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Comunidade, cultura e identidade surda

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Comunidade, cultura e identidade surda
Apresentação
A Língua Brasileira de Sinais ou LIBRAS é um idioma gesto-visual da comunidade surda, que faz uso 
das mãos, do corpo e das expressões faciais para produzir a comunicação e a visão como forma de 
perceber o que está sendo sinalizado dentro de um determinado espaço. Algumas pessoas 
acreditam que a língua de sinais são apenas gestos ou mímicas que copiam as palavras e expressões 
da língua oral-auditiva (português). No entanto, como qualquer outro idioma, ela possui regras e 
uma estrutura de sentenças gramaticalmente peculiares e uma cultura e identidades próprias que 
moldam a língua com o passar do tempo.
Contudo, apesar das diferenças apresentadas, ela é totalmente capaz de expressar ideias complexas 
e abstratas segundo suas próprias regras, assim como qualquer outro idioma, o que legitima seu 
status como língua e não como linguagem.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá sobre comunidade surda, cultura surda e as diferentes 
identidades entre os falantes da língua.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Perceber a importância da cultura surda. •
Identificar o processo de construção da identidade surda. •
Comparar as diferenças entre a comunidade surda e a ouvinte.•
Desafio
Comunidade, cultura e identidade surda são três elementos que geram inúmeros questionamentos 
para aqueles que não frequentam a comunidade surda, que não entendem sobre a cultura dela nem 
sobre a identidade que os falantes da língua de sinais assumem.
Você é irmão de um surdo que participa da comunidade e da cultura surda e é fluente em língua de 
sinais, e, certo dia, uma pessoa de fora da comunidade e da cultura surda, isto é, que não saiba nada 
sobre língua de sinais, lhe questiona o seguinte: por que o seu irmão não foi oralizado e por que ele 
não usa aparelho auditivo ou implante coclear? Esses recursos não são importantes para ele 
sobreviver em sociedade?
Responda a esses questionamentos em, no mínimo, 15 linhas, explicando, ao mesmo tempo, sobre 
o valor e a importância da Comunidade, da Cultura e da Identidade Surda para os sujeitos surdos.
Infográfico
É importante respeitar as diferenças e em não impor a cultura ouvinte em detrimento da cultura 
surda. A comunidade surda existe e a cada dia fica mais forte, o que não significa que a cultura 
ouvinte deixará de existir, mas que a comunidade surda tem direito de espaço em nossa sociedade, 
o qual foi conquistado com muita luta e sofrimento.
Forçar uma criança a oralizar, a usar aparelho auditivo ou a ser implantado é inicialmente errado, 
devendo o próprio sujeito surdo decidir se prefere seguir pelo caminho ouvinte ou se acha melhor 
seguir pelo caminho surdo, assumindo sua identidade como sujeito surdo, integrando a comunidade 
surda e sendo atuante para perpetuar a cultura surda por outras gerações.
Este Infográfico mostra as definições e os conceitos sobre a comunidade, a cultura e a identidade 
surda de forma clara e sucinta.
 
 
Conteúdo do livro
Anular o passado imerso na obrigação de serem ouvintes, e requerer um novo presente, tem se 
mostrado como um artefato cultural para os surdos. Diante disto, surgem novos feitos e novas 
interpretações no cotidiano que reforçam a convicção e o reconhecimento dos sujeitos sobre 
comunidades, culturas e identidades surdas. Neste sentido, novos caminhos merecem ser trazidos à 
tona, com lutas de significação quais pela busca por educação bilíngue, por políticas para a língua 
de sinais no Brasil, pela abertura das portas das universidades, por posições de igualdade, por ter 
intérpretes de língua de sinais e por serem válidos os direitos do povo surdo. 
Cultura são as experiências, as vivências e uma identidade, que é constituída pela forma como as 
pessoas se relacionam, se comunicam e se transformam. A identidade sociocultural é o resultado da 
intersecção entre a história da pessoa, do seu contexto histórico, cultural e social e de seus projetos 
de vida. Uma sociedade se compõe de comunidades.
No capítulo Comunidade, cultura e identidade surda, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, 
serão destacados o conceito e a importância da cultura surda como um modo de vida e 
conhecimentos acerca da identidade surda, a qual destaca a inserção plena dos sujeitos surdos às 
comunidades surdas.
Boa leitura.
LIBRAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Perceber a importância da cultura surda.
 > Identificar o processo de construção da identidade surda.
 > Comparar as diferenças entre a comunidade surda e a ouvinte.
Introdução
O tema deste capítulo tem como base, talvez de forma implícita, a interação 
de sujeitos por meio da comunicação humana. De forma mais objetiva, trata-
-se da comunicação especificamente de um grupo mais restrito de sujeitos 
(os surdos), apenas em termos de números, que se comunica de forma paralela 
e diferente da usada por um grupo dominante (os ouvintes).
A comunicação é inerente à condição humana. É a comunicação entre os 
indivíduos que permite a criação de uma sociedade. Sem comunicação, não 
há transmissão de conhecimento ou partilha de emoções. Sem ela, há ape-
nas indivíduos isolados, que vivem unicamente dos seus instintos ou das 
suas experiências individuais. Na comunicação, fazem parte da linguagem os 
gestos, os sons, as expressões faciais e corporais, identificados e utilizados 
para manifestar desejos, necessidades, opiniões e posicionamentos. No ser 
humano, o desenvolvimento da linguagem permitiu-lhe expressar as suas ideias 
e desenvolvê-las com as ideias dos outros. A partilha de informação permitiu-lhe 
obter conhecimento e criar cultura. Entretanto, a comunicação e a linguagem 
não se restringem ao ouvir e falar, nem tampouco a formas universais ou a uma 
Comunidade, cultura 
e identidade surda
Claudio Luciano Dusik
mesma língua para todo o planeta. Ao contrário, as formas de comunicação, 
os tipos de língua e de linguagem são diversos, como é a diversidade humana.
A humanidade não é uniforme nem homogênea. Embora a consciência 
de humanidade global se amplie, com ela também se amplia a consciência 
da diversidade como característica natural, a consciência de que o outro é 
implacavelmente diferente, pois a diferença é o que existe, a igualdade é 
inventada e a valorização das diferenças impulsiona o progresso humano. 
Assim, em vez de se definirem comunidade, cultura e identidade, é o seu plural 
que se define na espécie humana: comunidades, culturas e identidades. Como 
grupo humano, o grupo de pessoas surdas também se caracteriza com suas 
particularidades de comunidade, cultura e identidade. E cabe, ainda, esclarecer 
a distinção entre surdos e pessoas com deficiência auditiva. O que difere 
surdez de deficiência auditiva é a profundidade da perda da audição e o uso 
da linguagem surda. As pessoas que têm perda profunda e não escutam nada 
são surdas. Já as que sofreram uma perda leve ou moderada e têm parte da 
audição são consideradas com deficiência auditiva. Aqui, portanto, vamos nos 
limitar à abordagem sobre surdos.
