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PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO: EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE Luis Henrique Telles da Rosa A inclusão por meio do esporte Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a atuação do fisioterapeuta no esporte adaptado. Identificar as condições para indicar a modalidade de esporte adap- tado tanto para as pessoas com deficiência (PCDs) quanto para as pessoas excluídas. Analisar a evolução e as dimensões da inclusão por meio do esporte adaptado. Introdução O esporte pode ser entendido como uma prática social, um elemento que identifica características sociais e culturais de um povo ao longo de sua história. O esporte entre sujeitos com algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, cognitiva ou motora, pode proporcionar benefícios variados associados ao desenvolvimento de suas potencialidades, à prevenção de lesões secundárias, aos ganhos sociais e psicológicos, entre outros. A realização dessa modalidade de esporte pode fazer parte de um programa de reabilitação ou, ainda, por motivação de outra natureza, propiciando o desenvolvimento de habilidades e favorecendo a inclusão social dos praticantes e familiares. Neste capítulo, você vai conhecer mais sobre os aspectos da inclusão no esporte adaptado. Atuação do fisioterapeuta no esporte adaptado O fi sioterapeuta é um profi ssional de nível superior que atua no campo da saúde, sendo historicamente vinculado à reabilitação, porém, sua atuação está associada de forma mais integral às ações de promoção, prevenção e cuidado e também à reabilitação de sujeitos. O Decreto-Lei nº. 938/69 regulamenta a profissão de fisioterapia e a torna de nível superior. O seu art. 3º dispõe que “é atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) estabelece que: O Fisioterapeuta é um Profissional de Saúde, com formação acadêmica Supe- rior, habilitado à construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais (Diagnóstico Fisioterapêutico), a prescrição das condutas fisioterapêuticas, a sua ordenação e indução no paciente bem como, o acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e as condições para alta do serviço (FLORIANÓPOLIS, [2018?], documento on-line). Na atuação, o fisioterapeuta desenvolve uma série de atividades, tanto de forma individual quanto coletiva, dependendo da forma que seu projeto terapêutico esteja organizado e nas dimensões referidas anteriormente. Esse cuidado pode ser relacionado ao atendimento em serviços de saúde (hospital, ambulatório ou clínica), clubes, empresas e serviços de outra natureza, sendo o movimento a principal ferramenta de trabalho desse profissional. Ainda no aspecto de sua atuação, o profissional, no campo da saúde, desenvolve ações principalmente de promoção e prevenção à saúde e, dentro do seu núcleo de práticas específicas, atividades de cuidado e reabilitação de lesões previamente instaladas. Dentre os diferentes recursos que podem ser utilizados pela fisioterapia, nos diferentes níveis de atenção à saúde, o esporte adaptado está incluído. Para Reynolds, Stirk e Thomas (1994), a atividade do fisioterapeuta no esporte adaptado está associada ao desenvolvimento de um suporte aos pra- ticantes com deficiência na prática do esporte adaptado, atuando em conjunto com a equipe de saúde na manutenção, recuperação e melhora do rendimento A inclusão por meio do esporte2 no esporte. A atividade do fisioterapeuta colabora para a realização de uma ati- vidade com menor risco à saúde e melhor interação social entre os praticantes. Esse componente de acompanhamento de um praticante, em qualquer tipo de esporte, é salientado por Silva, Vital e Mello (2016), que identificam no trabalho do fisioterapeuta, neste contexto, ações de avaliação funcional, tratamento, prevenção de lesões, retorno pós-lesão e acompanhamento dos treinos e em competições. A identificação da utilização do esporte adaptado como um campo de prática profissional ocorre em atividades para atletas praticantes de esporte adaptado de rendimento, compondo a equipe que atua no treinamento e na manutenção da saúde dos sujeitos, e atividades para não atletas, mas que utilizam o esporte adaptado como estratégia terapêutica na busca de ganhos físico funcionais e sociais. Com relação às atividades da fisioterapia voltada ao atleta, se destaca a