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Livro Salvacao Em Cristo

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Apresentação 
 
O tema da salvação é central na doutrina cristã. No fundamento do Cristianismo, estão a 
encarnação, a morte e a ressurreição de Jesus – eventos que produzem profundos efeitos em 
nossas vidas. Assim, a salvação em Cristo trata do evangelho, do plano eterno de Deus para nós, 
da transformação do coração no presente e do destino do ser humano na eternidade. 
Entretanto, embora seja matéria basilar na doutrina cristã e de fundamental importância para 
nossa vida, observamos que ao longo de cerca de dois mil anos de história da Igreja houve muito 
debate teológico e controvérsia em torno da salvação em Cristo. Atualmente verificamos vários 
aspectos concernentes ao assunto que não foram objeto de consenso no diálogo encadeado no 
decorrer dos séculos. Assim, a Igreja contemporânea herdou um vasto e rico legado das 
gerações anteriores, além de diferentes tradições de pensamento teológico, que representam 
correntes distintas de elaboração reflexiva e histórica da fé cristã. 
Nesse contexto nós nos inserimos como igreja. As Igrejas de Cristo Internacionais têm sua 
história própria, identificada com o chamado Movimento de Restauração (séc. XIX), com a 
Reforma (séc. XVI) e com a tradição apostólica e dos pais da igreja. Nossa identidade vem dessa 
vasta gama de pensamentos e construções, não havendo como negar qualquer desses vínculos 
e influências, pois isso é história. A respeito disso, escrevemos em 2018 o documento “Jornada 
de fé: uma breve história da Igreja de Cristo Internacional no Brasil”, que trata basicamente de 
aprendizados colhidos de nossas experiências proporcionadas e permitidas por Deus, em 
especial as mais recentes. 
Em 2021, iniciamos o Ministério de Ensino CJ2 (https://www.ministerioensinocj2.org/), no 
âmbito da família de Igrejas de Cristo Internacionais de língua portuguesa (ICI). As primeiras 
ações do CJ2 evidenciaram uma deficiência clara em nosso meio: a carência de elaborações, 
especialmente documentos escritos em língua portuguesa, que propiciassem reflexões mais 
densas sobre a fé e sobre o delineamento da identidade alicerçada em boa tradição cristã. 
Este texto a respeito da salvação em Cristo foi escrito com o propósito de contribuir para o 
preenchimento dessa lacuna. O objetivo é que, a partir das ideias aqui descritas, as convicções 
e o diálogo sejam fortalecidos, cooperando para a construção mais sólida de boa tradição 
teológica, pautada essencialmente na Bíblia, no âmbito de nossa família das Igrejas de Cristo 
Internacionais de língua portuguesa. Trata-se de um documento sintético a respeito de um tema 
vasto; por isso, a intenção não é esgotar o assunto, nem tocar em todos os seus possíveis 
aspectos, mas trazer com alguma profundidade elementos que julgamos relevantes. 
Nesse eixo, acreditamos ser muito importante reforçar uma ideia que faz parte de nossa 
essência como família de igrejas: somos um movimento. Isso significa que não estamos (e nem 
queremos estar) petrificados pelo engessamento oriundo de tradições espiritualmente mortas 
(contrárias à Palavra de Deus)1. Sobretudo, queremos ser sempre guiados e capacitados pelo 
Espírito Santo para atuar na obra de Cristo, para a glória do Pai. Ao longo do caminho, vamos, 
por um lado, aprofundar convicções e firmar nossa boa tradição; e, por outro, renovar a fé, a 
esperança e o amor, por meio da ação da Palavra e do Espírito em nós. 
 
1 Sobre esse tema, veja o item 3.4 do documento “Jornada de fé: uma breve história da Igreja de Cristo Internacional 
no Brasil”, especialmente páginas 44 e 45. 
https://drive.google.com/file/d/1Kn86CNpbYWeMLeUIRM1quTdSSWMwba3Y/view
https://drive.google.com/file/d/1Kn86CNpbYWeMLeUIRM1quTdSSWMwba3Y/view
 
 
É importante frisar ainda que diferentes tradições de pensamento teológico têm sido 
elaboradas por inúmeros estudiosos sinceros e comprometidos com Cristo, além de muito 
capazes intelectualmente. Assim, nessa seara, entendemos que proposições diferentes 
daquelas apresentadas neste documento, desde que coerentes com o núcleo central de 
doutrinas que identificam o cristianismo bíblico, não implicam, por si só, na impossibilidade de 
salvação, ou mesmo na não caracterização como discípulos de Jesus, daqueles que abraçam 
essas percepções diferentes. 
Em vista disso, trazemos no texto referências de vários autores, de diferentes linhas teológicas. 
Em especial destacamos Jack Cottrell, Wayne Grudem e Norman Geisler, cujas obras citadas 
constituíram o núcleo de consulta para a elaboração do texto. Entretanto, como diferentes 
teólogos aplicam muitas vezes termos diversos para sintetizarem a mesma ideia ou conceito 
doutrinário, procuramos definir os termos principais em cada tópico, visando à melhor 
compreensão e comunicação. Usamos a Nova Versão Internacional para a citação de textos 
bíblicos, exceto quando explicitamente é mencionada outra versão. 
Com isso, o propósito deste texto não é contrapor diferentes visões doutrinárias, mas expor a 
visão construída ao longo de nossa história (ICI), mostrando sua base bíblica sólida e sua lógica 
interna coerente. Iniciamos com ênfase na alegria trazida pelas boas notícias da salvação em 
Cristo (Introdução) e seguimos esclarecendo aspectos básicos da doutrina: é Cristo quem nos 
salva, para a glória de Deus (Item 1), do domínio do pecado e da ira vindoura (Item 2), e essa 
salvação é somente pela graça, jamais pela lei (Item 3). Na sequência expomos a dupla cura 
propiciada pela salvação: a justificação é o remédio para a condenação trazida pela culpa moral 
(Item 4) e a regeneração cuida da corrupção humana produzida pelo pecado (Item 5). 
Destacamos que Deus escolheu nos justificar e nos dar nova vida, com a habitação do Espírito 
em nós, no momento do batismo. Com isso, somos adotados na família de Deus (Item 6) e 
iniciamos o processo de santificação (Item 7). Tratamos dos aspectos eternos da salvação, ao 
abordarmos os temas da eleição (Item 8) e da glorificação (Item 9). Por fim, descrevemos as 
condições bíblicas para recebermos e retermos a graça redentora (Item 10) e encerramos o 
estudo com uma breve conclusão. 
Por fim, ressaltamos que a essência da salvação é relacionamento com Deus, ou seja, conhecer 
o Pai e o Filho por meio da revelação do Espírito Santo (Jo 17.3; 14.17; 1 Jo 2.20; 4.6). A doutrina 
é parte importante para compreendermos a graça redentora vinda de Deus. No entanto, nesse 
contexto, podemos supervalorizar o aspecto doutrinário, pendendo para o legalismo; como 
podemos minimizar a importância da doutrina, pendendo para o relativismo. Nosso propósito é 
conhecer com profundidade a doutrina, guiados pelo Espírito Santo, para fortalecer o 
relacionamento que nos liberta: “onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade” (2 Co 3.17). 
 
 
 
Dezembro, 2021. 
 
 
Ministério de Ensino CJ2 
Equipe de Coordenação 
 
 
 
Sumário 
 
Introdução: Uma mensagem de grande alegria! ...................................................................... 5 
(1) Salvação: por quem e para quê? ......................................................................................... 5 
(2) Cristo nos salva! Mas de quê? ............................................................................................. 6 
(3) Dois caminhos para a salvação? .......................................................................................... 7 
(4) Culpa, condenação e justificação em Cristo ........................................................................ 8 
4.1 A culpa moral do ser humano ................................................................................. 9 
4.2 Justificação em Cristo: o remédio para a condenação da culpa. ............................. 10 
4.3 Pecadores injustos declarados justos por um Deus justo. ...................................... 11 
4.4 Um único meio: a fé. .............................................................................................13 
4.5 Paulo x Tiago. ........................................................................................................ 13 
4.6 Quando somos justificados?.................................................................................. 15 
(5) Corrupção da natureza humana e regeneração em Cristo................................................. 17 
(6) Adoção na família de Deus ................................................................................................ 20 
(7) Santificação ....................................................................................................................... 21 
(8) Eleição e predestinação .................................................................................................... 24 
8.1 Conceitos primários .............................................................................................. 24 
8.2 O ser humano, imagem do Criador. ....................................................................... 26 
8.3 O livre-arbítrio ou a liberdade humana.................................................................. 26 
(9) Glorificação ....................................................................................................................... 29 
(10) Condições para a salvação. ............................................................................................. 30 
10.1 As condições para receber a salvação. ................................................................. 32 
10.1.1 Fé salvífica ........................................................................................... 33 
10.1.2 Arrependimento .................................................................................. 34 
10.1.3 Confissão de fé .................................................................................... 35 
10.1.4 Batismo ............................................................................................... 36 
10.2 Uma vez salvo, sempre salvo? ............................................................................. 40 
Conclusão ............................................................................................................................... 42 
 
 
 
5 
 
Introdução: Uma mensagem de grande alegria! 
 