Neste capítulo, vamos destacar, inicialmente, o conceito e a importância da 
cultura surda como um modo de vida dos surdos. Ou seja, uma cultura própria, 
que acolhe a participação social dos surdos entre eles e deles com os ouvintes. 
Na sequência, vamos refletir sobre a identidade surda, que destaca a inserção 
plena dos sujeitos surdos nas comunidades surdas. Ao final do capítulo, serão 
abordadas as características da comunidade surda em relação à comunidade 
ouvinte.
A cultura e a cultura surda
Os elementos que constituem o conceito de cultura são tão diversos que 
dificultam uma definição única para ele, mas, em termos gerais, não é razoável 
falar de cultura sem falar de troca, aspecto que caracteriza as culturas ao 
redor do mundo. Cultura são as experiências, as vivências e uma identidade, 
que é constituída pela forma como as pessoas se relacionam, se comunicam 
e se transformam. ConformeLaraia (2016), cultura é o conjunto de artefa-
tos complexos que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, 
os costumes, a língua e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos 
pelo ser humano como membro de um determinado grupo social. Ela se forma 
por uma rede de compartilhamento de símbolos, significados e valores pelos 
membros de um grupo ou sociedade. A cultura é também um mecanismo cumu-
lativo, porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração 
Comunidade, cultura e identidade surda2
seguinte. Ela perde e incorpora outros aspectos, numa forma de melhorar a 
vivência das novas gerações e acrescentar novos elementos. Sendo assim, 
a cultura está sempre em transformação, motivada, em grande parte dos 
casos, pela troca entre diferentes povos e gerações.
Na constituição da cultura, a privação do sentido da audição de nenhuma 
forma inviabiliza a interação linguística, a participação social ou a produção 
cultural. Os surdos, como grupo social, têm uma cultura própria, que acolhe sua 
participação social como um modo de vida entre eles e deles com os ouvintes. 
A cultura surda, suas manifestações e sua ampla propagação buscam ampliar 
os direitos de inclusão dos surdos na sociedade geral (IFPB, 2018a, 2018b).
A cultura surda engloba possibilidades e elementos próprios da vida dos 
sujeitos que se reconhecem como surdos, abrangendo não apenas aspectos 
mais corriqueiros da vida de cada um, mas também o grupo social que cons-
tituem. A privação do sentido da audição abriu possibilidades alternativas 
para a sua atuação no mundo, na interação linguística, na participação social 
e na produção cultural (IFPB, 2018a, 2018b).
Vygotsky (1997), um dos principais estudiosos do pensamento e da lingua-
gem como funções psicológicas superiores, diz que os princípios do desen-
volvimento são os mesmos para todos; contudo, o que define o destino da 
pessoa não é a deficiência em si, mas suas consequências sociais, já que uma 
pessoa com necessidades especiais não é uma pessoa menos desenvolvida, 
mas uma pessoa que se desenvolve de outra maneira.
Portanto, muito mais do que observar as limitações, devem-se obser-
var questões que perpassam o olhar sobre a pessoa surda. Assim, a busca 
de alternativas para atender a essas expectativas sociais é, muitas vezes, 
encarada como um fator motivador para o sujeito com necessidades especiais. 
Isso é o que o autor chama “compensação”, ou seja, o que era um “defeito” de 
ordem orgânica passa a ser um estímulo na busca pela superação. O sujeito 
procura formas diferentes ou outros meios para realizar atividades da vida 
cotidiana (VYGOTSKY, 1997).
Nesse sentido, Vygotsky e Luria (1993, p. 226) pontuam que:
[...] não podemos olhar um defeito como algo estático e permanente. Ele põe em 
ação e organiza grande número de dispositivos que não só podem enfraquecer 
o impacto do defeito, como por vezes até mesmo compensá-lo. Um defeito pode 
funcionar como poderoso estímulo no sentido da reorganização cultural da perso-
nalidade, [...] só precisa saber como descobrir as possibilidades de compensação 
e como fazer uso delas.
Comunidade, cultura e identidade surda 3
Assim, os recursos de comunicação de cada pessoa ou grupo são cons-
truídos de forma totalmente personalizada e levam em consideração várias 
características que atendem às suas necessidades. Ao se aproximar da reali-
dade surda, pela vivência e pelo estudo, descobre-se que ela abrange um rico, 
complexo e instigante conjunto de elementos culturais caracterizados pelas 
formas alternativas de produção e interação dessas pessoas, enriquecidas 
nas comunidades surdas e, infelizmente, ainda pouco conhecidas entre os 
ouvintes.
Witchs e Lopes (2018) e IFPB (2018a, 2018b) descrevem alguns elemen-
tos que fazem parte da cultura surda, chamados de “marcadores culturais”. 
A seguir, apresentamos cada um deles.
 � Visualidade: a vivência surda é visual. A visão é o principal sentido de 
contato com o mundo, de apreensão e significação das informações com 
variáveis de movimento, de espaço e de comunicação de base visual.
 � O olhar, não apenas como um sentido: o olhar é um marcador que 
permite a contemplação de um modo de vida de diferentes formas, 
o cuidado de uns sobre os outros, o interesse pelas coisas particulares, 
o interpretar e ser de outra forma.
 � Linguístico: as línguas de sinais, de características visuoespaciais, 
são as línguas naturais para as pessoas surdas. A língua de sinais é 
tão complexa quanto qualquer outra. Não se trata de uma versão em 
sinais de uma língua oral, como o português, nem de simples gestos ou 
mímica, embora estes possam ser usados quando ainda não se sabe 
a língua de sinais, mas trata-se de um sistema complexo, com regras 
próprias. Na necessidade de tradução entre a língua oral e a de sinais, 
isso é realizado por um intérprete.
 � Família: ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de 
filhos ouvintes em lares surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares 
surdos. Nesse âmbito, muitas questões ligadas à aceitação, à super-
proteção, à concepção sobre a surdez são discutidas. Inicialmente, 
a linguagem oral não é a mais importante na comunicação de qualquer 
criança com sua família; o contato depende mais da sensibilidade, que 
se traduz em um toque, uma expressão de felicidade ou de tristeza. 
No caso da deficiência auditiva ou da surdez, os pais não devem se 
desesperar, mas, sim, aprender como participar da educação de sua 
criança.
Comunidade, cultura e identidade surda4
 � Comunidade surda: composta por surdos e por ouvintes militantes da 
causa, como professores, familiares, intérpretes, amigos, entre outros.
 � Imagem de luta: travada constantemente, marca a diferença surda, 
alimentada por muitos surdos porque, com ela, conseguem estabelecer 
a tensão que possibilitará a demarcação das diferenças e de uma iden-
tidade surda. Configura-se como uma bandeira, uma causa pela qual os 
surdos, na condição de grupo, lutam para conquistar um lugar social.