avaliação, estabelecendo em conjunto com a equipe de saúde uma classificação funcional, baseada nas capacidades de força, equilíbrio, destreza, habilidade esportiva, entre outras. Outras classificações também ocorrem, porém com a definição construída por outros profissionais da saúde (medico, psicólogo, entre outros). Dessa forma, em atividades que envolvem o esporte adaptado vinculado a competições, o fisioterapeuta utiliza seus conhecimentos para auxiliar na determinação do nível de habilidade funcional do praticante, o que é utilizado na definição da categoria funcional entre os atletas. Destaca-se, ainda, no trabalho do fisioterapeuta: Avaliar as condições de saúde gerais de saúde (mobilidade, transfe- rências, continência, comunicação, respiratória, cardiovascular, neu- rológica, etc.). Identificar as capacidades que são requeridas ao praticante do esporte a ser desenvolvido. Identificar os fatores intrínsecos (capacidades e características do atleta) e extrínsecos (relacionados a ambiente, implementos, organização de treinamento, etc.) que aumentam o risco de lesão ao praticante. Propor o desenvolvimento de atividades compensatórias (antes, durante ou posterior ao treinamento) para diminuir o risco de lesões. Atuar na reabilitação de lesões decorrentes da prática do esporte, sendo estratégico que domine as características do esporte e atue de forma muito próxima com a equipe de saúde e outros profissionais envolvidos na organização da atividade física. 3A inclusão por meio do esporte Compor as equipes de apoio de clubes e instituições envolvidas com o esporte adaptado. No que tange à utilização do esporte adaptado entre não atletas, como um componente de um projeto terapêutico, Brazuna e Mauerberg-deCastro (2001) associam a uma melhora na capacidade física, na independência, na autoestima e na saúde mental, desenvolvendo uma imagem corporal positiva. Nesse caso, a ênfase da atividade será focada na reabilitação de sujeitos com lesões previamente instaladas, em que o esporte adaptado é voltado tanto à melhora funcional como ao processo de participação social. Assim sendo, a reabilitação busca ampliar as capacidades, as habilidades e os recursos pessoais para buscar autonomia e integração social das PCDs, em que, por meio do desporto adaptado, se encontram condições de forma lúdica e prazerosa, a serem utilizadas neste processo (CARDOSO, 2011). A atuação da fisioterapia na reabilitação por meio do esporte adaptado, associada à promoção da saúde dos indivíduos com deficiência, deverá con- siderar o tipo de praticante e os objetivos estabelecidos entre os envolvidos, compreendendo: A promoção de um estilo de vida e um ambiente saudável. A prevenção de complicações relacionadas a deficiência ou outras condições. Ampliação do conhecimento e do entendimento por parte da pessoa sobre sua deficiência e capacidade de monitorar a própria saúde e, ainda, permitir a interação social por meio da participação de atividades de esporte. Envolver a família no processo de reabilitação, interagindo com familia- res e cuidadores no desenvolvimento da prática esportiva. Deve-se dar especial destaque para a interação familiar entre crianças e seus pais; Identificar, em conjunto com o praticante, quais modalidades e ativi- dades se apresentam mais estimulantes ele, de forma a envolvê-lo mais diretamente na realização das atividades adaptadas. Monitorar os indicadores de saúde, de funcionalidade e de autonomia do praticante, de forma a adequar a atividade proposta às respostas observadas. Um exemplo dessa atividade envolve a prática de vôlei entre sujeitos com limitações decorrentes de acidente vascular encefálico (AVC), os quais desen- volvem principalmente limitações motoras em hemicorpo, com restrição para A inclusão por meio do esporte4 deambulação, transferências, incontinência e dificuldades na fala. Esse tipo de atividade ocorre com a utilização de uma quadra reduzida, havendo uma rede entre as equipes (altura reduzida em relação a um jogo oficial), sendo objetivo da atividade o manuseio e a transferência da bola durante o jogo. Atividades de jogos com bola, realizados entre grupos, enfatizando a interação social entre sujeitos com diferentes fases de lesão, estimulando o desenvolvimento e o domínio dos movimentos do tronco e dos membros superiores no manuseio da bola durante o jogo, as transferências e a