua, família de línguas, pesquisa da morfologia ou fonologia, acabou tornando-se uma ciência chamada Linguística Histórica. Com isso, a �lologia associa-se mais ao estudo de materiais críticos e textos. CONCEITUANDO A palavra tem origem no idioma grego da antiguidade e signi�ca amor à instrução e ao estudo. Portanto, �lologia, em um sentido amplo, é a ciência que tem por objetivo estudar uma língua, civilização, cultura ou a literatura em determinada posição histórica e para isso faz uso dos documentos escritos que são encontrados dentro do recorte escolhido. A importância da �lologia pode ser representada por diversos �lólogos importantes como Eduard Schwartz, Ernst Robert Curtius, Friedrich August Wolf, Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, Wolfgang Schadewaldt, Martin Litch�eld West, Eduard Fraenkel, Franz Bopp , Jacqueline de Romilly, entre outros. De forma geral, a �lologia trata da localização, edição de textos e problemas de datação. Como apoio, utiliza outros campos de estudo como a História, Estilística, Gramática e Linguística. A �lologia também pode ser de�nida como o estudo histórico-literário de uma determinada língua, compreendida e contextualizada no contexto cultural da época analisada. Assim, a �lologia também compreende a retórica, interpretação da obra de autores, gramática, tradições e críticas literárias relativas a determinado idioma. Quando se trata do sentido mais restrito da linguística histórica, considera-se a �lologia como uma ciência pioneira do século XX. Isso se deve à grande in�uência de Ferdinand de Saussure, um linguista e �lósofo suíço cujas ideias tornaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Para concluir, destacamos o parecer de Saussure (1969, p. 7-8) sobre o assunto: Não pretendíamos neste estudo esgotar o assunto ou refutar teorias. Somente intencionávamos mostrar que o problema das variadas terminologias gera imprecisões. Os caminhos da Filologia ora se encontram, ora se distanciam. A pragmática A Pragmática analisa a linguagem considerando a in�uência do contexto comunicacional, extrapolando assim a visão da Semântica e da Sintaxe. Existem palavras que parecem adormecidas no léxico de uma língua, mas que de repente despertam e caem no vocabulário dos falantes. A palavra pragmática é um bom exemplo e, ainda que não seja comum para a maioria dos usuários da língua portuguesa, é cada vez mais habitual ouvi-la nos mais variados discursos. A língua não é o único objeto da Filologia, que quer, antes de tudo, �xar, interpretar, comentar os textos; este primeiro estudo a leva a se ocupar também da história literária, dos costumes, das instituições, etc.; em toda parte ela usa seu método próprio, que é a crítica. Se aborda questões linguísticas, fá-la, sobretudo, para comparar textos de diferentes épocas, determinar a língua peculiar de cada autor, decifrar e explicar inscrições redigidas numa língua arcaica ou obscura. Mas você sabe o que é Pragmática? Trata-se do ramo da linguística que analisa o uso concreto da linguagem pelos falantes da língua em seus variados contextos. A Pragmática extrapola a signi�cação dada às palavras pela semântica e pela sintaxe, observando o contexto. Segundo a Pragmática, o sentido de tudo está na utilidade, no efeito prático que os atos de fala podem gerar. Para ela, o que realmente importa é a comunicação e o funcionamento da linguagem entre os usuários, concentrando-se nos processos de inferência pelos quais compreendemos o que está implícito. A pragmática é o ramo da linguística que estuda o uso concreto da linguagem pelos falantes da língua nos seus diversos contextos, ou seja, estuda a relação existente entre o signi�cado das palavras, os interlocutores e o contexto. Vai além do signi�cado das palavras estudado pela semântica e da construção frásica estudada pela sintaxe, explorando a signi�cação das palavras mediante o contexto extralinguístico em que ocorrem (o contexto discursivo, o contexto situacional, o contexto social,…) e a intenção comunicativa dos interlocutores. Outro ponto do gerativismo é a gramaticalidade e a aceitabilidade. A gramaticalidade tem a ver com sentido de construir sentenças de acordo com a gramática internacionalizada que temos, ou seja, é ter a noção de falar o que é aceitável ou não dentro daquilo que você está acostumada a dizer, e isso tem a ver com o conhecimento inconsciente, implícito, é aquele que você naturalmente sabe como é como são construídas as frases da sua língua nativa, diferente da gramática normativa que é aquela aprendida na escola com todas as concordâncias, regências, classes gramaticais. Exemplos: A pergunta “É muito tarde?” Em um contexto pode se referir a um pedido de informação sobre as horas e em outro contexto pode se referir a uma interrogação sobre ter chegado atempadamente ou não. Para formular um agradecimento, podemos dizer: “Valeu!”, “Muito obrigada!”, “Fico muito grata!”, entre outros, mediante o conhecimento do contexto mais formal ou informal em que a mensagem é transmitida, bem como os diferentes interlocutores envolvidos no processo comunicativo. Podemos até fazer um comparativo da estrutura de Saussure em que ele deixa de lado a fala e parte do pressuposto que a fala tem motivação, fatores internos do falante e que vai in�uenciar no modo de dizer, aqui o desempenho é um modo de dizer do falante é também deixado de lado. Ou seja a gramaticalidade tem a ver com conhecimento implícito, você fala naturalmente as frases porque você já tem uma gramática interna que é responsável por dar as ferramentas para construção dos diálogos, das falas e das frases; já aceitabilidade é você aceitar ou não algumas características da sua língua, por exemplo, na língua portuguesa, temos a ordem natural: sujeito verbo e complemento. Para Chomsky a estrutura das línguas é uniforme e variante dado pelos princípios, e por parâmetros que são os conceitos e as características que tornam as línguas particulares, o gerativismo tem um modelo explicativo, ou seja, tudo que acontece naquela língua é explicado por meio das leis gerais. A limitação do gerativismo é parecida com o estruturalismo Saussure em partes, no gerativismo há um conceito de falante ideal numa comunidade de língua homogênea deixando de lado a situação do falante o contexto assim como lá no estruturalismotambém. Segundo a Pragmática, o contexto no qual a comunicação está inscrita é essencial para a compreensão do enunciado emitido. Claro que, quanto maior o domínio da linguagem, maior será a capacidade do falante de compreender enunciados implícitos. Embora existam muitas de�nições para a palavra pragmática, linguisticamente, a que mais nos interessa diz respeito ao estudo da linguagem do ponto de vista de seus usuários, analisando as escolhas lexicais feitas, as