 � Associações e organizações: centros cuja importância se manifesta, 
por exemplo, na possibilidade de o surdo interagir com outras pessoas 
surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a possibilidade 
de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do segmento por vezes 
abraçadas nessas organizações, etc.
 � Identidade surda: corresponde a um sentir-se surdo em relação ao 
outro ouvinte e em normalidade na condição de surdo em relação ao 
outro surdo.
 � Literatura surda: arte que abarca produções literárias em língua de 
sinais e produzidas por pessoas surdas.
 � Artes visuais: englobam o teatro surdo e as artes plásticas.
 � Criações e transformações materiais: exemplificadas pelas soluções 
alternativas para as pessoas surdas, como campainhas luminosas; 
sistemas de alerta táctil-visual; telefones adaptados, como os tele-
communications device for the deaf (TDDs) e os telefones com teclado 
teletipo (TTY); dispositivos de vibração (relógios, celulares, etc.) que 
substituem o despertador; celulares com mensagens escritas e chama-
das por vibração; softwares de reconhecimento de voz e de conversão 
de texto em voz; livros, textos e dicionários em Libras; e sistema de 
legendas (closed caption/subtitles).
Na condição de grupo social, como são reconhecidos hoje, os surdos podem 
ser considerados parte dos movimentos de tantos outros grupos humanos 
que buscam a inversão do estigma de uma identidade que foi historicamente 
reduzida a pessoas incapazes. Aristóteles, por exemplo, na Idade Antiga, 
proferia que quem não podia ouvir não tinha linguagem nem pensamento e 
que, de todos os sentidos, a audição era o que contribuía para a inteligência 
e o conhecimento; portanto, os nascidos surdos eram insensatos e natural-
mente incapazes de razão. Entendimentos como esse mostram a dimensão 
da representação que a sociedade tem sobre determinados grupos e à qual 
a pessoa com deficiência esteve sujeita em meio aos vários aspectos doentendimento social diante do seu “estar no mundo”, havendo períodos que 
Comunidade, cultura e identidade surda 5
vão da perplexidade e do misticismo até os encaminhamentos meramente 
assistencialistas. Para que o passado não perdure no presente, é necessário 
compreender que o conceito de inclusão que se busca hoje é vinculado ao 
seu oposto, ou seja, ao conceito de exclusão que se busca com muito esforço 
combater. Torna-se possível entender que a história, que deveria ser passado, 
ainda se faz presente nas representações de mundo de hoje e no modo como 
os seres humanos se relacionam para produzir e reproduzir a vida. Sendo assim, 
a compreensão das políticas de inclusão social surge em oposição ao conceito 
de exclusão (CARMO, 1991; IFPB, 2021; STROBEL, 2009; WITCHS; LOPES, 2018).
Aspectos históricos sobre a surdez
De acordo com o pensamento de Aristóteles, no século XVI as famílias nobres 
de surdos começaram a ter iniciativas para ensiná-los a falar e a escrever, 
pois tinham preocupações relacionadas com a herança dos títulos e dos bens. 
Alguns educadores famosos nesse período foram Ponce de León e Juan Pablo 
Bonnet. No século XVIII, a educação para surdos começa a se caracterizar 
por duas vertentes educacionais completamente antagônicas: o oralismo 
puro, filosofia que valoriza apenas a oralização, difundida principalmente por 
Samuel Heinicke e Alexander Graham Bell; e a comunicação por sinais, que foi 
adotada na educação de surdos por Abade Charles Michael de L’Epée. Assim, 
diante das reivindicações em relação ao uso da língua de sinais e o desblo-
queio dessa língua no campo educacional como condições de possibilidade, 
os surdos passaram a destacar suas diferenças culturais e linguísticas para 
tomar posição entre outras identidades (IFPB, 2021; WITCHS; LOPES, 2018).
Abade Charles Michael de L’Epée (1712–1789) aprendeu a comunicação 
por sinais que os surdos pobres de Paris utilizavam para se comunicar 
uns com os outros. Então, L’Epée adotou a comunicação por sinais para a educação 
e fundou em sua casa aquela que viria a se tornar a primeira escola pública 
para surdos. O sucesso na instrução dos surdos a partir daí foi extraordinário, 
e o método se expandiu para fora da França. Os surdos puderam ter instrução, 
revelar seus talentos e exercer diferentes profissões. Foi o período áureo na 
história do povo surdo, identificado como o período de “revelação cultural”. 
Os surdos, antes não vistos como pessoas, privados de seus direitos, andarilhos, 
passaram a ter condições reais de educação, de acesso ao conhecimento, de 
desenvolver seus talentos e ocupar posições socialmente valorizadas (IFPB, 2021).
Comunidade, cultura e identidade surda6
Apesar da crescente revelação de uma cultura surda, surgiu um longo 
período de isolamento cultural dos surdos, cujos resquícios históricos per-
duram até hoje no entendimento capacitista e excludente em alguns âmbitos 
educacionais. Por iniciativa e influência do professor oralista Graham Bell, 
crescia o movimento que afirmava que os surdos deveriam ser instruídos 
apenas por meio do oralismo puro. Então, em 1880 esse preceito foi mun-
dialmente oficializado no Congresso Internacional de Educadores, em Milão, 
ordenando-se que, nas escolas para surdos, o uso de sinais fosse reprimido 
até mesmo com punições. Entretanto, isso não impediu os surdos de usar os 
sinais quando estavam fora dos olhares ouvintes, escondidos nos banheiros, 
às costas dos professores, nos dormitórios e até por debaixo das carteiras, 
e começou uma árdua jornada dos povos surdos de não permitir a extinção 
de sua cultura e suas línguas, havendo maior união das associações de surdos 
(IFPB, 2021; STROBEL, 2009).
Até a primeira metade do século XX, não havia condições epistêmicas para 
dizer sobre uma cultura surda; tal noção não estava na ordem do discurso. 
Além disso, a língua de sinais — artefato primordial que dá sustento à noção 
dessa cultura — ainda não tinha legitimidade ou reconhecimento linguís-
tico (WITCHS; LOPES, 2018). Porém, estudos foram mostrando que os sinais 
utilizados pelos surdos são na verdade uma língua, indo ao contraponto do 
entendimento do oralismo puro que imperava nas escolas para surdos. Foram 
surgindo, então, novas filosofias, como a comunicação total e o bilinguismo, 
descritos a seguir (IFPB, 2021).
 � Comunicação total: essa concepção nasceu nos Estados Unidos, nos 
anos 1960, e chegou ao Brasil nos anos 1980. Ela propõe o uso simultâneo 
de diversos recursos para a comunicação com os surdos, abrangendo 
a oralização, a sinalização e o uso de sinais para tentar uma corres-
pondência com a língua oral.