mobilidade no espaço do campo, auxiliam no processo de reabilitação. Parkinsonianos também utilizam atividades de esporte adaptado, como o futebol, estimulando a mobilidade e a marcha, pois essa patologia tenderá a desenvolver limitações de mobilidade, lentidão e dificuldade de iniciar os movimentos, além de permitir uma interação social entre os sujeitos praticantes. Um programa de reabilitação adequado deve envolver, além do fisioterapeuta, o trabalho de uma equipe multiprofissional e a integração familiar e social do indivíduo. Indicando uma modalidade de esporte para PCDs e pessoas excluídas A sociedade tem buscado o combate à exclusão da PCD, buscando por meios legais o acesso à educação, ao esporte, ao lazer, etc. Esse amparo está esta- belecido na legislação brasileira, com destaque na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi ciência (BRASIL, 2015), a qual defi ne, além do direito à reabilitação da PCD, o esporte adaptado como um elemento para o desenvol- vimento de habilidades e potencialidades que colaboram com a autonomia da PCD. O esporte adaptado pode ser entendido como um fenômeno global e a participação nessas atividades tem recebido a atenção crescente, oferecendo às PCDs a oportunidade de experimentarem sensações e movimentos que fre- quentemente são impossibilitados pelas barreiras físicas, ambientais e sociais. 5A inclusão por meio do esporte Para Mauerberg-deCastro (2011), a atividade física adaptada busca integrar aspectos da motricidade humana, da saúde e da educação em programas tera- pêuticos para indivíduos que não se ajustam total ou parcialmente às demandas das instituições sociais (família, escola, trabalho e comunidade em geral). Melo e Alonso López (2002) destacam a necessidade de se considerar e respeitar as limitações e potencialidades do praticante de esporte adaptado, adequando as atividades propostas a essas condições. O esporte adaptado consiste em adaptações e modificações em regras, materiais e locais para as atividades, possibilitando a participação nas diversas modalidades esportivas. Cardoso (2011) destaca que para participar de modalidades desportivas, como objetivo de lazer, de competição ou terapêutico, é obrigatória uma avaliação médica e funcional para detectar condições secundárias que podem limitar a prática, tais como: infecções, febre, escaras, dor, condições pós- -cirúrgicas, entre outras. Da mesma forma, as condições motoras, antropométricas e fisiológicas são analisadas para dimensionar as capacidades de força e resistência, úteis numa transferência, por exemplo, ou para se locomover com auxílio de cadeira de rodas ou muletas. No trabalho inicial de avaliação das capacidades, uma equipe multidisciplinar (médicos, fisioterapeutas, professor de educação física, nutri- cionista, psicólogo, etc.) deverá atuar de forma a dar o suporte ao participante e ao professor orientador da atividade. Porém, existe uma carência de profissio- nais capacitados e instituições especializadas no desenvolvimento do esporte adaptado, o que dificulta a ampliação na utilização dessa atividade entre PCDs. Segundo Bagnara (2010), algumas adaptações devem ser realizadas para facilitar a inclusão e a prática com menor risco aos envolvidos: Procurar desenvolver atividades em duplas, trios ou grupos, envolvendo sujeitos com e sem limitações. Os espaços devem ser delimitados; devem ser utilizados terrenos e pisos planos, sem irregularidades. Realizar a atividade preferencialmente acompanhado de professores e/ ou outros profissionais da saúde. A inclusão por meio do esporte6 Materiais macios e sonoros, que colaboram com a percepção de indiví- duos com dificuldades nessa área, seja por questões visuais, auditivas ou de outra ordem, devem ser utilizados. Os acessórios devem ser adequados com materiais de proteção especí- ficos, como espumas nos contatos das cadeiras de rodas. Algumas modalidades de esporte adaptado e as características dos praticantes: Arco e flecha: praticado por amputados ou usuários de cadeiras de rodas, como os lesados medulares, sendo as categorias de prática em pé e sentado. Atletismo: disputado por sujeitos com qualquer tipo de deficiência em catego- rias masculina e feminina, envolvendo provas de arremesso, saltos, lançamento e corridas. Basquete sobre rodas: praticado por lesados medulares, amputados e atletas com poliomielite de ambos os sexos. Bocha: adaptada para paralisados cerebrais severos. Ciclismo: praticado por paralisados cerebrais, cegos com guias e amputados, em categorias masculina e feminina, individual ou por equipe. Equitação: deficientes físicos participam deste esporte apenas na categoria de habilidades. Futebol: sujeitos com paralisia cerebral praticam a modalidade de campo e am- putados na modalidade de quadra. Futebol de 5: modalidade de esporte adaptado voltado para sujeitos cegos. Goalball: esporte voltado exclusivamente para PCD visual. Esgrima: usuários de cadeira de rodas como os lesados medulares, amputados e paralisados cerebrais praticam esta modalidade. Halterofilismo: aberta a todos os portadores de deficiência física do sexo mas- culino e feminino. Iatismo: envolve sujeitos com diferentes formas de deficiência. Natação: portadores de diferentes formas de deficiência, dentre eles portadores de deficiência visual e os demais. Rugby em cadeira de rodas: modalidade adaptada para lesados medulares com lesões altas — tetraplégicos. Tênis de campo: realizado em cadeiras de rodas nas categorias masculina e feminina. Tênis de mesa: praticado por PCDs como lesados medulares, amputados, etc. Tiro: aberto a sujeitos com qualquer tipo de deficiência física, nas categorias sen- tado e em pé. Vôlei sentado: praticado por atletas com lesão medular e amputados. Artes marciais: praticadas por sujeitos com diferentes formas de deficiência, envolvendo judô, caratê, jiu-jitsu, muay thai e kung fu. 7A inclusão por meio do esporte Algumas indicações ao esporte adaptado estão associadas a ao tipo de deficiência: Deficiência visual: atletismo, ciclismo, futebol, judô, natação, goalball, hipismo, halterofilismo e esportes de inverno. Deficiência auditiva: atletismo, basquete, ciclismo, futebol, handebol, natação, vôlei, natação, e muitas outras (quase as mesmas das pessoas sem deficiência, pois não existem grandes limitações dos deficientes auditivos). Deficiência física: atletismo, arco e flecha, basquete em cadeira de rodas, bocha, ciclismo, esgrima em cadeira de rodas, futebol para amputados e paralisados cerebrais, halterofilismo, hipismo, iatismo, natação, rugby, tênis em cadeira de rodas, tênis de mesa, vôlei sentado e para amputados e modalidades de inverno. Feitosa et al. (2017) referem-se a algumas modalidades de esporte adaptado e às condições para sua prática. O futebol, uma das modalidades esportivas que mais se pratica em todo o mundo, exige controle postural durantetoda a sua prática, sendo que a condução da bola com os pés estimula reações de controle postural, pois solicita o uso do apoio unipodal continuamente. Esse tipo de atividade oferece benefício, por exemplo, para pacientes com paralisia cerebral, que geralmente estão acompanhados por alterações musculoesqueléticas e li- mitações funcionais, porque promove flexibilidade, força, coordenação motora, equilíbrio e melhora funcional. Já no caso da natação, o treino das habilidades necessárias para essa prática promove benefícios na coordenação motora, na força, no equilíbrio, na flexibilidade, na velocidade e no condicionamento físico, o que permite ganhos nas dimensões de transferências e mobilidade, nas funções de membros superiores e na função global. A inclusão por meio do esporte8 Filme para todos O documentário mostra a trajetória, a vida e os desafios de alguns atletas paralímpicos que fazem parte das delegações brasileiras de natação, atletismo, canoagem e futebol, em fase de preparação para os Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O dia a dia, a superação, os obstáculos, as alegrias, as tristezas de cada um dos atletas são objeto deste documentário, que também debate a questão da inclusão dos deficientes físicos na sociedade brasileira em geral. A equipe do documentário acompanhou de perto quatro equipes paralímpicas (natação, atletismo, canoagem e futebol), em um intervalo de quatro anos (2013 a 2016), por seis países (França, Canadá, Japão, Itália, Catar e Brasil). Por meio das histórias de Alan Fonteles, Daniel Dias, Fernando Cowboy Rufino, Fernando Fernandes, Ricardinho, Susana Schnarndorf, Terezinha Guilhermina e Yohansson do Nascimento, foi feito um recorte sobre a bem-sucedida história do esporte paralímpico brasileiro. A evolução e as dimensões da inclusão por meio do esporte adaptado O surgimento do esporte adaptado está associado à realização de atividades competitivas para sujeitos com algum tipo de defi ciência. Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de suporte para os soldados mutilados gerou em diferentes países uma pressão social para o desenvolvimento de projetos voltados ao atendimento e à inclusão deles. Ao analisarmos a evolução do esporte adaptado ao longo da história, iden- tificamos o desenvolvimento de uma prática fortemente estabelecida e com grande reconhecimento social. Essa evolução implica em uma valorização do esporte e dos seus praticantes, entendidos como sujeitos capazes de superar obstáculos e dificuldades decorrentes de limitações ou deficiências, sejam estas físicas, mentais, visuais, etc. O surgimento do esporte adaptado no Brasil e no mundo é identificado a partir de uma série de eventos ao longo dos anos, que construíram a iden- tificação dessa modalidade como um espaço de atividade física e inclusão social entre os envolvidos. Segundo Mariani e Ferreira (2017), os registros indicam uma das primeiras atividades envolvendo esse tipo de atividade em 1870, nos Estados Unidos, 9A inclusão por meio do esporte com a prática de beisebol entre surdos. Na Alemanha, em 1888, também há registros de atividade desportiva para surdos. Ainda na Alemanha, no pós-guerra em 1918, são desenvolvidas atividades desportivas voltadas aos soldados com limitações decorrentes dos traumas do conflito. Em Paris, no ano de 1924, ocorre um dos primeiros jogos que envolve a participação de atletas surdos de diferentes localidades. Na Inglaterra, em Glasgow, no ano de 1932, é criada a Associação de Golfistas Amputados, que buscava estimular esse tipo de atividades desportivas entre essa população. Novamente o pós-guerra influencia na realização de outro evento impor- tante de esporte adaptado, ocorrendo no ano de 1945 nos Estados Unidos, promovidos por Benjamim H. Lipton, os jogos de basquete para cadeirantes, envolvendo associações de veteranos de guerra e hospitais. Também decorrente dos eventos pós-Segunda Guerra, na Inglaterra, Ludwig Guttmann, médico que, ao ingressar no Centro de Reabilitação Social de Veteranos de Guerra do hospital de Stoke Mandeville, na cidade de Alyesbury, inicia o desenvol- vimento de um trabalho com sujeitos com limitações decorrentes do evento bélico. Nesse mesmo ano ocorrem os primeiros Jogos Nacionais de Stoke Mandeville entre atletas com deficiência. O desenvolvimento desses jogos levou a ocorrer, na nona edição dos Jogos de Stoke Mandeville, um movimento internacional de criação da Olimpíada dos Portadores de Deficiência. Isso ocorre na Itália, em Roma, durante os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. Esse evento histórico é considerado o evento criador do movimento paraolímpico. Nos Jogos Olímpicos seguintes, em 1964, no Japão, são integrados os Jogos Paraolímpicos, havendo inclusive a criação dessa expressão na identificação da competição. Na América, os I Jogos Parapanamericanos para pessoas amputadas com lesão medular e sequelas de poliomielite ocorrem no Canadá, no ano de 1967. A estruturação de uma entidade internacional de apoio e organização aos Jogos Paraolímpicos ocorre em 1989 com a criação do Comitê Paraolímpico Internacional. Esse movimento no Brasil tem início no ano de 1958, quando o desporto é adaptado por Sergio Del Grande e Robson Almeida, sendo criadas equipes de basquete em cadeira de rodas. Na cidade de São Paulo, o Clube dos Para- plégicos com Sergio Del Grande; e no Rio de Janeiro, o Clube do Otimismo com Robson Almeida. A primeira participação de uma equipe brasileira nos Jogos Paraolímpicos ocorre no ano de 1972, na Alemanha, em Heidelberg. Atualmente o esporte adaptado se constitui em importante elemento de empoderamento e inclusão de sujeitos com deficiência, mas, ao mesmo tempo, o caráter competitivo dessa atividade também recebe críticas por adquirir A inclusão por meio do esporte10 um caráter limitante, em que sujeitos com menores capacidades atléticas são excluídos. Porém, os objetivos estabelecidos por essa prática é que irão nortear muito o entendimento do esporte como apenas um espaço na busca de resultados atléticos ou uma estratégia de inclusão social. Caberá ao profissional dar especial atenção não apenas aos resultados obtidos em termos de rendimentos, mas aos ganhos relacionados ao desen- volvimento de autonomia e à maior