restrições encontradas no uso da linguagem em determinadas interações sociais e, principalmente, os efeitos que o uso da linguagem tem sobre os outros participantes no ato da comunicação. Sendo assim, a Pragmática pode ser considerada o ponto de convergência entre o uso linguístico e o uso comunicativo, comprovando a intrínseca relação entre a linguagem e a situação comunicativa em que ela está sendo empregada. Por exemplo, na frase “Eu tenho um carro vermelho” é aceitável eu falar isso na língua portuguesa, dentro de uma ordem, tenho sujeito verbo complemento. Se eu disser “eu carro tenho vermelho” seria inaceitável naturalmente pela nossa gramática internalizada, pois sabemos que não é o uso comum, não é a construção da frase correta, ela está errada e dentro dessa aceitabilidade o próprio falante tem uma intuição linguística, pois ele consegue julgar se é aceitável ou não aquela construção de acordo com a sua a gramática internalizada da sua língua nativa. Linguística e lexicogra�a O conjunto das palavras e expressões de uma língua é denominado léxico. A noção de léxico é abstrata, porque não é possível saber o total de palavras em uso. Como a língua está em constante mudança, ora surgem palavras novas, ora palavras caem em desuso. Logo, nem mesmo os dicionários padrão, por maiores que sejam, conseguem registrar essa dinâmica lexical. Nas práticas discursivas diárias, os falantes fazem uso de apenas uma parte do léxico, ou seja, de um subconjunto desse total de palavras, denominado vocabulário (ou repertório lexical). Assim, vocabulário é o conjunto de palavras (ou vocábulos) e expressões efetivamente utilizados, seja por uma pessoa em textos orais ou escritos, seja por um grupo de pessoas de uma determinada faixa etária, de uma certa região ou de uma época especí�ca. Pode-se falar, por exemplo, no vocabulário infantil, no vocabulário da região Norte, no vocabulário de Guimarães Rosa, ou no vocabulário empregado em um poema, uma lenda, uma receita, uma propaganda etc. Quando o vocabulário é técnico, no caso das áreas especializadas do conhecimento, como Matemática, Gramática, Linguística, Biologia, Química, Filoso�a etc., as palavras que particularizam uma determinada área formam a terminologia dessa área. Nesse caso, em lugar de vocábulos ou palavras, fala-se em termos. REFLITA A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita precisão. Francis Bacon Assim como o léxico geral de uma língua está registrado nos dicionários padrão, os vocabulários costumam ser registrados em glossários, a exemplo deste Glossário de termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores. Há autores, no entanto, que empregam o termo vocabulário como sinônimo de glossário. Situações de comunicação vivenciadas pelos falantes, como as relações familiares e sociais, as experiências escolares e pro�ssionais, permitem uma constante ampliação do repertório lexical. Em cada contexto comunicativo, o falante expressa sentidos e constrói discursos ao mesmo tempo em que compreende e assimila novos itens lexicais (isto é, novas palavras). Assim como o léxico de uma língua é revelador de uma cultura, de uma visão de mundo, o vocabulário de um falante é revelador de suas vivências. Quanto mais experiências diversi�cadas tiver, mais amplo será seu repertório lexical. Livro Filme Argumentação AUTORIA Lucimari de Campos Monteiro Sumário Introdução 1 - Análise Retórica da Argumentação 2 - Tipos de Argumentação 3 - O Papel da Linguística na Argumentação 4 - O Papel da Linguística na Estruturação da Língua 5 - A Teoria da Argumentação na Língua 6 - Linguística e Semântica 7 - Descrição e Prescrição Considerações Finais Introdução Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer a Argumentação atrelados ao conhecimento de linguística e como ela funciona na prática. Além disso, veremos também os Estudos da Retórica da argumentação até chegar ao surgimento do ensino prescritivo e descritivo da língua portuguesa. Esperamos que esta unidade venha contribuir para seus estudos da língua e enriquecer seu conhecimento. Bons estudos! Plano de Estudo: 1. Análise retórica da argumentação 2. Tipos de argumentação 3. O papel da linguística na argumentação 4. O papel da linguística na estrutura da língua 5. A teoria da argumentação na língua 6. Linguística e Semântica 7. Descrição e Prescrição Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer os conceitos e características da argumentação. 2. Compreender a linguística e a semântica. 3. Entender como se dá o processo de estudo da linguagem sob os conceitos de descrição e prescrição. Análise Retórica da Argumentação A retórica clássica surgiu na Grécia, durante o século VI a.C, por meio da constituição de um novo estado após os dominadores tiranos serem expulsos. Nisso, os cidadãos - agora livres do regime autoritário - sentiram a necessidade de reivindicar seus bens, dos quais haviam sido tomados pelos tiranos. Esse momento de petição era realizado na frente de um público ouvinte e de um juiz; através disso, foram elaboradas técnicas para a organização argumentativa desses discursos. Assim, a retórica nasceu por causa da necessidade prática e foi apregoada primeiramente como retórica judiciária. Desde o fundamento a retórica clássica tinha suma importância na educação; além de estarem presentes nas atividades políticas e nos tribunais, e, posteriormente, integrada dentro dos discursos religiosos. Por volta do século XVI, com o acontecimento do humanismo, a retórica clássica caiu. Após esse período, a retórica clássica começou a ser vista com negatividade; uma vez que levantou sua fama em meio aos discursos vazios e enganadores; principalmente, dentro dos discursos religiosos; os sermões ditos eram cheios das artimanhas da retórica, os textos elaborados eram capazes de captarem e manterem �éis aos primórdios religiosos. Logo depois, houve o ressurgimento da nova Retórica. A nova retórica era fundamentada no fornecimento de instrumentos para análise dos discursos argumentativos, tais como: discursos religiosos, políticos, publicitários, en�m, de todos os discursos que buscam a adesão de uma ideia - religioso e político - ou adesão de um produto - publicitário. Na visão de Aristóteles a retórica tem papel importante para ser utilizado no mundo jurídico, na literatura, na educação e na �loso�a, em contrapartida Aristóteles também acredita que a retórica instrumentada nela mesma é dispensável; servindo dois caminhos: o bem e o mal. Segundo ele, a retórica é algo bom mas que pode ser usada para o proveito ou a destruição dos seres humanos. O ensino da retórica é considerado importante, uma vez que oportuniza ao cidadão um método de defesa de ponto de vista hábil para argumentar suas ideias sobre qualquer assunto na presença de qualquer pessoa. Tipos de