Toda a mensagem da Bíblia aponta para o evangelho, que trata das boas notícias a respeito do 
Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador! Isso foi anunciado pelo anjo de Deus aos pastores, nos 
arredores de Belém, naquela noite bendita que marcou a intervenção definitiva de Deus na 
história da criação: “Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o 
povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11). 
Inicialmente, é importante destacar que a salvação em Cristo é motivo de “grande alegria”. Um 
júbilo que flui intensamente do interior de todo aquele que crê. A obra perfeita do Salvador vem 
ao encontro do mais profundo clamor dos seres humanos (ainda que muitas vezes expresso de 
forma inconsciente): a necessidade de redenção. O maior e mais precioso presente gera a maior 
alegria. Com certeza, o que Jesus fez é impossível para qualquer outro ser humano realizar. Com 
a salvação somos perdoados, regenerados, justificados, unidos com Deus e com nossos irmãos 
e irmãs em Cristo – a Igreja do Senhor Jesus – e com todo o povo de Deus resgatado por Cristo 
ao longo dos séculos. Essas são as boas novas anunciadas, cuja mensagem afirma: “são para 
todo o povo”. 
Entretanto, Satanás, o inimigo de nossa fé, tenta (e, infelizmente, muitas vezes consegue) trazer 
divisão, dor, sofrimento, ofensas e brigas, a partir de temas maravilhosos como a salvação. 
Subitamente, a mensagem que veio para alegrar e unir, torna-se grande fonte de desunião e 
tristeza. As perversas sementes satânicas encontram terreno fértil no coração humano 
corrompido e ainda não totalmente regenerado pela graça salvadora de Deus, quando se vê a 
servidão e o amor cedendo lugar a atitudes defensivas, medo, raiva e ódio. Precisamos 
definitivamente compreender que o que demonstra sermos verdadeiros discípulos de Cristo não 
é o arcabouço doutrinário defendido por nossa tradição religiosa, mas o verdadeiro amor (elo 
perfeito – Cl 3.14): 
Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês 
devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, 
se vocês se amarem uns aos outros. (Jo 13.34-35). 
Também importa ressaltar que a salvação, conforme descrita na Bíblia, não é uma doutrina 
etérea e seca, descolada da realidade prática da vida. A salvação em Cristo, que nos conduz à 
vida eterna, é sobretudo relacionamento: “Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus 
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). 
Creio que, no geral, sabemos dessas coisas, pois são básicas na vida cristã. Mas agora, como 
certa vez disse nosso único Mestre e Senhor, após lavar os pés de seus discípulos: “felizes serão 
se as praticarem" (Jo 13.17). 
 
(1) Salvação: por quem e para quê? 
 
Deus nos salva, por meio da obra perfeita de Cristo, mediante a ação do Espírito Santo em 
nossas vidas. Jesus é o grande autor de nossa fé (Hb 12.2) e de nossa salvação (Hb 2.10). Jesus 
é o Filho de Deus (Jo 1.14; 3.16; 1 Jo 4.9), eternamente gerado pelo Pai. Jesus também é o Filho 
do Homem, tanto no sentido de ser o Messias (Dn 7.13-14) quanto no sentido de ter sido 
6 
 
concebido pelo Espírito Santo (Lc 1.35) e nascido de Maria (Lc 1.30-33). Jesus, nosso Salvador, 
nasceu num estábulo em Belém da Judeia e pelo poder do Espírito Santo tornou-se o Cordeiro 
de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Por tudo isso, ele é o único mediador entre nós 
e o Pai (1 Tm 2.5) e o único nome (poder) pelo qual devemos ser salvos (At 4.12). 
Nesse sentido, C. R. Sproul comenta: 
[...] é importante notar outro aspecto central do conceito bíblico de salvação. A salvação 
é do Senhor. Salvação não é uma iniciativa humana. Os seres humanos não podem se 
salvar. A salvação é uma obra divina, que é realizada e aplicada por Deus. Somos salvos 
pelo Senhor e do Senhor. É ele quem nos salva da sua própria ira2. 
Deve-se ainda enfatizar que o propósito final de nossa salvação (e da redenção de todo o 
cosmos)3 é a glória de Deus. Uma leitura no primeiro capítulo de Efésios é suficiente para 
apreender essa afirmação com clareza. Por exemplo, Paulo escreve nos versículos 13 e 14: 
Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, 
vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da 
nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua 
glória. (Ef 1.13-14). 
Na verdade, fomos formados e existimos para a glória de Deus: “De longe tragam os meus filhos, 
e dos confins da terra as minhas filhas; todo o que é chamado pelo meu nome, a quem criei para 
a minha glória, a quem formei e fiz” (Is 43.6-7). E, na qualidade de filhos e filhas de Deus, 
dizemos: “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! 
Amém” (Rm 11.36). 
 
(2) Cristo nos salva! Mas de quê? 
 
De forma ampla, salvação significa resgatar ou libertar de perigo, de situação difícil e 
ameaçadora. O ser humano se colocou numa posição de perigo e perdição (perda de direção, 
propósito, significado, identidade), ao se rebelar (Gn 3) contra o Criador, quando o pecado 
entrou no mundo (Rm 5.12). Com a perda do acesso à árvore da vida4 pelo ser humano (Gn 3.22-
24), Deus demonstrou sua graça, dando sequência ao seu plano eterno de salvação (Gn 3.15), 
por meio de Cristo. 
Basicamente o pecado nos torna escravos e nos confronta com a ira do Deus-Criador, Santo e 
Todo-Poderoso. A escravidão é manifestada pelo domínio exercido sobre nós, oriundo de nossa 
carne, entendida como a natureza humana corrompida (Rm 8.8); do mundo, visto como a ordem 
moral criada que estáem ativa rebelião contra Deus (1 Jo 2.15-17); e do Maligno (1 Jo 5.19). A 
ira vindoura (juízo final) de Deus está reservada a todos que se mantêm desobedientes ao 
 
2 SPROUL, Richard C. Salvo de quê? Disponível em: https://reformados21.com.br/2017/05/10/salvo-de-que/. 
Acessado em 19 ago 2021. Destaque acrescentado. 
3 Passagens como João 3.16 (“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito [...]”) apontam para o 
fato de que a obra redentora de Jesus tem efeito em toda a criação (em todo o mundo ou cosmos). 
4 A árvore da vida, proibida ao homem em Gênesis (2:9; 3:22-24) e oferecida gratuitamente aos que foram purificados 
e redimidos pelo sacrifício de Cristo em Apocalipse (2:7; 22:14), caracteriza a comunhão plena e a vida eterna com 
Deus. Assim, a história bíblica mostra como o paraíso perdido em Gênesis é totalmente recuperado em Apocalipse 
por meio da execução do plano eterno de Deus. 
7 
 
Senhor, apegando-se até o fim à sua rebeldia moral (Rm 5.9; 1 Ts 1.10; 5.9). Contudo, Cristo veio 
para a nossa salvação, com poder para nos libertar da escravidão e nos livrar da ira do Deus 
que é fogo consumidor (Hb 12.29). 
Dessa forma, a partir do maravilhoso plano de Deus, a salvação é um processo que se desenvolve 
no tempo e no espaço. O escritor C. R. Sproul expressa essa verdade do seguinte modo: 
A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas em muitos tempos. O 
verbo salvar aparece em praticamente todos os possíveis tempos da língua grega. Há o 
sentido de que fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvos 
(pela obra de Deus na história); somos salvos (por estarmos em um estado justificado); 
estamos sendo salvos (por estarmos sendo santificados ou tornado santos) e seremos 
salvos (por experimentarmos a consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da 
salvação em termos de passado, presente e futuro5. 
Com relação aos efeitos do pecado, a rebeldia produz no ser humano duas consequências 
terríveis: a corrupção de sua natureza e a culpa (que traz consigo a condenação). No entanto, 
Deus oferece duas curas para as pessoas, com a manifestação de sua graça na salvação: a 
justificação (libertação da condenação da culpa) e a regeneração (resgate da corrupção do 
pecado, pela realidade da nova criação em Cristo). O momento singular da regeneração marca 
o início de um processo que podemos chamar de santificação. Abordaremos cada um desses 
conceitos em tópicos específicos deste documento. Mas, por ora, voltaremos a atenção para 
uma questão mais ampla: qual o caminho a seguir para obtermos a salvação em Cristo? 
 
(3) Dois caminhos para a salvação? 
 
Nos três primeiros capítulos da carta aos romanos, Paulo demonstra que judeus e gentios (a 
totalidade dos seres humanos) são pecadores e estão naturalmente distantes de Deus: “pois 
todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3.23). Conclui-se daí que, de fato, 
precisamos de salvação. Mas como podemos dirimir os efeitos do pecado (culpa e corrupção ou 
depravação) em nossas vidas? Como escapar de suas terríveis consequências (escravidão e ira 
de Deus)? 
Dois grandes caminhos ou sistemas de pensamento surgem para responder essas questões. 
Dentro de cada um deles há praticamente uma infinidade de ramificações, mas qualquer atitude 
do ser humano com relação ao tema (pecado-salvação) poderá ser classificada em um desses 
sistemas. De forma simples, podemos chamá-los de Graça e Lei. A Graça baseia-se no esforço 
divino para, do início ao fim, nos encontrar e salvar. A Lei baseia-se no esforço humano para 
agradar a Deus e conquistar a salvação. No escopo da Lei encontram-se todas as iniciativas 
humanas para sua própria redenção, desde o fundamentalismo religioso até o humanismo 
exclusivo6. A Lei aponta para a conquista humana, diante de seu próprio esforço e trabalho. A 
Graça aponta para a conquista de Deus ofertada a nós de forma gratuita, imerecida e 
extremamente generosa. 
 