independência dos sujeitos envolvidos que fortalecem a condição de inclusão dos praticantes. Buscando melhor entendimento desse processo, Costa e Silva et al. (2013) propõem um modelo para melhor compreensão do esporte adaptado e suas dimensões, sendo estas: biológica, psicológica, social e modalidade. Com relação à dimensão biológica, esta trata de entender as alterações relacionadas com a função fisiológica, metabólica e neuromuscular, decor- rentes da deficiência, a qual influencia o comportamento do praticante. Essas características se expressam principalmente nas condições físicas (força, flexibilidade, mobilidade, equilíbrio, etc.) Na dimensão psicológica, o esporte adaptado permite maior conhecimento sobre si, suas emoções, seus pensamentos e seus comportamentos. À medida que impõe desafios, instiga o sujeito a superar seus limites. Superar uma tarefa já modifica o paradigma da PCD, estimulando ela a se ver de forma diferente. Com relação à dimensão social, as interações produzidas pela prática da atividade envolvem o indivíduo, sua família, colegas, treinadores, equipe de saúde, outros praticantes, etc. Um elemento importante nessa dimensão se relaciona com a definição de metas e a forma de interação estabelecida entre os envolvidos, isto é, equipe de saúde, instrutores, praticantes e familiares. Esse comportamento valoriza o praticante como um sujeito ativo do processo de treinamento e reabilitação e fortalece a interação com a família. Outro aspecto do modelo de Costa e Silva et al. (2013) se refere à modalidade de esporte adotado. Esse conceito destaca a importância das características da prática a ser desenvolvida e sua relação com as condições do praticante. Emrazão disso, é fundamental que o instrutor identifique o nível de capacidade funcional do praticante, de forma a oferecer atividades que permitam de forma adequada o desenvolvimento de suas potencialidades. Observe a seguir a Figura 1. É no conjunto do entendimento dessas dimensões que o esporte adaptado se fortalece como uma estratégia de melhora da condição de saúde e inclusão social dos envolvidos. A palavra inclusão pode ser entendida em um sentido 11A inclusão por meio do esporte complexo, como algo que necessita de superação, aceitação e adequação a demandas socialmente estabelecidas. Ribeiro (2009) refere que a sociedade tem buscado combater a exclusão das PCDs, o que resultou no desenvolvimento de um aparato legal que estabelece o acesso a espaços sociais, educação escolar, lazer, entre outros. Contudo apenas a definição de um marco legal não é suficiente para assegurar a inclu- são social desses indivíduos, uma vez que esse processo apresenta diversos desdobramentos. Com relação ao aspecto da inclusão, é importante reforçar a noção de que o esporte adaptado apresenta benefícios de ordem física e psicológica, contribuindo para a inclusão social, principalmente pela ampliação da rede social dos envolvidos. Neste capítulo, você conheceu uma série de conceitos e informações que fortalecem a concepção do esporte adaptado como espaço de inclusão social, seja no trabalho de reabilitação do empregado pelo fisioterapeuta ou em outras situações. O desafio está na superação das limitações e dificuldades Figura 1. Esquema dos fatores que influenciam o esporte adaptado. Fonte: Adaptada de Costa e Silva et al. (2013). Esporte adaptado Treinamento e avaliação Aspectos fisiológicos, biomecânicos, percepto-motores Representatividade social do esporte para a pessoa com deficiência Como a deficiência influencia? Qual o perfil requerido para a prática? Atleta com deficiência Aspectos da modalidade Aspectos biológicos Aspectos sociais Aspectos psicológicos A inclusão por meio do esporte12 que se apresentam quando se busca o desenvolvimento dessa modalidade de atividade física. A tese O esporte adaptado e a inclusão de alunos com deficiências nas aulas de educação física apresenta um estudo com o objetivo de analisar o desenvolvimento do esporte adaptado como conteúdo curricular da disciplina de educação física junto a professores, apresentando informações que procuram estabelecer a necessidade de rever a forma de organização curricular dessas ações e a participação de estudantes com diferentes graus de comprometimento. Leia acessando o link a seguir: https://goo.gl/LKnVwU O link a seguir apresenta uma vivência de uma disciplina voltada ao