Argumentação Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) classi�cam os argumentos usados nos textos em duas grandes classes: a) argumentos quase-lógicos b) argumentos baseados na estrutura real. A diferença entre ambos é expressa em: Enquanto os argumentos quase-lógicos têm pretensão a certa validade em virtude de seu aspecto racional, derivado da relação mais ou menos estreita existente entre eles e certas fórmulas lógicas ou matemáticas, os argumentos fundamentados na estrutura do real valem-se para estabelecer uma solidariedade entre juízos admitidos e outros que se procura promover. (PERELMAN;OLBRECHT-TYTECA, 1996, p. 297). Os argumentos-quase lógicos procuram se aproximar do raciocínio formal, lógico ou matemático; tratandoapenas de semelhança que dá argumentos a aparência de demonstração, sem haver uma mudança dos raciocínios formais, apelando para comparação e probabilidade, por exemplo. Já os argumentos baseados na estrutura real levam em conta situações práticas: exemplos, ilustrações, fatos reais, entre outros. Breton (2003) estipula três tipos de argumentos que têm por objetivo enquadrar o real: a�rmação pela autoridade, o apelo a pressupostos comuns e reenquadramento do real. A a�rmação pela autoridade: A natureza da autoridade se subdivide em competência, experiência e testemunho. A competência é quando os argumentos que conjecturam uma competência cientí�ca, moral ou pro�ssional que irão validar uma determinada opinião. A experiência é quando há argumentos baseados em uma situação vivenciada por quem está argumentando. E o testemunho lida com aqueles argumentos voltados para uma dada experiência que foi vivenciada por alguém que não é o enunciador. O apelo a pressupostos comuns: Têm o intuito de intensi�car um pensamento comum que disponibilizará um vínculo com a opinião proposta. Normalmente trata-se de um ponto de vista que gera um elo. O reenquadramento do real: É importante começar informando que um reenquadramento só vai existir se for colocado num quadro de pessoas que desejam modi�car os seus valores. Breton (2003, p. 176) adverte que: A argumentação não pode ser reduzida a uma técnica e necessita de pilares éticos: a liberdade de aderir à opinião proposta, a autenticidade dos argumentos usados e a relatividade das ideias que defendemos, que são, no �nal das contas, apenas opiniões. Os argumentos de enquadramento, para Breton (2003), são a primeira parte do acordo prévio com o outro, entretanto, não é su�ciente para convencer. Sendo necessário a união deste enquadramento a argumentos de ligação, que geram vínculo através dos argumentos: dedutivos e analógicos (de comparação, metáfora, etc). O Papel da Linguística na Argumentação “Não saber tomar a palavra para convencer não seria, no �nal das contas, uma das grandes causas de exclusão? Uma sociedade que não propõe a todos os seus membros os meios para serem cidadãos, isto é, para terem uma verdadeira competência ao tomar a palavra, seria verdadeiramente democrática?” (BRETON, 2003, p. 19). Se um texto é elaborado é porque há - implícito ou explícito - uma intenção. Os textos sempre são motivados por uma intencionalidade, conforme pressuposto por Beaugrande (1997). Sandig (2009 p. 57) salienta que “os textos, sendo geralmente unidades complexas, são usados em situações (situacionalidade) para resolver problemas na sociedade (intencionalidade/função textual)”. Seja através de textos falados ou escritos, a arte de argumentar consiste na aspiração do autor em disponibilizar ao interlocutor a crença ou a ação daquilo que é dito através das palavras. O papel da linguística na argumentação �ca claro na efetividade da responsabilidade enunciativa do locutor juntamente com os mecanismos coesivos e no ato de fala completo, feito em um enunciado típico, consistindo na entrega do conteúdo no qual o orador promete, a�rma ou sugere. Ao contrário da Nova Retórica, a linguística não lida com o fundamento de um sujeito soberano, mas leva em consideração a intenção do sujeito e a liberdade para expressar seus posicionamentos no discurso. O Papel da Linguística na Estruturação da Língua Ao falar da estruturação da língua, automaticamente, é lembrado da gramática desta. A respeito da língua portuguesa, não �ca longe o quão a linguística tem seu papel dentro dela. Segundo Saussure é do diacrônico tudo sobre as evoluções da língua e da ordem da sincronia, tudo que está relacionado com o aspecto estático da língua. Ou seja, sincronia está para “um estado de língua”, enquanto que diacronia está “para uma fase de evolução” (CLG, 2002, p. 96). Partindo do pressuposto que há: Gramática descritiva ou sincrônica e a Gramática normativa ou diacrônica fazer algumas análises a seguir: A gramática descritiva propõe-se a descrever as regras da língua falada - de como ela é usada no cotidiano - enquanto a gramática normativa prescreve dentro dos padrões das normas. Logo, entende-se que a gramática descritiva faz parte da linguística. Em contrapartida a linguística não é uma via sem regras - se assim podemos dizer - a linguística tem ao seu lado uma disciplina normativa, na qual é chamada de Linguística Aplicada, na qual estuda o comportamento social. A gramática normativa depende da linguística sincrônica - gramática descritiva - para não ser prejudicial exorbitando em regras que fogem da realidade. Assim, entende-se que a diacrônica tem o seu lugar e não se anula diante da outra. a verdade sincrônica parece ser a negação da verdade diacrônica e, vendo as coisas super�cialmente, parecerá a alguém que cumpre escolher entre as duas; de fato, não é necessário; uma das verdades não exclui a outra” (CLG, 2002, p. 112). Por isso, consentimos que são lugares diferentes, duas disciplinas - mesmo que interligadas - independentes. Ambas fundamentais para a estruturação da língua. Compreende-se que saber uma língua, no sentido escolar, é, portanto, distinto do saber o uso da língua, de fato; ou seja, saber gramática diverge de dizer e entender frases; saber uma língua é saber mais de si mesmo e da sua própria cultura. A Teoria da Argumentação na Língua A Teoria da Argumentação na Língua – TAL – é uma teoria semântica de interpretação do sentido dos enunciados. Está estritamente ligada à intenção dos autores em elaborar uma teoria que fosse de encontro à teoria tradicional do sentido, ou seja, para Ducrot (2004) uma teoria que a�rma ter o sentido do discurso tem três tipos de indicações: Objetivo: a fala do mundo exterior com imparcialidade. Subjetivo: a posição que o locutor assume diante daquilo de que trata. Intersubjetivo: a relação mantida pelo o locutor com o seu interlocutor. Segundo Ducrot (2004), enquanto a argumentação retórica baseia-se na organização textual necessitando, assim, de um esforço verbal para fazer efeito no