5 SPROUL, Richard C. Salvo de quê? Disponível em: https://reformados21.com.br/2017/05/10/salvo-de-que/. 
Acessado em 19 ago 2021. Destaque acrescentado. 
6 SMITH, James K.A. Como (não) ser secular. Brasília: Editora Monergismo, 2021. P. 222; em referência a TAYLOR, 
Charles. Uma era secular. Unisinos, 2010. 
8 
 
Numa visão ampla do significado da palavra graça no AT e do NT, inferimos que significa a ação 
amorosa de Deus a favor do homem e de sua criação; presentes de Deus que produzem alegria, 
incluindo as bênçãos de Deus da criação, da providência (graça comum), bem como a redenção 
(graça especial)7. Encontramos três sentidos para o termo (graça) na Bíblia8: 
(i) atributo da natureza de Deus, que o faz desejar nossa salvação e o impeliu a 
torná-la possível, por meio de Cristo; 
(ii) conteúdo de nossa salvação, o real presente que recebemos de Deus 
quando ele nos salva que se refere à dupla cura da salvação (justificação e 
regeneração/santificação); e 
(iii) o caminho pelo qual Deus nos salva com seu poder, ou seja, o método ou 
a maneira que Deus usa para derramar sobre nós o poder da salvação. Por meio 
desse poder, Deus nos dá muito além de nossas forças naturais, como a graça 
pela qual Paulo trabalhou mais que todos (1Co 15.10) e pela qual os macedônios 
deram além do que podiam (2Co 8.1-4)9. 
Paulo menciona esses dois sistemas antagônicos quando diz: “porque vocês não estão debaixo 
da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6.14). A mensagem cristã afirma que o ser humano não pode 
alcançar Deus por si mesmo, mas Deus vem ao encontro do homem e o resgata: “Porque a graça 
de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11) e, “vocês são salvos pela graça, 
por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se 
glorie” (Ef 2.8-9). Assim, a salvação bíblica é por pura graça de Deus, e não por qualquer 
abordagem legalista ou mesmo híbrida, com a combinação de graça e obras10. Há um caminho 
para a salvação proposto e empreendido pelo homem que, na verdade, leva à completa 
perdição; mas há um caminho para a salvação planejado e executado pelo Pai, por meio do Filho, 
no poder do Espírito Santo, que verdadeiramente nos salva. Por isso, não precisamos de regras 
religiosas ou de doutrina morta, mas de espírito e vida (Jo 6.63) que vêm da revelação da Palavra 
de Cristo por meio do Espírito de Deus. A prática do cristianismo consiste em receber o 
presente de Deus e responder com gratidão àquilo que Deus tem feito por nós11. A atitude de 
receber é ativa (ao invés de passiva, imposta por alguém), enquanto a gratidão é a característica 
que flui do coração constrangido e quebrantado pelo precioso presente recebido de Deus. 
 
(4) Culpa, condenação e justificação em Cristo. 
 
No tópico 2 deste texto, apontou-se duas consequências do pecado para o ser humano (culpa e 
corrupção de sua natureza) e duas curas providenciadas por Deus (justificação e regeneração). 
 
7 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 307. 
8 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 307-308. 
9 BOOR, W. Comentário Esperança - Carta aos Coríntios. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2004. 
P.236 e 424. 
10 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 315. 
11 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 308. Em referência a RIDENOUR, Fritz. How to be a 
christian without to be a religious. Regal Books, 1967. 
9 
 
Neste tópico falaremos da justificação, que trata da condenação pela culpa ao remover todo o 
castigo merecido por causa do pecado. 
 
4.1 A culpa moral do ser humano 
A consciência culpada faz parte da vida; é um elemento próprio da condição humana natural. A 
culpa é um senso de responsabilidade por algum mal cometidoou um sentimento de estar em 
falta com alguém; por vezes associada a constrangimento, remorso, medo, consciência pesada, 
vergonha, timidez e outros fatores. Ela pode ser caracterizada a partir de uma abordagem 
relacionada à própria pessoa (como na linguagem psicológica de C. G. Jung), atrelada ao nosso 
caráter existencial (como nos escritos de Martin Buber) ou associada à ruptura de nosso 
relacionamento com Deus (como na linguagem bíblica)12. O psiquiatra e escritor cristão Paul 
Tournier, que contribuiu muito para a melhor compreensão desse tema, faz importante 
distinção entre o que ele chama de culpa verdadeira e culpa falsa, com base nos ensinamentos 
bíblicos: 
À luz da Bíblia, a culpa verdadeira nos aparece como uma culpa em relação a Deus, uma 
ruptura da ordem de dependência do homem em relação a Deus. [...] A referência a 
Deus que a Bíblia nos traz esclarece acentuadamente o nosso problema: a falsa culpa, 
em primeiro lugar, é a que resulta dos julgamentos dos homens e de suas sugestões. [...] 
Pensamentos de Deus e pensamentos dos homens; julgamento de Deus e julgamento 
dos homens; eis aí, claramente formulada, a oposição entre a culpa verdadeira e a culpa 
falsa13. 
Podemos lidar pessoalmente com a culpa moral de diversas formas: reprimi-la, tentar ignorá-la, 
ou reconhecê-la e tratá-la diante do trono de Deus, de acordo com as direções do Senhor. Sobre 
isso, o psiquiatra e escritor cristão Paul Tournier, que contribuiu muito para a melhor 
compreensão desse tema com suas obras, diz o seguinte: 
Parece bastante claro que o homem não vive sem culpa. Ela é universal. Mas pouco a 
pouco ela desencadeia, quer seja reprimida ou reconhecida, dois mecanismos inversos: 
quando reprimida ela dá lugar à ira, à revolta, ao medo e à angústia, a uma 
insensibilidade da consciência, a uma impossibilidade crescente de reconhecer os 
próprios erros e a uma exaltação crescente de impulsos agressivos. Quando reconhecida 
conscientemente, ela leva ao arrependimento, à paz e à segurança do perdão de Deus, 
a um refinamento progressivo da consciência e a um enfraquecimento progressivo dos 
impulsos agressivos14. 
O Deus que nos criou e sabe como devemos viver não poupou nada para que tivéssemos uma 
vida plena e eterna (Jo 10.10; Rm 6.23). Ele deseja transformar o íntimo de nosso ser, à 
semelhança de Cristo, e nos libertar de tudo que aprisiona nossa alma. Esse processo pode ser 
contraintuitivo e até mesmo contracultural, mas quanto mais nos aproximamos de Deus em 
relacionamento pessoal, a luz do Pai ilumina os recônditos de nossa alma, revela o pecado lá 
existente e nos proporciona arrependimento, perdão, libertação, cura e acolhimento. É um 
 
12 TOURNIER, Paul. Culpa e graça. Viçosa, MG: Ultimato; São Paulo, SP: ABU Editora, 2015. Pag. 79. 
13 TOURNIER, Paul. Culpa e graça. Viçosa, MG: Ultimato; São Paulo, SP: ABU Editora, 2015. Pag. 79, 84. Destaques 
acrescentados. Neste trecho do livro, Tournier menciona como base passagens como Mt 16.22-23; Mt 12.46-50; Jo 
19.26-27. 
14 TOURNIER, Paul. Culpa e graça. Viçosa, MG: Ultimato; São Paulo, SP: ABU Editora, 2015. Pag. 187. Destaques 
acrescentados. 
10 
 
processo glorioso de transformação e paz. Novamente, Paul Tournier trata esse tema com 
precisão: 
É de degrau em degrau que a consciência da nossa culpa e a do amor de Deus crescem 
juntas. “São os santos que têm o senso do pecado” – escreve R.P. Daniêlou – “o senso 
de pecado é a medida do senso de Deus numa alma”. [...] O que a graça remove não é 
a culpa, mas a condenação: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão 
em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da 
lei do pecado e da morte” (Rm 8.1-2). [...] A paz consigo mesmo e com os outros está 
em aceitar a própria culpa e confessá-la15. 
 
4.2 Justificação em Cristo: o remédio para a condenação da culpa. 
De fato, Deus apresenta um remédio para a questão da culpa e da condenação a ela atrelada, 
conhecido da teologia cristã como justificação. Para tratarmos de temas importantes com 
precisão e minimizar ruídos de comunicação, precisamos nos atentar bem para as definições 
dos principais termos. Entendemos justificação em dois sentidos: 
(i) ato específico de Deus pelo qual o pecador passa do estado de perdido para 
o estado de salvo; e 
(ii) estado contínuo de existência da pessoa salva. 
Assim, o cristão pode dizer “fui justificado por Deus” (ato) e “sou justificado por Deus” (estado). 
O termo grego para justificação é da mesma família de palavras como reto, direito e retidão. A 
teologia cristã mais ampla, desde a Reforma, expressa duas linhas de pensamento sobre o 
significado de justificação como ato de Deus, ou seja, de como Deus nos faz justos perante ele: 
(i) Deus nos declara justos, atribuindo (imputando) sua justiça sobre nós, por 
estarmos em Cristo; 
(ii) Deus nos torna justos, transmitindo sua justiça a nós. 
A primeira concepção é uma declaração de Deus, atribuindo a nós a justiça de Cristo; a segunda 
diz respeito mais ao processo de santificação, atrelado às boas obras que Deus preparou para 
executarmos. Esses dois entendimentos resumem a principal diferença de pensamento entre a 
corrente católico-romana e a corrente reformada-protestante. Ao passo que a maioria dos 
cristãos reformados creem que Deus age de ambas as formas em nossas vidas, mas identifica a 
concepção (ii) como santificação e não como justificação propriamente dita, a Igreja Católica 
firmou o seguinte entendimento, no Concílio de Trento (1545-1563): “Justificação não é apenas 
uma remissão de pecados, mas também a santificação e renovação do homem interior através 
da recepção voluntária da graça e dons pelos quais o homem injusto se torna justo”. Jack Cottrell 
explana essa questão do seguinte modo: 
De acordo com esta visão [do concílio de Trento, acima], a justificação é um processo 
subjetivo que ocorre dentro do indivíduo, uma mudança interior em seu caráter moral. 
Isso significa que a justificação está ligada às obras de uma pessoa de forma direta e, 
 