 � Bilinguismo: essa concepção surgiu na Suécia, em 1970, e chegou ao 
Brasil em 1990. Nesse modelo, a língua de sinais e a língua oral são 
usadas em momentos distintos, e não há tentativa de fazer a língua de 
sinais corresponder à língua oral. A língua de instrução para as pessoas 
surdas é a língua de sinais, considerada sua língua materna; e a língua 
oral do país é ensinada na modalidade escrita, sendo a participação 
do intérprete muito importante.
Comunidade, cultura e identidade surda 7
O mesmo Congresso Internacional de Educadores, que havia abolido o uso 
de língua de sinais como língua para instrução dos surdos, aprovou, cem anos 
depois, o bilinguismo como sua única forma de instrução.
O Brasil tem duas línguas oficiais: a língua portuguesa e a Libras. 
A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, oficializa e reconhece a Libras 
como meio legal de comunicação (BRASIL, 2002). O Decreto nº 5.626, de 22 de 
dezembro de 2005, entre outras providências, regulamenta o ensino bilíngue 
e a formação de professores, de instrutores, de tradutores e de intérprete de 
Libras (BRASIL, 2005).
Nesta seção, abordamos a cultura surda e a importância do uso de lín-
gua de sinais. Considera-se importante, entretanto, destacar o cuidado em 
não reduzir a diferença cultural surda ao uso da língua de sinais, visto que, 
construindo cultura, as histórias apresentadas pelos surdos enfatizam e 
reforçam suas lutas pela legitimação e pelo reconhecimento da identidade e 
da cultura surda. Também é importante destacar a expressividade linguística e 
a diversidade de temas encontrados nessas produções de diferentes tipos de 
artefatos da cultura surda (literatura, teatro, vida social e esportiva, histórias, 
artes plásticas, musicalidade em sinais, movimentos políticos, associação de 
surdos, etc.), que possibilitam a promoção dessa cultura nas comunidades 
surdas e em ambientes escolares. Na próxima seção, serão enfatizados os 
elementos que compõem uma cultura e que são compartilhados com a so-
ciedade, criando-se, assim, uma identidade cultural.
Identidade sociocultural e a 
identidade surda
A identidade social e cultural é uma percepção subjetiva que faz com que 
o sujeito se identifique com algum grupo social que tenha elementos e ca-
racterísticas de seu interesse, querendo, assim, ser parte daquele contexto. 
As transformações sociais advindas da modernidade produzem profundos 
efeitos na maneira como o indivíduo entende a si mesmo e é entendido social-
mente. Dessa forma, a identidade sociocultural é o resultado da intersecção 
entre a história da pessoa, o seu contexto histórico, cultural e social e os seus 
projetos de vida (CIAMPA, 1987; DUBAR, 1997; HALL, 2006).
Comunidade, cultura e identidade surda8
Isso porque o homem só se torna humano com a presença do outro. 
Segundo a teoria sociointeracionista de Vygotsky (1991), o desenvolvimento 
humano só se constitui com o papel preponderante das relações sociais 
nesse processo, em que o social e o cultural constituem duas categorias 
fundamentais, uma vez que a existência social humana pressupõe a pas-
sagem da ordem natural (homem biológico) para a ordem cultural (homem 
social). Dessa forma, a identidade para si não se separa da identidade para 
o outro, pois a primeira é correlata à segunda: reconhece-se pelo olhar do 
outro (DUBAR, 1997).
O ser humano,tão logo nasce, vê-se envolvido em um mundo social. 
É justamente por encontrar-se nesse entorno humanizado e, portanto, 
cultural e histórico que o bebê humano pode sobreviver. Assim, todo tra-
balho do desenvolvimento consiste em converter o sujeito biológico em 
sujeito humano, que aprende a se comunicar, que aprende a fazer escolhas, 
que aprende coisas concretas e abstratas, que aprende regras, que aprende 
a sentir, a querer e a planejar (VYGOTSKY, 1991).
Dessa forma, é por meio do outro que o sujeito se reconhece. O que está 
no centro do processo de constituição identitária é, portanto, a identificação 
ou não identificação com as atribuições que são sempre do outro, visto que 
esse processo só é possível no âmbito da socialização. No mecanismo de 
comparação social, a pessoa faz comparação dela com outros indivíduos e de 
seu grupo com outros, fazendo com que se aproxime daqueles que tenham 
características que considera semelhantes às suas, agregando uma dimen-
são motivacional, por se sentirem valorizadas, mantendo uma autoestima 
positiva. Portanto, a identidade é a articulação entre igualdade e diferença 
(CIAMPA, 1987).
Quanto às identidades surdas, elas se referem aos modos de pessoas 
surdas compreenderem a surdez e a si próprias no contexto social, relacio-
nando sua história e o contexto histórico da surdez, formulando concepções 
que impactam sua postura e seu comportamento. As pessoas surdas têm 
em comum muitas características, que vão além da especificidade biológica 
e abarcam experiências sociais, que marcam o processo de constituição 
identitária (IFPB, 2018a, 2018b).
Comunidade, cultura e identidade surda 9
As experiências de vida narradas por surdos de todo o mundo apresentam 
características, com semelhanças e diferenças, em torno da percepção indi-
vidual e coletiva sobre a surdez, e essas experiências são produzidas a partir 
da interação com o outro, o ouvinte. É preciso reconhecer que a experiência 
de ser surdo é diversa da experiência de ser ouvinte, e tais diferenças se 
concretizam das mais variadas formas e relações. A identificação pessoal é 
marcada pela vivência coletiva, entre o surdo e o ouvinte e entre o surdo e 
outro surdo (CEARÁ, 2013).
A identidade surda é heterogênea, havendo desde os surdos que se apro-
priam da cultura surda, valorizam e militam pelos direitos da sua coletividade 
específica, posicionando-se politicamente em favor dos direitos dos surdos, 
até os que, de maneira contrária, se comportam de forma a tentar se apropriar 
da cultura ouvinte e vivenciá-la no seu modo de participar do meio. Esse fato 
se refere ao próprio processo comum de formações identitárias que, para 
Dubar (1997), se constitui em um movimento de tensão permanente entre os 
atos de atribuição (que correspondem ao que os outros dizem ao sujeito) e os 
atos de pertença (em que o sujeito se identifica com as atribuições recebidas 
e adere às identidades atribuídas). Ao passo que a atribuição corresponde à 
identidade para o outro, a pertença indica a identidade para si, e o movimento 
de tensão se caracteriza justamente pela oposição entre o que esperam 
que o sujeito assuma e seja e o desejo do próprio sujeito em ser e assumir 
determinadas identidades.