ouvinte, a argumentação linguística pode ser um meio verbal direto. Ducrot adverte sobre a importância de ‘relação’ e de ‘língua e fala’. Barbisan (BARBISAN, 2005, p. 25). A�rma sobre a teoria de Ducrot: “Na Teoria da Argumentação na Língua, a noção de relação se encontra nas relações sintagmáticas que de�nem os encadeamentos discursivos. Um único tipo de encadeamento é escolhido: o argumentativo”. Entretanto, é possível notar que a utilização persuasiva dentro da argumentação requer do orador tomadas de decisões; nisto, ressalta o papel da argumentação linguística. No entanto, conforme esclarecem Ducrot et al. (1980), as análises referentes aos conceitos da Teoria da Argumentação na Língua, veri�cam o valor das palavras não em frases isoladas. A Teoria da Argumentação dedica-se entre o locutor e a situação, ou que orientem a direção argumentativa dos enunciados. Linguística e Semântica Segundo o Dicionário Online de Português, a semântica é “Parte da linguística que se dedica ao estudo do signi�cado das palavras e da interpretação das frases ou dos enunciados. Análise da signi�cação nas línguas naturais, sendo ela sincrônica, tendo em conta a evolução da língua, ou diacrônica, num tempo passado.” A semântica constitui um dos domínios da Linguística, uma vez que se dedica ao conhecimento e ao compreendimento dos signi�cados das palavras, frases ou expressões dentro de um determinado contexto. Há divergências presentes que devem ser mencionadas, tais como: a semântica linguística e linguística semiótica, este estuda a signi�cação dos sistemas sígnicos secundários, aquele estuda forma de conteúdo das "línguas naturais”. Já Saussure assumiu o signo como ponto de partida da estrutura linguística. Cada signo linguístico desdobra-se em signi�cado e signi�cante. O primeiro é o conceito que é mentalmente assimilado quando essa palavra é lida ou ouvida, já o segundo é a maneira semântica e fonética da palavra. Para Saussure,um elemento linguístico é um valor enquanto o seu signi�cado �ca interligado ao sintagmático e ao pragmático. Sintagmático quando discerne na comparação entre elementos discretos e o pragmático quando discerne nas oposições instauradas nos membros da mesma classe. Como seria a análise do sentido, recomendada por Saussure? Seguindo as palavras: De acordo com Alan Rey (1969. 7), a "semântica linguística" deve abranger: a) o estudo léxico b) o estudo das estruturas gramaticais (morfologia e sintaxe). Homem: touro Mulher: vaca Criança: cria Do ponto de vista semântico, homem, mulher e criança é um grupo, touro, vaca e cria é outro, possuem alguma coisa em comum; além disso, touro e homem possuem alguma coisa em comum que não é nem por vaca e mulher, nem cria e criança; da mesma forma, vaca e mulher têm algo em comum não compartilhado pelos dois outros pares. Descrição e Prescrição Todos já vivenciamos, ou ouvimos falar, onde um falante português do Brasil inicia o seu próprio discurso gerando negatividade mediante a sua fala com justi�cativa de não saber falar português; levando o próprio falante de que sua língua é muito difícil. Ou até dizer que na “favela” não se sabe falar português direito. Embora a gramática ainda seja muito valorizada e nunca deve ser menosprezada, a língua não serve apenas para estudiosos. A língua é bem comum a toda comunidade; e, como composição dela há diversas camadas sociais, sejam elas escolarizadas ou não. Devido a situações expressas neste primeiro parágrafo é que as aplicações da gramática tradicional se tornam perigosas. Perigosas para especialistas da área - professores e gramáticos - que exigem a forma padrão a todos, sem a análise e a consideração do nível escolar. Estes especialistas focam apenas na análise prescritiva da língua, ou seja, eles querem impor a norma gramatical à língua falada. No entanto, não pode difundir as duas gramáticas. Elas são existentes em suas particularidades; tanto a Gramática Normativa e Gramática Descritiva. Para alguns estudiosos, o elo entre essas duas gramáticas é que a Gramática Normativa é a pedagogização da Gramática Descritiva, ou seja, a própria Gramática Descritiva utilizada com �ns didáticos no intuito de controlar os desvios da língua- padrão. Segundo a Gramática Fundamental da Língua Portuguesa (GFLP, 1968): O que é Gramática Normativa? É a própria Gramática Descritiva, utilizada com intenção didática, com a �nalidade de corrigir os desvios da língua- padrão, ou melhor, as in�uências, na língua-padrão, das linguagens locais e das diversas formas de linguagem coloquial. Nas escolas ensina- se a Gramática, não apenas descrevendo os fatos, mas também chamando a atenção para as distorções [sic], as contaminações, os erros. [...] Portanto, Gramática Normativa não é algo de diferente da Gramática Descritiva, é uma “atitude” da Gramática Descritiva, atitude didática, atitude com �nalidade prática. (GFLP, 1968, p. 11). O domínio da língua materna é natural, não se apoia em ensino-aprendizagem. Já no domínio de gramáticas normativas, este, sim, é necessário adquirir. Em alguns episódios da gramática de Chaves de Melo realiza uma apresentação dos diferentes usos linguísticos, por exemplo: Há a conversa da gente do povo, povo da cidade, ou povo dos campos; há a conversa das crianças, entre si ou com os adultos. Cada uma dessas situações linguísticas produz um uso linguístico peculiar. [...] é possível fazer uma gramática para cada uso linguístico, isto é, procurar descrever, sistematizar, ordenar os fatos contemporâneos de um determinado uso linguístico. Assim, por exemplo, podemos escrever a gramática da língua portuguesa popular, como se ouve na zona rural do sul de Minas ou na zona rural do Cariri, no Ceará, ou na campanha gaúcha. [...] E assim por diante. Mas a única gramática que interessa a todos é a gramática da língua culta, da língua-padrão, da língua literária. (GFLP, 1968, p. 9 - 10). Entende-se a norma linguística como o conjunto de usos e atitudes comuns a determinados grupos sociais. Em sociedades diversi�cadas como o Brasil, então, existem várias normas: a norma linguística dos descendentes europeus, a norma linguística dos moradores de favela, a norma linguística de cada região, e assim por diante. A comunidade de fala não se de�ne por nenhum acordo marcado quanto ao uso dos elementos da língua, mas sobretudo pela participação num conjunto de normas compartilhadas; tais normas podem ser observadas em tipos de comportamento avaliativo explícitos e pela uniformidade de padrões abstratos de variação que são invariantes em relação a níveis particulares de uso. (LABOV, 1972, p.120 - 121) Assim, diversos grupos de fala, apresentam diferentes normas linguísticas ou dialetos. SAIBA MAIS O cinema não é apenas entretenimento e diversão, os �lmes são capazes de fornecer valiosas lições, principalmente