15 TOURNIER, Paul. Culpa e graça. Viçosa, MG: Ultimato; São Paulo, SP: ABU Editora, 2015. Pag. 197-198. Destaques 
acrescentados. 
11 
 
por ser um processo, nunca se pode ter certeza de que atingiu um nível de obras que o 
torna aceitável a Deus. 
Aqui está uma das principais diferenças entre o Catolicismo Romano clássico e o 
Protestantismo da Reforma. Para a maioria dos protestantes, essa visão da justificação 
está seriamente errada e é a principal pedra de tropeço para uma compreensão geral 
adequada da salvação e para uma vida cristã de paz e segurança. Eles entendem que o 
ato de justificação de Deus não é a transmissão da justiça [concepção (i)], mas a 
imputação da justiça [concepção (ii)]. “Justificar” significa não tornar justo, mas declarar 
justo, contar ou aceitar como justo. O estado de justificação não é uma santidade de 
caráter cada vez maior, mas uma situação legal correta e completa perante a lei de Deus 
e uma liberdade da penalidade da lei. Este é geralmente o entendimento da Reforma 
(protestante), e estou apresentando-o aqui como a visão bíblica16. 
Esta percepção é importante: a justificação resolve o problema da culpa. Deus trata da questão 
da corrupção ou depravação da natureza humana com a regeneração e a santificação. Mas a 
justificação muda nosso relacionamento com Deus e não tem por foco imediato nosso caráter e 
natureza. A partir do perdão dos pecados outorgado com a justificação, o relacionamento com 
Deus muda e profundas transformações de caráter e hábitos acontecem na vida daquele que 
crê. Assim, firmamos o entendimento de que a justificação é a declaração de Deus que nos 
apresenta justos perante ele, atribuindo a nós a justiça obtida por Cristo na cruz. Nesse 
sentido, justificaré sempre o oposto de condenar: “agora já não há condenação para os que 
estão em Cristo Jesus [...] Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus 
quem os justifica” (Rm 8.1,33). Essa imputação de justiça é superior a todas as outras vistas na 
dimensão humana, como Cottrell menciona no trecho seguinte: 
Há uma grande diferença entre a justificação como um ato de um juiz humano e a 
justificação como um ato salvador de Deus. Os juízes humanos, a menos que sejam 
corruptos (Pv 17:15), justificam apenas os inocentes; eles declaram alguém justo apenas 
se ele já for justo ou inocente. Isso é o que a lei exige. Mas, no ato da salvação, Deus 
justifica os pecadores culpados (Rm 4.5); ele declara que os injustos são justos!17 
De imediato, porém, surgem outras perguntas: com esse ato, Deus não contraria seus próprios 
padrões, expostos em sua Lei (Dt 25.1)? Como que nós, mesmo sendo pecadores como bem 
sabemos, podemos estar “em conformidade” com a Lei? 
 
4.3 Pecadores injustos declarados justos por um Deus justo. 
Refletindo sobre essas questões anteriores, vislumbramos que Deus poderia nos declarar justos 
por um desses três caminhos: 
(i) se jamais tivéssemos cometido pecado; seríamos declarados justos pelo reto 
Juiz. Esse caminho é inviável, pois todos pecamos; 
(ii) se, tendo cometido pecado, pudéssemos pagar pessoalmente por esses 
pecados, cumprindo a devida pena e sendo declarados justos pelo reto Juiz. Esse 
caminho também é inviável, pois a pena requerida pelo pecado é a morte, no 
 
16 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 319. Tradução livre e destaques acrescentados. 
17 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 320. Tradução livre e destaques acrescentados. 
12 
 
sentido de separação de Deus). Além disso, os atos pecaminosos que 
cometemos vêm de uma natureza corrompida; 
(iii) se, Deus, sendo santo e justo, de alguma forma tomasse sobre si nossos 
pecados, pagasse o devido preço por eles, e depois imputasse essa justiça sobre 
nós. 
Pela revelação das Escrituras e a intervenção visível na história da humanidade do Deus invisível, 
sabemos o que o Senhor fez! Sabemos o que aconteceu próximo a Jerusalém, num lugar 
chamado Caveira (Gólgota ou Calvário). Houve uma data, uma hora e um lugar definidos, nos 
quais Jesus derramou seu sangue por mim e por você. O principal propósito da encarnação do 
Filho de Deus foi estabelecer a retidão divina, usada como base para a justificação de pecadores 
(“em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados” - 1 Co 15.22). Somente por causa 
disso, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo pode dizer mais tarde: “não tendo a minha própria 
justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de 
Deus e se baseia na fé” (Fl 3.9); por isso “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder 
de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no 
evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está 
escrito: "O justo viverá pela fé" (Rm 1.16-17). 
Utilizando-se da figura de roupas sujas e limpas, mencionadas em Isaías, Cottrell traz o seguinte 
comentário: 
A única alternativa, e a única base verdadeira para justificar os pecadores, é a própria 
justiça de Deus imputada ou creditada na conta do pecador. Se tentarmos estar diante 
de Deus no dia do julgamento vestidos apenas com nossa própria justiça - uma 
“vestimenta suja” (Is 64.6) - seremos condenados, não justificados. É por isso que Deus 
se oferece para nos vestir com “um manto de justiça” que ele mesmo preparou (Is 
61.10). 
[...] 
Qualquer um que rejeita a justiça de Deus e busca estabelecer sua própria justiça como 
base para a aceitação por Deus está condenado a ser rejeitado (Rm 10.3). A retidão de 
Deus que serve de base para a justificação não é o atributo divino da retidão ou da 
justiça como tal, especialmente se isso for entendido como o próprio caráter moral 
perfeito de Deus e sua justiça legal perfeita que exige que o pecado seja punido. A justiça 
de Deus que justifica é antes um presente dado aos pecadores, como um manto tecido 
por Deus então oferecido e aceito pelo pecador, que o usa como se fosse seu (Is 61.10). 
É uma justiça que está fora de Deus e “vem de Deus” (Fl 3: 9) e se aplica a nós. Quando 
Deus vê essa justiça em nossa posse, ele declara: "Sem penalidade para você!" 
[...] 
Jesus não apenas cumpriu os mandamentos da lei; ele também cumpriu os requisitos 
da lei para a pena. Ele recebeu sua punição em nosso lugar por meio de sua morte 
substitutiva e propiciatória na cruz. [...] Assim, a justiça de Deus revelada no evangelho 
e imputada em nossa conta é a satisfação de Cristo, em nosso nome, da exigência da lei 
para a penalidade. Em essência, a justiça de Deus é o sangue de Cristo. É por isso que 
eu disse que ser justificado (declarado justo) não significa que sou tratado como se 
nunca tivesse pecado, mas como se já tivesse pago a pena do inferno eterno18. 
 
18 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 322. Tradução livre e destaques acrescentados. 
13 
 
A pergunta que surge na sequência pode ser esta: como recebemos esse presente de Deus? 
Como somos justificados por meio do sangue de Cristo? 
 
4.4 Um único meio: a fé. 
Sabemos que não recebemos automática e incondicionalmente a justificação de Deus 
conquistada para nós por Cristo. Então, por qual meio podemos obtê-la? 
A Bíblia demonstra que há somente um meio de recebermos esse magnífico presente de Deus: 
a fé. Isso é completamente coerente com o fato de a justificação ser pela graça, pois, se 
envolvesse de alguma forma obras humanas, implicaria na existência de ganho, conquista, 
merecimento e glória para o ser humano. Mas a essência do presente (dom) é a gratuidade 
para quem o recebe: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida 
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23). Nesse versículo há alguns contrastes e, dentre 
eles, observamos que o pecado (obra humana) é recompensado com salário (morte) enquanto 
a vida eterna (salvação, incluindo a justificação) é dom gratuito (providenciado por Cristo). A 
nossa justificação (e completa salvação) foi alcançada por meio de uma obra, mas uma obra 
(perfeita) realizada por outra pessoa: o Senhor Jesus Cristo (“fomos justificados pelo seu sangue” 
– Rm 5.9). Assim, as obras como meio de obtenção da justificação são excluídas à luz da Palavra 
de Deus: 
Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida. 
Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é 
creditada como justiça. [...] Portanto, a promessa vem pela fé, para que seja de acordo 
com a graça” (Rm 4.4-5,16). 
E, se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça (Rm 
11.6). 
Diante disso, podemos ainda perguntar: perante todas essas coisas, como fica a afirmação de Tg 
2.24? Inspirado pelo Espírito Santo, Tiago escreve: “Vejam que uma pessoa é justificada por 
obras, e não apenas pela fé”. 
 