desenvolvimento do esporte adaptado golbol, com o objetivo de ensinar e preparar os acadêmicos de educação física a conviver com todo tipo de deficiência: https://goo.gl/JH2e6g 13A inclusão por meio do esporte 1. Sobre o papel da fisioterapia no esporte adaptado, marque V (verdadeiro) ou F (falso) e assinale a alternativa com a sequência correta. I. A fisioterapia está entre as áreas da saúde com papel secundário na iniciação esportiva da PCD; a educação física, por sua vez, exerce maior função. II. A potencialização das capacidades do atleta é fundamental para se chegar ao melhor resultado possível. O fisioterapeuta, além de encontrar dentro da deficiência a capacidade de cada um, tem um papel fundamental em potencializá-la. III. Além da parte física do paciente, o fisioterapeuta deve estar atento à parte da ergonomia no uso dos dispositivos auxiliares, como cadeira de rodas, muletas e cuidados gerais de manutenção. IV. Em uma equipe multidisciplinar, os papéis de cada membro (médico, enfermagem e fisioterapia) são bem definidos e jamais um profissional assume o papel do outro. a) F-V-V-V. b) F-V-V-F. c) F-F-F-V. d) V-V-V-V. e) V-F-F-V. 2. Quais são os benefícios que o esporte pode trazer para a PCD? a) Melhora na condição orgânica, na qualidade de vida e na capacidade funcional. b) Melhora na condição orgânica, na condição financeira e na qualidade de vida. c) A cura da deficiência do paciente. d) A não ser que seja um esporte de alto rendimento, não há benefícios para a maioria das PCDs. e) Os maiores benefícios são a melhora na qualidade de vida e o aumento da autoestima. 3. Felipe, 32 anos, trabalha como cobrador em transporte urbano. Após um acidente, em que foi jogado para fora do carro, sofreu fraturas expostas da tíbia e do úmero D, o que levou à necessidade de amputação transtibial em terço médio. Apesar do choque inicial e da não aceitação da limitação, no período de reabilitação, Felipe começou a praticar futebol, chamando a atenção de todos e sendo incentivado a usar próteses com objetivo esportivo. Diante desse relato, qual é a etiologia da deficiência e qual a sua sequela? a) Etiologia traumática e a sequela é a deficiência física. b) Etiologia genética e a sequela é a amputação do terço médio da perna. c) Etiologia deficiência física em razão de acidente de carro e a sequela é usar prótese para deambulação. d) Etiologia traumática em razão de acidente de carro e a sequela é a amputação do terço médio da perna. A inclusão por meio do esporte14 e) Etiologia congênita e a sequela é a amputação do terço médio da perna. 4. Aline, 42 anos, tem um filho, Lucas, com síndrome de Down, que já passou da idade escolar. Essa mãe está ansiosa para saber o que o filho poderá fazer a partir de agora, pois há a recomendação para que o menino se mantenha ativo. Diante dessa questão, você, como fisioterapeuta de Lucas e conhecendo as habilidades dele, sugere para essa mãe: a) que ela o incentive a praticar jogos como dominó, xadrez ou cartas, que exigem atenção mental. b) que ela procure um local onde ele possa correr livremente, fortalecendo as musculaturas e dando-lhe uma noção de liberdade. c) que ela procure por locais esportivos especializados em PCDs, que sejam supervisionados por profissionais atentos; podem ser esportes coletivos ou individuais. d) que ela compre uma bicicleta ergométrica para que ele possa se exercitar diariamente dentro da segurança doméstica. e) que ela mantenha o filho apenas na sala de fisioterapia, pois, infelizmente, após a idade escolar, não há uma política de inclusão de um deficiente mental. 5. Na história do esporte adaptado, o médico Guttmann estabeleceu qual paradigma? a) A prática do esporte para facilitar a reabilitação. b) A prática do esporte para a performance esportiva. c) A prática do esporte fora do processo de reabilitação. d) A prática do esporte para trabalhar incapacidades. e) A prática do esporte baseada na deficiência. 15A inclusão por meio do esporte BAGNARA, I. C. Educação física e esporte adaptado para pessoas com deficiência física. EFDeportes.com, ano 15, n. 148, set. 2010. BRASIL. Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 12 set. 2018. BRAZUNA, M. R.; MAUERBERG-DECASTRO, E. Esporte e atletas portadores de deficiência física. Motriz, v. 7, n. 2, p. 115-123, jul./dez. 2001. CARDOSO, V. D. 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