para estudantes de Comunicação, Direito e Educação que têm como principal instrumento de trabalho as diferentes formas de linguagem e a criatividade. Por isso, separamos algumas dicas de �lmes que abordam a temática estudada nesta unidade. São eles: O Discurso do Rei: os discursos do Rei George VI; Bom dia, Vietnã: um radialista no exército americano; A Rede Social: a trajetória de Mark Zuckerberg Uma Manhã Gloriosa: novos desa�os pro�ssionais na comunicação; Spotlight: Segredos Revelados: investigação de crimes de abuso sexual; Obrigado por Fumar: boa argumentação e marketing. Tire um tempo para conhecer essas histórias e como a argumentação e a linguagem são abordadas em cada um delas. Vale a pena! Fonte: a autora. REFLITA A Retórica é a arte do discurso, do bem falar, como indica a própria etimologia da palavra. Mas, além disso, é também a teoria acerca dos recursos verbais, sejam orais ou escritos, que são capazes de tornar um argumento persuasivo. João Henrique Pickcius Celant Livro Filme Teoria da Informação AUTORIA Lucimari de Campos Monteiro Sumário Introdução 1 - Teoria da Informação 2 - Teoria dos Atos de Fala 3 - As Máximas Conversacionais 4 - Conceitos Básicos da Análise do Discurso 5 - Análise do Discurso Empregada a Textos 6 - Linguística e Estilística 7 - Linguística e Terminologia Considerações Finais Introdução Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, vamos conhecer a teoria da informação e dos atos de fala. Também veremos sobre as máximas conversacionais e os conceitos básicos da análise do discurso, inclusive aplicada em textos. Aprenderemos ainda sobre as relações da linguística com a estilística e suas terminologias. Esperamos que esta unidade seja bastante proveitosa e possa contribuir de forma signi�cativa para os seus estudos sobre a língua. Bons estudos! Plano de Estudo: 1. Teoria da informação; 2. Teoria dos atos de fala; 3. As máximas conversacionais; 4. Conceitos básicos da análise do discurso; 5. Análise do discurso aplicado a textos; 6. Linguística e estilística; 7. Linguística e terminologia. Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer os conceitos e as características da teoria da informação e dos atos de fala; 2. Compreender sobre a análise do discurso; 3. Entender sobre os processos de linguística e suas relações com a estilística e com a terminologia. Teoria da Informação Uma das principais funções da linguagem é a comunicação. O ato de comunicar já foi objeto de estudo de teóricos como Saussure, para o qual a língua é fundamentalmente um instrumento utilizado para que as pessoas possam se comunicar umas com as outras. De maneira simplista, podemos de�nir a comunicação como o processo pelo qual as pessoas transmitem as suas ideias ou sentimentos. Ela não necessariamente precisa ser falada ou verbalizada, ou seja, também é possível se comunicar de forma escrita, por meio de códigos, por gestos que são culturalmente identi�cados pelo outro etc. É por conta disso que os grandes linguistas partem das teorias da informação e da comunicação para abordar os fenômenos da linguística. Como bem coloca Barros (2004, p. 26): Parao exame da comunicação à luz da Linguística, vamos tomar como ponto de partida, tal como �zeram os linguistas que inicialmente se preocuparam com a comunicação, alguns dados que não provêm dos estudos linguísticos propriamente ditos, mas da teoria da informação e da comunicação. A teoria da informação exerceu, sobretudo nos anos 1950, forte in�uência na Linguística. A partir dos estudos dos comunicólogos, a situação que de�ne comunicação conta com, pelo menos, dois elementos: o locutor e o interlocutor. Além disso, também podem estar envolvidos outros objetos, como o tempo e o espaço do enunciado, que formam o contexto da situação. Tipos De Comunicação e seus Elementos Na linguística, se trabalham com dois tipos básicos de comunicação, a unilateral e a bilateral, Palma (2002, p. 119) explica a diferença entre os modelos: Se se toma como referencial a troca de turnos entre os participantes, tem-se a comunicação unilateral e a bilateral. Na primeira, apenas a subjetividade emissora detém o uso da palavra, não abrindo espaço para a interlocução. Aulas expositivas e conferências são exemplos desse tipo de comunicação. Também aquela veiculada pela televisão caracteriza-se como unilateral, pois não permite a resposta imediata dos telespectadores. Hoje, tentando fugir dessa unilateralidade existem os programas interativos, como o Você Decide, por exemplo. A segunda marca-se pela alternância na locução, ou seja, os envolvidos na troca comunicativa assumem igualmente o papel de locutores. O diálogo é o melhor exemplo desse tipo de comunicação. Em ambos os tipos de comunicação, é preciso que existam elementos para que o fenômeno ocorra. Wolf (1999), analisa os elementos do processo comunicativo, a partir de diferentes teorias. Para o autor, basicamente, os elementos da comunicação são os seguintes: Emissor: é o responsável pela codi�cação da mensagem. Ele pode utilizar palavras, gestos, desenhos, fala, entre outras formas para se comunicar; Receptor: é o responsável pelo recebimento e pela decodi�cação da mensagem. A comunicação só se efetiva quando o receptor compreende a mensagem do emissor; Mensagem: é o conteúdo das informações, formadas por uma ou mais unidades de signos; Código: são os elementos que possibilitaram que a comunicação se efetivasse, como a fala ou a escrita, por exemplo; Referente: é de�nido como o objeto ou situação a que a mensagem se refere; Canal: trata-se do meio pelo qual o emissor conduziu a mensagem que foi direcionada ao receptor. Ex: a fala, um livro, a televisão, o rádio etc. Há ainda outros fatores que podem interferir na comunicação. Entre eles, estão os atos de fala, sobre os quais falaremos no tópico a seguir. Teoria dos Atos de Fala A Teoria dos Atos de Fala foi uma das de maior importância para o estudo da pragmática. Ela teve como precursor John Austin, que contribuiu para os conceitos de performativos e os atos locucionário, ilocucionário e perlocutório. De acordo com essa teoria, as frases são ações que agem sobre o mundo, sob o real. Ou seja, o signi�cado de uma palavra, não é o objeto que ela nomeia, mas sim o uso que se faz dela. Os atos de fala, portanto, podem ser de�nidos como toda a ação que é realizada por meio do dizer. Tais ações podem ser muito diferentes e é por isso que se faz necessário distinguir as diversas dimensões que um ato de fala tem. Nos referimos a dimensões porque uma única locação pode realizar diferentes atos de fala: o locucionário, o ilocucionário e o perlocutório. Guimarães (2015, p. 113), explica: O ato locucionário é o ato linguístico em si, a ação de proferir as palavras uma a uma a �m de formar a frase. O ato ilocucionário é