4.5 Paulo x Tiago. 
A Bíblia é magnífica! Tesouro infinito de sabedoria que reflete a natureza do Deus Eterno, que a 
revelou. Retrata todo o amor do Senhor para nos instruir, aconselhar e guiar na vida e no 
conhecimento dele. Nesse sentido, Deus não apenas deixa claro que a justificação se dá 
exclusivamente pela fé (tema especialmente tratado em cartas paulinas, a exemplo de 
Romanos, Gálatas, etc.), mas também nos ajuda a identificar em nossa vida a fé salvífica 
(especialmente com os escritos de Tiago). De certa forma, o próprio Paulo na carta aos romanos, 
por exemplo, traz o que Tiago registra em sua epístola sobre a relação da genuína fé cristãcom 
as obras preparadas por Deus para seus santos: 
Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira 
nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo 
nele? Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos 
batizados em sua morte? 
14 
 
Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim 
como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos 
uma vida nova. 
Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, 
fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. Não ofereçam os membros dos seus 
corpos ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como 
quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros dos seus corpos a ele, como 
instrumentos de justiça (Rm 6.1-4,12-13). 
O amor e a gratidão de quem entende e recebe a graça da salvação do Senhor não podem ser 
contidos, antes se derramam em servidão a Cristo e ao próximo, em boas obras, que glorificam 
a Deus. A figura19 a seguir, demonstra esquematicamente a mensagem de Deus trazida por Paulo 
e Tiago: 
 
Cottrell descreve seu entendimento sobre o esquema anterior da seguinte forma: 
A fé tem uma relação imediata e direta com a justificação, pois é o único meio 
compatível com a justificação como um dom gratuito, disponibilizado unicamente pela 
obra de Jesus Cristo. [...]. Mas também há uma relação indireta necessária entre as obras 
e a justificação, uma vez que a verdadeira fé salvadora por sua própria natureza 
produzirá obras, ou seja, desejará obedecer e buscará obedecer às leis de Deus. [...]. Em 
resumo, a preocupação de Paulo é negar que a justificação está igualmente relacionada 
à fé e às obras, enquanto Tiago nos lembra que as obras não podem ser excluídas do 
quadro, visto que são o resultado inevitável da fé. 
[....] 
Essa compreensão de Paulo e Tiago nos ajuda a entender como um cristão pode ser 
justificado pela fé e julgado pelas obras. Que seremos julgados pelas obras é uma 
verdade ensinada nas Escrituras. Por exemplo, Jr 17.10 diz: “Eu, o SENHOR, esquadrinho 
o coração, provo a mente, sim, para dar a cada um segundo os seus caminhos, segundo 
os resultados das suas obras”. Jesus diz em Mt 16.27: “Porque o Filho do Homem virá na 
glória de Seu Pai e com os Seus anjos, e então retribuirá a cada homem segundo as suas 
obras”. Ele declara em Ap 22.12: “Eis que cedo venho, e a Minha recompensa está 
 
19 Fonte: COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 330. Tradução livre, com adaptações na figura. 
15 
 
comigo, para retribuir a cada um segundo o que fez”. Que isso inclui os salvos e os não 
salvos é claro em 2 Co 5.10, “Pois todos devemos comparecer perante o tribunal de 
Cristo, para que cada um seja recompensado por suas obras no corpo, de acordo com o 
que tem feito, seja bom ou ruim”. Certamente, uma razão pela qual os cristãos serão 
julgados de acordo com suas obras, boas e más, é determinar o grau de recompensa a 
ser recebido por cada um (Wayne Grudem, Doutrina, 456-457). Mas outra razão para 
expor todas as nossas obras no dia do julgamento será demonstrar a presença ou 
ausência da fé que justifica. Tal exame não é necessário para o próprio amor de Deus, 
mas será feito para demonstrar que o julgamento de Deus é imparcial ou sem 
favoritismo, que ele não “faz acepção de pessoas” (At 10.34-35; Rm 2.6,11; Ef 6.8-9; Cl 
3.25; 1 Pd 1.17)20. 
Por fim, é válido considerar o comentário feito por Douglas Jacoby a respeito da passagem de 
Tg 2.24, pois traz à baila o exemplo de Abraão, também utilizado por Paulo em suas cartas: 
Deve haver uma correspondência entre o que professamos e o que fazemos, entre o 
nosso caminhar e o nosso falar. Jesus insistiu nisso muitas vezes (Mt 7.21-23, por 
exemplo). Abraão foi justificado quando creu em Deus (Gênesis 15). Sua fé e suas ações 
estavam trabalhando juntas em Moriá (Gn 22), como Tiago apontou21. 
Lembrando ainda que, posteriormente, o próprio Deus testemunha a respeito de Abraão ao seu 
filho Isaque, dizendo: 
Tornarei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e lhes darei todas 
estas terras; e por meio da sua descendência todos os povos da terra serão abençoados, 
porque Abraão me obedeceu e guardou meus preceitos, meus mandamentos, meus 
decretos e minhas leis (Gn 26.4-5). 
Outros aspectos da fé, em especial da fé salvífica, são abordados no item 10.1.1 deste estudo. 
 
4.6 Quando somos justificados? 
Vimos que justificação, como ato, é uma declaração da parte de Deus de que somos retos 
perante ele (o que implica em perdão, remissão de pecados), mediante a obra de Cristo na cruz. 
Também entendemos que Deus é supremo para declarar o que ele quiser, quando desejar, pois 
tanto o poder para salvar quanto a ação de salvar emanam soberanamente do Eterno Deus. 
Entretanto, fica claro nas páginas do Novo Testamento que, de forma geral e para o nosso bem, 
Deus escolheu um momento específico para outorgar a nós a dupla cura de sua salvação 
(justificação e regeneração). Esse momento é o batismo. Abordaremos com mais profundidade 
o tema do batismo em tópico próprio mais a frente neste texto; no entanto, adiantaremos aqui 
algumas passagens que vinculam a declaração da justificação da parte de Deus ao batismo. 
O início da igreja é marcado pela orientação do Espírito Santo, por meio de Pedro, àqueles que 
foram quebrantados pelo evangelho: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em 
nome de Jesus Cristo, para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo” (At 
2.38). 
 
20 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 330. Tradução livre e destaques acrescentados. 
21 JACOBY, Douglas. Q&A 0562 – Faith alone? Disponível em: <https://www.douglasjacoby.com/q-a-0562-faith-
alone/>. Acessado em 20 ago 2021. Destaques acrescentados. 
16 
 
Pedro diz que o batismo em nome (no poder) de Jesus Cristo é para perdão dos pecados. Cerca 
de cinquenta dias antes, na última ceia, Pedro tinha ouvido de Jesus que ele derramaria seu 
sangue para perdão dos pecados (Mt 26.28). A bênção salvadora oriunda da cruz se tornou 
efetiva no batismo dos primeiros cristãos. Sobre isso o teólogo Werner de Boor comenta: 
“Quando os que se convertem chegam a Jesus, todo o seu passado de culpa é enterrado em seu 
batismo, e são presenteados com a nova posição reconciliada perante Deus”22. 
Na carta aos Colossenses, Paulo menciona o tema da seguinte forma: “Isso aconteceu quando 
vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no 
poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12). O “isso” do início do versículo se 
refere ao “despojar do corpo da carne” (Cl 2.11), que significa a velha vida dominada pelo pecado 
dos não regenerados. Ou seja, pela justificação e regeneração aplicadas por Deus, no batismo, 
somos redimidos de nossos pecados e nascemos para uma nova vida, no poder de Deus. Somos 
enterrados com Cristo no batismo para receber todos os benefícios salvíficos de sua morte 
expiatória, inclusive o perdão dos pecados por meio de seu sangue justificador. Sobre esse 
versículo, o britânico especialista em Novo testamento Ralph Martin afirma: 
O meio sacramental mediante o qual a vitória de Cristo fica sendo a deles [cristãos] é o 
batismo, em que a fé é um ingrediente vital. É mediante a fé e no batismo que a nova 
vida do crente começa23. 
Ao escrever para os romanos, Paulo disse algo semelhante ao que falou para os colossenses: 
“Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como 
Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida 
nova” (Rm 6.4). Ao comentar este texto, o erudito da BíbliaFrederick Bruce, com honestidade 
intelectual, diz o seguinte: 
Desta e doutras referências ao batismo nos escritos de Paulo é certo de que ele não 
considerava o batismo como um ‘extra optativo’ na vida cristã, e que não teria pensado 
no fenômeno de um ‘crente não batizado’. Podemos concordar ou não com Paulo, mas 
devemos ser justos para com ele, deixando-o defender e ensinar suas próprias crenças, 
e não torcê-las para fazê-las amoldar-se àquilo que nós preferimos que ele tivesse dito24. 
A justificação é uma declaração de Deus que atribui a nós a justiça proveniente da cruz e nos 
torna retos perante o Senhor. Como tal, não depende de ritos, pessoas ou de qualquer outra 
coisa no mundo. O poder para justificar e regenerar vem de Deus, não vem do sacramento25 ou 
das águas batismais. Por isso, Deus pode salvar quem ele quiser, da forma que ele quiser, 
quando ele quiser26. No entanto, o soberano Deus por sua graça, de forma geral e para o nosso 
 