Hall (2006) diz que o sujeito pós-moderno se caracteriza pela mudança, 
pela diferença e pela inconstância, mantendo sua identidade aberta; e que 
se, de um lado, essa visão é incômoda pelo seu caráter de imprevisibilidade, 
de outro, é positiva por desestabilizar identidades do passado e abrir-se à 
possibilidade de desenvolvimento de novos sujeitos. A identificação vem 
do outro, mas pode ser recusada para se criar outra. De qualquer forma, 
a identificação utiliza categorias socialmente disponíveis (DUBAR, 1997). 
Desse modo, a construção da identidade da pessoa surda é influenciada 
por fatores diferentes, como o contexto familiar, a inclusão ou rejeição, os 
discursos sociais sobre surdez, o contato ou a falta dele com comunidades 
surdas, entre outros.
Há pelo menos sete tipos de identidade manifestos por diferentes pessoas 
surdas. Esses tipos são apresentados na Figura 1.
Comunidade, cultura e identidade surda10
Figura 1. Tipos de identidades surdas.
Surda
Híbrida
Flutuante
EmbaçadaDe transição 
Diáspora
Intermediária
Como mostra a Figura 1, os tipos de identidades surdas são as seguintes: 
surda, híbrida, flutuante, embaçada, de transição, diáspora e intermediária. 
A seguir, descrevemos cada uma dessas formações identitárias (CEARÁ, 2013; 
IFPB, 2018a, 2018b; PERLIN, 2011).
 � Surda, ou política: é percebida nos surdos que utilizam a comunicação 
visual como meio de expressão. Surgida dentro dos movimentos surdos, 
trata-se de uma identidade política que busca os direitos relativos ao 
povo surdo.
 � Híbrida: é encontrada nos sujeitos que nasceram ouvintes e com surdez 
adquirida. São sujeitos que aprenderam inicialmente a estar e participar 
do meio e construir o pensamento como ouvintes, utilizando também 
uma língua oral para se comunicar, e que passaram a estar imersas no 
contexto da surdez, como pessoas surdas. Tais pessoas têm a língua 
oral e também a comunicação visual como língua de expressão.
Comunidade, cultura e identidade surda 11
 � Flutuante: característica de pessoas que não foram inseridas em al-
guma comunidade surda. Essas pessoas costumam ter dificuldades 
de se reconhecer/se aceitar como surdas e buscam sua referência na 
cultura ouvinte.
 � Embaçada, ou incompleta: são surdos que não aprenderam nem a língua 
portuguesa nem a Libras, o que torna a comunicação um obstáculo 
para eles — tanto com ouvintes quanto com surdos. Na falta do por-
tuguês e da Libras, eles acabam se comunicando em mímicas, sendo 
as expressões que usam, por vezes, incompreensíveis.
 � De transição: é percebida nos surdos que estão em fase de transição 
para outra identidade, a identidade surda. Esses sujeitos nunca tiveram 
contato com outros surdos, convivendo somente com ouvintes, e, 
ao conhecer outros surdos, se reconhecem como tal.
 � Diáspora: é observada nos sujeitos surdos que têm sua identidade 
surda, mas que estão de passagem de um país para outro, de uma 
região para outra, de um estado para outro ou de um grupo surdo para 
outro, estabelecendo, assim, contato com surdos de outras origens 
e que se comunicam com uma língua de sinais que é distinta da sua. 
Dessa forma, tais sujeitos adquirem maior bagagem cultural para seu 
repertório.
 � Intermediária: são surdos oralizados, que falam e entendem bem a 
língua portuguesa e que podem pertencer tanto à comunidade ouvinte 
quanto à comunidade surda, pois também sabem sinalizar com a Libras.
Diante dos elementos que constituem o conceito de cultura, que são tão 
diversos e fazem parte das formações identitárias, é importante lembrar que 
vários estereótipos historicamente traçados e distorcidos sobre os surdos po-
dem dificultar o processo de aceitação da identidade surda e da representação 
da surdez. Esses estereótipos têm reforçado preconceitos e discriminações 
em torno da diferença cultural e linguística, e estão presentes de formas 
explícitas e implícitas. Observa-se que o coletivo de pessoas surdas, como é 
característico das coletividades humanas, é heterogêneo, sendo necessário 
compreender e respeitar essa diversidade, sem desrespeitar o direito de a 
pessoa assumir o posicionamento que considere melhor diante dos tipos 
de identidade manifestos por diferentes pessoas surdas. Entretanto, é de 
fundamental importância oportunizar, principalmente na infância da criança 
surda, o contato com outras pessoas surdas, o que permitirá que ela possa se 
apropriar de formas de vida e artefatos que facilitem a sua vida e a comuni-
cação com os demais. Independentemente da identidade e da cultura com as 
Comunidade, cultura e identidade surda12
quais um surdo possa identificar-se, o senso de mudança para a construção 
de uma sociedade inclusiva, o respeito à diversidade humana e a empatia são 
fundamentais para impactarpositivamente a vida em comunidade.
Nesta seção, descrevemos a identidade surda como modo de as pessoas 
compreenderem a surdez e a si próprias no contexto social. Na próxima seção, 
serão destacadas as características da comunidade surda em relação à comu-
nidade ouvinte, com vistas à inserção plena dos sujeitos surdos na sociedade.
A comunidade surda e a sociedade inclusiva
A sociedade compõe um grupo amplo, e muitas vezes abstrato, de pessoas 
que compartilham culturas, sendo formada por uma teia de relações sociais. 
A comunidade, por sua vez, é um grupo limitado de pessoas que apresentam 
semelhanças, coexistem e se relacionam em prol de interesses e objetivos 
comuns. Uma sociedade se compõe de comunidades.
No paradigma da sociedade inclusiva, os sujeitos em comunidade buscam 
sua socialização, que é a ação ou efeito de desenvolver, nos indivíduos de 
uma comunidade, o sentimento coletivo, o espírito de solidariedade social 
e de cooperação (HOUAISS, 2001). Objetivando a socialização, a comunidade 
surda, portanto, refere-se às pessoas surdas, aos familiares dos surdos, aos 
tradutores e intérpretes da Libras e às demais pessoas que trabalham ou 
socializam com pessoas surdas. O desconhecimento da maioria da popula-
ção acerca de algumas particularidades relacionadas aos surdos, à surdez 
e à língua de sinais faz com que essa parcela minoritária da população seja, 
muitas vezes, excluída (IFPB, 2018a, 2018b).
Dessa forma, a comunidade surda abrange todas as pessoas que de al-
guma forma utilizam a comunicação visual como meio de expressão (língua 
de sinais), apresentam características culturais e formas de estar no mundo 
baseadas na visualidade e defendem e militam pelo direito de ser diferente 
e de vivenciar a cultura surda. Essas pessoas partilham sua concepção e 
suas experiências com outros surdos e participam de espaços de encontro 
entre pessoas surdas, como grupos e associações. Trata-se de um posicio-
namento político ante a surdez, que vai muito além do encontro de pessoas 
com as mesmas características biológicas. Não há, na comunidade surda, 
uma concepção inferior de surdez ou de uma superioridade da perspectiva 
ouvinte, mas, sim, a busca de aceitação e valorização das diferenças e do que 
é pertinente à cultura surda (IFPB, 2018a, 2018b).