aquele que se realiza na linguagem. Por exemplo, se digo “Ordeno que saia”, estou praticando o ato ilocucionário de dar uma ordem. Por �m, o ato perlocucionário é aquele que se realiza pela linguagem: meu interlocutor pode ou não acatar minha ordem; se ele a acatar e sair do recinto, esse resultado terá sido obtido por meio da linguagem e será, portanto, um ato perlocucionário. Podemos compreender, portanto, que o ato locucionário se caracteriza por dizer algo, o ato ilocucionário por realizar uma ação ao ser dito e o perlocucionário por ter o desejo de provocar determinados efeitos nos ouvintes. Apesar disso, nem todas as expressões se encaixam nessas três dimensões, uma vez que isso está relacionado com a força ilocucionária de cada ato. Nesse sentido, podemos entender a força ilocucionária como algo bem diferente do signi�cado simples ou puro das frases. Há uma ligação direta com as interações sociais, intenções e a cultura. Marcondes (2005, p. 11) explica: Austin caracteriza em seguida as condições pressupostas para a realização dos atos de fala, que consistem em uma combinação de intenções do falante e convenções sociais com diferentes graus de formalidade. A satisfação dessas condições é o critério do sucesso ou fracasso na tentativa de realização do ato. As intenções são consideradas como psicológicas e, portanto, subjetivas, embora em última análise também se originem de práticas sociais. Silva vai mais além e apresenta os cinco grupos de expressões criados por Austin, de acordo com a força ilocucionária de cada uma delas. São elas: Expressões veriditivas: que dão um veredito sobre um determinado assunto. Ex: ordem de um médico ou de um juiz de Direito; Expressões exercitivas: tomam uma decisão a partir de determinado comportamento. Ex: proibição de realizar determinada atividade; Expressões comissivas: comprometem o falante a cumprir algo. Ex: juramento pro�ssional realizado em uma cerimônia de formatura; Expressões conductivas: se refere a uma relação à conduta de outras pessoas. Ex: felicitação por um feito de um amigo; Expressões expositivas: considera o pensamento do falante. Ex: o testemunho de um fato ocorrido As Máximas Conversacionais As máximas conversacionais foram desenvolvidas por Grice e, assim como os atos de fala, fazem parte dos estudos da pragmática. Trata-se de um conjunto de regras que deve conduzir o ato conversacional, concretizando o princípio da cooperação. Esses princípios são descritivos do comportamento linguístico dos falantes de uma língua e trazem normas especí�cas da conduta linguística. Em outras palavras, as máximas conversacionais servem para descrever os pensamentos que os alocutários fazem para que os enunciados dos locutores possam ser interpretados. As máximas conversacionais, de acordo com Grice, são quatro: quantidade, qualidade, relação e modo. Aquino (2009, p. 122) explica cada uma delas: A máxima de quantidade de�ne que o falante deve ser tão informativo quanto necessário e não mais do que isso; a máxima de qualidade garante que o falante seja verdadeiro, não diga coisas que acredita serem falsas; a máxima de relação estabelece que a contribuição deve ser relevante para a conversação; e a máxima de modo diz que o falante deve ser claro, conciso e apresentar suas ideias de forma ordenada, de modo a não causar confusões. A partir dessa explicação, podemos analisar cada uma das máximas conversacionais apresentadas por Grice. A máxima da quantidade, como você pode perceber, parte do pressuposto de que as respostas são bastante objetivas. Se uma pessoa perguntar a um amigo qual é a sua cor preferida e a resposta for apenas “Azul”, por exemplo, temos uma máxima de quantidade. Para ela ser violada, o respondente precisaria ser mais abrangente em sua resposta, incluindo informações além da solicitada. Ele poderia responder algo como “Minha cor preferida é azul, porque ela é a cor do céu e sempre a achei muito bonita”. A máxima da qualidade parte do pressuposto de que o falante somente fala a verdade. Se uma pessoa falar “São Paulo é a capital do Brasil?” e a outra responder “Sim, é”, por exemplo a teoria é violada. A máxima de relação, por sua vez, estabelece uma contribuição importante para a conversação, estabelecendo uma ligação entre os enunciados. Um exemplo acontece quando alguém fala “Amanhã vou ao cinema. Querir comigo?” e a resposta for algo como “Sim, mas antes preciso estudar”. Finalmente, a máxima de modo prega que as conversações sejam claras e organizadas. Frase simples como “Tenho cinco sapatos”, é um exemplo desse tipo de máxima. Conceitos Básicos da Análise do Discurso Ferdinand de Saussure foi o teórico responsável por estabelecer a linguística como uma ciência autônoma. Isso aconteceu porque ele instaurou uma dicotomia de língua/fala. Na visão dele, a língua só poderia ser estudada se fossem deixados de lado os fatores externos a esses. Émile Benveniste, por sua vez, propôs que a linguagem é constituída da natureza do ser humano, por meio do processo de enunciação. Tais teóricos foram muito relevantes para que a análise do discurso se desenvolvesse. Porém, é preciso lembrar que essa técnica não envolve apenas a linguística, mas também outras disciplinas, como o Materialismo Histórico e a Psicanálise. Ao estudar a análise do discurso, o primeiro ponto que deve ser observado é o sujeito, que tem, pelo menos, duas concepções: a de Foucault e a de Pêcheux. Medeiros (2016, p. 5) explica cada uma delas: Os mesmos teóricos também trabalham com concepções diferentes para o discurso. Medeiros (2016, p. 5) explana: Para Foucault, o sujeito é um lugar determinado e vazio, com potencialidade para ser ocupado por indivíduos diferentes; Para Pêcheux, com in�uência de Althusser, o sujeito é o indivíduo interpretado pela ideologia e afetado pelo inconsciente. Para Foucault, o discurso é uma forma de poder, um poder do qual desejamos nos apoderar, e está sujeito a modos de legitimação e de interdição; Para Pêcheux, o discurso é um efeito de sentido entre interlocutores, ou melhor, entre suas representações, determinadas pelo estado da luta de classes. As condições de produção, por sua vez, dizem respeito ao fato dos discursos sempre serem produzidos em condições especí�cas. Elas estão associadas às relações de força, que se estabelecem entre esses discursos. Na análise do discurso, outro elemento importante é a ideologia que, de acordo com Medeiros (2016, p. 8), “tem suas bases na teoria marxista, que pressupõe uma relação entre os modos de produção dos sujeitos e suas realidades histórica e social”. Em resumo, podemos dizer que a análise do discurso é uma ciência que analisa a estrutura dos textos e, a partir disso, compreende as construções ideológicas que ele possui. Tendo esse conhecimento sobre os princípios básicos da