22 BOOR, W. de. Comentário Esperança, Atos dos Apóstolos. Curitiba: Editora Evangélica Esperança. P. 56. Destaques 
acrescentados. 
23 MARTIN. Ralph P. Colossenses e Filemon: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2007. P. 93. Destaques 
acrescentados. 
24 BRUCE. Frederick F. Romanos: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2007. P. 110. Destaque 
acrescentado. 
25 Sacramento neste texto é entendido como ordenança instituída por Cristo que manifesta a graça de Deus (meio de 
graça) e, mediante sinais externos, aponta para realidades espirituais advindas da aliança com o Senhor, permitindo 
que os cristãos participem de aspectos transcendentes do reino divino, ao expressarem a fé e a fidelidade a Jesus. O 
Novo Testamento registra dois sacramentos: o batismo e a ceia do Senhor. 
26 Obviamente isso não quer dizer que Deus contraria a sua Palavra (Jr 1.12) ou age como o ser humano mudando de 
ideia levianamente ao longo do tempo. 
17 
 
bem, escolheu outorgar-nos esse dom num momento que seria especial para todo o cristão e 
poderia ser lembrado durante toda a vida. De modo amplo, os pais da igreja (Tertuliano, 
Cipriano, Irineu, etc.) tinham esse entendimento, como escreveu Agostinho: “É Ele quem perdoa 
todas as tuas culpas, ou seja, no sacramento do batismo”27. Isso, em si, é uma bênção que 
expressa o cuidado de Deus por nós, pois, seguindo as Escrituras, o cristão sempre poderá dizer: 
houve um dia, uma hora e um local determinado, nos quais meu Senhor me salvou! Esse ato 
visível (batismo) sintetiza e marca na memória elementos invisíveis que nos une a Cristo: a fé 
salvífica e o coração rendido a Deus, disposto a obedecer. Isso pode dirimir muitas dúvidas 
relacionadas à salvação em Cristo e ser instrumento que leva paz e segurança ao coração. Sobre 
isso, o professor Álvaro Pestana comenta: 
A fé é uma resposta interior que deve manifestar-se no batismo e no arrependimento. 
Estas ações concretas visíveis e exteriores nos ajudam a olhar para trás e lembrar que a 
conversão aconteceu ‘de verdade’ e não foi apenas um devaneio. Os grupos que não 
fazem batismos e não pregam o arrependimento produzem pessoas cheias de dúvidas 
sobre ‘o que aconteceu’ ou ‘se a conversão realmente aconteceu’. Contudo, a Bíblia, um 
livro holístico, levando em conta a nossa materialidade, deu-nos no batismo e na decisão 
do arrependimento um bom marco do início de nossa caminhada na fé28. 
Encerramos este tópico com a conclusão exposta por Jack Cottrell, contemplando tanto o ato 
de justificação concedido por Deus a nós quanto nosso estado de justificados perante o Senhor: 
Assim, podemos concluir que o único meio de justificação é a fé na obra salvadora de 
Cristo. É essa fé que inicialmente recebe a justificação (no batismo, Colossenses 2.12); e 
é essa fé que nos mantém em um estado justificado. Em outras palavras, o cristão 
continua a ser justificado - totalmente perdoado por todos os pecados - enquanto ele 
continua a acreditar no sangue salvador de Cristo. Nós entramos “pela fé nesta graça 
em que permanecemos” (Rm 5.2), e “vocês estão firmes na sua fé” (Rm 11.20); “estais 
firmes na vossa fé” (2 Co 1.24). O Espírito fortalece você com poder interior “para que 
Cristo habite em seus corações pela fé” (Ef 3.16-17). Assim, “somos protegidos pelo 
poder de Deus pela fé” (1 Pd 1.5)29. 
 
(5) Corrupção da natureza humana e regeneração em Cristo. 
 
Às vezes, igualamos a salvação presente à nossa justificação. Mas salvação é mais que remissão 
de pecados. Jack Cottrell, no livro A fé de uma vez por todas30, trabalha com o conceito de dupla 
cura, na qual a justificação age na questão da condenação trazida pela culpa, enquanto a 
regeneração atua na questão da corrupção da alma (enfermidade ou fraqueza interior) 
produzida pelo pecado. Nesse contexto, a regeneração é uma obra do Espírito Santo, efetivada 
na alma pecadora, que produz uma mudança interior no coração do ser humano. Cottrell 
oferece uma analogia simples para assimilarmos o conceito de regeneração (e de santificação), 
 
27 AGOSTNHO. Patrística – A Graça (I) – Vol 12: O espírito e a letra. São Paulo: Paulus, P. 71. 
28 PESTANA, Álvaro C. Como dialogar com o mundo? Web Aula FT09-06, Teologia Sistêmica. Escola de Teologia em 
Casa – ETC, 2013. Destaques acrescentados. 
29 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 327. Tradução livre e destaques acrescentados. 
30 A edição em português do original em inglês The faith once for all foi publicada em setembro de 2020 pela Editora 
Reflexão, com o título A fé de uma vez por todas. O livro é encontrado em diversas livrarias e na Editora Reflexão: 
<https://www.editorareflexao.com.br/teologia/a-fe-de-uma-vez-por-todas-doutrina-biblica-para-hoje>. 
18 
 
ao comparar a cura espiritual da alma corrompida pelo pecado com a cura de uma doença 
física31: 
 Doença corporal Doença do pecado 
Dimensão Corpo Alma 
Quem atua? Médico Deus 
Tratamento inicial Remédio (Ex: injeção) Regeneração 
Processo de cura Período de recuperação Santificação 
 
É importante ressaltar que a Bíblia trata o ser humano como uma unidade (corpo e alma), tendo 
o coração como centro de interseção do ser, e é assim que devemos vê-lo. O fato de a 
regeneração, por exemplo, ter lugar na alma, implicará obviamente em algum reflexo no corpo. 
No entanto, a obra regeneradora do Espírito Santo, como estamos tratando neste tópico, é a 
administração da nova vida em Cristo no coração humano. Isso não faz, como bem sabemos, 
com que todas as doenças sejam necessariamente curadas e que o corpo (nossa temporária 
habitação terrena) não mais se desgaste (2 Co 4.18 – 5.5). Deus cuidará de nossos corpos físicos, 
transformando-os em corpos espirituais na glorificação, tema do item 9 deste documento. 
Paulo descreve regeneração utilizando-se da figura de morte e ressurreição em Rm 6.1-14 e em 
Cl 2.11-13. Ambas as passagens são claras ao afirmarem que a regeneração ocorre “por meio 
do” (Rm 6.4) ou “no” (Cl 2.12) batismo. De fato, a morte de Cristo na cruz e sua ressurreição 
quebraram a maldição da morte por causa do pecado e são nossa fonte de vida. Por isso, 
inúmeras passagens bíblicas falam de vivificação (regeneração) de nossa alma, como por 
exemplo: Ef 2.5-6; Jo 5.24; 1 Jo 3.14. Outras expressões usadas com o mesmo significado (de 
regeneração) são “nascer de novo” (Jo 3.3-8; 1 Pe 1.3,23), “nova criação” (Ef 2.10; 1 Co 5.17; Gl 
6.15) e “lavar regenerador” (Tt 3.5). 
Assim, regeneração é diferente de mudança moral. A regeneração é a obra divina operada 
secretamente em nós para nos conceder nova vida espiritual (nascer de novo – Jo 3.3-8), 
enquanto a mudança moral relaciona-se com a conversão primária32, sendo esta última a 
resposta inicial de uma pessoa ao evangelho de Cristo. Wayne Grudem descreve da seguinte 
forma o que aqui chamamos de conversãoprimária: 
É nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos 
arrependemos dos nossos pecados e colocamos a confiança em Cristo para receber a 
salvação. 
A palavra conversão significa ‘volta’ – aqui ela representa uma volta espiritual, voltar-se 
do pecado para Cristo. O voltar-se do pecado é chamado arrependimento, e o voltar-se 
para Cristo é chamado fé. [...] Um não pode ocorrer sem o outro [fé e arrependimento], 
e eles devem ocorrer juntos quando se dá a verdadeira conversão33. 
Dessa forma, a Bíblia descreve que fé e arrependimento (At 20.21) são pré-requisitos para a 
regeneração. A fé é necessária porque “a verdadeira fonte da salvação [justificação e 
 
31 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 333. Tradução livre. 
32 Usamos a expressão conversão primária para diferenciar este período inicial daquele processo de conversão mais 
amplo que inclui, além da conversão primária, o período de santificação. Essa percepção de conversão enfatiza que 
ao longo da vida de santificação é primordial voltar-se (converter-se) para Deus diariamente. 
33 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 592. Destaques acrescentados. 
19 
 
regeneração] está em uma obra feita por outra pessoa – Jesus”34 (Ef 2.8), exigindo assim 
aceitação e confiança. O arrependimento é necessário porque sem ele perecemos em nossos 
pecados (Lc 13.3,5; 2 Pe 3.9). 
Diante disso, no trecho transcrito a seguir, Cottrell reforça a regeneração como obra 
exclusivamente divina e descreve a ação do Espírito Santo ao nos conduzir à conversão e ao nos 
dar nova vida em Cristo: 
Na Bíblia, regeneração é uma obra de Deus, não uma obra do ser humano. Renascemos 
espiritualmente na família de Deus “não do sangue, nem da vontade da carne, nem da 
vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). Nossa morte com Cristo e ressurreição com 
ele são “a operação de Deus” (Cl 2.12); assim em nossa nova natureza, “somos feitura 
dele” (Ef 2.10). As imagens bíblicas escolhidas para representar esse ato poderoso - 
ressurreição, nova criação, renascimento – em si mesmas apontam para a atividade 
divina; dificilmente são feitos que somos capazes de realizar com nossa própria força 
insignificante. 
[...] 
O Espírito trabalha nos corações dos pecadores para influenciá-los a crer e se 
arrepender, mas esta obra é indireta (por meio da Palavra) e resistível. Alguns optam 
por acreditar e se arrepender, e alguns optam por não fazê-lo. Somente depois que 
alguém escolheu crer e se arrepender, ele se submete ao toque de cura do Grande 
Médico, e só então o Espírito Santo trabalha diretamente em seu coração para efetuar 
a regeneração35. 
Assim, entendendo regeneração como o início do longo processo de cura e reparo da alma em 
virtude dos danos causados pelo pecado, o que vem depois de sermos vivificados com Cristo? A 
santificação é justamente essa obra progressiva que nos acompanha ao longo da vida na terra. 
Abordaremos o tema santificação em um tópico mais adiante. Antes, porém, trazemos no 
quadro seguinte o resumo das principais diferenças relacionadas aos conceitos de justificação, 
regeneração e santificação, adaptado da formulação apresentada por Jack Cottrell36: 
Justificação Regeneração/Santificação 
Lida com nosso problema com a Lei Lida com nossa condição de pecadores 
Resolve o problema de quebrar a Lei Resolve o problema do cumprimento da Lei 
Remove a condenação da culpa Remove a corrupção do pecado 
Deus age como juiz Deus age como médico 
Ação externa e objetiva Ação interna e pessoal 
Somos declarados justos por decreto Somos feitos justos aos poucos 
Um ato concluído desde o início Um processo contínuo até morrermos 
Cristo morreu por nós Nós morremos com Cristo 
Justiça imputada Justiça transmitida 
A grande necessidade do pecador A grande necessidade do cristão 
 
 
34 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 353. 
35 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 335. Tradução livre e destaques acrescentados. 
36 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 332. Tradução livre, com adaptação. 
20 
 
(6) Adoção na família de Deus. 
 
