Baixe o app para aproveitar ainda mais
Leia os materiais offline, sem usar a internet. Além de vários outros recursos!
Prévia do material em texto
1 Anticonvulsivantes A convulsão é um evento agudo que ocorre em 5-10% da população por um mecanismo de excitação excessiva de neurônios, com liberação de neurotransmissores predominantemente excitatórios. O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório liberado em uma crise epiléptica. EPILEPSIA A epilepsia é uma condição neurológica crônica caracterizada por descargas anormais e intermitentes de alta frequência de um grupo específico e localizado de neurônios cerebrais. É um quadro que acomete 0,5-1% da população caracterizado por um distúrbio com crises (ataques) e descargas neuronais episódicas (não necessariamente convulsões). A causa pode ser idiopática (desconhecida) ou por trauma, infecção, tumor, metabólica ou isquêmica. O tratamento pode ser: • Farmacológico: pela administrado de anticonvulsivantes – se mostram eficazes em 70% dos casos; • Não farmacológico (epilepsia refratária) – psicossocial, nutricional (dieta cetogênica), cirúrgico (ressectiva com a remoção do foco, disconectivas ou neuromodulatórias). É importante classificar corretamente as crises para determinar o tratamento apropriado. As crises são classificadas com base em local de origem, etiologia, correlação eletrofisiológica e apresentação clínica. • Focais (parciais): apenas uma parte do hemisfério cerebral é atingida por uma descarga de impulsos elétricos desorganizados, gerando contrações espasmódicas repetitivas ou de um membro ou mudanças comportamentais complexa (psicomotoras), mas sem perda da consciência. o Crises focais podem evoluir, tornando-se crises tônico-clônicas generalizadas. • Crises generalizadas: os dois hemisférios cerebrais são afetados, gerando perda de consciência imediata. É uma urgência médica. o Tônico-clônicas (grande mal): essas crises resultam em perda da consciência, seguida das fases tônica (de contração contínua) e clônica (de contração e relaxamento rápidos). A crise pode ser seguida por um período de confusão e exaustão. o Crises de ausência (pequeno mal: comum em crianças): perda breve, abrupta e autolimitante da consciência. Em geral, iniciam-se em pacientes de 3 a 5 anos de idade e perduram até a puberdade ou mais. O paciente permanece com o olhar fixo e pisca rapidamente, o que dura de 3 a 5 segundos. o Estado de mal epiléptico (mioclônicas): convulsões generalizadas que ocorrem repetidamente (intervalo maior que 5 minutos). É uma emergência médica no qual deve ser administrado o benzodiazepínico (Cl- promove sinapse inibitório pelo GABA). TÔNICO- CLÔNICA Perda brusca de consciência Quedas quando se está em pé Rigidez inicial do corpo (fase tônica) Movimentos rítmicos desordenados em todo o corpo (fase clônica) Mordedura da língua Pode urinar sem perceber/controlar Lábios podem ficar roxos Pode se machucar em razão das quedas, movimentos rítmicos desordenados ou mordidas na língua AUSÊNCIA A pessoa fica absorta e imóvel Perda de consciência Olhar fixo durante alguns segundos (10-15seg) Podem ocorrer movimentos oculares das pálpebras e outras partes do corpo MIOCLÔNICA Abalos bruscos e instantâneos de todo corpo ou parte dele, especialmente membros superiores Queda da pessoa ou objetos que tenha em mãos ATÔNICA Queda de forma brusca pela perda da tonicidade muscular e da consciência durante poucos segundos Costumam vir acompanhadas de outros tipos de crise epilépticas Risco de ferimentos ou pancadas na cabeça em virtude das quedas bruscas e inesperadas Bianca Louvain 2 MECANISMO DE AÇÃO DOS FÁRMACOS De maneira resumida, as crises epilépticas ocorres por descarga elétrica excessiva, súbita e recorrente na substância cinzenta por aumento da excitação por liberação de glutamato, sódio e cálcio e diminuição da inibição por GABA, cloreto e potássio. Os canais de sódio são ativadores epilépticos por propagar o potencial de ação enquanto que os canais de cálcio são ativadores epilépticos por atuar na exocitose de vesículas. Logo, os fármacos reduzem as crises por meio de mecanismos como bloqueio dos canais voltagem- dependentes (Na+ ou Ca2+), potencializando impulsos inibitórios GABAérgicos e interferindo na transmissão excitatória do glutamato. O GABA se liga no canal