análise do discurso, você está pronto para se aprofundar sobre como ela é trabalhada em textos. Análise do Discurso Empregada a Textos Na análise do discurso de um texto, podem ser observadas as projeções das enunciações nos enunciados. Ao realizar esse trabalho, se observam ainda os recursos de persuasão que são utilizados para construir aquilo que se quer passar como verdade no conteúdo textual. Um exemplo de análise que pode ser realizada é o uso das categorias de pessoa, tempo e espaço, que no discurso não são necessariamente as mesmas da enunciação. Em um romance literário, em que o personagem principal é o narrador da história, por exemplo, o autor está fabulando, assumindo outra identidade. Não se pode atribuir às falas do personagem como um pensamento concreto de quem o escreveu. Já no texto jornalístico, é bem comum que seja utilizada uma linguagem em terceira pessoa. Os jornalistas usam essa técnica para não tomar partido no discurso e manter a imparcialidade ao publicar as notícias. Na linguagem jornalística, como explica Gregolin (1995, p. 19), “os recursos utilizados são o uso da 3ª pessoa, no tempo do ‘então’ e no espaço do ‘lá’, e o uso do discurso direto para garantir a verdade”. O oposto também acontece, como nos casos de autobiogra�as. Nesse tipo de situação, se costuma usar uma linguagem em primeira pessoa, com o objetivo de aproximar o leitor, assim como trazer o tempo para o “agora” e o espaço para o “aqui”. Na análise do discurso aplicada a textos, também é possível veri�car se o autor quis deixar alguma ideia subentendida, se ele quis “dizer sem dizer”, por exemplo. Isso é bastante comum de ser visto em letras de músicas, poemas e outros estilos literários. A canção “Cálice”, por exemplo, escrita em 1973 por Chico Buarque e Gilberto Gil traz metáforas e duplos sentidos para tratar a repressão que os artistas passavam na época da ditadura militar no Brasil. Os sentidos subentendidos só são compreendidos, no entanto, quando o enunciador e o enunciatário têm conhecimentos partilhados. Gregolin (1995, p. 20) comenta que “esse conhecimento de mundo envolve o contexto sócio-histórico a que o texto se refere”. A análise do discurso textual ganha relevância por explicar os sentidos dos textos e como eles se articulam na sociedade. Ela serve para que o leitor possa re�etir e entender com mais clareza as mensagens que são passadas. Linguística e Estilística Ao estudar gramática, há uma preocupação com a norma culta da língua. Isso não acontece com a estilística, que tem foco na função expressiva da linguagem. Lyons, (2013, p. 238) apresenta uma de�nição generalista da estilística: “estilística é o estudo da variação estilística nas línguas e nas maneiras como tal variação é explorada pelos usuários”. Diana (2019) simpli�ca e explica que “a estilística estuda a linguagem e a sua capacidade de tornar as mensagens mais emotivas e bonitas”. Há diferentes campos que podem ser estudados na estilística. Apresentaremos, a seguir, os principais deles! Estilística Fônica Na estilística fônica, os sons contribuem para que os textos tenham uma sonoridade harmônica. Exemplo disso pode ser visto quando as consoantes são usadas para marcar o ritmo dos textos, como no verso “O rato roeu a roupa do rei de Roma”. Estilísticas Morfológica No campo morfológico, a estilística se preocupa em exprimir emoções ao texto, por meio de recursos como o uso de diminutivos e aumentativos. Quando um casal de namorados chama um ao outro de “amorzinho”, por exemplo, está adotando uma estilística morfológica para tratar o parceiro com carinho. Estilística Sintática A estilística sintática se caracteriza por recorrer a uma série de recursos para reproduzir efeitos estéticos nos textos. Uma das ações que podem ser realizadas é retirar os conectivos de uma oração, para que o ritmo seja desacelerado. Estilística Semântica No campo semântico, a estilística se caracteriza por levar emoção aos textos por meio das �guras de linguagem, como as metáforas e metonímias. Ao falar que “Maria tem coração de pedra”, por exemplo, se expressa a emoção de que essa pessoa é insensível ou desprovida de sentimentos. Linguística e Terminologia A terminologia não pode ser identi�cada apenas como uma nomenclatura técnico- cientí�ca, tendo em vista que se modi�ca conforme determinadas ações são executadas. Waquil, (2017) apresenta os três objetos de estudos da terminologia: o termo, a fraseologia e a de�nição. No que se refere ao termo, a autora o entende como unidade linguística que passa por variações e que podem ter diferentes signi�cados, de acordo com o contexto em que são empregados. Ela exempli�cam: Já a fraseologia é de�nida pela autora como “o conjunto de ‘frases’ que são frequentes, recorrentes e habitualmente utilizadas em comunicações de um determinado campo do saber” (WAQUIL, 2017, p. 99). @freepik Quando falamos a frase “Ela comeu uma manga”, um falante pro�ciente da língua portuguesa consegue distinguir a palavra “manga” de forma diferente daquela utilizada na frase “A manga da camisa estava curta”. Da mesma forma, um arquiteto (e até mesmo um leigo) entende o termo “planta” na frase “A planta estava mal de�nida e causou problemas na execução do projeto” de forma peculiar e diferente da signi�cação dada pela mesma unidade na frase “Aquela planta precisa ser regada”. (WAQUIL, 2017, p. 98). Um bom exemplo da aplicação da fraseologia é a frase “Eu vos declaro marido e mulher”, muito repetida pelos padres em cerimônias de casamento. A de�nição, porsua vez, se refere, de acordo com Waquil, como “uma comunicação especializada e�ciente e responsável pela identi�cação de conhecimentos, conceitos, objetos, processos, valores e quaisquer outros aspectos fundamentais dentro de cada especialidade”. (2017, p. 103). Os estudos da de�nição são realizados pelos linguistas para que os signi�cados das palavras sejam desenvolvidos para um dicionário, por exemplo. SAIBA MAIS A partir do surgimento da linguística como ciência moderna, no início do século XX, desenvolveu-se uma concepção muito clara sobre a necessidade de a Linguística �rmar se como uma ciência autônoma no quadro geral das ciências sociais. Não por acaso o lema do I Congresso de Linguistas, realizado em Haia em 1928, era “a autonomia da linguística". No entanto, a autonomia da linguística como ciência não a isola das outras áreas do conhecimento. Apesar do papel basilar que a linguagem desempenha no quadro das ciências sociais, é preciso admitir outros modos de ver o fenômeno linguístico e buscar interpretá-los em termos de complementaridade interdisciplinar. Fonte: RAMOS, André Gonçalves. AS DIFERENTES FUNÇÕES DA LINGUAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE JAKOBSON E VYGOTSKY. REVISTA MEMENTO. V.4, n.1, jan.