Comunidade, cultura e identidade surda 13
Ser surdo ou ouvinte, ou ter diferentes tipos e graus de surdez não fazem 
com que os indivíduos se diferenciem na comunidade surda — eles se igualam 
como comunidade pela apreensão do mundo de forma visual e por comparti-
lharem a língua de sinais. Conforme Strobel (2009), os sujeitos surdos não se 
diferenciam uns dos outros de acordo com o grau de surdez; o importante é o 
pertencimento ao grupo usando língua de sinais e cultura surda, que ajudam 
a definir suas identidades surdas.
Cabe enfatizar, então, que a comunidade surda não se forma pela perspec-
tiva clínica-terapêutica ou pela classificação médica das deficiências auditivas. 
Essa comunidade se forma pelas variáveis da dimensão social, tais como:
[...] o tipo de experiência educativa dos sujeitos, a qualidade das interações comuni-
cativas e sociais em que participam desde tenra idade, a natureza da representação 
social da surdez de uma determinada sociedade e a língua de sinais na família e na 
comunidade de ouvintes em que vive a criança (ALPENDRE; AZEVEDO, 2008, p. 6).
A comunidade surda alinha-se aos movimentos sociais da pessoa com 
deficiência apenas no sentido de que as deficiências não podem ser negadas, 
mas precisam ser afirmadas, não como uma tragédia ou defeito, e sim como 
parte da identidade dos que as vivem. Isso não objetiva atenuar as dificuldades 
que são vividas por essas pessoas, atender às suas necessidades ou realizar 
ajustes que devem ser promovidos pelo meio, mas afirmar a sua identidade 
e as suas potencialidades.
A inclusão social é definida por Sassaki (2006, p. 13) como:
[...] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sis-
temas sociais gerais, pessoas com deficiência, e simultaneamente estas se pre-
param para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, 
um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, 
em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação 
de oportunidades para todos.
Dentre os mecanismos comunitários de inclusão social e equiparação 
de oportunidades para todos, a educação escolar mostra-se como porta de 
entrada para o sentimento de pertencer. As escolas são instituições impor-
tantes para a ampliação do acesso aos bens culturais, materiais e imateriais, 
e para romper com o isolamento cultural a que estão submetidos diversos 
segmentos sociais. Na comunidade surda não é diferente. A escola tem o 
mesmo encargo de instruir e socializar as crianças e os adolescentes e, como 
uma instituição, tem por objetivo manter de pé a máquina social e até mesmo 
Comunidade, cultura e identidade surda14
produzi-la, sendo um sistema de normas que estruturam um grupo social de 
forma a produzir e reproduzir as relações sociais (LAPASSADE, 1977).
A definição da educação como promotora do “pleno desenvolvimento da 
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o 
trabalho”, conforme o Art. 205 da Constituição Federal de 1988, intensifica a 
dimensão do quanto as perdas nas aprendizagens e na qualidade do ensino 
podem representar para o desenvolvimento econômico, social e cultural das 
pessoas e das localidades (BRASIL, 1988, documento on-line). Isso acontece 
na medida em que determinados estudantes que não se moldam ao tipo de 
estrutura escolar vigente são excluídos dos processos de aprendizagem, 
reforçando que a escola se constituiu como mais uma forma de divisão social, 
gerando em diversos alunos a noção de que o espaço educacional no qual 
estão inseridos não lhes pertence (KUENZER, 2005).
Justamente esse sentimento de não pertencer ao espaço educacional, 
diante do tipo de estrutura escolar oralista vigente, é que tem motivado 
lutas constantes do povo surdo e das comunidades surdas, em trajetórias 
históricas em defesa das escolas bilíngues para surdos. A história faz emer-
gir as memórias das experiências do “ser surdo”, especialmente os corpos 
amordaçados por políticas institucionais, os embates no campo dos sistemas 
opressivos educacionais, as lutas por identidade e por significados culturais. 
O desafio é construir uma nova história cultural, registrando as lutas pela 
identidade surda, pela construção da identidade cultural, pelo reconhecimento 
da língua de sinais, pela emancipação dos sujeitos surdos de todas as formas 
de opressão e pelo seu livre e espontâneo desenvolvimento, bem como pela 
pedagogia surda presente no povo surdo (CAMPELLO; REZENDE, 2014).
Entretanto, a história de lutas do movimento surdo brasileiro ainda tem 
um longo caminho a percorrer para o reconhecimento da cultura surda e 
linguística, de forma real e sem demagogia. O Brasil, principalmente com a 
realização da Conferência Nacional da Educação (Conae), em 2010, começou 
a enfrentar retrocessos com atravessamentos produzidos por uma política 
pública educacional que não atendeu e não atende às imperativas demandas 
linguísticas e culturais surdas. O governo da época, por meio do Ministério 
da Educação (MEC), realizava iminentes ameaças de fechamento das escolas 
bilíngues, sob as justificativas de que elas reforçavam a organização de escolas 
segregadas com base na diferenciação pela deficiência e de que contrariavam 
a concepção ideológica do governo acerca do que entendiam como educação 
inclusiva, que insistia em colocar crianças surdas junto com as ouvintes, sem 
haver um compartilhamento linguístico entre elas, exceto no contraturno da 
Comunidade, cultura e identidade surda 15
escolarização, na sala de atendimento educacional especializado (CAMPELLO; 
REZENDE, 2014).
Como exemplo desse retrocesso, podemos destacar um comunicado do 
MECsobre o fechamento do Colégio de Aplicação do Instituto Nacional de 
Educação de Surdos à Revista da Federação Nacional de Educação e Integração 
dos Surdos (Feneis). Quando perguntada sobre a importância das escolas de 
surdos para a valorização da cultura e das identidades surdas, a diretora de 
políticas de educação especial Martinha Claret respondeu o seguinte:
[...] do ponto de vista da educação inclusiva, o MEC não acredita que a condição 
sensorial institua uma cultura. As pessoas surdas estão na comunidade, na socie-
dade e compõem a cultura brasileira. Nós entendemos que não existe cultura surda 
e que esse é um princípio segregacionista. As pessoas não podem ser agrupadas 
nas escolas de surdos porque são surdas. Elas são diversas. Precisamos valorizar 
a diversidade humana (FENEIS..., 2010, p. 23).
Esse discurso era totalmente em linha contrária aos entendimentos cien-
tíficos, sobretudo aos estudos culturais e aos estudos da área da linguística. 
Isso provocou uma mobilização sem precedentes para a inclusão das escolas 
bilíngues para surdos no Plano Nacional de Educação (PNE), inclusive com 
apoio internacional.