de cloreto, induz seu influxo e consequente hiperpolarização do neurônio e inibição do potencial elétrico. A medicação antiepilética suprime as crises, mas não cura nem previne a epilepsia. Fármaco antiepilépticos Podem ser necessários por toda vida. Inibição da geração e da condução do potencial de ação (potencialização GABA e inibição glutamato). • Bloqueio dos canais de sódio; • Bloqueio dos canais de cálcio. potencialização do gaba BENZODIAZEPÍNICOS E FENOBARBITAL: GABA-A. São fármacos alostéricos: • O fenobarbital é um barbitúrico que aumenta o tempo de abertura dos canais de sódio; • O benzodiazepínico aumenta a frequência de abertura dos canais de cloro. o Maior influxo de cloro → hiperpolarização → diminuição do impulso elétrico. O mecanismo de ação primário do fenobarbital é a potenciação dos efeitos inibitórios dos neurônios mediados por GABA. • Os benzodiazepínicos (exemplo: Diazepam) são utilizados em emergência medica como potencializador do GABA. Eles se ligam aos receptores do GABA, que são inibitórios, para reduzir a taxa de disparos. o Induz inibição da geração e condução do potencial de ação (potencialização do GABA/inibição do glutamato), favorecendo as sinapses inibitórias; o Bloqueia os canais de sódio (impede a despolarização) e bloqueia os canais de cálcio (impede a exocitose das vesículas com os neurotransmissores). • O fenobarbital é usado principalmente no tratamento do estado epilético quando outros fármacos falham. VIGABATRINA: inibidor irreversível GABA- transaminase (diminui a degradação do GABA na fenda sináptica). A GABA-transaminase é a enzima responsável pela metabolização do GABA. TIAGABINA: inibe a recaptação do GABA. A tiagabina bloqueia a captação de GABA pelos neurônios pré-sinápticos ao bloquear o GAT (cotransportador de GABA), permitindo que haja uma maior quantidade de GABA disponível para ligação com o receptor e, assim, aumenta a atividade inibitória. GABAPENTINA: diminui a liberação de neurotransmissores excitatórios pela inibição dos canais de cálcio. UTILIZAÇÃO E EFEITOS ADVERSOS • Vigabatrina é utilizada em pacientes resistentes a outros fármacos. No entanto, induz sedação, falhas no campo visual e alterações do humor; • Tiagabina é utilizada para crises epilépticas parciais. No entanto, induz sedação e tonturas. • A gabapentina e pregabalina são utilizados para o tratamento da dor neuropática. Elas se ligam aos canais de cálcio sensíveis à voltagem, reduzindo o influxo de cálcio nas terminações nervosas, assim diminui a liberação de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato. A gabapentina induz poucos efeitos adversos. o Gabapentina: 400-2400mg/dia o Pregabalina: 25-300mg/dia. inibição dos canais de sódio Fenitoína, lamotrigina, carbamazepina e valproato bloqueiam a excitação de células que disparam repetidamente. A carbamazepina (indutor enzimático) e a fenitoína (tem alta afinidade com proteínas plasmáticas) são medicamentos ótimos para a epilepsia, mas causam interação medicamentosa. BiancaLouvain 3 CARBAMAZEPINA: atua bloqueando os canais de sódio sensíveis à voltagem, inibindo, assim, a geração de potenciais de ação repetitivos no foco epilético e evitando seu alastramento. • Pode ser empregado para o tratamento da mania (bipolaridade) e tratamento da dor neuropática. • Efeitos adversos: efeito supressor na medula óssea, tornando necessário o monitoramento das células sanguíneas. Além disso, é indutora da CYP3A4 (citocromo P450), enzima utilizada pela maioria dos fármacos na metabolização, diminuindo seu efeito. LAMOTRIGINA: age bloqueando os canais de sódio sensíveisà voltagem. Também pode exercer ações em outros canais iônicos de cálcio e de potássio. • É aprovada como estabilizador do humor para prevenção de recidiva tanto da mania quanto da depressão. Empregada no tratamento de crise de ausência. • Efeitos adversos: pode causar erupções cutâneas, inclusive (raramente), a síndrome de Stevens Johnson (necrólise epidérmica tóxica). VALPROATO: apesar de estar dentro da classe dos medicamentos que bloqueiam canais de sódio, ele tem diversas funções: gera inibição dos canais de sódio sensíveis à voltagem, potencializando as ações do GABA: aumento da sua liberação, diminuição da sua recaptação (inibe GAT) ou retardação da sua inativação metabólica (diminui a ação