Há um contraste apresentado nas Escrituras entre os filhos de Deus (Jo 1.12) e os filhos da ira 
(ARA37 - Ef 2.3), filhos da desobediência (ARA - Ef 2.2; 5.6) ou filhos do diabo (Jo 8.42-44). 
Certamente queremos ser filhos de Deus. Mas como nos tornamos filhos do Deus Pai de nosso 
Senhor Jesus Cristo? A Bíblia nos mostra que nossa adoção como filhos na família de Deus é 
também obra da graça do Senhor. A salvação em Cristo, nossa justificação (direito de estarmos 
diante de Deus) e nossa regeneração (nova vida pelo dom do Espírito Santo que recebemos no 
batismo), abre caminho para a filiação na família de Deus: “Mas, a todos quantos o receberam, 
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (ARA - Jo 
1.12). Assim, o presente da adoção segue a conversão inicial (fé salvífica e arrependimento) e 
está no contexto de nossa salvação em Cristo. 
Wayne Grudem define essa adoção como o “ato de Deus por meio do qual ele nos faz membros 
de sua família”38. Essa maravilhosa realidade da vida cristã, de sermos ascendidos à posição de 
filhos e filhas de Deus, é tratada em diversas passagens bíblicas. Seguem alguns exemplos: 
Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não 
recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas 
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio 
Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, 
somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele 
sofremos, também com ele seremos glorificados (ARA - Rm 8.14-17). 
[...] vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, 
nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a 
adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de 
seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo 
filho, também herdeiro por Deus (ARA - Gl 4.4-7). 
Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de 
Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, 
porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda 
não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, 
seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é (ARA - 1 Jo 3.1-2). 
Vemos um pouco mais nitidamente a grandiosidade dessa bênção de Deus sobre nós, quando 
ouvimos o Senhor Jesus nos chamar de irmãos: “[...] é que ele não se envergonha de lhes chamar 
irmãos, dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da 
congregação” (ARA - Hb 2.11-12). Nesse sentido, Jesus é o primogênito entre muitos irmãos 
(Rm 8.29) no contexto da nova humanidade (família de Deus) que ele inaugurou (resgatou). 
Obviamente sempre haverá a distinção entre Jesus, Senhor e Filho de Deus eternamente gerado 
pelo Pai, e nós, criaturas tornadas filhos de Deus em Cristo. Por isso, devemos demonstrar por 
Jesus ao mesmo tempo a intimidade diante de um amigo (Jo 15.15) e a reverência diante do 
Senhor e Rei (Ap 19.16). O próprio Jesus esclarece a nossa filiação e a nossa distinção com 
relação a ele, quando diz a Maria Madalena, após a ressurreição: “Subo para meu Pai e vosso 
Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). Mas é ainda mais constrangedor (2 Co 5.14) quando 
percebemos que o Pai nos ama na mesma medida que ama Jesus Cristo: “Que eles sejam levados37 ARA: Versão Almeida Revista e Atualizada. 
38 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 615. 
21 
 
à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me 
amaste” (Jo 17.23). 
Como visto nas referências bíblicas citadas neste tópico, muitos são os privilégios advindos de 
nossa adoção. Nós nos tornamos coerdeiros com Cristo, partilhamos com Jesus tanto da sua 
glória quanto dos seus sofrimentos, recebemos a direção e o testemunho interno do Espírito 
Santo que nos afirma como filhos e filhas de Deus (Aba, Pai!), deixamos completamente a 
escravidão típica da velha vida, temos plena esperança de nossa realidade futura com o Pai. 
Entretanto, gostaria de destacar o privilégio da comunhão, que nos é outorgado com a adoção. 
Por um lado, temos comunhão com Deus na qualidade de Pai bom e amoroso (Mt 6.9; 7.11). 
Essa comunhão na casa do Pai nos traz descanso para a alma e nos afirma como filhas e filhos 
amados, restitui nossa honra, revela nossa verdadeira identidade, satisfaz necessidades 
profundas de nosso ser. Por outro lado, a adoção também nos leva à comunhão com a 
comunidade cristã, na qualidade de irmãs e irmãos em Cristo, como membros de uma família. 
A visão da igreja sob esse aspecto (igreja como família de Deus) traz muita luz sobre nossos 
relacionamentos na comunidade cristã: não de competição, acusações, condenação e 
cobranças, mas de cooperação, encorajamento, correção e exortação em amor; não de atitudes 
defensivas e desconfiança, mas de servidão e transparência; de tal forma que quando um sofre 
todos sofrem e quando um se alegra todos se alegram com ele (1 Co 12.12-27). Assim 
imitaremos e honraremos nosso Pai celestial (Ef 5.1; Mt 5.16). 
 
(7) Santificação. 
 
A Bíblia menciona claramente a santidade como um dos atributos de Deus. E o Deus santo nos 
chama à santidade, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento: “Vocês serão santos para 
mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus” (Lv 20.26) 
e “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que 
fizerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’" (1 Pe 1.15-16). 
Adotamos aqui o significado de santo como “separado”, a partir do entendimento de que a 
palavra hebraica (qadosh) quer dizer “cortar, dividir, separar”39. Podemos compreender a 
santidade de Deus em dois sentidos: primeiro, o Senhor é transcendente (Deus é eterno e não 
criado, sendo distinto – separado – de toda sua criação); segundo, o Senhor apresenta pureza 
moral perfeita (Deus está separado do pecado: “Deus não pode ser tentado pelo mal, e a 
ninguém tenta” – Tg 1.13). Ao nos chamar para sermos santos, Deus deseja que sejamos 
moralmente puros e que nos relacionemos em íntima comunhão com o Eterno. 
A partir disso, podemos entender santificação como a “obra progressiva da parte de Deus e do 
homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida 
presente”40. Assim, observamos que santificação é um processo que, a partir da regeneração 
(nascer de novo), continua por toda a jornada terrena, sem alcançar a perfeição nesta vida. Esse 
processo abrange corpo e alma (2 Co 7.1; 1 Ts 5.23) e se completará em nossa alma, com a morte 
física (Hb 12.23), e em nosso corpo, quando o Senhor Jesus retornar (Fl 3.21; 1 Co 15.23,49). 
 
39 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 338. 
40 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 622. 
22 
 
Por um lado, o Pai opera em nós o querer da sua vontade e nos concede o poder para 
obedecermos (Fl 2.13), além de nos disciplinar como seus filhos amados (Hb 12.5-11). Em Cristo, 
Deus conquistou para nós o caminho da santificação (1 Co 1.30-31) e tornou-se em tudo o 
exemplo a ser seguido por nós (1 Jo 2.6). Mas é o Espírito de Cristo, o Espírito Santo de Deus 
que habita no cristão, que age em nosso interior para nos santificar e nos transformar à 
semelhança de Jesus. E o Espírito usa a Palavra em sua obra santificadora para nos instruir e 
corrigir em justiça (2 Ts 2.13; 2 Tm 3.16). Wayne Grudem descreve a ação santificadora do 
Espírito em nós da seguinte forma: 
Pedro fala da santificação do Espírito (1 Pe 1.2), assim como também Paulo (2 Ts 2.13). 
É o Espírito Santo que produz em nós o ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22), os traços de caráter 
que geram santificação cada vez maior. Se crescemos na santificação, andamos ‘no 
Espírito’ e somos ‘guiados pelo Espírito’ (Gl 5.16-18; Rm 8.14), isto é, somos cada vez 
mais suscetíveis aos desejos e às orientações do Espírito Santo em nossa vida e caráter. 
O Espírito Santo é o Espírito da santidade e produz santidade dentro de nós41. 
Por outro lado, há o papel do ser humano na santificação, no desenvolvimento da salvação 
(colocar em ação a salvação - Fl 2.12). Grudem ressalta duas vertentes dessa ação humana e 
pondera algo importante sobre uma tendência de nossa cultura eclesiástica contemporânea, no 
trecho a seguir: 
O papel que desempenhamos na santificação é tanto passivo, pelo qual dependemos 
de que Deus nos santifique, como ativo, pelo qual nos esforçamos para obedecer a Deus 
e dar os passos que aumentarão a nossa santificação. 
[...] 
Infelizmente, hoje esse papel ‘passivo’ na santificação, a ideia de oferecer-se a Deus e 
de confiar que ele efetue em nós ‘tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa 
vontade’ (Fl 2.13), é às vezes tão fortemente enfatizado que é a única coisa que as 
pessoas conhecem sobre o caminho da santificação. Às vezes, a expressão popular 
‘entregar nas mãos de Deus’ é usada como um resumo de como viver a vida cristã. Mas 
isso é uma trágica distorção da doutrina da santificação, porque fala apenas de metade 
do que devemos desempenhar e, por isso, leva os cristãos a se tornarem indolentes e a 
negligenciar o papel ativo que as Escrituras ordenam que desempenhem na sua própria 
santificação42. 
A Bíblia trata desse papel passivo do ser humano na santificação, por exemplo, quando fala: 
Ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os 
membros dos seus corpos a ele, como instrumentos de justiça. [...] ofereçam-nos 
agora em escravidão à justiça que leva à santidade. [...] rogo-lhes pelas 
misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a 
Deus (Rm 6.13,19; 12.1). 
Em outras passagens bíblicas, tanto Paulo quanto Pedro tratam também do papel ativo humano 
na santificação: 
 
41 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 629. 
42 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 629. 
 