O órgão da sociedade civil internacional de diversos segmentos das pessoas 
com deficiência International Disability Alliance (IDA), a principal articuladora 
social responsável pela realização da Convenção Internacional das Pessoas 
com Deficiência, no âmbito das Nações Unidas manifestou, na Reunião da 
Cúpula do Conselho Econômico e Social (Ecosoc), realizada em julho de 2011, 
o seguinte texto para a Revisão Ministerial Anual, que trata da educação 
bilíngue de surdos:
As crianças surdas precisam ser incluídas primeiramente através da língua e da 
cultura mais apropriada antes de serem incluídas nas diferentes áreas da vida 
em estágios posteriores, por exemplo, no ensino médio e superior, bem como na 
vida profissional. O apoio dos pares é necessário (ONU, 2011, documento on-line).
Entre as proposições e comprovações científicas, a pesquisa intitulada 
“Programa de avaliação nacional do desenvolvimento da linguagem do surdo 
brasileiro” divulgou que, em escolas bilíngues (escolas especiais que ensinam 
em Libras e português), os estudantes surdos aprendem mais e melhor do 
que em escolas monolíngues (escolas comuns que ensinam apenas em portu-
guês). Nos resultados, evidenciou-se que competências como decodificação e 
reconhecimento de palavras, compreensão de leitura de textos, vocabulário 
Comunidade, cultura e identidade surda16
em Libras, entre outras, foram significativamente superiores em escolas 
bilíngues em comparação com escolas comuns (CAPOVILLA, 2011).
A comunidade surda conquistou, então, ainda que não na totalidade das 
propostas, a valorização da Libras e que se incluísse no relatório do PNE:
Garantir a oferta de educação bilíngue, em língua brasileira de sinais (Libras) como 
primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, 
aos alunos surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em 
escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto 
nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção Sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do sistema braille de 
leitura para cegos e surdocegos (BRASIL, 2010, documento on-line).
Na Conae, no ano de 2010, os especialistas presentes pontuaram a necessi-
dade de um documento nacional que orientasse uma base comum do currículo 
escolar. No mesmo ano, surgiram as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais 
para a Educação Básica, e em 2018 foi homologada a Base Nacional Comum 
Curricular (BNCC), que tem caráter normativo e define o conjunto orgânico e 
progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desen-
volver ao longo das etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2018).
Entretanto, diante da BNCC, diferentes profissionais da educação cons-
troem diferentes olhares sobre ela perante a educação para surdos. Pesquisas 
como a de Pereira (2021), por exemplo, demonstram que a BNCC não contempla 
a alfabetização das crianças surdas, ou seja, não traz distinções das diferenças 
inerentes ao aprendizado da escrita pela criança surda e preconiza o uso da 
oralidade como prática cotidiana e como base para a alfabetização. Já pes-
quisas como a de Melo, Santos e Fronza (2020) referem que a BNCC considera 
a língua em uso, mas oportuniza ao aprendente surdo situações de interações 
comunicativas que viabilizem o aprendizado partindo de várias formas de 
manifestação da linguagem, sejam elas verbais (oral, escrita ou sinalizada), 
sonora, corporal, visual ou, mais recentemente, digital.
De qualquer forma, um currículo escolar inclusivo deve garantir a oferta 
de educação bilíngue, em Libras como primeira língua (L1) e na modalidade 
escrita da língua portuguesa como segunda língua (L2), e de maneira alguma 
documentos normativos serão suficientes para produzir qualquer trans-
formação educacional se não houver o comprometimento, a disposição, 
a convicção e o reconhecimento dos sujeitos sobre comunidades, culturas e 
identidades surdas.
Comunidade, cultura e identidade surda 17
Neste capítulo, você pôde perceber a surdez como parte da diversidade 
humana, que precisa ser reconhecida como uma entre as múltiplas formas de 
ser e estar no mundo. Como dizem Perlin e Strobel (2014), anular o passado 
imerso na obrigação de serem ouvintes e requerer um novo presente se 
mostrou como artefato cultural para os surdos. Diante disso, surgem novos 
feitos e novas interpretações no cotidiano. Nesse sentido, outros caminhos 
merecem ser trazidos à tona, com lutas de significação, quais sejam: a busca 
por educação bilíngue, por políticas para a língua de sinais no Brasil, pela 
abertura das portas das universidades, por posições de igualdade, por ter 
intérpretes de língua de sinais e por serem válidos os direitos do povo surdo.
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SMITH, D. D. Introdução à educação especial: ensinar em tempos de inclusão. Porto 
Alegre: Artmed, 2008.
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integralidade das informações referidas em tais links.
Comunidade, cultura e identidade surda20
Dica do professor
A cultura de um povo nasce das crenças, costumes, práticas construídas através do tempo. Para ela 
se perpetuar e se desenvolver, precisa que a língua seja usada como canal ou fonte de acesso. 
Tratando-se da cultura surda, temos um caso bem peculiar, em que o sujeito surdo desenvolve a 
sua cultura dentro de uma outra cultura dominante: a cultura ouvinte.
Na Dica do Professor, você verá um rápido bate-pronto de perguntas e respostas que irão ajudar 
no melhor entendimento sobre as temáticas estudas: Comunidade, Cultura e Identidade Surda. 
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Exercícios
1) O pertencimento a um grupo é de grande importância para o pleno viver de um indivíduo 
surdo. 
Selecione a alternativa que apresenta corretamente o conceito de comunidade surda. 
A) Um lugar onde convivem surdos e ouvintes conversando, interagindo e discutindo sobre 
diversos assuntos por intermédio da Libras. Sendo assim, as comunidades surdas são os locais 
onde ocorre a interação com outros surdos e com ouvintes que ali frequentam, recriando-se 
as identidades surdas, as narrativas pessoais, os marcadores culturais, as lutas e os discursos 
que permeiam os grupos surdos. 
B) Compartilhar experiências em um grupo homogêneo, isto é, somente surdos, sem a interação 
com pessoas ouvintes. 
C) É uma comunidade seleta, em que somente surdos podem participar da comunidade, pois é a 
única forma de se proteger da opressão ouvintista.
D) Grupo de surdos puros unidos por uma série de afinidades e vínculos com Libras, onde 
ouvintes não são permitidos, apenas pessoas com deficiência auditiva. 
E) A busca pelo semelhante, por segurança, conforto e interlocutores possíveis que 
compartilham formas de comunicação visual, além de expectativas e projetos comuns, fazem 
das comunidades surdas espaços exclusivamente de surdos, excluindo qualquer pessoa que 
não seja surda, até mesmo familiares de surdos.
2) A cultura surda possui semelhanças em relação a cultura ouvinte, no entanto, a cultura surda 
também tem algumas peculiaridades que a caracterizam. 
Marque a alternativa correta sobre o conceito de cultura surda.