da GABA-transaminase). Além disso, também antagonia o NMDA (receptor do glutamato), inibindo a condução do potencial de ação. • Pode ser utilizado na crise de ausência. • O valproato é útil quando as crises de ausência coexistem com crises tônico-clônicas porque a maioria dos outros fármacos usados para crises tônico-clônicas pode piorar as crises de ausência. inibição dos canais de cálcio ETOSSUXIMIDA: atua bloqueando seletivamente canais para cálcio sensíveis à voltagem do tipo T, inibindo o circuito tálamo-cortical. • Fármaco de 1ª escolha para o tratamento de crise de ausência. o Na crise de ausência, o foco de disparo acontece no tálamo, onde há muitos neurônios GABAérgicos liberadores de GABA. A hiperpolarização vai inibir o próximo neuronio e, dessa forma, a informação não chega ao córtex (uma vez que foi impedida a liberação de glutamato). Dessa forma, o bloqueio dos canais de cálcio T causa menos liberação de GABA, de maneira que ocorra despolarização e liberação de neurotransmissores que atinjam o córtex cerebral. • Efeitos adversos: transtornos gastrointestinais, sonolência, perda de peso, soluços, cefaleia, transtorno comportamentais. GABAPENTINA: bloqueia canais de cálcio do tipo L – HVA. • Por potencializar o GABA, não é indicada para o tratamento de crises de ausência. TOPIRAMATO: ele bloqueia os canais de sódio voltagem-dependentes, potencializa a resposta do GABA e bloqueia os canais ativados pelo glutamato (AMPA). • Utilizados para crises epilépticas, tratamento da obesidade (sibutramina + liraglutida + topiramato) e enxaqueca. • Efeitos adversos: induz poucos efeitos adversos, comparados com bloqueadores dos canais de sódio. Pode causar malformação fetal (contraindicado para gestantes). LEVETIRACETAM: liga-se à proteína SV2A (proteína vesicular sináptica que favorece a exocitose), inibindo a liberação do glutamato. • Utilizado como monoterapia ou adjuvantes em crises epilépticas. • Efeitos adversos: cefaleia, tonturas e sonolência. DROGA EFEITO NO INFLUXO IÔNICO EFEITO NO GABA EFEITO NO GLUTAMATO Carbamazepina Bloqueia canais de Na+ - - Benzodiazepínicos - Aumenta o fluxo de Cl- mediado pelo GABA - Etossuximida Bloqueia os canais de Ca+2 tipo T - - Gabapentina - Aumenta a liberação de GABA - Lamotrigina Bloqueia canais de Na+ - - Fenobarbital - Aumenta o fluxo de Cl- mediado pelo GABA - Fenitoína Bloqueia canais de Na+ - - Topiramato Bloqueia canais de Na+ Ativada GABA-A Bloqueia receptores AMPA/KA Valproato Bloqueia canais de Na+ e canais de Ca+ tipo T Aumenta a síntese de GABA e inibe sua degradação Diminui a síntese de glutamato BiancaLouvain 4 Convulsões refratárias Apesar da disponibilidade de mais de 20 medicamentos anticonvulsivantes (ASDs) para o tratamento sintomático de convulsões epilépticas, cerca de um terço dos pacientes com epilepsia apresentam convulsões refratárias à farmacoterapia. A crise refratária é aquela resistente aos medicamentos, que ocorre quando uma pessoa não conseguiu se tornar (e manter-se) livre de convulsões com o uso adequado de ao menos dois ou três medicamentos anticonvulsivos. Crises CRISES PARCIAIS E TÔNICO-CLÔNICAS GENERALIZADAS As crises tônico-clônicas envolvem uma combinação de sintomas das convulsões tônicas e clônicas. Observação: convulsões são mais comuns durante o sono. • Crises clônicas causam convulsões ou movimentos involuntários em ambos os lados do corpo. • Crises tônicas resultam na contração súbita dos músculos. PRIMEIRA ESCOLHA FÁRMACOS ALTERNATIVOS FÁRMACOS ADJUVANTES Carbamazepina Fenobarbital Gabapentina Fenitoína Lamotrigina Tiagabina Valproato Vigabatrina Topiramato Primidona Felbamato (apenas para crises parciais) CRISES MIOCLÔNICAS PRIMEIRA ESCOLHA FÁRMACOS ALTERNATIVOS FÁRMACOS ADJUVANTES Valproato Clonazepam Felbamato Lamotrigina CRISE DE AUSÊNCIA PRIMEIRA ESCOLHA FÁRMACOS ALTERNATIVOS FÁRMACOS ADJUVANTES Etossuximida Clonazepam Lamotrigina Valproato Topiramato Contra-indicados: carbamazepina, gabapentina, fenobarbital, fenitoína, tiagabina e vigabatrina. OUTROS USOS DOS ANTICONVULSIVANTES • Transtorno bipolar: valproato, carbamazepina, oxcarbazepina, lamotrigina, topiramato; • Enxaqueca: valproato, gabapentina, topiramato; • Ansiedade: gabapentina; • Dor neuropática: gabapentina, pregabalina, carbamazepina, lamotrigina. BiancaLouvain
Compartilhar