23 
 
Fujam da imoralidade sexual. [...] purifiquemo-nos de tudo o que contamina o 
corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus. [...] empenhem-
se para acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento [...] empenhem-
se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês [...] empenhem-
se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis (1 Co 6.18; 
2 Co 7.1; 2 Pe 1.5,10; 3.14). 
Nesse sentido, podemos também nos referir à santificação como um processo de conversão 
contínua, no qual a cada dia nos voltamos para Deus, rendendo-lhe glórias e graças, buscando 
e nos submetendo à sua vontade, em jubilosa comunhão de paz e descanso. Como o Senhor 
Jesus nos chama ainda hoje: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome 
diariamente a sua cruz e siga-me” [...] "Venham a mim, todos os que estão cansados e 
sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, 
pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas” (Lc 
9.23; Mt 11.28-29). Somente negando a nós mesmos, conseguimos nos livrar do egoísmoe da 
pequenez de nossas próprias ideias e projetos; somente morrendo para nossa vida humana 
natural de pecado, abraçamos a novidade libertadora e transcendente que Deus nos oferece; e 
somente seguindo a Cristo, deixamos de seguir nossos caminhos tortuosos de tropeços e 
trilhamos pelo reto caminho da justiça de Deus. A força e a providência vêm de Deus, a decisão 
e o esforço para a santificação vêm do ser humano. 
Nesse contexto, Deus nos abençoa com inúmeros meios de graça, a exemplo das disciplinas 
espirituais, da celebração da ceia, da comunhão na comunidade cristã e do discipulado. Grudem 
trata desses aspectos e comenta sobre a importância da vida comunitária no processo de 
santificação, mencionando o seguinte: 
O Novo testamento não sugere quaisquer atalhos pelos quais possamos crescer na 
santificação, mas simplesmente nos encoraja repetidamente a dedicar-nos à antiga e 
consagrada fórmula de leitura da Bíblia e meditação (Sl 1.2; Mt 4.4; Jo 17.17), oração 
(Ef 6.18; Fl4.6); adoração (Ef 5.18-20), testemunho (Mt 28.18-20), comunhão cristã (Hb 
10.24-25) e autodisciplina ou domínio próprio (Pv 23.12; Gl 5.23; Tt 1.8). 
[...] 
A santificação é comumente um processo corporativo no Novo Testamento. É algo que 
ocorre em comunidade. Somos admoestados: ‘E consideremo-nos uns aos outros para 
incentivar-nos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, 
segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando 
vocês veem que se aproxima o Dia’ (Hb 10.24-25). Juntos, os cristãos são ‘edificados casa 
espiritual’ para serem ‘sacerdócio santo’ (1 Pe 2.5); juntos são uma ‘nação santa’ (1 Pe 
2.9); juntos se consolam uns aos outros e edificam-se reciprocamente (1 Ts 5.11). 
Quando Paulo diz ‘vivam de maneira digna da vocação que receberam (Ef 4.1), está 
dizendo que se deve viver de modo especial em comunidade – ‘completamente 
humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo 
o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz’ (Ef 4.2-3). [...] É 
interessante notar que o fruto do Espírito inclui muitas coisas que edificam a 
comunidade, enquanto as obras da carne destroem a comunidade (Gl 5.19-23)43. 
Por fim, importa destacar a verdadeira motivação do discípulo de Jesus para buscar a 
santificação de todo o coração. Obrigação é a razão pela qual devemos obedecer, mas 
 
43 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 630-631. 
24 
 
motivação é a razão pela qual realmente obedecemos44. Jack Cottrell ressalta esse fator 
primordial que deve transbordar dos nossos corações ao longo da caminhada cristã: 
O motivo principal é simplesmente amor, amor grato [gratidão]. Amor e medo estão 
em extremos opostos do espectro de motivos: ‘Não há medo no amor; mas o amor 
perfeito lança fora o medo’ (1 Jo 4.18). Esse amor é aceso e nutrido por nossa gratidão 
pelo sacrifício amoroso de Cristo em nosso favor (1 Jo 4.19). Esse amor é movido a fazer 
tudo o que o Amado exigir: ‘Se me amas guardareis os meus mandamentos’ (Jo 14.15). 
A fé salvadora opera por meio do amor (Gl 5.6); seu fruto é um trabalho de amor (1 Ts 
1.3). Obedecemos aos comandos do Criador não para sermos salvos, mas porque somos 
salvos (Ef 2.8-10). Boas obras são o resultado, não a causa de nossa salvação. Deus não 
nos salva porque somos bons; somos bons porque Deus está nos salvando. Não 
precisamos de motivo maior para a santificação45. 
Até aqui vimos aspectos importantes da salvação e como Deus aplica seu plano redentor em 
nossas vidas. Mas como tudo começou? Onde se originou nossa salvação? 
(8) Eleição e predestinação. 
 
Nossa salvação começou no coração do Deus onisciente, na eternidade, antes da criação dos 
céus e da terra. Assim, podemos enxergar nossa salvação como um processo que se desenvolve 
de eternidade a eternidade, da eleição até a glorificação eterna em Cristo. Neste tópico 
trataremos sobre eleição e no próximo abordaremos a glorificação. Então: que eleição é essa? 
8.1 Conceitos primários. 
Conforme Wayne Grudem46, eleição é a decisão de Deus de nos escolher para sermos salvos 
desde antes da fundação do mundo. Assim, eleição é a escolha de Deus daqueles que serão 
salvos. A morte de Cristo na cruz possibilitou a aplicação dessa eleição em nós, para a nossa 
efetiva salvação. 
O conceito de eleição está intimamente associado a outro importante conceito bíblico: 
predestinação. O termo predestinação, de forma geral, refere-se à decisão anterior de Deus de 
realizar um determinado ato, cumprir certo propósito ou fazer alguma coisa acontecer47. Essa 
predeterminação de Deus, por sua vez, relaciona-se à sua presciência, pois, sendo onisciente48 
o Senhor eternamente conhece todos aqueles que foram, são ou serão salvos: “Pois aqueles que 
de antemão conheceu, também os predestinou” (Rm 8.29); “[...] porque desde o princípio Deus 
os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade” (2 
Ts 2:13); ou, nas palavras de Pedro: “escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus 
Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu 
sangue” (1 Pe 1.2). Ou seja, de acordo com as Escrituras, o Deus Eterno e onisciente sempre 
conheceu aqueles que o amariam e creriam nele, e a estes predestinou para salvação eterna, 
 
44 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 345. 
45 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 345. Tradução livre e destaques acrescentados. 
46 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2009. P. 559. 
47 COTTRELL, Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 388. 
48 Onisciência é o atributo de Deus que aponta para seu infinito (total e perfeito) conhecimento. O Deus santo e 
infinito não está limitado nem mesmo pelo tempo, que ele criou: “pois sua plena consciência transcende o momento 
agora e abraça a totalidade da história – passado, presente e futuro – em um único ato de conhecimento”. (COTTRELL, 
Jack. The faith once for all. College Press, 2011. P. 86). 
25 
 
providenciada por meio de Cristo. Com isso, vemos que as doutrinas da eleição e da 
predestinação, com referência à salvação, são essencialmente bíblicas e, quando bem 
compreendidas, demonstram a glória de Deus e fortalecem a fé cristã no íntimo do coração. 
O texto mencionado anteriormente, de Rm 8.28-29, traz elementos importantes que nos 
ajudam no entendimento dessa questão: 
Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que 
foram chamados de acordo com o seu propósito (v. 28). 
Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes 
à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (v. 29). 
Nesses versículos, verificamos que aqueles que Deus de antemão conheceu (precognição) e 
predestinou para a salvação (v. 29) foram aqueles que Deus antecipadamente soube que em 
algum momento da vida o amariam e continuariam amando até o fim (v. 28). Foram esses que 
o Senhor chamou de acordo com seu propósito para serem à imagem de Jesus. Como Paulo diz 
em 1 Co. 8.3: “Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus”. Isso é fonte de grande júbilo 
e de segurança, pois sabemos que amamos a Deus e que Deus nos salvou, concedeu-nos a vida 
eterna em Cristo, e que “ninguém poderá nos arrancar das mãos do nosso Senhor” (Jo 10.28-
29). Sobre essa segurança da salvação que Deus nos concede, Jack Cottrell comenta o seguinte: 
[...] tendo sabido desde a eternidade que eles o amariam, ele já os predestinou para 
este estado de glória eterna! Assim podemos ter certeza de que as provações 
temporárias desta vida não são capazes de anular o que próprio Deus Todo-Poderoso já 
predestinou que ocorrerá!

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