A) A cultura surda é igual à cultura ouvinte no que diz respeito ao registro escrito de suas 
histórias.
B) Por intermédio da cultura, os surdos constituem sua comunidade, valores, crenças, costumes, 
hábitos e identidade, que são passados de geração para geração, valorizando as experiências 
visuais e a Libras como meio de comunicação e interação com o outro e com o mundo. 
C) A cultura surda é a cópia fiel da cultura ouvinte, pois os surdos querem ser como as pessoas 
ouvintes e, por isso, a sua cultura é nada mais que um espelho que reflete a cultura deles. 
D) Por meio da valorização da cultura é que surgem as datas comemorativas dentro da 
comunidade surda. Por intermédio dela, os surdos constituem sua comunidade, valores, arte, 
costumes, hábitos e identidade, que são passados de geração para geração por familiares de 
surdos por meio da fala.
E) Cultura surda é um conjunto de comportamentos que são aprendidos ao decorrer das 
gerações de um determinado grupo de pessoas daquelacomunidade, que têm uma língua 
própria, valores, regras, comportamentos e tradições, centralizados no mundo ouvinte e na 
língua oral-auditiva. 
3) Assinale a alternativa correta sobre a identidade surda.
A) O sujeito surdo que assume a sua identidade está inserido na comunidade, ele se enxerga 
dentro dela e vivencia todas as suas experiências nos espaços culturais ouvintes.
B) Há surdos que, por fatores sociais ou familiares, têm suas primeiras experiências visuais 
relacionadas apenas com as referências do mundo ouvinte. Por esse viés, todas as suas 
memórias e relação com o mundo se dão por intermédio do som, desvinculadas das 
experiências e perspectivas visuais, o que constitui sua identidade.
C) A identidade surda é espelhar-se nas representações e manifestações do mundo ouvinte, 
desvinculada do mundo visual e sem a necessidade de desenvolver as experiências, 
habilidades e competências dos sinais gesto-visuais e da Libras. 
D) Para que o sujeito surdo construa a sua identidade, ele tem de se apropriar da identidade 
ouvinte primeiro, isto é, ser oralizado visando facilitar sua adaptação a cultura surda. 
E) O fator cultural está estritamente ligado à construção da identidade surda, isto é, o sujeito 
precisa ter contato e conhecer a comunidade e sua cultura para, então, poder tomar a decisão 
de se integrar a ela (assumindo sua identidade como surdo) ou não.
4) A Libras é a língua utilizada para a comunicação surdo com surdo ou entre surdos e os 
ouvintes que saibem Língua de Sinais. 
Analise as sentenças a seguir e marque a alternativa correta sobre a língua natural dos 
surdos (Libras).
A) A língua natural é dispensável para a constituição da identidade surda.
B) A Libras é uma língua natural criada pela comunidade surda para se comunicar.
C) Na língua natural surda, a construção de sentenças e diálogos são limitados, sendo necessário 
recorrer à língua adicional (Português) em casos específicos.
D) A língua natural do sujeito surdo nada mais é do que sinais soltos no ar, sem sentido algum, 
incapaz de expressar ideias, sentimentos ou coisas abstratas.
E) Língua natural para o sujeito surdo é a língua portuguesa, e a ela estão associados as regras 
gramaticais e os sons (fonemas). 
5) Dos itens apresentados a seguir, qual deles se adapta aos fatores de constituição da 
identidade surda?
A) Usar a língua da comunidade surda, importar-se com a busca por direitos e conquistas que 
beneficiem a comunidade e fortaleçam a cultura surda. Mas não basta usar a língua natural da 
comunidade surda e se importar com a manutenção da cultura, é essencial também se 
considerar um integrante dela e ter orgulho de ser surdo.
B) Convívio com surdos e ouvintes, participando ativamente tanto na cultura ouvinte como na 
cultura surda. Ao fazer isso, o sujeito cria uma identidade híbrida a qual consegue transitar 
entre as duas culturas, ouvinte e surda.
C) Grande parte dos surdos são filhos de pais ouvintes e, por isso, eles desenvolvem apenas a 
identidade ouvinte, sem ter a chance de construir a identidade surda com base em um 
modelo surdo que só pode ser encontrado no contato com a comunidade surda. 
D) Durante o processo de constituição da identidade, os surdos não têm momentos de transição 
conflituosa; isso ocorre de forma tranquila e natural.
E) A identidade surda se constitui por intermédio do próprio surdo, sem a necessidade de 
interação com outros surdos, com a comunidade surda ou com elementos da cultura surda. 
Na prática
Existem diversos elementos que compõem a cultura da comunidade surda, tipo: Histórias Infantis, 
como o Feijãozinho Surdo e o Patinho Surdo que auxiliam as crianças surdas a se identificar e criar 
uma identidade surda. Temos também como elemento da cultura surda a tradição do Batismo de 
Sinal, em que aqueles que fazem parte da comunidade surda ou que interagem com ela recebem 
um sinal que irá ser o equivalente ao nome da pessoa em língua de sinais.
Acompanhe no vídeo a seguir, alguns relatos que a professora nos apresenta em LIBRAS. 
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da 
língua de sinais e da realidade surda.
No link a seguir, você terá acesso a uma resenha sobre este livro que traz mitos, crenças e 
preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade do sujeito surdo.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Língua de Herança: Língua Brasileira de Sinais
Neste link, você terá acesso a este livro, que discute as relações entre língua de sinais e língua 
falada, apresentando um amplo panorama, com estudos, definições e exemplos de histórias 
pessoais e interações das comunidades surda e ouvinte.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Documentário: Sou surda e não sabia
Neste link, você terá acesso a um documentário em que Sandrine, uma menina aparentemente 
“normal”, mas que devido a algumas atitudes despertou nos familiares a possibilidade de ela ser 
surda. O filme narra a trajetória de Sandrine e suas dificuldades enfrentadas durante a infância, a 
resistência da família em aceitar o fato de ela ser surda, assim como nos mostra as opiniões de 
especialistas da área de surdez.
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http://www.scielo.br/pdf/rbla/v14n4/v14n4a18.pdf
https://www.youtube.com/embed/Vw364_Oi4xc
Travessia do Silêncio - Parte 1
Neste link, você terá acesso à parte de um documentário em que podemos observar a visão de 
diferentes pessoas com relação à temática da surdez. O documentário expõe a opinião de surdos e 
ouvintes e as relações de poder construídas entre eles.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Travessia do Silêncio - Parte 2
Neste link, você terá acesso à parte dois de um documentário em que podemos observar a visão de 
diferentes pessoas com relação à temática da surdez. O documentário expõe a opinião de surdos e 
ouvintes e as relações de poder construídas entre eles.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
https://www.youtube.com/embed/B_0nFpHNwz8
https://www.youtube.com/embed/-jH52ky3YKk

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