-jun. 2013. REFLITA A Linguística não é capaz de dar conta de todas as questões do campo da linguagem. Sua autonomia como ciência não a isola das outras áreas do conhecimento André Gonçalves Ramos Livro Filme Sujeito e Discurso AUTORIA Lucimari de Campos Monteiro Sumário Introdução 1 - O Sujeito Na Análise Do Discurso 2 - Exemplos de Análises do Discurso 3 - Estilos de Linguagem 4 - Regionalismo e Linguagem 5 - Preconceito Linguístico 6 - Linguística Histórica 7 - Principais Escolas 8 - Estudos Brasileiros sobre a Linguística Considerações Finais Introdução Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, vamos conhecer sobre o sujeito no discurso. Também falaremos sobre os diferentes estilos de linguagem, o regionalismo e o preconceito linguístico. Ainda aprenderemos sobre a linguística histórica e as principais escolas e estudos sobre a disciplina que estamos estudando. O nosso desejo é que esta unidade seja de muita utilidade para que você possa se aprofundar em seus estudos sobre a língua. Bons estudos! Plano de Estudo: 1. O sujeito na análise do discurso; 2. Exemplos de análises do discurso; 3. Estilos de linguagem; 4. Regionalismo e linguagem; 5. Preconceito linguístico; 6. Linguística histórica; 7. Principais escolas; 8. Estudos brasileiros sobre linguística. Objetivos de Aprendizagem: 1. Compreender sobre o sujeito na análise do discurso; 2. Entender sobre os diferentes estilos de linguagem; 3. Analisar o regionalismo e o preconceito na linguística; 4. Aprender sobre a linguística histórica e as principais escolas e estudos da disciplina. O Sujeito na Análise do Discurso Quando falamos em análise do discurso, é preciso ter em mente que o termo “sujeito” não tem o mesmo signi�cado que encontramos nos estudos na enunciação. Essa consciência é necessária para evitar equívocos. Também é necessário compreender que, como a análise do discurso é uma disciplina heterogênea, os autores têm uma visão diferente sobre o papel e o conceito de sujeito. Os dois principais autores que desenvolveram conceitos para o sujeito na análise do discurso são Foucault e Pêcheux. Veja, a seguir, as teorias por eles desenvolvidas. O Sujeito Para Foucault Foucault de�ne o discurso como algo que é controlado por muitas regras, que de�nem quem pode ter acesso às informações ou entrar na ordem do discurso. Dessa forma, para Foucault, a constituição do sujeito acontece por conta de jogos que ocorrem entre o desejo de apresentar uma verdade e ter o poder de a�rmá-la. Medeiros (2016, p. 16) mostra como esse conceito é aplicado por meio de um exemplo interessante: Pense, por exemplo, no enunciado “É preciso escovar os dentes após cada refeição”. Você pode escutar isso de um dentista e di�cilmente vai contestá-lo, a�nal, a pro�ssão dele confere ao seu discurso a legitimidade sobre alguns discursos, reproduzidos e aceitos como verdades. Mas e se esse mesmo enunciado vier de um paciente diagnosticado com Transtorno Obsessivo Compulsivo, que escova os dentes quinze vezes por dia? E se vier de um representante de uma marca de produtos para higiene bucal? Para Foucault, portanto, o sujeito não é uma pessoa, mas sim uma posição assumida em determinada situação. Isso pode acontecer por diversos motivos, como o do dentista apresentado no exemplo. A�nal, por ser especialista nos cuidados com os dentes, ninguém contestaria a opinião pro�ssional desse indivíduo. O Sujeito Para Pêcheux Pêcheux, por sua vez, tem um pensamento com base marxista-althusseriana. Para ele, o sujeito tem um efeito ideológico, tendo sustentação na constituição do sentido. O teórico também acredita na noção de forma-sujeito, que reúne os principais saberes de uma Formação Discursiva, que tem uma linha de pensamento com a qual o sujeito se identi�ca. Pêcheux acredita ainda que essa identi�cação não ocorre sempre da mesma forma. Por isso, ele apresenta diferentes modalidades para que a posição do sujeito seja identi�cada. Medeiros (2016, p.18) as apresenta: O sujeito, na visão de Pêcheux, portanto, está sempre relacionado a uma forma discursiva. De tal maneira, se ele deixar de se identi�car com uma delas, necessariamente deverá se identi�car também com a outra. A identi�cação plena caracteriza o discurso do bom sujeito, que reúne os saberes da Formação Discursiva sem questioná-los. A contraidenti�cação caracteriza o discurso do mau sujeito, que contesta, dúvida e se afasta dos saberes da Formação Discursiva com a qual está identi�cado. A desidenti�cação acontece quando o sujeito se desloca de uma Formação Discursiva a outra, deixando de se identi�car com os saberes da antiga para se identi�car com os da nova. Exemplos de Análises do Discurso Para desenvolver um trabalho e análise do discurso, Orlandi (1987, p. 57-58) orienta a seguir o seguinte percurso: “análise de palavras; análise de construções; construção de uma rede semântica, intermediária entre o social e o gramatical; consideração da produção social do texto como constitutiva de seu sentido”. Assim sendo, de acordo com a autora, o analista precisa associar a gramática com a sua aplicação no discurso e no cenário ou contexto social em que ele está inserido. Um exemplo disso pode ser visto no relançamento de obras do autor Monteiro Lobato, que foram editadas por sua bisneta, Cleo Monteiro Lobato. A escritora acredita que algumas frases e trechos das obras do bisavô, embora não tenha sido essa a intenção, podem ser interpretadas como racistas nos dias de hoje. Em entrevista à CNN, Cleo Monteiro Lobato declarou: “Alterei algumas frases. Em vez de chamar a negra, a negra tem nome: Tia Nastácia. Em vez de dar risada com beiço, troquei. Se fosse um tratamento equivalente ao da Dona Benta, eu deixava”. Tais mudanças na obra de Lobato ocorreram por conta de uma análise do discurso realizada nos dias atuais. Por estar inserido em uma outra época, em que questões como o racismo estrutural ainda eram pouco debatidas, o autor passou ileso às críticas quando as obras foram originalmente publicadas, há mais de 100 anos. Isso mostra, como propõe Orlandi (1987), como o sentido do texto ocorre não apenas pela gramática, mas também pelo contexto social em que ele se insere. Estilos de Linguagem Os estilos de linguagem são estudos pela estilística, ramo da linguística que estuda as expressões em seus sentidos de expressividade. Martino (2018, p. 278) explica: A estilística visa ao lado estético emocional da atividade linguística, em oposição ao aspecto intelectivo e cientí�co. Ela trata do estilo, dos diversos processos expressivos próprios para despertar o sentimento estético. Esses processos resumem-se no que chamamos de �guras de linguagem. O autor ainda classi�ca as �guras de linguagem em: �guras de som, �guras de construção ou de sintaxe, e �guras de pensamento.
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